Este Boletim nº 174 é uma publicação trimestral da Fraternidade Sacerdotal Jesus + Caritas no Brasil, e tem como objetivo criar laços entre as diversas Fraternidades por meio de estudos e comunicações entre seus membros espalhados em todo o território do país.
Pe. Anderson Messina Perini
Pe. Geraldo Martins Dias
Diác. Lindolfo Ferreira Neto
Diác. Amauri Moura
Colaboradores no nº 174
Pe. José de Anchieta
Pe. Fernando Tapia (Chile)
Diác. Amauri Dias de Moura
Ilustração e capa
Pe. Anderson Messina Perini
Editoração
Pe. Anderson Messina Perini
Revisão
Pe. Anderson Messina Perini
Pe. José de Anchieta M. Lima
Pe. Geraldo Martins Dias
Diác. Lindolfo Ferreira Neto
Expedição e Assinaturas
Diác. Amauri Dias de Moura
Site Oficial da Fraternidade
Responsável Internacional
Pe. Eric Lozada (Filipinas)
E-mail: ericlozada@yahoo.com
Equipe internacional
Pe. Fernando Tapia (Chile)
Pe. Honoré Sawadogo (Burkina Faso)
Pe. Matthias Keil (Áustria)
Pe. Tony Llanes (Filipinas)
Responsável Pan Americano
Pe. Carlos Roberto dos Santos
Equipe Pan Americana
Pe. Roberto Ferrari (Tino) – Argentina
Pe. Mártires Garcias de Óleo – RD
Pe. Alejandro Trejo - EUA
Responsável Nacional
Pe. José de Anchieta Moura Lima
Pe. José de Anchieta Moura Lima – Lima Duarte/MG Irmão de todos, como responsável nacional da FSJC
“Eis o segredo da minha vida: perdi o meu coração por este Jesus de Nazaré crucificado há 1.900 anos e passo a minha vida tentando imitá--lo tanto quanto a minha fraqueza o permite”
(Charles de Foucauld – 07 de março de 1902).
CARÍSSIMOS MEMBROS DAS FRATERNIDADES!
Estamos enviando nosso primeiro Boletim das Fraternidades deste ano de 2025, com as reflexões simples, profundas e sinceras muito bem-preparadas, pelo nosso pregador Pe. Fernando Tápia da Fraternidade do Chile. Foi um tempo de graça passarmos o retiro juntos, em Blumenau, no antigo seminário, agora a Casa Mãe de Deus. Éramos ao todo 34 participantes de todas as regiões do Brasil.
Que possamos aproveitar bastante as meditações do Pe. Fernando Tápia da Fraternidade do Chile. Com sua simplicidade e profundidade, ele uniu as reflexões de São Carlos de Foucauld com textos da Evangelii Gaudium, a primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco, com interpelação para todos nós.
O Jubileu 2025 nos convida à unidade, apelando aos cristãos para peregrina- rem juntos na história, pela força da esperança. Somos chamados pela Igreja a sermos “Peregrinos de esperança, caminho da paz”. Apesar dos desafios, é possível encontrarmos forças na esperança e sentido na paz. Como peregrinos nesta vida, busquemos construir, juntos, um mundo justo e fraterno. Ao fim da proclamação da Bula do Jubileu da Esperança, escreve o Papa: “Em virtude da esperança na qual fomos salvos, podemos ter a certeza de que a história da humanidade e nossa própria história individual não estão fadadas a um beco sem saída, mas direcionadas a um encontro com o Senhor da Glória”. Com várias iniciativas: peregrinação aos santuários; sacramento da reconciliação; obras de misericórdia; eventos litúrgicos e celebrações especiais; fomento à justiça, à paz, ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso; o incentivo à oração pessoal; promoção da vocação ao serviço.
Unimo-nos a todos que estão aprofundando a temática da Campanha da Fraternidade, sob o tema da Fraternidade e ecologia integral, sob o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn1,31). Recordamos com a CF: os 10 anos da “Laudato Si” e os 800 anos do Cântico das Criaturas por São Francisco de Assis; o agravamento da crise climática e as últimas catástrofes; a COP 30 que será em Belém no Brasil; o Jubileu da Esperança que faz coro ao convite à conversão integral.
Estamos nos preparando e por isso peço orações de vocês pela nossa participação na Assembleia Internacional da Fraternidade Jesus Cáritas, em Buenos Aires, nos dias 6 a 22 de maio. Pe Carlos, Pe Willians, Pe Paulão, e eu, representa- remos as Fraternidades do Brasil. Nos dias 5 a 31 de janeiro de 2026, se realizará o mês de Nazaré na Casa da Fraternidade em Goiás/GO. Procurem motivar os colegas para se inscreverem o quanto antes. O próximo retiro será na casa de encontros dos Capuchinhos, em Hidrolândia/GO, nos dias 6 a 13 de janeiro de 2026.
Meu abraço fraterno com votos de boa leitura!
Pelo Conselho da Fraternidade e pela Equipe do Boletim
O Retiro Anual da Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas Brasil realizou-se entre os dias 7 a 14 de janeiro de 2025 na diocese e cidade Blumenau/SC na Casa de Encontros Mãe de Jesus, que pertence a mesma diocese. Esse retiro foi organizado pela nova coordenação da FSJC, eleita pelo responsável nacional Pe. José de Anchieta Moura Lima.
Tivemos como pregador Pe. Fernando Tapia, membro da Fraternidade sacerdotal e da equipe internacional, da arquidiocese de Santiago no Chile. O retiro teve como tema central “A partir de Cristo evangelizador construímos uma Igreja evangelizadora”, desenvolvido em oito meditações, duas a cada dia. Iniciou-se na terça-feira, dia 7 de janeiro, com a Eucaristia presidida pelo responsável nacional e abertura com a explicação do andamento e cronograma do retiro. Na maioria dos dias, iniciavam-se as atividades com a Oração da Manhã do Ofício das Comunidades, café, trabalhos e serviços necessários, tais como limpeza, arrumação da capela e jardins e organização da liturgia. Estes trabalhos foram distribuídos a diversas equipes.
A primeira meditação ocorria depois dos trabalhos, e a segunda, à tarde, às 14h30. No final do dia havia adoração eucarística silenciosa e contemplativa, bem como a oração das Vésperas. A missa diária ocorria pela manhã, às 11h. Antes da adoração havia partilha entre os participantes que foram organizados em pequenas Fraternidades de partilha e serviço. À noite, após o jantar, houve partilha de experiências missionárias e de ação pastoral social.
Na quinta-feira à noite em preparação ao dia do deserto, houve vigília eucarística, onde os grupos se revezavam para adoração. Na sexta-feira, após o café, os participantes permaneceram em deserto, momento de avaliação do projeto de vida e encontro solo com Deus no silêncio. No final da tarde de sexta, às 17h houve a celebração penitencial com confissões individuais, encerrando o dia de deserto com a Eucaristia. À noite, os grupos puderam partilhar o dia de deserto.
No domingo à noite, após o dia de retiro, houve confraternização com os participantes com muita comida e alegria. Na segunda-feira à noite, ocorreu a Análise de Conjuntura ministrada pelo prof. Pe. Manoel José de Godoy. O retiro encerrou-se na terça-feira dia 14, após a missa presidida pelo responsável panamericano Pe. Carlos Roberto dos Santos.
Foram nove meditações que desenvolveram o tema descrito acima: 1) Buscai o Senhor; 2) Deus nos “primeireia”; 3) O discernimento espiritual; 4) Ama-me tal como você é; 5) Buscou o último lugar; 6) Nazaré; 7) Uma Igreja em saída; 8) A ação mis- teriosa do Ressuscitado e de seu Espírito; e 9) Gratidão e Oferenda. As meditações foram fundamentadas nos escritos de São Carlos de Foucauld, na espiritualidade inaciana e nos documentos do Papa Francisco, sobretudo, Evangelii Gaudium.
Nesta edição, temos a oportunidade de meditar os textos escritos pelo Pe. Tapia no retiro que nos ajudam a experimentar um pouco da profundidade desse encontro anual da Fraternidade desse ano. Esperamos que você, querido leitor, que não parti- cipou do nosso retiro, sinta a experiencia desse encontro anual e possa estar conosco no próximo ano.
Pe. Fernando Tapia, pregador
1-"Buscai o Senhor!" (Is 55,6-11)
2-Estamos aqui porque queremos buscar o Senhor, ajudando-nos com o testemunho de vida, as palavras, as buscas, o apostolado, o martírio do Ir. Carlos de Foucauld. Se nós nos afastamos do Senhor, como lhe ocorreu durante vários anos, queremos retornar a Ele porque sabemos que “é generoso em perdoar” (v.7). Temos experimentado tantas vezes que seus pensamentos e seus caminhos não são os nossos, porém podemos tentar fazê-los nossos se nos deixarmos fecundar pela Palavra de Deus, que descendo do céu “não voltará para mim vazia, mas fará tudo aquilo que decidi, realizando a missão para a qual a enviei” (v.11). Nos diz Santo Alberto Hurtado: “Esta vida nos foi dada para buscar a Deus, a morte para encontrá-lo, a eternidade para possui-lo”.(P. Hurtado, “La búsqueda de Dios”, edic. UC, pág. 82)
3-O Irmão Carlos foi um apaixonado buscador de Deus despois de sua con- versão (1886): “Tão pronto como eu acreditei que havia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa mais que viver para Ele...” (Carta de agosto de 1901). Sua busca de Deus o leva à Trapa, primeiro na França e despois na Síria (1890- 1897), mas não se sente confortável e se vai a Nazaré “para assemelhar-se mais ain- da a Jesus”. Ali se estabelece como criado e mensageiro das Clarissas e vive numa cabana próximo de seu claustro: “Havia obtido a permissão de voltar sozinho a Nazaré e de ali viver desconhecido, como trabalhador, de meu trabalho diário. Solidão, oração, adoração, meditação do evangelho, trabalho humilde". Permaneceu ali quatro anos e sentiu que Senhor lhe pedia de levar o Evangelho a quem não o conhecia. E, por isso, vai para a Argélia, primeiro a Béni-Abbés e depois a Tamanrasset, no país dos tuaregues até sua morte e martírio a 1º de dezembro de 1916.
