5 a 7 janeiro de 2021
Orientador: Pe. Ederson Queiroz
O retiro anual da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas nesse ano de 2021 foi realizado nos dias 5 a 7 de janeiro de 2021, na modalidade on-line. Os irmãos e irmãs participaram individualmente ou em pequenos grupos nas regiões de nosso imenso Brasil. Teve a participação de oitenta e duas pessoas. O retiro iniciou-se às 8h no dia 5 de janeiro de 2021, terça-feira, com a oração conduzida pelo Padre Nelito Dornelas.
O orientador do retiro foi o Padre Ederson Queiroz. Mas a coordenação do retiro on-line ficou sob a responsabilidade do Padre Nelito Dornelas e de Magda Melo, conforme delegação do Conselho Nacional da Fraternidade. Eles cumpriram tudo com disponibilidade e generosidade. Acolheram com alegria os participantes e coordenaram o retiro com dedicação.
O responsável nacional pela Fraternidade, Padre Carlos Roberto e o tesoureiro da Fraternidade, Padre Willians e vários outros irmãos estavam participando do Mês de Nazaré, neste ano de 2021, no mosteiro da Anunciação em Goiás. No momento inicial eles estavam conectados com todos, e Padre Carlos Roberto deu as boas-vindas aos participantes do retiro. Na sequência, o tesoureiro, Pe. Willians, deu as orientações sobre o pagamento do retiro, a assinatura do Boletim da Fraternidade e a anuidade dos irmãos.
No Dia 5 de janeiro, às 08h15, o orientador Padre Ederson fez uma apresentação de como conduziria o retiro. Já motivando a todos para se colocarem numa atitude de disposição para encontrar-se com Deus e rezar, apesar de estarmos online.
Aconteceu no dia 5 de janeiro às 8h, logo após a oração conduzida por Magda e Nelito. O pregador, leu o livro de Genesis (Gn 3,8-15), que dizia: Deus sai à brisa da tarde para passear no jardim. Que bela imagem! Aqui, não é o Deus do trono e sim o Deus do jardim. Jardim é lugar do belo, do lúdico, do prazeroso. Lugar do encontro, da comunhão e do diálogo. Passear é estar aberto ao encontro, dispor do tempo com gratuidade para o inesperado. No passeio, à brisa da tarde, Deus não encontra quem ele criou para o encontro. Essa imagem nos revela a pobreza de Deus. Então, ele faz uma pergunta: Onde você está? Não é a pergunta do fiscal, do policial, mas sim daquele que ama e deseja o encontro.
Onde você está? Que pergunta intrigante! Onde estou comigo mesmo, com minha humanidade, meu corpo, minha saúde, minhas possibilidades, meus limites. Onde estou com minha afetividade, capacidade de amar e deixar-se amar? Onde estou com minha vida de seguidor (a) de Jesus? O que me encanta n’Ele? Como cultivo isso? Como estou com minha vocação? Como a cultivo, a alimento ou cuido dela?
Adão responde que ouviu os passos de Deus e sentiu medo. “Passos” refere-se à proximidade. Foi a proximidade dos passos de Deus próximo que despertou medo em Adão. Quais os medos que tenho de Deus? Da proximidade d’Ele? Adão justifica o medo por causa de sua nudez. Estar nu é estar diante de si mesmo, de sua própria nudez. Nudez é desvestir-se do que você não é. Que medos temos daquilo que somos? O que buscamos para cobrir nossa nudez, para disfarçar o que somos e maquiar nossa existência?
O diálogo então é dirigido a Eva, que foi culpada pela nudez de Adão. A quem culpamos pelo que não somos, ou pelo que fazemos? No início, o texto apresenta um jardim, o passeio, a brisa e a pergunta. No versículo 15 há uma palavra desafiadora: inimizade! A inimizade aconteceu pela não resposta de onde Adão estava. Da comunhão à inimizade. Que realidades se tornaram inimigas da minha existência? História pessoal? Família? Relações na Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas? Voltemos à pergunta: onde estou no hoje de minha vida de nazareno? (De quem faz de Nazaré um projeto de vida!).
Após a meditação online, os participantes foram orientados pelos responsáveis da condução do retiro, e em seguida, permaneceram um tempo de deserto, meditando lá onde estavam. E às 11h, como momento de unidade, todos fariam uma hora de adoração lá onde estavam.
Aconteceu no dia 5 de janeiro às 15h. O orientador do retiro, Pe. Ederson, iniciou dizendo que Nazaré se torna um grande desafio quando se fala de Nazaré como carisma e como espiritualidade a ser seguida. Nazaré, como modo de ser, é profundamente desafiador porque nós queremos Jerusalém, nós queremos o palco, o elogio, o holofote. Tanto que, quando encontramos alguém, logo se pergunta que obra já publicou, o que está fazendo etc.
Essa espiritualidade, esse modo de viver Nazaré é profundamente desafiador. A espiritualidade, segundo Gustavo Gutierrez, no livro “Beber no próprio poço”, diz que a espiritualidade é uma força que está dentro de nós e é essa força que nos marca. É uma força interior de onde emergem todas as outras forças. E essa força que chamamos de espiritualidade vai se revelando no nosso modo de ser, no nosso modo de fazer. Portanto, a espiritualidade de Nazaré emerge da encarnação do Verbo encarnado. Charles de Foucauld e Francisco de Assis tiveram uma profunda paixão por esse Verbo encarnado.
São Francisco de Assis chorava ao ler a narrativa do Evangelho de Lucas sobre o nascimento de Jesus. Ele chorava a tal ponto que um dia quis contemplar. Ele precisava ver, pois só ouvir não bastava. Foi quando, em Greccio, 800 anos atrás, ele quis ver a encarnação. Tomás de Celano, que foi seu primeiro biógrafo, escreve que Francisco beijava o menino Jesus em sua contemplação, de uma maneira intensa, como se tivesse fome da pequenez, da humildade e da pobreza, mas não do poder da criança Jesus, que era Deus. O Irmão Carlos de Foucauld também sentiu fome dessa encarnação, e ele quis viver esse processo do enamoramento, trazendo-o para o seu coração e, por isso, toda dinâmica de sua vida, todos os lugares por onde esteve e onde se inseriu, foram sempre uma resposta a esse processo da encarnação do Verbo, e na encarnação do Verbo encontraremos a figura bonita de Maria.
Em nossa meditação e oração de hoje, vamos contemplar Jesus, a partir do Evangelho de Lucas (Lc 1,26-38). Ali nós vamos encontrar todo esse processo de encarnação a partir do humano, a partir da carne e a partir da mulher. Eu gostaria de dedicar essa meditação às mulheres que estão nos acompanhando. O evangelho diz que no sexto mês o Anjo Gabriel foi enviado a uma virgem da cidade da Galileia, chamada Nazaré, e que o Anjo entrou onde a virgem estava. Esse elemento do primeiro versículo que vamos rezar nos ajuda a compreender que Maria viveu num determinado tempo, espaço e lugar, mas no tempo de Deus. Era o sexto mês da gravidez de Isabel, e este fato era uma marca. Eu gostava daquele título do antigo breviário quando se traduziu do francês, oração do tempo presente. O tempo presente é o tempo da graça. O tempo presente é o tempo da manifestação de Deus. É onde Deus se manifesta com toda Sua luz, beleza, pobreza e riqueza. É um tempo que nós temos, e que se chama tempo presente. O tempo é a única coisa que nós temos e que podemos administrar, fazendo dele o que nós quisermos.
Quando eu estava na CNBB, lembro-me que Dom Luciano não era mais da diretoria, mas sempre passava por ali. Antônio, porteiro da noite, disse que uma vez ele chegou à tarde, e, por isso, lhe pediu: “Dom Luciano, quando o senhor tiver um tempinho eu gostaria de trocar uma palavrinha com o senhor!”. Lá pelas 22h Dom Luciano foi até Antônio, que lhe disse: “Dom Luciano, agora eu não posso pois tem reunião na casa e eu tenho que abrir e fechar portão”. “Está bem Antônio” - respondeu Dom Luciano - Às 23h Dom Luciano voltou para falar com Antônio, porém a Comissão Justiça e Paz ainda estava reunida. Quando Dom Luciano desceu de novo para falar com o Antônio era 02h da manhã. Antônio se assustou e disse: “mas agora é hora do senhor descansar!”, então Dom Luciano lhe respondeu: “Antônio, agora que é bom, porque ninguém vai nos atrapalhar.” – Antônio insistiu: “mas o senhor precisa descansar,” e Dom Luciano respondeu: “se eu não tiver tempo para um filho de Deus, para que serve o meu tempo?”
Maria vive no tempo do sexto mês, mas ela vive também no espaço do lugar onde o Anjo foi enviado, a uma cidade da Galileia chamada Nazaré. E vocês, mais do que eu, sabem que Nazaré era tão sem importância que não consta uma única vez no Antigo Testamento. Nazaré era um lugar sem importância. Ali não havia acontecido nada de espetacular que pudesse ser registrado na Sagrada Escritura. Então no sexto mês, um anjo foi enviado a este lugar totalmente sem importância, para falar com uma virgem chamada Maria. E quem é o anjo? O anjo é um instrumento de Deus. É aquele que Deus usa para chegar ao coração da humanidade a partir do coração de Maria.
Quem é o nosso anjo? Quem são os anjos que passam pela nossa vida? O Anjo foi enviado a uma virgem chamada Maria e eu gostaria que nós nos detivéssemos um pouquinho no conceito de virgindade. Virgindade é, antes de tudo, um estado de silêncio. É um estado de pureza e de inocência e, para conceber o verbo, era preciso o estado de silêncio. E aí nós vamos entender que Nazaré é verdadeiramente o lugar do silêncio. Jesus foi o homem do silêncio, diante da Samaritana ele ficou o tempo todo em silêncio, ouvindo toda a história de vida daquela mulher: cinco maridos, seis maridos, não sei qual seria a nossa reação moral naquela hora, se fosse uma confissão, talvez que chamada de atenção teríamos dado naquela mulher. Nem sei se nós teríamos a coragem de dizer se ela poderia comungar ou não.
Jesus foi o homem do silêncio. Sua mãe foi a mulher do silêncio. Então virgindade é, antes de tudo, esse cultivo do silêncio interior. Onde você está? Às vezes o barulho é tão grande que as pessoas falam as coisas e a gente nem escuta. As pessoas falam, a gente ouve e dá respostas, mas não escutamos o que ela falou, e nem nos damos conta disso. Também acontece conosco, de aqui e ali a gente se dá conta de que alguém nos ouviu, mas não nos escutou. É difícil a arte de escutar. E por que a arte de escutar é difícil? Porque é difícil a arte do Silêncio.
Eu me lembro quando era noviço em Belo Horizonte e nós frequentávamos a fraternidade das irmãzinhas em Roças Novas. Eu ficava impressionado com o silêncio da irmã Joset Marcel. O silêncio como postura, maneira de estar na vida, de estar diante do outro. Virgindade é um estado de pureza, não de puritanismo, mas de pureza interior.
E como é difícil a gente fazer esse processo de decantação da Alma, decantação dos sentimentos. Como é difícil a gente fazer esse processo de decantação do pensamento e de tornar-se puro, pois são os puros que verão a Deus, diz Jesus. Virgem é um estado de Inocência. Eu gosto muito dessa palavra, mas nós perdemos a origem dessa palavra: inocência. Para nós ficou quase que um sinônimo de bobinho. Etimologicamente significa: aquele que não fere, que não machuca, esse é inocente. Então, se queremos ser moldados por Nazaré, nós temos que permitir que o silêncio, a pureza e a inocência instalem-se em nós. Quanta gente perdeu a inocência, tem um olhar que fere, uma palavra que fere, gestos que ferem, e, como nós precisamos recuperar a inocência.
