VAN THUAN - TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA

FAMOSO LIVRO DO CARDEAL VAN THUAN, QUE FICOU 13 ANOS PRESO NO VIETNÃ APENAS PELO FATO DE SER UM BISPO CATÓLICO. ELE ESTEVE 9 ANOS DESSES 13 ANOS COMPLETAMENTE ISOLADO NA "SOLITÁRIA".

BIOGRAFIA

TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA

INTRODUÇÃO

1ª PARTE: COM A FORÇA DA GRAÇA DE DEUS

1º CAPÍTULO: LIVRO DA GENEALOGIA DE JESUS CRISTO: DIANTE DO MISTÉRIO DE DEUS.

2ª PARTE – ESPERA EM DEUS

2º CAPÍTULO: E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?

3º CAPÍTULO – PRESTA CONTA DE TUA ADMINISTRAÇÃO – Um balanço no início do século XXI

4º CAPÍTULO – DEUS AMOU TANTO O MUNDO ... (Jo 3,16-17)

5º CAPÍTULO – UMA COISA É NECESSÁRIA... DEUS E NÃO AS OBRAS DE DEUS!

PARTE 3- A AVENTURA DA ESPERANÇA

6º CAPÍTULO: QUER COMAMOS, QUER BEBAMOS...

7º CAPÍTULO : MINHAS PALAVRAS SÃO ESPÍRITO E VIDA –

8º CAPÍTULO – VÍNCULO DA PERFEIÇÃO

9º CAPÍTULO – FORA DOS MUROS – TUDO PARA TODOS –

4ª PARTE – ESPERAR CONTRA TODA ESPERANÇA;

10º CAPÍTULO – ELÓI, ELÓI, LAMÁ SABACHTHÂNI?

11º CAPÍTULO : PODE UM CORPO ESTAR DIVIDIDO?

12º CAPÍTULO – SEMENTE DE CRISTÃOS

13º CAPÍTULO – NA ORAÇÃO DIVINA

5ª PARTE – O POVO DA ESPERANÇA

14º CAPÍTULO – A MINHA CARNE PARA A VIDA DO MUNDO

15º CAPÍTULO – JESUS VIVE NA SUA IGREJA

16º CAPÍTULO – IMAGEM DA TRINDADE

17º CAPÍTULO – COMO TU ESTÁS EM MIM E EU EM TI...

6ª PARTE – RENOVAR EM NÓS A ESPERANÇA

18º CAPÍTULO – PEQUENO REBANHO – NÃO TENHAIS MEDO

19º CAPÍTULO – RECEBEI O ESPÍRITO SANTO

20º CAPÍTULO – EIS TUA MÃE, O MODELO DA IGREJA

21º CAPÍTULO – AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE

22º CAPÍTULO:-= A VOSSA TRISTEZA SE TRANSFORMARÁ EM ALEGRIA – A ALEGRIA DA ESPERANÇA

BIOGRAFIA

Nascimento: 17/04/1928, Vietnam,

Nomeado arcebispo: 24 de abril de 1975

Ordenação presbiteral: 11 de junho de 1953; ...

Ordenação episcopal: 24 de junho de 1967;

Morte: Roma; 16 de setembro de 2002 (74 anos)


CARDEAL VAN THUAN, 13 ANOS DE PRISÃO

O Cardeal François-Xavier Nguyên Van Thuân passou 13 anos de sua vida em uma prisão comunista no Vietnam, e os últimos 11 anos de sua vida no exílio. Tendo ocupado o cargo de presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz., pode ser considerado uma das grandes testemunhas do empenho cristão na luta pelos direitos humanos no século XX. Mas a grande força de seu testemunho é a sua capacidade de cultivar o amor e a esperança nas situações mais difíceis, que o tornou um marco de vida cristã para todos. Nesse artigo, o Cardeal Renato Martino, Dom Giampaolo Crepaldi e o Papa Bento XVI escrevem sobre o significado de seu testemunho.

O Cardeal François-Xavier Nguyên Van Thuân, nascido no Vietnam em 17 de abril de 1928, foi, sem dúvida, uma das maiores testemunhas do cristianismo do século XX. Filho de uma família de católicos vietnamitas, foi ordenado padre em 1953 e bispo em 1967. Foi feito prisioneiro pelo governo comunista do Vietnam em 1975, tendo permanecido na prisão por 13 anos.

Na prisão, passou por experiências amargas, durante alguns meses esteve confinado numa cela minúscula, sem janela, úmida, que para respirar passava horas com o rosto enfiado num pequeno buraco no chão. Os carcereiros eram mudados constantemente, para evitar que eles conversassem com ele e se tornassem seus amigos. Porém, após algum tempo as autoridades chegaram á conclusão que essa não era uma boa estratégia, pois a cada dia mais guardas se “contaminavam” com o prisioneiro. Nesse período, escreveu às escondidas três livros, todos dedicados ao tema da esperança.

Foi libertado em 1988. Em 1991 foi para Roma e nunca mais teve permissão e voltar ao Vietnam. No Vaticano, tornou-se vice-presidente (1994) e presidente (1998) do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Em 2000, pregou o retiro quaresmal para o papa João Paulo II e a cúria romana, tendo sido feito cardeal em 2001.

Faleceu de câncer, em Roma, em 16 de setembro de 2002, e sua causa de beatificação foi aberta em 2007. Os textos a seguir ajudam a compreender a grandeza e a importância do testemunho do cardeal Van Thuân para a Igreja e para o mundo:

Cardeal Renato Raffaele Martino

(sucessor do Cardeal Van Thuân na presidência do Pontifício Conselho Justiça e Paz, por ocasião do lançamento na Itália de sua biografia, “O milagre da esperança”)

Permitam-me deter-me em alguns aspectos muitos notáveis do texto, que já porta um título significativo: “o milagre da esperança”. Geralmente a palavra milagre vem conectada à fé, os testemunhos fortes da fé ou, ainda mais, às obras de caridade. É raro e pouco comum encontrar a palavra milagre junto à palavra esperança. Mas eu não creio que haja um título mais adequado, tão de acordo, para descrever com uma frase a biografia do Cardeal Van Thuân.

Tudo, em tantas circunstâncias de sua vida, encaminhava para resultados desafortunados e sem esperança. Basta considerar as graves doenças que o acompanharam ao longo de toda sua existência; a seu episcopado doloroso; passado mais nas cadeias vietnamitas que diretamente na guia do seu Povo de Deus; a descoberta do tumor que a carregaria ao túmulo no mesmo dia em que recebeu a indicação ao cardinalato da Santa Igreja Romana; ao apego visceral que tinha a seu povo e à sua nação – vivido quase sempre em condições de exílio. Apesar disso, apesar de tudo, a esperança cristã mostrou neste homem uma fecundidade miraculosa, que nos conquista e renova. “Podemos verdadeiramente dizer que ‘sua esperança estava cheia de imortalidade’ (cfr. Sal 3, 4.6). Estava pleno de Cristo, vida e de ressurreição de quantos nele confiam”, disse o santo Padre na homilia das exéquias do cardeal.

[...] A esperança, vivida como virtude e como paradigma, ajudou ao cardeal meu predecessor a ser humanamente muito bom, simples, acolhedor, porque sua confiança em Deus o tornava profundamente disponível e aberto a seus irmãos, e até mesmo a seus inimigos [...]

Apesar da profundidade de seu pensamento, permaneceu simples como uma criança. Aceitou a vulnerabilidade como o preço natural pela sua própria sinceridade pureza: características certamente difíceis de serem mantidas por ele, quando se pensa o mal que tantas pessoas fizeram a ele e à sua família muitas pessoas o têm feito e à família.

Todos dos nós sabemos que quando tentamos compreender o Cardeal Van Thuân, com sua vida atormentada e seu excepcional testemunho cristão, estamos diante, no final das contas, com o próprio Deus, que através de seus sinais imperscrutáveis , realizou o milagre da esperança.

Dom Giampaolo Crepaldi(secretário do Cardeal Vant Thuân no Pontifício Conselho Justiça e Paz, presidente do Observatório Internacional Cardeal Van Thuân para a Doutrina Social da Igreja)

Deus, com o seu amor providente e misericordioso, acompanhou-o, amparou-o, salvou-o nas vicissitudes complicadas de uma vida vivida nas encruzilhadas mais dramáticas do século passado.

O Cardeal soube responder a este amor com um abandono confiante; permaneceu fiel ao Senhor também nos momentos mais obscuros e perigosos da prova e da tentação. Ele afirmava que permanecer no Senhor não é ócio nem passividade. É uma ação, um ato de amor a Deus: "Quem está em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto" (Jo 15, 5).

O testemunho radioso do Cardeal faz-nos compreender profundamente o significado do evangelho de São Paulo: "já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). Assim também a nossa oração sabe tornar-se palavra de amor: Senhor Jesus, desejo permanecer em Ti, seremos um só, uma única vontade, um só coração, um só impulso, um único amor. Deixará de se distinguir entre o que pertence a Ti ou a mim.

Quando, no desempenho das práticas e das atividades do Dicastério, surgiam problemas ou dificuldades difíceis de resolver e governar, o Cardeal costumava tranquilizar-me, exclamando com simplicidade evangélica: "Não se preocupe, o Senhor salva-nos!". Não evitava as suas responsabilidades, mas orientava tudo para a justa perspectiva da vontade misericordiosa de Deus e do Seu amor providente. Aquela sua exclamação revelava a qualidade espiritual da vida interior do Cardeal e constitui a chave para penetrar o mistério da sua alma. Tudo está nas mãos de Deus e deve colocar-se tudo em suas mãos, sem resistências e com absoluta confiança. [...]

Meditava, nos dias terríveis da prisão, sobre a pergunta feita pelos discípulos a Jesus, durante a tempestade: "Mestre, não se Te dá que pereçamos?" (Mc 4, 39), até que uma noite, do fundo do coração, uma voz lhe falou: "Porque te atormentas tanto? Deves distinguir entre Deus e as obras de Deus, tudo o que realizaste e desejas continuar a fazer, visitas pastorais, formação de seminaristas, religiosos, religiosas, leigos, jovens, construção de escolas, de centros para estudantes, missões para a evangelização dos não-cristãos..., tudo isto é uma obra excelente, são obras de Deus, mas não são Deus! Se Deus quiser que tu abandones todas estas obras, pondo-as em Suas mãos, fá-lo imediatamente, e tem confiança n'Ele. Deus fá-lo-á infinitamente melhor do que tu; ele confiará as Suas obras a outros, muito mais capazes do que tu. Tu escolheste unicamente Deus, e não as suas obras!". Tinha aprendido a fazer a vontade de Deus. Esta luz deu-lhe uma nova força, que mudou completamente o seu modo de pensar e o ajudou a superar momentos fisicamente quase impossíveis.

Temos aqui, com palavras essenciais, a verdade total e profunda de um cristianismo vivido de maneira santa e exemplar. Foi este, deveras, o grande segredo do Cardeal Van Thuân!

Assim, soube viver na alegria de Cristo ressuscitado, no perdão, no amor e na unidade, mesmo no meio das dificuldades quase insuportáveis. Esta sua atitude fez mudar os seus algozes, que se tornaram seus amigos. Até o ajudaram, às escondidas, a fazer uma cruz com pedaços de madeira, e depois a fazer também a corrente para ela, com fio elétrico da prisão, que ele usou sempre, porque lhe recordava o amor e a unidade que Jesus nos deixou no Seu testamento. Aquela corrente segurou sempre a sua cruz peitoral de Bispo e depois de Cardeal, aquela velha cruz de madeira, coberta com um pouco de metal. Cruz de testemunho heróico, cruz de amor.

Papa Bento XVI

(na encíclica Spes salvi, 32 e 34).

Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se me encontro confinado numa extrema solidão... o orante jamais está totalmente só. Dos seus 13 anos de prisão, nove dos quais em isolamento, o inesquecível Cardeal Van Thuân deixou-nos um livrinho precioso: Orações de esperança.

Durante 13 anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites da solidão.

Para que a oração desenvolva esta força purificadora, deve, por um lado, ser muito pessoal, um confronto do meu eu com Deus, com o Deus vivo; mas, por outro, deve ser incessantemente guiada e iluminada pelas grandes orações da Igreja e dos santos, pela oração litúrgica, na qual o Senhor nos ensina continuamente a rezar de modo justo.

O Cardeal Nguyen Van Thuân, contou no seu livro de Exercícios Espirituais, como na sua vida tinha havido longos períodos de incapacidade para rezar, e como ele se tinha agarrado às palavras de oração da Igreja: ao Pai Nosso, à Ave Maria e às orações da Liturgia. Na oração, deve haver sempre este entrelaçamento de oração pública e oração pessoal. Assim podemos falar a Deus, assim Deus fala a nós. Deste modo, realizam-se em nós as purificações, mediante as quais nos tornamos capazes de Deus e idôneos ao serviço dos homens.

Assim tornamo-nos capazes da grande esperança e ministros da esperança para os outros: a esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os outros. E é esperança ativa, que nos faz lutar para que as coisas não caminhem para o « fim perverso ». É esperança ativa precisamente também no sentido de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela permanece também uma esperança verdadeiramente humana.


Católicos vietnamitas celebram aniversário da morte do cardeal Văn Thuận (set. 2020- site Vaticano )

No dia 16 de cada mês, a Paróquia de Giang Xá celebra a Missa pelo processo de canonização do cardeal Văn Thuận. Nela o então arcebispo de Saigon esteve em prisão domiciliar de 1978 a 1982.

Vatican News

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O 18º aniversário da morte do Venerável cardeal Francisco Xavier Nguyễn Văn Thuận foi celebrado quer no Vietnã como em Roma. No dia 18 de setembro, de fato, o prefeito do Discastério para os Leigos, a Família e a Vida, cardeal Kevin Farrel, celebrou a Missa na Basílica Santa Maria in Trastevere, que teve a homilia do cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Já no Vietnã, milhares de católicos, em comunhão com a Santa Sé, rezaram pelas vítimas da epidemia de Covid-19 em todo o mundo, pedindo a intercessão do Venerável cardeal Francisco Xavier.

Para demonstrar o amor dos católicos pelo venerável cardeal Van Thuan, a Paróquia de Giang Xá celebra a Missa pelo processo de canonização no dia 16 de cada mês. A Paróquia de Giang Xá é uma pequena e antiga paróquia, localizada a cerca de 20 km do centro de Hanói em Trạm Trôi, Hoài Đức, e passou a ser conhecida como o lugar onde o cardeal Văn Thuận esteve em prisão domiciliar por quatro anos, de 1978 a 1982.

Muitos fiéis consideram que a Paróquia de Giang Xa é a "casa do cardeal Francisco Xavier". Todos os meses, muitas pessoas se reúnem ali para rezar pela paz da família e da sociedade.

Muitos doentes crônicos para lá se dirigem com fé na misericórdia de Deus. E por intercessão do Venerável cardeal Francisco Xavier, esses pacientes recuperam rapidamente a paz física e mental.

“Este lugar é como a casa do venerável cardeal Xavier Nguyễn Văn Thuận – diz uma fiel. Olhamos para lindas antiguidades, o jardim botânico, a antiga igreja, ouvindo o som das folhas caindo lentamente e o canto dos pássaros. Também temos alegria e esperança quando encontramos momentos de paz e de orientação para os nossos problemas, pelo Sacramento da Confissão”.

O “Caminho da Esperança – testemunhar com alegria a pertença a Cristo” é uma das obras que o cardeal Francisco Xavier escreveu na prisão. Nesse livro, ele afirmou que “Só tenho o melhor momento do presente, vivendo em plenitude do Amor de Deus. Minha vida será linda se isso se consolidar mais a cada momento”. (The Road of Hope, p. 997).

O Seminário Maior Xuân Bích da Diocese de Huế criou um Memorial do Venerável cardeal Francisco Xavier no distrito de Phủ Cam da cidade de Huế. Todos os meses são celebradas Missas e se reza pelos sacerdotes, religiosos e leigos.

Desde 1º de setembro deste ano, o padre Joseph Hồ Thứ, reitor do Seminário Maior Huế, criou a seção do Venerável cardeal Francisco Xavier na biblioteca do Seminário Maior de Xuân Bích da Diocese de Huế. “Espero – disse ele - que a Seção ajude os seminaristas e aqueles que vem a Huế a conhecer o nosso Santo cardeal, para obter mais do amor de Deus e para servir a Igreja com consciência, seguindo o exemplo do Venerável padre”.

Peter Tran – Asia News


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22/09/2019

O cardeal Van Thuan: inspiração para aos prisioneiros

Durante a Missa em memória do Venerável cardeal Francesco Saverio Nguyen Van Thuan, partindo da característica universal da oração e da relação entre oração e fé, o cardeal Peter Turkson falou do cardeal Van Thuan como uma pessoa de oração e inspiração para outras pessoas.

Tran Dinh, SJ - Roma

Na manhã do último dia 16 de setembro de 2019, por ocasião do aniversário da morte do Venerável cardeal Francesco Saverio Nguyen Van Thuan, o cardeal Peter Turkson, Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, presidiu a Santa Missa na igreja de Santa Maria della Scala, onde se encontra o túmulo do cardeal vietnamita.

Concelebraram os sacerdotes do Dicastério e os religiosos vietnamitas em Roma e participaram na celebração os amigos e representantes das organizações que continuam a rezar por ele em várias regiões da Itália, assim como em outros países da Europa.

O Venerável cardeal Van Thuan - pessoa de oração

Tomando como ponto de partida a Palavra de Deus contida na Primeira Carta a Timóteo, lida durante a celebração eucarística, o cardeal Turkson sublinhou antes de mais nada que a oração deve ser universal, isto é, aberta a todos. Ele então destacou o exemplo e o testemunho do cardeal Nguyen Van Thuan através da sua vida e dos livros que escreveu. Ele também relatou a primeira experiência de encontro com ele quando era Presidente da Conferência Episcopal de Gana:

"Quando era presidente da Conferência Episcopal de Gana, convidei o cardeal para falar e partilhar as suas reflexões com os bispos da Conferência. O tema que ele escolheu foi "a oração". Pode-se dizer que o cardeal Van Thuan foi um homem de oração, especialmente através da sua vida e dos seus livros”.

