EDDIE JAKU: NÃO OLHAR PARA TRÁS


EDDIE JAKU: NÃO OLHAR PARA TRÁS.

 

(Ele escapou de Aushwittz, escreveu o seu único livro aos 100 anos, faleceu aos 101 e sempre viveu com alegre intensidade).

Morte: 12 de outubro de 2021 (101 anos); Sydney, Austrália


(Áudio de outubro 2021)


Esta semana, Parashat Vayeira conta que Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra e enviou anjos para salvar Lot e sua família.Os anjos advertiram a esposa de Lot a não olhar para trás na fuga, mas ela não resistiu, olhou para trás e se tornou um pilar de sal. Qual o significado e lição deste Episódio? Não devemos olhar para trás pois podemos nos tornar uma estátua de sal. Todos nós passamos por dificuldades e adversidades e talvez carregamos raiva, amargura, ódio etc.. Devemos fugir de nossos problemas que trazem destruição e não olhar para trás. Se ficarmos olhando para trás vivendo no passado repensando o sofrimento, nos vitimizando, nos tornaremos amargos e uma estátua de sal. O sal é muito bom, melhora o sabor da comida, mas muito sal destrói o prato. O mesmo acontece na vida: olhar para trás e aprender as lições da nossa experiência passada, faz com que nos tornemos pessoas melhores. O aprendizado das experiências negativas é como um pouco de sal que melhora a vida. Mas se vivemos no passado, focados nele, então nos tornaremos um pilar do sal, que não é comestível.




Na semana passada morreu na Austrália um homem de 101 anos, Eddie Jaku. Esse homem detém o recorde ou publicação de um livro na idade mais avançada. Há um ano, aos 100 anos, publicou seu primeiro único livro. O título é: “O homem mais feliz do mundo”. Uau! Esse homem deve ter tido uma vida fácil e teve muita sorte, uma vida abençoada! Mas não! O autor, Eddie Jaku, na verdade, era um sobrevivente no Holocausto. Seu nome original era Abraão Jacobvitz; Seus pais foram espancados na sua frente. Ele foi enviado para a Áustria por seus irmãos e seus pais morreram lá em Auschwitz, mas eles sobreviveu. Construiu uma família com filhos netos e bisnetos, e aos 100 anos publicou o seu livro homem mais feliz da terra. Ele decidiu que é a melhor vingança contra Hitler é é viver uma vida feliz. Ele escolheu comemorar seu aniversário de casamento no aniversário de Hitler para comemorar o fato de que ele encontrou amor e a felicidade para a vida e que Hitler se foi. Em seu livro ele diz que a felicidade não é algo que cai do céu, mas uma atitude que escolhemos adotar; concentrar nas bênçãos em nossas vidas, a sorte que temos de estar vivos e que cada respiração é um presente! Escolher ser feliz cada dia.




Ele diz que a felicidade é a única coisa no mundo que quanto mais se compartilha, mas ela dobra ou triplica, e, portanto, escolha ser feliz e, ainda mais, compartilhe e espalhe essa felicidade com os outros. Este herói, sobrevivente do holocausto, ensinou que o segredo para uma vida longa e feliz é não olhar para trás nas amarguras da vida. Precisamos, sim, olhar para trás de vez em quando, mas precisamos nos concentrar no futuro. Apesar de tudo que ele perdeu e tudo que sofreu, escolheu olhar para frente, celebrar a vida e ser feliz e contar suas bênçãos.




Precisamos aprender com o passado, mas não vivendo no passado. E então, ao contrário da esposa do Lot que se tornou uma estátua de sal, seremos um pilar de Alegria, amor, amizade e felicidade .(No vídeo está ininteligível o nome do narrador).