Maria foi por excelência a mulher do silêncio, a mulher do vazio, da vacuidade, e foi por excelência a mulher da receptividade. Três palavras que são profundamente constitutivas do caminhar de Nazaré, esse silenciar-se para permitir o processo do esvaziamento. Onde você está nesse processo de esvaziamento? Como é difícil esvaziar-se de projetos, de desejos, de pensamentos, como é difícil esvaziar-se.
Lembramos o Gênesis, meditado nesta manhã, que é o texto da Solenidade da Imaculada Conceição, é bonito e é esse o paradoxo porque o Evangelho é o da Anunciação, e a leitura diz que Adão não responde onde está. E não responde porque ele não vivia o processo de esvaziamento, do silêncio, ou seja, não havia uma receptividade em Adão. Ele teve medo ao ouvir os passos e correu para culpar a mulher: “essa mulher!” - É a partir deste texto que se fundamenta toda teologia do pecado original. E o que é o pecado original? É o rompimento com a fonte, com as origens, com Deus. Na oração jaculatória: Oh Maria! Concebida sem pecado original, é porque em Maria não houve uma ruptura na fonte. A fonte é Deus. E Maria estava toda aberta a Deus. Jean Yves Lelloup diz que nós, às vezes, estamos muito afastados da fonte, e precisamos descobrir em nós a bem-aventurança original. E o que é a bem-aventurança original? Em Efésios, São Paulo diz que nós somos criados sem mancha, que somos criados por Deus, e que nós somos de Deus. É por causa dessa bem-aventurança original que São João também vai nos dizer que nós somos de Deus, que somos chamados filhos de Deus. E de fato nós o somos.
Essa bem-aventurança original é você perceber que a vida está cheia de possibilidades. Quais são as anunciações de Deus para mim hoje? Quais são as anunciações ou será que Deus ficou mudo e não tem mais nada a anunciar? Não tem mais nada a revelar? Quais são as anunciações de Deus é uma pergunta que devo meditar. Deve me inquietar nesse espaço do “sim”. Do sim à vida, do sim ao outro, do sim à simplicidade, do sim à interação, do sim a Deus. Por isso é preciso a gente trabalhar. Esse processo vai nos potencializar. Mas para isso é preciso passar por um estado de purificação interior, porque nós trazemos em nossa memória afetiva nossos registros que, às vezes, não nos permitem encontrar essa bem-aventurança original.
E quando percorremos o texto da anunciação, vemos que é um convite para o despertar, para vivermos uma fé profundamente prazerosa e confiante, percebemos alegremente que a primeira palavra que Maria ouve de Deus e é a primeira palavra que certamente Deus nos dirigiu, ao nos criar: venha! Viva! Eu te quero! Façamos o homem à nossa imagem e semelhança! Eu não sou filho do acaso, eu sou filho de uma decisão da Trindade. Eu existo por uma decisão da Trindade. Venha a vida, venha do nada ao tudo, venha a existência e esse bem é que é Deus.
Infelizmente perdemos a alegria com facilidade, por motivos banais. Uma notícia, uma doença, a possibilidade de não ter comida hoje já nos tira o sossego. A possibilidade de não ter energia elétrica hoje à noite para que eu possa navegar na internet, tira-me a alegria. Quando surge um problema de saúde e não tem mais possibilidade de cura, perdemos a alegria de uma vida toda. A alegria é muito frágil.
O Papa Francisco fala que nós temos que cuidar da alegria pela fragilidade dela. É interessante que só o Papa Paulo VI escreveu sobre alegria, que a alegria deve ser a nossa marca, não uma alegria qualquer de sair rindo, mas uma alegria genuína. O senhor está contigo não é por qualquer coisa. Alegria porque o Senhor está contigo e ele é uma força criadora, é uma força dinamizadora, é uma alegria interior, é uma alegria que nasce da experiência de existir em Deus. Não tenhas medo, não temas. Parece que o medo é uma coisa que anda alojada em nós. Temos muito medo. Temos medo de morrer; temos medo de adoecer; nós temos medo de perder o emprego; temos medo do casamento acabar. Nós temos medo do bispo não me querer; nós temos medo do superior, do cachorro, do ladrão. Nós somos cheios de medo e até essa cultura da indústria armamentista cultura o medo, pois ela precisa dele para vender suas armas. Não tenhas medo.
Mas de qual medo se refere o Evangelho? Não tenha medo de Deus, não tenha medo do amor, não tenha medo da bondade, não tenha medo da humildade, não tenha medo de Nazaré, não tenha medo da vida oculta e não tenha medo de ser sem importância, não tenha medo de mergulhar em Nazaré, não tenha medo de viver a proximidade com os pobres e não tenha medo de se arriscar. Somente quando vencermos o medo, encontraremos graça diante de Deus! Essa palavra não é só para Maria. Nós encontramos graça diante de Deus, por isso nós existimos, por isso nós estamos aqui, por isso nos consagramos, por isso estamos nessa busca de Nazaré, por isso estamos nesse retiro, em tempo de pandemia.
Deus encontrou graça em cada um de nós. E isto é um caminho de mão dupla meu irmão e minha irmã. Deus encontrou graça em mim, e eu, encontro graça em Deus? Eu só existo porque Deus encontrou graça em mim. Descobrir isso é ser reverente, é ser pobre, é descobrir aquilo que diz Paulo: eu carrego um tesouro em vaso de argila. Com toda essa dimensão da vida escondida, do cotidiano vivido com intensidade diante de Deus, a espiritualidade de Nazaré traz algumas interpelações. A primeira é a necessidade de formarmos uma fraternidade que fomente a ternura maternal. A ternura maternal é o calor humano, é o cuidado a partir do mais profundo. A ternura maternal é abrir os braços e acolher, é ser mãe, é gerar de novo outro ser.
A Fraternidade Jesus Cáritas deve ser capaz de proclamar a alegria da grandeza de Deus. Maria proclamou a grandeza de Deus, e a grandeza de Deus está em que Ele se fez menor. Essa grandeza de Deus, que olhou para a humildade da sua serva, está no fato d’Ele optar por ser pequeno, tomar o partido dos pequenos e viver a dinâmica do pequeno.
O presépio nos fala dessa grandeza de Deus. Um menino é algo desconcertante. A grandeza de Deus é desconcertante, é um menino. O menino nos foi dado e Ele não tem força alguma, não tem poder nenhum. Qual poder tem um menino? Qual a força de um menino? Eu já descobri que o menino só tem uma força apenas. Diante dele nós nos inclinamos. A gente vira menino, a gente até começa a parar por um tempo, a gente até é capaz de se ajoelhar e começar a andar e a brincar de carrinho com um menino e de boneca com uma menina. São Francisco, quando falava com o menino do presépio com a linguagem de menino, está nos dizendo que a grandeza de Deus é fascinante.
A terceira interpelação é uma Fraternidade que saiba cultivar a mística do sim, o sim à vida, o sim ao outro, o sim ao amor, o sim a comunhão, o sim aos pobres, ou seja, aquele que ninguém quer, que ninguém olha e que ninguém ama. Uma espiritualidade que seja capaz de cultivar a dinâmica do Sim.
Após a segunda meditação do dia, os participantes foram orientados a vivenciar um tempo de deserto e, às 18h todos participariam da celebração Eucarística lá onde estão. Para os leigos e leigas, e outros que não puderem celebrar, o Padre Edivaldo celebrará a eucaristia e transmitira online, para que todos possam acompanhar.
No dia 6 de janeiro às 8h, Pe. Ederson, disse que acha simpático esse texto de Gênesis. Passeio no jardim com a brisa da tarde, sentindo esse Deus da brisa, a pergunta: onde você está? É certamente uma pergunta que sempre volta, e só é capaz de fazer essa pergunta, quem ama profundamente o outro e quer que ele esteja mergulhado em si mesmo, em seu contexto, na sua realidade e na sua própria existência.
Como é difícil mergulharmos em nossa própria existência? Aqui nós estamos fora, passeando, e delicadamente perguntamos onde você está? É o desejo do encontro, é o desejo da comunhão, para que não venha acontecer conosco aquilo que aparece no último versículo que rezamos: inimizade. Em todos os níveis, a pior inimizade é a inimizade consigo mesmo, inimizade com sua própria existência, com sua vocação. E a pior inimizade é inimizade com seu próprio dom, seu carisma. A pior inimizade é essa, que às vezes deixamos instalar dentro de nós, e nos tornamos pessoas fúteis, vazias, amarguradas, com rancor, mágoas, e às vezes criamos realidades de inimizades.
Então, temos que buscar subterfúgios tais como o poder, a glória, a riqueza e o status. Subir custe o que custar, pisando em quem for. E o Papa, de certa forma, tem nos falado sobre o clericalismo como uma forma de subida, de projeção, de distanciamento do evangelho.
Ontem nós vimos que Adão, no primeiro momento, não responde onde ele está. E à tarde vimos, no texto da Anunciação, aquela palavra bonita de Lucas em que o Anjo entrou onde Maria estava. Aquele diálogo tornou-se profundamente revelador para nós. Nos sentimos interpelados por aquele diálogo do Anjo com Maria. Ele se torna como que o diálogo de Deus com a humanidade. Consequência desse diálogo da anunciação é que Nazaré se torna o lugar da Encarnação. Seria muito pobre pensar apenas Nazaré como um lugarzinho da Galileia. Nazaré é a nossa pátria espiritual porque traz um carisma, uma espiritualidade e uma vocação. Nazaré é a vocação da Igreja, porque foi a vocação de Jesus. E todas as vezes que nos distanciamos desta mística de Nazaré, deste enamorar-se com Nazaré, então caminhamos para Jerusalém, ou seja, para o lugar do grandioso, do esplendor e das lutas de poder. Em Nazaré, compreendemos que a maior pobreza de Deus foi tornar-se humano.
Esta é uma verdade que devemos guardar com muito carinho no coração. Em Filipenses 2, vemos que a maior pobreza de Deus foi tornar-se humano. O que eu estou fazendo com esse humano que habita em mim? Porque o humano pode ser cheio de encruzilhadas, ele pode ser cheio de entraves, mas também é cheio de possibilidades. Portanto Nazaré seria a possibilidade de que cada um pudesse descobrir a beleza deste humano abraçado, assumido, entranhado de Deus. Essa é a pobreza de Deus. Ele nos assumiu nessa nossa pobreza, e nos assumindo, ele nos potencializa para o amor, para a capacidade de entregar-se ao outro. Ele nos potencializa para que a nossa vida se torne uma manifestação desta humanidade do próprio Deus. Por isso que fizemos aquele caminho, do Jardim do Éden para Nazaré, nessa busca de redescobrir essa realidade existencial em nós.
Hoje, nós vamos dar um passo até o Jordão, com Jesus. Vamos ao Jordão, essa realidade bonita do batismo que é esse mergulho profundo no amor da Trindade. Não só vamos rezar o batismo de Jesus como uma expressão de Nazaré, mas também como uma expressão do segmento de Jesus de Nazaré.
Jesus estava na casa dos seus trinta anos quando ele deixou Nazaré para ir se batizar no Rio Jordão. Antes de irmos ao Jordão seguindo o evangelho, nós precisamos dizer que o primeiro grande mergulho foi no útero de Maria.
Já o segundo mergulho foi em Nazaré. Jesus mergulhou na realidade vivida por sua gente, pobre, espoliada e esquecida nesta cidadezinha tão sem importância, que tinha por volta de 400 a 500 habitantes e não foi citada nenhuma vez no antigo testamento.
Jesus mergulhou naquilo que aparentemente não tinha nada de prazeroso ou de belo, que foi a vida dos nazarenos. Podemos fazer uma leitura de quanto Nazaré foi importante na perspectiva da relação de Jesus com José e Maria. Agora fomos brindados com essa carta do papa sobre São José, mas, quando a gente lê o evangelho na perspectiva de descobrir São José é algo encantador. Aquilo que Jesus fala do Pai tem uma raiz em José, porque sua primeira experiência de pai, foi com José. Então a gente percebe que São José não interferiu na experiência de Jesus com o Deus Pai, mas abriu a experiência de Jesus com o Pai, e isso é muito bonito.
