BOLETIM 144 - 2012

Da Redação

 

Irmãos e amigos leitores.

 

Vocês estão recebendo o Boletim das Fraternidades 144. Neste número publicamos excelentes reflexões que poderão ajudá-los a aprofundar na espiritualidade de presbítero diocesano. Os artigos estão voltados para a vida do Irmão Carlos e a espiritualidade presbiteral, valiosas contribuições dos nossos Irmãos Alain, Edson e Günther.

 

A agenda das Regiões apresenta uma vasta e rica proposta de encontros que podem proporcionar o aprofundamento e o conhecimento da espiritualidade da Família Espiritual do Irmão Carlos. Os encontros são sempre uma excelente ocasião para convidar os irmãos presbíteros a conhecerem e participarem da espiritualidade do Padre de Foucauld. 

 

As leituras indicadas neste Boletim destacam o Martírio, o Compromisso e a defesa do Meio Ambiente. Chamo a atenção para os seguintes títulos: Roraima entre profecia e martírio; Mártir da Criação, Doroty Stang. E voltado para nossa espiritualidade, o livro: Jesús de Nazaret, Hermano Universal, Espiritualidad de los mistérios de La vida de Cristo em Carlos de Foucauld.

 

Continuamos publicando a Missa em Honra do Beato Irmão Carlos de Jesus, que poderá ser celebrada por ocasião da memória de seu martírio no dia 1º de dezembro.

          

Pedimos aos irmãos que recebem o Boletim das Fraternidades que mantenham atualizado o endereço postal.

 

Desejamos, a cada irmão e aos amigos da Fraternidade, boa leitura.

 

1.       CARLOS DE FOUCAULD, PADRE DIOCESANO

 

 

Espontaneamente não vemos em Carlos de Foucauld a figura de um padre diocesano, mas, de preferência, a de um religioso eremita ou de uma vocação atípica "admirável, mas não imitável". Surpreende-nos, então, que padres diocesanos possam inspirar-se nessa figura para melhor viver seu ministério. Ora, Carlos de Foucauld foi de modo especial, canonicamente, um padre diocesano, e nunca deixou de progredir em sua maneira de ser.

 

Padre da diocese de Viviers

 

Ordenado padre aos 43 anos, no domingo, 9 de junho de 1901, na capela do Seminário de Viviers, aquele que se tornou "Padre" Carlos de Foucauld guardou sempre estreita ligação com seu bispo Dom Frédéric Bonnet. Quando passava pela França, nunca deixava de ir a Viviers para saudar seu bispo, que ele chamava de "pai" e com quem manteve uma correspondência regular: nada menos de 42 cartas em 15 anos. Ele presta contas de seu ministério, fala de suas preocupações, exprime sua afeição: "A cada dia, no Santo Sacrifício, rezo pelo senhor e por seu povo... Aqui, perto dos Tuaregues, a obra é um lento desbravamento moral. Empenho-me em preparar o caminho para aqueles que me seguirão, cativando, derrubando preconceitos, cultivando relações amigáveis" (Tamanrasset, 1909). Muitas vezes pediu, sem sucesso, a Dom Bonnet que lhe enviasse reforços. Pediu, também, que aprovasse seu projeto  de "Confraria dos irmãos e irmãs do Sagrado Coração de Jesus", agrupando leigos que se unem, como Priscila e Áquila de At. 18, para "serem zelosos e disciplinados auxiliares dos padres, religiosos e religiosas que trabalham para a salvação das almas e, principalmente, daqueles que trabalham pela conversão dos infieis das colônias da Mãe-Pátria" (Regulamento, art. preliminar). Dom Bonnet de fato aprovou, em 1909, os estatutos da confraria. Pouco tempo antes de sua morte, Carlos de Foucauld escrevia ainda a seu bispo, como parece ter feito todos os anos, no aniversário de sua ordenação: "A cada ano o mês de junho, trazendo o aniversário de minha ordenação, renova e aumenta minha gratidão para com o senhor que me adotou e que fez de mim um sacerdote de Jesus. De todo o coração, rezo pelo senhor, que me aceitou como filho há mais  de 15 anos, e rezo pela querida diocese de Viviers"  (Tamanrasset, junho de 1916). Nas respostas, Dom Bonnet manifestava seu interesse pela vida do padre, encorajava-o e não hesitava em contar-lhe suas próprias preocupações pastorais e mesmo pessoais. A relação assim estabelecida parece aquela que pode existir, hoje, entre um padre fidei donum e seu bispo.

 

Chegando, três meses depois de sua ordenação, à terra argelina, Carlos de Foucauld foi acolhido por Dom Guérin, prefeito apostólico de Ghardaia, e é sob sua autoridade que vai viver, daí em diante, seu ministério de padre, ligado também com o superior dos Padres Brancos, empenhado na evangelização do sul da Argélia. É a Dom Guérin, 14 anos mais moço que ele, que submeterá seus projetos, e dele esperará os discernimentos pastorais e autorizações necessárias, numa obediência ao mesmo tempo livre e afetuosa. Na verdade, não parece que ele tenha alguma vez recebido uma designação, mas sempre quis viver sua singular vocação dentro da comunhão pastoral.

 

À procura de um bispo

 

Antes de ser ordenado, durante aquele ano de 1900, quando, na Terra Santa, ele aceita tornar-se sacerdote e lapida seu projeto de vida, Carlos de Foucauld pergunta-se que bispo poderia ordená-lo e autorizá-lo a viver segundo a regra de seu Instituto dos Eremitas do Sagrado Coração (que se tornaria, em 1901, de modo significativo, o Instituto dos Irmãozinhos do Sagrado Coração). Seria a ocasião de rever suas raízes diocesanas: ele pensa primeiro no Cardeal de Paris, por causa de suas ligações com a capital onde morou por longo tempo, e onde se situa ainda seu domicílio. Lembra-se também que sua diocese de origem é a de Estrasburgo. Questiona-se, finalmente, se não seria preferível ser ordenado naquele lugar pelo Patriarca de Jerusalém, com a vantagem de "tornar-me conhecido por ele e por seus sacerdotes, estabelecer entre nós confiança e essa abençoada caridade, cujo nome, ao lado do de Jesus, eu tomo como divisa... a caridade... é o que menos reina sobre o clero, principalmente entre os numerosos religiosos da Terra Santa... e toda a minha vida será dedicada a abraçá-la com todos e entre todos" (Carta ao Padre Huvelin, 16 de maio de 1900). Nenhuma dessas hipóteses se concretizará: é para a diocese de Viviers, que conheceu por sua estadia na Trapa de Nossa Senhora das Neves, que ele se dirigirá.

 

O ano de 1900: por que tornar-se sacerdote?

 

Sabemos o quanto Carlos de Foucauld constantemente procura a vontade de Deus em sua vida: "Quanto mais eu vistorio minha alma, mais descubro uma única vontade: fazer aquilo que o Bom Deus quer de mim, seja o que for... fazer o que mais lhe agrade, mais o glorifique, aquilo em que há mais amor" (carta ao Padre Huvelin, outubro de 1898). Quando encara seu ministério, ele o faz à vista desse horizonte da certeza sobre sua vocação mais profunda "minha vocação é a de imitar Nosso Senhor em sua vida oculta" (carta ao Padre Huvelin, 26 de maio de 1900). Faltando poucos meses para a ordenação, ele ainda escreve: "Pretendo partir apenas para entrar mais profundamente na catacumba, na obscuridade, na vida mais humilde e mais abjeta, na oração e no trabalho" (carta ao Padre Huvelin, 22 de março de 1900). Contudo, a procura da humildade não pode afastá-lo do sacerdócio "uma missa oferecida vale mais do que todas as obras que eu possa fazer". Ele se vê como padre, no seu Instituto dos Eremitas do Sagrado Coração, tendo como objetivo: "levar, com alguns companheiros, a vida da SS. Virgem no mistério da Visitação: santificar os povos infieis levando para o meio deles, em silêncio, sem pregar, Jesus no SS. Sacramento e a prática das virtudes evangélicas" (carta ao Padre Huvelin, 7 de maio de 1900). Essa cena evangélica da Visitação, frequentemente meditada, tornar-se-á como que a regra fundamental de seu ministério, o segredo de suas escolhas. E, sem retomar todas as evoluções pelas quais passou a realização concreta de sua singular vocação sacerdotal, pode-se dizer que esta se tornou, cada vez mais abertamente, missionária e pastoral, sob o signo da caridade.