O livro todo está em:


https://www.youtube.com/watch?v=GWs1LwBokPQ


Há uma palestra dele de 5 anos atrás em inglês, de 1 hora, mas pode ser configurada a tradução. Você clica em legendas, depois em configurações (uma engrenagenzinha que há ao lado de "legendas"), depois em "inglês", e por último em "traduzir". Vai aparecer uma lista de línguas e você clica no "português". 


https://youtu.be/Y0wP99pgyRA




Eddie Jaku


TRECHOS DO LIVRO:


(Dentro do trem) Homens, mulheres, crianças pequenas. Ficamos apertados como sardinhas, ombro a ombro. Podíamos ficar em pé ou ajoelhar, mas não havia espaço para deitar ou para tirar o casaco. Do lado de fora estava um gelo, mas do lado de dentro logo ficou insuportável de quente e o ar viciado. A viagem era de 9 dias e 8 noites. O trem, às vezes ia rápido, às vezes se arrastava, às vezes parava por completo, durante horas a fio. Não havia comida, e a água era pouca: o vagão era abastecido com um tambor de 166 litros de água que deveria durar toda a viagem para 150 pessoas. Outro tambor foi-nos fornecido, com o mesmo volume, para usarmos como vaso sanitário. E todos nós, homens, mulheres, saudáveis ou doentes, tínhamos que usá-los na frente de todos. A água era o verdadeiro problema. As pessoas podem sobreviver algumas semanas sem comida, mas não sem água.


Meu pai tomou a dianteira (ele e o pai estavam juntos no mesmo vagão): de seus bolsos — até hoje não faço a menor ideia onde ele os encontrou — ele tirou um pequeno copo desmontável e um canivete suíço. Usando o canivete ele picou uma folha de papel em 150 quadradinhos e explicou o sistema de racionamento: todos no vagão tomariam dois copos de água, um de manhã e outro à noite. Isso seria suficiente para sobreviverem e fazer a água durar o máximo possível. Cada pessoa receberia um pedaço do papel ao receber o primeiro copo e à noite, ao devolvê-lo, receberia o segundo. Se alguém perdesse o papel, não receberia mais água.


Dias se passaram e o ar ficou mais viciado e fétido. Enquanto o tambor usado como privada enchia, o de água esvaziava. O passar das horas era dividido pelos copos de água duas vezes por dia. Logo a água nos outros vagões acabou. Pelas paredes do trem e sobre o barulho dos trilhos era possível ouvi-los berrando. Uma mulher gritava: “meus filhos estão com sede! Eles precisam de água! Meu anel de ouro por água!” Dois dias depois eles ficaram em silêncio. Quando chegamos ao nosso destino, quase metade das pessoas dos outros vagões haviam morrido. Em nosso vagão, apenas duas pessoas partiram. Graças ao meu pai, os outros passageiros ali sobreviveram, pelo menos até chegarem a Auschwitz.


Era fevereiro de 1944. O pior momento do intenso inverno polonês. Quando o trem chegou à estação ferroviária Auschwitz 2 e vi pela primeira vez a infame placa de ferro erguendo-se sobre a cerca de arame farpado (...). O chão estava escorregadio, com lama congelada e as primeiras pessoas a saírem do vagão tropeçaram. (...) Era preciso saltar do vagão à plataforma (era elevado).


Estávamos todos muito fracos e, alguns, doentes, mas meu pai e eu ainda nos encontrávamos fortes. Nós nos demoramos para ajudar crianças, mulheres e idosos a saírem do trem. Ajudamos minha irmã e minha mãe a desembarcarem. Enquanto estávamos auxiliando os outros, elas desapareceram na multidão à nossa frente, conforme os nazistas arrebanhavam todos como gado, usando cacetetes, armas e cães ferozes. De repente, éramos apenas eu e meu pai, sozinhos na multidão. Fomos levados para a plataforma onde um homem de jaleco branco e limpo estava parado acima da lama, cercado pela NSS. Era o Dr. Joseph Mengele, o anjo da morte, um dos piores assassinos que já existiu, um dos homens mais cruéis da história da humanidade.


À medida em que os prisioneiros recém-chegados passavam, ele indicava quem deveria seguir para a esquerda ou para a direita. Nós não sabíamos, mas ele estava conduzindo uma de suas infames seleções. Ali os prisioneiros eram separados entre homens e mulheres e dentre aqueles que ainda se achavam fortes, para serem enviados a Auschwitz para serem usados em trabalhos escravos, literalmente, para trabalharem até morrer, e aqueles que deveriam ser levados diretamente para as câmaras de gás. Um dos lados significava iniciar uma vida nova no inferno na Terra, e o outro, uma morte horrível no escuro.


