A ADORAÇÃO EUCARÍSTICA

ADORAÇÃO EUCARÍSTICA


A Eucaristia, presença viva de Jesus, foi o centro da vida do irmão Carlos. Somos presbíteros e presidimos a oração eucarística do povo de Deus. Lidando com os mistérios da fé, podemos fazer uma experiência pessoal do mistério pascal de Jesus, transformando-o no ritmo e na pulsação de nossas vidas e do nosso ministério.


Esta experiência se faz primordialmente na celebração da missa, a oração do corpo ressuscitado de Cristo, e no serviço ministerial prestado ao povo de Deus. A fraternidade nos convida a permanecer nesta misteriosa presença em adoração silenciosa e contemplativa. Para o irmão Carlos, o mistério central da eucaristia era claro e profundo: Jesus dando sua vida por seu povo.


Esta oferta única se torna presente de forma simbólica, mas eficaz na simplicidade de nossa presença silenciosa diante de Jesus. A hora passada em atenta oração na presença eucarística prepara e prolonga a liturgia da missa com o povo de Deus. René Voillaume assim descreve essa realidade:


"Viver da eucaristia significa entregar-se pelo povo e tornar-se para ele, no amor e na contemplação eucarística, um alimento digno”. Na mesma linha das convicções do irmão

Carlos, os membros da fraternidade consideram o tempo dedicado à adoração como integrante do dia de trabalho. A adoração faz parte do programa do dia. A ela não se destina o tempo que sobrar, se sobrar. Uma hora diante do Santíssimo, cada dia, faz parte do programa diário dos membros da Fraternidade.


A experiência de Deus na vida do irmão Carlos foi tão marcante que ele compreendeu que não poderia viver a não ser para Deus. Estar junto de Deus seria uma atitude lógica e coerente se não fosse antes de tudo uma atitude de amor e amizade. Jesus é muito real para o irmão Carlos.



Ele nutre por seu Bem-Amado Senhor Jesus uma amizade afetiva que o leva a querer estar junto dele, em sua presença. Nossa presença diante do Santíssimo quer ser essa presença de amor e amizade. A presença não é sensível, é por vezes árdua, mas é na perseverança corajosa que algo novo começa a acontecer em nossa vida. É preciso experimentar.


A ADORAÇÃO - de Tony Philpot, 2012

No momento da ordenação presbiteral, o bispo impõe as mãos sobre o novo padre, pedindo ao Espírito Santo de torná-lo capaz de celebrar o mistério da Eucaristia. A Eucaristia é a verdade de Deus fazendo a sua morada no meio dos homens, é o dom de si de Jesus ao Pai, movido pelo amor para conosco, é nosso Senhor, o Bom Pastor, que nos alimenta com o Pão da Vida. A Eucaristia é o jeito pelo qual Deus nos chama a formar juntos um só corpo: o Corpo de Cristo. A Eucaristia é tudo isso e muito mais ainda. Não é um simples “serviço” prestado, ela é a revelação contínua do Mistério.

Quando padres novos, começamos a celebrar a missa com nossos paroquianos e era-nos impossível guardar conscientemente todas estas considerações em nossa mente. Após muitos anos, o desenrolar da celebração tendo ficado rotineiro, começamos a pensar mais nas implicações daquilo que estávamos celebrando. Apesar de nossa indignidade, estamos trazendo Deus à terra. Após a comunhão, fechamos o sacrário e ficamos com a chave. É como se nós prendêssemos nosso Senhor na vida dos fiéis, colocando-O onde eles podem encontrá-lo a qualquer hora do dia. Aos poucos, tomamos consciência de que Ele deve ser o centro de nossa vida. Precisamos desse dom para nós mesmos, de uma maneira urgente e contínua. Precisamos dele, Jesus, se não quisermos funcionar apenas de maneira superficial.

A adoração ao Santíssimo Sacramento, sendo exposto ou presente no sacrário, dá vida à nossa vida de padres. Significa que nós vivemos o Mistério que celebramos, que não agimos apenas para a edificação dos fiéis. Na hóstia sagrada nós reconhecemos o Senhor como São João o reconheceu após a Ressurreição, à beira do mar.

Charles de Foucauld construiu toda vida dele em redor da Adoração. Em qualquer lugar onde ele morava, organizava o seu espaço e seu tempo para poder ajoelhar-se diante de nosso Senhor e se entregar a Ele com amor e simplicidade. Os membros da Fraternidade Sacerdotal fazem o mesmo. Quando se encontram na reunião mensal, ficam uma hora em silêncio diante do Santíssimo Sacramento. Diariamente também, em qualquer momento do dia, nós introduzimos este elemento vital: estar presente junto d’Ele, para que Ele esteja presente junto de nós. Não é preciso formular uma oração. Trata-se, muitas vezes, do movimento do coração, como acontece quando nós desejamos alguém ou que os damos conta quanto ele fez falta para nós. Às vezes, temos um “feixe” de sentimentos e experiências a Lhe apresentar. Outras vezes, podemos apenas, com toda a simplicidade do coração, estar presente.

Esse momento de adoração sempre dá a cor ao resto do dia, porque nós sabemos para quem nós vivemos e da graça de quem nós dependemos. Jesus é o nosso exemplo. Desejamos, como Ele, viver com misericórdia, com paciência, amando o Pai com coragem, sabedoria e dom de si. Parece uma tarefa difícil mas, vivendo este tempo de contato íntimo com Ele, o impossível torna-se possível e nossas vidas são transformadas.