4- Estas mudanças não são fruto de uma vontade caprichosa, mas da contemplação dos mistérios da vida de Jesus e de um desejo sincero de imitá-lo cada vez mais radicalmente: “A busca de uma vida conforme à tua, a que eu possa participar completamente de tua abjeção, tua pobreza, teu trabalho humilde, teu aniquilamento, tua obscuridade, buscada e tão claramente desenhada em meu último retiro em Clamart” (Escritos Espirituales, p.80).
5-Este desejo implicava para ele – e para nós – um “retorno ao Evangelho” porque “se não vivemos do Evangelho, Jesus não vive em nós”. Por isso, nos disse “temos que ler e reler o Evangelho sem deter-nos, de maneira que tenhamos o espírito, os fatos, as palavras e os pensamentos de Jesus diante de nós, a fim de que um dia possa- mos pensar, falar e atuar como Ele o fez” (Es.Es.p.86). É dizer, para que sejamos um sinal mais vivo, mais transparente de sua presença para a gente, que é o mais próprio de nossa vocação de pastores do Povo de Deus, ou de agentes pastorais. Por isso, neste retiro a contemplação de Cristo no Evangelho será o exercício principal.
6-É conveniente começar o retiro muito lentamente. Tanto a entrada como a saída de um retiro devem ser lentas porque um está em um tempo distinto. Há um corte com o que habitualmente fazemos que nos permite ativar outras capa- cidades ou potencialidades nossas que tendem a adormecer. Por exemplo, a capa- cidade de contemplar, de reconhecer os próprios pecados etc. Este processo não é automático. Toma seu tempo e requer muita decisão e disciplina de nossa parte.
7-Por isso, é recomendável acalmar-se, desacelerar-se, dar-se mais tempo nas coisas que fazemos, conscientemente relaxar-se, respirar profundo, caminhar mais lentamente. É a atitude própria do que espera a alguém. Esperamos o Senhor. Ele não está no furacão, nem no tremor da terra, nem no fogo, mas no sussurro de uma brisa suave (1Rs 19,9-14). Assim, pois, o encontro com o Senhor se produzirá na quietude, na solidão, no silêncio. É, também, a experiência do Ir. Carlos: “Durante a maior parte de minha vida conheci a doçura da solidão. Já antes de converter-me ao cristianismo, desfrutava da solidão no contato com a natureza e a leitura de livros, onde o mundo é invisível e doce. Na solidão nunca se está sozinho. O espírito não foi feito para o ruído, mas para acolher as coisas. A vida é uma preparação para o céu, não sozinho pelas meritórias obras realizadas, mas pela paz e a comunhão com Deus”.
8- Na tradição espiritual da Igreja, particularmente nos Exercícios Espirituais de S. Inácio, se recomenda pedir como uma graça o que se deseja intimamente em cada momento de oração. Por exemplo, dar-me conta do amor que Deus me tem, converter-me de verdade, conhecer mais profundamente a Jesus etc. Deste modo, o alcançado no retiro se experimenta como presente de Deus. Haja uma confiança em que tanto esses desejos como a resposta aos mesmos provêm do Espírito Santo que ora em nós: “O Espírito vem na ajuda de nossa debilidade. Pois, nós não sabemos pe- dir como convêm; mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis, e o que sonda os corações conhece qual é o desejo do Espírito e que sua intercessão a favor dos santos é segundo Deus” (Rm 8,26-27;8,15).
9-Assim, pois, se o Espírito ora em nós, nada devemos temer. Só necessi- tamos facilitar sua ação, desenvolvendo certas atitudes espirituais, lindamente contidas na “Oração do abandono” do Ir. Carlos:
Confiança: “Meu Pai, a Vós me abandono, fazei de mim o que quiserdes (...) E por- que para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos sem medida com infinita confiança, porque Vós sois meu Pai”.
Disponibilidade: “Estou pronto para tudo, aceito tudo, contanto que a vossa von- tade se faça em mim e em todas as vossas criaturas”.
Generosidade: “Entrego minha vida em vossas mãos. Eu vo-la dou, meu Deus, com todo o amor do meu coração...”, como no dia de nossa ordenação em que nós, os sacerdotes, nos deitemos no chão para significar nossa entrega total a Deus.
Ânimo: um desejo muito profundo de buscar o Senhor, de deixar-me encontrar e transformar por Ele: “Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus?” (Sl 42[41],3)
Silêncio: interior e exterior para captar a voz e a presença do Senhor: “a conduzi- rei ao deserto e lhe falarei ao coração” (Os 2,16). “É necessário passar pelo deserto e viver ali para receber a graça de Deus. É ali onde se expulsa de si tudo o que não é Deus. É necessário à alma esse silêncio, esse recolhimento...Se esta vida interior é nula...é um manancial que gostaria dar a santidade aos demais, porém não pode, porque carece dela” (EE p.156).
10-Oração do Ir. Carlos ao começar um retiro em Nazaré (novembro 1897). “Eu te adoro profundamente, meu Deus; te adoro com toda minha alma e te amo com todas as forças de meu coração. Me entrego a ti, só a ti; todo meu ser é para ti, é teu somente, apesar mim, e o é voluntariamente, com todo meu coração: faz de mim o que queiras, ajuda-me a fazer este retiro como tu queiras. ‘Se é perfeito como teu Pai celestial é perfeito’ me respondes. Bem, meu Deus, ajuda-me a fazer este retiro o mais perfeitamente possível em ti, por ti e para ti. Amém” (EsEs p.55).
Textos que podem ajudar a começar o retiro:
Algo que em outro(s) retiro(s) me ajudou a começar
Textos aos quais me sinto muito unido afetivamente ou que eu gostaria Algo dos quais se citou nesta meditação
Salmo 103 (102) Deus é amor
Salmo 139 (138) Tu me sondas e me conheces. Oração do Abandono
1. “Quando Israel era um menino, eu o amei...” (Os.11,1.3-4)
2. Segundo os comentaristas bíblicos, esta passagem é “uma das principais da revelação sobre a natureza de Deus no A.T.” (Comentário bíblico San Jerônimo, tomo I, n.15:30). Nosso Deus é um Deus que nos ama com imensa ternura desde que éramos crianças. Ele nos ensinou a caminhar na vida, tomando-nos pela mão, embora não nos déssemos conta de que era Ele. Nos atraía até Ele, fonte da vida, com gestos de amor, como o de um pai ou uma mãe que segura seu filho junto a seu rosto e o abraça fortemente.
3. O Ir. Carlos também viveu esta experiência e numa jornada grata pela sua história de salvação pessoal, a descreve com estas palavras: “Ah, meu Deus! Temos todos que cantar tuas misericórdias, nós, criados para a glória eterna e resgatados pelo sangue de Jesus, pelo teu sangue, meu Senhor Jesus, que estás a meu lado neste tabernáculo. Porém, se todos devemos fazê-lo, quanto mais eu! Eu que tenho esta- do desde minha infância rodeado de tantas graças, filho de uma santa mãe; tendo aprendido dela a conhecer-te, a amar-te e a rezar-te tão pronto como fui capaz de falar”. (retiro de 1897; EsEs p.36)
4. São João, contemplando a Cristo, em cujo peito se reclinou, resume numa só frase quem é Deus: “Deus é amor” (1Jo 4,8) e nos dirá em que consiste esse amor: “E nisto consiste o amor: não que nós amamos a Deus, mas que Ele nos amou e nos enviou a seu Filho”. E agregará mais abaixo: “Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro”. O próprio do amor verdadeiro é, pois, que sempre toma a iniciativa. Se aproxima. Não necessita ser chamado. Basta-lhe ver a necessidade do outro, como o Bom Samaritano. Sai em busca do outro, quando o outro se perde, como o Bom Pas- tor. Nas palavras do Papa Francisco: “Deus nos primeireia” (EG24). É um amor fiel que retira da morte e encaminha para a vida. Israel canta nos salmos continuamente as misericórdias do Senhor (sal 89,1-2) e proclama no culto do templo, quando apre- senta as primícias dos produtos da terra, a permanente fidelidade de Deus ao longo da história (Deut 26,4-10).
5. Jesus também experimenta ao longo de sua vida, o amor de seu Deus Pai. Em seu batismo, essa relação de amor se faz mais explícita. Segundo o evangelho de Lucas, despois de ser batizado, estando Jesus em oração, “se abriu o céu e bai- xou sobre Ele o Espírito Santo em forma corporal, como uma pomba: e se ouviu uma voz do céu: “Tu és meu Filho amado; em ti me comprazo”.
6. Jesus estava num momento muito importante de sua vida: deixava tudo o que lhe era mais conhecido e querido: seu povo, sua mãe, seus amigos, seu trabalho de carpinteiro, para iniciar uma missão que era nova para Ele e que Ele intuía como difícil e conflitiva. O que é que Ele necessitava nesse momento? Necessitava de força: essa que receberam os profetas de seu povo quando foram chamados por Deus a realizar sua missão. E precisa saber acima de tudo, que o amor de seu Pai está vivo e mais presente do que nunca, que n’Ele se pode apoiar. Ambas as coisas são exatamente as que Ele recebe naquele momento: a força do Espírito Santo e a certeza do amor do Pai: “Jesus, tu és meu filho amado...estou feliz contigo”. Da mesma forma, como nós sacerdotes sentimos no dia de nossa ordenação quando o bispo nos impôs as mãos.
7. Assim, é o amor do Pai: sempre oportuno e delicado. Nos dá o que necessitamos e sempre a tempo: nem antes nem despois. Há um salmo que expressa muito bem esta característica do amor de Deus e a estende a toda a criação:
Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam e vós lhes dais no tempo certo o alimento; vós abris a vossa mão prodigamente
e saciais todo ser vivo com fartura. (Sl 145[144],15-16).
8. Um momento privilegiado para tomar consciência do amor do Pai e para acolher a força do Espírito em nós é a oração, tal como a viveu Jesus no seu batismo. É o momento em que percebemos os fatos positivos ou negativos de nossa vida à luz da fé e nos transforma em sinais do amor surpreendente de Deus. Por isso, São Paulo se pergunta em seu hino ao amor de Deus: “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada?”. E poderíamos alongar esta lista com as dificuldades que nós experimentamos em nossa vida e em nosso trabalho pastoral. No entanto, Paulo responde desde sua fé profunda: “Em tudo isso, porém, somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou” (Rom 8,35.37)
9. Esta é também a experiência do Irmão Carlos, narrada por ele mesmo no retiro de Nazaré em novembro de 1887: “Meu Deus, dignai-vos dar-me esse sentimento contínuo de vossa Presença, de vossa Presença em mim e ao meu redor! E, ao mesmo tempo, esse amor temeroso é estar na presença de quem você ama apaixonadamente e que nos faz estar diante da pessoa amada sem poder tirar os olhos dela, com o desejo e a vontade de fazer tudo o que lhe agrade, tudo o que a beneficia, e o temor de fazer, dizer ou pensar alguma coisa que lhe desagrada ou lhe prejudica. Em vós, por vós e para vós. Amém”. (Ex Es p.117).