 

Uma pastoral do diálogo

 

Lendo as resoluções que Carlos de Foucauld anota ao fim de seus retiros preparatórios às ordenações e dos retiros anuais depois que se tornou sacerdote, sentimos que se desenha  certo perfil de ministério que tem tudo a ver com a missão de um presbítero. Assim escreve ele, por ocasião do retiro para o diaconato: "A mais perfeita imitação é imitar perfeitamente Jesus em um dos três gêneros de vida dos quais nos deu o exemplo: pregação, deserto, Nazaré. Com certeza não sou chamado à pregação, pois minha alma não é capaz; nem ao deserto, pois meu corpo não sabe viver sem comer; sou, pois, chamado à vida de Nazaré" (março de 1901). Ele vê esse ministério como o das mãos de Jesus, que distribuem os três pães: o da Palavra, o da Eucaristia e o pão material da hospitalidade, do cuidado dos doentes.

 

Em seu retiro em vista da ordenação presbiteral, ele se aferra principalmente a duas palavras de Jesus: "Levar o fogo à terra" e "Salvar o que estava perdido". Indagando-se onde poderá realizar-se seu ministério sacerdotal, escreve: "Lá aonde Jesus iria: à ovelha mais desgarrada, ao irmão de Jesus mais doente, aos mais desamparados... Em primeiro lugar aos infieis (Maometanos ou pagãos) de Marrocos e das regiões limítrofes da África do Norte" (junho de 1901). E quando se trata de prever o momento de realizar tal projeto, reaparece sob sua caneta a referência à Visitação, à pressa de Maria partindo para a casa de sua prima: "quando estamos cheios de Jesus, estamos cheios de caridade". Ele pretende informar seu bispo a respeito de seus projetos e pedir-lhe que "faça aquilo que achar que mais vai agradar ao Coração de Jesus"; e pedir autorização para, num primeiro tempo, viver na diocese de Viviers, com alguns companheiros, segundo a regra dos Irmãozinhos do Sagrado Coração.

 

Alguns dias após sua ordenação, relata a seu amigo Henri de Castries seu projeto de fundar na fronteira de Marrocos "uma pequena ermida onde alguns pobres monges pudessem viver numa restrita clausura de penitência e de adoração do SS. Sacramento, não saindo de seu recinto, não pregando, mas oferecendo hospedagem a quem viesse... É a evangelização, não pela palavra, mas pela presença do SS. Sacramento, pela oferta do divino sacrifício, a oração, a penitência, a prática das virtudes evangélicas,  a caridade – uma caridade fraterna e universal, repartindo até o último bocado de pão" (carta de 23 de junho de 1901). Em 1902, quando de seu primeiro retiro anual como padre, em Béni-Abbès, ele anota como primeira resolução: "Ser tudo para todos, com um único desejo no coração, o de dar a todos Jesus". Quando a insegurança se tornou mais cerrada à volta de Béni-Abbès, começou a sonhar em ir mais ao sul, para junto dos Tuaregues, e transformar-se de monge enclausurado em apóstolo itinerante, levando a semente do Evangelho não pregando, mas conversando, para preparar, iniciar a evangelização dos Tuaregues. E quando afinal se instala em Tamanrasset, insiste, nas notas do retiro de 1909, sobre "tomar o hábito de ver Jesus em cada ser humano". Quanto mais avança na experiência do ministério, mais se inflama dessa caridade pastoral que é a do Cristo Pastor e Salvador, Cristo recebido e contemplado tanto na Eucaristia como no irmão humano. É o que Carlos de Foucauld, poucos meses antes de sua morte, confia a Louis Massignon: "Creio que não há no Evangelho palavra alguma que me tenha impressionado mais do que esta: 'Tudo o que fizerdes a um desses pequeninos, é a mim que o fazeis'. Se sonhamos que essas palavras são as da Verdade incriada, da mesma boca que disse: 'isto é meu corpo, isto é meu sangue’, com que força somos levados a procurar e a amar Jesus nesses 'pequeninos’, nesses pecadores, nesses pobres..." (agosto de 1916).

 

Para reler

 

Esse percurso na experiência do mistério que foi vivida por Carlos de Foucauld, "sacerdote livre da diocese de Viviers" como ele gostava, às vezes, de se definir, faz descobrir e aprofundar, no padre diocesano que sou, os três pontos seguintes, que me limito a assinalar:

- O liame de obediência, livre e afetuoso, com o bispo, primeiro pastor da Igreja diocesana, verdadeiro pai, que envia, autentica, encoraja e, às vezes, faz esperar.

- A complementaridade dos itinerários no presbitério: cada vocação sacerdotal é singular e complementar. O múnus comum do anúncio do Evangelho precisa daqueles que preparam o terreno, assim como daqueles que vão semear e regar. Não pode dispensar, igualmente, a colaboração de Priscila e Áquila.

- Tendo em vista que a pregação não é sua vocação, mas sem dúvida ele foi chamado ao sacerdócio, Carlos de Foucauld nos mostra um dos caminhos necessários à evangelização: dialogar, amar. "A Igreja se faz diálogo" (Paulo VI, Ecclesiam Suam, 67).

 

                                                    Alain FOURNIER-BIDOZ

 

                                                    Trad. Sarah Barbosa.

2. IRMÃO CARLOS MONGE OU MISSIONÁRIO?

 

A. PONTO DE PARTIDA

 

A problemática da missão na atualidade 

 

Desde o início, quando comecei a preparar esta reflexão, chamou-me a atenção a palavra “missão”. O tema “missão” está muito atual na nossa Igreja hoje. Basta olhar o tema da V. Conferência Episcopal da América Latina em Aparecida: Os Discípulos Missionários. Além disso, olhando para as nossas dioceses, qual delas ainda não promoveu “missões populares? Para que? O que está por detrás? Será que é para reconquistar os 20 ou mais por cento de católicos que já migraram para as igrejas crentes pentecostais e neo-pentecostais? Será que é isto o objetivo da missão? Missão como reconquista? Em todo caso, pode-se verificar a preocupação da Igreja católica diante do atual estado de coisas. Como entender a missão? Qual o objetivo da missão? Como fazer missão hoje e na cidade? Tentarei em seguida apresentar alguns dados que, penso, que poderiam ajudar a nossa reflexão.

 

O Novo Testamento 

 

Jesus Cristo envia os seus discípulos - O Jesus histórico veio para anunciar o Reino de Deus. Parece, assim como também o povo judeu, não se entendeu como missionário, mas como alguém enviado para reunir o povo disperso de Israel. “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas de Israel” (Mt 15,24). “Quantas vezes quis reunir teus filhos como a galinha recolhe seus pintinhos debaixo das asas, mas não quiseste!” (Lc 13,34). Por outro lado, os Evangelhos e os Atos relatam que Jesus ressuscitado enviou os discípulos em missão. “Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês” (Mt 28,19-20). “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. Quem acreditar e for batizado será salvo. Quem não acreditar será condenado”. (Mc 16,15-16). “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio” (João 20,21). “O Espírito Santo descerá sobre vocês e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém em toda Samaria e até os extremos da terra” (At 1,8). A Igreja desde o início anunciou Jesus ressuscitado e empreendeu uma vasta atividade missionária. Paulo: “Ai de mim, se não anunciar o evangelho” (1 Cor 9,16). Interessante uma nota da primeira comunidade de Jerusalém: “Eles louvavam a Deus e eram considerados diante de todo o povo, e o Senhor aumentava todos os dias outras pessoas” (At 2,47). A comunidade era interessada em missão ou crescia pelo testemunho vivido?

 

O Magistério

 

O Vaticano II. Duas afirmações: A Igreja peregrina é por sua natureza missionária (Ad Gentes 2).  A Igreja sal da terra e luz do mundo é chamada com mais insistência a salvar e renovar toda criatura, para que tudo seja restaurado em Cristo e nele os homens constituam uma só família em Cristo e um só Povo de Deus (Ad Gentes). Paulo VI. Dez anos após o Concílio publica “Evangelii Nuntiandi” (1975). Estudar o modo de fazer chegar ao homem moderno a mensagem cristã (EN 3). É a salvação dos homens que está em causa; é a beleza da revelação que ela representa (EN 5). 

