A Fraternidade Sacerdotal nasceu da procura de um grupo de padres seculares na linha das intuições de Carlos de Foucauld. Diversas famílias já tinham nascido dessas intuições, em particular os Irmãozinhos de Jesus. Mas o aspecto propriamente religioso não convinha a padres que queriam permanecer diocesanos.
Assim nasceu em 1951 a União Sacerdotal Jesus+Caritas que, em 1976, tomou o nome de Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas.
A irradiação da personalidade humana e evangélica do irmão Carlos e sua aventura espiritual e evangelizadora estão na origem da fraternidade e continuam hoje como inspiradoras de uma forma evangélica de viver a vida e o ministério presbiteral. As intuições de Carlos de Foucauld se revelaram simples e fecundas para a nossa época. Nada perderam de sua atualidade.
A fraternidade continua despertando interesse entre os padres no mundo todo. Conta atualmente com 4 mil membros. Os aspectos característicos do carisma de Carlos de Foucauld encontram-se no amor a Jesus, ouvido no evangelho, adorado na eucaristia; na fraternidade universal; no desejo de proximidade com os mais deserdados; na preocupação com os mais afastados; no trabalho com meios pobres; na vontade de ser padre em estrita união com o povo, o presbitério e o bispo. São, pois, núcleos da Fraternidade Sacerdotal Jesus+Caritas:
a) A consciência da gratuidade do Amor de Deus, que leva a uma resposta agradecida no amor a Deus por Ele mesmo.
b) A amizade pessoal com Jesus na escuta de sua palavra: "voltemos sempre ao Evangelho"; no intento inacabado e sempre recomeçado do seguimento-imitação, pois segui-lo é imitá-lo em tudo. É instintivo, é necessário: "quando se ama, se imita..."; na adoração eucarística: "A sagrada eucaristia, é Jesus, todo Jesus"; no irmão, especialmente no mais abandonado: "Ver Jesus em qualquer ser humano".
c) A reconciliação conosco mesmos: Na aceitação sincera e serena de nossa pessoa com nossos valores e limitações: "Pai, a vós me abandono"; numa vida fraterna: "Fazer-me chamar de irmão e não de padre..."; num olhar contemplativo de toda a realidade: "Recebamos todo sofrimento como um presente da mão do Bem-amado".
d) Um estilo próprio no modo de evangelizar: Na imitação da vida simples de Jesus de Nazaré. Grita-se o Evangelho
com a vida na amizade e na bondade; num dinamismo voltado para os mais abandonados:
"E tenho que fazê-lo,pelos esquecidos, pelos mais abandonados"; na pobreza dos meios pobres: "Tomastes o último lugar, e ninguém jamais poderá tirá-lo de vós”.
Em suma: "Toda a nossa vida, por muda que seja, a vida de Nazaré, a vida de deserto, como a vida pública, deve ser uma pregação do Evangelho com o exemplo; toda nossa existência, todo nosso ser deve gritar o Evangelho sobre os telhados...".
Para realizar o que buscamos, empregamos os “meios” da fraternidade:
a) Dia de fraternidade - Encontro mensal em pequenas fraternidades estáveis de 5 ou 6 padres, que se querem como irmãos, se assumem mutuamente, expressam-se livremente e se interpelam fraternalmente, para fazer o aprendizado da oração, para celebrar na eucaristia
o que faz a vida das pessoas hoje.
b) Dia de deserto, cada mês.
c) Retiro nacional, uma vez ao ano.
d) Mês de Nazaré, ao menos uma vez na vida.
e) Tempo de oração pessoal diário diante do Santíssimo.
f) Um diretório comum, no respeito às legítimas diferenças.
As funções na fraternidade são assumidas sem prejuízo das funções diocesanas. Há um mínimo de estrutura que supõe coordenações nacionais e internacionais, bem como uma caixa comum em diversos níveis. A ligação entre as fraternidades se faz por meio de boletins nacionais e diversos sites e blogs, correspondência, encontros anuais e mais frequentes a nível regional.
A Fraternidade, muitas vezes, começa assim; um grupo de cinco ou seis padres, que tem afinidades uns com os outros, resolvem encontrar-se uma vez por mês. Isto, para se ajudarem mutuamente e não ficarem isolados. Mas há algo a mais: eles desejam viver o Evangelho com maior intensidade e terem uma fé mais forte, rezarem mais, ou terem uma vida de oração mais regular e desejam ainda manifestar mais o amor de deus no seu ministério, serem humildes e mansos de coração como Jesus, sem desejarem aparecer ou receberem privilégios.
Ficando sozinho é mais difícil realizar um projeto de vida. Sendo membro de um grupo que tem o mesmo ideal é mais fácil, porque dá para contar com o apoio dos outros e cada qual oferece e a sua contribuição. Um membro da Fraternidade “Jesus Cáritas”, do Chile, dizia: “É muito valioso ser autorizado a tomar a vida de um irmão nosso nas mãos”!
Em cada encontro há uma hora de adoração silenciosa. Nossa fé em Jesus ressuscitado, presente na Eucaristia, nos move. Às vezes temos a celebração da missa. Alguns encontros acontecem durante o dia todo, outros são mais breves; às vezes se começa na véspera, com o jantar tomado em comum, e vai até o dia seguinte. Há um momento para o estudo e a partilha da Palavra de Deus , luz para nossas vidas.
Em cada encontro há também um espaço para a “revisão de vida”. Cada um procura olhar o mês que passou, desde a última reunião, com o olhar de Deus e partilhar o que descobriu. Não se trata de uma “confissão pública”. Cada um prepara a sua revisão de vida, na tranquilidade, no dia de deserto (dia de retiro pessoal), para descobrir a ação do Espírito Santo no dia a dia de sua vida. É importante ficar atento àquilo que os outros narram. É um privilégio raro poder colocar inquietações ou perplexidades, sem temer o julgamento de ninguém, e receber conselhos de irmãos que nos querem bem e estão dispostos a dar-nos o suporte de suas orações. O conselho dado num clima de oração e de confiança vivido por um grupo de fraternidade, onde a confiança e a abertura crescem entre os membros, vale como direção espiritual.
Um dos padres convoca as reuniões, sendo chamado “o responsável”. De vez em quando ele participa de uma reunião a nível regional ou nacional, onde encontra outros responsáveis. Pode haver também encontros a nível continental. A cada seis anos uma Assembleia Geral, a nível mundial, é convocada pelo responsável geral e a equipe dele, eleitos para mandato de seis anos, como é também o caso do responsável regional. O responsável geral e os seus auxiliares viajam bastante, visitando as equipes das regiões para encorajar os membros. Isso deve ser visto como um serviço, e nunca como uma dominação.
O encontro mensal das fraternidades locais é discreto e não é divulgado pelas redes sociais e pelos meios de comunicação. Para quem pertence à fraternidade local, o encontro não tem preço... Anos atrás, um bispo latino-americano, tendo que percorrer uns novecentos quilômetros para participar da reunião de sua fraternidade, confidenciava: “ Eu posso faltar a outro tipo de encontro, mas à reunião de minha fraternidade eu não quero faltar nunca”!