A oração é universal

Na sua Carta a Timóteo, São Paulo diz ao discípulo para rezar por todos, seja no bem que no mal: "Por isso - disse -, as nossas orações são sem confins e ilimitadas, porque não são apenas pessoais, mas baseiam-se na comunidade. Da mesma forma, oferecemos orações em todas as situações, boas ou más, de alegria ou sofrimento. As nossas orações estão unidas às orações de toda a Igreja, com o olhar dirigido ao mundo inteiro.

Reze pela fé

Partilhando uma sua reflexão sobre a passagem do Evangelho do dia, o cardeal Turkson falou da cura que Jesus realizou em favor do servo do centurião, que era pagão. Ele evidenciou que "os crentes hebreus contam os méritos do pagão e o pagão não se atreve a perguntar o que ele quer. Naquele dia, vendo o milagre que Jesus realizou, o centurião acredita. Devemos rezar com fé, recordando também que a oração nos conduz à fé". E continuou: "Abraão é aquele que reza não por si mesmo, mas por toda a humanidade. A vida de oração deve ser baseada na fé e devemos sempre rezar. Cristo veio sobre a terra e tornou-se mediador de intercessão por nós. O desejo de Paulo é o de manifestar o exemplo de Cristo na vida de Timóteo e na nossa”.

Viva o momento presente cheio de amor

O purpurado também destacou que o exemplo do cardeal Van Thuan, tão rico de virtudes e de vida, ainda é esplendente e estimulante para muitas pessoas. Falou da sua viagem aos Camarões, onde ficou surpreendido ao ver pessoas na prisão rezar ao cardeal. Deixou-se levar pelas suas recordações: "Os prisioneiros tinham uma fotografia do cardeal e suplicavam-lhe. Pediram ao cardeal que os deixassem viver bem. É uma bênção o exemplo pelo qual o cardeal brilhou nos Camarões. E os presos não só rezavam por si mesmos, mas também rezavam para que os outros vivessem bem”.

Finalmente, o cardeal Turkson convidou os presentes quando vão ao túmulo do Venerável Nguyen Van Thuan, a rezar não só por eles mesmos, mas também por aqueles que lhes pedem para se lembrar deles, assim como por aqueles que nos perseguem. Que ele seja o nosso mediador.

Van Thuan é considerado um símbolo dos católicos vietnamitas. Na Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, publicada em 2 de abril de 2019, o Papa Francisco o indicou como um exemplo para os jovens. Ele é lembrado como uma pessoa que soube viver o momento presente num espírito cheio de amor, especialmente durante os seus anos de prisão sob o regime comunista.

No final da missa, o cardeal Turkson acompanhou os sacerdotes e os fiéis ao túmulo do Venerável Francisco Xavier Nguyen Van Thuan e rezou com eles.


TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA

(trechos importantes para meditação)

Cardeal FRANÇOIS X.N. VAN THUAN 2002

Editora Cidade Nova Rua José Ernesto Tozzi, 198 Vargem Grande Paulista SP cep 06730-000

INTRODUÇÃO

Ele nasceu em 17/04/1928, em Huê, Vietnã. Ordenado sacerdote em 1953. Doutorado em Direito Canônico em Roma, 1959. Voltou ao Vietnã como professor e depois como reitor do Seminário. Em 1967 tomou posse como bispo em NHA TRANG. Em 1975 foi nomeado arcebispo coadjutor de Saigon, atual Ho Chi Minh. Preso logo depois da nomeação, por 13 anos, sendo 9 de completo isolamento, em Phu-Khanh, sendo cerca de um ano, de 1975 a 18/03/1976 (véspera do dia de São José), em prisão domiciliar. Deixou o Vietnã em 1994, 6 anos após sua soltura. Presidiu o Pontifício Conselho Justiça e Paz, da Santa Sé, de 1998 até 16/09/2002, quando morreu, aos 74 anos de idade.

Convidado para pregar o retiro, em 18/03/2000 para o papa e seu secretariado, 24 anos após a prisão, escolheu o tema “Esperança”. Ganhou do papa um cálice dourado. Na prisão, em 18/03/1976, celebrava a Missa com três gotas de vinho e 1 gota de água, na palma da mão, junto a um pedaço de pão.

Agradece as missas rezadas em sufrágio de sua alma, por acreditarem-no morto, pois elas o ajudaram a continuar sua vida.

Em 19/03/2000, o papa João Paulo II consagrou a mais bela igreja do Vietnã no local onde ele ficara preso em prisão domiciliar, de 1975 a 1976.

1ª PARTE: COM A FORÇA DA GRAÇA DE DEUS

1º CAPÍTULO: LIVRO DA GENEALOGIA DE JESUS CRISTO: DIANTE DO MISTÉRIO DE DEUS.

Por meio da genealogia damo-nos conta de que pertencemos a uma história que é maior do que nós. E colhemos o sentido de nossa própria história com maior certeza da verdade. A misericórdia de Deus realmente se estende e se estenderá de geração em geração, porque é eterna.

O MISTÉRIO DO NOSSO CHAMADO

Na leitura da genealogia de Jesus está em destaque o mistério da vocação, da escolha por parte de Deus, totalmente gratuita e amorosa, que é incompreensível e até escandalosa aos parâmetros da razão.

Ex:- Abraão escolheu não o seu primogênito, mas o filho de Agar, o segundo; Isaac deixou de abençoar o primogênito, Esaú e abençoou Jacó, que transmitiu a continuidade familiar a Judá, 4º filho, que, com os outros irmãos, foi responsável pela venda de José ao Egito. Não poderia ele ter escolhido Rubens (1º) ou José (o mais querido de todos)?

Essa página da desconcertante e misteriosa escolha por parte de Deus, dos antepassados do Messias, solicita a nossa atenção. Ela ilumina o mistério de nossa vocação. “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). “Eu te amei com um amor eterno” (Jeremias 31,3). Essa é a nossa segurança! “Desde o seio materno o Senhor me chamou” (Isaías 49,1). Fomos escolhidos por amor.

Cantar nossa infinita gratidão a Deus, porque eterna é a sua misericórdia (Sl 100,5). Ele tira o indigente do lixo, ergue o fraco da poeira ( Sl 113,7-8)

O MISTÉRIO DO PECADO E DA GRAÇA

Dos reis de antes do exílio citados na genealogia (Mt 1,1ss), só dois foram fiéis a Deus: Ezequias e Josias. Os demais foram idólatras, corruptos, e assassinos. No pós-exílio, só dois, Salatiel e Zorobabel. Os outros são pecadores ou desconhecidos. Em Davi, santidade e pecado se entrelaçam.

As mulheres: Tamar (Mt 1,3), era pecadora; Racab (Mt 1,5), era prostituta. Rute era estrangeira. Da quarta não diz o nome, mas é Betsabéia (2Sm 11,1), que Davi roubara de Urias.

Com Maria, a Mãe, e em Jesus, Messias, todas as gerações são resgatadas. Quanta misericórdia Deus tem por nós! No NT, Pedro negou Jesus, Paulo o perseguiu. E são colunas da Igreja! É um povo que não esconde os pecados de seus antepassados!

O MISTÉRIO DA ESPERANÇA.

Todo o AT nos fala da Esperança: Deus vem para restaurar o seu Reino, restabelecer a Aliança, constituir um Povo novo, construir uma nova Jerusalém, edificar um templo novo, recriar o mundo. Com a Encarnação de Jesus, o Reino já se tornou realidade, e a plenitude dos tempos já se deu. Mas ainda está crescendo lentamente, diz Jesus, às escondidas, como uma semente de mostarda. A fé que mais agrada é a Esperança (Péguy). Deus age nos pobres de espírito, nos humildes, nos pecadores que a ele se convertem de todo o coração.

ULTRAPASSAR JUNTOS A SOLEIRA DA ESPERANÇA

A esperança é o maior desafio do início do 3º Milênio. (O autor fala de seu temor em pregar esse retiro ao papa, e continua:) É graças à orações que fazem por nós, que nossas homilias fazem bem aos fiéis (pede que os ali presentes rezem por ele). Coloquemo-nos nas mãos da Virgem Maria, “ Retemptoris Mater”, Mãe do Redentor, próxima de nós como no momento de Pentecostes, como se fora o coração da Igreja, na qualidade de Mãe dos pastores e dos fiéis, como Mãe da Igreja.

2ª PARTE – ESPERA EM DEUS

2º CAPÍTULO: E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?

JESUS SALVADOR, ÚNICA ESPERANÇA.

Em 15/08/1975, festa da Assunção de Nossa Senhora, Van Thuan foi preso, à duas horas da tarde, no “Palácio da Independência”. Apenas a batina e um terço. Durante o trajeto até a prisão, percebe que está perdendo tudo: “Só me resta abandonar-me à Providência de Deus.” A alegria lhe vem do fato de ser a festa da Assunção. Não mais “bispo”, nem “padre”, mas apenas “Senhor Van Thuan”.

Deus pediu-me um retorno ao essencial. Face a face com Deus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15).

Na prisão, os não-católicos lhe questionam o celibato, abandono de tudo para seguir Jesus. Os carcereiros também lhe perguntavam se existe realmente Deus, Jesus, se era ou não uma superstição, uma invenção da classe opressora.

OS DEFEITOS DE JESUS

“Abandonei tudo para seguir Jesus, porque amo os defeitos de Jesus”:

1- JESUS NÃO TEM BOA MEMÓRIA

Ele esquece os nossos pecados (o ladrão de Lc 23,43, a pecadora de Lc 7,47, o filho pródigo, de Lc 15,18-19). Perdoa a todos e até esquece que perdoou.

2- JESUS NÃO “SABE” MATEMÁTICA

Jesus ignora os cálculos humanos: Lc 15,4-7: (Ovelha perdida, as 99 que ficaram no redil)- Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de 99!

3- JESUS DESCONHECE A LÓGICA

A dracma perdida de Lc 15,8-1-: a mulher iria gastar mais fazendo a festa por ter achado a dracma perdida do que se não a tivesse encontrado. Iria gastar umas 10 vezes mais.

4- JESUS É UM AVENTUREIRO

Sua propaganda, se analisada humanamente, é destinada ao fracasso. Promete, a quem o segue, julgamentos e perseguições (ver Mt 8,20= Jesus não tem onde reclinar a cabeça). O sermão das Bem-aventuranças é um paradoxo do começo ao fim (Mt 5,3-12).

5- JESUS NÃO ENTENDE NEM DE FINANÇAS NEM DE ECONOMIA

Em Mt 20,1-16, todos os operários da vinha receberam uma diária, mesmo com diferenças nas horas trabalhadas.

E NÓS ACREDITAMOS NO AMOR

Jesus tem esses “defeitos” porque é amor (1Jo11,16). Age sempre por amor. “O amor autêntico não é racional, não mede, não ergue barreiras, não calcula, não recorda as ofensas recebidas e não impõe condições”. Jesus disse a Sta. Maria Alacoque: “Se tiveres fé, verás a potência do meu coração”

CRIASTE ADMIRAVELMENTE TODAS AS COISAS

O homem, em sua liberdade, pode refutar a grandeza que lhe foi conferida pelo desígnio de Deus quando o criou e buscar um desígnio próprio, diferente do futuro que lhe é prometido por Deus. Aí, cai em sua miséria. “Não espera em Deus, mas segue as falsas esperanças.”

MAIS ADMIRAVELMENE AS RECONSTITUÍSTES

Deus nos chama todos à verdadeira esperança que é Jesus, o único Salvador, que nos liberta, nos dá a luz da verdade, a remissão dos pecados, a restauração da liberdade diante das forças do mal, uma nova capacidade de amar, a participação na natureza divina, a vitória sobre a morte por meio da ressurreição da carne, a vida eterna.

Salve! Mãe de misericórdia, Mãe de Deus e Mãe do perdão, Mãe da esperança e Mãe da graça, Mãe cheia de santa alegria, ó Maria!

3º CAPÍTULO – PRESTA CONTA DE TUA ADMINISTRAÇÃO – Um balanço no início do século XXI

Somos convidados a ser pessoas que buscam e testemunham a verdade na esperança, diante de Deus e do mundo, para o bem da Igreja. O papa, no 1º domingo da Quaresma do ano Santo (de 2000), pedir perdão a Deus pelos erros e pelas faltas dos filhos da Igreja ao longo da história e ao mesmo tempo perdoando. Isso foi um extraordinário testemunho e um exemplo eloquente, encorajando-nos para esse convite.

DEUS NOS CHAMA À CONVERSÃO.

“Presta contas de tua administração” (Lc 16,2). “Trata-se da conversão de uma situação negativa e medíocre para uma mais autêntica atuação do Evangelho. Abandonar as falsas esperanças para pôr, enquanto servidores do ministério petrino, toda nossa esperança em Cristo.(...) E que a nossa fraqueza não nos assuste. É exatamente a consciência de que somos frágeis que nos mantêm como autênticos discípulos de Cristo, aptos para atuar uma constante renovação no coração da Igreja.”

PALAVRA DA VERDADE

As sociedades empresariais revêem, neste início de século, seus projetos, diretrizes de suas atividades e seus planos de trabalho. Façamos também nós um balanço do que fizemos, e traçarmos perspectivas à luz da Palavra de Deus. Peçamos a Deus que nos ajude no espírito de conversão. Por exemplo: temos sido fiéis na correta atuação e atualização da vontade de Deus, no Concílio Vaticano II? Deixemos que Deus mesmo nos ilumine e nos purifique.

O QUE O ESPÍRITO DIZ ÀS IGREJAS

No Apocalipse o Cristo Ressuscitado faz um balanço da vida das 7 Igrejas da Ásia Menor e fala aos seus pastores para purificá-las. Deixemo-nos renovar pelas suas palavras, em vista de uma verdadeira conversão!

Apocalipse 2,1-7- IGREJA DE ÉFESO – Perdeu o primeiro amor. O Senhor nos admoesta por não ter mais aquele amor vivaz, renovado e generoso, que jorra do Espírito Santo e rejuvenesce a Igreja.

Apocalipse 2,12-17: IGREJA DE PÉRGAMO – Deixou-se comprometer com a idolatria.

Apocalipse 2,18-29: IGREJA DE TIATIRA – Uma Igreja que dorme. Levar vida íntegra de compromisso.

Apocalipse 3,1-6: IGREJA DE SARDES: Não se apoiar nas glórias passadas e voltar a reviver.

Apocalipse 3,14-22 – IGREJA DE LAODICÉIA – Uma Igreja morna. O Senhor rejeita a mediocridade. “Recobra, pois, o fervor e converte-te”.

Só duas Igrejas não recebem admoestações:

ESMIRNA – Apocalipse 2,8-11 - O ressuscitado a encoraja no momento da tribulação e da prova. É uma Igreja perseguida e pobre: “Eis que o diabo vai lançar alguns dentre vós na prisão, para serdes postos à prova(...) Mostra-te fiel até à morte! “

FILADÉLFIA – Apocalipse 3,7-13: - Uma Igreja pequena mas fiel. Philadelphia significa “ amor fraternal” ( 1 Pedro 1,22; 2,17). O amor que os discípulos têm uns pelos ouros, segundo o NT: “Conheço tua conduta: eis que pus à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá fechar” (Apocalipse 3,8).

Deus sabe tudo a nosso respeito: “Conheço tuas obras”. “Sei onde moras”; “Conheço tua tribulação” (Ap. 2,9). Cristo ama muito seriamente as Igrejas. O apelo à conversão é insistente, contristado, sustentado pelo seu amor que, embora discreto, não dá trégua.

Toda mensagem sua conclui com estas palavras: “Quem tem ouvidos escute o que o Espírito diz às Igrejas” (Apoc 2,7). Devemos abandonar-nos totalmente em suas mãos: não temos que fazer outra coisa. Ele nos dará a graça para respondermos plenamente à nossa vocação e à capacidade de lermos os sinais dos tempos. A última mensagem é um tipo de compêndio: ser uma Igreja fiel ao amor, fiel à palavra do Evangelho, às leis do amor fraterno.

AQUI ESTAMOS, SENHOR, COM HUMILDADE, NA PRESENÇA DE DEUS.

O autor comenta uma oração de Santo Isidoro de Sevilha, dizendo que ela o questiona e o solicita a viver na verdade diante de Deus. Faz com que ele se sinta diante de Deus, purifica-o, coloca-o numa atitude de humildade e o faz subir do abismo de nossas misérias para o vértice da divina misericórdia. Deixar-se guiar pela vontade de Deus, deixar que o Espírito Santo nos liberte da falta de justiça dos nossos atos, da falta de objetividade de nossos julgamentos e decisões, de faltarmos com a verdade, de faltar com o discernimento, de ceder a favores recebidos, de temer servilmente os poderosos, de favoritismos pessoais até chegarmos à corrupção.

Tudo isso para sermos intérpretes e executores fidelíssimos da vontade de Deus por nossas palavras e atos.

As frases da oração que aparece no livro são estas:

“Eis-me aqui, Senhor, prisioneiros da imensidão do pecado. Vem até nós e permanece em nosso meio. Ensina-nos o que fazer, como proceder, o que devemos realizar, Que a ignorância não nos leve ao erro. Não nos dobre o favor nem nos corrompa a qualidade do dom ou a acepção da pessoa, para que em nada nos desviemos da verdade, a fim de que as nossas decisões em nada divirjam de Ti. Sê somente tu aquele que sugere e realiza nossas decisões. Une-nos a ti eficazmente só o dom da tua graça.”

Nossa união é testemunha de nossa pregação. “A fim de que sejam um em ti” (Jo 17,21). “ Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles” (Mt 18,20).

“Não há santo sem passado, nem pecador sem futuro”. “Vem, Senhor Jesus!” Venha assim o Senhor Bom Pastor, para converter-nos e renovar-nos! A Igreja não se renova de uma vez por todas, mas a cada dia.

4º CAPÍTULO – DEUS AMOU TANTO O MUNDO ... (Jo 3,16-17)

-O Mundo de Hoje

“Para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. - “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.