 

Missão ou Evangelização? 

 

A palavra chave é “evangelização”. Qual a diferença?João Paulo II. Vinte e cinco anos após o Concílio publica a sua primeira Encíclica “Redemptoris Missio” (RM 1990). A validade permanente do mandato missionário. Sua preocupação:A missão específica ad gentes parece estar numa fase de afrouxamento. É dando a fé que ela se fortalece (RM 2).  => preocupação com o avanço do Islã. De João Paulo vem também a expressão muitas vezes repetida. A “nova evangelização”. Nova em paixão (ardor), em modalidades (métodos), em expressão. Aparecida. Discípulos e missionários. A Conferência de Aparecida volta a usar a palavra “missão”. Como pensar: A situação do Cristianismo (da Igreja Católica) no mundo frente ao Islamismo?A situação da Igreja Católica (no Brasil) frente às Igrejas Neo-Pentecostais?

 

A História da Missão 

 

Até Constantino. O sangue dos mártires é semente de novos cristãos. Paulo missionário, fundador de comunidades cristãs?  => Celso Pedro. A partir de Constantino: Casamento Igreja e Estado, Igreja e Poder, sagrado e profano. O Cristianismo se torna religião do Estado. As pessoas se tornam cristãos porque o Estado agora é cristão. Agora o Imperador Romano, mais tarde os Reis são os missionários. Onde fica o fator “decisão pessoal”? A Igreja cresce em número à sombra do poder do Estado? Na Europa de Carlos Magno se batizavam os príncipes e automaticamente todos os súditos adotavam a fé. Na época de Lutero na Alemanha valia o princípio “cujus régio, ejus et religio”! O que pensar das cruzadas? São Francisco! A missão dos Jesuítas na Ásia, Francisco Xavier (1506-152), Matteo Ricci (1552-1610) na China e Roberto de Nobili (1577-1656) na Índia: não houve êxito devido a proibição do Magistério de inculturação e de adotar na liturgia elementos culturais daqueles países. 

 

Coréia foi evangelizada por leigos! As Filipinas foram evangelizadas pelos espanhóis. A missão na América Latina é uma história de “cruz e espada”.  A missão na África foi entregue às Ordens e às Congregações Religiosas. Os missionários junto com o Evangelho trouxeram a sua cultura e tentaram melhorar as condições de vida (modelo desenvolvimentista). Esquema das estações missionárias. Daí a acusação de que a Igreja missionária é colonizadora. => Minha impressão na África.

 

Pergunta: É correto dizer que o cristianismo se espalhou a partir de 1500 à sombra do poder conquistador dos Europeus? Como seria a presença da Igreja no mundo sem este casamento? Como responder a acusação: A missão da Igreja a serviço da colonização é dominadora e intolerante? Hoje propagamos o diálogo inter-religioso. Tentamos reconhecer/aceitar as outras religiões. Como fica a missão? Como pensar a tese de Bento XVI, que defende a verdade contra todo relativismo.

 

Resumo

 

O Concílio diz que a Igreja é por essência missionária. Paulo VI escreve a encíclica “Evangelii Nuntiandi”. Com isso ele dá um enfoque diferente. A partir desta encíclica todos os documentos da CNBB falam em evangelização. Como entender a diferença entre missão e evangelização? João Paulo II intitula sua primeira encíclica “Redemptoris Missio” e volta usar o termo missão. Penso que sua preocupação está no avanço do Islã. De João Paulo II é também a expressão “Nova Evangelização” frente à secularização da Europa. Os bispos de Aparecida falam dos discípulos missionários. Sua preocupação está no avanço das igrejas pentecostais e neo-pentecostais. Desta maneira a missão não se torna uma questão de reconquista e de poder? Como entender a missão?

 

B. IR. CARLOS MONGE

 

A vida de Ir. Carlos tornou-se para nós padres da Fraternidade Sacerdotal uma fonte de inspiração que pode ajudar-nos a viver a nossa fé. Ir. Carlos foi missionário? 

 

A vida monástica, o Absoluto de Deus

 

Ao contrário do tema “missão”, o tema a respeito da vida monástica carece de atualidade. Será? Como explicar a preferência dos padres jovens pela liturgia, carregar o ostensório com o santíssimo sacramento? A importância que dão para os paramentos e a roupa clerical. Vontade de ser diferentes, de se distinguir dos não-clérigos. Estas atitudes são expressão de uma vida monástica ou de uma vida clerical? Existe uma diferença entre vida clerical e vida monástica? Qual a diferença? A vida monástica é um fenômeno não apenas do cristianismo, mas de todas as religiões. Lembro-me de quando estive na Tailândia e vi os jovens monges budistas. Pertence à cultura daquele país que os jovens devem passar por um estágio de vida monástica. São bem visíveis com sua túnica cor de laranja. Passam por uma experiência de mendigar a comida, de oração prolongada. Certamente marca a cultura desse país.

 

Características da vida monástica. O monge sai do mundo; ele deixa tudo para trás, para se dedicar só exclusivamente a Deus na oração e na ascese. Muitos monges viviam como eremitas, mais tarde Pacômio introduziu a vida comunitária entre os monges (Cenobismo). A vida monástica foi caracterizada como fuga do mundo, cultivo da liturgia e da arte sacra. Como explicar este movimento? Quais as origens? Parece que a pesquisa não tem uma resposta única. Partindo dos fatos: os primeiros monges cristãos viviam no Egito, surgiram nas comunidades da Igreja Oriental e só mais tarde também na Igreja Ocidental surge vida monástica. Em Alexandria/Egito (desde 300 a.C.) se encontrava a mais numerosa comunidade judaica, no meio de uma cultura estrangeira e por isso famosa pela sua escola de filosofia e de teologia. Seria este o chão para se desenvolver a vida monástica? 

 

Outras hipóteses: Os monges são descendentes dos Essênios? O movimento tem alguma coisa a ver com a nova situação da Igreja após o Edito de Milão em 313? Agora não era mais perigoso ser cristão e depois da Igreja dos mártires, a Igreja tornou-se uma Igreja popular. O movimento monacal seria um novo esforço da Igreja para viver radicalmente o seguimento de Jesus?A busca por Deus condiz à condição humana e a vida monacal seria sua expressão? Santo Antão é considerado o pai da vida monástica cristã. Os primeiros monges eram eremitas. Mais tarde com Pacômio reuniram-se em comunidades e começaram viver uma vida comunitária (Cenobitas). O fundador na Igreja Ocidental é Bento de Núrsia. Sua regra “ora et labora”.

 

Resumo

 

Os monges fugiram do mundo, para se dedicar à oração, eles se submeteram a pesados exercícios de penitência. Mas também: eles trabalharam a terra e desde o início cuidaram dos doentes, ensinaram as crianças nas escolas, ajudaram aos agricultores transmitindo novas técnicas e experiências, se tornaram centros de pesquisa. O que pensar disto? Estas atividades não poderiam ser consideradas atividades missionárias? Por exemplo, os Beneditinos, os Cistercienses, os Eremitas Agostinianos. Na maioria os monges se consideraram leigos e tinham uma atitude de reserva diante do sacerdócio. Mas com o tempo aceitaram ser ordenados e formaram duas classes, os monges clérigos e os monges laicos.

 

Ir. Carlos e o Absoluto de Deus.