10. Com efeito, nosso modo de corresponder ao amor do Pai é nossa obediência filial: fazer sempre a vontade de Deus, o qual não é fácil. Há resistências interiores, há medos; há apegos a pessoas, a coisas, ideias ou projetos; há também desilusões, discórdias ou desconfianças. Os profetas do AT nos oferecem vários testemunhos neste sentido (ver Jer 1,4-10; 20,7-18). E o mesmo Jesus, nos diz a carta aos Hebreus, “dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que tinha o poder de salvá-lo da morte” (Hb 5,7). No entanto, finalmente, ele sempre pede que “não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,41) Esta é a obediência do Filho que chega a sua plenitude mediante o sofrimento (Hb 2,10), “tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”, como diz mais adiante a mesma carta aos Hebreus (5,9).
11. A vida cristã, e a vida sacerdotal em particular, é um contínuo deixar-se em Deus, ter Deus em nossas vidas. Deixá-lo ser o centro de nossa existência como livre resposta de amor ao amor incondicional que Ele nos tem. Essa foi a experiência profunda do Irmão Carlos despois de sua conversão e que nós, em nossa espiritualidade chamamos O ABSOLUTO DE DEUS. “Meu Pai, fazer de mim o que quiserdes”. Tantas vezes colocamos algo distinto de Deus no lugar cen- tral de nossas vidas. Adoramos uma criatura em vez de adorar e servir ao Criador. Nos fabricamos e nos prostramos ante ídolos, como o fazia Israel, pensando que eles nos dariam a vida e a felicidade que buscamos. Porém, nos equivocamos e as frustrações e sofrimentos que qualquer experiência idolátrica nos produz, nos faz voltar os olhos até o Senhor.
12. Ao considerar com cuidado tudo o que temos recebido do Senhor (o ser “que faz memória” nos diria o Papa Francisco –EG13-), nos estimula a ser agradecidos com Ele e recentrar-nos n’Ele. Em primeiro lugar, dar-nos conta dos dons e talentos naturais que nos deu, pelo simples fato de termos sido criados “a sua imagem e semelhança”: nosso corpo, nossa sexualidade, nossos sentimentos, nossa personalidade, nossa inteligência, nossa vontade etc. Agradeçamos e percebamos tudo isso como elementos facilitadores de nosso ministério pastoral. Perceber tudo o que somos como dom nos ajuda a aceitar-nos e querer-nos a nós mesmos, tal como Deus nos quer e nos aceita. Seu amor é gratuito e incondicional.
13. Também podemos contemplar com o coração agradecido os dons sobre- naturais que temos recebido. Quem não recorda com alegria interior as vezes em que sentiu a presença do Senhor em si mesmo; sua iluminação em momentos em que nos sentíamos confundidos; sua força quando nos sentíamos débeis; sua proteção quando estávamos em perigo; um renovado entusiasmo apostólico quando caímos na rotina; o perdão restaurador quando pecamos? São os frutos do Espíri- to que gratuitamente temos recebido para gratuitamente entregá-los.
14. E esta reflexão nos leva a agradecer aos que são sacerdotes, o grande presente que imerecidamente cada um de nós temos recebido: nossa vocação sacerdotal. Muitas vezes, talvez tenhamos percebido nosso ministério como fonte de tensões e sofrimentos, inclusive de descrédito. Vamos aproveitar o tempo para contemplar as alegrias de nosso ministério. Na homilia de encerramento do Ano Sacerdotal, Bento XVI disse algo muito certo: “Se o Ano Sacerdotal tivera sido uma glorificação de nossas conquistas humanas pessoais, teria sido destruído por estes fatos (se refere aos casos de pedofilia). Porém, para nós, se tratava precisamente do contrário, de sentir-nos agradecidos pelo dom de Deus, um dom que se leva em “vasos de barro”, e que uma e outra vez, através de toda a debilidade humana, faz visível seu amor no mundo”.
15. São Paulo, o grande apóstolo, não se envergonha de expressar tanto seu afeto pelas pessoas e comunidades que estava formando, quanto a profunda ale- gria que seu ministério evangelizador produziu nele: Fl 1,3-11; 1Ts 3,9. É a “alegria do Evangelho” e da transmissão do Evangelho, da qual Francisco nos fala na EG.
16. Em uma palavra, o que as pessoas esperam de nós e o que nos traz mais alegria interior é ser Cristo para elas. Eles não se contentam com menos. Esta é a nossa identidade mais profunda. Isso nos ajuda a não ficar no meio do caminho em nosso seguimento de Jesus, mas a continuar nossa corrida, como diz São Paulo, até alcançá-lo e poder dizer com ele: “Eu vivo, mas não eu, mas é Cristo que vive em mim”. (Gl 2,20).
Para a oração pessoal:
1. Peça a graça de reconhecer a presença e o amor do Senhor em minha vida.
2. Para iniciar a oração, existem dois pontos de partida possíveis:
3. Leia e medite sobre alguns dos textos citados na meditação;
• Percorra minha própria história de salvação:
Ficar nos momentos mais importantes Orando pelas pessoas e eventos que surgem
Agradecendo a Deus pelo amor que ele tem me dado
4. Na oração, pergunto-me se reconheci os meus dons naturais e sobrenaturais: quais são eles? Eu os aprecio? Estou desenvolvendo-os?
5. Refletir sobre as alegrias do ministério pastoral.
1. Seguindo as duas narrações da criação, aparece no Gênesis a narração da tenta- ção e da queda, que culminam, no entanto, na promessa do Protoevangelho: “Esta te ferirá a cabeça” (Gn 3,15). Esses relatos expressam uma experiência humana funda- mental pela qual todos nós passamos, incluindo Cristo: a criação e a ordem das coisas queridas por Deus são permanentemente ameaçadas por um “ser hostil a Deus e ini- migo do homem, e no qual a Sabedoria, e depois todo o NT e toda a tradição cristã, reconheceram o Adversário, o Diabo” (Bíblia de Jerusalém).
2. De acordo com São João, esse personagem é mentiroso e assassino desde o início (Jo 8,44). Com efeito, o que nos faz crescer como pessoas e nos conduz à vida é a consciência de que não somos Deus, mas criaturas de Deus, chamadas a estabelecer com Ele uma relação de filhos – como Cristo – caracterizada pela obediência à sua vontade e pela confiança no seu amor. O diabo usa nosso desejo de crescer como pessoas, de ser mais – colocado pelo próprio Deus – mas ele deliberadamente o orienta na direção errada. Primeiro semeia a dúvida e depois faz uma falsa promessa que leva o homem e a mulher à sua própria destruição: “De modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3,4-5).
3. A tradição espiritual da Igreja e particularmente Santo Inácio, no livro dos Exercícios Espirituais, formularam várias regras para o “discernimento dos espíri- tos”, que nos permitem perceber se os movimentos ou impulsos interiores que sentimos vêm do bom ou do mau espírito. A primeira que gostaria de mencionar aqui é aquela regra que nos permite desmascarar o diabo quando ele se veste de “anjo de luz”. Ou seja, quando ele assume a liderança de algo positivo para um fim ne- gativo: “É apropriado que o anjo mau se disfarce de anjo de luz, adaptando-se aos bons desejos da pessoa boa e depois conduzindo-a ao que deseja. E assim apresenta pensamentos bons e santos que agradam ao devoto, mas depois o desvia, atraindo-o pouco a pouco para seus enganos encobertos e suas intenções perversas” (EE n.332).
4. Com Cristo, o novo Adão, o demônio também usa essa mesma tática, como revela o relato das tentações no deserto. Jesus está em um longo retiro antes de começar Seu ministério público. Ele precisa conversar com seu Pai sobre como, onde e com quem do novo estágio que Ele começa. Foi o Espírito Santo que o trouxe a este encontro (Lc 4,1). Mas a presença do bom espírito não anula a ação do mau; ele está mais ativo do que nunca na tentativa de enganar Jesus em sua ação libertadora. Ele quer convencê-lo da eficácia de um messianismo baseado exclusivamente no bem-estar material: “manda que estas pedras se tornem pães” (Mt 4,3), na realização de ações espetaculares: “lança-te daqui do alto do templo” (Mt 4,5) e/ou no controle total do poder político: “Tudo isso te darei, se te prostra- res para me adorar” (Mt 4,9). Este é o conteúdo das três tentações. Sem dúvida, o bem-estar material ou o trabalho político não são más realidades, mas outra coisa é acreditar que neles se esgota a salvação que Deus nos traz ou que a acumulação de riquezas ou de poder liberta o ser humano dos seus laços mais profundos. Certamente não é esse o caso. Basta olhar para os países ricos do Ocidente ou do Oriente, ou o que eram os países da Europa Oriental.
5. Cristo reconhece nessas propostas a ação do espírito maligno e as rejeita como tentações. O caminho que o Pai lhe indica para transformar este mundo num Reino passa “de baixo”, através da pobreza voluntária, do serviço, da partilha da vida quotidiana das pessoas simples, do não-poder, do dom da vida. Exatamen- te o caminho oposto ao que o diabo lhe propõe. Jesus intui que o seu caminho é o mesmo dos profetas do Antigo Testamento e, em particular, o do Servo sofredor. A eficácia do Evangelho tem uma lógica diferente a dos poderes deste mundo, que é sempre excludente e marginalizante. Lucas diz que, quando as tentações no deserto passaram, “o diabo afastou-se dele até o tempo oportuno” (Lc 4,1-13).