Sabemos hoje, pela psicologia, que muitas pessoas têm dificuldades com Deus pai, porque teve dificuldades com seu pai biológico e criou uma imagem ruim de “pai”. Não sente a presença do Pai, porque sofreu abandono do pai biológico, não sente as carícias de Deus Pai porque seu pai era muito grosseiro, e não sente a misericórdia de Deus Pai porque seu pai biológico era muito carrasco.
Eu tenho um amigo que não consegue chamar Deus de Pai. Ele prefere chamá-lo de amigo, porque todas as vezes que chama a Deus de Pai, vem a imagem de seu pai que sempre lhe dizia “você é um merda!”
Então, se essa pessoa não faz um processo de cura em relação a esta realidade com seu pai biológico, ela não vai conseguir abrir-se com Deus. Nós sabemos disso, pois nas diversas pastorais encontramos muitas pessoas que vem nos falar: “eu sou mais filho de Jesus do que do Pai”. “Eu sou o mais rico do Espírito Santo do que do Pai”. “Eu não tenho muita intimidade com o Pai”. “Eu acho o Pai distante, autoritário”. E quando você vai ver, na verdade, essas pessoas têm uma relação truncada com o pai biológico.
Nós padres, se não resolvemos a questão do pai na nossa vida, vamos criar sempre pessoas bajuladoras para também nos bajular, mas nunca geraremos pessoas adultas na fé. O pai é aquele que gera, que cuida e quando chega na fase do tornar-se adulto ele deixa o filho livre para seguir sua vida, mas, o pai continua apontando o caminho. Ele se torna referência para o filho. Por isso, quando olhamos os tantos modelos eclesiológicos de padres e bispos que mantém todo mundo debaixo das asas, concluímos que eles têm necessidade de ser bajulados. Eles não confiam em si mesmo. Estão sempre precisando de um presentinho, de um aplauso depois da missa, de um agradozinho, porque sua figura interior de pai é distorcida e não gera filhos, mas sim dependentes.
Podemos comparar os dependentes químicos com muita gente que, na verdade, são dependentes da fé. Temos os dependentes de padres. Temos os dependentes afetivos para ser gente, e isso hoje é estudado. O mesmo acontece com as mulheres, se elas não resolvem a questão da figura do pai, vai lhes faltar a perspectiva paterna. Então podemos perceber como foi importante a figura de José, e como ele marcou a personalidade de Jesus.
Jesus é esse homem firme, de palavra. Jesus é um homem de caráter. Seu sim, é sim, e seu não, é não. Jesus é um homem que aponta caminhos, por isso os discípulos e a multidão foram até Ele: Ele apontava novos horizontes. Mas não criou um clube de pessoas dependentes d’Ele, para ficarem na barra do seu manto. Ele deixava todos em liberdade, para que cada um trilhasse seu próprio caminho. Jesus tinha palavra e gestos de autoridade, mostrava firmeza e segurança para as pessoas. Hoje a psicologia explica que todas as vezes que eu, Ederson, tenho que tomar uma decisão, inconscientemente eu busco meu pai. Então se essa figura não existiu, ou se não teve alguém que a substituísse, eu nunca conseguirei tomar uma decisão com facilidade. Não raramente, vou delegar o outro a tomada decisão, como se eu mesmo não soubesse qual direção seguir.
Olha como é profundo e é importante a gente perceber o que há atrás da autoridade de Jesus. Ele teve uma experiência primeira positiva com a autoridade e o amor de José. Ouvimos que o povo simples acorria até Jesus, porque diziam que ele falava com autoridade e discernimento. Diziam também que, havia diferença entre a autoridade de Jesus e a autoridade dos doutores da lei, dos sacerdotes, dos anciãos. O povo percebia que Jesus tinha autoridade e não era um bobo. Era bom ouvi-lo, pois Ele ajudava as pessoas a tomarem decisões importantes, a amarem-se mais, a terem autoestima e esperança. Ele ajudava as pessoas a crescerem na vida. Elas saiam potencializadas do encontro com Jesus, como aquele leproso, que Jesus proíbe de dizer alguma coisa, mas ele estava tão convicto do que lhe aconteceu, que saiu contando para todo mundo, ainda que houvesse uma proibição.
É preciso a gente colocar o Pai no seu devido lugar e isso significa em primeiro lugar. Não endeusar o nosso pai, pois ele é humano e teve falhas e limites como nós. Talvez até tenha tido alguma amante ou algum filho fora do casamento. Talvez não tenha sido tão justo nas relações, mas, eu também não posso demonizar o meu pai, mas devo dar a justa medida.
A partir do bom relacionamento de Jesus com José, podemos perceber o que é necessário para que nossa relação com Deus possa crescer. Que a paternidade de Deus em nós possa multiplicar de tal modo que possamos também ser paz como Charles de Foucauld e Francisco de Assis, chamados de pai porque são pessoas que geram que apontam o caminho.
Charles tem uma autoridade que nasce de dentro, e, tem uma palavra que ilumina por isso é chamado irmão mais velho, porque o temos na qualidade e na condição de pai. Mas também Nazaré foi muito importante para Jesus na sua relação com o feminino, com Maria. Em Maria, Jesus aprendeu a dimensão do feminino de Deus. A primeira visibilização do feminino de Deus para Jesus foi a sua mãe, porque a sua docilidade e ternura sempre fazia ver algo de Deus.
A ternura nos fala de Deus. A ternura tem algo de Deus. A ternura é capaz de nos colocar na experiência de Deus. Quem não se dobra diante de um gesto de ternura? quem não para diante de um gesto de ternura? quem não se sente interpelado diante de um gesto de ternura? Toda essa dimensão da ternura, do cuidado, da sutileza de ver por detrás das palavras, de ver a vida na sua realidade mais profunda, mais cruel de viver a vida nas suas entranhas.
Nazaré foi muito importante para Jesus em sua relação com o feminino, com Maria. Em Maria, Jesus aprendeu a dimensão do feminino de Deus. Jesus aprendeu com Maria, ali em Nazaré, onde muitas vezes com Maria ele visitou muitas casas indo ao encontro de muitas famílias. Ele foi em muitos partos e certamente viu muitas criancinhas que tinham acabado de nascer. Com Maria ele viu essa mulher enxugando lágrimas de uma outra que perdeu o esposo, que perdeu um filho. Com Maria ele viu essa mulher fazendo comida para alguém que precisava, ele viu essa mulher lavando uma roupa para alguém que estava necessitado.
Assim, Maria traz para Jesus toda a dimensão da ternura, do cuidado e toda a dimensão do feminino, e, é muito bonito a gente perceber em Jesus uma integração de masculino e feminino, e, nós todos somos chamados a esse processo como aconteceu com Clara e Francisco, João da Cruz e Teresa, e como acontece com irmãzinha Madalena que descobre a espiritualidade de Charles.
Mas aí eu vou de encontro no dia que essa mulher bebe nessa fonte masculina de Charles. Jesus nos traz isso. Quando a gente ouve aquelas palavras certeiras de Jesus, aquela decisão correta, aquela autoridade de ir ao encontro dos outros, isso nós sabemos que vem de José. E quando a gente percebe em Jesus essa disponibilidade para servir, dispor-se novamente, colocar se novamente em Jesus, com disponibilidade, ou seja, nele havia uma abertura, ele se dispunha, ele se colocava novamente para poder servir o outro. Isso sabemos que vem da oficina em Nazaré, isso foi naquilo que ele viu em José, na disponibilidade para servir as pessoas. Quando Jesus para o enterro, uma multidão levando o jovem para a sepultura, porque ele viu a lágrima de uma mãe, essa lágrima de uma mãe lhe deu autoridade de parar o enterro. Isso sabemos que aprendeu com Maria. Jesus viu inúmeras vezes essa mulher secando em lágrimas. Ele viu pessoas que foram na sua casa para chorar, e não foi indiferente a lágrima dessa mãe.
No evangelho, quando os discípulos pediram a Jesus para mandar o povo embora, porque estava ficando noite, eles estavam no meio do mato e não tinham dinheiro para comprar comida para tanta gente, esse “manda embora” é masculino, pois foi uma decisão, com clareza e objetividade diante dos fatos: multidão, o fim do dia e o não ter alimento suficiente para alimentar a multidão. Diante da proposta masculina, dizer a eles que voltem para suas casas, o feminino reage: eu não posso fazer isso, não posso, eles vão desmaiar pelo caminho, então surge outra decisão que vem da “ternura”: o quê vocês tem aí para comer? Dá-lhes vós mesmos de comer. Dar comida é cuidar, e é algo de mãe, de mulher. É feminino toda essa delicadeza de Jesus de Nazaré. N’Ele, há uma plena integração entre masculino e feminino, por causa de Nazaré. Lá em casa havia esta integração entre José e Maria, e trinta anos depois, isso vai ser uma explosão na missão de Jesus. Uma autoridade nova no falar, no agir, na delicadeza do trabalho e na gentileza do relacionar-se com os outros. Nós precisamos recuperar isso nem nossa vida.
João entrou em crise por ficar sozinho no deserto buscando ouvir a Deus e chegou à conclusão que Deus falava muito mais lá na praça do que lá no deserto. É romance. Então Jesus, agora adulto, passa por um processo de discernimento e decisão. Chegam até ele muitas notícias do batismo de João, e que muitas pessoas iam a João, eram batizados, e voltavam ressignificados, com a capacidade de ressignificar sua vida a partir de uma experiência com Deus.
Quem era essa multidão que busca João no Jordão? Era a multidão que não podia frequentar o templo, porque estava sempre em dívidas com o templo. A mulher ficava menstruada, estava em pecado e tinha que oferecer um sacrifício. O homem não sabia que a mulher estava menstruada, sentou-se na cadeira que ela tinha sentado, ficou em pecado, e tinha que oferecer um sacrifício. Alguém da família estava doente e precisa alimentar-se. Quem ajudar o doente a tomar o alimento vai tocar nele para ajudá-lo a sentar-se ou apoiar-se para comer, e fica em pecado porque o tocou, e tem que oferecer um sacrifício. O doente foi a óbito e morreu, portanto, tem que preparar o corpo para ser sepultado. Quem o preparou ficou em pecado e tem que oferecer um sacrifício. Como os pobres poderiam viver todos esses 613 mandamentos criados pelos fariseus?
Além de estarem sempre em dívidas com Deus, tinha toda aquela experiência de um Deus vingativo, que punia, que excluía, e a gente sabe que o templo vivia destes sacrifícios. Como levar um boi de Nazaré para Jerusalém? Não precisa, lá tem para vender. Mas as moedas eram diferentes. Não precisa, lá tem a banca do cambista. Vai levar uma gaiolinha com duas pombinhas, muitos dias de viagem a pomba morre. Não precisa Dona Maria, lá tem para comprar, lá no templo troca moeda, compra.
Essa religião não permitia ao povo pobre, simples, espoliado de fazer uma experiência com o Deus da compaixão, o Deus que é verdadeiramente justo e misericordioso. É esse povo busca João. E Jesus está antenado a tudo isso. Ele vê e sente que essa gente desqualificada, pobre, abandonada, sem nada, encontra em João uma acolhida tal, e por causa desta acolhida, agora eles querem e vão viver de uma maneira diferente.