 

Ir. Carlos começou a sua vida cristã como monge. Numa carta a Henry de Castries, em 14.08.1901 ele escreve “Tão logo acreditei que Deus existia, compreendi que não pude fazer outra coisa senão viver para ele” . Na mesma carta ele escreve “eu gostaria de ser religioso viver só para Deus, fazer o que for o mais perfeito, o que quer que seja”   Ir. Carlos quis ocupar não um lugar mais baixo, mas o último lugar. Deus se tinha tornado o Absoluto, típico de um monge. Deixar a sua família para ele era um sacrifício, significava passar por uma morte. “O maior sacrifício para mim, tão grande que diante de todos os outros deixam de existir, é a separação definitiva de uma família adorada e de amigos pouco numerosos, mas a quem meu coração está fortemente ligado” . Depois de procurar diferentes possibilidades ele se decidiu pelos Trapistas e ingressou em 15 de janeiro de 1890 no mosteiro “Notre Damedes Neiges”, porque foi o mais pobre e com a perspectiva de ir para um mosteiro recém fundado em Akbés na Síria. A seu amigo Duveyrier Ir. Carlos escreve em 24.04.1890. “Por que entrei na Trapa? Por amor, por puro amor. Amo Nosso Senhor Jesus Cristo, embora com um coração que desejaria amar mais e melhor; enfim, eu o amo e não posso suportar levar uma vida que não seja a dele, uma vida doce e honrada, quando a dele foi difícil e a mais desdenhada que já houve; não quero atravessar a vida na primeira classe, quando ele a atravessou na última” . Em 1906 Ir. Carlos escreve a Padre Caron: “Não sou missionário: o bom Deus não me dotou do necessário para isso”  . Em 1907 escreve a Dom Guérin: “Sou monge, não missionário; feito para o silêncio, não para a palavra” . Os missionários no Saara eram os Padres Brancos. Na minha avaliação Ir. Carlos considerou-se a si mesmo monge até o fim de sua vida. Sua vocação não era a pregação da palavra. Mas a sua compreensão da vida monástica evoluiu muito. Ainda em Beni Abbès ele marca com pedras a sua clausura. Não mais em Tamanrasset. A vida do Ir. Carlos é um caminhar constante, de etapa para etapa. Após seis anos ele deixa a Trapa e vai como monge para Nazaré, viver a vida de Jesus em Nazaré. 

 

Para aprofundar: Existem elementos da vida monástica nos padres diocesanos? A liturgia das horas? Penso em nós mesmos que queremos seguir os traços de Ir. Carlos, a adoração, o dia de deserto. É possível viver o Absoluto de Deus como padre diocesano? 

 

C. IR. CARLOS MISSIONÁRIO? 

 

Ir. Carlos padre diocesano.

 

O monge trapista Marie Alberic deixa a Trapa para ser fiel consigo mesmo e para viver a sua vocação específica de imitar a vida oculta de Jesus em Nazaré. Lá, num convento de irmãs Clarissas, ele continua a viver como monge, com uma radicalidade ainda maior, dedicando a maior parte do seu tempo à oração. Depois de três anos ele deixa Nazaré. Ele agora quer ser padre, o que até este momento sempre negou. O que aconteceu?Não encontrei no livro de pesquisa de A. Chatelard esta referência, mas outros autores relatam que em Akbès durante o massacre dos cristãos armênios (a estimativa é de mais de 60 mil mortos), Ir. Carlos pela primeira vez sentiu a vontade de ser padre, porque como padre poderia administrar os sacramentos a esses massacrados.

 

Ir. Carlos era um homem ativo. No entanto durante os três anos em Nazaré, não tinha grandes atividades a fazer. Ele fazia o que? Viver só de contemplação? Talvez fosse isso que a abadessa do mosteiro das Clarissas em Jerusalém Madre Elisabeth sentiu, que Ir. Carlos poderia fazer uma coisa a mais, ela queria vê-lo padre e torná-lo capelão das Clarissas. Queria também que ele acolhesse companheiros e achou que aos 40 anos era tempo de deixar a vida de Nazaré e passar para vida de obreiro evangélico . Pe.  Huvelin não aprovava estas idéias e quis que Ir. Carlos voltasse para o mosteiro das Clarissas em Nazaré. Ir. Carlos volta e faz um retiro de 60 dias. Após o retiro numa carta datada de 27 de abril de 1899 a Huvelin ele agradece a Deus por “ter-me recolocado em minha vocação e afastado dos perigos de Jerusalém. Não mais irei a Jerusalém”  . Ainda no dia 8 de fevereiro de 1899 Ir. Carlos escreve numa carta a Huvelin: “foi o senhor que me defendeu das tentações da inconstância, do retorno à Trapa, do sacerdócio, às quais, não fosse o senhor, eu teria sucumbido” . Apenas um mês mais tarde em março de 1899 Ir. Carlos quer fugir do “doce ninho de Santa Clara” onde era “muito mimado”. “Vejo que a minha situação aqui é falsa, sou inútil” . Ir. Carlos quer fugir de Nazaré, quer se estabelecer num lugar qualquer no campo, perto de Nazaré, ou trabalhar num hospital das Irmãs Vicentinas e cuidar dos doentes. Quer comprar o Monte das Bem Aventuranças e doá-lo a uma congregação. Havia, segundo ele, oito possíveis. E se ninguém quisesse, “seria preciso que ele mesmo lá se instalasse e, portanto, que fosse padre e se preparasse para o sacerdócio” . Ir. Carlos parecia não ter consciência de que essa vida nova de imitação de Jesus no sacerdócio, as obras de beneficência, a administração dos sacramentos, já não tinha nada a ver com a vida de Jesus em Nazaré.  A reação do Pe. Huvelin numa carta escrita de 20 de maio de 1900. “Não creio que essa idéia de padre eremita seja de Deus” . Seguindo uma orientação de Pe. Huvelin, Ir. Carlos se apresenta com seu projeto de compra do Monte das Bem Aventuranças ao Patriarca de Jerusalém. Ele lhe apresenta sua regra para os Eremitas do Sagrado Coração, mas sem êxito. Contudo, o fracasso junto ao patriarca não fora para Ir. Carlos um sinal para que renunciasse a seu projeto de sacerdócio, aparentemente contrário a sua vocação. Enfim, ele gostou de não ser atendido pelo patriarca porque possibilitou a viagem para Paris. Esta viagem era para Ir. Carlos muito importante, ainda mais que, para conseguir o dinheiro da compra, ele quase tinha prometido aos seus parentes de se tornar padre; essa seria uma ocasião para visitá-los .  Assim que chegou a Paris, ele se apresenta ao Pe. Huvelin. “Meu desejo quanto às santas ordens permanece firme, mas todo o resto é duvidoso” . Pe. Huvelin escreve numa carta a Marie de Bondy 17 de agosto de 1900. “Ele quer ser padre. Eu lhe indiquei o caminho” . Ir. Carlos a Marie de Bondy 3 de setembro de 1900: “O senhor padre (Huvelin) concluiu que eu devia, apesar da minha indignidade, receber o sacramento da Ordem e oferecer o divino sacrifício” . 

 

Afinal porque Ir. Carlos se tornou padre?  Pe. Huvelin: “Algo mais forte o impulsionou, tenho só que admirá-lo e amá-lo”  . O que seria esse algo a mais? Após 10 anos de contemplação, a vontade de fazer, criar, trabalhar em alguma coisa, servir, ser útil, ser eficaz. Já em 1980 três meses depois de seu ingresso na Trapa, Ir. Carlos numa carta ao seu amigo Henri Duveyrier escreve: “É impossível querer amar a Deus sem querer amar os homens” . Como padre diocesano Ir. Carlos ainda é monge? Ele quer oferecer o divino sacrifício. Aos 9 de junho de 1901 Ir. Carlos é ordenado padre por D. Bonnet, bispo da diocese de Viviers na França. A partir de sua ordenação – como consequência? – se pode observar uma grande mudança na vida do Ir. Carlos. A vontade de “estar com Jesus” que até agora determinava sua vida, cede à vontade de “estar com as pessoas”.

 

Pergunta: Esta mudança de orientação é consequência do seu novo estado de ser padre? Ou a mudança de orientação já se tinha operado anteriormente e está na raiz do seu desejo de querer ser ordenado?

 

A maneira de Ir. Carlos entender a missão.

 

Beni Abbès - Depois de ser ordenado Ir. Carlos precisa tomar uma decisão: Aonde ir? “Não num lugar em que se encontrem mais probabilidades humanas... dinheiro, terrenos, apoios... mas num lugar onde Jesus iria, à ovelha mais desgarrada, ao irmão mais doente, de Jesus, aos mais abandonados, aqueles que têm menos pastores, àqueles que se encontram nas mais densas trevas” . “É preciso ir, onde as almas são mais necessitadas” . Pela primeira vez Ir. Carlos fala em Marrocos. Pergunta: Estes pensamentos não surgem de um espírito missionário? Ele quer ser missionário Marrocos, mas por ser impedido de ingressar neste país, ele escolhe Beni Abbés, um oasis na fronteira, com a intenção de estar o quanto mais perto desse país. 