6. Um desses “momentos oportunos” foi quando ele teve que tomar a de- cisão de viajar para Jerusalém, sabendo que provavelmente seria preso, julgado, ridicularizado e finalmente executado por lá. A tentação do espírito maligno é não viajar. Existem “razões de segurança” poderosas e compreensíveis e o cuidado com a própria vida para não fazê-lo. O demônio usa todos os meios à sua disposição para que Jesus não atinja o ponto culminante de sua missão. Ele sabe que a morte de Jesus na cruz é sua derrota final. Assim como no deserto não hesi- tou em usar textos bíblicos para convencer Jesus, aqui ele usa a amizade. É Pedro, um dos discípulos mais próximos e queridos do Mestre, que o repreende e tenta desviá-lo de seu caminho. No entanto, Jesus descobre na proposta do seu amigo que esses não são os pensamentos ou os caminhos de Deus, mas as do inimigo, e rejeita com vigor a tentação, usando uma das frases talvez a mais dura do Novo Testamento: “Afasta-te da minha vista, Satanás” (Mc 8,33).
7. O Evangelho mostra-nos que a luta de Cristo contra o “príncipe deste mundo” é interior e exterior. Porque em algumas pessoas o mal venceu e acorrentou as suas vítimas. E estas, por sua vez, criaram um mundo marcado pelo pecado, criaram “estruturas de pecado”, como afirmou a teologia latino-americana desde Medellín até o presente.
8. O endemoniado de Gerasa (Lc 8,26-39) é um bom sinal das consequências destrutivas da presença do mal nas pessoas: desumanização, isolamento, falta de comunicação. O Evangelho diz que ele não usava roupas, que ia para o deserto, vivia em túmulos e gritava. Cristo o confronta. O diabo o conhece perfeitamente e sabe que ele será derrotado. Ele diz a Jesus claramente e em voz alta na cena da sinagoga de Cafarnaum: “Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus” (Lc 4,34). Cristo o silencia e vence-o. O geraseno recupera sua condição humana e sua dignidade de pessoa. O Evangelho diz que os criadores de porcos o encontraram “sentado aos pés de Jesus, vestido e no seu perfeito juízo” (Lc 8,35). Tornou-se discípulo e quer permanecer ao lado de Jesus. Ao contrário, pede-lhe que se torne apóstolo, evangelizador: “Volta para tua casa e conta tudo o que Deus fez por ti” (Lc 8,39). E o homem assim o fez.
9. Todas esses relatos em que Jesus aparece confrontando abertamente com o demônio e vencendo-o, nos dão, por um lado, uma ideia de quão profundo é o nosso próprio confronto com o mal, tanto interna quanto externamente. Lutamos contra forças poderosas e habilidosas. E, por outro lado, nos mostra que não são forças invencíveis. Cristo as venceu. Também nós podemos vencê-las se estivermos unidos a Ele.
10. Os espíritos agem de maneira diferente se a pessoa está em declínio espiritual ou se está progredindo:
a) “As pessoas que se deixam levar por suas paixões e que não se importam em evitar os pecados, muitas vezes são tentadas pelo inimigo lisonjeando suas paixões com prazeres atraentes, imagens sensuais etc. Assim, ele os conserva no pecado e os enreda ainda mais em seus vícios. O bom espírito trata essas pessoas de maneira oposta: fere sua consciência e desperta remorso com razões objetivas e válidas” (EE 314).
b) “O oposto acontece em pessoas que são intensamente purificadas de seus pecados e progridem no serviço de Deus. Nesse caso, o espírito maligno procura perturbar angustiando, entristecendo, colocando impedimentos, perturbando com falsas razões para impedir o progresso. E é próprio do bom espírito dar cora- gem e força, com consolações, lágrimas, inspirações e paz, facilitando as coisas e removendo obstáculos para que se possa progredir” (EE.315).
c) Nas regras 12, 13 e 14, ele nos adverte sobre três táticas do inimigo: 1) Assustar; 2) Procurar segredo; 3) O ponto fraco.
11. O Irmão Carlos, olhando à distância sua história pessoal, discerne a presença do espírito bom e do espírito mau em sua vida: “E depois, quando, apesar de tantas graças, comecei a me separar de ti, com que gentileza me chamaste por meio de meu avô, com que misericórdia evitaste que eu caísse nos últimos excessos, conservando em meu coração minha ternura por ele! Mas, apesar de tudo isso, eu estava me afastando cada vez mais de ti, meu Senhor e minha vida. Minha vida também estava começando a ser uma morte. Me fez sentir um vazio doloroso, uma tristeza que eu não experimentava mais do que então; ela voltava todas as noites quando eu estava em meus aposentos. Fiquei mudo e oprimido durante o que chamamos de festas. Ele as organizava, porém, quando chegou a hora, as passava em um silêncio sem prece- dentes, uma repugnância e um aborrecimento inauditos. Tu me davas aquela vaga inquietação de uma má consciência que, por mais adormecida que estivesse, ainda não havia morrido. Nunca senti essa tristeza, esse desconforto, essa inquietação como naquela época, meu Deus. Isso, então, foi o teu dom. Quão longe eu estava de suspeitar disso! Como eras bom!
12. Em resumo, poderíamos dizer o seguinte:
a) O nosso seguimento de Jesus, em fiel obediência ao Pai e na docilidade ao Espírito, é sempre ameaçado pela ação do inimigo que procura incansavelmente desviar-nos deste caminho. Sobretudo a nós, pastores do Povo de Deus, agentes pastorais, porque Ele sabe que, com a queda, arrastamos muitos na nossa queda. Neste sentido, é muito eloquente a imagem do leão que ruge, tirada dos Salmos, que São Pedro usa para se referir a esta experiência (1 Pd 5,8; cf. também Lc 11,24-26).
b) Cristo também foi tentado pelo inimigo, usando todos os caminhos possíveis, mas o venceu toda vez e definitivamente na cruz. A Carta aos Hebreus diz que “Cristo aniquila o Senhor da morte” (2,14-15). É na fé que temos neste poder de Cristo que podemos resistir e combater firmemente as forças do mal, tanto dentro de nós quanto fora. Sentimo-nos encorajados a saber – como diz São Paulo – que “Não tendes sido provado, além do que é humanamente suportável. Deus é fiel e não permitirá que sejais provados acima de vossas forças” (1Cor 10,13).
c) Facilita nossa luta para estar atentos e aprender a “discernir os espíritos” que se movem dentro de nós. Isso deve ser pedido como uma graça. A oração silenciosa é o lugar mais apropriado para fazer esse discernimento. O cultivo desta sensibilidade espiritual em si mesmo é um elemento chave para o acompanhamento dos outros, particularmente quando se trata de ajudá-los num discerni- mento pessoal ou comunitário, e quando se trata de desmascarar e lutar contra o mal institucionalizado neste mundo, com as armas da fé. (Ef 6,10-18).
Para a oração pessoal:
1. Pedir a graça do discernimento
2. Contemplar algumas das cenas do evangelho:
• Tentações no deserto: Mt 4,1-11
• Tentação por meio de Pedro: Mc 8,31-33
• Tentação no Getsêmani: Lc 22,39-46
• Exorcismo de demônios na sinagoga de Cafarnaum (Lc 4,31-37)
• Cura do endemoniado de Gerasa (Lc 8,26-39).
3. Meditar o texto sobre as TENTAÇÕES DOS AGENTES PASTORAIS que descreve o Papa Francisco na EG (n. 78 a 101).
1. Nossa resposta ao amor infinito de Deus por nós nem sempre é marcada pela obediência fiel e confiante como a vemos em Cristo. Muitas vezes rompemos nossa filiação porque deslocamos Deus Criador do centro de nossa vida e em seu lugar colocamos uma criatura da qual nos tornamos escravos. É a experiên- cia universal do pecado, exceto por Jesus e Maria. São João diz: “Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos nossos pecados, então Deus se mostra fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1,8-9).
2. Reconhecer os próprios pecados é uma graça de Deus que precede a graça da conversão e do perdão que nos liberta dos laços do pecado. E é uma graça que deve ser pedida porque às vezes nossa consciência está adormecida ou cega. O Novo Catecismo diz a este propósito: “O pecado cria uma facilidade para o peca- do, gera o vício pela repetição de atos. Daí inclinações desviantes que obscurecem a consciência e corrompem a avaliação concreta do bem e do mal. Assim, o peca- do tende a se reproduzir e se fortalecer, mas não pode destruir o senso moral até a raiz” (NC n.1865).
3. A tradição espiritual da Igreja e, em particular, Santo Inácio estão cientes disso e é por isso que ele sugere, no início desta oração, pedir a Deus a graça de ter “um conhecimento íntimo de quais foram meus pecados em minha vida” (EE 63) e “sentir grande e intensa dor e lágrimas por meus pecados” (EE 55). Esta dor pro- funda ocorre porque o pecado implica uma tremenda ingratidão para com Deus Pai e, também, por causa das consequências destrutivas que o pecado tem para um como pessoa e outra como pastor e, direta ou indiretamente, para os outros, uma vez que o pecado tem sempre uma dimensão social.
4. Pela nossa própria experiência e alheia, sabemos que o pecado nos entristece, nos desencoraja, nos tira a força e o entusiasmo apostólico. Isso nos envergo- nha, disse Francisco aos participantes do Jubileu dos Sacerdotes. No nosso caso, muitas vezes causa escândalo e perda ou diminuição da fé em muitos cristãos que são fracos. Às vezes, isso nos leva ao mau uso, abusar ou perverter até mesmo as coisas sagradas que o Senhor nos confiou. Não é de admirar que o Papa Bento XVI, em sua “Carta aos Católicos da Irlanda”, diga aos padres e religiosos que abu- saram de crianças:
“Traiu a confiança depositada em você por jovens inocentes e por seus pais. Eles devem responder por isso perante o Deus Todo-Poderoso e perante os tribunais devidamente constituídos. Eles perderam a estima do povo da Irlanda e lançaram vergonha e desonra sobre seus irmãos sacerdotes ou religiosos. Estes sacerdotes vio- laram a santidade do sacramento da Ordem, no qual o próprio Cristo se torna presente em nós e nas nossas ações. Além dos imensos danos causados às vítimas, enormes danos foram causados à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa” (Bento XVI, “Carta Pastoral do Santo Padre Bento XVI aos Católicos da Irlanda”, 19 de março de 2010, parágrafo 7).