Então Jesus quer ir ao Jordão, e com certeza Maria está por detrás desse discernimento, aconselhando-o. Ele não fez isso sozinho, e hoje os estudiosos estão dizendo que Jesus vai ao Jordão para ser discípulo de João. Olha que coisa bonita, a gente entendeu o processo de Jesus. Ele vai para ser discípulo de João e o que ele vai encontrando nesse caminho? Pessoas ressignificadas. O que eu tenho que fazer para entrar no reino, para viver em Deus? Quem tem comida partilhe com quem não tem. Quem tem duas túnicas, dê uma a quem não tem. Olha a sensibilidade de João
Se eu não sou capaz de ser tocado pela fome de uma pessoa, pela dor, pela miséria, se eu não sou capaz de ser tocado pela nudez, pelo frio de uma pessoa, como poderei ser tocado pelas coisas de Deus? Que abertura há em mim para as coisas de Deus, se eu não me deixo tocar por aquilo que eu estou vendo? Se não me deixo tocar por esse pobre que bate na minha porta. Se a dor de uma mãe que perde um filho não mexe com o meu coração, como poderei ser tocado pelas coisas de Deus?
Perguntam a João o que nós devemos fazer quanto aos cobradores de impostos. Não cobrem nada além do que foi estabelecido, ou seja, sejam honestos. Se você não é honesto com as coisas desse mundo, o imposto, como é que você vai ser honesto com as coisas de Deus? Como você vai viver as coisas de Deus? Como vai administrar o dom de Deus, a vocação que Deus te deu? Como vai administrar as possibilidades que Deus te deu? Se você é desonesto com as coisas humanas e passa o outro para trás, se você é capaz de ludibriar, aumentando o valor do imposto para “passar a mão” no que é do outro e colocar no seu bolso. A percepção de João diante das injustiças é afinadíssima. E nós, o que devemos fazer em relação aos soldados? Duas indicações de João para o soldado, primeiro, não é porque vocês estão investidos de uma autoridade que vocês serão violentos. Vocês não podem ser violentos porque estão investidos de uma autoridade. Quantas vezes nós usamos da nossa autoridade com violência lá na paróquia, lá no trabalho, às vezes com os filhos, com uma irmã ou com um irmão.
Nós padres temos uma dificuldade com essa dimensão da autoridade. Quantas vezes dissemos: “quem manda aqui sou eu”. “Você sabe com quem você está falando?”. “Aqui quem decide sou eu”. E quantas vezes na paróquia muda de padre, e o padre que chega tenta mudar todo mundo, manda muita gente embora, para poder contratar tudo de novo, só por vaidade. Para que isso? E aí a segunda observação: fiquem contentes com o salário de vocês. Outro problema que nós temos hoje na vida é a questão do salário. E é grande a lista de coisas nós somos capazes de fazer para ludibriar o povo para aumentar os nossos ganhos.
Então tudo isso é muito sério, e está tocando Jesus, provocando uma crise, uma busca profunda em seu interior. Jesus vai até o Jordão, e lá no Jordão, como no próprio texto do Evangelho nos diz, aconteceu um encontro bonito e um diálogo entre Jesus e João. Jesus busca o batismo de João, Ele quer ser mergulhado naquela mesma experiência que as pessoas, que eram mergulhadas por João, estavam fazendo. Mas João tem uma certa dificuldade para atender esse pedido de Jesus e lhe diz: “Sou eu que devo ser batizado por você!”
Vemos que em tudo Jesus se fez humano. Ele mergulhou na realidade dos humanos. Ai no batismo de Jesus há três elementos tão significativos que o evangelho no traz. Essa palavra é tão bonita, batismo, quer dizer mergulhar. E aí no momento do batismo de Jesus o céu se abre, que coisa linda. Em Jesus se manifesta o Deus do céu aberto, o céu se abriu.
Nosso Deus é comunicação, nosso Deus é abertura, nosso Deus é comunhão, ele está nessa contínua abertura do Deus do céu aberto. A nossa espiritualidade do céu aberto deve ser muito bonita, é uma espiritualidade das possibilidades, é a espiritualidade do diálogo, da intercomunicação e às vezes até nós nos parecemos mais com o céu fechado do que um céu aberto. Nós deixamos de ser um céu aberto que acolhe, sendo isto tão significativo que em nenhum outro momento você vai encontrar nas escrituras dizendo que o céu fechou. Em Jesus, o Pai se rasgou todo para nós, o Pai se comunicou, o céu está aberto. Anselmo Green, esse grande monge beneditino, naquele livro “O Céu começa em você” ensina que cada um deve descobrir esse céu que há nele, porque às vezes fazemos da nossa própria vida um inferno, e não só a nossa, mas fazemos a vida dos outros um inferno também. Pelo batismo há um céu em nós.
E o segundo sinal é o espírito em forma de pomba. Pomba que simboliza simplicidade. As coisas de Deus são simples. Nós é que as complicamos. Quando Noé solta a pomba, ela vai e volta, ele compreendeu que as águas estavam altas. Ele solta novamente, ela vai e volta com o raminho, ele compreende as águas estavam baixando. Solta novamente, ela vai e não volta, ele compreende que as águas baixaram. A pomba é o símbolo do serviço.
A pomba é o símbolo do servo sofredor em Isaías 52. Irmãozinho Charles gostava tanto desse texto do servo sofredor e conseguia perceber esse texto nitidamente na vida de Jesus. O servo que acolhe, que abraça o sofrimento da humanidade toda. Abraçar e carregar o sofrimento do outro só quem se faz servo, porque é algo quase sub-humano. Então essa pomba em forma de espírito é simples. O espírito é servidor, o espírito é aquele que carrega em Jesus os sofrimentos, as dores de toda a humanidade. E no batismo, do céu se fez ouvir a voz: “este é o meu filho amado.” Essa voz conecta Jesus numa outra realidade. A missão de João termina e não é mais o seguimento de João. Agora é hora de seguir a voz que diz “este é o meu filho amado.”
Tudo o que Jesus fazia era a voz do filho amado, ele trazia essa voz do filho amado. Então essa voz vai conectar Jesus ao Pai de uma forma tão intensa que ele vai precisar do deserto para deixar essa voz entrar, escutar com mais profundidade. Agora já não é mais seguir João, mas é seguir a voz, é ser a voz e, nessa contemplação de hoje do batismo de Jesus, o convite é para que contemplemos o nosso batismo.
Contemple o seu batismo, volte-se para essa realidade bonita. Nós fomos um dia mergulhados no Pai, no Filho, na Trindade. Ide, batizai em nome do Pai, do Filho e mergulhai as pessoas no amor da Trindade, não é só ficar no ritualismo frenético batizando todo mundo. Não é isso não, é mergulhar as pessoas no amor da Trindade e na ternura da trindade. Batizar é viver encharcado do amor da Trindade. Charles de Foucauld foi um homem encharcado desse amor. Madalena foi uma mulher encharcada desse amor, Francisco e Clara são encharcados desse amor e quando uma pessoa está encharcada, quando a gente incha uma esponja, basta você tocá-la, e a água já vai sair naquela esponja. Quando estamos encharcados de Deus ele sai sem a gente perceber, até pelos poros da gente, pelo olhar, pela palavra, pela gestualidade.
Viver o batismo é um mergulho profundo na Trindade. Para isso nós precisamos exercitar primeiro a confiança na Trindade e confiança no amor de Deus. A pobreza maior de Deus foi que ele se fez humano. Exercitar essa confiança no amor do Pai, do Filho e do Espírito, exercitar essa confiança no amor às pessoas, aos pobres. Exercitar a confiança no carisma de Nazaré, e na Fraternidade Jesus Cáritas. Exercitar a confiança com os pobres, com aquele que bate à sua porta, com aquele que chega de mão estendida. Exercitar a confiança.
Segundo, exercitar a alegria. Sim, exercitar alegria. Às vezes nós nos deixamos tomar pela tristeza por qualquer motivo. Fiquem atentos pois o demônio é muito ardiloso. São Francisco dizia aos frades: “Cuidado! Cuidado com a tristeza porque aí o demônio rouba a sua alma. A gente fica triste, fica azedo, melancólico, fica estúpido, fica pessimista”.
Terceiro, exercitar a serenidade. Nós estamos vivendo um tempo de muitas ansiedades e também da Covid-19. Um tempo de muitas aflições. A gente precisa exercitar a serenidade que nos vêm dessa experiência da proximidade do Pai, do Filho, e do Espírito. Um Deus que é próximo. Ele é mais vizinho de mim do que eu mesmo. Ele está mais próximo de mim do que eu estou em mim mesmo. Isso deve trazer uma serenidade de alma, de coração, a serenidade que nos torna plenos. Por isso nós vamos hoje voltar a Nazaré, e, com Jesus, nós vamos fazer o caminho no Jordão. Que esse texto do batismo de Jesus possa também nos re-fontizar. Quem sabe no momento de meditação, você possa renovar os compromissos do se batismo com esse mergulho. Se você está em um pequeno grupo renove, pare um pouco, traga as palavras do batismo, essa experiência trouxe para Jesus uma realidade totalmente nova.
E concluindo, João era um leigo e o Jordão não era espaço religioso. Nem sempre os consagrados falam de Deus e nem sempre o lugar sagrado fala de Deus. Um leigo na beira do rio estava levando multidões não a ele, mas a uma experiência de Deus que modificava a vida das pessoas. Como esse texto do batismo nos faz pensar nos pobres. E nós queremos ser proprietários da fé dos outros. Não se pode fazer isso, não pode fazer aquilo. Como nós temos a tentação de ser proprietários. Jesus encontrou na beira de um riacho uma das suas mais belas e profundas experiências no amor de Deus, o céu se abriu, a voz se fez ouvir e o espírito veio em forma de pomba.
Bom Retiro. Até às 15h se Deus quiser, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Beato Charles de Foucault, rogai por nós, Irmãzinha de Jesus, rogai por nós.
No período da tarde, Pe. Ederson continuou as meditações online, dizendo nossa vida vai sendo um regar de outras vidas pela própria Trindade. Hoje nos dedicamos rezar o batismo de Jesus, a significância de Nazaré, a relação de José e Maria com Jesus. E a partir deles, procuramos compreender essa dimensão da paternidade e da maternidade em nossas vidas, principalmente a importância do papel dos nossos pais nessa experiência de Deus. Como foi o papel da experiência de Deus para Jesus no encontro com José - esse homem que abre espaço para Deus se revelar como pai e estar como pai na vida de Jesus. E Maria que é esse feminino de Deus, esse rosto materno de Deus, como diz o Leonardo Boff, e que vai estar de uma forma muito bonita na vida de Jesus.
Pegamos apenas um pequeno exemplo pela manhã e rezávamos a necessidade de dar a devida dimensão ao nosso pai, a nossa mãe, na nossa vida na experiência com Deus. Na experiência da paternidade e da maternidade para que possamos viver esta paternidade e essa maternidade de Deus. O Papa Francisco diz que, se um padre não tem o desejo de ser pai, tem algo errado. Se uma mulher não tem o desejo de ser mãe, tem algo errado, porque isso é inerente à nossa condição de homens e de mulheres. E aí, ele nos convida a fazer essa passagem para a paternidade espiritual, para maternidade espiritual. E de uma forma muito bonita, de uma forma muito intensa, Charles de Foucauld fez esse movimento, essa passagem, ele se tornou pai para muitos dessa fraternidade e Madalena se tornou mãe.
É nessa experiência da vida escondida em Nazaré, da vida oculta, da simplicidade e da pequenez de Jesus, que nós temos que viver essa paternidade, e essa maternidade, não apenas recebê-la. Temos que exercitar a paternidade e a maternidade, e rezamos hoje esse mergulho na Trindade. E aí a igreja nos ensina de uma forma tão bonita que é a partir desse mergulho, que chamamos batismo, que nascem todos os ministérios, todas as vocações, todos os dons. E procuramos voltar a essa realidade primeira da nossa vida cristã, que é o batismo. Eis aí o lugar onde fundamentamos nossa cidadania. E se Nazaré é, por excelência, o lugar da escuta da palavra, foi em Nazaré que o Anjo se dirigiu a Maria, foi em Nazaré que o anjo se dirigiu a José.