 

Ser missionário de que jeito? “Este divino banquete do qual eu me tornava ministro devia ser apresentado não aos pais, aos vizinhos ricos, mas aos coxos, aos cegos, aos pobres, isto é, às almas mais carentes de padres” . Como Ir. Carlos entende missão? (1) simplesmente pela presença da eucaristia, que para ele significa oferecer-se a si mesmo. (2) pela fraternidade vivida. Olhando a sua vida em Beni Abbès, ele quer ser irmão de todos, irmão universal. Seu desejo no início, um tanto idealista, tornou-se concreto só ao longo do tempo, em Tamanrasset. Ele ainda precisou aprender que, para ser irmão é preciso tornar-se pequeno e sem importância. Em Beni Abbès, Ir. Carlos fica apenas dois anos (1902 e 1903) Lá ele enfrenta a escravidão.  

 

Tamanrasset - Ir. Carlos vivia uma vida de fronteira em fronteira. Tamanrasset é a última etapa do caminho. Em Tamanrasset Ir. Carlos viveu 11 anos (1905-1916) no meio de uma população de pouquíssimas famílias, que sempre desconfiava dele e mantida distância e que no início não se importava muito. Por não ser aceito, ele vivia isolado no outro lado do oued. Em Tamanrasset elabora um dicionário da língua Tuareg, estuda os costumes, quer melhorar as condições de vida e para concretizar isto, pensa nos leigos, numa perfeita mentalidade de monge-missionário para melhorar as condições de vida dos Tuaregues. Ele anseia que os muçulmanos aceitam o cristianismo, mas ao mesmo tempo isto não é a sua meta imediata.

 

Ir. Carlos missionário?

 

Numa carta a Pe. Caron em 1906 (já em Tamanrasset) ele escreve: “Não sou missionário: o bom Deus não me dotou do necessário para isso. É a vida de Nazaré que procuro levar aqui” . Ao mesmo ele quer “Gritar o evangelho com a vida”. Em 1907 escreve a D. Guérin: “Sou monge não missionário, feito para o silêncio, não para a palavra” . Em 28 de março de 1908 escreve a um cunhado: “continuo sendo monge, monge em região de missão, monge missionário, mas não missionário” . Encontramos a mesma expressão “monge-missionário” numa outra carta, escrita ao Pe. Crozier . Pe. Gorrée que junto com Pe. Peyriguère, era um dos primeiros seguidores de Ir. Carlos apresentou-se a si mesmo como o primeiro integrante da “Ordem dos Monges-Missionários do Padre de Foucauld”. Ele via na denominação “monge missionário” a feliz expressão da função dupla que Pe. de Foucauld pretendia lhes confiar. Entrar em contato direto com os autóctones por meio do ministério da caridade . Ir. Carlos claramente não se sente chamado a pregar o Evangelho. Ao mesmo tempo quer gritar o Evangelho com a vida. Ele quer viver a vida oculta de Jesus em Nazaré. 

 

Leitura dos Irmãozinhos e das Irmãzinhas

 

A interpretação (leitura) de Carlos de Foucauld feito pelos Irmãozinhos de Jesus, pelos Irmãozinhos do Evangelho e pelas Irmãzinhas de Jesus (Soeur Magdeleine). A primeira congregação religiosa masculina, os “Irmãozinhos de Jesus”, que querem trilhar o caminho de Ir. Carlos e que surgem com e ao redor de Pe. Voillaume, querem viver uma vida estritamente contemplativa. Para ganhar a sua vida eles trabalham, mas não aceitam envolver-se em atividades pastorais. Na década de 1970 uma parte inclusive o próprio Pe. Voillaume se separa e funda uma segunda congregação os “Irmãozinhos do Evangelho”, que após um tempo de inserção, também aceitam exercer atividades pastorais como párocos. Se não me engano, li ultimamente uma notícia de que um irmãozinho do Evangelho teria aceito até ser bispo? As Irmãzinhas de Jesus captaram bem o espírito missionário de Ir. Carlos sob a palavra: “apostolado da amizade” Ir. Carlos em 1909 escreve: Meu apostolado deve ser o apostolado da bondade; ao me verem, as pessoas devem dizer: “Sendo esse homem tão bom, sua religião deve ser boa” . Numa época em que não era raro ouvir: “Fora da Igreja não há salvação” ele confessa a um amigo protestante: “Estou aqui não para converter os tuaregues de uma só vez, mas para tentar compreendê-los... Não se deve falar diretamente a eles de Nosso Senhor, isso os faria fugir. É preciso que possam sentir-se em confiança, que possam sentir-se amigos; é preciso prestar-lhes serviços, estabelecer laços de amizade, exortá-los discretamente a seguir a religião natural . Por outro lado veja o desejo de Ir. Carlos: Será que as gerações que nos seguirão verão essas almas do norte da África dizerem juntos: Pai Nosso que estás nos céus...? Não sei, é o segredo de Deus, mas um dever trabalhar para isso com todas as forças. É a prática do segundo mandamento.  As três congregações têm fraternidades espalhadas no mundo inteiro – a universalidade! – é claramente um traço missionário.

 

D. CONCLUSÕES

 

Nós, padres diocesanos da Fraternidade Sacerdotal que descobrimos em Ir. Carlos o nosso modelo de seguimento de Jesus Cristo, o que podemos aprender? Entendo que o Ir. Carlos pode nos ajudar a conceber uma nova maneira de missão. 

 

1. Gritar o Evangelho com a vida. Viver o evangelho antes de anunciá-lo é muito exigente!

2. Viver o Evangelho não como eremitas, mas em pequenas comunidades, as Comunidades Eclesiais de Base – em convivência fraterna interna. Viver como irmão, ser irmão, segundo o modelo da primeira comunidade em Jerusalém (At 2.42-44).

3. Tornar missionárias as comunidades: centros de irradiação do evangelho. 

4. Encarnação-inserção: Viver o evangelho inserindo-se na vida de um povo. Conhecer sua cultura, sua religiosidade. Viver no meio do mundo, “au coeur dês masses”, nas encruzilhadas do mundo! Tais encruzilhadas, quais são elas?

5. Ter em vista não apenas o anúncio da palavra, mas a vida toda. Paulo VI: O evangelho deve dirigir-se a todos os homens e ao homem todo, dizia Paulo VI. Querer melhorar a qualidade da vida. Respeitar no homem e na mulher sua dignidade e liberdade. 

 

Por fim, para aprofundar: Eu mesmo nunca me senti missionário. Aprendi do Ir. Carlos, de Teilhard de Chardin, do Concílio que Deus está presente na vida das pessoas antes de mim. Como fica então a missão? Eu posso ajudar uma pessoa para que possa descobrir esta presença. Como? Pelo diálogo, pela aproximação, pela partilha da vida, pela amizade, pela fraternidade, por meu testemunho de vida. Pergunta: Esta visão não é um tanto idealista? Se por exemplo os Espanhóis – e já antes outros missionários – teriam observado esta orientação América Latina seria hoje um continente cristão? “Missão como inserção” versus “Missão como conversão”. Converter para aderir uma outra  religião ou para uma outra igreja? Como entender “conversão”? É certo dizer que “Ninguém converte ninguém”!?  Conversão não pode significar imposição (proselitismo). Conversão é um processo, uma busca que provoca uma mudança interior numa pessoa. 

 

 

3. ESPIRITUALIDADE DO PRESBÍTERO

“O êxito da evangelização depende, em grande parte, da espiritualidade e da mística de quem evangeliza” (Doc CNBB 45 n. 186). “O cristão do Século XXI será um místico ou não será nada” (Karl Rahner). O texto das Diretrizes da Ação Pastoral da Igreja no Brasil e a palavra do grande teólogo me marcaram profundamente e me impulsionaram na busca e na vivência da espiritualidade do presbítero diocesano.