5. Considerando tudo isso, nossa tristeza e vergonha devem ser muito grande para que do fundo de nossas almas e com grande sinceridade possamos dizer ao Senhor, como o cobrador de impostos no templo: “Ó Deus, tende piedade de mim, porque sou pecador!” (Lc 18,14). Se não compreendermos lucidamente a profundidade, a gravidade e o mal do pecado, nossa conversão será superficial ou temporária. Não chegaremos às raízes do mal, nem imploraremos de coração a misericórdia de Deus, nem valorizaremos adequadamente o perdão do Senhor quando o recebermos. Será um rito a mais.
6. É aconselhável fazer este exame profundo do pecado na nossa vida, diante de Cristo pregado na Cruz, porque aquela imagem torna-nos presente o seu amor “até ao fim” (Jo 13,1), aquele que faz Paulo exclamar: “... amou-me e entre- gou-se a si mesmo por mim” (Gl 2, 20). Ele está lá para mim, e para todos os que são como eu, para nos dizer que seu amor não tem limites e que ele está sempre pronto para nos dar uma nova chance, seja qual for a situação em que nos encontremos. Para restaurar nossa dignidade, disse Francisco em uma de suas meditações sobre o Jubileu dos Sacerdotes. Cristo conhece, melhor do que nós, o profundo dano que nosso pecado nos causa e a necessidade urgente de ser curado dessas feridas. O irmão Carlos teve experiência desse amor e é por isso que ele coloca na boca de Jesus, no início daquela bela oração “Ame-me tal como tu és”, estas palavras:
“Conheço sua miséria,
as lutas e tribulações de sua alma, a fraqueza e doenças do seu corpo.
Conheço sua covardia, seus pecados e suas fraquezas. Apesar de tudo o que eu digo a você:
dê-me seu coração, ame-me tal como você é.”
7. Cristo é sempre o Bom Pastor que nos chama: “Adão, onde estás?” e que sai para nos encontrar, deixando as outras noventa e nove ovelhas no deserto. E quando nos encontra se enche de alegria, leva-nos com carinho, porque sabe que estamos muito magoados. Ele cuidadosamente nos coloca em Seus ombros e quando voltamos para casa, Ele tem um banquete, porque estávamos perdidos e Ele nos encontrou. Quantas vezes experimentámos a sua misericórdia e o seu perdão que nos reconstrói a partir de dentro, que nos liberta, que nos recria como pessoas e como sacerdotes! Quantas vezes fomos também nós ministros deste per- dão, instrumentos e testemunhas do amor reparador do Pai! É isto que pedimos e recebemos quando rezamos o “miserere” de coração e em verdade: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido” (Sl 50[51],12).
8. As experiências passadas de perdão devem acompanhar-nos sempre, especialmente nos momentos em que nos desesperamos de nós mesmos por causa da repetição das nossas quedas e somos tentados a desconfiar da misericórdia sem limites de Deus. Recuperar essa confiança é o tema subjacente da oração “Ame-me como tu és”:
“Hoje você me tem na porta do seu coração, como um mendigo,
a mim, que sou o Senhor dos senhores. Eu bato na sua porta e espero.
Apresse-se em abri-la. Não alegue sua miséria.
Se você conhecesse completamente a dimensão de sua miséria, morreria de dor.
Só uma coisa poderia machucar meu coração:
ver que duvida e que não tem confiança.”
9. A tentação mais grave em uma situação pecaminosa é pensar que não somos mais perdoados. Esse é o começo do fim, porque então afundamos mais e, pior, di- minuímos a imagem de Deus porque não conhecemos algo que é essencial n’Ele: a gratuidade e a infinitude de seu amor, manifestada na autoconsciência de Jesus de seu ministério: “Eu vim buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). O Papa Francisco diz: “Insisto mais uma vez: Deus nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de recorrer à sua misericórdia” (EG 3).
10. Todo o Evangelho é, em suma, a revelação da misericórdia de Deus para com os pecadores, já contida em nome de Jesus. Com efeito, o anjo diz a José sobre o menino que vai nascer: “e tu lhe porás o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). E quando institui a Eucaristia, que é como o sacramen- to – o sinal – de toda a sua vida e ministério, dá-lhe o mesmo significado: “Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que será derramado por muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26, 28). Não é de admirar que a primeira frase da Bula de Francisco com a qual convocou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015) seja: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai”. E acrescenta: “O mistério da fé cristã parece encontrar sua síntese nesta palavra. Ela se tornou viva, visível e atingiu seu ponto culminante em Jesus de Nazaré”.
11. Em suma, então, para o “Deus que escreve reto com linhas tortas”, nossa experiência do pecado é chamada a ser transformada através do processo de arrependimento, conversão e perdão, em uma oportunidade única para aprofundar nosso conhecimento e experiência do amor misericordioso de Deus. Deste modo, a nossa existência será radicalmente marcada pela gratidão e poderemos proclamar com força e convicção aquele amor que já experimentámos: é verdade que somos pecadores, mas somos pecadores amados e perdoados. Ou, como diz o Papa Francisco: “Eu sou um pecador em quem o Senhor colocou seus olhos”. (Entrevista do P. Antonio Spadaro SJ com o Papa Francisco, setembro de 2013).
12. Jesus irradiava este amor misericordioso com tanta força que despertava nos pecadores a esperança de mudança e o desejo de libertação dos seus pecados, como demonstra a narração da pecadora perdoada (Lc 7,36-49).
13. A mulher acreditava mais no poder restaurador do amor de Jesus do que no poder destrutivo de seu próprio pecado e no pecado social de marginalização e desprezo do qual ela era vítima. E essa fé foi o começo de sua salvação. Jesus diz claramente no final: “Tua fé te salvou”. Talvez ninguém jamais a tenha amado tanto quanto Jesus ou acreditado nela tanto quanto Ele. Ela sempre se sentiu bastante usa- da e desprezada. A sua reação ao perdão de Jesus, que sentiu desde que ouviu falar d’Ele e que confirma na casa do fariseu, é fazer sobressair de dentro o melhor que tem: a sua capacidade de amar. Apesar de todas as distorções, esta capacidade ainda está no coração da mulher, como no coração de todos nós, porque são obra de Deus Amor, e exprime-se nos vários gestos de afeto que ela faz para com a pessoa de Jesus.
14. O perdão do Senhor é, portanto, como nascer de novo: recria-nos como pessoas, restitui-nos a nossa dignidade de filhos, faz-nos reencontrar a nossa liber- dade, presos pelo pecado, e restitui-nos a capacidade de amar na verdade e no estilo de Jesus. Bem-aventurados nós que somos sacerdotes, que não só recebemos este perdão, mas também somos constituídos ministros do perdão! Agora, talvez possamos captar mais profundamente as palavras de São Paulo e o tom urgente de sua exortação: “Somos, portanto, embaixadores de Cristo, como se Deus exortasse através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus!” (2Cor 5,20)
Para a oração pessoal:
• Pedir as graças mencionadas na meditação.
• Fazer um bom exame de consciência. Pode ajudar: Ef 4,17-32; 5,1-20; Ap 2 e 3 (as cartas às Igrejas da Ásia); Rm 12 (vida comunitária).
• Contemplar a misericórdia do Pai (Parábolas de Lc 15); ou de Cristo (pecadora
perdoada: Lc 7,36-50).
• Meditar algum dos textos de S. Paulo que foi citado.
• Refletir e rezar com o texto do Ir. Carlos “Ama-me tal como você é”
• Rezar com gratidão o Salmo 51(50).
1. “É para a liberdade que Cristo nos libertou”, diz São Paulo (Gl 5,1). O perdão de Cristo liberta-nos dos vínculos mais profundos, as do pecado, e devolve-nos aquilo que nos torna pessoas: a liberdade. Perdoados, estamos agora em melhores condições tanto para ouvir de novo o chamado de Cristo para sermos seus colabo- radores diretos, quanto para escolher novamente por Ele e seu Evangelho de maneira radical, no estilo do Irmão Carlos. Ele viveu essa experiência muito profundamente: “Pedi aulas de religião; ele (Pe. Huvelin) me fez ajoelhar e confessar e me mandou para a comunhão imediatamente. Não consigo parar de chorar só de pensar... Como Vós sois bom, meu Deus; por ter quebrado tudo ao meu redor, por ter anulado o que me impe- diria de me dedicar a Vós sozinho!” (EsEs p.40)
2. Para escolher Jesus novamente, devemos voltar ao Evangelho, como nos diz o Irmão Carlos, e contemplar a figura histórica de Jesus. É muito fácil e perigoso.
3. Seguir um Cristo feito por mim, um Cristo domesticado que não me ques- tiona e, portanto, não me faz crescer. O estudo do contexto socioeconômico, político, cultural e religioso de Jesus ajuda muito a entender a radicalidade de sua mensagem, o impacto que teve na sociedade de seu tempo e o conflito ou conflitos que sua palavra e sua prática provocaram, o que finalmente acabaria com sua vida. As cris- tologias latino-americanas têm trabalhado muito nesse sentido e são uma grande contribuição para a nossa espiritualidade. José Antonio Pagola também deu uma grande contribuição com seu livro “Jesus, abordagem histórica”. (J. A. Pagola, “Jesús. Abordagem Histórica”, Ed. PPC, Décima Edição, Abril 2013)
4. Os Exercícios de Santo Inácio consistem em grande parte na contemplação dos mistérios da vida de Cristo e ele nos recomenda “pedir a graça que desejo: aqui será pedir um conhecimento íntimo do Senhor que através de mim se faz homem, para que eu possa amá-lo mais e segui-lo”. Peço ao Senhor a graça de conhecê-lo mais íntima ou profundamente, não para satisfazer a curiosidade intelectual ou por motivos acadêmicos, mas para amá-lo mais e transformá-lo em um seguimento mais próximo dele. O conhecimento, o amor e o seguimento de Jesus envolvem e nutrem uns aos outros. “Não podemos amar Jesus se não o imitarmos”, disse o irmão Carlos. E acrescentou em outro lugar: “Não posso conceber o amor sem uma necessidade imperiosa de conformidade, de semelhança e, acima de tudo, de participação em todas as tristezas, em todas as dificuldades e dificuldades da vida” (EsEs p.64)
5. O Irmão Carlos, então, deseja mais seguir Jesus radicalmente: “Quem segue Jesus pelo mesmo caminho que Ele trilhou, imitando-O em tudo, vendo-O verdadeiramente como o Caminho, seguindo-O como os Apóstolos O seguiram, configurando-se e moldando-se perfeitamente de acordo com sua alma, na união de sua vida externa, indo aonde Ele quis ir, compartilhando sua pobreza, sua abjeção, tudo o que ele queria sofrer, sendo o que ele queria ser, seguindo-o compartilhando tudo em sua vida interior e exterior. Quem, senão os santos, imita Jesus a esse extremo?”