Nazaré é o lugar da escuta da palavra onde o verbo se fez carne. Portanto, Nazaré é o lugar da encarnação. De dar carne ao verbo, carne à palavra, essa palavra que vai trazendo uma realidade nova. E quando, acolhida, se dá o encontro do amado com o amante e ocorre uma fusão entre o amado e o amante de tal forma que, desta fusão, vai nascer uma terceira identidade fruto dessa fusão.
É como a água que a gente mistura no açúcar. Depois de bem misturado vai dar uma terceira identidade. Já não é mais só água, não é mais só açúcar. Portanto, essa terceira realidade, esse encontro que vai nos dar uma identidade no batismo. Ali se dá o céu que se abre, o Espírito em forma de pomba. E é interessante que, dizendo do Espírito como simplicidade, como servo sofredor, o Espírito na Trindade é o servo. São Francisco teve essa intuição pois, na fraternidade franciscana, o modelo de autoridade é o espírito. Se fosse o pai, talvez nós teríamos na fraternidade franciscana um Abade. Se fosse Jesus o modelo, talvez teríamos um propósito como tem os jesuítas. Mas como o modelo é o Espírito, na Fraternidade Franciscana temos o ministro, um servidor. Dom Pepe, comentando aquele ícone da Trindade, de Rublev, diz que nas interpretações, que são diversas e variadas, o Espírito naquela mesa é o que está na ponta da mesa. No centro, a figura deve ser Jesus porque tem uma estola. Do outro lado o pai, porque ambos estão com rosto um pouco inclinado um para o lado do outro (o Pai e Eu somos um. Fazer a vontade do Pai é meu alimento). E o espírito, segundo Dom Pepe, é aquele que está com os dedos tamborilando na mesa, batendo com os dedos na mesa e pensando assim: “O que esses dois estão conversando, vai sobrar para mim. Sou eu que vou ter que descer e fazer isso que esses dois estão combinando ali”.
Jesus recebe o espírito de servo, de simplicidade de servo sofredor que o leva a comunhão com todos os sofredores do mundo. E a novidade que vai se dar a palavra. Do céu veio uma voz, essa voz ela vai ser uma explosão na vida de Jesus. Não é mais possível permanecer no Jordão, como discípulo de João e também não é possível voltar a Nazaré. Então Jesus vai ao deserto porque ele precisava interiorizar aquela voz com tudo que ela significa. Você é meu filho muito amado.
Nessa tarde nós vamos rezar a experiência do deserto na vida de Jesus a partir do capítulo quarto de Mateus, versículo um e seguintes. Jesus que vai ao deserto conduzido pelo Espírito. Na espiritualidade cristã, o deserto tem três simbologias. Primeiro: o deserto é o lugar onde se depara com a solidão. No fundo há um deserto que habita em todos nós. Cada ser humano é uma imensa solidão. Há espaços em nós que só nós podemos conhecer. Há espaço em nós que só nós podemos ir. Mas ainda há espaços em nós que nem nós mesmos conseguimos ir e decifrar. Há espaços em nós que nem nós mesmos conseguimos dar nomes.
No fundo nós somos uma grande solidão. Quantas vezes estamos cercados de pessoas e nos sentimos sós. Partilhamos uma ideia e lá dentro temos um sentimento de que não fomos entendidos naquela partilha. Nós somos uma grande solidão, e ter consciência disso é algo muito saudável, porque desenvolve um processo de cura. Nós não precisamos estar buscando companhia a toda hora. Você pode sentir que você mesmo é a sua melhor companhia, mesmo estando sozinho, mas para isso é preciso fazer um caminho de afeiçoar-se. De mergulhar-se e de aceitar-se como a sua companhia para não ficar naquela dependência de ter sempre alguém para nos acompanhar, para nos preencher, para nos responder as questões mais profundas de nós mesmos. Então, o deserto é o lugar da solidão. Essa palavra hoje está banida do dicionário pois ninguém suporta solidão e agora, vimos que esse tempo da pandemia o número de pessoas que se desconectaram porque tiveram que viver uma experiência de solidão e não suportaram essa solidão. Basta ver o grande índice de suicídios no Japão. O que as pessoas hoje mais reclamam é o desejo do encontro, do abraço, da festa, do estar juntos. Nós temos medo da solidão. Tudo que se pode fazer para preencher a solidão é feito. Tudo que se pode fazer para ocupar o espaço da solidão é feito, pois nós temos medo da solidão.
A segunda dimensão do deserto na espiritualidade bíblica é que ele é o lugar da tentação. É quando silenciamos, permanecendo a sós e muitas vozes ecoam dentro de nós. As vezes não somos capazes de escutar essas vozes. São vozes que vêm lá do fundo. Vozes que vêm trazendo muitos porquês. Por que eu existo? Por que eu estou aqui? Qual é o sentido da minha vida? Qual é o sentido da minha missão? Qual é o sentido de minha vocação? Qual é o sentido de ser pai? Qual é o sentido de ser mãe? Qual é o sentido da fé? Qual é o sentido de Deus? Então, a tentação é também uma experiência que, ainda que dolorosa, se faz necessária, por assim dizer.
O terceiro elemento é que o deserto é o lugar em que Deus fala ao coração. É quando se acalma interiormente que escutamos essa voz. E o interessante é que todos nós já fizemos essa experiência de solidão e de tentação. Às vezes lemos um texto ou ouvimos um canto ou rezamos um texto bíblico e uma pessoa nos fala alguma coisa, mas nós não fomos capazes de ouvir. Depois, nós vamos dizer: mas poxa, eu ouvi tantas vezes essa música porque só agora eu a compreendi? Eu li tantas vezes esse texto bíblico, por que só agora eu fui entender? É porque, no momento que se silencia interiormente que se é capaz de ouvir a voz que fala ao coração.
Para entender melhor o contexto das tentações de Jesus, e o que nelas há de revelador, é preciso ter presente o que precede o deserto. E o que precede o deserto é o Jordão, é o encontro com o espírito, é o encontro com o céu aberto, é o encontro com a voz. E o que que precede o deserto? O que vai ser consequência do deserto é a volta a Nazaré onde, na sua comunidade, junto com os seus da sinagoga, Jesus vai ter diante dos olhos o texto do profeta Isaías, e aí Ele vai proclamar esse texto como o seu texto, seu projeto de vida. Aquele texto marcou a vida de Jesus, e tornou-se referência em sua vida daquele momento em diante. Então entre o Jordão e Nazaré, está o deserto. E o deserto vai ser a possibilidade para Jesus, onde ele vai novamente adentrar-se na sua identidade. Porque, no batismo, foi dito a sua identidade e foi dito publicamente: Você é meu filho muito amado. Agora Ele não é apenas o filho para encerrar a filiação, ele é filho para expandir a filiação. Nós somos filhos para expandir a filiação, a experiência profunda na nossa vida.
Então Jesus vai ao deserto. Lucas e Mateus nos dão uma chave de leitura, afirmando que Ele vai movido pelo Espírito. É uma necessidade imperiosa de processar essa revelação. Uma necessidade que será feita a partir do silêncio, da solidão que vão abrir em Jesus, espaços de interioridade para a solidificação do sentido da sua vida e da sua missão, que Ele vai realizar daí para frente. Portanto o deserto, no contexto do batismo de Jesus, não tem uma benção prioritariamente penitencial, mas tem uma dimensão de lugar onde se processa a palavra de Deus, lugar que se processa o projeto de Deus. E Jesus, indo ao deserto, poderíamos dizer que Ele vai porque precisava de tempo para assentar nas suas profundezas. O deserto para Jesus vai ser uma experiência de esvaziamento, para que a palavra pudesse ter não só um lugar, mas todo o lugar na vida de Jesus.
O que parece teologicamente e historicamente correto é afirmar que depois do batismo, Jesus busca o deserto como forma de adentrar-se no coração do Pai que o proclamou “Filho muito amado”. Não é qualquer Filho, mas Filho muito amado, e essa proclamação foi sob o impulso do Espírito. A partir desse discernimento de Jesus, a sua missão e o seu messianismo também são clarificados e se manifestam de uma forma diferente daquela esperada em Israel. Um messianismo a partir de baixo, que vem a partir da periferia. O messianismo que vem a partir do lava-pés. Messianismo que vem a partir do serviço e, portanto, as tentações de Jesus no deserto não são de ordem moral, mas as tentações têm um cunho de discernimento acerca do seu messianismo. Então podemos dizer que não tem o cunho moral, tem o cunho vocacional, ou seja, que tipo de Messias Ele seria. E podemos dizer que o deserto para Jesus é experiência da crise, onde ele vai vencer o maligno. E esse maligno não vai ter lugar. Nós compreendemos, quando lemos o texto, que o demônio não estava fora de Jesus. O demônio não é uma realidade e vem não sei de onde, e que entra numa pessoa e começa a atrapalhar a sua vida. Em Jesus, os textos são tão claros. Percebemos nitidamente que a tentação estava dentro dele. O tentador estava dentro dele e Ele precisa vencê-lo.
O grande de lugar da tentação, onde o diabo se instala, é o nosso coração. As grandes tentações estão dentro de nós e não fora de nós. Percebemos como aconteceu na vida de Jesus. Compreendemos a lucidez de Jesus no deserto, quando Ele toma plena consciência da sua filiação e a maneira como deveria viver essa filiação. E isso é muito bonito.
As tentações elas são expressão da oferta da vida de Jesus. Há dois tipos de messianismos que aparecem muito claros nos textos. Há dois tipos de projetos, há dois tipos de caminhos. Há dois estilos de vida que se opõem e são oferecidos Jesus. De um lado, é oferecido a possibilidade de um messianismo a partir do centro, do poder, de cima, do prestígio social. Este é o estilo de messianismo triunfalista, grandioso e espetacular. Do outro lado, é oferecido a Jesus o caminho da minoridade, do ser pequeno, do ser servo, do ser menor. A necessidade de deixar-se esvaziar para que o Pai fosse o Tudo em sua vida. Jesus é alguém extremamente apaixonado pelo Pai. “Eu e o Pai somos um”. Há uma plena identificação com o Pai. “Fazer a vontade do Pai é meu alimento”. É como se Ele estivesse dizendo que não vivia sem o Pai. E Jesus, no deserto, desvela este outro tipo de messianismo, o messianismo da solidariedade. O caminho da solidariedade, a partir da margem, a partir da periferia da sociedade, a partir da periferia do mundo religioso, a partir da periferia do mundo político, a partir do povo, a partir de baixo. E tudo isso acontece, porque Ele assume a filiação como confiança no Pai. Entrega ao pai. Esse estilo messiânico será alternativo ao seu tempo. Um estilo de simplicidade, de poder-serviço, de estar presente a partir das realidades de exclusão, mostrando que ali tem algo profundamente belo, profundamente gracioso. Portanto, o messianismo de Jesus é algo alternativo e nós não podemos perder isso de vista. O que hoje seria alternativo para nossa vida, enquanto Fraternidade Jesus Caritas? O que seria o alternativo para igreja? O que seria o alternativo nesta sociedade de consumo, nessa relação massificante, com as pessoas e com as coisas. Nessa exploração, nessa devastação da casa comum.
Nós temos que oferecer um modelo alternativo. Jesus nos oferece o modelo alternativo. Ele não nos impõe, mas ele nos oferece. Ele aponta com sua vida o próprio caminho desse modelo alternativo, nascido a partir da periferia, nascido a partir da comunhão com todos aqueles que estavam verdadeiramente jogados à margem. E o batismo inaugura essa realidade em Jesus. Jesus precisa realizar a sua missão e, para realiza-la, Ele não se dirigiu à Jerusalém, que era a cidade mais importante, nem a outra cidade da província da Judeia. Ele se dirigiu ao deserto, e foi partir do deserto, que não durou somente quarenta dias, que procurou viver e desenvolver a sua atividade. Depois de saciar a multidão, Jesus foi para lugar afastado. Ele passava as noites em lugares afastados. O “estar no deserto” se torna uma realidade sequencial na vida de Jesus. Não um lugar penitencial, como era para João, mas um lugar da clarificação da voz, da palavra, da paternidade de Deus.