Ponto de partida desta espiritualidade encontra-se no documento Presbyterorum Ordinis do Concílio Vaticano II: “Agindo como o Bom Pastor, (os presbíteros) encontram no próprio exercício da caridade pastoral o caminho da perfeição sacerdotal que os leva à unidade entre a vida e a ação. A caridade pastoral provém principalmente do sacrifico eucarístico, centro e raiz de toda a vida do padre, que deve procurar viver o que faz no altar... Não se pode separar a fidelidade de Cristo da fidelidade à Igreja. A caridade pastoral exige que os padres não trabalhem em vão, mas sempre em comunhão com os bispos e demais sacerdotes” (P O, 14). 

A caridade pastoral, portanto, é a marca registrada e constitui igualmente o eixo integrador da vida e do ministério do presbítero. Ela possui dupla face: amor apaixonado pelo Irmão e Senhor Jesus e entrega incondicional ao serviço dos irmãos e irmãs que Ele confia ao nosso ministério. “Por causa da profunda fé, amor e esperança que têm por Jesus Cristo, referência absoluta para a compreensão do mistério e ministério sacerdotais, vocês são capazes de cuidar com carinho da parcela do povo de Deus que lhes é confiada. É pela entrega sem reservas ao seguimento de Jesus que se entende a dedicação de vocês no exercício do ministério” (Carta aos Presbíteros, Doc  CNBB 75, n. 05).

“Os presbíteros são chamados a prolongar a presença de Cristo, único e sumo Pastor, atualizando seu estilo de vida e tornando-se como que sua transparência no meio do rebanho a eles confiado” ( PdV 15) Esta tônica perpassa a Pastores Dabo Vobis e se traduz com uma imagem viva e desafiadora na sua conclusão: “Vós caríssimos presbíteros, fazeis isto porque o próprio Senhor, com a força do seu Espírito, vos chamou para levar, nos vasos de barro de vossa vida simples o tesouro inestimável de seu amor de Bom Pastor” (PdV 82).

Ser epifania, transparência, ícone, sacramento do Cristo Pastor constitui o cerne da identidade e da espiritualidade presbiteral (cf. PdV 15, 21, 25, 49, 72). Tal é o tesouro que carregamos em nossos frágeis vasos de barro. Cristo é quem se faz presente na pessoa e no ministério do presbítero. Quem dele se aproxima deve encontrar o rosto, o coração, as atitudes e os gestos do Bom Pastor. “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”: costumava dizer o Santo Cura d`Ars.  Conta-se que Dom Hélder Câmara em visita pelo sertão encontrou, certa vez, uma velhinha que carregava com carinho uma estatueta do Padre Cícero. Perguntou-lhe o que significava para ela o Padim Cícero. Ela respondeu: “Ele é o próprio Sagrado Coração de Jesus”. Aparentemente,  uma heresia. Mas, o Dom conseguiu captar o que ela realmente queria dizer.: “Para aquela senhora, nada há de mais sublime que o Coração Jesus, Deus que nos ama com coração humano. Mas agora Ele está invisível e se faz presente no padre que acolhe, perdoa, aconselha, continua a sua missão salvadora entre nós”.

Misericórdia e justiça são os dois fios condutores sempre presentes na pregação e na prática de Jesus, manifestações de sua caridade pastoral.  “A terna misericórdia do coração de nosso Deus” ( Lc 1,78), o amor materno de Javé revelam-se de modo pleno e definitivo naquele que se auto intitulou Bom Pastor e devem iluminar a prática daqueles que são chamados a apascentar, em seu nome, as multidões que vagueiam errantes pelos vales e montanhas, periferias miseráveis das cidades, florestas e sertões esquecidos de nossa terra.

A relação de Jesus com as multidões, que concretamente são as maiorias empobrecidas e esvaziadas de sua memória e de suas utopias, testemunha a fome e a sede de justiça que Ele mesmo experimenta na medida em que se aproxima, comove-se e se compadece (cf Mc 6,36). Não são duas realidades distintas, a misericórdia e a fome e sede de justiça. Antes, a ambas o Senhor vai chamar de bem-aventuranças, isto é, virtudes precípuas e inseparáveis dos discípulos do Reino. Nesta chave, o amor pastoral aparece cheio de afeto, ternura, comunhão interpessoal ao mesmo tempo que pleno de solidariedade e compromisso social e político pelos marginalizados e excluídos, abandonados à própria sorte pelas elites egoístas, avarentas e insaciáveis de ontem e de hoje.

 Nesta ótica, a evangélica opção preferencial pelos pobres precisa se assumida como valor inquestionável da espiritualidade cristã, assim como é a Palavra, a Eucaristia, a veneração à Maria. A espiritualidade na América latina tem três referências irrenunciáveis: a) a redescoberta do lugar privilegiado dos pobres no plano de Deus; b) a solidariedade com o povo e o apreço para com a sua espiritualidade, na qual a fé do presbítero aprofunda suas raízes; c) o compromisso com as opções pastorais da Igreja Local, amadurecidas na “comunhão e participação” de todos.

“Caminho de santificação para o presbítero é o próprio exercício do seu ministério, de modo a tirar dele todo o proveito espiritual” (PO 13). A pastoral toda deve ser vivida como grande celebração, como preparação e prolongamento da Eucaristia. O erro do ativismo não está na quantidade de atividades, mas no modo precipitado, irrefletido e desconexo de desenvolvê-las. A evangelização exige ação refletida e conseqüente, disciplinada e exigente. Trata-se aqui de aprender a beber no próprio poço do nosso ministério. Levando à prática essa lúcida intuição do Vaticano II, superam-se falsos dualismos que opõem contemplação e ação, unidade e diversidade, oração e pastoral, pois ensinando, o presbítero também escuta e aprende com os fiéis; pregando a Palavra, é também evangelizado; celebrando os sacramentos e santificando, o presbítero também ora e se santifica; servindo e coordenando a comunidade, torna-se sacramento do Bom Pastor. Deste modo a santidade do presbítero irradia-se sobre a comunidade e ele se torna para o povo o que João XXIII desejava ser: “uma fonte na praça para saciar a sede de todos”.

Por fim, o testemunho e a fidelidade de bispos e presbíteros, profetas-pastores-mártires da América Latina, incentivam-nos a sermos autênticos continuadores, epifania e sacramento da caridade pastoral de Jesus que irrompeu no discurso inaugural da sinagoga de Nazaré, concretizou-se em todos os seus gestos, atitudes, palavras e alcançou a plenitude na hora da Paixão: “Ninguém te amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” ( Jo 15,13). Presbíteros consagrados e enviados pelo mesmo Espírito que ungiu e conduziu o Bom Pastor, viveremos nossa espiritualidade e ministério a serviço da libertação integral dos irmãos que Ele confia à nossa caridade pastoral. “Anunciar a Boa Nova aos Pobres”, é a caridade evangelizadora. “Proclamar a libertação aos presos”, é a caridade social. “Recuperar a vista aos cegos”, é a caridade existencial. “Restituir a liberdade aos oprimidos”, é a caridade política (cf Lc 4, 16s). Nenhuma necessidade humana pode passar descuidada pela caridade pastoral do presbítero, discípulo missionário do Bom Pastor Ressuscitado no serviço à Igreja e aos homens e mulheres de hoje.

Dom Edson Tasquetto Damian

Bispo de São Gabriel da Cachoeira- AM

 

4. “FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER” (JO 2,6)

 

Na véspera da festa de Nossa Senhora de Guadalupe e do dia em que completarás 30 anos, caríssimo Sérgio, entregas a Deus tua vida para servir o seu Povo como diácono. Índio que és, como Juan Diego, anunciarás o Evangelho inculturado que encontra na Virgem de Guadalupe sua inspiração e concretização mais perfeitas. Recordarás sempre as palavras carinhosas e encorajadoras que a Mãe de Guadalupe disse a Juan Diego: “Ouve e guarda em teu coração, filho meu o mais desamparado. Acaso não sou eu a tua mãe? Não estás sob minha sombra e proteção? Não estás na dobra do meu manto, justo onde cruzo meus braços? Porque eu sou a Mãe da Misericórdia, tua e de todas as nações que vivem nesta terra, que me amem, que me falem, me busquem e em mim confiem”.

