C. DE FOUC- MEDITAÇÕES

1)- BONDADE DE DEUS


Como és bom, meu Deus! Tu és sempre o mesmo! Tu és sempre aquele que “não quebra a cana rachada, nem apaga a chama que ainda fumega” (Oeuvres Spirituelles, p. 56)

Meu Senhor e minha vida ... Eu me afastava sempre mais de Ti ... e minha vida transformava-se em morte ... e nesse estado de morte ainda me mantinhas junto de Ti (Escritos Espirit., p.76)

Ó meu Deus, a que ponto tua mão me segurava e eu não a percebia! Como és bom e quanto me preservaste! Tu me cobrias com tuas asas, quando em nem mesmo acreditava em tua existência! (Écr. Spirit., p.76-77).

Um filho pródigo, acolhido não somente com inefável bondade, sem punição, sem reprimendas, sem nenhuma lembrança do passado, mas com beijos, com a única mais bonita e o anel do filho da casa, buscado ainda por esse pai abençoado, por ele trazido de volta de países longínquos (Med. Sobre o Evangelho, n. 382).

Ó Deus de bondade, que não cessaste de agir em mim desde meu nascimento, em mim e em volta de mim, para chegar a este momento, com que ternura “correste ao meu encontro e me cobriste de beijos”, com que prontidão me devolveste a túnica da inocência ... e a que divino festim, bem outro que o do filho pródigo me enviaste em seguida ... como é bom este pai do filho pródigo, mas Tu, mil vezes mais terno que ele! Para mim fizeste mil vezes mais do que ele para seu filho! Como és bom, meu Senhor e meu Deus! (Meditação sobre o Evangelho, n.. 382).

Não existe pecador tão grande, tão velho criminoso a quem não ofereça em alta voz o Paraíso, como o ofereceste ao bom ladrão, graças a um só instante de boa vontade (Meditação sobre o Antigo Testamento, Oeuvres Spirit. , p. 57)..

Nisto mostraste teu Amor: eu não existia e me criaste; andava longe de Ti e me trouxeste para seguir-te e me pediste para te amar (Pensamentos, Oeuvres Spirit., p. 336).

Eis que estarei convosco até o fim dos tempos!... Estas são as últimas palavras do Evangelho de São Mateus. Estareis sempre conosco, mas na Santa Eucaristia, sempre conosco, pela vossa graça, sempre conosco, pela imensidão de Vossa Essência divina que nos envolve, sempre conosco por vossa Onisciência, que nos vê o tempo todo, sempre conosco pela vossa Providência, que nos protege o tempo todo, sempre conosco pelo vosso Amor, pelo vosso Coração que nos ama infinitamente. Ó meu Deus, que felicidade! Que Felicidade! Deus conosco, Deus em nós, Deus no qual nos movemos e somos. Deus que é a dois metros de mim no sacrário... Ó meu Deus, que mais preciso? (Oeuvres Spirit. p. 789)

Vejo que a solidão aumenta. Sinto-me cada vez mais sozinho no mundo. Alguns retornaram à Pátria, outros têm sua vida cada vez mais distante da minha. Sinto-me como uma azeitona, deixada só na ponta de um ramo, esquecida após a colheita. Com a idade, esta comparação da Bíblia me vem sempre à lembrança... Mas Jesus permanece: Jesus, o Esposo imortal que nos ama como nenhum coração humano é capaz de amar. Ele permanece agora e permanecerá para sempre. Ele sempre nos amou e Ele nos ama neste instante e nos amará até o último suspiro caso não recusemos seu amor. Ele nos amará eternamente... (Carta à sra. de Bondy, 1/9/1910. Oeuvres Spirit. p. 719).

(Preparado pela frat.leiga, dirigido por Benedito Prezia)


02- AMOR A DEUS


O amor de Deus, o amor dos homens é toda a minha vida e será sempre a minha vida ... eis o que espero (Carta a Henri Duveyrier, 24/4/1892).

Creio que não há palavra do Evangelho que tenha tido uma a repercussão mais profunda e que tenha transformado mais a minha vida do que esta: “Tudo o que fizerdes a um desses pequeninos é a mim que o fareis!. Se pensarmos que estas palavras são a da Verdade incriada, pronunciadas pelos mesmos lábios que disseram:” Este é me corpo ... isto é meu sangue ...” com que força seremos levados a buscar e a amar Jesus nestes “pequeninos”, nestes pecadores, nestes pobres (Carta à Luis Massignon, 1/8/1916).

O amor consiste não em sentir que se ama, mas desejar amar. Quando se quer amar, ama-se, quando se quer amar acima de todas as coisas, ama-se acima de todas as coisas.

Se sucumbirmos à uma tentação, é porque o amor é muito frágil, mas não é que ele não existe. Quanto ao amor que Jesus tem por nós, Ele nos provou para que nós acreditássemos n´Ele sem senti-lo. Sentir que nós O amamos e que Ele nos ama, será o céu. O céu não é, salvo raros momentos, e excepcionalmente, aqui na terra (Carta à Louis Massignon, 15/7/1916. O. Espirit. p. 777).

E preciso fixar nosso olhar no Bem-Amado, na beleza, no amor infinito e incriado, que se digna nos amar ... Quando se ama a gente se esquece e pensa-se somente no que se ama. Não é amar quando se pensa o tempo todo que não se é digno do amor ... Aquele que ama não quer pensar senão no que ele ama e pelo que ele ama, e para que ame o ser amado (Carta a Louis Massignon, 1º/5/1912, O. Esp. p.774).

Nada é mais perfeito e nem melhor que o amor, pois o amor nasce em Deus e não descansa a não ser nele (Pensamentos, Oeuvres Spirit., p. 334)

O amor pode tudo. Aquele que não ama faz muitas coisas que cansam e desgastam desnecessariamente (Pensamentos, Oeuvres Spirit., p. 334).

Peçam para mim, sobretudo, esse amor ardente, generoso, apaixonado que leva a amar Jesus acima de tudo... Não peço sentir esse amor, nem que Jesus me ame, contanto que eu o ame com toda a minha alma, apaixonadamente, e para sempre (Nazaré, Notas avulsas, s/d).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


03- CONFIANÇA EM DEUS


Peçam para mim principalmente esse amor ardente, generoso, apaixonado que leve a amar Jesus acima de tudo... Não peço sentir esse amor, nem que Jesus me ame, contanto que eu o ame com toda a minha alma, apaixonadamente, e para sempre. (Nazaré, Notas avulsas, s/d).

Nosso aniquilamento é o meio mais poderoso que temos de unir-nos a Jesus e de fazer o bem à alma. É o que São João da Cruz repete a cada linha. Quando podemos sofrer e amar, podemos muito, podemos o máximo que se pode neste mundo. Sentimos que sofremos, mas não sentimos que amamos, e isto é um sofrimento a mais! Mas sabemos que gostaríamos de amar, e querer amar e amar. Parece que não amamos bastante, o que é verdade. Jamais amaremos o suficiente. Mas nosso bom Deus, que sabe de que barro somos feitos e que nos ama muito mais do que uma mãe pode amar seu filho, nos disse – ele que não mente – que jamais rechaçará aquele que vir a ele (Carta a sra. de Bondy, 1/12/1916, Oeuvres Spirit. p. 730)

Conservemos a esperança! Quaisquer que sejam as nossas faltas, Jesus que salvar-nos. Quanto mais formos pecadores, próximos da morte, desesperados... mais Jesus quererá salvar-nos, pois veio para salvar o que estava por perecer (Oeuvres Spirit., p. 150).