Portanto, a experiência do deserto e da simplicidade está presente no jeito de Jesus evangelizar, de comunicar a boa notícia à sociedade, sem procurar os notáveis, sem procurar prestígios, sem procurar as classes influentes da sociedade de seu tempo. Nem lugares de privilégios e de influência. Jesus também realiza sua missão gratuitamente, e não a partir do poder, ou do dinheiro. Para realizar sua missão, Jesus busca aqueles lugares onde a vida e as relações humanas estavam deterioradas por causa um sistema. Somente assim compreendemos a lógica de Jesus. Ele traz mudanças profundas em nossas vidas, na igreja e na sociedade. Mudanças que não vêm de cima, mas de baixo, a partir da solidariedade, da identificação com a vida dos últimos.
Vejam o processo do Sínodo da Amazônia. A riqueza que foi, porque o movimento que antecedeu o Sínodo foi o movimento de escuta. aonde as pessoas mais simples e mais pobres foram escutadas, e puderam dar a sua contribuição. E aí, vai inaugurando esse modelo novo da sinodalidade na igreja, a partir do Papa Francisco. Algo tão necessário.
Nem tudo é a partir de Roma. Com Francisco vai ficando claro que Roma não é mais o lugar da primeira e da última palavra. Com Francisco vai ficando claro que Roma precisa escutar, porque quando se ouve, quando se constroem juntos uma possibilidade nova, isso então começa a ser realidade. Talvez esse tenha sido o fracasso das administrações que tivemos do PT, porque nos afastamos das bases. Nos afastamos do povo e não se fez mais aquelas assembleias que se fazia com o povo, e deu no que deu. Mas também a igreja afastou do povo e os evangélicos chegaram e ocuparam o lugar da igreja nas periferias. Nós não temos lugar da periferia, não falamos mais aos periféricos, portanto é com Jesus que nós vamos compreender um messianismo, usando uma palavra que é do Brasil que vem das bases, que se constroem juntos uma cidadania Cristã.
Por isso que o deserto é, para Jesus, o lugar de clarificação. Ele passa pelas tentações do messianismo do poder, do messianismo da abundância, do messianismo do espetáculo. Essas tentações estão dentro de cada um de nós. Nós temos e queremos isso para nós. Em algum momento sonhamos com isso. Talvez, Charles não se afastava do deserto. A experiência de deserto daquele homem não foi só um deserto físico, de morar no deserto, apenas porque deserto físico é algo muito árido. E aqui, acho que deve atiçar a nossa curiosidade, é na dimensão da especulação, da investigação, da oração, da interiorização. O que foi que fez que Charles de Foucauld, homem de Nazaré e homem do deserto. Por que ele desejou tanto o deserto? Isso é tão forte na espiritualidade. Ter tempos reservados ao deserto.
O deserto de Jesus nos remete e é interessante no Evangelho de João, na multiplicação dos pães, quando Jesus viu que queriam fazê-lo Rei, o que ele fez? Ele fugiu. E ele foi para o deserto e depois para montanha rezar. Porque ele não podia perder a voz. Ele não podia se iludir em ser rei, como o povo queria que ele fosse. É muito sábio e muito sutil essa atitude de Jesus. Ele foge dessa voz do povo, ele foge do aplauso, ele foge desse lugar de elevação. Ele vai para montanha rezar para não se desconectar da voz do Jordão. E quando a gente sintoniza a voz do Jordão, e faz uma leitura dos Evangelhos na perspectiva, tendo como chave de leitura a voz do Jordão, ela vai perpassar toda a vida de Jesus. Ela vai estar em toda a vida de Jesus. Então esta é a voz e quando a gente perde a conexão com esta voz, outras vozes começam a ter lugar na nossa vida. Outras vozes vão entrando e vão se aninhando na nossa vida, e vão nos distanciando daquilo que é próprio de Deus, daquilo que é próprio da voz. Por isso que, ainda que Jesus saia do deserto e vá para a Galileia, a experiência de deserto não sai da vida de Jesus. E, conduzido pelo Espírito, ele vai ao deserto. Ele sai do deserto e vai a Nazaré. E, conduzido pelo Espírito ele não vai a Judéia, ele não vai à Jerusalém. Ele vai a Galileia, ao lugar dos últimos. É preciso a gente se preparar, porque Deus é tremendamente desconcertante, desconserta a nossa teologia moral. Desconserta o direito canônico. Desconserta a nossa eclesiologia.
Nessa tarde, vamos rezar procurando permitir que o mesmo Espírito que conduziu Jesus nos conduza também ao deserto. E permitir que Espírito nos conduza para Deus, a quem Jesus experimentou como Pai e se tornou uma voz desse Pai. Um Deus que não exige proezas de transformar pedra em pães, mas somente confiança e entrega. Um Deus que nos dirige a Sua palavra, não para nos impor obrigações, não para nos julgar, mas para alimentar-nos e para fazer-nos crescer. É a palavra que Ele dirige e vai dirigir a nós, é aquela que ele dirigiu a Jesus: “Você é meu filho muito amado!”. “Você é minha filha muito amada”.
Deus é Amor. Ele só tem essa medida. Ele só tem essa referência. Deus é Amor. Então Ele nos trata só com essa medida. É só a partir dessa referência: amor. Lado a lado. Coração a coração. Você toda bela, minha amada. Em você eu não vejo um só defeito! Nós somos dados a ver defeitos, ver miudezas. Se tem um pequeno defeito se perde todo. A irmã põe uma vela no Altar, e sem perceber fica meio centímetro fora do lugar. Ela nota o erro e perdeu a missa toda por causa daquele meio centímetro. Ela perdeu a missa, a eucaristia. Perdeu o encontro por causa de meio centímetro.
Qual é o olhar de Deus para mim? Qual é o olhar de Deus em mim? Será que eu não preciso trabalhar esse olhar de Deus em mim? Como eu olho a mim mesmo? Como eu olho a Fraternidade? Como eu olho a minha família? Como eu olho as pessoas? Como eu olho o mundo? Como eu olho a Igreja? Como eu olho os pobres? Será que não está nos faltando buscar esse olhar de Deus? A gente pede isso: “Senhor que eu veja como Tu vê”. “Que eu tenha em mim teus olhos”. Isso devia ser uma litania, um grito, uma ladainha, uma súplica. Ver com os olhos de Deus. Ter os olhos de Deus. Jesus teve os olhos do Pai e enxergou como o Pai. Então, podemos permitir que o Espírito nos conduza a palavra do Pai: “Você é meu filho muito Amado”. “Você é meu filho muito querido”. Ir ao deserto é deixar-se batizar pelo novo nome que ele nos deu. Pelo novo nome que nasce da escuta dessa palavra. E esse novo nome que vai dar a nossa identidade. Qual é a palavra que me identifica? Qual é a palavra que me move e me faz levantar a cada manhã? Qual é a palavra que me faz ir ao encontro do outro? Qual é a palavra que me faz entrar no barco e sumir nesses rios da Amazônia para celebrar uma missa? Para encontrar um povo? Qual é a palavra? Essa palavra tem que queimar, tem que arder. Portanto, quando nos dispomos ao deserto, é para que a palavra possa se instalar de tal maneira, que ela vai ser visível a partir da nossa vida. Uma palavra que cura, que liberta, que inclua e incorpore. Uma palavra que acolha e que gere vida.
Então, eu desejo a vocês uma tarde muito bonita. Essa experiência do deserto. Lembra: Quais são as tentações que estão rodando meu coração? Deixe que, de novo, ele fale ao seu coração “Você é meu filho muito Amado! Eu te quero muito”. Isso vai reconstituir. Isso vai refazer experiências bonitas da nossa vida para que ela seja bonita e potencializar.
Um abraço, um bom deserto, um bom caminhar com Jesus. Não tenha medo do demônio. Não tenha medo de ser tentado, porque ele não é maior do que a voz: “Você é minha filha e meu filho muito amado”. Um beijo para todos, até amanhã.
Na manhã desse último dia do retiro, 7 de janeiro, às 8h, o orientador Padre Ederson respondeu algumas perguntas, e em seguida convidou os participantes a fazerem uma profunda reflexão. Dizendo que Nazaré supõe uma espiritualidade centrada em Deus. Deus é o grande desafio na espiritualidade de Nazaré, porque quando falamos de uma espiritualidade centrada em Deus, nós temos que nos perguntar qual é o Deus que está no centro da espiritualidade de Nazaré? É o Deus do templo, é o Deus do trono, é o Deus das alturas, é o Deus justiceiro, que pune, que exige sacrifícios e penitências? ou é o Deus do Êxodo, que se faz pobre junto de um povo pobre e caminha com ele? e que permite a esse povo ser segundo a sua própria pobreza.
Caminha se desinstala na medida que esse povo vai se desinstalando de tenda em tenda fazendo o caminho do Êxodo.
Esses dois também se desinstalam porque ele faz o caminho, ele arma tendas no meio do seu povo. Qual é o Deus que está no centro da espiritualidade de Nazaré? É o mesmo Deus da Encarnação! O Deus que assume tudo aquilo que é próprio da nossa carne e da nossa história. Ele assume a limitação e a pequenez de uma criança. Assume a limitação e a pequenez do tempo e dos pequenos.
Temos que perguntar: o centro da nossa espiritualidade é esse Deus libertador que diz: “eu ouvi, eu vi, eu senti!” Vai Moisés, liberta o meu povo! A liberdade não é algo fácil. Nós sempre procuramos artimanhas aqui a ali, para não sermos livres, porque a liberdade pressupõe uma responsabilidade, a liberdade pressupõe tomar a vida nas mãos e tomar as próprias decisões, a liberdade pressupõe que sejamos agentes ativos e não passivos do nosso caminho existencial.
A liberdade não é fácil, por isso muitos preferem cultuar um Deus justiceiro, um Deus dos sacrifícios, do templo, porque ele diz tudo que tem que fazer.
O Padre diz tudo que tem que fazer, a igreja “manda” e a pessoa faz aquilo que foi mandado e fica com a consciência tranquila, pronto.
O Deus da libertação e da liberdade pressupõe a nossa participação, pressupõe a nossa história, pressupõe o nosso sim, pressupõe o nosso caminho. É por isso que não é fácil viver a espiritualidade desse Deus libertador. Quando fazemos nossas súplicas, a qual Deus estamos nos dirigindo: ao Deus do Trono? do templo? das alturas? Ou ao Deus do Êxodo? O Deus que se faz pobre conosco? Ou ao Deus da encarnação?
Por isso a espiritualidade de Nazaré é extremamente desafiadora. Ela está centrada na santidade do Deus, que está à sua porta, como diz o Papa Francisco: “A santidade que se revela no anonimato, a santidade que se revela nas pequenas coisas, a santidade que se revela na intensidade da vida, o Deus de Nazaré não é o Deus que está acima de todos” como é o lema do atual governo brasileiro.
O Deus de Nazaré é o Deus que há entre nós, no meio de todos. É um Deus que mergulha, com compaixão, nas realidades mais sofridas, nas realidades mais pobres e se deixa tocar pela existência da miséria humana. Não é o Deus que está acima de todos! É o Deus que está no meio de todos! É aquele Deus que se rebaixou para estar na realidade mais profunda da nossa vida. Por isso, fazendo esse caminho de síntese, lembramos a pergunta do primeiro dia: Deus não é do trono, mas o do jardim, do encontro, da comunhão. E que pergunta, não como um delegado de polícia, mas como um pai que deseja comunhão. Onde você está nesse momento da sua vida? Da sua história? Do seu corpo? Da sua sexualidade? Das suas opções? Da sua intelectualidade? É grande e desafiadora essa resposta: onde é que eu estou? É importante uma boa resposta, para que não criemos processos e realidades confusas dentro de nós.