O homem é o primeiro e fundamental caminho da Igreja (Redemptor Hominis 14 e Dives in Misericordia). A Igreja deve ouvir o grito de socorro que chega até ela vinda deste mundo e, ao mesmo tempo, fixar o olhar na luz da Verdade recebida de Deus, a fim de discernir esperanças e ameaças, preocupações e motivos de angústia, ou seja, luzes e sombras.

ESTA TERRA MAGNÍFICA

O autor comenta as melhorias na humanidade depois das duas guerras mundiais, que causaram sofrimentos indescritíveis. Só na segunda grande guerra foram 55 milhões de vítimas! As melhorias foram: diminuição da mortalidade infantil pela metade (após 1965), a média de vida subiu 10 anos (após 1970), aumentou a frequência às escolas, aumentou a alfabetização de adultos; aumento da renda per capita.

Neste 3º milênio cresceu a consciência dos direitos humanos universais, o autogoverno dos povos é visto como uma necessidade, a valorização das identidades culturais, o respeito pelas minorias, o valor da democracia, o livre comércio.

O diálogo entre as religiões e a reconciliação. A promoção da mulher. A responsabilidade diante da natureza. O grande progresso das comunicações, da medicina e das ciências. Na dimensão espiritual, reflorescimento da interioridade e autenticidade. Fome de oração, de encontro com o absoluto. A Globalização = mundo mais unido e solidário, a fraternidade humana. Novos movimentos eclesiais.

ESTA TERRA SOFREDORA

Muitos povos sofrem pela marginalização, discriminação, dignidade humana desrespeitada. Muitos “lázaros” ao redor das mesas dos ricos, pobreza, insegurança sanitária e cultural.

Dados do Banco Mundial

1 bilhão e 300 milhões no limiar da pobreza absoluta;

840 milhões padecem fome, sendo 200 milhões crianças;

13 milhões por ano morrem: quase 36 mil por dia, 1500 por hora, 25 por minuto, 1 a cada 3 segundos;

1 bilhão e meio vive menos de 60 anos.

Mais de 880 milhões não têm acesso aos serviços de saúde;

2 bilhões e 600 milhões não têm as mínimas estruturas elementares de higiene e saúde. O aumento da AIDS.

A pobreza gera a prostituição (500 mil mulheres só na Europa Ocidental); o tráfico de drogas entre os menores de idade; a violência e a criminalidade. O desemprego gera muitos suicídios de jovens desesperados.

Países endividados

África abaixo do Saara: pagaram, entre 1980 e 1996, duas vezes o montante referente às dívidas externas, mas hoje ainda devem três vezes mais do que deviam a 16 anos atrás.

A insegurança cultural da pobreza. Em 1997 mais de 850 milhões de adultos eram analfabetos e mais de 260 milhões de crianças não tinham acesso aos ciclos primário e secundário.

O comércio ilícito de drogas e armas e a consequente lavagem de dinheiro causaram muitas guerras. Entre 1989 e 1998 houve 81 conflitos armados. Milhares de rapazes de 14 anos lutaram como soldados, muitos foram mortos, outros ficaram deficientes físicos ou mentais, outros são viciados em massacres, violência, ódio...

Cristo chorou no Monte das Oliveiras diante de Jerusalém. Hoje choraria e exclamaria diante do mundo: ”Tenho compaixão deste povo” (Mt 15,32). Em muitos lugares ainda está crucificado e grita “Tenho sede!” (Jo 17,32)

ESTA TERRA DRAMÁTICA

A distância entre ricos e pobres torna-se maior a cada dia que passa. A fortuna das 3 pessoas mais ricas do mundo é igual ao PIB dos 48 países mais pobres. Um bilhão e 300 milhões vivem com menos de um dólar por dia.

Nos países industrializados 80% são internautas, mas 2 bilhões de pessoas não usufruem da eletricidade em outros países. Vinte por cento da população rica em nível mundial, consome 86% de todos os bens.

No campo moral há um “desenvolvimento cancerígeno da subjetividade” (Martini, 1987, pág 37), que propaga a descristianização, o ateísmo prático e a redução da fé ao âmbito pessoal. Seitas e várias formas de fundamentalismo proliferam. Crise no campo moral: obscureceu-se a verdade em relação à pessoa humana. A família se desagrega, inverte-se a ordem da criação, abusa-se da liberdade, não se respeita a vida.

A urbanização gera novos problemas pastorais: despovoamento de algumas regiões, por causa do desemprego. O envelhecimento fará explodir o sistema de aposentadoria de muitos países.

Daqui a 15 anos (2015), em muitos países europeus, a classe operária e a agrícola diminuirão enormemente. Na França, de 8,2 milhões de operários (1984), hoje (ano 2000) são 6,5 milhões e em 2015 serão 4 milhões. A sociedade de amanhã será composta por mais de 75% de empregados com nível salarial mediano.

As redes telemáticas (comunicação à distância de um conjunto de serviços fornecidos pela internet) mudarão profundamente a nossa vida; com estas, todo bem e todo mal chegam à intimidade dos lares.

Os países em regimes ditatoriais não poderão mais entrincheirar-se por detrás de muros, barreiras ou interdições.

Já dizia o papa João XXIII que se a Igreja não vai ao encontro da humanidade, a humanidade não virá ao encontro da Igreja.

ANUNCIAMOS UMA GRANDE ALEGRIA: O SALVADOR NASCEU PARA NÓS!

Lucas 4,18-19: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque ele me ungiu para levar a boa nova aos pobres...”.

Sem uma conversão dos corações, boa parte da humanidade corre o risco de passar da experiência de exploração à exclusão, da exclusão a uma verdadeira e real eliminação, até mesmo física. Paulo VI disse: “Uma terra sofredora, dramática e magnífica!”

Igreja acolhedora. Igreja Palavra; Igreja Pão/Eucaristia. Igreja apaixonada pela unidade desejada por Jesus (Jo 17). Igreja Caminho; Povo de Deus, que rezando e cantando, vai ao encontro de Cristo Ressuscitado (única esperança), ao encontro de Maria e de todos os santos. Igreja que tenha o fogo do Espírito Santo em seu coração = a liberdade, o diálogo sincero com o mundo e o discernimento dos sinais dos nossos tempos. Doutrina Social da Igreja: Igreja testemunha da esperança e do amor, com fatos concretos.

Que alegria! Que esperança! Maria Santíssima, vida, doçura, esperança nossa, intercedei por nós!

5º CAPÍTULO – UMA COISA É NECESSÁRIA... DEUS E NÃO AS OBRAS DE DEUS!

Com Abraão aprendemos a apoiar-nos unicamente em Deus, escolhermos a Deus (Hebr 11). Não confiar totalmente em Deus e procurar, em vez disso, apoio e segurança em outras realidade, foi sempre a tentação do Povo de Deus, e a experiência sofrida de personagens, embora gloriosas, como Moisés, Davi, Salomão.

Maria é fiel por excelência, e com ela a miríade de testemunhas e bons exemplos na história, na Igreja e no nosso cotidiano.

O FUNDAMENTO DA VIDA CRISTÃ

(um resumo:)

Em 9 anos de isolamento e sofrimento, 8 anos de bispo, não conseguia dormir. Atormentava-me a idéia de ter de abandonar a diocese, as inúmeras obras que havia iniciado por Deus, além, da péssima condição do ambiente: às vezes ficava dias no escuro, outras não desligavam a luz. Estava revoltado. “Uma noite, do profundo do meu coração, escuto Alguém dizer: “Por que você se atormenta desse modo? Você deve fazer uma distinção entre Deus e as obras de Deus. Tudo o que você fez e deseja continuar fazendo, como as visitas pastorais, formação de seminaristas, religiosos,religiosas, leigos, jovens, construção de escolas, de casas para estudantes, missões para a evangelização dos não cristãos..., tudo é excelente, obras de Deus, não não são Deus! Se Deus está querendo (ou permitindo) que você abandone tudo isso, faça-o imediatamente e tenha confiança nele! Deus fará tudo infinitamente melhor do que você. Ele haverá de confiar suas obras a outras pessoas que são muito mais capazes do que você! Você escolheu somente a Deus, e não às obras dele!”.

Isso lhe deu muita paz, mudou radicalmente seu modo de pensar, ajudou-o a superar momentos quase impossíveis de serem superados fisicamente. Nova força o acompanhou por 13 anos. Em todas as dificuldades, renovava essa escolha e a paz nunca lhe faltou. Escolher Deus e não as obras de Deus. Esta é a base da vida Cristã em qualquer época. É a mais autêntica resposta ao mundo de hoje. É o caminho para atuar os desígnios do Pai para cada um de nós, para a Igreja e para a comunidade de nosso tempo.

UM SIM SEMPRE RENOVADO

“Quanto os céus estão acima da terra, tanto [...]os meus pensamentos estão acima de vossos pensamentos” (Is 55,9). Minha vida é uma sucessão de opções, a todo instante, entre Deus e as obras de Deus. Uma opção sempre nova, que se transforma em conversão.

Maria escolheu Deus, abandonando seus projetos, mesmo sem compreender plenamente o que se passava. Sua vida tornou-se um SIM sempre renovado: no presépio, no exílio, e desde a carpintaria em Nazaré até o Calvário. “Deus e não as obras de Deus”. E assim, ela vê todas as promessas realizadas: a ressurreição, a recomposição do número dos discípulos, o anúncio do Evangelho a todos os povos.

O VERDADEIRO CULTO

“Amarás o Senhor teu Deus...” (Dt 6,5; Mt 22,37). De nada valem os sacrifícios e holocaustos, se não houver antes o sacrifício interior de um coração contrito e humilhado e uma escolha de Deus autêntica e transparente. O Céu e a terra pertence a ele, a terra é “escabelo” dos seus pés. Deus não precisa de um templo (cf Isaías 66,1-2).

A CORAGEM DA COERÊNCIA

Quem escolhe Deus deve aceitar todo tipo de desvantagem possível: no campo da economia, do poder ou de outros interesses... Jesus já havia dito: “por minha causa”. (Hb 10,32-34).

A ESCOLHA DE DEUS NA VIDA DE UM PASTOR

Na prisão era mais fácil escolher Deus como única opção de minha vida. Agora, em liberdade, mergulhado no trabalho, nos compromissos às vezes fatigantes, é mais fácil “ser” Marta do que Maria.

Na minha vida pastoral, quanto do que faço é para ele, e quanto é para as suas obras (que na verdade são as minhas obras Ao me negar a deixar um encargo ou querer assumir um outro, estou realmente desapegado ou não?

Hebreus 10,36 diz: “É de perseverança que tendes necessidade” Perseverança para sermos realmente livres! Quem é livre não tem medo, como Moisés (Hb 11,24-25).

A FORÇA MAGNÉTICA DO TESTEMUNHO

Conselho a jovens seminaristas universitários da Inglaterra: “Não se preocupem como irão fazer para atrair as multidões. Estejam certos de uma coisa: se vocês seguirem Jesus, as pessoas virão atrás de vocês (...) Lancem em Jesus todas as ansiedades e preocupações.” Os mártires foram seguidos, na fé, por muitas pessoas!

PARTE 3- A AVENTURA DA ESPERANÇA

6º CAPÍTULO: QUER COMAMOS, QUER BEBAMOS...

O MOMENTO PRESENTE

Diz o teólogo ortodoxo Evdokimov que o homem atual vive no passado, nas suas recordações, ou na espera do que vai acontecer. Foge do momento presente, faz tudo para “matar o tempo”. Não vive o aqui e o agora, mas num mundo de fantasias.

O momento presente é o único que temos em nossas mãos. É no momento presente que se inicia a aventura da esperança. Este é o único tempo que temos em nossas mãos. O passado já se foi, o futuro não sabemos se existirá. A nossa riqueza é o presente. Viver o presente é a regra dos nossos tempos.

CAMINHO À SANTIDADE

De Saigon a Nha Trang, 450 km, ao ser preso em agosto de 1975, durante a noite, escoltado por dois policiais: primeira experiência de encarcerado: não tenho mais horário! “Um dia na prisão vale por 1000 outonos em liberdade” (provérbio vietnamita). Medo, tensão, tristeza. Coração dilacerado por estar distante do seu povo. “Tenho de enfrentar a realidade. Estou preso (...) Faz-se necessário aproveitar as ocasiões que se apresentam todo dia, para realizar ações ordinárias (comuns) de modo extraordinário.”

“Nas longas noites na prisão, dei-me conta de que viver o momento presente é o caminho mais simples e mais seguro para se chegar a santidade. Jesus, eu não vou esperar. Vivo o momento presente, plenificando-o de amor!”

DEDICAÇÃO E DOM

No Evangelho, Jesus exorta-nos sempre a viver o presente: Mt 6,34: o pão só para hoje (Pai-nosso); basta o afã de cada dia; Lc 23,42-43: “Hoje estarás comigo no paraíso”

S. Paulo acentua ao máximo a identificação com Cristo a todo instante: Gl 2,20; Rom 6,4; Col 2,12; 2Tim 2,11; 2Cor 7,3; Col 3,1. União de Jesus conosco como uma realidade perfeita, vida sem intervalo que empenha todo o nosso ser e espera a nossa resposta: Cristo morreu e voltou à vida para ser o Senhor dos mortos e dos vivos. Rom 14,8-9 = pertencem ao Senhor. 1 Cor 10,31: façamos tudo para a glória de Deus. Jo 17,22-23: “Para que sejamos um como Jesus e o Pai são um”

NO PRESENTE: “ESTAR NO SEIO DO PAI

Todos os santos concordam que o momento presente é algo importante. Eles vivem unidos a Jesus em todos os instantes de suas vidas, segundo o próprio ideal encarnado em seu ser.

S. Paulo da Cruz: estar no seio do Pai, não pensar no futuro. Viver momento por momento em Deus, sem nenhuma preocupação a não ser fazer bem a vontade dele em todos os acontecimentos da vida.

Santa Teresinha: “A minha vida é um instante que passa, é um momento que rapidamente escapa de minhas mãos e se vai. Tu sabes, meu Deus, que para amar-te aqui na terra, não tenho outro momento a não ser o dia de hoje”.(Se achar oportuno, leia a poesia em que Sta. Teresinha fala sobre esse assunto no texto “Homenagem a Sta. Teresinha”, deste blog).

Chiara Lubich - “Mergulhamo-nos em Deus, onde quer que ele esteja presente, no momento presente de nossa vida.

DISCERNIR A VOZ DE DEUS

Discernir a voz de Deus entre as várias vozes no nosso íntimo (Gaudium et Spes 16): esse é um exercício praticado por todos os santos, continuamente. Sendo um exercício contínuo, o discernimento se faz cada vez mais fácil. Não é tão simples, mas se acreditarmos no amor de Deus, vamos conseguir (cf. Rom 8,28)

Orígenes disse que se nossos atos, nossa vida e nossos costumes estiverem de acordo com a vontade de Deus e seus mandamentos, estaremos espiritualmente em seu santuário, em qualquer lugar em que estivermos fisicamente.

COMO PLENIFICAR CADA MOMENTO COM O AMOR

O autor escreveu “O Caminho da Esperança” em outubro e novembro de 1975 quando estava em prisão domiciliar. Pedira a um garoto que pedisse à mãe que comprasse blocos antigos de calendários e escrevia diariamente suas mensagens aos fiéis, dispersos nos vilarejos e nas plantações de arroz. O garoto vinha pegar as folhas e eram copiadas pelos seus irmãos e irmãs. “Quero viver o momento presente, preenchendo-o de amor”. Esse era o pensamento que o levou a isso. Não esperou: criou a oportunidade.

Em 1989, quando ele saiu da prisão, madre Teresa de Calcutá lhe escreveu: “O que importa não é a quantidade de nossas atividades, mas a intensidade de amor que colocamos em cada ação”

O MOMENTO QUE SERÁ O ÚLTIMO.

Viver intensamente todos os instantes da vida é o segredo para viver bem também aquele que será o último. Cada palava, cada gesto, cada telefonema, cada decisão deve ser a coisa mais bela de nossa vida. Reservamos a todos o nosso amor, o nosso sorriso, sem perder um segundo. Cada momento de nossa vida seja:

-o primeiro momento,

-o último momento,

-o único momento.


ORAÇÃO DE SANTA FAUSTINA KOWALSKA


Se olho para o futuro, o medo me investe.

Mas por que adentrar-me no futuro?

Aprecio apenas o momento presente,

porque o futuro talvez não se hospede em minha alma.

O tempo que passou não está mais em meu poder

para mudar, corrigir ou acrescentar alguma coisa.

Nem os sábios, nem os profetas puderam fazer isso.

Confiemos, portanto, a Deus o que pertence ao passado.

Ó momento presente, tu me pertences completamente!

Desejo utilizar-te naquilo que estiver ao meu alcance(...)

Por isso, confiando em tua misericórdia,

lanço-me na vida como uma criança,

e a cada dia te ofereço o meu coração

inflamado de amor pela tua maior glória.


7º CAPÍTULO : MINHAS PALAVRAS SÃO ESPÍRITO E VIDA –

SER A PALAVRA


É importante ter sempre consigo o evangelho, “Lâmpada para os meus passos,” “Luz no meu caminho” (Sl 119,105).

A PALAVRA E AS PALAVRAS

As palavras de Jesus possuem uma dimensão que as demais não têm, sejam de quem forem. Jo 6,67-68:”Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna!”

PALAVRA E EUCARISTIA, UMA ÚNICA REFEIÇÃO

Jesus é a Palavra por excelência. A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor (Dei Verbum 21). Diz Orígenes “Nós bebemos o sangue de Cristo (...) também quando recebemos as suas palavras nas quais reside a vida”. Santo Ambrósio, São Jerônimo, dizem o mesmo: “As palavras de Jesus: 'Quem come a minha carne e bebe o meu sangue' (Jo 6,54), podem ser entendidas tanto em relação ao mistério (eucarístico) quanto ao verdadeiro corpo e sangue de Cristo que são as palavras das escrituras”(S. Jerônimo)

O autor conta que na prisão fez um manual com 300 frases da Escritura que sabia de cor, numas folhas que conseguira fortuitamente.