Sejamos homens de desejo e de oração ... Que nada nos pareça impossível. Deus tudo pode (Med. sobre os Evangelhos, Mt 9, 28-29).

Não hesitemos em pedir os lugares onde o perigo, o sacrifício e a entrega são maiores. A glória, deixemo-la a quem quiser, mas o perigo, o sofrimento, exijamo-lo sempre. Nós, cristãos, devemos dar o exemplo de sacrifício e de entrega total. É uma norma à qual devemos ser fiéis em toda nossa vida, com simplicidade, sem perguntarmos se não há vaidade nessa escolha: é o dever e façamo-lo. Peçamos ao Bem-Amado para o fazermos com toda a humildade, com todo o amor de Deus e do próximo. (Carta a Louis Massignon, 1/12/1916 –O.Esp. p. 779).

É preciso tornar-se corajoso. Isto é necessário a todos! Não há perfeição e santidade possível sem coragem... (...) Mas não te peças o impossível ou coisas exageradas. Vá devagar, sobretudo, no início, não por fraqueza, nem por falta de fé, mas por humildade e porque desejo agir em ti pela graça, através de uma grande graça, mas que não é um milagre... Não tente o impossível para não cair, mas faça o possível e faça-o bem (Retiro em Nazaré, 1897. Oeuvres Spir. p. 527)

“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23, 46) é a última prece do nosso mestre, do nosso Bem-Amado (...) e possa ser a nossa (...). E que seja não somente a do nosso último instante, mas a de todos os instantes: “Meu Pai, eu me entrego em tuas mãos; meu Pai, confio-me em ti; meu Pai, eu me abandono em ti; meu Pai, faz de mim aquilo que quiseres; o que quer que faças de mim, eu te agradeço; obrigado por tudo; estou pronto a tudo; aceito tudo; agradeço-te por tudo. Desde que se faça a tua vontade em mim, me Deus, desde que se faça a tua vontade em todas as criaturas, em todos os teus filhos, em todos aqueles que teu coração ama, nada mais desejo, meu Deus; entrego minha alma em tuas mãos, eu a dou, me Deus, com todo o amor do meu coração, porque te amo e porque me dar é uma necessidade de amor, colocar-me sem media entre tuas mãos; entrego-me em tuas mãos com uma infinita confiança, pois tu és meu Pai” (Espírito de Jesus, 1896, p. 88-89).

Sim, Jesus basta: onde Ele está, nada falta. Por mais queridos que sejam aqueles em que brilha um reflexo dele, é Ele que continua a ser o tudo. Ele é o tudo no tempo e na eternidade. Como somos felizes por termos um tudo que nada nos pode tirar e que será nosso para sempre, a não ser que nós próprios o deixemos! (Carta a D. Guérin, 1º/11/1910, Textos Espir. p. 251)

Temos Jesus conosco e por mais fracos que sejamos, temos a força da sua força invencível... Nunca Deus faltou aos homens, é o Homem que falta a Deus. Ele só pede para derramar suas graças... (Carta ao Pe.Caron, 15/12/1910)

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


04- A FÉ

A fé esclarece tudo com uma nova luz, diferente da luz dos sentidos, mais brilhante ou diferente... Assim, aquele que vive de fé tem a alma plena de pensamentos novos, de novos gostos, juízos novos. São novos horizontes maravilhosos, iluminados por uma luz celeste e por uma beleza que vem da beleza divina.... (Retiro em Nazaré, 1897, Oeuvres Spirit. p. 523-24).

Começarei (...) fazendo minha confissão. Se sua fé não foi senão abalada, a minha, infelizmente, esteve morta durante anos: vivi, durante doze anos, sem fé alguma. Nada me parecia suficientemente provado. A mesma fé com que se segue religiões tão diversas parecia-me a condenação de todas: a de minha infância, mais do que outra qualquer, parecia-me inadmissível com seu 1=3, que eu não podia decidir-me a formular.

O islamismo agradava-me bastante pela simplicidade, simplicidade de dogma, simplicidade de hierarquia, simplicidade de moral, mas eu via claramente que não possuía fundamento divino e que nele não estava a verdade; os filósofos estão todos em desacordo uns com os outros; permaneci doze anos sem nada negar nem crer, desesperando da verdade e não crendo em Deus, não me parecendo prova nenhuma suficientemente evidente... Vivia como se pode viver quando a última centelha de fé se apaga... Por que milagre a misericórdia divina me reconduziu de tão longe? Só posso atribuir a uma coisa: à infinita bondade d´Aquele que disse de Si mesmo “Ele é bom e sua misericórdia é eterna”... e à sua Onipotência... (Carta a Henry de Castries, 14/08/1901, Lettres à Henry de Castries, p. 94-95).

Enquanto estava em Paris providenciando a impressão de minha viagem ao Marrocos, entrei em contato com pessoas muito inteligentes, virtuosas e cristãs; dizia-me então “que talvez essa religião não fosse absurda”. Ao mesmo tempo uma graça interior impulsionava-me fortemente. Sem crer, comecei ir à igreja, único lugar onde me sentia bem e onde passava longas horas repetindo essa estranha oração: “Meu Deus, se Vós existis, fazei que eu Vos conheça...”

Veio-me a ideia de que precisava informar-me sobre essa religião, e que talvez achasse essa verdade da qual já desesperava, e disse a mim mesmo que o melhor seria tomar umas lições... Assim como procurara um bom thaleb [professor] para ensinar-me árabe, procurei um padre instruído para dar-me ensinamentos sobre a religião católica ... Falaram-me de um padre católico muito distinto que fora aluno da Escola Normal. Encontrei-o em seu confessionário e disse-lhe não ter vindo para confessar, pois não tinha fé, mas que desejava alguns esclarecimentos sobre a religião católica.... A obra de minha conversão, que o bom Deus tão poderosamente começara por sua graça interior, tão forte que quase irresistivelmente me arrastara à igreja, por Ele mesmo seria completada.

O padre, que eu desconhecia e a quem Ele me conduziu, aliava a uma grande instrução uma virtude e uma bondade ainda maiores. Tornou-se meu confessor e não deixou de ser meu melhor amigo nestes quinze anos que, desde então, decorreram..

Assim que acreditei haver um Deus, compreendi que não poderia fazer outra coisa se não viver só para Ele: minha vocação religiosa data da mesma hora que a minha fé em Deus é tão grande! Há uma tal diferença entre Deus e tudo o que não é Ele.... (Id., p. 95-96).

É no momento em que Jacó está a caminho, pobre, só; quando deita sobre a terra nua do deserto para repousar após uma longa caminhada, é no momento em que se acha nessa dolorosa situação de viajante solitário, em meio a uma longa viagem por país estrangeiro e selvagem; sem teto, é no momento em que se encontra nessa triste condição, que Deus o cumula de favores incomparáveis. Aparece-lhe numa visão magnífica em que, após lhe mostrar os anjos incessantemente ocupados com a guarda dos homens, indo e vindo da terra ao céu e do céu à terra para dar-lhes tudo o que necessitam, Ele promete protegê-lo durante toda a viagem, cumulá-lo de graças durante sua vida e após sua morte, abençoar num de seus descendentes todos os povos da terra, fazer nascer, dentre seus recém-nascidos, o Divino Salvador...