6. De todos os mistérios da vida de Cristo, o que mais impactou o Irmão Carlos foi o Mistério da Encarnação, especialmente depois de visitar a Terra San- ta: “A Encarnação tem sua raiz na bondade de Deus. Mas uma coisa parece, antes de tudo, tão maravilhosa, brilhante e surpreendente que brilha como um sinal des- lumbrante: é a humildade infinita que tal mistério contém. Deus, o Ser, o Infinito, a Perfeição, o Criador, o imenso Todo-Poderoso, soberano Senhor de todos, tornando-se homem, unindo-se a uma alma e a um corpo humano e aparecendo na terra como um homem, e o último dos homens” (EsEs p.49.)
7. A Encarnação é a expressão máxima daquele amor de Deus que toma a iniciativa de se aproximar de nós: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único” (Jo 3,16). João Paulo II, na TMA (Tertio Millennio Advenien- te), reflete em profundidade sobre este mistério: “O cristianismo começa com a Encarnação do Verbo. Aqui não é apenas o homem que busca a Deus, mas é Deus que vem em pessoa para falar de si mesmo ao homem e mostrar-lhe o caminho pelo qual é possível alcançá-lo”. (TMA n.6).
8. E o Papa acrescenta no mesmo lugar: “Em Jesus Cristo, Deus não só fala ao homem, mas procura-o... É uma busca que nasce das profundezas de Deus e tem seu ponto culminante na Encarnação do Verbo. Se Deus vai à procura do homem, criado à sua imagem e semelhança, é porque o ama eternamente e em Cristo quer elevá-lo à dignidade de filho adotivo... movido pelo coração de seu Pai”. É a iniciativa gratuita do amor divino que sai de si mesmo para a humanidade ferida pelo pecado.
9. Essa motivação divina nos faz pensar em três coisas:
a) O anúncio deste amor de Deus, gratuito, delicado, atual, é o núcleo central da minha ação evangelizadora, ou perde-se na multiplicidade de tarefas que tenho de cumprir?
b) Sinto que o meu primeiro compromisso como evangelizador é refletir este amor gratuito aos outros?
c) O amor pelas pessoas é realmente a motivação profunda do meu trabalho pastoral ou outras motivações se infiltraram em mim (vaidade, desejo de poder, busca de vantagens materiais), etc.?
10. Ora, o caminho escolhido por Cristo para revelar este mistério de amor gratuito é o que melhor o poderia expressar: o despojamento da sua glória e do seu poder divino para se tornar um de nós (Lc 2, 1-20; Fl 2, 6-11). Esta descida de Cristo é o que marca a espiritualidade do Irmão Carlos e lhe dá a chave para reler todo o Evangelho e reinventar permanentemente tanto o seu estilo de vida de consagrado como o seu modo de anunciar o Evangelho. Ele teve a graça de descobrir que a Encarnação não é apenas um momento específico da vida de Jesus, mas a revelação do modo de agir de Deus no mundo e, portanto, que deve marcar todo o ser e a ação do cristão e da Igreja. “Para mim, procurar sempre o último dos últimos lugares, ser pequeno como o meu Mestre, estar com Ele, segui-Lo, passo a passo, como servo fiel, discípulo fiel e – já que, na sua infinita e incompreen- sível bondade, se digna falar assim – como irmão fiel e esposo fiel” (Eses p.68). “Não posso viajar na primeira classe quando meu Senhor viajou na terceira classe.”
11. Contemplando esta descida do Filho de Deus, podemos perguntar-nos: tomei medidas de humilhação, de pilhagem, por amor, para chegar às pessoas mais pobres, mais distantes, mais excluídas?
12. A tradição teológica, pastoral e espiritual que se desenvolveu em nosso continente desde a Conferência de Medellín (1968) fez com que os sonhos do Ir- mão Carlos ganhassem vida e sua influência direta entre nós não é pequena. Houve toda uma “descida” ao mundo dos pobres, uma assunção de sua cultura, suas con- dições de vida e suas causas justas, a tal ponto que hoje podemos afirmar que, pelo menos no nível dos documentos oficiais, os pobres ocupam um lugar central como grande sujeito e destinatário da evangelização de nossos países. Poderíamos dizer, neste sentido, que a “opção preferencial pelos pobres” é a tradução latino-americana do mistério da encarnação, a ponto de afirmar que esta opção “é a medida privile- giada, embora não exclusiva, do nosso seguimento de Cristo” (Puebla 1145).
13. Esta opção foi questionada por um tempo, mas agora foi retomada e com grande força por Aparecida: “Comprometemo-nos a trabalhar para que nossa Igreja latino-americana e caribenha continue a ser, com maior zelo, companheira no caminho de nossos irmãos e irmãs mais pobres, até o martírio. Hoje queremos ratiflcar e fortalecer a opção de amor preferencial pelos pobres feita nas Conferências anteriores” (Medellín 14, 4-11; DP 1134-1165; SD 178-181). (n.396)
14. O Papa Bento XVI deu uma grande contribuição a esta escolha, dando-lhe um fundamento cristológico explícito no discurso inaugural da V Conferência: "A fé liberta-nos do isolamento de nós mesmos, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, um encontro com os irmãos, um aato de convocação, (...) de responsabilidade para com o outro e para com os outros. Neste sentido, a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza" (cf. 2 Cor 8, 9).
15. Se em Cristo Deus se fez pobre, somos convidados a ver o rosto de Cristo nos rostos dos pobres do nosso continente. É uma identificação que o próprio Cristo faz em Mt 25 e que Puebla esclareceu mencionando rostos concretos (n. 31 a 39). Aparecida acrescenta novos elementos na mesma linha:
“Se esta opção está implícita na fé cristológica, nós, cristãos, como discípulos e missionários, somos chamados a contemplar nos rostos sofredores de nossos irmãos e irmãs, o rosto de Cristo que nos chama a servi-lo neles: ‘Os rostos sofredores dos pobres são os rostos sofredores de Cristo’’ (SD 178). Eles põem em questão o núcleo do trabalho da Igreja, da pastoral e de nossas atitudes cristãs. Tudo o que tem a ver com Cristo tem a ver com os pobres e tudo o que se relaciona com os pobres chama Jesus Cristo: “Como fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 40) (n. 393).
16. Santo Alberto Hurtado chegou a dizer que “o pobre é Cristo”. Portanto, para um cristão, o serviço aos pobres é a oportunidade de um encontro com Cristo vivo, a partir do qual Ele nos interpela, nos educa e nos evangeliza. Não é apenas um ato social, mas também religioso que deve ter um impacto em nosso compor- tamento e decisões, em nossa própria conversão e estilo de vida:
“Nos dias de hoje, muitas vezes acontece que defendemos demais nossos espaços de privacidade e diversão, e somos facilmente infectados pelo consumismo individualista. É por isso que a nossa opção pelos pobres corre o risco de permanecer a um nível teórico ou meramente emocional, sem qualquer im- pacto real no nosso comportamento e nas nossas decisões. É necessária uma atitude permanente que se manifeste em escolhas e gestos concretos (DCE 28.31), e evite qualquer atitude paternalista. Somos convidados a dedicar tempo aos pobres, a dar-lhes uma atenção amável, a ouvi-los com interesse, a acompanhá-los nos momentos mais difíceis, escolhendo-os para partilhar horas, semanas ou anos da nossa vida, e procurando, a partir deles, a transformação da sua situação. Não podemos esquecer que o próprio Jesus o propôs com o seu modo de agir e com as suas palavras: “Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos” (Lc 14, 13) (n.397).
17. Em um texto muito bonito que tenta mostrar o caminho humilde dessa opção, longe de qualquer sentimento de superioridade ou de uma relação como “funcionários” ou assistentes sociais, o documento nos convida à amizade com os pobres, como a de Jesus de Nazaré. Só assim poderemos realmente conhecê-los, valorizá-los e ter uma pedagogia libertadora que os torne sujeitos de seu próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento:
“Somente a proximidade que nos torna amigos nos permite apreciar profun- damente os valores dos pobres de hoje, seus desejos legítimos e seu próprio modo de viver a fé. A opção pelos pobres deve levar-nos à amizade com os pobres. Dia após dia, os pobres tornam-se sujeitos de evangelização e de pro- moção humana integral: educam os seus filhos na fé, vivem uma solidarie- dade constante entre parentes e vizinhos, procuram constantemente a Deus e dão vida à peregrinação da Igreja. À luz do Evangelho, reconhecemos a sua imensa dignidade e o seu valor sagrado aos olhos de Cristo, pobres como eles e excluídos entre eles. A partir dessa experiência de crente, compartilharemos com eles a defesa de seus direitos” (n. 398).
18. Aparecida não desconhece as causas estruturais da pobreza nacional e internacionalmente. Por isso, a opção pelos pobres inclui a luta pela justiça e pelos direitos humanos que expressam a dignidade de cada pessoa.
“Ao assumir com nova força esta opção pelos pobres, mostramos que todo processo evangelizador implica promoção humana e autêntica libertação, “sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade" (DI 3).
Compreendemos também que a verdadeira promoção humana não pode ser reduzida a aspectos particulares: “Deve ser integral, isto é, deve promover todos os homens e o homem todo” (GS 76), a partir da vida nova em Cristo que transforma a pessoa de tal modo que “faz dela sujeito do seu próprio desenvolvimento” (n.399).
19. É impossível não reconhecer em todas essas propostas de Aparecida, a mão do então cardeal Bergoglio, que o recém-eleito Papa abre seu coração aos jornalistas e exclama “Como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres” e o repete no EG 198 (cf. Capítulo IV, “A dimensão social da evangelização”, especialmente os números 186 a 201). Resgato apenas um parágrafo: “A própria beleza do Evangelho nem sempre pode ser adequadamente manifestada por nós, mas há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e rejeita”(Pág. 15) (EG n. 195).
20. Terminamos com estas palavras do Irmão Carlos: “Meu Senhor Jesus, quão cedo se tornará pobre aquele que, amando-te de todo o coração, não suporta ser mais rico do que seu amado! E mais adiante: “Meu Deus, não sei se é possível que certas almas te vejam pobre e permaneçam voluntariamente ricas” (EsEs p.64).