ACOLHER E VIVER A PALAVRA DE DEUS

Deixar-se trabalhar pela Palavra, até que ela chegue a impregnar toda a vida cristã (cf Tiago 1,22)

ADQUIRIR A MENTALIDADE DE CRISTO

Quando estava preso escreveu: “Observa uma única regra: o Evangelho. Esta norma está acima de todas as demais (Mt 4,19). Um santo longe do evangelho é um santo falso.

COMUNICAR A PALAVRA

A palavra deve ser partilhada na catequese, nas homilias, nos retiros. Mas devemos também dar o testemunho dos frutos da Palavra em nossa vida! Conta o autor a experiência na prisão de Phu-Khanh, em que os católicos decoravam folhetos com o Novo Testamento, as escondiam na erra do solo, e as recitavam à noite, em rodízio. “Era impressionante e comovente ouvir, no silêncio e na escuridão, a Palavra de Deus, a presença de Jesus, o “Evangelho vivo” recitado com toda a força espiritual; ouvir a oração sacerdotal, a paixão de Cristo.” Os não-cristãos escutavam com respeito e admiração o que chamavam de “Palavras Sagradas”.

APENAS COM O EVANGELHO

Pedi a São José que me ajudasse a colocar em prática o Evangelho. Como posso mudar de mentalidade, reevangelizar minha vida e fazer uma autêntica conversão?


8º CAPÍTULO – VÍNCULO DA PERFEIÇÃO

A ARTE DE AMAR

“Se não tivesse a caridade, eu nada seria”(1Cor13,2). São palavras que me chamam à conversão e lembram-me que “antes de tudo” vem a caridade (cf 1Pd 4,8); antes mesmo de fazer uma homilia, antes de rezar, antes de qualquer que seja o trabalho apostólico, devo ter a caridade. Ou melhor: devo SER caridade.

Sem amor, não tenho Deus no meu coração e não posso doá-lo aos outros. Nem sequer o conheço, como diz 1 Jo 4,8. Sem o amor, tudo o que eu fizer será desperdício de energias, como diria Sto. Agostinho.

O MUNDO É DE QUEM O AMA!

Nós nos lamentamos muito com a falta de interesse pelo cristianismo, na sociedade de hoje; com os jovens, que não querem nada de nada; com as vocações, que diminuem; e assim por diante. Nós nos sentimos derrotados.

No entanto, a aventura da esperança leva-nos mais longe. “O mundo é de quem mais o ama e melhor sabe dar prova disso”, diz um antigo calendário.”No coração de toda pessoa há uma infinita sede de amor e nós, com o amor que Deus infundiu em nossos corações (cf Rom 5,5), podemos saciá-la” Mas é preciso que o nosso amor seja uma “arte” que supere a capacidade de amar meramente humana.

Exemplos disso: Madre Teresa de Calcutá: quem a via, amava-a; João XXIII: sua memória ainda está muito viva no coração das pessoas. Essa “arte” de amar muitas vezes não está em alguns conventos, em alguns centros diocesanos, em nossos escritórios. As fisionomias são tristes e chateadas, por causa da rotina do dia a dia. Será que a falta de vocações não decorre disto? E o nosso testemunho? Será visível? “Sem um amor vigoroso não podemos ser testemunhas da esperança!”.

Muitos têm a teoria, mas não a prática do amor. Jesus era mestre na arte de amar. Como alguém que muda de país leva consigo as leis e costumes de seu povo, pelo menos intimamente, assim também Jesus, ao vir a este mundo, trouxe consigo, qual peregrino da Trindade, o modo de viver de sua pátria celeste, “Exprimindo humanamente os modos divinos de agir na Trindade” (C.I.C nº 470).

CARACTERÍSTICAS DO AMOR CRISTÃO

1- Ser o primeiro a amar. Jesus toma a iniciativa e ama primeiro (1Jo 4,19). Assim também nós: “Não espere ser amado pelo outro, mas tome a iniciativa e comece!” (S. João Crisóstomo).

2- Amar a todos, sem excluir ninguém. Deus faz nascer o sol tanto sobre os bons como sobre os maus.

3- Amar os inimigos – Os meus carcereiros, por exemplo, não entendiam como eu poderia amá-los e não ter no coração sentimentos de vingança contra eles. Mt 5,44-47: Quem não ama os inimigos, não é digno de chamar-se cristão .

4- Amar dando a própria vida (Jo 15,13; Jo 13,1) Estejamos, como Cristo, sempre prontos a dar a vida um pelo outro. Jesus deu sua vida na cruz e deu o seu corpo e sangue na Eucaristia.

5- Amar servindo - “Dar a vida” pode também ser entendido no dia a dia, sem efusão de sangue, colocando-nos a serviço dos outros, mesmo que, por algum motivo, possam parecer “inferiores” a nós. Em Jo 13,15, em vez da instituição da Eucaristia, João coloca o Lavapés “para que, como eu vos fiz, também vós o façais.” Tornar-se “Eucaristia” para os outros, identificar-se com eles, partilhar de suas alegrias e dores (Rom 12,15), aprender a pensar com a sua mente, sentir com o seu coração, viver projetado no outro: “Caminhar com o seu mocassim”, diz um provérbio indígena.

O AMOR – PRIMEIRA EVANGELIZAÇÃO

Na prisão, no isolamento, Van Thuan conquistou os guardas amando Jesus na pessoa deles, sorrindo e trocando palavras gentis. Eram cinco os guardas que se revezavam. Van Thuan lhes falou dos demais países e isso lhes aguçou a curiosidade. Falou-lhes também de economia, de liberdade, de tecnologia. Aos poucos se tornaram amigos. Tornaram-se como que seus alunos!

Contou também como fez sua cruz de madeira na prisão de Vinh Quang, na montanha de Vinh Phu, quando fora cortar lenha, graças à gentileza de um dos guardas, que permitiu. Trouxe-a sempre escondida num pedaço de sabonete até o final da prisão (eles proibiam símbolos religiosos) em com uma moldura de metal, é a que ele usava como cruz peitoral quando ficou livre. Assim também ocorreu quando ele fez uma correntinha (teve apenas 4 horas para fazer isso), de um fio elétrico cedido por um guarda, a muito custo para pôr a tal cruz.

Ele a usava após a prisão não como recordação da prisão, mas porque “Só o amor cristão pode mudar os coração, e não as armas, as ameaças ou a mídia.” O amor vence tudo! Quando o amor é verdadeiro suscita como resposta também o amor. Você ama e é amado. (Jo15,12) O amor recíproco é a plena atuação da arte de amar.

A MÃE DO BELO AMOR

Maria é como a Lua que reflete toda a beleza do Sol que é Jesus. A arte de amar é amar como Jesus (porque ele é amor). A arte de amar é amar como Maria. A arte de amar é amar como Teresinha do Menino Jesus: “No coração da Igreja (...) serei o amor”.

9º CAPÍTULO – FORA DOS MUROS – TUDO PARA TODOS –

TODOS SÃO O POVO DE DEUS CONFIADO A MIM.

Em 01/12-1976, 21 horas, inicia uma viagem de 1.700 km de navio, transferido para outra prisão. No porão, lugar onde se carrega carvão, apenas uma lamparina de querosene, tudo escuro, 1.500 pessoas. Condições indescritíveis. “Passo aquela noite angustiado (...). Na minha mente dá-se uma verdadeira tempestade. Até aquele momento eu estava (preso) na minha diocese, mas agora não sei para onde estão me levando. Medito sobre as palavras de S. Paulo “ (Atos 20,22-23: “Me aguardam cadeias e tribulações).

NAS RAIZES DA EVANGELIZAÇÃO

Um dos prisioneiros tentou suicídio. Van Thuan o livrou disso e, em 1998, se encontraram na Califórnia, num congresso inter-religioso. Esse homem lhe mostrou as cicatrizes do pescoço, da tentativa de suicídio com um cabo de aço, e agradeceu muito por tê-lo impedido.

Durante a viagem no navio, ao saberem que o bispo estava ali, todos se achegaram para relatarem suas próprias angústias. As horas passavam... “E eu o dia todo a compartilhar das suas angústias e a confortá-los. Passei os 3 dias de viagem procurando animar os meus companheiros de prisão e mediando sobre a paixão de Jesus.

Durante a segunda noite (...) comecei a entender que se iniciava uma nova etapa da minha vocação (...) Ali tratava-se de ir com Jesus às raízes da evangelização (...) de ir morrer com ele fora dos muros: fora do recinto sagrado”.

JESUS CRUCIFICADO ESTÁ PRESENTE LÁ ONDE VIVEM TODOS OS AMALDIÇOADOS

Em Gál 3,13 e Dt 21,23 - “Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro” “Se aquele Crucificado era realmente o Filho de Deus; se, portanto, o próprio Deus estava presente naquele homem que pendia do madeiro, então essa morte por crucifixão, antes que ser maldição, manifestava até que pondo Deus tinha se aproximado daqueles que estavam distantes dele. Suspenso na cruz, Jesus tinha-se feito presente lá onde viviam todos os amaldiçoados, lá onde vivia o mundo pecador distante de Deus. E mesmo assim tinha oferecido a reconciliação e a salvação a todos”.

FORA DOS MUROS

Jesus morreu “fora dos muros”, “fora das portas da cidade” (Hb 13,12ss), fora da vinha (da comunidade de Israel – Lc 20,15) e, portanto, fora do lugar santo da presença do Senhor, onde somente o homem religioso pode estar. “E assim revelou, até às últimas consequências, que é possível encontrar o amor de Deus exatamente lá onde, aos olhos do homem, Deus não está.

A Igreja está convencida que o Crucificado abraça a todos, até o pior e o mais desesperado (Is 53,12). “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, toda a Judéia e a Samaria, e até os confins da Terra” ( Atos 1,8). Somos também convocados a irmos até fora dos muros, ou seja, a todos os povos.

A MINHA MAIS BELA CATEDRAL

“No navio, e depois no campo de reeducação, tive ocasião de estabelecer um diálogo com as mais variadas pessoas; ministros, parlamentares, autoridades militares e civis, autoridades religiosas Cao daí, Hoa Hao, budistas, brahmanistas, muçulmanos, pessoas de várias denominações cristãs, como Batistas, Metodistas... No campo, fui eleito ecônomo, para servir a todos, distribuir os alimentos, pegar água quente e transportar nos ombros carvão para o aquecimento durante a noite, porque os outros me consideravam um homem de confiança.”

Isso me fez entender que deveria me engajar numa nova forma de evangelização, não mais como bispo de uma diocese, mas fora dos muros, como missionário para os que estão fora, por toda a vida, com o máximo das minhas capacidades de amar e de me doar.”

“Na escuridão da fé, no serviço e na humilhação, a luz da esperança transformou a minha visão. A essa altura esse navio, essa prisão, era a mais bela catedral, e estes prisioneiros, sem excluir ninguém, tinham-se tornado o Povo de Deus confiado aos meus cuidados pastorais. A minha prisão era divina providência, era vontade de Deus.”

“Falei sobre isso tudo com os outros prisioneiros católicos e nasceu, entre nós, uma profunda comunhão, um novo empenho: somos chamados a ser, todos juntos, testemunhas da esperança para todos”. Agradece, então, à Propaganda Fides, aos corajosos missionários que levaram o Evangelho ao Vietnã e derramaram o próprio sangue nessa terra, como testemunho de fé.

O RADICALISMO DO EVANGELHO

Aventura da esperança> evangelização> radicalismo do evangelho. O autor cita frases da escritura sobre esse tema da radicalidade do Evangelho: Jo 17,21 (que todos sejam um); Mt 28,19 (todas as gentes); Mt 22,37 (amor pleno a Deus); Jo 13,1 (Jesus amou-nos até o fim); Atos 1,8 (testemunhas de Jesus em todos os lugares); Salmo 100,5ss (a misericórdia do Senhor é para sempre).

DIMENSÃO ILIMITADA DA OBRA DE EVANGELIZAÇÃO

Jo 15,12 (o mesmo amor no céu e na terra; Jo 20,21 (a mesma missão); Ef 3,18-19 (as quatro dimensões do amor de Cristo: largura, comprimento, altura e profundidade) Maximiliano Kolbe: “Absolutamente, totalmente, sem condições”. Jo 19,30 (tudo está consumado)

TUDO A TODOS – 1 Cor 9,19-23

“Revelar a toda pessoa, sem discriminação alguma, que Deus está próximo dela e a ama imensamente” - o verdadeiro Apostolado, segundo Paulo. “Na crus de Jesus, Deus se aproxima de todo homem que está distante dele e lhe oferece perdão e redenção. Eis porque a evangelização não é uma função confiada somente aos missionários, mas é constitutiva da vida cristã: a Boa Nova do Deus próximo pode-se manifestar somente se nos tornamos próximos de todos”.

UM HORIZONTE ILIMITADO: TUDO POR CAUSA DO EVANGELHO.

“Todo o homem e todos os homens são destinatários da Boa Nova”. Diálogo universal num círculo concêntrico: “Começa dentro da Igreja e abraça os nossos irmãos e irmãs das outras Igrejas e Comunidades Eclesiais, direciona-se às grandes religiões, estabelece laços de amizade e de cooperação também com quem não professa uma fé religiosa, e não exclui nem mesmo os que se opõem à Igreja e a perseguem de diferentes maneiras”. “Somos todos chamados a ser irmãos” (G. S. 92). (Aqui o autor cita as inúmeras viagens pastorais de João Paulo II aos cinco continentes, na época já quase 100 viagens, concluindo:) ”Representam com eloquência o alcance ilimitado que devemos ter também nós no serviço do Evangelho nos dias de hoje”.

“Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns, a todo custo” - “ Isto tudo eu faço por causa do Evangelho” ( 1 Cor 9,23).


4ª PARTE – ESPERAR CONTRA TODA ESPERANÇA;

10º CAPÍTULO – ELÓI, ELÓI, LAMÁ SABACHTHÂNI?

ABANDONADO PELO PAI

2Tim 4,16-17: “... Todos me abandonaram (...) mas o Senhor me revestiu de forças” Fiquei completamente isolado e abandonado, pois ninguém podia fazer coisa alguma por mim. “Mas mesmo quando o Senhor se esconde, Ele não nos abandona”. A prisão onde eu estava nos primeiros meses está situada na parte mais católica da cidade de Nha Trang, onde fui bispo por 8 anos. Ouvia os sinos da catedral e o de muitas outras igrejas paroquiais e de comunidades religiosas. “Preferiria estar nas montanhas, para não ouvi-los! (...) Ninguém sabia onde eu estava, embora a prisão estivesse apenas a alguns km de minha casa!”.

Ao tomar o já citado navio, despedi-me intimamente de meus amigos e diocesanos, incluindo o arcebispo, Dom Paulo Nguyen Van Binh. Nunca mais eu os vi. Entretanto, o Pai nunca me abandonou. Ele me deu a força.

OS NOSSOS MOMENTOS DE ABANDONO

Muitas vezes passamos por momentos de abandono, verdadeiras noites da alma que nos obscurecem a certeza da proximidade da presença de Deus, que dava sentido a toda a nossa vida. S. Paulo passou por isso, incluindo “perigos por parte de falsos irmãos(2Cor 11,26).

O MISTÉRIO DA CRUZ

“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muitos frutos” (Jo 12,24). Jesus viveu isso plenamente e de modo real, como também é real a vida abundante desencadeada por essa morte. Ele aceitou tudo por nosso amor (Fil 2,6-8).

Um Deus que se doa sem reservas. Assemelha-se aos pecadores, mesmo sendo inocente (Mt 27,4) e justo (1Pd 3,18); (Gl 3,13).

O ABANDONO DE JESUS

Depois de abandonado pelos homens, na hora da morte, “Deus, aquele que ele chamava de Pai, Abbá, cala-se. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste”? Jesus cham “meu Deus” e não mais “Pai”. “Aquele ápice de dor atingido pelo Filho de Deus abre-se, portanto, aos nossos olhos, como o cume do seu amor por nós”.

UMA SÓ COISA COM O PAI

Naquela mesma hora em que o Filho se sente abandonado pelo Pai, também o Pi vive a mesma “paixão de amor” do Filho. (Orígenes).

“Dando o Filho, deixando que ele percorra até o fim toda a distância entre o gênero humano e

Deus, provocada pelo pecado, também ele entra, de certa forma, em comunhão com todo o sofrimento humano: chega a esse ponto o amor que ele tem por nós”.

“O Filho, sentindo-se abandonado pelo Pai, doa-se novamente a ele com um ato de amor infinito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito“ (Lc 23,46) Manifesta assim que ele é uma coisa só como Pi, no amor; um com ele naquele Espírito de Amor que os une. A experiência da maior separação de Deus contém em si, de modo misterioso mas real, a experiência da mais plena unidade com o Pai.”

“Nesta espantosa e divina dinâmica de amor, toda dor nossa é acolhida e transformada; todo vazio, preenchido; todo pecado, redimido. O nosso abandono e o nosso distanciamento de Deus são superados.”

COMPLETO NA MINHA CARNE...

“Valorizar toda a dor como um dos inúmeros semblantes de Jesus Crucificado e uni-la à sua dor significa, de fato, entrar na sua mesma dinâmica de dor-amor. Significa participar da sua luz, da sua força, da sua paz; significa reencontrar em nós uma nova e mais plena presença de Deus”. O autor lembra que para que tal aconteça, é preciso não afastarmos cada dor pessoal e a dos outros, “mas a acolhermos profundamente, como se acolhêssemos a ele. E se, em seguida, esquecidos de nós, projetamo-nos naquilo que Deus nos pede no momento presente, nos próximos que estão ao nosso lado, propensos apenas a amá-los”. A dor dissipa-se, então, como que por encanto, e somente o amor permanece na alma.

Na prisão “nunca deixei de amar a todos, não excluí ninguém do meu coração (...) Tudo passa, somente Deus não muda. Estou nas mãos de Maria”.

... A FAVOR DO SEU CORPO QUE É A IGREJA.

“Mas, unir toda dor nossa à de Cristo na cruz, significa unir-se a ele e nele, como instrumento de salvação”.