Envolve-o de tanta luz e felicidade que Jacó, esse pobre viajante tão acabrunhado e triste ao deixar-se cair, ergue-se exclamando: “Este lugar é verdadeiramente a casa de Deus e a porta do Céu”. Doravante quem terá medo de fazer, sobretudo se for para Vos seguir, meu Deus, para melhor Vos amar e melhor Vos servir, quem terá medo de fazer longas jornadas a pé, através de povos desconhecidos, sozinho e pobre? Quem terá medo, quando inundais com tais delicias os que parecem estar destinados a tantos sofrimentos?

Ó meu Deus, como Vos é fácil transformar a dor em alegria, aplainar os montes, tornar fácil o que parece quase impossível... “Procurai primeiro o reino de Deus e tudo o mais vos será dado por acréscimo...”.

Façamos o que for mais perfeito, iniciemo-lo, e Deus fará com que tenhamos êxito... E não temamos as longas jornadas, sozinhos, a pé, mendigando nosso pão, com São Pedro, São Paulo e tantos outros santos, desde que vejamos ser o mais perfeito. Nunca estamos sozinhos; nosso anjo da guarda cobre-nos com suas asas, Jesus está em nosso coração. Deus nos cerca, a Santa Virgem tem os olhos sobre nós e é nos caminhos que nos parecem tão tristes, que Deus nos força a exclamar: “Este lugar é a casa de Deus e a porta do céu” (Meditações sobre o Antigo Testamento, Gênesis, 28, 11 e ss. Oeuvres Spirit., p. 65-66).

“Por que temeis, homens de pouca fé?” (Mt 8,26). Uma das coisas que os nossos deveres em relação ao Senhor nos impõem é não ter medo... Ter medo é fazer-lhe uma dupla injúria. É esquecê-lo, esquecer que Ele está conosco, que nos ama e é Todo-Poderoso. É ainda não nos conformarmos com a sua vontade. Se conformarmos a nossa vontade com a sua, dado que tudo o que acontece é querido ou permitido por Ele, ficaremos satisfeitos com tudo o que suceder e nunca estaremos inquietos ou medrosos... (Meditações sobre o Evangelho. Textos Espirituais, p. 56).

“Homens de pouca fé, por que duvidastes”” (Mt 14,31). Como é grande a fé que Nosso Senhor nos pede e como é justo o seu pedido. (...) Isto nos parece impossível, mas Cristo é o senhor do impossível. (...) Precisamos, pois, de três coisas: primeiro, fazer como Pedro, pedir a Nosso Senhor que nos chame a Ele claramente. Depois, tendo ouvido o seu “Vem”, sem o qual não temos o direito de nos lançar à água (seria presunção e imprudência, arriscar gravemente a vida, seria pecado, e conseqüentemente pecado grave, porque arriscar a vida da alma é ainda mais criminosos que arriscar a vida do corpo) e ouvido distintamente (até então, o nosso dever é orar e esperar), atirarmo-nos à água, sem hesitar como Pedro.

Finalmente confiando no “Vem”, saído da boca de Deus, é preciso avançar até o fim sobre as ondas, sem sombra de inquietação, certos de que se marcharmos com fé e fidelidade, tudo nos será fácil no caminho para onde Ele nos chama, e isto por virtude da palavra “Vem”.Sigamos, pois, pela via a que Ele nos chama, com uma fé absoluta, porque o céu e a Terra passarão, mas a sua palavra não passará! (Meditações sobre o Evangelho. Textos Espirituais, p. 59).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


05- PEQUENEZ E POBREZA

Meu Senhor Jesus, como se fará logo pobre aquele que, amando-te de todo coração, não suportar ser mais rico do que seu Bem-Amado. Meu Senhor Jesus, como se fará logo pobre aquele que, lembrando de tudo aquilo que fizermos a um destes pequenos é a Ti que fazemos, e que tudo o que não fizermos, é a Ti que não fazemos!....

Como se fará logo pobre aquele que receber com fé tuas palavras: “Se quiserdes ser perfeitos, vendei o que tendes e dai aos pobres...”. Bem-aventurados os pobres, pois todo aquele que tiver deixado seus bens por minha causa, receberá aqui cem vezes mais, e, no Céu, a vida eterna...

Meu Deus, eu não posso conceber o amor sem uma necessidade, uma imperiosa conformidade de semelhança e, sobretudo, de partilha de todos os sofrimentos, de todas as dificuldades, de todas as durezas de vida... Ser rico, à vontade, viver facilmente de meus próprios bens, quando foste pobre, pressionado, vivendo penosamente de um duro trabalho: para mim não é possível, meu Deus... Eu não posso amar assim.

Não julgo ninguém, meu Deus, os outros são teus servidores e meus irmãos, e tenho que amá-los, fazer-lhes o bem e rezar por eles. Mas para mim é impossível compreender o amor sem uma busca de semelhança,um amor sem a partilha de todos os sofrimentos, sem o ardente desejo de conformidade de vida e sem a necessidade de partilhar todas as cruzes. (Retiro em Nazaré, 1897. Oeuvres Spirit. p. 520-521).

Não satisfeito em mostrar a cada passo da Escritura sua predileção pelos pequeninos, Deus a vir à terra num corpo mortal, quis ser de tal maneira o menor, tomar de tal maneira o último lugar que ninguém lhe pôde arrebatá-lo (Qui peut resister à Dieu).

Quanto a mim, que eu busque sempre o último dos últimos lugares, para ser tão pequeno quanto meu Senhor, para segui-lo passo a passo como discípulo fiel. Viver na pobreza, na abjeção , no sofrimento, na solidão, no abandono, para permanecer com meu Senhor e meu Irmão, com meu Esposo, meu Deus, que assim viveu toda sua vida e disso me dá tão grande exemplo desde o nascimento (Écrits Spir. p. 56).

Vejam nessa encarnação o amor pelos homens, o amor a que Deus tem por eles e que, por conseguinte se deve ter a exemplo dele, para ser perfeito como o Pai celeste é perfeito. Como esse amor é ativo, atuante, como é profundo a ponto de fazê-lo galgar de uma só vez a distância que separa o finito do infinito, empregar, para nossa salvação, esse meio exterior, inédito, a Encarnação. Ele, Deus, Criador, viver nesta terra... (Écrits Spirit. p. 126).

“Meus filhos, o dia está a acabar... apenas mais umas palavras... Aproxima-se o desenlace, e este retiro de Efrém está quase acabado ... Amanhã de manhã partiremos para a Galiléia... Quero no entanto dizer-vos ainda três coisas, enquanto estamos recolhidos neste solidão, antes de tudo, pobreza, pobreza, pobreza. Lembrai-vos dos meus exemplos e das minhas palavras acerca da pobreza: nasci numa gruta, cresci numa casa modesta, filho de pais pobres e, como eles, vivendo pobremente do trabalho das nossas mãos, até ao dia em que passei os dias inteiros a pregar, depois destes anos, aceitava para viver as esmolas dos fiéis, mas apenas o suficiente para viver tão pobremente como quando era operário. Nada me pertencia no Mundo, nem tinha uma pedra onde reclinar a cabeça.