“Por aqui”, disse Mengele, apontando para mim. “Para ali”, disse ele para o meu pai, apontando para outro caminho, para um caminhão que estava sendo carregado de prisioneiros. Eu não queria me separar de meu pai. Então eu me esgueirei de uma fila para outra e segui atrás dele. Eu estava quase no caminhão, quando um dos lacaios que montava guarda perto de Mengele me notou e me chamou: “Ele não falou para você ir por ali?” e me apontou para a entrada de Auschwitz. “Você não vai para o caminhão”. Eu lhe perguntei por que, e ele me respondeu que era porque meu pai era velho e ia de caminhão, e eu iria caminhando. Era uma explicação razoável. Eu não questionei mais, mas se eu tivesse entrado naquele caminhão teria sido morto.


(a narrativa diz que Mengele escolhera 148 homens jovens para trabalharem no campo. Antes eles foram submetidos a várias torturas para serem testados etc. Depois do teste, em que morreram 18 dos 148, ele soube que seus pais já tinham sido mortos). “Meu pai, o homem mais forte e bondoso que eu já conheci, era agora apenas uma lembrança, sem ter tido a dignidade de ter um enterro digno. Minha mãe, minha pobre mãe, não tive a chance de me despedir de minha querida mãe, e sinto sua falta, todos os dias de minha vida. Ainda sonho com ela todas as noites e acordo chamando-a”.


Eddie diz ainda que sobreviveu nos campos (onde as pessoas sobreviviam na média apenas de 7 meses) foi um amigo, Kurt, sapateiro (Hirschfeld), com quem fez uma amizade verdadeira e profunda (que durou até a morte de Hirschfeld, já bem idoso) . Um tratava o outro com o que conseguia ou sobrava. Eddie fazia coisas práticas com restos de ferro e de outros materiais e trocava por batatas. Kurt o impediu de cometer suicídio (quem desejasse cometer suicídio bastava agarrar o arame da cerca que era eletrocutado). Diz ele, no final do cap. 6: “Kurt não me deixava ir para o arame. Este foi o meu aprendizado mais importante: a maior coisa que você fará é ser amado por outra pessoa. Gostaria de frisar bastante esta lição especial para os jovens: sem amizade, o ser humano está perdido. Um amigo é alguém que lembra você de se sentir vivo(...). Devo ao meu amigo Kurt minha sobrevivência”.


Ele conseguiu encontrar o amigo Kurt mais tarde, após sair do campo de concentração, e encontrou também a irmã de sangue, na Bélgica, antes de ir para a Austrália. 


Casou-se em 20/04/46 com Flora, que conheceu em Bruxelas. Um ano depois nasceu um filho. Ele estava numa outra cidade trabalhando na instalação de máquinas cirúrgicas e o diretor do hospital conseguiu um aviãozinho para levá-lo de volta a Bruxelas. Quase não conseguiram por conta de um temporal. 


Do cap.12


Quando segurei o meu filho mais velho, Michael, pela primeira vez, foi o milagre que curou o meu coração. Minha felicidade retornou em abundância. Desse dia em diante percebi que eu era o homem mais sortudo da Terra. Fiz a promessa de que daquele dia até o fim da minha vida eu seria feliz, educado, prestativo e gentil, eu iria sorrir. Daquele momento em diante tornei-me uma pessoa melhor. Aquele era o melhor remédio que eu podia ter: minha bela esposa e meu filho. Nossa vida em Bruxelas não era perfeita, mas estávamos vivos. 


Você tem que tentar ser feliz com o que tem. A vida é maravilhosa se você é feliz. Não olhe para o outro lado da cerca. Você nunca será feliz se olhar para o vizinho e isso o deixar doente de inveja. Não éramos ricos, mas tínhamos o suficiente e vou lhe dizer: depois de passar fome na neve durante anos, ter comida à mesa já era maravilhoso. (...). Que belo é abraçar minha esposa e abraçar meu bebê. Se você me dissesse, quando eu estava sendo torturado e passando fome nos Campos de Concentração que eu teria tamanha sorte, eu jamais teria acreditado. (...) O amor me salvou, minha família me salvou. Eis o que eu aprendi: a felicidade não cai do céu: ela está em suas mãos. A felicidade vem de dentro de você e das pessoas que você ama. (...) A felicidade é a única coisa do mundo que duplica quando você a compartilha. 

A minha única vingança, na qual eu estou interessado, é ser o homem mais feliz do mundo.