Todos os peregrinos que se comprimiam ao redor do altar onde S. João Maria Vianney celebrava a Eucaristia, quanto os que assistiam à Missa do Pe. Pio, no Santuário de San Giovanni Rotondo, não viam a hora passar, ficavam fascinados pelo mistério que se realizava diante deles: viam um sacerdote totalmente identificado com Jesus na cruz, como disse S. Paulo: “Completo, em minha carne, o que falta das tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja.” (Col 1,24) “Tudo podemos unir a Jesus Crucificado que está ali sobre o altar (em cada missa). E podemos igualar-nos a Ele”. E dizer com 1 Pd 4,13: “ Alegrai-vos, para que também na revelação da sua glória possais ter uma alegria transbordante” Cristo Crucificado é a nossa única esperança!


11º CAPÍTULO : PODE UM CORPO ESTAR DIVIDIDO?

PARA QUE O MUNDO CREIA

O autor resume a celebração ecumênica durante a Abertura da Porta Santa, de 2000, e comenta a busca da comunhão visível dos cristãos: “Sabemos que somente a conversão dos corações, somente uma especial intervenção do Espírito Santo pode operar esse milagre”.

O GRITO DE JESUS NA CRUZ

“Quando vejo a divisão entre os cristãos, penso no Corpo de Cristo, “Cristo estará dividido”? (1Cor 1,13). E escuto nela o mesmo grito de Jesus na cruz.

A suprema oração de Jesus (Jo 17,21) pede que “Sejam uma coisa só, para que o mundo creia”. Mas os tristes acontecimentos da história nos dividiram. Eis uma chaga da Igreja, uma chaga de Cristo! Como a mensagem da Boa Nova pode então penetrar? “Com esses pressupostos, como se poderão costurar novamente os rasgões do secularismo e do ateísmo, que levam milhões de pessoas em terra de antiga tradição cristã, a viver como se Deus não existisse?”

Como podemos ser fermento de unidade se mesmo entre nós existem divisões? A Igreja de Cristo deve ser um modelo de unidade! “Tenho sede” - de unidade (Jo 19,28).

ESPERAR CONTRA TODA ESPERANÇA

Um bispo experiente nesse campo disse: “No ecumenismo entra-se com muita esperança e permanece-se contra toda esperança”. Nunca devemos nos desencorajar. Comenta o autor a “nostalgia” de João Paulo II da plena comunhão.

É na comunhão com Jesus que encontramos o caminho:

>para superarmos toda autossuficiência e acolhermo-nos mutuamente;

>para reabrirmos portas que podem parecer fechadas para sempre;

>para reconhecermos nossas culpas e perdoarmo-nos mutuamente;

>para amarmo-nos com aquela caridade que “Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,7).

“A aspiração à unidade caminha de braços dados com uma profunda capacidade de 'sacrifício'!” (JPII, 18/05/2000). Devemos mudar o nosso olhar, dilatar o horizonte, reconhecer a ação do Espírito Santo que age em nossos irmãos, descobrir vultos novos de santidade, abrir-nos a aspectos inéditos do empenho Cristão (JPII).

CONVERSÃO DO CORAÇÃO

É na conversão do coração que se apoia o verdadeiro ecumenismo(UR7) (O autor termina com as palavras do grande patriarca Atenágoras, das quais dou um pequeno resumo:) - Desarmar-se; estou desarmado; não tenho mais medo de nada; não mais me justifico à custa dos outros; não me agarro mais às minhas riquezas; acolho e partilho; não me atenho às minhas ideias ou projetos: estou aberto a outros melhores; renunciei ao comparativo; aquilo que é bom, verdadeiro, real, onde quer que esteja, é o melhor para mim; quando não se tem mais nada, não se tem mais medo; se nos desarmarmos e nos despojarmos, se nos abrirmos ao Deus-homem que faz novas todas as coisas, então será ele a cancelar o passado ruim e a restituir-nos um tempo novo, no qual tudo é possível!


12º CAPÍTULO – SEMENTE DE CRISTÃOS

MÁRTIRES DE HOJE

A HERANÇA DOS MÁRTIRES

“Eu mesmo vivi, na prisão, o sofrimento da Igreja. Percebia o tempo passar, dia após dia, sem ver o fim. Questionava-me como o profeta Isaías (21,11): “Sentinela, quanto resta da noite? Sentinela, quanto resta da noite?”. Começava, naquele momento, a entender melhor o significado do martírio. Não aquele cruento, embora isso também fosse possível no meu caso, mas o martírio como uma vida a que não se põe limites, nem mesmo o da sua conservação, por Deus, pela fidelidade à unidade e à comunhão da Igreja, para o serviço do Evangelho.(...) O cristão não despreza a vida”.

Não estabelecer limites ao amor para com Deus. Hb 12,4:-”Não resististes até o sangue em vosso combate contra o pecado!”. Eu me lembrava de muitos cristãos prisioneiros, sofredores, deportados, Também pensava nas perseguições, nas mortes, nos martírios ocorridos durante 350 anos no Vietnã, que deram à Igreja cerca de 150 mil mártires.

“Eu mesmo acredito que a minha vocação sacerdotal tenha sido misteriosamente (mas realmente) ligada ao sangue desses mártires, derramado no século passado, enquanto anunciavam o Evangelho e permaneciam fiéis à unidade da Igreja, malgrado as ameaças de morte e as violências.”

“Os mártires ensinaram-nos a dizer sim: um sim incondicional e sem limites ao amor de Deus, Mas eles nos ensinaram também a dizer não às bajulações, às concessões, às injustiças, mesmo que com o objetivo de salvar a própria vida ou de ter um pouco de tranquilidade.” Não se trata de heroísmo, mas de fidelidade. Jesus é o modelo de cada testemunha, modelo de cada mártir.

JESUS, MODELO E CAUSA DE CADA MARTÍRIO

“Olhe para a cruz e encontrará a solução para odos os problemas que o atormentam” (O autor escreveu isto na prisão). Os mártires olham para Jesus. Jesus não quis salvar a si mesmo. “Permanece e oferece a sua vida, sem procurar salvar a si mesmo” (Riccardi, 1999). “Salva-te a ti mesmo! (Mt 27,40) “Em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus “ (Hb 12,2).

São muito mais do que pensamos os mártires que olharam para Jesus na solidão das prisões, nas horas após a sentença de morte. Não se deixar fatigar pelo desânimo (Hb 12,3). “Muitos pensaram atentamente nele e não desanimaram. Encontraram uma força que causou espanto aos carnífices.” “Em sua fraquezas encontram forças” (Hb 11,34).

UMA GRANDE MULTIDÃO NA ATUALIDADE DA IGREJA.

Apocalipse 7,9-14 fala sobre os mártires, incluindo os novos mártires deste século. É uma multidão imensa, que desconhecemos, Muitos foram caluniados, acrescentando ao martírio a ignomínia!

MÁRTIRES DA CARIDADE

Da prisão Lager, da ilha Solovki, na Rússia, há um testemunho que nos mostra que “lá houve a união das Igrejas na pessoa dos bispos católicos e ortodoxos que participam unânimes na tarefa, uma união no amor e na humildade (Brodsky 1998). Foi um retorno à fé pura e autêntica dos primeiros cristãos. A comunhão dos santos fala com voz mais alta que os fatores de divisão” (João Paulo II)

Entre os tantos mártires, podemos citar:

-o Metropolita ortodoxo de São Petesburgo, Benjamim, martirizado em 1922 por falsas acusações. A respeito do sofrimento, disse: “A medida dos nossos sofrimentos é superada pelas consolações divinas”.

-Maximiliano Kolbe, padroeiro do tempestuoso século XX. A desumanidade do sistema dos campos de concentração não sufocou nele o amor forte até o martírio.

-Mártires missionários- Mártires do amor.

-Em 1995, seis Irmãzinhas Pobrezinhas, de Bérgamo, morreram devido ao contágio de epidemia de Ebola, no Congo, enquanto socorriam os habitantes do lugar. “O amor pelos pobres vale mais do que salvar a si mesmo”.

-Mártires da fé- Bispo Armênio católico de Mardin, Dom Maloyan, homem de paz, acusado injustamente. Foi convidado a renunciar a fé para ser libertado. Morreu mártir em 1915, com os seus fiéis. Não quiseram renegar Cristo.

-Mártires do ódio étnico – Em Buta, no Borundi, guerras étnicas, 40 seminaristas HUTU e TUTSI foram massacrados em 30/04/1996 por guerrilheiros Hutu, porque os seminaristas hutu não quiseram separar-se dos tutsi.

TESTEMUNHAS DA PÁSCOA DE CRISTO

“Deixem-se perseguir, mas não persigam!

Deixem-se crucificar, mas não crucifiquem!

Deixem-se ultrajar, mas não ultrajem!” (Isaas, o Sírio, narrado por Clément, 1987)

Mártires da pureza, da justiça, crianças, mulheres e homens mártires, povos mártires. “Queremos nós acolher a herança desses mártires, sob o sinal da Cruz e da Ressurreição?”

“EU VI O MEU PAI SUBIR AO CÉU”

Título de um livro de um autor russo em Paris, prêmio Unesco. Seu pai, um sacerdote ortodoxo, piedoso e apaixonado pastor, foi morto por usar um par de sapatos que um de seus filhos, soldado, lhe dera: era proibido aos civis usarem sapatos militares. Esse motivo foi apenas um pretexto. O verdadeiro motivo foi sua atividade religiosa. No dia do suplício o povo se ajoelhou com ele, os soldados não atiraram, e o capitão deixou que ele voltasse com os seus para casa. Alguns meses depois, durante uma viagem pastoral, simplesmente “desapareceu”. O povo entendeu que o assassinaram, e diziam que ele fora para o céu com o seu cavalo...

13º CAPÍTULO – NA ORAÇÃO DIVINA

REZAR SEMPRE!

Muitas pessoas me diziam, após minha libertação, que eu tinha muito tempo para rezar na prisão. Não é tão simples assim. O tempo passa lentamente na prisão, os anos são uma eternidade. Cansaço, doenças, “me impediram muitas vezes de recitar uma oração sequer”.

“Mas uma coisa é certa: é possível aprender muito sobre qual é a oração, sobre o espírito genuíno da oração, justamente quando se sofre por não poder rezar, devido à fraqueza física, à impossibilidade de concentrar-se, à aridez espiritual, com a sensação de ter sido abandonado por Deus e de estar tão longe dele a ponto de não lhe poder falar”. Descobre-se aí a essência da oração e se entende o que Jesus disse sobre “a necessidade de rezar sempre” (Lc 18,1).

UMA ORAÇÃO SIMPLES

O autor elenca o que reza:

-As preces litúrgicas, os salmos, os cânticos, o canto gregoriano, as orações em língua nativa e da minha família, de modo especial as três Ave-marias e o Lembrai-vos de manhã e à noite, como me ensinou minha mãe.

-Também rezo o “Meu Deus e meu tudo”, de S. Francisco de Assis, o “Meu Deus, misericórdia minha”, do abade de Maredsous, D. Marmion. As “Flechadas lançadas ao céu, jaculatórias, “que nada no mundo pode impedir ou deter porque são como o respiro da alma e as batidas do coração.

A oração de Jesus, modelo de oração, é simples e sincera. “Eu aprecio essas orações breves diante do sacrário, no escritório, pelas ruas, sozinho. Quanto mais eu as repito, tanto mais penetram em minha alma”:

“Eu sou a serva do Senhor” (Lc 1,38);

“Magnificat” (Lc 1,46-55);

“Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3).

“Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

“Eis teu filho; eis a tua mãe” (Jo 19,26-27)

“Lembra-te de mim quando estiveres em teu reino”(Lc 23,42);

“Em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).;

“Senhor o que queres que eu faça?” (Atos 22,10);

“Senhor, tu sabem tudo, sabes que eu te amo” ( Jo21,17);

“Meu Deus, tem piedade de mim, pecador “(Lc 18,13);

Todas essas breves orações, ligadas umas às outras, formam uma vida de oração. Elas me mantêm num clima de oração, sem nos afastar dos nossos deveres.

EM CONTÍNUA ORAÇÃO

O que pode ajudar a manter-nos em contínua oração, ou seja, sempre em união com Deus na vida cotidiana, no nosso dia a dia de trabalho e de relacionamentos com as pessoas Santo Antão achava que era a solidão a solução, até que um dia soube, por uma revelação: “Existe na cidade um homem semelhante a você: é médico de profissão, doa o seu supérfluo aos necessitados e canta o triságio (clique no link para saber mais sobre esse tipo de oração)com os anjos o dia inteiro” (da Vida de Santo Antão).

Santo Agostinho diz que “O teu desejo é a tua oração. Se contínuo é o teu desejo, contínua é a tua oração”. O desejo se identifica com a caridade, que leva as pessoas a fazerem o bem, fazendo assim uma oração contínua: o bem que é feito é uma oração contínua.

Diz também Santo Agostinho que ninguém consegue repetir com a língua o dia inteiro os louvores do senhor. Fazendo bem tudo o que fizermos, estaremos sempre louvando a Deus.

SER ORAÇÃO

Oração contínua não é só rezar sempre, mas ser oração. “Os impulsos do coração e do intelecto purificado são as vozes cheias de doçura com as quais tais pessoas não param de cantar em segredo ao Deus escondido” (Isaac de Nínive, em Clément).

“O verdadeiro caminho da oração é a vida. Uma oração contínua é uma vida completamente dedicada ao serviço de Deus (...) Esta é a única maneira de rezar sempre(...) A oração é contínua quando o amor é contínuo. O amor é contínuo quando é único e total” (Ancilli)

NA IMPOSSIBILIDADE DE PODER REZAR

Na prisão um guarda aprendeu e decorou o “Veni Creator (se quiser ouvir o canto, clique no link), após pedir-me que eu lhe ensinasse um hino em latim. Ele mesmo escolheu esse hino. Ele o cantava todas as manhãs às 7 horas, na escada, indo para a ginástica, ao tomar banho de sol no jardim. Terminava-o no quarto, já vestido, com as últimas palavras: “In saeculorum secula. Amém”. Isso foi coisa de Deus, pois só um policial poderia cantar em voz alta o Veni Creator. Eu não podia, para que não soubessem que havia um sacerdote naquela cela. “O Espírito Santo se servia de um policial comunista para ajudar um bispo na prisão a rezar, sobretudo quando eu estava muito fraco e deprimido, a ponto de não conseguir fazê-lo.”

Quando não consigo rezar, digo isso a Maria e apenas rezo uma Ave-Maria com todo o amor e devoção, e a ofereço por todos os que dela necessitam. Para mim, estar sempre numa atitude de contínua oração é procurar ser uma Ave-Maria vivente. Também recitar o Pai-Nosso.

Quando debilitado e sem forças, resumia o Pai-Nosso com frases como esta: “Para o Pai: Teu nome, teu reino, tua vontade; Para a humanidade: nosso pão, nossas ofensas, nossa tentação.” É inimaginável a força que infundem na alma as orações litúrgicas! Eu cantava, quando deprimido, o Hino das Vésperas dos mártires.

O TESTAMENTO DE JESUS

Um último modo de rezar, na prisão, era o de me imergir no testamento de Jesus: nas suas últimas palavras, nos seus últimos atos. Jesus nos deixou a sua Palavra, o seu Corpo, a sua Mãe, a sua Igreja, o seu Sacerdócio, a sua Paz.

Jesus nos prometeu que estaria conosco todos os dias até os fins dos tempos (Mt 28,20); que nos mandaria o Espírito Santo (Jo 14,16.26); que o Pai nos ama (Jo 16,27); que tudo poderíamos obter se o pedíssemos em seu nome (Jo14,13); que ele está em meio a nós onde 2 ou 3 estiverem reunidos em seu nome (Mt 18,20).

Jesus quer deixar uma Igreja pobre; “Ele que nem sequer tem uma casa onde fazer a Última Ceia e que oferece o seu supremo sacrifício na cruz, despojado de suas próprias vestes”. Quer deixar uma Igreja que serve; ele lava os pés dos discípulos. Quer deixar uma Igreja mariana, quando dá Maria aos cuidados de João, na cruz e derrama sobre eles o Espírito. Quer deixar uma Igreja missionária, quando envia os apóstolos até os últimos confins da terra como suas testemunhas. Quer deixar uma Igreja que enfrenta corajosamente os desafios do mundo: ”Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo17,15); Ele nos deixou o maior mandamento: o amor, que gera a unidade.

“O testamento de Jesus é o tesouro inesgotável que nutriu a minha vida espiritual para conservar a esperança durante as provações do desespero, da solidão, da doença, no mar, nas montanhas, no cativeiro”.

VIGIAI E ORAI!

A oração incessante é comunhão com o Pai e, na prática, ela consiste sempre em fazer a vontade do Pai, sob a ação do Espírito Santo.


5ª PARTE – O POVO DA ESPERANÇA


14º CAPÍTULO – A MINHA CARNE PARA A VIDA DO MUNDO


CONCORPÓREOS E CONSANGUÍNEOS COM CRISTO


O ALIMENTO DAS TESTEMUNHAS

Em minha prisão em 1975 surgiu a pergunta: “Poderei ainda celebrar a Eucaristia?” Quando tudo veio a faltar, a Eucaristia passou a ocupar o primeiro lugar em meus pensamentos: o Pão da Vida. “Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51).

Em todas as épocas, especialmente em tempos de perseguição, a Eucaristia foi sempre o segredo da vida dos cristãos: o alimento das testemunhas, o pão da esperança. “Todo lugar onde se sofria tornava-se para nós um lugar para celebrar (...) podia ser um campo, um deserto, um navio, um alojamento, uma prisão” (Eusébio de Cesaréia). Nos campos de concentração havia muita celebrações “clandestinas” da Eucaristia, “porque sem a Eucaristia não podemos viver a vida de Deus!”

“EM MEMÓRIA DE MIM”.

Na Última Ceia, Jesus vive o auge de sua aventura aqui na terra, e é nesse momento que ele nos deixa o memorial- presença daquele momento supremo do amor e da dor na cruz, que o Pai torna perene e glorioso com a ressurreição. “ Fazei isto em memória de mim”(1Cor 11,24) : Jesus deseja que a Igreja celebre a sua memória e viva os seus sentimentos e as consequências disso por meio de sua presença viva.