Escolhi os meus companheiros, os meus apóstolos, entre os pobres, pregando a pobreza. Lembrai-vos das minhas palavras: “Bem-aventurados os pobres!... Desgraçados dos ricos... Se quereis ser perfeitos, vendei o que tendes e daí o dinheiro aos pobres... se não renunciares a tudo, não vos podeis tornar meus discípulos... Não se pode servir dois Senhores ao mesmo tempo, não se pode amar a Deus e ao dinheiro... Lázaro, pobre, foi levado pelos anjos ao sei de Abraão.

Os que deixam tudo para me seguir, recebem o cêntuplo neste Mundo, e no outro, a vida eterna... “Não quero deixar findar este dia sem vos repetir: “Pobreza, pobreza, pobreza!... Fé na oração... Humildade” (Retiro em Efrém, 2ª f. depois do 4º dom. da Quaresma. Textos Espir. p. 178-179)

(preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


06- SOFRIMENTO

Ao mesmo tempo em que Ele recebe o nome de Jesus Salvador, Nosso Senhor derrama seu sangue mostrando que é pelo sangue, pelo sofrimento oferecido a Deus, que a gente salva as almas (Notas quotidianas, Oeuvres Spirit. p. 332).

É sempre para nossa salvação que Deus faz ou permite tudo o que acontece conosco: tudo deve contribuir à nossa santificação (Notas quotidianas, Oeuvres Spirit. 332)

Recebamos com amor, com alegria, com reconhecimento, com coragem, com deleite todo sofrimento, toda dor do corpo ou da alma, por amor de Nosso Senhor Jesus, imitando-o e oferecendo-lhe em sacrifício. Não nos contentemos em esperá-lo, mas abracemo-lo. (?)

A vida é um combate e uma cruz.. Ela será dessa maneira até o final dos tempos. O bom grão estará sempre misturado ao joio, os bons peixes, misturados com os maus. Rezemos, soframos, trabalhemos para que o Nome de Deus seja santificado, que seu Reino venha, que sua Vontade se faça, que todos os homens louvem o Senhor: vivamos e entreguemos nossa vida para a redenção das almas, como o nosso Modelo único... Não veremos nossos esforços coroados de grande sucesso, pois o servo não é mais que seu Senhor. (Carta a Louis Massignon, 24/11/1910, Oeuvres Spirit. p.772)

Os sentidos têm horror ao sofrimento; a fé o abençoa, como um dom recebido da mão de Jesus, uma parte de sua cruz, que Ele concede que a carreguemos (Retiro em Nazaré, 1897. O. Spirit. p.523)

Quanto mais coisas nos faltam na Terra, mais encontramos o que de melhor ela nos pode dar: a Cruz. Quanto mais abraçamos a Cruz, mas estreitamos nos braços o Senhor (Caderno de notas. Textos Espirit. p. 277)

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


07- NAZARÉ

Tenho tanta sede de levar enfim a vida que entrevi, que adivinhei, ao caminhar pelas ruas de Nazaré, ruas que os pés de Nosso Senhor pisaram, e Ele, o pobre artesão perdido na abjeção e na obscuridade... (Carta à sra. de Bondy, 24/6/1986).

Há uma semana mandaram-me rezar diante do corpo de um empregado (do mosteiro), um nativo católico, falecido numa cabana próxima: que diferença entre esta casa e nosso convento. Eu suspiro por Nazaré (Carta à sra. de Bondy, 10/4/1894, Oeuvres Spirit. p. 702).

“Desceu com eles e veio a Nazaré”. Durante toda sua vida ele só se abaixou: ao encarnar-se, ao fazer-se criancinha, ao obedecer, ao fazer-se pobre, abandonado, exilado, perseguido, supliciado, pondo-se sempre no último lugar.(Voyageur dans la nuit, p 308).

Meus últimos retiros para o diaconato e para o sacerdócio mostraram-me que esta vida de Nazaré, que parecia ser minha vocação, era preciso levá-la não na Terra Santa tão amada, mas entre as almas mais doentes, as ovelhas mais abandonadas. Este banquete divino do qual sou ministro, era preciso apresentá-lo não aos irmãos, aos parentes, aos vizinhos ricos, mas aos coxos, aos cegos, às almas mais abandonadas, mais carentes de sacerdotes (Carta ao Pe. Caron, 8/4/1905).

Eu sou um velho pecador que, no dia imediato ao da sua conversão – há quase 20 anos – foi poderosamente atraído pelo Senhor para levar a mesma vida que Ele levou em Nazaré. Desde então, esforço-me por imitá-lo... bem miseravelmente, é certo. Passei muitos anos nessa querida e abençoada Nazaré, como criado e sacristão do convento das Clarissas. Só deixei este lugar bendito há cinco anos, para receber as santas ordens.

Sacerdote não residente da diocese de Viviers, os meus últimos retiros de diácono e sacerdote mostraram-me que esta vida de Nazaré, a minha vocação, era necessário levá-la, não na tão amada Terra-Santa, mas entre as almas mais doentes, entre as ovelhas mais abandonadas.

O divino banquete de que sou o ministro, era preciso oferecê-lo, não aos irmãos ou aos parentes ou aos vizinhos ricos, mas ao mais coxo, ao mais cego, às almas mais abandonadas, as privadas do sacerdote. Na minha mocidade, percorri a Argélia e Marrocos. Marrocos tão grande como a França, com dez milhões de habitantes, não tinha nem um único padre no interior. O Saara argelino, sete ou oito vezes maior que a França e mais habitado do que anteriormente se julgava, tinha doze missionários.

Nenhum povo me pareceu tão abandonado como este e assim pedi e obtive do Reverendíssimo Prefeito Apostólico do Saara, a licença para me fixar no Saara argelino, e de levar na solidão, na clausura e no silêncio, pelo trabalho das minhas mãos e no estado de pobreza, só ou com alguns padre ou irmãos leigos, uma vida tão semelhante quanto possível à vida oculta de Cristo em Nazaré ...

Estabeleci-me há três anos e meio, em Beni-Abbès, mesmo na fronteira de Marrocos, procurando, embora miserável e tibiamente, levar a bendita vida de Nazaré. Até agora estou só... O grão de trigo que não morre, fica só...” Peça ao Senhor para que eu morra para tudo o que não seja a sua vontade. Um pequeno vale é a minha clausura; só de lá saio quando um imperioso dever de caridade me força a isso... a falta de outro sacerdote (o mais próximo está a 400 quilômetros ao norte)... ou para levar Cristo a qualquer outro lugar (Carta ao Pe. Caron, 8/4/1905, Textos Espir. p.213-215)

Escolho Tamanrasset, lugarejo de vinte casas em plena montanha, no coração do Hogar e entre os Dag-Rali, principal etnia [Tuareg], afastado de todos os centros importantes. Não parece estar prevista nenhuma guarnição militar, nem telégrafo, nem europeu, e por muito tempo não haverá missão. Escolho esse lugar abandonado e aqui me instalo, suplicando a Jesus que abençoe esta instalação na qual quero, para minha vida, tomar um único exemplo, sua vida de Nazaré (Carta ao Pe. Huvelin, 4/12/1909).

Quero que todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus... se acostumem a ver-me como irmão, como irmão universal ... Eles estão começando a chamar minha casa de “fraternidade”, e isso me dá muita alegria (Carta à sra. de Bondy, 7/1/1902).

Ele [Jesus] assume a vocação de gritar o Evangelho em cima dos telhados, não com palavras, mas com a vida. (Retiro em Nazaré, 1897).