 

Em nossa última conversa, lembravas emocionado o despertar de tua vocação, em 2001, quando tinhas concluído o ensino fundamental. A Ir Elizabete, Filha de Maria Auxiliadora, convidou-te para ajudá-la na construção das casas para o Hupedas na Nova Fundação. Um Tukano trabalhar para os Hupedas, considerados inferiores em tudo? Na tradição do teu povo era o contrário que acontecia. Mas, a Ir Elizabete conseguiu te convencer com a palavra mais comprometedora de Jesus: “Tudo o que fizeres a um destes irmãos mais pequeninos, é a mim que o fazes” (Mt 25, 40). E te introduziu também na prática da oração que no início te parecia pouco atraente e cansativa. Tua vocação, Sérgio, já nasceu como serviço aos mais pobres e excluídos do teu povo. Sendo Tukano aprendeste a servir aqueles que deveriam servir-te. O Evangelho anunciado pela Ir Elizabete provocou em ti uma reviravolta, uma conversão. Nas bodas de Caná foi a Mãe Maria quem incentivou Jesus para que realizasse o primeiro sinal. Em Pari Cachoeira foi a Ir Elizabete quem descobriu o Sérgio e insistiu para que o Pe. Ivo Cassol o convidasse para ser padre.

 

Em 2009, quando cursavas o segundo ano de teologia, participaste de um retiro inspirado na espiritualidade de Charles de Foucauld. Conhecendo este irmão apaixonado por Jesus que buscou sempre o último lugar para servir os mais pobres e excluídos, lembraste teu serviço aos Hupedas. Calaram fundo em teu coração estas palavras de Charles Foucauld: “Meu Deus, não sei se é possível para alguém, ver-te pobre e continuar rico como antes... Quanto a mim, não posso conceber o amor sem a necessidade imperiosa de identificação, de semelhança e sobretudo de partilha, de todos os sofrimentos, de todas as dificuldades, de todas as durezas da vida...a semelhança é a medida do amor”. Este retiro foi tão marcante em tua vida que teus formadores logo perceberam a mudança. O Pe. Olindo chegou a dizer que foi um marco divisor: houve um antes e um depois na vida do Sérgio. Alegro-me ao saber que também com o Joãonilton e o Andalúcio (nossos indígenas do 3º ano de teologia) está acontecendo algo semelhante. 

 

Quando te comuniquei que irias exercer o ministério de diácono em Pari Cachoeira, tua terá natal, logo disseste: “Que bom, estarei voltando à minha casa, às minhas origens, às raízes culturais do meu povo. Além disso, trabalharei com o Pe. Ivo, que me acolheu e encaminhou ao seminário, em 2002”. Aliás, teus pais, José e Anita, apresentaram ao Pe Ivo, dois filhos. E qual foi a reação dele? “Que barbaridade, dois filhos padres? Assim vai acabar a família! Um deve ficar para casar-se”. 

 

Durante o primeiro semestre do próximo ano visitarás cada uma das 45 comunidades da paróquia de Pari Cachoeira, muitas das quais ainda não conheces. Teus parentes ficarão contentes e agradecidos. Vendo-te feliz e realizado no ministério de diácono, darás excelente testemunho vocacional e contribuirás para a recuperação ou consolidação da autoestima dos irmãos indígenas. Nesta caminhada irás te preparando para a ordenação presbiteral que desejas receber na comunidade onde nasceste.

 

Viverás o ministério diaconal sob a proteção e inspiração do testamento de Nossa. Senhora de Guadalupe que escolheste com teu lema: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,6). Logo mais, quando receberes o livro da Santa Palavra, escutarás: “Recebe o Evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina o que creres e procura realizar o que ensinares”. 

E Charles de Foucauld te dirá ao pé do ouvido: Sérgio, “grita o Evangelho com a vida!”

 

O Papa João Paulo II usou expressões iluminadoras sobre a relação entre ministério e Palavra de Deus: “O ministro ordenado é o primeiro crente na Palavra, com plena consciência de que as palavras do seu ministério não são suas, mas d´Aquele que o enviou. Desta Palavra ele não é dono: é servo. Desta Palavra ele não é o único possuidor: é devedor ao Povo de Deus. Precisamente porque evangeliza e para que possa evangelizar, o diácono deve crescer na consciência de sua permanente necessidade de ser evangelizado” (PDV 47).

 

Sérgio, se te deixares conduzir pelo Espírito Santo e pela força da Palavra de Deus “resplandecerão em ti as virtudes evangélicas: o amor sincero, a solicitude para com os enfermos e os pobres, a autoridade como serviço e a simplicidade de coração” (rito da Ordenação Diaconal).

 

Por fim, o sinal que Jesus realizou nas bodas de Caná oferecendo o vinho melhor quando a festa já ia adiantada, ajuda-nos a compreender que em nossa vida e missão, o melhor vem depois. “Tudo é graça!”. É dom de Deus e também fruto de nosso trabalho realizado com generosidade, gratuidade, alegria e esperança. O melhor vai acontecendo na medida em que nos entregamos e nos abandonamos nas mãos no Pai com absoluta confiança e seguimos Jesus no seu jeito radical de amar e servir. Lembremos as palavras testamentais do nosso Bem Amado Irmão e Senhor: 

 

“Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Após o lava-pés:  “Entendeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Se eu, o Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13,12a-15). 

 

A palavra como: “como eu vos amei” e “façais como eu fiz para vós”, não é uma mera comparação, mas uma convocação para amar e servir do mesmo jeito, da mesma maneira, com a mesma medida de Jesus, pois “a semelhança é a medida do amor”.Tudo isso, Sérgio, descobriste formulado e sintetizado na Oração do Abandono que colocaste no convite de tua ordenação. Convido vocês a rezarmos juntos com o Sérgio esta oração que o predispõe a entregar-se inteiro ao ministério de diácono para o qual será ordenado dentro de instantes.

 

“Meu Pai, a vós me abandono. 

Fazei de mim o que quiserdes. 

O que de mim fizerdes, eu vos agradeço. 

Estou pronto para tudo, aceito tudo. 

Contanto que a vossa vontade 

se faça em mim e em todas as criaturas. 

Não quero outra coisa, meu Deus. 

Entrego a minha vida em vossas mãos. 

Eu vo-la dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração, 

porque eu vos amo e porque é para mim 

uma necessidade de amor dar-me e entregar-me em vossas mãos 

sem medida e com infinita confiança, 

porque sois meu Pai”.  

(Charles de Foucauld)

 

+ Edson Damian

 

Bispo Diocesano de São Gabriel da Cachoeira, 11 de dezembro de 2011.

 

Homilia da Ordenação Diaconal de Sérgio de Jesus Alves Azevedo

 

5. NOTICIAS

LEMBRANDO TAYBEH (JULHO 1962): 50 ANOS!

Fará, em julho, 50 anos que aconteceu a primeira reunião internacional da Fraternidade Sacerdotal “Jesus Caritas”, nascida 10 anos mais cedo na França, com a denominação de “União Sacerdotal”. Ocorreu em Taybeh, a “Efraim bíblica”, na Palestina, com a participação de 50 padres, de dezoito países; foi idealizado como um mês de Nazaré internacional.

Segue a entrevista de um dos participantes, Martin Huthmann, 80 anos, residindo hoje no Mato Grosso, onde está há 30 anos. A entrevista foi realizada em janeiro deste ano durante o nosso retiro anual de Hidrolândia, GO. Foram 5 perguntas:

Martin, o que o levou a participar do encontro de Taybeh?

Era padre novo, tinha feito o mês de Nazaré na França, em 1960; fazia 4 anos que eu participava de uma fraternidade na Alemanha, em Bonn, a ex-capital federal, quando Peter Hünermann, futuro responsável internacional (1970-1976), insistiu que eu fosse com ele para Taybeh. Aceitei o convite.

Que recordações você temdo encontro de Taybeh?

São várias. Taybeh era uma aldeia cristã na Palestina, com costumes parecidos com os europeus. Fomos alojados em várias casas e as palestras- todas em francês- aconteciam numa escola. O pregador era René Voillaume e o responsável geral da União – outro francês- Guy Riobé estava presente. Havia diferenças bem visíveisde mentalidade no grupo; notei, por exemplo, que os franceses eram bem menos rígidos do que osalemães, querendo executar tanta coisa ao pé da letra.