“No dia seguinte à minha prisão, deixaram-me escrever para casa, pedindo as coisas mais urgentes”, e também pedi um pouco de vinho, “como remédio para as minhas dores de estômago. Os fiéis logo entenderam para que seria. Mandaram-me um frasco de vinho para missa, com a seguinte etiqueta: “Remédio para dores de estômago”. E algumas hóstias escondidas numa tocha que protege contra a umidade”. Eles deixaram passar o “remédio”. Isso, para mim, foi uma inexprimível alegria.

“Todos os dias, com 3 gotas de vinho e 1 gota de água na palma da mão, eu celebrava a missa: eis o meu altar e a minha catedral! Era autêntico remédio para o corpo e para a alma!”

“Todas as vezes tinha a oportunidade de estender as mãos e pregar-me na cruz com Jesus, de beber com ele o cálice mais amargo. Todos os dias, ao recitar as palavras da consagração, confirmava com todo o coração e com toda a alma um novo pacto, um pacto eterno entre eu e Jesus, mediante o seu sangue misturado com o meu. Foram as mais belas missas da minha vida!”

“QUEM COME A MINHA CARNE VIVERÁ POR MIM”

“Assim, durante anos nutri-me do pão da vida e do cálice da salvação”. “O efeito típico da Eucaristia é a transformação do homem em Cristo” (Sto. Tomás). Santo Agostinho colocou na boca de Cristo estas palavras: “Ao me comungares, não és tu que me transformas em ti, como se dá com o alimento de tua carne, mas tu serás transformado em mim”.

Cirilo de Jerusalém dizia que por meio da Eucaristia nós nos tornamos “concorpóreos e consanguíneos em Cristo”. - “Jesus vive em nós e nós nele, numa espécie de “simbiose” e de mútua imanência: ele vive em mim, permanece em mim, age por meio de mim”.

A EUCARISTIA NO “CAMPO DE REEDUCAÇÃO”

A Eucaristia era para mim e os demais cristãos presos “uma presença escondida, mas que nos dava coragem em meio à inúmeras dificuldades. Jesus na Eucaristia era adorado clandestinamente pelos cristãos que viviam comigo, assim como aconteceu muitas vezes nos campos de concentração no Século XX.

No “campo de reeducação”, grupos de 50 pessoas dormindo sob o mesmo teto, 50 cm cada um. “Conseguimos fazer com que comigo estivessem sempre cinco católicos”. Às 21:30 hs apagava-se a luz e deveríamos dormir. “Nesse momento eu me curvava sobre a cama para celebrar a missa, recitando tudo de cor, e em seguida distribuía a comunhão passando a mão por baixo do mosquiteiro. Chegamos até mesmo a fabricar saquinhos com o papel dos pacotes de cigarros vazios, para guardar o Santíssimo Sacramento e levá-lo aos demais. Jesus Eucarístico estava sempre comigo no bolso da camisa”.

Essa distribuição dos saquinhos com a Eucaristia aos outros quatro grupos de prisioneiros era feita no intervalo da sessão de doutrinação, participada obrigatoriamente por todos. “Durante a noite, os prisioneiros se alternavam fazendo turnos de adoração”. Muitos voltavam a ser fervorosos na fé, dando testemunho de serviço e amor que “provocava um impacto cada vez mais forte nos demais prisioneiros. Até mesmo budistas e outros não-cristãos recebiam o dom da fé. A força do amor de Jesus era irresistível.”

Assim a obscuridade do cárcere tornou-se luz pascal, e a semente germinou debaixo da terra, durante a tempestade. A prisão transformou-se em escola de catecismo. Os católicos batizaram os seus companheiros, sendo seus próprios padrinhos”.

Trezentos sacerdotes presos, causando ocasião de prolongado diálogo inter-religioso. Jesus tornou-se o verdadeiro “companheiro no Santíssimo Sacramento “(Sta. Teresa de Ávila)

UM SÓ PÃO, UM SÓ CORPO.

“A Eucaristia nos faz uma só coisa em Cristo (...) Na unidade realizada pela Eucaristia e vivida no amor recíproco, Cristo apodera-se do destino dos homens, conduzindo-os para sua verdadeira meta: um só Pai e todos irmãos”.

PAI-NOSSO, PÃO NOSSO

Atos 4,32: “ A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu o que possuía, mas tudo era comum entre eles.” A comunhão nos leva a partilhar realmente alegrias e dores, bens e necessidades espirituais e materiais. “Urge testemunhar que o Corpo de Cristo é de fato “carne para a vida do mundo”.” Quando não encontram no cristianismo um testemunho de verdadeira justiça social, muitos agarram-se a falsas esperanças, causando verdadeiras tragédias.

Diz o catecismo que a Eucaristia nos compromete em relação aos pobres, e só podemos recebê-la de verdade se reconhecermos Cristo nos mais pobres, seus (de Cristo) irmãos. - CIC 1397; Mt 25,40.

A Eucaristia deve levar a Igreja a ser capaz de transformar as estruturas injustas deste mundo em novos modelos de sociedade. Disse Paulo VI que devemos “Fazer da missa uma escola de profundidade espiritual e um tranquilo mas empenhado campo de treinamento de sociologia cristã”. (CIC 1397)

UMA GRANDE HÓSTIA

A Santa Sé, com todos os seus organismos, deve tornar-se uma grande hóstia, um único pão oferecido em sacrifício espiritual no seio da Igreja, qual grande Cenáculo com Maria, a Mãe do Corpo de Cristo e com Pedro, que exerce o seu ministério de unidade a serviço de todos.


15º CAPÍTULO – JESUS VIVE NA SUA IGREJA


ESTAREI CONVOSCO TODOS OS DIAS


Muitos não se dão conta de que Jesus está presente em sua Igreja, quando dizem: “Cristo sim, Igreja não”. Alguns que amaram a Igreja: Pe. Joseph Kentenich (+1968), fundador da obra de Schönstatt; o Cura D'Ars; Madre Teresa de Calcutá. Seu enterro foi acompanhado por uma multidão de cristãos, hindus, muçulmanos, que “perceberam em sua pessoa o fascínio de Jesus”.

COMO JESUS SE FAZ PRESENTE NA IGREJA

-nos atos litúrgicos: na pessoa do ministro e nas espécies eucarísticas;

-nos sacramentos, com sua força;

-na sua Palavra;

-nas obras de misericórdia: pobres, doentes, prisioneiros (Mt 25,31-46

-na vida dos que participam de nossa humanidade e se transformaram mais perfeitamente na imagem de Cristo (2 Cor 3,18).

-numa comunidade que vive no amor (Atos 2,42-48; 4,32-35);

Jesus está presente, mas às vezes temos a impressão de que ele não esteja.

“EU ESTOU NO MEIO DELES”

Mt 18,20: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. “A presença do Ressuscitado não é estática (=ficar parado aqui e basta), mas é uma presença “relacional”, uma presença que bate à porta do coração (...); É uma presença que reúne, unifica e, consequentemente, espera a nossa resposta, ou seja, a fé. Em suma, a proximidade de Cristo reúne “os filhos de Deus dispersos” para fazer deles a Igreja” (G.Rossé).

“Na comunidade cristã, o Emanuel, isto é, o Deus- Conosco, é o “salvador de seu Corpo,” a Igreja (Ef 5,23). Presente em meio aos seus, ele convoca e reúne não somente Israel, mas toda a humanidade (Mt 28,19-20). Viver com Jesus “em meio”, de acordo com a promessa da passagem de Mt 18,20, significa atualizar desde já o desígnio de Deus para a história e para a humanidade”;

UMA RESPOSTA: NA FRATERNIDADE VIVIDA

Como tornar visível a presença permanente do Ressuscitado? A única Bíblia lida pelos “distantes” é a vida dos cristãos. A única Eucaristia da qual se nutre o mundo não cristão somos nós, é a nossa vida. É na fraternidade vivida que a presença de Jesus na Igreja se manifesta e se torna atuante na existência cotidiana.

“No silêncio, dois ou três fiéis podem testemunhar, por meio do amor recíproco, o que constitui a sua profunda identidade: ser Igreja na assistência aos mais fracos, na correção fraterna, na oração feita em unidade, no perdão sem limites”. - “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35).

“Se a Eucaristia é a maior presença do Ressuscitado, o amor recíproco vivido com radicalismo evangélico é a presença mais transparente, a que mais interpela e leva a crer”. (I. Laboris, 2ª Assembleia Esp. Sínodo dos Bispos).

CÉLULAS VIVAS POR TODA PARTE

A Igreja sobreviveu no meu país por causa dos pequenos grupos de dois ou três que viviam o Evangelho no dia a dia e ajudavam-se de todos os modos possíveis antes da perestróika, em que restaram apenas dois sacerdotes, que nem podiam sair livremente de suas residências.

Por toda parte existia essa presença de Cristo. “Até mesmo entre dois cristãos que se encontravam no mercado ou entre dois homens que trabalhavam lado a lado no “Campo de Reeducação”. Não era preciso um falar com o outro (...). Bastava apenas unir-se “em seu Nome, que significa: em seu amor.” Quando tudo parecia desmoronar, Jesus saiu do Sacrário e fez-se (desse modo) presente nas escolas e nas fábricas, nos escritórios e nas prisões.

O QUE NOS DISTINGUE

É Jesus vivente na sua Igreja. “Sem o testemunho do amor recíproco, sem a presença viva de Cristo entre nós (não apenas nas nossas igrejas e capelas, mas em nossos escritórios), o nosso trabalho seria igual ao de uma empresa qualquer.

No Vaticano são 3.500 colaboradores. O que os distingue de qualquer órgão de governo? “Nisto reconhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros”. Não são as funções litúrgicas, nem o fato de se ocuparem das coisas da Igreja. Mas essa presença viva dentro na reciprocidade do amor exige uma grande pureza e nobreza de intenções.

O QUE MAIS VALE

“A vocação cristã é viver a unidade. A comunidade cristã unida no amor recíproco é o lugar atual onde Jesus se torna visível”. “Se estamos unidos, Jesus está entre nós” (Chiara Lubich)

16º CAPÍTULO – IMAGEM DA TRINDADE

A TUA ESPERANÇA É A IGREJA

-SOMOS FILHOS DA IGREJA

“Nós amamos a Igreja e dela nos sentimos membros vivos” “Sou filha da Igreja” (Sta. Teresa D'Ávila, uma de suas últimas frases no leito de morte). “Somos filhos da Igreja”, podemos dizer também. Amamos a Igreja por:

-inseriu-nos em sua família;

-abriu-nos as portas do verdadeiro Paraíso pelos sacerdotes e sacramentos;

-fez-nos “soldados de Cristo”;

-Perdoou e cancelou nossos pecados 70 x 7 vezes;

-alimentou-nos com o Corpo de Jesus;

-selou com o selo divino o amor de nosso pai e de nossa mãe;

-elevou a dignidade altíssima pobres homens como nós;

-investiu-nos do sacerdócio (ministerial e o comum dos cristãos leigos);

-dar-nos-á o último adeus a Deus;

-dar-nos-á Deus;

-se nosso coração não vibra com ela, é um órgão apagado;

-se nossa mente não a vê nem a admira, é cega e obtusa;

-se nossa boca não fala dela, não fala, é melhor que, naquela, a palavra feneça (Chiara Lubick,1998).

A BELEZA DA IGREJA PRIMITIVA

Três aspectos da comunhão eclesial:

1-A fiel adesão aos Apóstolos e aos seus ensinamentos;

2-A participação da koinonia das três Divinas Pessoas;

3-A comunhão fraterna, que deriva dos dois primeiros aspectos.

1-A IGREJA É COMUNHÃO PORQUE É ADESÃO AOS APÓSTOLOS E AOS SEUS ENSINAMENTOS

Eles são intermediários entre Cristo e os fiéis por meio do querigma ou evangelização, da catequese (ensinamento propriamente dito) e da homilia, ligada à Eucaristia (à celebração litúrgica em geral). Sem a “obediência da fé”, não existe comunhão eclesial.

2- A IGREJA É COMUNHÃO PORQUE PARTICIPA DA VIDA DAS TRÊS PESSOAS DIVINAS.

Os cristãos estão unidos entre si sobretudo porque participam da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Jo 17,21-24), porque estão unidos a Cristo (1Cor 10,16), porque participam dos sofrimentos de Cristo (1Pd 4,13) e porque estão unidos ao Espírito (2Cor 13,13).

As três pessoas divinas vivem na mais plena doação recíproca: uma com a outra, uma pela outra, uma na outra. Vivendo o Mandamento Novo de Jesus, a Igreja vive de acordo comesse supremo modelo.

Isso também é verdade no plano social: não um amor recíproco apenas entre uma pessoa a outra, mas entre as conferências dos Bispos e a dos religiosos, por exemplo, entre os sacerdotes, entre as diversas ordens religiosas, entre grupos e movimentos eclesiais etc., até o ponto de cada um amar a diocese do outro como se fosse a sua etc, até que se realize a oração de Jesus: “Pai (...) que todos sejam um como eu e tu somos um” (Jo 17,21).

“Infelizmente, muitas vezes essa plenitude de comunhão não existe. E isso é, de certo modo, pior do que a perseguição nazista ou comunista (...).Onde está a comunhão, formam-se células cancerosas no seio da Igreja. Basta pensar no caso de uma diocese onde não exista comunhão entre os sacerdotes: o bispo é forçado a dedicar mais tempo para resolver essas questões internar do que para atuar projetos de evangelização e enfrentar as dificuldades que vêm de fora.

3- A IGREJA É COMUNHÃO FRATERNA DE BENS ESPIRITUAIS E MATERIAIS.

“A comunhão dos Cristãos deve chegar consequentemente a um partilha de bens materiais”, não só entre comunidades, mas também entre as diversas Igrejas. As coletas mencionadas nos Atos 9,31; 9,2-8.,19-25; Atos 11,19-21.

Além das coletas, havia também a hospitalidade (Atos 10,6.48). O autor conta o caso da ajuda que a Alemanha dera ao Vietnã em 1954, embora ainda estivesse em reconstrução da destruição causada pela 2ª grande guerra. Perguntado pelo autor sobre isso, o bispo responsável, D. Hans Daneels, respondeu: “A ajuda que damos a vocês é dos pobres para os mais pobres”. “Entendi, então, qual é a verdadeira comunhão”, escreve Van Thuan.

COMUNHÃO E MISSÃO

“São duas realidades profundamente ligadas, compenetram-se e mesclam-se mutuamente a tal ponto que a comunhão representa a fonte e, simultaneamente, o fruto da missão; ou seja, a comunhão é missionária e a missão existe em função da comunhão” (Christifideles laici, 32)

A SERVIÇO DA UNIDADE DA IGREJA

“Embora sejamos filhos da Igreja, somos chamados a ser também servidores desta mesma Igreja. Vivemos dela e vivemos para ela, dispostos a dar a ida por ela”, como tantos na história. (As restantes reflexões deste parágrafo são dirigidas particularmente à Cúria Romana, para a qual o autor pregava e omitimos).

A “PUPILA DOS OLHOS”.

O autor comenta a necessidade do clero que vai a estudos conhecer pessoalmente a Cúria Romana.

COMO UM PEIXINHO PODE DAR ESPERANÇA

O peixe que uma senhora da polícia levou a Van Thuan na prisão viera embrulhado em duas páginas do Jornal “Osservatore Romano”, do Vaticano, proibido e servido como papel usado no Vietnã.

“Aquelas páginas eram para mim, que estava em regime de isolamento, um sinal de comunhão com Roma, com Pedro, com a Igreja; em suma, era como que um abraço de Roma, Não teria sobrevivido se não tivesse a consciência de que eu era parte viva da Igreja”.

“vivemos hoje num mundo que rejeita os valores da Civilização da Vida, do Amor, da Verdade. A nossa esperança é a Igreja, IMAGEM DA TRINDADE

17º CAPÍTULO – COMO TU ESTÁS EM MIM E EU EM TI...

VIVER A COMUNHÃO

NOS ALBORES DA VIDA MONACAL

No primeiro milênio “viver na solidão para estar com Deus parecia (...) o único caminho para seguir Jesus de modo total”. É verdade que precisamos nos isolar em certos momentos, mas já os santos padres da Igreja se deram conta de que o evangelho só pode ser vivido plenamente se estivermos em comunhão com os irmãos. “A vida comunitária é (...) um estádio no qual nos exercitamos como os atletas, um treinamento que nos faz progredir, um exercício contínuo de aperfeiçoamento nos mandamentos de Deus “ (S. Basílio).

UM NOVO PENTECOSTES

“Nas últimas décadas a dimensão comunitária emerge mais uma vez e com vigo no seio do Povo de Deus. É a Igreja que “desperta novamente, nos fiéis” (Romano Guardini). Abre-se, diante de nós, sob a iluminação do Espírito Santo, um novo caminho alicerçado na Koinonia: a comunhão”.

Karl Rahner se queixou de ter sido formado como espiritualmente individualista, e afirmava que, no futuro, uma espiritualidade vivida em conjunto teria um papel determinante na Igreja.

Pentecostes - “O Espírito nos convida, docemente, mas com decisão, a viver a comunhão não apenas como dom, mas como resposta e adesão de nossa parte; não somente como participação espiritual no mistério de deus uno e terno, mas também como comunhão interpessoal concreta, a fim de que se realize o novo Pentecostes da Igreja, preconizado pelos mais recentes papas”.

A UNIDADE – UM SINAL DOS TEMPOS

“O mundo tende à unidade”: as entidades e organizações internacionais (recomposição após a Segunda Grande Guerra Mundial), a ciência e a tecnologia, os intercâmbios culturais e comerciais, a faculdade de viajar, as manifestações esportivas, a mídia, a atual explosão da Internet... “Todos são fatores que aproximam os ovos e incrementam o encontro entre indivíduos e culturas. O mundo de hoje, com efeito, parece estar ligado por uma profunda interdependência orgânica”.

Às vezes essa tendência à unidade “é guiada por gigantescos interesses (...) Bilhões de pessoas permanecem excluídas”. “É como se, da humanidade e das próprias Igrejas de hoje, se erguesse uma voz, quase um grito, que invoca uma globalização de outro tipo, guiada não pela lógica do lucro, mas pela lei do amor”. Isso é inspirado pelo Espírito Santo. Uma “ Nova Evangelização”... “Um renovado anúncio do Evangelho não pode ser coerente e eficaz se não for acompanhado por uma robusta espiritualidade de Comunhão” (J.P.II, 1997).