Levem o Evangelho, pregando-o não com palavras, mas pelo exemplo. Não o anunciado, mas vivendo-o... (Retiro em Efrém, 1898, 2ª f. depois do 3º domingo da Quaresma).

Que os irmãos tenham o mesmo zelo pelas almas e as mesmas virtudes que os cristãos dos primeiros séculos e realizarão as mesmas obras. Espalharão, como eles, ocultos, dissimulados, o bem que não podem fazer abertamente. O amor mostrar-lhes-á os meios, e o Senhor sabe tornar eficazes os esforços que inspira. Recapitulemos: “Não podemos medir os nossos trabalhos pela nossa fraqueza, mas os nossos esforços pela nossa obra”. Se as dificuldades são grandes, apresemo-nos ainda mais a dedicar-nos ao trabalho e multipliquemos mais ainda os nossos esforços (Projeto de Missão no Marrocos, Textos Espir. p. 275).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


08- IMITAÇÃO DE JESUS


Tua regra: seguir-me .... Fazer o que eu faria. Em tudo te perguntes: “Que teria feito Nosso Senhor?” e faça-o. É tua regra, mas tua regra absoluta (Escritos Espir., p. 171).

Para mim é impossível compreender o amor sem buscar ao mesmo tempo a semelhança, sem partilhar todos os sofrimentos, sem desejar ardentemente uma conformidade de vida (Oeuvres Spirit., p. 52).

Assim que acreditei que havia um Deus, compreendi que só havia uma coisa a fazer: viver só para Ele. Minha vocação religiosa data da mesma hora que minha fé. Deus é tão grande! Há uma diferença tão grande entre Deus e tudo que não seja Ele! ... (Carta a Henry de Castries, 14/8/1901).

O Evangelho me mostrou que “o primeiro mandamento é amar de todo o coração” e que é necessário tudo encerrar no amor. Cada um de nós sabe que o amor tem como primeiro efeito a imitação (Carta a Henry de Castries, 14/8/1901).

Ver Jesus em todo ser humano e agir em conseqüência: bondade, respeito, amor, humildade, mansidão, por ele fazer mais do que por mim (Retiro em Beni-Abbès, junho 1902).

A verdadeira, a única perfeição não é levar tal ou tal tipo de vida, mas fazer a vontade de Deus, levar o tipo de vida que Deus deseja de nós, onde Ele deseja, e de levá-la como Ele mesmo a faria .. (Meditações sobre o Evangelho, Oeuvres Spir. p.214)

Faremos o bem não na medida do que falamos ou do que fazemos, mas na medida do que somos, na medida da graça que acompanha nossa ação, na medida em que Jesus vive em nós, na medida em que nossos atos sejam os atos de Jesus agindo em nós e por nós (Diretório da União dos Irmãos e Irmãs do Sagrado Coração, 1909. Oeuvres Spir. p.489)

Os meios dos quais Jesus se serviu no presépio, em Nazaré e na cruz são: pobreza, abjeção, humilhação, abandono, perseguição, sofrimento, cruz. Eis nossas armas, as de nosso Esposo divino, que nos pede continuar em nós sua própria vida. Sigamos esse modelo único e estaremos seguros de fazer muito bem, pois nesse caso já não somos mais nós que vivemos, e sim Jesus que viverá em nós. Nossos atos não serão mais atos nossos, humanos e miseráveis, mas atos seus, divinamente eficazes (Carta a Dom. Guérin, janeiro de 1908).

Pensas que deves morrer mártir, despojado de tudo, estendido na terra, nu, irreconhecível, coberto de sangue e de feridas, violenta e dolorosamente morto ... e deseja que seja hoje (Ecrits Spirit., p. 172)

Não posso conceber o amor sem uma necessidade, uma necessidade imperiosa de semelhança e, sobretudo, de partilha de todos os sofrimentos, de todas as dificuldades, de todas as durezas da vida (Retiro em Nazaré, 1897).

(Preparado pela Frat. Leiga, dirigido por Benedito Prezia)


09- O EVANGELHO


Sempre leiamos amorosamente o Evangelho, aos pés do Bem-Amado, deixando que Ele nos fale de si mesmo... (Nouveaux Écrit Spirit. p.3)

Ler e reler sem cessar o santo Evangelho tendo sempre, diante do espírito, os atos, as palavras, os pensamentos de Jesus a fim de pensar, falar, agir como Jesus, para seguir os exemplos, os ensinamentos de Jesus (Carta a Joseph de Hours, 2/5/1912).

Recebamos o Evangelho. Será pelo Evangelho, segundo o Evangelho que seremos julgados ... Não segundo tal ou tal livro, tal ou tal mestre espiritual, tal ou tal doutor, tal ou tal santo, mas segundo o Evangelho de Jesus, segundo as palavras de Jesus, os exemplos de Jesus, os conselhos de Jesus, os ensinamentos de Jesus. (Meditações sobre os Evangelhos, Oeuvres Spirit., p.93).

Toda nossa existência, todo nosso ser deve gritar o Evangelho sobre os telhados, toda nossa pessoa deve respirar Jesus, todos nossos atos, toda nossa vida devem gritar que somos de Jesus, devem ser uma imagem da vida evangélica. Todo nosso ser deve tornar-se pregação viva, reflexo de Jesus, perfume de Jesus, algo que grite Jesus, que faça ver Jesus, algo que brilhe como uma imagem de Jesus (Oeuvres Spirit., p. 395).

Sempre leiamos amorosamente o Evangelho, aos pés do Bem-Amado, deixando que Ele nos fale de si mesmo ... (Nouveaux Écrit Spirit. p.3)

Ler e reler sem cessar o santo Evangelho tendo sempre, diante do espírito, os atos, as palavras, os pensamentos de Jesus a fim de pensar, falar, agir como Jesus, para seguir os exemplos, os ensinamentos de Jesus (Carta a Joseph de Hours, 2/5/1912).

Toda nossa existência, todo nosso ser deve gritar o Evangelho sobre os telhados, toda nossa pessoa deve respirar Jesus, todos nossos atos, toda nossa vida devem gritar que somos de Jesus, devem ser uma imagem da vida evangélica. Todo nosso ser deve tornar-se pregação viva, reflexo de Jesus, perfume de Jesus, algo que grite Jesus, que faça ver Jesus, algo que brilhe como uma imagem de Jesus (Oeuvres Spirit., p. 395).

Voltemos ao Evangelho. Se não vivermos o Evangelho, Jesus não vive em nós.

Voltemos à pobreza, à simplicidade cristã. (Carta ao Côn. Caron, 30/6/1909).

É preciso impregnar-se do espírito de Jesus, lendo e relendo, meditando e remoendo as palavras e os exemplos de Jesus. Que eles façam em nossa alma como a gota d’água que pinga e respinga sobre uma pedra, sempre no mesmo lugar. (Carta a Louis Massignon, 1914, Oeuvres Spirit. p. 143).

(Preparado pela Frat. Leiga, dirigido por Benedito Prezia)


10-A EUCARISTIA


Deus, para salvar-nos, veio a nós, misturou-se a nós, viveu conosco no contato mais familiar e mais estreito, da Anunciação à Ascensão. Para a salvação das almas, ele continua a vir a nós, a misturar-se a nós, a viver conosco, no contato mais estreito, a cada dia e a cada hora, na Santa Eucaristia (Ouvres Spirit., p. 491).