Demos uma volta pela Terra Santa: Sichem, Qumrân, Mar Morto, Nazaré, Jerusalém... Fazia muito calor!Lembro-me de um Padre russo que, ao ver o Mar Morto, se jogou na água, do jeito que estava, sem trocar de roupa. A roupa dele ficou suja por que a água do Mar Morto é diferente, está cheia de química;o Padre não sabia disso. O interessante é que ninguém deu risada.

Qual a lembrança mais marcante do encontro? 

Para mim, a Terra Santa não era uma novidade; já estivera lá antes, em 1956. O marcante foram as palestras de Voillaume e os contatos que eu tive com Lemasne. Voillaumenos pedia para amar a Jesus e insistia sobre a importância da relação pessoal de cada um com Jesus; isso era muito diferente da Teologia recebida na Alemanha durante os anos de Seminário. Outra recordação forte: Henri Lemasne, que vivia com Muçulmanos, em Lião, a segunda cidade da França,me impressionou, quando disse que estava aprendendo muito com os Muçulmanos e esperava aprender mais ainda no futuro.

Havia 5 Brasileiros, 1 em Taybeh. Você teve aproximação com eles?

Naquela época, eu não pensava em vir ao Brasil. Só cheguei ao Brasil em 1983, para substituir a Günther,eleito responsável internacional da Jesus+Caritas, em Argel.Em Taybeh,em 1962, não tive aproximação com os Brasileiros; éramos muitos, com tantas línguas,e eu não conhecia o português, o que dificultou os contatos. Engraçado, lembro-me ter conversado com um africano e um vietnamita.

Mais uma anedota sobre o encontro de Taybeh?

Era ainda antes do Concílio Vaticano II.O contexto eclesial era bem diferente do de hoje. Cada padre devia celebrar a missa todos os dias e precisava pedir a outro Padre para fazer papel de coroinha, assistindo à missa dele. Depois se invertia o papel. O coroinha virava celebrante, e o celebrante coroinha, havendo uma segunda missa, em seguida. Hoje, graças a Deus, temos as concelebrações.

Jaime da Bahia

Três tornaram-se bispos e são falecidos; os outros dois (Ruy Coutinho e Samuel Sá) estão bem idosos e vivem no Pará; foi pedido a Jaime Pereira para realizar uma entrevista sobre o mesmo assunto com eles .

 

6. UM LIVRO UM AMIGO

 

LIMA BARROS, Alcides Alexandre de, População em situação de rua, um olhar sobre a exclusão, São Paulo, Edição do autor, 2011.

 

MONGIANO, Aldo, Roraima entre profecia e martírio, Roraima, Diocese de Roraima, 2011.

 

SALVODI, Valentino, Mártir da Criação, Dorothy Stang, São Paulo, Paulinas, 2012.

 

LIBANIO, J. B, Linguagens sobre Jesus, linguagens narrativa e exegética moderna, São Paulo, Paulus, 2012.

 

MOIX, Jordi Díaz, Jesús de Nazaret, Hermano Universal, Espiritualidad de los mistérios de La vida de Cristo em Carlos de Foucauld, Roma, Pontificia Universitate Gregoriana, 2011.

 

7. AGENDA

 

Retiro Anual

03 a 10 de janeiro de 2013

Local: a confirmar

Resp. Pe. Gildo Nogueira Gomes

 

Mês de Nazaré

03 a 29 de janeiro de 2013

Local: Mosteiro da Anunciação, Goiás, GO

Resp. Pe. Freddy Goven, Pe. José de Anchieta de Moura e Pe. Antonio Lopes Ferreira

 

Assembléia Internacional

06 a 21 de novembro de 2012

Local: Paris, França

Resp. Pe. Abraham Apolinário

 

Região Nordeste

Data: 24 e 25 de abril de 2012

Local: Fortaleza, CE

Resp. Pe. Antonio Lopes Ferreira

 

Região Sudeste

28 e 29 de maio de 2012

Local: Marília, SP

Resp. Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

 

Região Leste

28 a 30 de maio de 2012

Local: Roças Novas-MG

 

Região Centro-Oeste

03 a 05  de julho de 2012

Local: Goiás, GO

Resp. Pe. José Cobo

 

Região Norte

02 a 05 de julho de 2012

Local: Belém, PA

Resp. Pe. Antonio Carlos de Souza Gomes

 

Retiro da Fraternidade para Seminaristas

09 a 13 de julho de 2012

Local: Mosteiro da Anunciação

Goiás, GO

Resps. Pe. Jeová Elias Ferreira e Pe. Valdo Bartolomeu de Santana

 

Região Sul – Santa Catarina

Data: 30 e 31 de julho de 2012

Local: Florianópolis, SC

Pe. Vilmar Adelino Vicente

 

Encontro da Equipe de Coordenação

29 a 31 de outubro de 2012

29/10 – início com o almoço

31/10 – término com o almoço

Local: Brasília, DF

Resp. Pe. Gildo Nogueira Gomes

 

 

8. MISSA EM HONRA DO BEATO IRMÃO CARLOS DE JESUS

 

ORAÇÃO

Oremos: Deus, nosso Pai, chamastes o Beato Irmão Carlos para viver do vosso amor na intimidade de vosso Filho, Jesus de Nazaré. Concedei-nos encontrar no Evangelho o fundamento de uma vida cristã sempre mais radiante, e na Eucaristia, a fonte da fraternidade universal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

 

LEITURA DO LIVRO DA SABEDORIA (Sb 11,23-12,2)

 

23Senhor, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. 24Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado. 

25Da mesma forma, como poderia alguma coisa existir, se não a tivesses querido? Ou como poderia ser mantida, se por ti não fosse chamada? 

26A todos, porém, tu tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida! 

12,1O teu espírito incorruptível está em todas as coisas! 2É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.

- Palavra do Senhor.

 

SALMO RESPONSORIAL (Sl 39)

 

R/. Eu disse: Eis que venho, Senhor,

com prazer faço a vossa vontade!

 

2Esperando, esperei no Senhor, *

e inclinando-se, ouviu meu clamor.

4Canto novo ele pôs em meus lábios, *

um poema em louvor ao Senhor. 

 

7Sacrifício e oblação não quisestes, *

mas abristes, Senhor, meus ouvidos;

não pedistes ofertas nem vítimas, *

holocaustos por nossos pecados.

 

8E então eu vos disse: “Eis que venho!” *

Sobre mim está escrito no livro:

9“Com prazer faço a vossa vontade, *

guardo em meu coração vossa lei!”

 

10Boas novas de vossa justiça +

anunciei numa grande assembléia; *

vós sabeis: não fechei os meus lábios!

 

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO (Jo 14,23)

 

R/. Aleluia, Aleluia, Aleluia.

V/. Quem me ama realmente guardará minha palavra, 

E meu Pai o amará, e a ele nós viremos. 

 

EVANGELHO (Jo 15,9-17)

 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

 

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “9Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 4Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.15Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá.17Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

 

Palavra da Salvação.

 

ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS

 

Olhai, Senhor todo-poderoso, o sacrifício que vos oferecemos na festa do Beato Irmão Carlos, e concedei-nos testemunhar em nossa vida os mistérios da Paixão do Salvador, que celebramos nestes ritos sagrados. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

 

ANTIFONA DA COMUNHÃO (Jo 15,4a.5b)

 

Ficai em mim, e eu em vós hei de ficar, diz o Senhor;

quem em mim permanece, esse dá muito fruto. 

 

ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO

 

Oremos: Deus todo-poderoso, refizestes nossas forças nesta mesa sagrada. Concedei-nos imitar os exemplos do Beato Irmão Carlos, procurando vos servir com um coração sempre fiel, amando todos as pessoas com incansável caridade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

 

Responsáveis da Fraternidade  (CLIQUE PARA ACESSAR OS NOMES DOS RESPONSÁVEIS)

CONSELHO  (CLIQUE PARA ACESSAR A LISTA DO CONSELHO)


SERVIÇOS (CLIQUE PARA ACESSAR A LISTA DE SERVIÇOS)


FAMÍLIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD NO BRASIL  (CLIQUE PARA ACESSAR A LISTA DA FAMÍLIA C.F.)