COMO VIVER A COMUNHÃO NOS DIAS DE HOJE

A “ Robusta Espiritualidade de Comunhão” consiste “em nos conscientizarmos de que a comunhão fraterna, quando baseada no Evangelho, é o lugar privilegiado para o encontro com Deus. O Espírito Santo fez nascer nos dias de hoje, novos carismas espirituais comunitários, capazes de atuar uma renovação da vida cristã”.

O irmão não é um obstáculo, mas caminho para a santidade. Não podemos fugir do irmão, para procurá-lo, se quisermos encontrar a união com Deus.

DIMENSÕES CONCRETAS

1- ASCESE NO COTIDIANO

A melhor mortificação para conseguirmos a comunhão, a mais evangélica, “é o relacionamento com o próximo: acolher o outro saber escutá-lo, estar sempre disponível, ter paciência fazer-se tudo para todos (2Cor 9,22), antepor os interesses do outro aos próprios... Enfim, é uma contínua renúncia ao próprio eu, e isso nos une a Deus.” “Qual é o centro de minha vida?” Deus ou eu?

2- UMA ORAÇÃO SUBSTANCIAL

“Todos nós já experimentamos que, após um profundo encontro com o próximo, após temos restabelecido, talvez, a plena e cordial paz com as pessoas com quem vivemos ou trabalhamos, a oração flui espontânea do nosso coração e a celebração da Eucaristia adquire um sentido todo especial. Sem a comunhão entre nós, a nossa oração não agrada a Deus”.

3- NÃO APENAS O SILÊNCIO, MAS TAMBÉM A PALAVRA E A PARTILHA.

Não só o silêncio, mas também a palavra é essencial para a vida espiritual vivida em comunhão: “ Doar aos outros, com simplicidade, a própria experiência espiritual.”

Diz Santo Inácio de Loyola que a falta de comunicação de nossa experiência de Deus é uma arama do demônio, pois “a lembrança dos benefícios recebidos é uma ajuda para atingir coisas maiores” (12/06/1537).

São Lourenço Justiniano também fala sobre isso:, devemos “Exercitar sempre a humilde e fraterna partilha de dons espirituais, que não pode brotar da solidão, junto aos nossos irmãos, por meio de palavras e obras”.

CONSTRUIR A IGREJA

Jesus formou o Novo Povo de Deus comunicando aos discípulos todas as palavras de seu Pai. Maria narrou a sua mais íntima experiência ao cantar o Magníficat. S. Paulo constituiu as suas comunidades comunicando o que vivenciava.

No Vietnã, “os fiéis concentram-se totalmente na vivência da Palavra de Deus. Como eles não têm livros de espiritualidade impressos, comunicam entre si os frutos da vivência da Palavra (...) E com essa redução ao essencial, a vida Cristã floresce”.

O “CASTELO EXTERIOR”

Santa Teresa d'Ávila falou de um “castelo interior”. Esplêndido e luminoso, esse castelo é a vida espiritual de alguém em cujo íntimo habita a Santíssima Trindade. Atualmente, com a globalização, “Não terá chegado o momento de descobrir, iluminar e edificar, além do “castelo interior”, também o “castelo exterior”? (Chiara Lubich 1995).

Ou seja: “Valorizar a presença de Deus não somente em nós, mas também entre nós. É o castelo de dois ou mais unidos em nome de Jesus, castelo que jamais deve ser destruído, mas sim, conservado continuamente em cada relacionamento nosso, até chegarmos ao esplendor de uma unidade perfeita”.

Sto. Agostinho: “Nós, juntos, formamos a casa do Senhor, mas somente se estivermos unidos mutuamente no amor (...). Somos o seu templo, seja coletivamente, seja individualmente. Ele deseja habitar na unidade de todos e de cada pessoa”.

“Sonho com uma Igreja (...) não como conjunto de pedras espalhadas, mas uma construção articulada e harmoniosa, compacta, porque nela se vive a comunhão.

6ª PARTE – RENOVAR EM NÓS A ESPERANÇA

18º CAPÍTULO – PEQUENO REBANHO – NÃO TENHAIS MEDO

No ano 2000 o Sínodo dos Bispos da Europa constataram, numa assembléia especial, que a Igreja, em vários países tradicionalmente cristãos (da Europa, principalmente) encontra-se em condições de “minoria”, assim como “ a diminuição do número de vocações sacerdotais e religiosas; a prática religiosa em declínio; o confinamento da religião à esfera privada, com a relativa dificuldade de influir nos costumes e nas instituições; a dificuldade na transmissão da fé às novas gerações. Um bispo me confidenciou que, tempos atrás, havia 155 seminaristas em sua diocese, mas no ano passado (1999) entrou no seminário apenas um jovem. Um outro me disse: “Sou bispo há 7 anos. Até agora ordenei 7 sacerdotes mas acompanhei 147 até à sepultura”.

“Em outras partes, graças a Deus, existem vocações, mas a admissão ao seminário é limitada pelo governo, sendo permitido apenas acolher 5 seminaristas por diocese a cada dois anos”. Em certos lugares o governo não autoriza sucessão e o bispo fica até aos 80, 90 anos no governo da diocese. Outras terras se tornam “museu da era cristã”, embora já eram cristãs desde o tempo dos apóstolos. Em outros lugares, um único sacerdote é responsável por 30 ou mais comunidades. “Ser minoria é, com efeito, uma característica da vida da Igreja no mundo de hoje”.

ONDE FICA O VATICANO?

Na Malásia, por exemplo, me barraram por horas porque não fazem ideia de onde fica o Vaticano e, o pior, às vezes nem sabem onde fica Roma. Na Alemanha muitas autoridades não sabem que o Vaticano pode emitir passaporte.

O MISTÉRIO DA MINORIA

Na Bíblia muitas vezes Deus se serve dos fracos para vencer os fortes como Moisés, que venceu o faraó e retirou o povo do Egito; como Judite, que venceu Holofernes e Ester, que venceu Amã.

Na História da Igreja vemos, por exemplo, “Santa Catarina de Sena, que sem autoridade alguma, conseguiu com que o Papa deixasse Avignon e voltasse para Roma”. Também D. Bosco, que era procurado para aconselhar o papa e o rei. A cruz venceu o colosso que era o Império Romano

DE QUANTOS BATALHÕES DISPÕE O PAPA? (Joseph Stálin).

Livro dos Juizes, cap. 7: Gedeão reduziu seu exército de 32 mil para 300 homens, que venceram a batalha (v. 22). Da mesma forma, “ a Igreja que se abandona completamente ao mandato do Senhor pode obter resultados importantes sem grandes meios”. A condição é que estejamos de “cântaros” vazios, como em Gideão.

Como em Madiã, o inimigo mesmo pode destruir a si mesmo. “As estratégias más e injustas acabam sendo uma forma de autodestruição: Portanto, um “número reduzido” não quer dizer, necessariamente, anulação das forças de incidência da Igreja”.

“TU NÃO PODERÁS IR CONTRA ESSE FILISTEU” (Saul a Davi).

Nossa Senhora sempre apareceu a pessoas quase ignorantes, como em Lourdes, Fátima e Salette, indicando, como meios para enfrentarem as dificuldades e ameaças, a oração e a conversão.

Outro exemplo é Davi e Golias (1Sam 17).

O gigante representa para nós o mal, ou seja, as ideologias e os valores anti-evangélicos e a Igreja se depara com Golias como algo invencível, e ainda recebe investidas como “Tu não poderás ir contra os filisteus”. (v. 33).

Davi começa errado, ao revestir-se da armadura (=poder material)e da força (vv 38-39). Mas percebe isso e a tira. Da mesma forma acontece quando a Igreja recorre ao arsenal do mundo.

-As únicas armas verdadeiras da Igreja são:

1- “Venho a ti em nome de Javé dos Exércitos” (v.45).

2-Os acessórios (v.40) são: o bastão (=violência), que Davi não usa na batalha, funda e cinco seixos. “Todo gigante tem seu ponto fraco. Basta mirar com atenção (...) e é a sua própria espada que serve para cortar-lhe a cabeça” (v. 41-54).

“Em muitas situações nós somos uma minoria quanto ao número, às forças, às possibilidades e aos meios. Mas, como Davi, vamos em frente, em nome do Senhor”.

JESUS, O HOMEM DAS PEQUENAS CIFRAS

A atenção de Jesus é dirigida sobretudo aos “pequenos, aos pecadores: a Zaqueu, à Samaritana, à pecadora pública, à adúltera.

Seus ensinamentos são baseados em coisas pequenas e humildes: grão de mostarda (Lc 13,18-19) que cresce; ao fermento (Lc13,20-21) colocado no pão; à semente que o homem lançou à terra e não vê como cresce (Mc 4,26-27).

“Não temais, pequeno rebanho, pois foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32); “Vós sois o sal da terra” (Mt 5,13); Vós sois a luz do mundo '(Mt 4,14); “Eis que vos envio como cordeiro entre lobos” (Lc 10,3), e exortou-os a andarem sem dinheiro e sem poder: não levar alforje nem cajado (cf Mt 10,9-10);

As duas moedinhas lançadas pela viúva no tesouro do templo (cf Mc 12,41-42); o pastor que deixa as 99 ovelhas para ir em busca da única que se perdera (Lc15,4-7); A mulher que revira a casa para encontrar a dracma perdida (Lc 15,8-10). Usou apenas 5 pães e 2 peixes para saciar uma multidão.

“A Igreja como “minoria” é chamada a viver segundo esse estilo do Evangelho, a fazer suas as prioridades e preferências de Jesus.

OS MUROS DA NOVA JERICÓ

Na História a Igreja foi sempre minoria diante do império romano, das invasões dos bárbaros, foi enfraquecida pelas divisões internas na Era Moderna; diante da Revolução Francesa; a prepotência do nazismo, do comunismo e, mais recentemente, do comunismo.

Os “Davis” indefesos que a Igreja enviou para combater esses gigantes foram pessoas como Cirilo, Atanásio, Hilário de Poitiers, Ambrósio, Agostinho, Francisco de Assis, Domingos, Brígida e Catarina, Inácio de Loyola, Pedro Canísio, Carlos Borromeu, Teresa, Thomas More e, no nosso tempo, todos os grandes papas do século XX e pastores, como Wyszynski, Mindszenty, Beran Stepinac, Tomasek, Gong Pin-Mei.

João Paulo II gritou forte: “Não tenham Medo! O comunismo é apenas um parêntese da história!” Muitos riram dele, dizendo que o Mapa-Mundi já estava todo vermelho. “Mas os muros da Nova Jericó (=Berlim) caíram e a Igreja ultrapassou a soleira do 3º Milênio”.

CAMINHOS INIMAGINÁVEIS DO SENHOR

O autor conta que em sua prisão domiciliar em Giang-Xa, a 20 Km de Hanói, o guarda, católico, o permitia escrever livros e até a receber muitos sacerdotes que viajavam até 300 km e lhe falavam de acontecimentos como o Concílio Vaticano II. Chegou até a ordenar um grupo de sacerdotes incardinados em outra diocese, já que ele, já estando preso, não estava mais em perigo, como ainda o estavam os outros bispos que estavam em liberdade. “Foram as ordenações mais longas de minha vida! Iniciamos às 23:30 hs e encerramos já no dia seguinte, após 1 hora da madrugada”.

Sempre à noite, o guarda o levava para ministrar os sacramentos aos doentes. “Jamais teria imaginado que Jesus me chamasse a esse tipo de pastoral tão original!” Mas o Espírito Santo se serve de qualquer pessoa para ser instrumento de sua graça!”.

O SENHOR É ADMIRÁVEL

Conclui com dois fatos. O primeiro é o de ter encontrado dois jovens, uma médica e uma enfermeira, alemãs, na ilha de Zanzibar, Oceano Índico, um “fim de mundo”. Eram voluntárias “e tinham ido até ali para dar testemunho do amor cristão em um ambiente tipicamente muçulmano. Um grão de sal no Oceano! Que fé imensa!”.

O segundo em Bagamoyo, Tanzânia: visitou os túmulos de missionários mortos ainda jovens, o mais velho tinha 39 anos. “E o vento que balançava suavemente as folhas dos coqueiros pareciam dizer: “Pequeno rebanho, não tenhais medo!”.

“E por isso, irmão, não tenhais medo! Vamos em frente, em nome do Senhor! Os muros da nova Jericó irão, um dia, desmoronar!”

19º CAPÍTULO – RECEBEI O ESPÍRITO SANTO

PARA RENOVAR A FACE DA TERRA

Um jornalista perguntou a um cardeal francês se já havia visto o diabo. Ele respondeu: “Sim, já o vi em Dachau, em Aschwitz e em Birkenau!” Se alguém me perguntasse se eu já vi o Espírito Santo, eu responderia: “Na Igreja, mas também fora dela”

VI O ESPÍRITO SANTO, “FONTE VIVA, FOGO E CARIDADE” NOS PAPAS DO SÉCULO XX

O século XX foi o de maior extermínio humano da história: Duas grandes guerra mundiais, conflitos étnicos, genocídios e lutas sangrentas, sem falar dos males das guerras ideológicas. Mesmo na Igreja vimos crises e traições, descristianização e secularização. “A barca de Pedro arriscou afundar em meio à tempestade”.

No entanto, tivemos a melhor sequência de papas: Leão XIII, Pio X, Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II: líderes de tão grande envergadura no campo da moral, da santidade e da competência. A ação do Espírito Santo “confirmou com a sua oba a promessa de Jesus; “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). O Espírito Santo guiou e guia o ministério e o magistério dos papas.

VI O ESPÍRITO SANTO “SENHOR QUE DÁ A VIDA” NA HISTÓRIA DA IGREJA.

A obra do Espírito Santo nos primeiros séculos do Cristianismo: a rápida difusão do cristianismo em todo o Império Romano; sua ação nos Concílios Ecumênicos, “que estabeleceram com clareza a doutrina trinitária e a cristologia; a forte influência da vida monacal nascente que impediu os cristãos de caírem no mundanismo, mantendo o anseio à santidade vivo entre eles. Na Idade Média, o Espírito Santo fez reflorescer a vida monacal e novas formas de vida consagrada mais adequadas às necessidades da época.” S. Francisco de Assis, Santa Clara, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa d'Ávila, Santa Teresa do Menino Jesus, Santa Brígida da Suécia, Santa Edit Stein, Santa Catarina da Suécia. Em todas elas e nos outros santos, se manifesta a ação poderosa do Espírito Santo.

Entre o Concílio Vaticano II(1962) e o Jubileu do ano 2000, houve um novo Pentecostes. A santidade floriu entre os leigos. Uma primavera da Igreja: as Jornadas Mundiais da Juventude (Roma, Buenos Aires, Compostela, Czestochowa, Denver, Manila, Paris, em redor do Santo Padre, desejosos de ouvir a Palavra de Deus e dispostos a vivê-la; também no Congresso dos Movimentos e Comunidades Eclesiais, na Vigília de Pentecostes de 30/05/1998.

Novos carismas desabrocham na Igreja, e os dons do Espírito Santo fazem o Evangelho florescer de novo no mundo de hoje. “O Espírito Santo muda radicalmente as pessoas e a história (...) distribui entre os fiéis de qualquer classe graças especiais” mesmo fora dos sacramentos.

VI QUE SEM O ESPÍRITO SANTO NÃO PODEMOS FAZER NADA DE BOM.

Depois do primeiro entusiasmo suscitado pelo Concílio Vaticano II, houve um momento de confusão, diante das mudanças que o Espírito exigia. Alguns confiavam demais nas próprias ideias e capacidades e erraram o caminho. Parecia que após a primavera sobreviera um inverno glacial.

Em 1968 D. Ignázios Hazim, que em 2000 era patriarca ortodoxo de Antioquia, disse: “Sem o Espírito Santo, Deus está longe” e tudo não passaria de ações sociais. No Sínodo dos Bispos da Ásia, os leigos solicitaram aos bispos que fossem verdadeiros pais, pastores, testemunhas autênticas do amor de Deus para com a humanidade, não confiando apenas em suas capacidades de organização.

S. João Crisóstomo apresentou os Apóstolos como o modelo autêntico dos verdadeiros pastores, e “saíram do Cenáculo levando o Espírito Santo em seus corações”.

VI O ESPÍRITO SANTO ATUANDO EM UMA IGREJA QUE SE RENOVA SEMPRE.

A Igreja se renova e se purifica “sem se deter, sob a guia do Espírito Santo (GS 21). É impossível ter uma visão completa de tudo o que o Espírito Santo operou no século XX, por se tratar, muitas vezes, de um mistério guardado no íntimo de cada cristão. João Paulo II fez o que levou 20 séculos para fazer: ir do Vaticano à Sinagoga de Roma (caminho de 1 km) para falar com as autoridades judaicas.

VI O ESPÍRITO SANTO TAMBÉM FORA DA IGREJA

O Espírito Santo, além de sustentar e iluminar os Apóstolos, provocou sede de água viva (Jo4,10-15) no coração de cada pessoa, cultura e religião, à procura de Jesus, o único Salvador, que poderá saciar plenamente tal sede.

Cornélio e sua visão (Atos 10,13-15)

Os gentios receberam o Espírito Santo (Atos 10, 44-47)

O Espírito precede, acompanha e segue toda noss missão. “O Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então, minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins da Terra” (Atos 1,8).

“Também hoje, no novo Pentecostes que estamos vivendo, o Espírito guia a Igreja em sua missão para fazer com que todos os povos encontrem Jesus Cristo. Este é, a meu ver, o significado mais profundo dos vários diálogos que a Igreja Católica empreendeu após o Concílio Vaticano II (...) Do Espírito Santo procedem não só toda verdade, mas também toda bondade, justiça, beleza, aprofundamento da oração, o esplendor da Sabedoria. Consola-nos ver como o Espírito Santo está agindo para revelar plenamente o mistério de Cristo”.