Tu estás, meu Senhor Jesus, na Santa Eucaristia. Aqui estás, a um metro de mim, neste sacrário! Teu corpo, tua alma, tua humanidade, tua divindade... Como estás perto, meu Deus, meu Salvador, meu Jesus, meu irmão ... (Écrits Spirit. p. 69).

Meu Deus, digna-te dar-me esse sentimento contínuo de tua presença... e ao mesmo tempo esse amor temeroso que experimentamos em presença daquele que amamos apaixonadamente, amor que nos leva a permanecer diante da pessoa amada, sem poder desviar os olhos... (Écrits Spirit., p. 51).

Senhor, estás na sagrada Eucaristia. Estás aí, a um metro de mim, no sacrário. O teu corpo, a tua alma, a tua humanidade, a tua divindade, todo o teu Ser está aí, na sua dupla natureza. Como estás perto de mim, meu Deus, meu irmão. Não estavas mais perto da Virgem Santíssima durante os nove meses que Ela te trouxe no seu seio, que quando eu comungo. Não estavas mais perto da Virgem Santíssima e de São José na gruta de Belém, na casa da Nazaré, na fuga para o Egito, em todos os instantes da vida desta sagrada família, que estás de mim neste momento e tantas, tantas vezes neste sacrário! Santa Madalena, sentada a teus pés, em Belém, não estava mais perto de ti que eu, neste altar. Não estavas mais perto dos teus Apóstolos quando estavas sentado no meio deles, do que o estás de mim, agora, Senhor. Como sou feliz. Estar só na minha cela a conversar contigo no silêncio da noite, bem o sabes, meu Senhor; e tu estás aqui, como Deus e pela tua graça. Mas ficar na minha cela quando podia estar diante de ti ao sacrário, é como se Madalena, quando estiveste na Betânia, te deixasse só... para ir pensar em ti, sozinha no seu quarto ... Beijar os lugares que santificaste na tua vida mortal, as pedras de Gethsêmani, do Calvário, o solo da Via Dolorosa, as ondas do mar da Galileia, bem o sabes, meu Deus. Mas preferi-lo ao sacrário, é deixar o Jesus vivo a meu lado, e ir sozinho venerar as pedras mortas onde Ele não está (Retiro em Nazaré, 1897, Textos Espirituais, p. 87-88)

Quando se ama, não nos parece bem empregado todo o tempo que passamos ao pé de quem se ama? Não é este o tempo mais bem empregado, salvo quando a vontade ou bem-estar do Ser amado nos chama a outra parte? Onde quer que exista a santa Hóstia, está o Deus vivo, está o teu Salvador tão real como está agora no Céu. Nunca percas uma comunhão por tua culpa. A comunhão é mais que a vida, mais que todos os bens do mundo,mais que o Universo inteiro. A comunhão é o próprio Deus, sou Eu, Jesus. (Retiro em Nazaré, 1897, Textos Espirit. p. 88).

(Preparado pela Frat. Leiga, dirigido por Benedito Prezia)


11- A ORAÇÃO

A oração é todo encontro da alma com Deus. É também olhar para Deus, sem palavra, estando a alma unicamente ocupada em contemplá-lo com o olhar de que ama, embora emudecido em seus lábios, até mesmo em seus pensamentos... A melhor oração é aquela onde há mais amor (Écrits Spir., p. 160).

Sejamos homens de desejo e de oração... Deus tudo pode (Meditação sobre o Evangelho de Mateus).

“Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos” (Mt 5,44). Orar pelos nossos perseguidores e inimigos. Devemos cumprir esta ordem conscienciosamente, com o escrupuloso cuidado do amor. E, para estarmos bem certos de não a esquecer, fixemos tal ou tal oração para dizer todos os dias pelos nossos inimigos.

Quando dos lábios do Senhor nos vem um preceito, o menos que podemos fazer é aceitá-lo e executá-lo com toda a solicitude, com todo o amor e toda a perfeição possível (Meditações sobre o Evangelho.Textos Espirit., p. 27).

“Se tiverdes fé como um grão de mostarda, nada vos será impossível” (Mt 17, 19). Não hesitemos, pois, em pedir a Deus as coisas mais difíceis, como a conversão dos grandes pecadores ou mesmo de povos inteiros. Peçamo-las tanto mais quanto mais difíceis elas são, com a certeza de que Deus nos ama apaixonadamente, mas peçamos com fé, insistentemente, constantemente, com amor e boa vontade.

E estejamos certos de que, se pedirmos assim e com suficiente constância, seremos ouvidos e receberemos a graça pedida ou uma maior ainda.

(...) Peçamos, pois, ousadamente ao Senhor as coisas mais impossíveis de se obter, quando elas se destinam à sua glória, e tenhamos certeza de que o seu coração no-las concederá tanto mais seguramente quanto mais elas parecerem humanamente impossíveis, porque Ele gosta de dar o impossível àqueles a quem ama... e quanto Ele não nos ama? (Meditações sobre o Evangelho. Textos Espirit., p. 31).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


12- O DESERTO

É preciso passar pelo deserto e aí permanecer por algum tempo para receber a graça de Deus: é nele que nos despojamos, que afastamos de nós o que não é Deus e que esvaziamos completamente a pequena morada de nossa alma para deixar todo o lugar exclusivamente para Deus.

Os Hebreus passaram pelo deserto. Moisés nele viveu antes de receber sua missão. São Paulo e São João Crisóstomo também se prepararam no deserto... É indispensável... É um tempo de graças, um período pelo qual toda alma que quer dar frutos deve necessariamente passara.

É-lhe necessário esse silêncio, esse recolhimento, esse esquecimento de todos os seres criados para que Deus venha estabelecer seu reino e nele formar o espírito interior. É-lhe necessário a vida íntima com Deus, o colóquio da alma com Deus, na fé, na esperança e na caridade. Mais tarde a alma produzirá frutos exatamente na mesma medida em que nela tenha sido formado o homem interior.

Se não houver essa vida interior, será inútil possuir o zelo, boas intenções, muito trabalho – não haverá frutos. É uma fonte que desejaria prover os outros de santidade mas que não o pode, por não possuí-la: só damos aquilo que temos e é na solidão, nessa vida a sós com Deus, nesse recolhimento profundo da alma que esquece todos os seres criados para viver sozinha em união com Deus, que Deus se dá totalmente àquele que totalmente se dá a Ele.

Entregue-se inteiramente a Ele e Ele se entregará ao senhor. Agindo assim não receie ser infiel às criaturas, ao contrário. Esse é o único meio de poder servi-las eficazmente. Considere São Paulo, São Bento, São Patrício, São Gregório Magno e tantos outros. Que longo período de recolhimento e silêncio! Olhe para mais alto: considere São João Batista, Nosso Senhor! Nosso Senhor não tinha necessidade disso, mas quis nos dar o exemplo. Dê a Deus o que é de Deus... (Carta ao Pe. Jerônimo, 19/05/1998).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


13- O IRMÃO UNIVERSAL


É preciso amar a justiça e detestar a iniquidade e quando o governo temporal comete graves injustiças contra aqueles dos quais estamos de certa maneira encarregados, é preciso dizê-lo...

Não temos o direito de sermos “sentinelas adormecidas, pastores indiferentes (Ex 34). (...) Longe de mim querer falar e escrever, mas não quero trair meus filhos, deixar de fazer por Jesus vivo em seus membros aquilo que necessitam. É Jesus que se encontra nessa dolorosa situação. “O que fizerdes a um desses pequeninos, a mim o fareis”. Não quero ser mau pastor nem cão mudo. (Carta a Dom Martin, 7/2/1902).