21. Podemos então nos perguntar:
• Estou dando passos em direção a uma pobreza cada vez mais radical e a uma opção mais eficaz pelos pobres?
• Tanto o testemunho do Irmão Carlos quanto o do Papa Francisco me questionam a esse respeito?
1. O segundo mistério da vida de Cristo que marcou profundamente a espiritualidade do Irmão Carlos foi Nazaré. É um estilo de vida coerente com o mistério da Encarnação entre os pobres:
“Jesus foi para Nazaré, lugar da vida oculta, da vida ordinária, da vida fa- miliar, da oração, do trabalho, das trevas, das virtudes silenciosas, praticadas apenas com Deus, seus amigos e vizinhos como testemunhas. Nazaré é o lu- gar onde a vida da maioria das pessoas acontece. Temos que respeitar infini- tamente o menor de nossos irmãos e irmãs... e misturar-se com eles. Sejamos um deles na medida em que Deus quiser... e vamos tratá-los fraternalmente, a fim de ter a honra e a alegria de ser aceito como um deles”. (EsEs p.32).
2. É surpreendente que Nazaré, a etapa mais longa da vida de Jesus, seja aque- le sobre o qual o NT traz menos dados. No entanto, este fato é significativo em si mesmo, pois nos mostra a seriedade da encarnação entre os pobres. De fato, a vida da maioria das pessoas e ainda mais a dos pobres é assim: passa despercebida, não é notícia, não é registrada em lugar nenhum.
3. No entanto, é nesse cotidiano que fazemos as experiências fundamentais da vida, aquelas que nos marcarão para sempre. Cristo não quer pular esta etapa e a vive profunda e longamente: 30 dos 33 anos que sua vida durou aproximada- mente. A ponto de chamá-lo de Nazareno (Mt 2,23). O Evangelho nos dá apenas um fato – que se repete duas vezes – sobre esse período: Nazaré é para Jesus um tempo e um lugar de amadurecimento e crescimento em todos os aspectos: fí- sico, intelectual, emocional, espiritual, vivido a partir do calor humano do lar. De fato, quando eles voltam de apresentá-lo no Templo em Jerusalém, Lucas diz: "O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2, 40); e doze anos mais tarde, depois do episódio da perda e do encontro do menino no mesmo Templo, observa que “desceu com eles e veio para Nazaré, vivendo sujeito a eles... Jesus progrediu em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,51-52).
4. A profunda sabedoria de Jesus que percebemos nos evangelhos foi adqui- rida em Nazaré:
• na vida familiar, com Maria e José;
• no trabalho manual;
• nas relações com os vizinhos;
• na prática religiosa;
• nas festas de seu povo.
A vida cotidiana dos pobres em uma vila rural era sua escola. Lembremos que Nazaré não aparece nos mapas do Império Romano nem é mencionada no Antigo Testamento.
5. E como Jesus aprende? Ele era um observador atento da natureza e do comportamento humano. As parábolas são a melhor prova disso. Observe e aprenda com os lírios do campo e os pássaros do céu; de sementes de mostarda e figueiras; das mulheres que fazem pão e dos semeadores do campo; dos homens que constroem suas casas, fazem seus negócios, emprestam dinheiro ou declaram guerra. (ver Mt 13,24ss).
6. Jesus, portanto, em Nazaré não vive dentro de uma bolha (vida escondida?): está muito envolvido na vida do seu povo, está consciente das esperanças messiânicas que tem, sabe o que está a acontecer. É em Nazaré e em Suas viagens a Jerusalém para as grandes festas que Ele é impactado pelo sofrimento de Seu povo. Os cegos, os leprosos, os paralíticos, os possessos, os surdos, os mudos que aparecem no Evangelho, não aparecem de repente na vida de Jesus – como do nada. Eles estavam lá, em seu ambiente diário, e Ele os viu desde criança, e tenho certeza de que, desde tenra idade, Ele sentiu aquela “compaixão pelas multidões” de que o Evangelho nos fala. Seu coração misericordioso cresceu em contato com a dor humana... e só o Pai sabe quantos gestos de solidariedade Ele fez durante esses 30 anos. Gestos como aqueles que um vizinho faz com seu vizinho.
7. E, na relação profunda com o Pai, cresceu na graça – no amor e na obediência. Jesus não começa a ser filho no momento do seu batismo. Este momento é possível porque em Nazaré aprendeu a ser Filho, na oração e na meditação assídua das Sagradas Escrituras. Ali descobre a autêntica fé javista, feita de justiça e misericórdia (Lc 11, 42), de amor preferencial pela viúva e pelo órfão; fé que leva à vida e à liberdade, que foi – aliás – a sua experiência pessoal. Esta compreensão e experiência do pano de fundo da fé judaica contrastavam fortemente com a prática da fé judaica, vivida e ensinada pelos escribas e fariseus, que tinham transformado a religião num fardo intolerável para os pobres.
8. É, portanto, lendo a Sagrada Escritura – particularmente os profetas – a partir do tornar-se Irmão dos pobres em Nazaré, que em Jesus despertamos e desenvolvemos aquele profundo senso crítico da prática religiosa, imposto ao seu povo pelos grupos religiosos dominantes, que percebemos no Evangelho.
9. Os principais pontos sobre os quais Jesus percebeu essa contradição entre a autêntica fé javista e a prática religiosa dominante são os seguintes (ver Enrique Alvear, “Evangelização libertadora e conflito”):2
• Há uma primeira contradição em relação ao conceito de poder religioso que as autoridades judaicas tinham: não é mais libertar, mas dominar: “... não imite sua conduta ... amarram fardos pesados e lançam-nos sobre as costas dos homens, mas não os movem com o dedo” (Mt 23,3-4).
• Restringiram o conceito de próximo, porque afirmam que há setores de pessoas com os quais não se deve ter contato porque só isso mancha. Os primeiros a serem excluídos são os pecadores: “Por que seu mestre come com cobradores de impostos e pecadores?” (Mt 9,11). Mesmo os ignorantes que não conhecem a lei: “Este povo que não conhece a lei é amaldiçoado”, dizem os fariseus (Jo 7,49). Também estrangeiros: são os cães que não têm direito à mesa das crianças.
Há também todo o conflito em torno da Lei que Jesus subordina à pessoa: “O sábado foi instituído para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc 2, 27).
Estas e outras contradições, que resultam sempre em mais opressão e dor para o seu povo, levam Jesus à terrível conclusão de que os doutores, os fariseus e as autoridades judaicas corromperam totalmente a imagem de Deus e que, em última aná- lise, estão adorando o diabo e não o Deus vivo da autêntica fé javista (Jo 8,41-44).
Uma crítica religiosa tão profunda e completa não se improvisa: é fruto de uma longa reflexão feita em contacto com as vítimas desta opressão religiosa, iluminada pela Sagrada Escritura e amadurecida na oração. Nazaré é, portanto, por assim dizer, o “laboratório” onde é gestada a fé e a religião pregadas por Jesus, que está ao mesmo tempo em continuidade e descontinuidade com a fé e a religião judaicas. Jesus começa a entender que o que os pobres precisam é, em primeiro lugar, sentir o amor do Pai e não um catálogo de leis sobre eles. Eles precisam ser acolhi- dos, curados, guiados, perdoados, porque andaram como ovelhas sem pastor. Sente o chamado a fazer algo e quando se pergunta como, o estilo do Servo sofredor de Isaías se impõe à sua consciência.
Jesus é inteligente o suficiente para perceber que uma missão realizada nos termos que Ele percebe necessariamente o levará a entrar em conflito e lhe causará muito sofrimento. Ele conhecia o destino dos profetas: “Jerusalém, Jerusalém, matas os profetas e apedrejas os que te são enviados” (Lc 13, 34). Em Nazaré, então, amadurece a consciência messiânica de Jesus, até ao momento em que sente que “chegou a sua hora” e deve partir, deixando todas as suas seguranças humanas para entrar na segurança que só Deus nos oferece, a do seu amor fiel. A partida de Naza- ré é, portanto, um novo gesto de encarnação, um novo gesto de pobreza, um novo gesto de obediência e de confiança no Pai, para iniciar o seu ministério público.
Carlos de Foucauld captou em profundidade o mistério de Nazaré e pro- curou imitar Jesus naquele estilo de vida. Por isso, o seu primeiro passo, ao deixar o mosteiro trapista, foi ir até a própria cidade de Nazaré, para ali viver os valores daquela etapa da vida de Jesus, que o marcou para sempre. No entanto, pouco a pouco, o Irmão Carlos descobre que Nazaré, mais do que um lugar geográfico, é um estilo de vida para evangelizar de baixo e de dentro e não de cima e de fora, especialmente naqueles lugares ou ambientes distantes da Igreja. “A vida de Nazaré pode ser vivida em qualquer lugar; viva-o onde você pode ser de maior ajuda para o seu próximo”. (EsEs p.72)
13-É assim que ele narra sua experiência pessoal em uma carta dirigida a um sacerdote: “Sou um velho pecador que no dia seguinte à sua conversão – há cerca de vinte anos – foi fortemente atraído por Jesus para levar sua vida em Nazaré. Desde então, tenho me esforçado para imitá-lo - miseravelmente, a propósito. Passei vários anos naquela querida e abençoada Nazaré como servo e sacristão do convento das Clarissas. Deixei aquele lugar abençoado apenas para receber as ordens sagradas há cinco anos. Sacerdote livre da diocese de Viviers, os meus últimos retiros do diacona- do e do sacerdócio mostraram-me que esta vida de Nazaré, a minha vocação, devia ser vivida não na amada Terra Santa, mas entre as almas enfermas, entre as ovelhas mais abandonadas. Este banquete divino, do qual sou ministro, deve ser oferecido não aos irmãos e parentes, aos vizinhos ricos, mas aos coxos, aos cegos, às almas mais abandonadas e aos que carecem de sacerdotes... Solicitei e obtive permissão para me estabelecer no Saara argelino.” (EsEs p.80).