VI O ESPÍRITO SANTO, “PAI DOS POBRES”, QUE NÃO NOS DEIXA ÓRFÃOS.

“Durante a minha longa permanência na prisão, despojado de todo e qualquer recurso humano, convenci-me ainda mais profundamente da força que tem o Espírito Santo, como no-la apresentam os Atos dos Apóstolos. Essa força é indispensável para a Igreja também em nossos dias, a fim de que ela possa superar todo tipo de provação e dificuldade. Por isso, de 1975 a 2000, sempre pedi aos meus penitentes que lessem atentamente, a título de penitência após a confissão, um capítulo dos Atos dos Apóstolos.”

O autor conta aqui um fato realmente bonito: um grupo de aborígenes da tribo H'MONG caminhou a pé 6 dias pelas montanhas para pedir a um padre que os batizasse em dois dias. Tinham estudado a religião e as orações por meio de uma rádio Filipina, que por sinal, era protestante. De volta às suas casas, se reuniam em grupos de três ou quatro famílias para rezarem e estudarem pela rádio. Aos domingos paravam o trabalho às 9:30 horas para acompanharem a Missa pela Rádio Véritas de Manila. Lá não havia padres! O padre os batizou, crismou, participaram PELA PRIMEIRA VEZ da Missa e receberam a Eucaristia. Atualmente esses primeiro levaram o cristianismo para mais de 5 mil pessoas! O Espírito Santo não nos deixa órfãos!

VINDE, ESPÍRITO SANTO!

Paulo VI, 1973 - “O Espírito Santo é o animador e o santificador da Igreja, o seu respiro divino, o vento de suas velas, seu princípio unificador, sua fonte interior de luz e de força, seu sustento e seu consolador, sua fonte de carismas e de cânticos, sua paz e seu gáudio, seu prêmio e prelúdio da vida feliz e eterna.”

20º CAPÍTULO – EIS TUA MÃE, O MODELO DA IGREJA

A VIRGEM AO MEIO DIA

“Virgem Maria, não vim para rezar. Nada tenho para oferecer-te e nada para te pedir. Vim tão somente, ó Mãe, para te ver. Para te ver e chorar de felicidade, (...) somente para contemplar a tua fisionomia, deixar que o coração cante em sua própria língua. Não vim dizer nada, mas somente cantar, porque o coração transborda” (Paul Claudel, + 1955).

A IGREJA É MULHER, É MÃE

O racionalismo “fez nascer uma cultura que, mediante diversas ciências, tende a manipular as realidades naturais, as situações, inclusive o espírito e até mesmo a vida humana. Por isso, a humanidade corre o risco de se tornar vítima de um mero positivismo do fazer e do ter”. “Sem um amor que nos leve à unidade, não há credibilidade”.

Maria é AMOR ACOLHIDO, AMOR CORRESPONDIDO, AMOR COMPARTILHADO E nos INDICA O CAMINHO.

MARIA AMOR ACOLHIDO

Ela recebe tudo das mãos de Deus, tudo vem do ]Alto. E a Virgem acolhe!

1-AVE MARIA, CHEIA DE GRAÇA (cf Lc 1,28)

Foi a primeira a receber a Boa Nova e a primeira a ser totalmente plenificada pela salvação. Ao aderir ao anúncio do anjo, a Serva do Senhor torna-se propriedade de Deus.

2- EIS QUE CONCEBERÁS EM TEU SEIO E DARÁS À LUZ UM FILHO (Lc1,31)

A Encarnação realiza-se por obra do Espírito Santo. O Filho encontra na Terra em Maria uma mãe digna dele. Filha do Pai, Maria torna-se mãe, Mãe do Verbo Encarnado, esposa do Espírito Santo. Única a trazer Jesus fisicamente em seu ventre. A Igreja é chamada a ser “ventre” que oferece Jesus ao mundo.

3- OLHOU PARA A HUMILDADE DE SUA SERVA (cf Lc 1,48).

“Toda a vida de Maria nesta Terra foi um eterno hino de louvor e gratidão a Deus por tudo o que ela recebeu dele, não somente a graça, mas também o Doador da graça e com ele, todos os privilégios” (cf Magníficat). “Assim como Maria, a Igreja, consciente de sua nulidade, proclama a grandeza de Deus”.

4-CONSERVA TODAS ESSAS PALAVRAS EM SEU CORAÇÃO (cf. Lc 2,51).

“Guarda a Palavra, vivendo-a e comunicando-a, na esperança, na humildade e na alegria. Contemplamos nela, que é inteiramente revestida da Palava, o mistério da Igreja: a Esposa do Verbo.

5=MARIA: AMOR CORRESPONDIDO

Cheia de graça de Deus, Maria, com todo o ser, é resposta a Deus. Tudo nela é dom de si, adesão aos desígnios de Deus, escolha de Deus.

6- ÉS FELIZ, PORQUE ACREDITASTE (cf Lc 1,45)

“Sim” total: Acreditou na Palava, deixou-se plasmar pela mão de Deus, deixou-se conduzir por ele, por onde quer que a levasse. Nós somos a comunidade dos que crêem.

Após 33 anos de comunhão plena com Jesus, ninguém o conhecia nem o compreendia melhor do que ela. Ninguém lhe está tão próximo como ela no dia a dia. Vamos nos aproximar de Jesus com maior intimidade e num serviço concreto e atento a ele.

7-MINHA ALMA ENGRANDECE O SENHOR (cf. Lc 1,46).

Maria é a plena resposta à misericórdia de Deus. Vamos corresponder ao amor de Deus com nosso louvor e adoração!

8- A MÃE DE JESUS ESTAVA PERTO DA CRUZ (cf Jo 19,25).

Em pé, sozinho, corajosamente, com uma

“espada” atravessada na alma. Para ela tudo parecia perdido: basta estar com Jesus, ela se torna o protótipo da Igreja ao pé da cruz. (O autor conta que em 1957 e em todas as vezes que ele ia a Lourdes, pedia que as palavras de N. Senhora a Santa Bernardete: “ Não prometo alegrias e consolações nesta terra, mas provações e sofrimentos” fossem dirigidas a ele, aceitando essa mensagem com certo medo. Isso se realizou com a prisão e o isolamento, iniciados em 1975-

MARIA: AMOR COMPARTILHADO

9-FOI ÀS PRESSAS PARA A MONTANHA (cf. Lc 1,39).

A Igreja também deve seguir esse caminho: servir o homem, levando e comunicando Jesus que vive em nós.

10- VIAM O MENINO COM MARIA, SUA MÃE (cf Mt 2,11).

Maria mostra Jesus aos pobres e estrangeiro é a estrela da Evangelização, nos ensina o caminho de nossa missão.

11- FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER (cf Jo 2,5).

Maria é modelo de uma Igreja que sabe esperar e acolher ah ora de Deus: a descida do Espírito Santo.

12- EIS AÍ O TEU FILHO... E O DISCÍPULO A RECEBEU EM SUA CASA (cf Jo 19,26-27).

Junto à cruz, Maria nos acolheu como seus filhos. É a Mãe da misericórdia, que leva a Igreja a abraçar toda a humanidade, com suas necessidades fundamentais.

13- MISTÉRIO – COMUNHÃO – MISSÃO

A Igreja aprende de Maria (Concílio Vaticano II).

Viver imersa no Mistério: amor acolhido;

Ser Comunhão em todos os aspectos da sua vida: amor correspondido.

Abrir-se ao mundo em missão: amor compartilhado.

MARIA ME LIBERTA

Van Thuan foi libertado na festa da Apresentação de Maria no Templo, em 21/11/1991. O autor pedira a N. Senhora que, se fosse ainda útil à Igreja, que o libertasse numa festa dela; caso contrário, que ele consumisse a vida na prisão.


21º CAPÍTULO – AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE

ANCIANIDADE, ENFERMIDADE, MORTE

O MAIOR DOM


“A vida é o bem maior, o mais inestimável, dado por

deus a nós, suas criaturas. Cada instante dela deveria, então, ser vivido nele e por ele”.

A ANCIANIDADE – O OUTONO DA VIDA

OS ANCIÃOS NA SAGRADA ESCRITURA

A longevidade era sinal da benevolência do amor de Deus (cf Gn 11,10-32). Abraão, Moisés, Tobias, Eleazar, Isabel, Zacarias, Simeão, Ana. A ancianidade é ocasião de promessa e de testemunho corajoso.

UMA NOVA FUNÇÃO MAIS CARISMÁTICA

Muitas pessoas de idade avançada mostraram-se humildes em seus testemunhos, de forma discreta mas eloquente, mostrando ao seu redor uma atmosfera de conforto e de esperança, mesmo em situações quase desesperadoras.

Saber como e quando deixar meu lugar para os outros. A Igreja conta ainda com nossa ajuda. Aprecia os nossos serviços, precisa de nossas orações, conselhos, e se enriquece com nossos testemunhos evangélicos (JPII,1999). “Agora a sua função mudou (em relação à Igreja). Deve rezar por ela. E isso não é menos importante do que agir”.

A ENFERMIDADE

“Durante o período em que estive preso, fui submetido a 5 intervenções cirúrgicas. Estive à beira da morte por 2 vezes, devido a infecções graves e recebi a Unção dos Enfermos.”

VALORIZAR NOSSAS PROVAÇÕES FÍSICAS E MORAIS.

“É o amor cristão que dá valor e sentido à nossa existência, mesmo quando a enfermidade e a doença comprometem a integridade do corpo”. Há uma dimensão da vida que é condicionada pelo amor que sabemos dar.

'Quem sabe acolher a Cruz de Cristo em sua vida, experimenta que a dor, iluminada pela fé, torna-se fonte de esperança e de salvação (JPII, 2000).

A MORTE

“ A morte é a coisa mais séria da vida, a maior dentre todas as provações, e a provação definitiva: é o auge de nossa vida, a última oferta que podemos fazer a deus aqui na Terra. Temos certeza de que naquela hora, seremos assistidos por Jesus e Maria, assim como aconteceu com José”.

VIVER POR AQUELA HORA

O caminho para o céu é o Calvário. “Cada um de nós tem a sua “hora” e seria b om vivermos esperando por ela, oferecendo-a desde já pelos objetivos que Deus nos confiou, mesmo estando em pleno vigor de nossas forças físicas. É a hora mais bela, a hora da vida e não tanto da morte. É o momento do encontro com Jesus, a quem veremos” e com Maria.

O EXAME DE MISERICÓRDIA

Jesus tem um outro defeito que não mencionamos no início do livro: Ele é o mestre que revelou antecipadamente qual é o tema do exame final,e ele próprio desenvolveu o próprio tema do exame, como nenhum outro professor o faria. Em Mateus 25,31-33, vemos o Julgamento Final. O tema, é o amor. Ele também simplificou o teor do exame, pois as 10 exigências do decálogo foram reduzidas a “Amar a Deus e ao próximo”

O SUPREMO GESTO DE AMOR

Paulo VI disse: “Diante da morte, do total e definitivo desapego da vida presente, sinto o dever de celebrar o dom, a felicidade, a beleza, o destino desta fugaz existência. Senhor, agradeço-te por me terdes chamado à vida e, ainda mais, porque, fazendo-me cristão, regeneraste-me e destinaste-me à plenitude da vida (...). Sinto que a Igreja me circunda: Ó Santa Igreja, una, católica e apostólica, recebe o meu supremo gesto de amor por meio de minha saudação de louvor (Testamento de paulo VI, 30/06/65)


22º CAPÍTULO:-= A VOSSA TRISTEZA SE TRANSFORMARÁ EM ALEGRIA – A ALEGRIA DA ESPERANÇA

NO CAMINHO DE EMAÚS

A tristeza na caminhada de Emaús; a tristeza, cansaço, desilusão com a situação do mundo de hoje, humanamente falando, da Igreja. Seria a desilusão de uma Igreja apoiada em esperanças sem retorno. Jesus explica aos discípulos de Emaús a Sagrada Escritura, mostrando-lhes a necessidade do sofrimento de Cristo e sua entrada na glória.

Cristo mostrou que o mistério da morte e da vida, a cruz e a ressurreição são a chave para compreendermos a Sagrada Escritura e, por meio dela, a vida da Igreja. “A nossa esperança não terá consistência alguma se não for baseada na Palavra de Deus, no mistério da cruz e na Páscoa gloriosa de Cristo”.

Na fração do Pão reconheceram Jesus - “Somente com os olhos da fé a Igreja pode reconhecer Jesus” . Por meio do Pão Eucarístico Jesus entrou em seus corações. Jesus não estava só diante deles, mas estava neles! “Uma presença amorosa, capaz de salvar suas vidas. Na estrada de Emaús, os discípulos nos indicam o caminho a seguir: com a Eucaristia, a Palavra de Deus, o Mistério da Cruz, a Igreja pode avançar com humildade e alegria em sua caminhada, sempre sustentada pela presença do Salvador”.

INVERSÃO DE ROTA

“Levantaram-se e voltaram imediatamente para Jerusalém”Lc 24, 33, cheios de alegria, “a fim de testemunhar e anunciar o que haviam experimentado: a presença de jesus no meio deles, a força arrebatadora de sua Palavra, que iluminou toda a Sagrada Escritura, a amizade com o Ressuscitado que os fizera dizer: “Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia declina”. E, em seguida àquele alimento oferecido por Jesus, no qual mais uma vez – porém agora ressuscitado – ele se doou aos discípulos como pão de ressurreição e de vida”.

Tanto eles como os 11 apóstolos reunidos em Jerusalém com os seus companheiros, foram como que evangelizados de novo, com o anúncio da ressurreição. (Lc 24,33-35).

“A PAZ ESTEJA CONVOSCO”

Saudação que equivaleria dizer: “Eu estou com vocês”. “Essa paz autêntica, que é alegria, a qual o mundo não pode dar, obtém-se somente por meio da penitência, com a mudança de vida, assim como nos pediu o compromisso jubilar” (do ano 2000).

“É necessário sempre e uma vez mais sair da situação de uma Igreja que perdeu o primeiro amor, que tolera a idolatria, que cedeu a compromissos. É preciso sair de uma Igreja que dorme ou que vive sem muita convicção, na mediocridade, para se Igreja pobre, Igreja que escuta o Espírito Santo, Igreja-Comunhão”.

UMA ALEGRIA QUE NINGUÉM NOS TIRARÁ

“Nossa tristeza transforma-se em alegria “ (Jo 16,20.22), que ninguém nos tirará. Ninguém mais pode nos dar essa alegria. “Nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram” (Apoc 21,41). Haverá “um novo céu e uma nova Terra”.

CRISTO ESTÁ EM NOSSO MEIO ATRAVÉS DO AMOR

Em 18/01/2000, abertura da Porta Santa na Basílica de São Paulo Extramuros, durante um momento de paz ecumênica, ressoaram estas palavras de um hino da liturgia bizantina recitadas naquela ocasião:

“Amemo-nos uns aos outros, a fim de que, em unidade de espírito, professemos a nossa fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo”. E diz o canto antigo da Quinta-feira Santa, na liturgia romana: “Onde o amor e a caridade, Deus aí está (...) Evitemos a divisão entre nós, para longe de nós as lutas malignas, as intrigas, e reine em meio a nós Cristo Deus”.

“Quando amamos a Deus e nos amamos mutuamente, Cristo está no meio de nós como nossa paz e reconciliação”.

PARA SERMOS TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA.

Devemos ser testemunhas da presença de Cristo entre nós e dessa esperança em sua promessa (Mt 28,20):”Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.

VOLTEMOS A JERUSALÉM

“Voltemos à origens do evangelho! Voltemos continuamente a Jerusalém, como fez o Santo Padre neste ano jubilar de 2000. É um retorno às origens, ao âmago da Igreja, onde Jesus ensinou, sofreu a paixão, morreu e foi sepultado”.

“Quando tudo parecia acabado, Jesus ressuscita e aparece a muitos. A Igreja triunfa de alegria porque ele disse: “Tende coragem! Eu venci o mundo! (Jo 16,33). Voltemos ao espírito genuíno do evangelho!”.

PERMANEÇAMOS UNIDOS À COMUNIDADE ECLESIAL AO REDOR DE PEDRO

No Cenáculo, os discípulos de Emaús encontram Pedro, a quem Jesus prometera que confiaria a sua Igreja. “ O perfil petrino da Igreja é também este: A unidade na fé e no amor por Jesus em torno a Pedro, para que a Igreja seja UNA em sua essência de amor e serviço.”

COM MARIA, A MÃE DE JESUS

“Na comunidade dos discípulos, sem a presença física do Mestre, antes e, sobretudo após a Ascensão, Maria, a Mãe de Jesus, torna-se a garantia da contínua assistência do Senhor e a certeza da promessa do Espírito Santo”.

“A Mãe de Jesus, a santa por excelência, revela o perfil mariano da Igreja. Uma Igreja que é família. Uma Igreja fraterna, acolhedora e solidária (...) Maria, que é amor acolhido, correspondido e partilhado, é também modelo da Igreja, que é Mistério, Comunhão e Missão”.

CREIO NA IGREJA UNA, SANTA, CATÓLICA, APOSTÓLICA E JUBILOSA.

“A nossa esperança é Jesus, o único Salvador, que nos espera na eterna alegria do banquete, onde está também o pobre Lázaro no seio de Abraão. Grande é a nossa alegria, porque a salvação é garantida pelo próprio Deus a Abraão (Lc 1,55.73). “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu Dia. Ele o viu e encheu-se de alegria” (Jo 8,56).

Esse é o retiro que o Cardeal Van Thuan pregou à cúria romana em 2000. O livro termina com uma mensagem do Santo Padre o Papa, de agradecimento ao Cardeal. Vale a pena ler o livro completo. O nome e o endereço de e-mail da editora está no início do índice dos capítulos.

a vossa tristeza se transformará em alegria – a alegria da esperança; no caminho de Emaús; inversão de rota; “a paz esteja convosco”; uma alegria que ninguém nos tirará; cristo está em nosso meio através do amor; para sermos testemunhas da esperança; voltemos a jerusalém; permaneçamos unidos à comunidade eclesial ao redor de pedro; com maria, a mãe de jesus; creio na igreja una, santa, católica, apostólica e jubilosa;