Esse Deus que pergunta onde estamos é um Deus que vai onde Maria está. E onde Maria está? Ela está em Nazaré! Numa realidade muito simples, invisível aos olhos humanos. E ali Ele faz a ela a proposta da encarnação, de se tornar carne em nossa carne. Esse Deus, que assume a nossa carne, se desinstala mais uma vez na relação, e se constrói em Nazaré.
Na hora de Jesus ir ao Jordão, Deus se revela. É um Deus que ama e que nos elege como amados. “Você é meu filho muito amado! Você é minha filha muito amada!” O Deus da encarnação caminha para o deserto. Quem é o deserto? Ninguém vai para o deserto fazer veraneio, ninguém vai para o deserto passar uns dias de descanso. Para descansar nós vamos para praia ou para as montanhas.
Esse é Deus que vai ao deserto e que assume todas as tentações. É bonito quando a gente percebe. As tentações não estavam fora, mas estavam n’Ele! E aí Ele tem que se ver com essas tentações, Ele tem que passar a limpo a sua vida diante desta palavra: “Você é meu filho muito Amado” Ele tem que passar a limpo as suas tentações diante dessa realidade de um céu aberto. Ele devia ser um construtor de céu aberto na vida das pessoas.
Jesus mostra o espírito de pobreza do próprio Deus. Ele faz esse caminho de centrar-se na palavra, e de novo Ele se deixa inundar no mergulho desta palavra, e esta palavra se torna referência. Se a gente tomar apenas a frase “Você é meu filho muito amado” e fizermos uma leitura dos Evangelhos, vamos perceber que Jesus não só se comporta como filho muito amado, não só se sente Filho muito amado, mas Ele expande a filiação! Ele faz com que as pessoas, homens e mulheres do seu tempo se sintam profundamente amados! Por isso, aquelas multidões que o acompanhavam saíram jubilosas do encontro! Aquele leproso, o cego de nascença, Zaqueu. Cada um deles saíram exultantes, porque faziam experiência de ser filho muito amado. Foi o que aconteceu com Madalena, uma mulher que estava desordenada nos seus afetos, desordenada da sua compreensão de mulher, na sua compreensão de sexualidade, e Jesus ajudou o encontro dessa mulher consigo mesma, e ela se unifica, ela não só se sente, mas se faz filha amada! E Madalena vai expandir também a filiação. Foi também o que aconteceu com a samaritana. Ela se sentiu tão amada, e vai expandir a filiação, ela vai até a cidade para dizer: “Encontrei o homem que disse tudo da minha vida. Não é Ele o Messias?”
Uma mulher pedagoga. Ela já sabia que Ele era o Messias! Mas Ele a apresenta muitas perguntas para despertar a sede, samaritana desperta a sede! Quem não tem sede, não busca a fonte, e o que acontece? Na sequência, a cidade vai ao encontro de Jesus. Não foram os discípulos que levaram a cidade ao encontro de Jesus. Foi a samaritana, uma mulher tida como prostituta.
Muitas vezes não são os bispos que levam as pessoas à Jesus, não somos nós os cristãos engajados que levamos as pessoas a Jesus. Muitas vezes são as prostitutas que levam os prostitutos, os pobres, os miseráveis para se encontrarem com Jesus.
Os miseráveis da existência são os que, muitas vezes, levam as pessoas à Jesus. Nós temos que aprender diante dessas mulheres e de tantos outros ícones da pobreza, dos pobres de Deus do Evangelho. Nós temos que perder essa mania, esse costume de achar que somos donos da experiência de Deus, da manifestação de Deus. Temos que ser mais pobres, e aí a fraternidade, Jesus Caritas tem muito para oferecer à Igreja. Dessa pobreza de Jesus, e hoje nós vamos fazer um caminho em direção ao Monte Tabor. O Evangelho indicado para nossa meditação é o de Mateus 17,1-9.
O Tabor, a transfiguração é a condição da nossa humanização. Na transfiguração se revela o caminho da nossa humanização. Jesus foi transfigurado diante deles o seu rosto brilhou como o sol. As roupas deles ficaram brancas como a luz, nos diz o evangelista Mateus.
Nós vivemos num ritmo muito frenético de uma sociedade consumista, nós vivemos no tempo do culto à noite superficial e isso nos impede de recuperar, de mergulhar na dimensão de profundidade da nossa vida no tempo, da nossa vida diária! Nos impede de sermos pessoas de profundidade. Vivemos mergulhados nesse contexto marcado pelo imediatismo e pelo interesse econômico, marcados pela voracidade onde se devora a comida, se devora os objetos que hoje temos, como: celular, ipad, iphone e tantas outras coisas. Temos hoje um problema ecológico com o lixo, resultado dos produtos que são devorados. E as pessoas também são devoradas.
Então, nesse contexto de superficialidade, de nazismo, com um elemento que nos entristece muito, por estarmos vivenciando um neofascismo vestido com trajes religiosos, trazendo o nome de Deus, e, em nome de Deus se impondo na intolerância. Isso chegou dentro da igreja! Isso chegou nas nossas fraternidades, nas nossas comunidades, nos nossos conventos e, por isso que a espiritualidade de Nazaré nos indica o caminho do silêncio, o caminho da profundidade, o caminho da admiração que muitas vezes se tornam estranhos a nós e isso nos desfigura! Hoje nós somos uma humanidade desfigurada por tudo isso que está acontecendo, por esse negacionismo das ciências, das realidades humanas mais tangíveis. Neste contexto, a transfiguração vem nos dizer quem somos realmente no nível mais profundo. A transfiguração de Jesus nos revela o nosso verdadeiro ser essencial, a nossa vocação, o nosso destino! Nós fomos criados para a transfiguração e não para a desfiguração. Fomos criados para a glória!
O rosto glorioso de Jesus revela o rosto glorioso de cada pessoa humana, por isso a transfiguração de Jesus nos faz caminhar em direção à nossa própria realidade, a nossa própria transfiguração. Transfigurar é encontrar-se consigo mesmo, com seu núcleo existencial, com o seu eu verdadeiro! O transfigurar-se nos coloca num caminho de descentramento e de expansão, no caminho de estar na direção do outro. A transfiguração nos permite cultivar um olhar que sabe ver com profundidade, um olhar que vai se descortinando em cada ser humano, para além das aparências, para além daquilo que o desfigura.
Perceber uma dimensão transfigurada, porque cada pessoa humana é capaz, cada pessoa humana traz a sua beleza, a sua bondade original porque nascemos de um ato de amor! Façamos o homem e a mulher a nossa imagem e a nossa semelhança. Mergulhar na transfiguração é cultivar um olhar que se deixa impactar por tudo aquilo que nos cerca, e perceber que tudo aquilo que nos cerca traz um mistério. Cada pessoa humana é um mistério. Cada realidade da vida é portadora de um mistério, e diante do mistério na espiritualidade de Nazaré, a nós cabe reverência e acolhimento diante de cada mistério.
A transfiguração nos possibilita um olhar contemplativo que nos faz descobrir que toda realidade já é, em si, transfigurada. Seguramente, a transfiguração reacenderá em nós a capacidade da admiração, do assombro, da contemplação a capacidade de ver as pessoas e todas as coisas criadas para além do superficial, e Deus, viu que tudo era muito bom.
Uma tradução que me parece melhor “E Deus viu que tudo era muito belo”, na palavra beleza está o brilho de Deus, e Deus viu que em tudo tem o seu brilho! O relato da transfiguração que temos no evangelho, e que vamos rezar hoje, não é uma crônica de um fato histórico. É muito mais, e por isso ele é mais belo. O relato da transfiguração é a experiência de fé dos discípulos, que perceberam a transparência em Jesus e uma transparência que conduz a profundidade e isso os impactou no seu eu mais profundo. Podemos expressar numa frase o significado da transfiguração, “Jesus é a transparência do humano e do divino”
Aquele homem tão humano! Aquele homem que estava com as multidões! Aquele homem que comia com o povo! Aquele homem que chorou com a mulher que perdeu o filho! Aquele homem que se entretém com aquela mulher samaritana, a ponto de acender a ira dos discípulos que não entendiam o fato dele estar conversando com aquela mulher à beira do lago! Aquele homem capaz de brincar com as crianças! Aquele homem que tem o número grande de mulheres como suas amigas e discípulas! Aquele homem que dorme! Aquele homem que descansa! Aquele homem que tem necessidade do pai e tem necessidade de rezar! Aquele homem que fala do pai com ternura e com encantamento! Aquele homem encantado! Esse é Deus! Esse tão humano é Deus! Isso é a transfiguração. Essa foi a percepção dos discípulos. Esse tão humano, como nós, que também chegava a ter momentos de ira: que pega o chicote no templo, para expulsar os vendilhões; que fala para Pedro, “sai da minha frente Satanás!”, você é para mim uma pedra de tropeço quando ele tentava desviá-lo do caminho.
Esse homem é Deus! Tão humano como nós, mas ele é Deus. Essa é a experiência dos discípulos. Jesus, com a transparência do humano e do divino. Por isso a transfiguração é a nossa vocação. Nós somos chamados à transfiguração, não viver como pessoas desfiguradas, mas transfiguradas. Eu sou chamado a criar realidades transfiguradas, não realidades desfiguradas. Com sua encarnação, Jesus mergulha nas realidades desfiguradas e aí está a espiritualidade de e a beleza de Nazaré, para transfigurá-las. Esse que é tão humano e tão divino aponta para nós o caminho do ser humano transfigurado. E nós perceberemos que, em tudo, Jesus viveu constantemente uma transfiguração, até mesmo na cruz quando ele se apresenta desfigurado. E Isaías disse que Ele perdeu a figura humana.
Na cruz, aquilo que parecia desfiguração é a transfiguração! Na cruz, suando sangue, Ele está transfigurado. É a transfiguração do amor. É a transfiguração do compromisso com os mais pobres da história. É a transfiguração do amor de Deus. Ninguém tira minha vida! Eu a dou por mim mesmo! Então na cruz não vemos um Jesus desfigurado, mas sim um Jesus transfigurado por causa de sua profunda solidariedade com toda a humanidade.
O que fazia Jesus um homem transfigurado? O que se notava nele como homem transfigurado? Não era sua divindade! O que fazia Jesus ser percebido como homem transfigurado e, portanto, divino, era a sua humanidade, sua bondade, sua compaixão, sua capacidade de estar com as pessoas de uma forma intensa. O que fazia Jesus um homem transfigurado era sua autenticidade, sua integridade, sua coerência, sua liberdade, o seu projeto de vida em relação com o Pai.
A raiz deste evangelho sobre a transfiguração, que vamos rezar hoje, está em apresentar-nos Jesus como a presença de Deus entre os homens e as mulheres, por isso a necessidade de escutá-lo. Ontem a voz do Jordão “Este é meu filho muito Amado, n’Ele está todo meu bem querer” era para Jesus, para o Batista, para aqueles que estavam ali. Mas, hoje, esta mesma palavra “este é meu filho muito amado escutem o que ele diz!” dirige-se a cada um de nós, e nos fala da necessidade de escutar Jesus como presença de Deus. É a transfiguração. É a humanidade levada a plenitude da palavra. Escutem o que Ele diz e vocês serão plenos de vida! Escutem o que Ele diz e vocês serão transfigurados. Escutem o que Ele diz! Escutar o filho é transfigurar-se e transfigurar-se em que? Transfigurar-se n’ele! E transfigurar-se n’Ele para que? Para levar uma vida como a sua, ou seja, uma vida que possa extravasar o amor compassivo de Deus.
Jesus continua transfigurando-se na montanha do interior de cada um de nós. No primeiro dia do retiro, falei sobre a necessidade de reencontrar-nos no jardim, um lugar do encontro, lugar do belo, lugar do aprazível, lugar onde Deus venha ao nosso encontro. Nós temos um jardim interior. Hoje o Evangelho quer nos conduzir e nos pedir que nos tornemos a montanha! A montanha de que? A montanha da luz! Na montanha a luz resplandeceu, na montanha a luz brilhou, na montanha a luz se irradiou a todos!