O islamismo provocou em mim uma reviravolta profunda... Ver esta fé, vê-los viver na presença contínua de Deus fez com que eu entrevisse algo mais e mais verdadeiro que as ocupações mundanas. Comecei a estudar o islamismo e depois a Bíblia (Carta a Henry de Castries, 8/7/1901).

Os hóspedes, os pobres, escravos, visitantes, não me deixam um só momento. Estou sozinho para fazer todos os trabalhos do eremitério. Desde que, no dia 15, a casa de hóspedes ficou pronta, temos todos os dias hóspedes para jantar, dormir, .. ela nunca ficou vazia. (Carta a Dom Martin, 7/2/1902).

Amar ao próximo e por ele chegar ao amor de Deus: esses dois amores não existem um sem o outro: crescer num é crescer no outro. Como adquirir o amor de Deus? Praticando a caridade para com os homens (Oeuvres Spirit, p. 771)

Creio que não há palavra do Evangelho que tenha tido uma a repercussão mais profunda e que tenha transformado mais a minha vida do que esta: “Tudo o que fizerdes a um desses pequeninos é a mim que o fareis!. Se pensarmos que estas palavras são a da Verdade incriada, pronunciadas pelos esmos lábios que disseram:”Este é me corpo ... isto é meu sangue...” com que força seremos levados a buscar e a amar Jesus nestes “pequeninos”, nestes pecadores, nestes pobres (Carta à Louis Massignon, 1/8/1916).

O senhor me pergunta se estou pronto para ir mais longe do que Beni-Abbès para a irradiação do Santo Evangelho... Para isso estou pronto a ir até o fim do mundo e a viver até o julgamento final (Carta a Dom Guérin, 27/2/1903).

Todos os homens são filhos de Deus que os ama infinitamente: é portanto impossível amar, querer amar a Deus, sem amar, sem querer amar aos homens. Quanto mais amamos a Deus, mais amamos aos homens. O último mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, algumas horas antes de sua morte, foi: “Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros, e a esse sinal reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Écrits Spirit. p. 106).

O fim e a abolição da escravatura se impõem porque se trata de justiça e de direito (Carta a D. Martin, 17/3/1902).

Amar ao próximo e por ele chegar ao amor de Deus: esses dois amores não existem um sem o outro: crescer num é crescer no outro. Como adquirir o amor de Deus? Praticando a caridade para com os homens (Oeuvres Spirit, p. 771).

Todos os homens são filhos de Deus que os ama infinitamente: é, portanto, impossível amar, querer amar a Deus, sem amar, sem querer amar aos homens. Quanto mais amamos a Deus, mais amamos aos homens. O último mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, algumas horas antes de sua morte, foi: Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros, e a esse sinal reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Escritos Esp. p. 106).

Ver em todo humano uma alma a salvar (Notas quotidianas. Obras Ep. p. 331)

É o amor que deve recolher-te em mim e não o afastamento de meus filhos... Vê-me neles e, como eu em Nazaré, viva junto deles, perdido em Deus (Diário, l904, Oeuvres Spirituelles, p.360).

O cristão deve olhar todo ser humano como um irmão bem amado ... Deve ter para com cada um os sentimentos do Coração de Jesus (Carta a Joseph de Hours, /5/1912).

Suportar a presença dos maus, desde que a sua maldade não corrompa os outros, como Jesus suportou Judas. Não resistir ao mal... Aceder aos pedidos mesmo injustos, por obediência a Deus e para fazer bem às almas e fazer aos outros o Deus faz... Continuar a fazer bem aos ingratos para imitar Deus, que abençoa os bons e os maus... “Se sois bons apenas para os bons, onde está o vosso mérito?” Ser bom para os maus, para os ingratos, para os inimigos, como o próprio Deus. Todo o homem, por pior que seja, é filho de Deus, imagem de Deus, membro de Cristo: respeito, amor, atenções, carinhos, como consolo material; zelo extremo pela perfeição espiritual de cada um (Retiro anual de 1902. Textos Espir., p.221)

“Vim chamar não os justos, mas os pecadores...” Só ter um desejo no coração: dar Jesus a todos... Ocupar-me em especial das ovelhas perdidas, dos pecadores, dos maus. Não deixar as 99 ovelhas tresmalhadas, e manter-me tranquilamente no redil com a ovelha fiel... Vencer a severidade natural e o asco que sinto pelos pecadores, a substituí-los pela compaixão, pelo interesse, pelo zelo e pelos cuidados atentos que devo dar à sua alma (Retiro anual de 1901. Textos Espir., p.222).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


14- VIDA MISSIONÁRIA

Não conhecendo regiões mais perdidas, mais abandonadas, mais desamparadas, com maior falta de operários evangélicos, do que o Saara e o Marrocos, solicitei e obtive autorização para estabelecer na fronteira um Tabernáculo e de congregar alguns irmãos para a adoração da Sagrada Hóstia. Aí vivo já há alguns anos, sozinho até agora... Mea culpa, mea culpa: quando o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece só; se morre produz muitos frutos... Não estou morto, portanto, estou só... Rezai pela minha conversão, a fim de que morrendo eu produza os frutos... (Carta a Suzanne Perret, 15/12/1904)

Vivo o dia a dia... O tempo em que puder ser útil neste país e enquanto outros não vierem substituir-me ficarei aqui... pois é um lugar que precisa de alguém. Eis o que tomo como regra: fazer as coisas que acredito serem muito úteis às almas e que as circunstâncias não permitem que outros as façam...

Penso, portanto, permanecer neste país enquanto for tolerado, enquanto não for substituído, enquanto puder trabalhar utilmente pelo reino de Jesus. Atualmente sou um nômade vivendo na tenda, mudando sempre de lugar: é muito bom como começo, pois isso me faz ver muita gente e muitos lugares (Carta ao Pe. Huvelin, 13/07/1905).

Depois de ouvir tudo o que a razão diz, vejo essas vastas regiões sem um só sacerdote, vejo-me como o único sacerdote que possa ir até lá e me sinto extremamente e cada vez mais impelido a partir [para o Hoggar, região dos Tuaregues]. Ir lá ao menos uma vez e, segundo o resultado, e a partir do que a experiência me mostrar, voltaria ou não. Apesar do que a razão diz em contra e do verdadeiro horror que minha natureza tem por essa ausência [do eremitério de Beni-Abbès], sinto-me extremamente e cada vez mais impelido interiormente a essa viagem (Carta ao Pe. Huvelin, 13/12/1903).

Meu apostolado deve ser da bondade. Vendo-me os outros devem dizer “já que este homem é tão bom, sua religião deve ser boa”. Se me perguntarem por que sou paciente e bom, devo dizer: “porque sou servo de alguém bem melhor do que eu” (Diário, Oeuvres Spirit., 1909).

A minha obra, infelizmente, não é aqui mais que uma obra de preparação, de desbravamento. Consiste em levar no meio deles o Senhor,no Santíssimo Sacramento, o Senhor que desce todos os dias no Santo Sacrifício; e também em pôr no meio deles uma oração -- oração da Igreja -- por mais miserável que seja aquele que a oferece... Consiste ainda em mostrar aos ignorantes que os cristãos não são o que eles supõem: que também nós cremos, amamos e esperamos. Consiste, finalmente, em dar às almas confiança e amizade, em prendê-los, fazer deles se possível, nossos amigos, para que depois deste primeiro contato, outros possam fazer maior bem a esta pobre gente (Carta ao Côn. Caron, 08/04/1906, Textos Espir. p.264)

É bom viver sozinho no país. Podemos atuar ainda que não façamos grande coisa, porque nos tornamos do país, e nele nos fazemos tão abordáveis e tão pequeninos (Carta a Dom Guérin, 2/7/1907).

