A FAVOR DE FRANCISCO- BOFF

Leonardo Boff: "levanto minha voz a favor de Francisco"

Continuam a existir ataques duros e insistentes ao Papa, mesmo dentro da Igreja, pelas suas críticas à economia mundial, à guerra na Ucrânia, à sua relação com a China, por condenar o colapso ecológico, inclusive por suas viagens, que deram preferência aos países pobres e em guerra, aos países onde os católicos são minoria como na Ásia (em breve viajará para o Congo e o Sudão do Sul), sempre fiel ao seu programa de ir às periferias. Por causa disso e, sobretudo, pelas críticas de dentro da Igreja, saiu um artigo indignado do conhecido teólogo brasileiro Leonardo Boff em defesa do Papa Francisco e contra seus oponentes que aproveitam todas as oportunidades para desacreditá-lo.


Boff escreve: "Desde o início de seu pontificado, Francisco tem sido furiosamente atacado por cristãos tradicionalistas e políticos supremacistas, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Eles até fizeram um complô financiado com milhões de dólares para depô-lo. Foi tudo em vão, porque ele continua o seu caminho animado pelo espírito das Bem-aventuranças Evangélicas e do humilde Francisco de Assis, cujo nome ele traz. Há razões políticas e econômicas, mas para os católicos é, sobretudo, uma outra visão da Igreja, mais fiel ao Evangelho e ao espírito do Concílio. Levanto a voz em defesa de um Papa que emerge da periferia do mundo, do grande Sul. O Papa sente-se um intérprete da maioria dos católicos que já não residem na Europa (com apenas 21%), mas na América Latina, África e Ásia.


Os conservadores europeus, mesmo a nível da Igreja, alimentam um soberano desdém pelo Sul do mundo e, portanto, hostilizam o Papa que vem de lá. Francisco surge de uma Igreja que esteve ao lado dos oprimidos e perseguidos por lutar por sua libertação; de uma Igreja que tem os seus profetas, confessores, teólogas e teólogos, santos e mártires; de uma Igreja composta por comunidades eclesiais de base e outros grupos populares onde se vive a comunhão, uma comunhão de iguais; com pastores com cheiro de ovelha inserido no meio do povo.


Fomos cortados e até condenados pela liderança do Vaticano, até que o Papa Francisco chegou com uma nova cultura eclesial bem expressada pela opção preferencial dos pobres e pelos diferentes aspectos da teologia da libertação. Com suas palavras e atitudes, ele tem promovido uma série de reformas, começando com o papado e a cúria vaticana. Ele não se apresenta mais como o Pontífice clássico vestido com enfeites de origem pagã, tirados dos imperadores romanos. Ele usa uma cruz de metal simples, sem joias incrustradas, e vive em uma simples casa de hóspedes dedicada a Santa Marta, no Vaticano. Assim como todo mundo, ele faz fila para se servir de comida e come com os outros. Ele renunciou a todos os títulos honorários; é o bispo de Roma e, como Papa, "o servo dos servos de Deus". Assina simplesmente: Francisco. Ao contrário dos Papas anteriores, que viveram rodeados de uma aura quase sobrenatural, este Papa pratica uma simplicidade desconcertante e uma proximidade incrível com as pessoas, especialmente os pobres e sofredores.


Jesus não havia feito nenhum acordo nem com Herodes nem com Pilatos; Seu poder se manifestava em bondade e diálogo com todos. Francisco tem o hábito de telefonar, beijar as pessoas e cumprimentar cada uma, dar entrevistas, expressar opiniões pessoais como qualquer outra pessoa. Seus adversários veem tudo isso como uma maneira de fazer o Papa e a Igreja perderem prestígio, mas, de acordo com a maioria, sua franqueza e humildade alcançaram o coração de muito mais pessoas, mesmo fora da Igreja. O Papa é partidário de uma Igreja que acolhe a todos, ainda que pecadores, sem perguntar seu credo ou situação moral, sim a doutrina ou o moralismo na mão.

Prega a misericórdia de Deus como núcleo central do Evangelho. O Papa não quer uma Igreja-castelo fechada em si mesma, mas uma Igreja "hospital de campanha", sempre pronta para sair do burro, sujar os pés e as mãos como fez o Bom Samaritano, para curar e levantar os feridos à beira da estrada. Francisco não quer presidir a Igreja com Direito Canônico, mas com diálogo e escuta recíproca. Nunca houve tanta liberdade na Igreja como hoje.


O grande problema histórico da Igreja Católica é que, desde os imperadores cristãos Constantino e Teodósio, a Igreja foi transformada em um poder sagrado ao lado do político, chegando a um exercício centralizado de poder, autoritário e até despótico sob uma monarquia absoluta. De sucessor de Pedro, o Papa tornou-se vigário de Cristo, o próprio Cristo na terra, o representante de Deus. Esta tem sido uma das grandes causas das disputas com as outras Igrejas cristãs e da necessária "conversão do Papado" que o Papa Francisco está agora tentando concretizar com o tema da sinodalidade.

Todos os papas tiveram adversários, mas Francisco tem inimigos públicos determinados a tudo, que querem que ele saia ou renuncie. Os rigoristas dos "princípios inegociáveis" são os cátaros de hoje (pessoas heréticas dos séculos XI e XII).


O silêncio do povo de Deus ou da maioria silenciosa dos católicos não ocorre porque eles comungam com eles; ela está bastante escandalizada e desorientada com a forma como o Papa é tratado e a divisão é criada na Igreja. As pessoas se encantam com o Papa, e os poderosos o temem. Nunca um papa foi atacado dessa maneira por padres, bispos e até cardeais que fizeram um juramento de fidelidade ao papa. O Papa, caminhando sozinho na chuva na Praça de São Pedro durante a pandemia, entrará para a história como uma imagem indelével de sua missão como pastor. Aqueles que condenam ou distorcem ferozmente as atitudes muito humanas de Francisco, são aqueles que, em nome de um cristianismo estéril como um fóssil do passado, o reduziram a um recipiente de águas mortas.