Subir ao Tabor, subir a montanha, também implica descer. Pedro quis fazer morada, três tendas: “Senhor, façamos três tendas” e Jesus lhe disse: “Pedro é preciso descer”. É preciso descer em direção à nossa própria humanidade. É preciso fazer o caminho da descida na própria humanidade, em si mesmo, e isso não é fácil. Todos nós temos todo uma dinâmica cultural da subida. Desde criança somos treinados para subir. Os pais nos treinam para subir sempre um degrau a mais. A escola nos treina para subir. A sociedade nos treina para subir, por isso os concursos, por isso a necessidade de subir, de estar acima, de saber mais, de poder mais.
Agora, humanamente falando, nós precisamos fazer o caminho inverso, da descida, descer ao próprio coração, mergulhar na própria realidade, ter consciência da nossa corporalidade, fertilidade, sexualidade, dos nossos beijos. Mas isso não é fácil, porque nem sempre é gostoso encontrar-se com aquilo que nós somos. Porque, dentro da mentalidade que nos foi incutida, nem podemos ser aquilo que somos. Temos que ser uma outra coisa. Por isso é preciso descer ao coração. É preciso Pedro, é preciso descer junto com os pobres, é preciso descer aos sofredores, é preciso descer na planície, é preciso dialogar, é preciso compartilhar, é preciso mergulhar nessa realidade para transfigurá-la. É preciso descer.
Quando a gente mergulha no mundo dos pobres, eles nos ensinam da pobreza de Jesus. O texto da transfiguração nos ensina a não ficarmos na montanha. A igreja é a pessoa da montanha, é a pessoa que está fechada em si mesma, em seu egoísmo, no seu consumismo. A Igreja da montanha é a igreja que está fechada no seu legalismo, no seu ritualismo, e que está engessada nos sonhos das suas liturgias, no seu poder, na sua glória. É preciso descer a planície.
O evangelho da transfiguração nos ensina que é preciso dialogar, compartilhar. Para poder curar, é preciso transfigurar as realidades que fazem o mundo viver desfigurado, mergulhar nas realidades desfiguradas para transfigurá-las, é uma dinâmica bonita.
Jesus fala sobre a necessidade da descida. Descer foi uma dinâmica constante na vida de Jesus, desde o momento em que foi enviado a ventre de Maria: quando foi gerado no silêncio de Nazaré; quando nasceu na periferia, sem lugar em Belém; quando teve que ser migrante, e fugir para o Egito. Jesus viveu uma contínua dinâmica da descida, mas nós queremos viver uma dinâmica de subida, do status, do lugar eclesial que nos coloque como Pedro, acima dos outros, e não no meio dos outros, não junto aos outros.
O evangelho que rezaremos, nos colocará diante destas duas realidades: desfiguração e transfiguração. E nós teremos algumas perguntas a nos fazer: eu estou no caminho de transfiguração? Essa nossa vocação meu irmão, minha irmã, nossa vocação é de ser pessoas transfiguradas! Transfiguradas pelo amor, pela bondade, pela ternura, pela compaixão. Transfigurados! Essa é a nossa vocação!
Olhe no espelho. Santa Clara tem toda a mística do espelho. Para ela Jesus é o espelho. Quem sabe vamos precisar do espelho que está lá no quarto, para nos ajudar a fazer essa pergunta, eu tenho vivido a dinâmica da transfiguração? Essa é uma primeira pergunta e infalivelmente vem outra pergunta: O que em mim é desfiguração? O que está me desfigurando? Responder estas questões vai me permitir ser gente, ser humano, ser divino!
O que que está me desfigurando? Se dar conta disso, então se for preciso faça uma confissão, se for preciso busque um conselheiro espiritual, se for preciso faz uma terapia, se você não dá conta de trabalhar isso sozinho. A terapia não é para louco não, é para pessoas normais! É para quem busca normalidade. Loucura é outra coisa, que se trata com o psiquiatra, com medicamentos. Outra coisa é perceber que existem realidades que estão te desfigurando, e que você não dá conta de trabalhar sozinho. Neste caso, busque ajuda com um bom terapeuta!
O que me desfigura? A receptividade do olhar no espelho diante do carisma de Nazaré que está me desfigurando? É uma outra pergunta que nós temos que fazer diante da espiritualidade de Nazaré.
Não é a espiritualidade que me desfigura, mas a espiritualidade de Nazaré que me revela alguma coisa que está desfigurada em mim. O que a espiritualidade de Nazaré está me transfigurando? Dê nomes! O que há de transfiguração em mim, a partir da espiritualidade de Nazaré? Da mística da irmãzinha Madalena, não a deixe de fora, pois a presença da mulher é muito importante! Madalena ajuda o carisma do irmãozinho fazer a síntese feminina, com o olhar feminino. O que está transfigurando o carisma de Nazaré? E nós podemos ir alargando as perguntas na relação presbiteral.
O que transfigura em seu modo de ser padre? E o que desfigura? No seu modo de ser padre o que desfigura o povo? O que transfigura o povo? Talvez deveríamos ter a coragem de perguntar às pessoas o que, em mim, atrapalha ou ajuda vocês a serem melhores? Ter coragem perguntar ao povo para sermos bons pastores. O que em mim ajuda vocês a serem melhores? Não para se colocar no pedestal e receber uma taça, mas para ir compreendendo a ação de Deus em nossa vida.
Para vocês leigos e leigas que vivem espiritualidade de Nazaré, essas perguntas também são necessárias. O que, na sua família, no seu casamento é desfiguração e transfiguração? Uma outra pergunta que não pode deixar de ser feita: Quem são os desfigurados que estão à minha volta? Como eu estou junto deles nesse processo de transfiguração? Como é a minha presença junto dos desfigurados? E nós temos uma multidão.
Em pleno século XXI, nós temos uma multidão de gente desfiguradas: os pretos, mulheres com essa onda da violência e feminicídio, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, gente da periferia, LGBTI+. E temos um catálogo enorme de gente desfigurada. Junto dessa gente desfigurada, eu tenho que ser a possibilidade do Tabor, de conduzi-las ao Tabor. A minha presença tem que ser uma presença de Tabor, que as ajudem a se descobrirem transfiguradas.
A a gente acompanha, um pouco a distância, o trabalho do padre Júlio Lancellotti. Não é para tirar o povo da rua, pois eles já fizeram da rua suas casas, mas, a presença do Pe. Júlio junto àquelas pessoas faz com que elas se sintam transfiguradas. É bonito ver aquele homem extenuado, mas numa dinâmica de transfigurar as pessoas. A espiritualidade de Nazaré tem uma pedagogia belíssima! Que é a pedagogia do mergulho, pedagogia da inserção, do estar presente como a irmãzinha Genoveva, lá no Mato Grosso (junto aos Tapirapés). Lembro-me que elas iam fazer retiro em Belo Horizonte, num convento dos Capuchinhos. Ficavam lá as irmãzinhas e, entre elas, a irmãzinha Genoveva parecia uma índia. Uma francesa com jeito de índia, até o jeito de cortar o cabelo “corridinho”, o modo de andar e tantas outras coisas. Isso é inserção, é mergulho. Talvez ela nunca tenha falado do Evangelho, nem de Charles, de Madalena, ou de plano Pastoral para aqueles “Tapirapés”, mas ela mergulhou na vida daquela gente de uma forma muito intensa! Pedro Casaldáliga, também foi um homem do mergulho. O que eles fizeram foi verdadeiramente um tempo de evangelização. Falavam do Pedro e ele mergulhou tanto na realidade daquele povo, que quis ser sepultado naquele cemitério de gente clandestina e de indígenas, ao lado do peão, ao lado de prostitutas, num cemitério já desativado, numa cova de terra. Que mergulho Pedro deu! Ele e a irmãzinha Genoveva são ícones! Estão aí nos dizendo-nos que a espiritualidade de Nazaré tem uma possibilidade enorme! Tem uma beleza, tem uma leveza. A espiritualidade de Nazaré tem uma ternura que fala o Papa Francisco, quando você lê a Evangelii Gaudium, a Fratelli Tutti, a Patris Corde, dedicada à São José, percebemos com clareza que é a vez de Nazaré! É a vez de Charles de Foucauld. Um pontificado nunca se falou tanto a vocês, e de vocês, como este, sem dizer nomes, sem dizer Fraternidade Jesus Caritas! Tem que dizer irmãzinhas ou irmãozinhos: esse pontificado é o pontificado de vocês, É a hora! É nossa hora! Então esse texto vai nos oferecer esse caminho, de reflexão e de oração.
Aqui eu vou concluindo a participação, agradecendo à Fraternidade, ao Nelito, quando fez o contato e me convidou, ao Padre Carlos, que é o representante nacional da Fraternidade. Nem ele e nem o conselho me conhecia. Aí tem o dedo do Nelito! Nós fomos companheiros por onze anos.
Partilho com vocês uma experiência de transfiguração com Nelito, que me marcou muito. Foi a primeira ocupação de terra do Movimento Sem Terra em Governador Valadares, na Fazenda do ministério. Era uma fazenda do governo que, desde a época de Jânio Quadros estava para fazer a reforma agrária e não acontecia. Os fazendeiros e os grandes aproveitavam-se dessa fazenda, e quando houve a ocupação, foi uma bomba em Governador Valadares, Era um sábado, dia 2 de Agosto, dia de Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula, perdão de Assis. Estava um dia frio e eu fui lá no acampamento porque estava a maior confusão. E também na cidade, a polícia era muito truculenta, sempre com o histórico assim. De repente, chegou Nelito e nós ficamos ali. Já entardecendo, chega notícia, o Batalhão está vindo para fazer a desocupação. Eu tinha missa e Nelito também tinha um compromisso. A gente tinha que ir embora. As lideranças aproximaram-se de Nelito e de mim, e disseram: “Fiquem aqui conosco, nós mandamos avisar ao Comandante que tem dois padres aqui no meio, não falamos quem eram vocês, então eles não sabem. O que sabem é que tem dois padres aqui no meio, e assim, é possível, que eles, respeitando a igreja, por causa dos dois padres, não queira comprar essa briga, e é possível que nós não sejamos espancados e que eles não soltem bomba sobre nós”.
Claro que naquela hora você treme, o medo chega, mas naquela hora eu percebi que o meu sacerdócio não me pertence, meu sacerdócio falou mais alto, ficamos e podíamos ter morrido, se tivesse acontecido alguma coisa. Saímos no meio daquela multidão, já eram 18 h, já anoitecendo, vinham duas filas, do MST pela Rio Bahia e a Rio Bahia foi congestionando os dois lados. Levaram os acampados para a casa dos meninos, que era dirigido pelas “Irmãs Azuis” e que era sustentado em parte pela diocese e parte pelos grandes da sociedade. Ficaram debaixo de uma árvore na rodovia. Eu fui com Nelito negociar com as irmãs para que as mulheres e as crianças dormissem naquela noite fria numa quadra de esportes. Todos os grupos que apoiavam as irmãs cortaram as ajudas: um cortou a luz, outro cortou o leite, e todos deixaram de ajudá-las! Então, ali, vivemos uma profunda experiência de desfiguração e transfiguração.
Todos os dias a vida nos oferece a possibilidade de subir a montanha com tudo aquilo que nos desfigura, e descer da montanha com tudo o que nos transfigura. Que vocês tenham um dia belíssimo e bom, pleno de transfiguração.
Eu agradeço a todos vocês. Juntos, estamos fazendo o caminho de Nazaré, estamos juntos na comunhão com os nazarenos, estamos juntos na escola do Irmão Carlos e da Irmãzinha Madalena, estamos juntos com Jesus de Nazaré. Assim seja!
Colaboração: Pe. Nelito Dornelas e Magda Melo