A região do Saara que me disponho a penetrar, tem 2 mil quilômetros de norte para sul e mil quilômetros de Leste a Oeste, com 100.000 muçulmanos dispersos, sem um único cristão, a não ser os soldados franceses de todas as patentes. Estes últimos são pouco numerosos. Há 80, quanto muito 100, espalhados por toda esta área, porque nos exércitos do Saara, só os oficiais são franceses, sendo os soldados nativos.

Não consegui ainda uma única conversão verdadeira e estou aqui há sete anos.Fiz dois batismos, mas sabe Deus, o que sãoe serão as almas batizadas: uma criança que os Padres Brancos criam --- sabe Deus o que virá a ser dela mais tarde --- e uma pobre velha cega: o que haverá na sua pobre cabeça? Até que ponto será real a sua conversão? (Carta ao Côn. Caron, 9/6/1908,Textos Espirit. p.264-265).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


15-JUSTIÇA

A escravidão dos homens, a pátria terrestre passam depressa, como a vida. (...) Mas, dito isso, e aliviando-os [os escravos] tanto quanto possível, parece-me que o dever não está completo e que é necessário dizer, ou fazer dizer por quem de direito: “Non licet!” [Não é permitido!],“Vae vobis hypocritis!” [Ai de vós, hipócritas!”, já que inscreveis nos selos e por toda a parte “Liberdade, Igualdade, Fraternidade, Direitos do Homem” e que aferrolhais as algemas dos escravos.

Condenais às galeras os que falsificam vossos cheques e permitis que roubem as crianças e seus pais e que as vendam publicamente; que punis o roubo de uma galinha e permitis o roubo de um homem (realmente quase todos os escravos dessas regiões são crianças nascidas livres e violentamente arrebatadas, de surpresa, a seus pais)...

Além do mais, é necessário “amar o próximo como a si mesmo”, fazer por essas pobres almas “o que gostaríamos que fizessem por nós”, impedir que se perca algum desses que Deus nos confiou – e Ele nos confia todas as almas do nosso território...

Não é necessário imiscuir-nos no governo temporal. Ninguém está mais convencido disso do que eu. Mas é preciso “amar a justiça e odiar a iniqüidade”, e quando o governo temporal comete uma grave injustiça contra os que, de certa maneira, estão sob nossa guarda (sou o único padre da Prefeitura num raio de 30 km) é preciso dizer-lhe, pois somos nós que representamos, na terra a justiça e a verdade e não temos o direito de ser “sentinelas adormecidas”, “cães mudos”, “pastores indiferentes”. (Carta a Dom Martin em 07/02/1902, Cahiers Charles de Foucauld, v.2)

Numa palavra, pergunto-me (estamos de pleno acordo quanto à conduta a manter com os escravos) se não temos de elevar a voz, direta ou indiretamente, para dar a conhecer na França essa injustiça e esse roubo sancionado que é a escravatura em nossas regiões, e dizer ou fazer com que seja dito: eis o que se passa, “Non licet” [Não é permitido]...

Preveni o Administrador Apostólico e talvez seja o suficiente. Longe de mim desejar falar e escrever, mas não quero trair meus filhos, nem deixar de fazer por Jesus, vivo em seus membros, aquilo que Ele necessita: é Jesus que está nessa dolorosa condição, “o que fizerdes a um desses pequeninos é a mim que fazeis ...”. Não quero ser um mau pastor ou um cão mudo... Tenho medo de sacarificar Jesus ao meu comodismo e à minha grande inclinação pela tranqüilidade, à minha covardia e timidez naturais (Id., ib.).

O fim e a abolição da escravatura se impõem porque se trata de justiça e de direito (Carta a Dom Martin, 17/3/1902).

(Preparado pela frat. leiga, dirigido por Benedito Prezia)


16- ENCONTRO FINAL COM DEUS

As mortes súbitas, ou quase súbitas são assustadoras, sobretudo, quando atingem em plena felicidade pessoas pouco acostumadas a pensar na outra vida ... Este pensamento nos envolve também, quando nossa hora chegar e quando nossos olhos se abrirem à luz. Então agradeceremos a Deus como um dom, mesmo que seja uma grande dor aqui. Este pensamento não impedirá a dor, mas ajudará a nos submeter, a nos abandonar, as adorar a vontade divina sempre sábia e misericordiosa, embora incompreensível para os cegos que somos (Carta à sra. de Bondy, 10/5/1904, Oeuvres Spirit. p. 723).


É tão certo que esta querida irmã é feliz, ela que está agora presente na vida da luz e do amor eterno, que nada temos que nos entristecer, mas devemos antes alegrar-nos, pensando que aquela que amamos é feliz. Ela chegou onde nós quereríamos estar; chegou ao porto bem-aventurado para o qual caminhamos com o receio de lá não entrarmos, no meio de tempestades e escolhos, de temores e sofrimentos... Ei-la nessa terra do “belo imutável”, acima da região das nuvens, perdida na luz infinita e no infinito amor.


É doce pensá-lo, é doce pensar que ela é tão feliz, e que nós também o seremos num futuro talvez próximo. É doce pensar que, apesar da minha indignidade, também lá serei chamado... (Carta à sua irmã, 4/7/1902, Textos Espirit. p. 233).



Agora que a vida quase terminou para nós... a luz em que entraremos, quando morrermos, começa a bilhar e a fazer-nos ver o que é real e o que não é real... (Carta a um amigo, 15/7/1906), Textos Espirit, p. 245).


“Eis o Esposo que chega, saí a seu encontro!” Em todo instante de nossa vida, tenhamos em nossa alma duplo sentimento de São Paulo: um desejo amoroso e terno de ver nosso corpo decompor-se para “ficar com o Cristo”, que é nosso bem, e um desejo mais forte ainda de glorificá-lo, o mais que possamos, aceitando viver intensamente o tempo que lhe aprouver.


Se a doença, o perigo, a visão da morte bater à nossa porta, que o desejo de nossa partida seja revivido.


Que seu Nome seja santificado, que seu Reino venha, que sua Vontade se faça nesta terra como no céu. A Ele louvor, honra, glória e benção com o Pai e o Espírito Santo, nos séculos dos séculos. Amém (Diretório da União dos Irmãos e Irmãs do Sagrado Coração. Oeuvres Spirit., p. 496-7).


ORAÇÃO DO ABANDONO

Meu Pai,

Meu Pai,

A Vós me abandono:

Fazei de mim o que quiserdes!,

O que de mim fizerdes,

Eu vos agradeço.

Estou pronto para tudo,

Contanto que a vossa vontade

Se faça em mim

E em todas as vossas criaturas.

Não quero outra coisa, meu Deus.

Entrego minha vida em vossas mãos,

Eu vo-la dou, meu Deus,

Com todo o amor de meu coração,

Porque vos amo

E porque é para mim

Uma necessidade de amor

Dar-me, entregar-me

Em vossas mãos sem medida,

Com infinita confiança,

Porque sois meu Pai!