14-Em suma, o ponto central da experiência de Nazaré é aprender a tor- nar-se Irmão de todos e, para o Irmão Carlos, esse aprendizado é a chave da vida cristã e sacerdotal: “Devemos ver em todos os homens queridos fllhos de Deus...É por isso que devemos nos comportar em relação a eles da maneira amorosa com que se comporta um bom irmão, que não muda, mesmo que seu irmão lhe faça mal ou se comporte indignamente”. (EsEs p.94). “Quero que todos os habitantes – cristãos, muçulmanos, judeus e não crentes – se acostumem a me ver como seu irmão, o ir- mão universal. Eles já chamam esta casa de ‘a Fraternidade’ (khaoua em árabe), o que me agrada muito, e eles sabem que os pobres têm um irmão aqui; ou melhor: não apenas os pobres, mas todos os homens”. (EsEs p.96).
Para oração pessoal:
Contemplar Jesus em Nazaré, imaginá-lo na vida quotidiana, aprender d’Ele.
À luz do mistério de Nazaré e da experiência do Irmão Carlos, refletir
sobre a validade dos valores permanentes que este mistério contém em mi- nha vida e ministério: oração contínua, simplicidade, proximidade com os pobres, aprendizado com a vida das pessoas, igualdade no trato com os outros, calor do lar, acolher, trabalhar, e em qual deles sinto um chamado de Deus para crescer.
Rever o exercício do ministério pastoral à luz das críticas de Jesus às práticas religiosas do seu tempo.
Refletir sobre o ministério de Paulo em seu esforço de encarnação e inculturação “para salvar alguns a todo custo” (1 Cor 9,19-23)
1- . O Papa Bento XVI disse em seu discurso de abertura da Conferência de
Aparecida: “Discipulado e missão são como duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, ele não pode deixar de proclamar ao mundo que só Ele nos salva (cf. At 4,2). De fato, o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, nem esperança, nem amor, nem futuro”.13
Irmão Carlos viveu essa experiência ao máximo: seu desejo de imitar seu Mestre e Senhor o levou a um discipulado radical que despertou nele um impulso missionário igualmente radical de ir aos mais abandonados. Compartilhando a vida com os tuaregues nos últimos anos de sua vida, ele disse: Eu sou o único padre em 300 km. A redor.
A Conferência de Aparecida também quis uma Igreja mais missionária surgisse de um seguimento mais radical de Jesus, fruto de conhecê-lo e amá-lo mais: “Esta V Conferência, recordando o mandato de ir e fazer discípulos (cf. Mt 28,20), deseja despertar a Igreja na América Latina e no Caribe para um grande impulso missionário”.14 De fato, os Bispos pediram uma Missão Continental que colocasse a Igreja em um estado permanente de missão (DAp 551). Esta é a chave para a renovação das nossas Comunidades Cristãs.
O Espírito Santo, que constantemente rejuvenesce e renova sua Igreja, como diz o Concílio (LG 4), inspirou os cardeais a eleger Bergoglio como o novo papa para universalizar esse impulso missionário que salva a Igreja de seu confi- namento e, portanto, de sua deterioração, e a coloca na rua com todos os riscos de acidente que isso implica. É a TRANSFORMAÇÃO MISSIONÁRIA DA IGREJA15 que Francisco busca com todas as suas forças. Ele diz isso claramente em seu documento programático “Evangelii Gaudium”: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal adequado para a evangelização do mundo de hoje, e não para a autopreservação” (EG 27). Não é de admirar que alguns autores indiquem que “o Vento de Deus sopra fortemente sobre o Povo de Deus a partir do Sul do Mundo”.16
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13 Bento XVI, Discurso de abertura da Conferência de Aparecida, n. 3.
14 DA, Conclusão, n. 548.
15 Francisco, Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, capítulo 1 (doravante EG).
16 Galli, Carlos María, “Deus vive na cidade. Rumo a uma nova pastoral urbana à luz de Aparecida e do projeto missionário de Francisco”, 3a edição, Edição. Ágape, março de 2014, Buenos Aires, pág. 347.
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5-Sinais claros deste sonho missionário que tudo transforma para uma evangelização mais profunda foram as mudanças que ele introduziu em vários âmbitos do exercício do ministério petrino:
-Seu estilo de vida marcado pela simplicidade, austeridade e proximidade, deixando de lado o luxo e a pompa imperial do papado, tanto na forma de se vestir e viver, transportar-se, etc.
Seu modo de guiar a Igreja: a sinodalidade.“Falem livremente e ouçam uns aos outros com humildade”, disse ele aos Padres Sinodais na abertura do Sínodo sobre a Família. Pensemos também no C9 e no Sínodo sobre a sinodalidade.
Suas iniciativas para combater o mal no mundo com gestos, palavras e
presença solidária em lugares de sofrimento: Lampedusa, África Central, Lesbos, Egito etc., correm múltiplos riscos de mal-entendidos, interpretações errôneas à sua integridade física.
Seu olhar sobre o mundo e a Igreja das periferias existenciais e geográfi- cas e sua proximidade e preocupação com os pobres concretos ao seu redor em Roma (pense nos 400 sacos de dormir que ele deu aos sem-teto na Praça de São Pedro, nos chuveiros, nas barbearias que ele montou para eles, etc.) Como não reconhecer aqui a opção preferencial pelos pobres que a Igreja latino-americana e caribenha fez de Medellín a Aparecida?
A misericórdia como alma que impulsiona e permeia todo o seu ministério e que o levou a realizar as “sextas-feiras da misericórdia” durante o Ano jubilar.
6-Não é difícil descobrir neste modo de ser e agir uma profunda sintonia en- tre Carlos de Foucauld e o Papa Francisco. Em nossa Assembleia Pan-Americana de fevereiro de 2016, refletimos muito sobre esse tema com base em um trabalho realizado pelo teólogo leigo chileno de nossa família espiritual, Javier Pinto. Ele o intitulou: “Apaixonado por Deus e pela humanidade”. Nossa conclusão foi cla- ra e a colocamos em nossa “Carta de Cuernavaca”: “Sentimos a responsabilidade histórica de ser os primeiros colaboradores deste Pastor do fim do mundo, na construção de uma Igreja Pobre e para os Pobres”. Para fazer isso, a primeira coisa é nos converter a esse estilo evangélico de viver e fazer pastoral.
7-Esta conversão pessoal e pastoral não é fruto do nosso compromisso, de uma ideologia ou de uma filosofia. É fruto da ação do Espírito Santo em nós e é por isso que o Papa dedica o último capítulo do EG à espiritualidade missionária. Ele o intitula: “EVANGELIZADORES COM ESPÍRITO” e nos oferece uma lista de “motivações para um renovado impulso missionário”. Far-nos-á bem examiná-las para as confrontar com a nossa vida pessoal e pastoral e para valorizar a nossa capacidade evangelizadora de pastores da Igreja. Meditemos lentamente do nº 262 ao 272, leiamos alguns dos textos bíblicos citados e rezemos com base em algumas das perguntas que se colocam a seguir.
Francisco nos diz: “Evangelizadores com o Espírito significa evangelizadores que se abrem sem medo à ação do Espírito Santo (...). Jesus quer evangelizado- res que anunciem a Boa Nova não só com palavras, mas sobretudo com uma vida transfigurada na presença de Deus” (EG n. 259). “Gritar o evangelho com a vida”, nos diz Carlos de Foucauld.
1-O encontro pessoal com o amor de Jesus que nos salva
“A primeira motivação para evangelizar é o amor de Jesus que recebemos, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos leva a amá-lo cada vez mais”.
“A melhor motivação para decidir comunicar o Evangelho é contemplá-
-lo com amor, parar em suas páginas e lê-lo com o coração”. (EG 264)
Podemos nos perguntar:
Que textos evangélicos me marcaram pessoal e pastoralmente?
Que cenas do Evangelho muitas vezes voltam à minha mente, ao meu coração, e inspiram a minha relação com o Pai e o meu trabalho pastoral?
2-A convicção de que o Evangelho responde às necessidades mais pro- fundas das pessoas
“O entusiasmo evangelizador se baseia nessa convicção. (O Evangelho) é uma resposta que cai no íntimo do ser humano e que pode sustentá-lo e elevá-lo (...). Mas esta convicção é sustentada pela própria experiência, constantemente renovada, de gostar da sua amizade e da sua mensagem” (EG 266).
Podemos nos perguntar:
O evangelho, pessoalmente para mim, é a resposta para minhas necessidades mais profundas, ou procuro as respostas em outro lugar?
Recordar uma experiência pastoral em que o Evangelho foi a resposta às necessidades concretas das pessoas. Agradecer.
3. Buscar a glória do Pai
“Se quisermos nos entregar de forma completa e consistente, temos que ir além de qualquer outra motivação. Este é o último, o mais profundo, o maior mo- tivo, a razão e o significado de tudo o mais. É a glória do Pai que Jesus buscou ao longo de sua vida” (EG 267). Podemos nos perguntar honestamente diante de Deus se o que buscamos com nosso trabalho pastoral é a glória do Pai ou nossa própria glória?
4-O gosto espiritual de ser povo
“Para ser evangelizadores da alma é necessário também desenvolver o gosto espiritual de estar perto da vida das pessoas, a ponto de descobrir que isso é uma fonte de alegria superior. A missão é uma paixão por Jesus, mas ao mesmo tempo uma paixão pelo seu povo” (EG 268)
“Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros” (EG 270).
“O amor pelas pessoas é uma força espiritual que facilita o encontro pleno com Deus (...). Por isso, quando vivemos a mística de nos aproximarmos dos outros e de procurarmos o seu bem, expandimos o nosso interior para receber os dons mais belos do Senhor” (EG 272).
Podemos nos perguntar:
-Quais são as experiências da abordagem mais próxima que tive com as pessoas que tive que pastorear? O que essa presença íntima significou para minha vida espiritual? Agradecer.
-O Papa diz: “Não se vive melhor se foge dos outros, se esconde, se recusa a partilhar, se resiste a dar, se fecha com conforto. Isso nada mais é do que um suicídio lento” (EG 272). Caímos nessa tentação? Quais foram as consequências? Como posso superar esse “suicídio lento”?
5-A dignidade de cada pessoa
“Para compartilhar a vida com as pessoas e nos doar generosamente, precisamos também reconhecer que cada pessoa é digna de nossa dedicação” (EG 274)
Podemos nos perguntar se nossa dedicação é universal ou se discriminamos as pessoas por qualquer motivo.
O Papa Francisco conclui a sua Exortação Apostólica recordando-nos o fundamento de toda a autêntica ação evangelizadora: a ressurreição de Cristo e a ação do Espírito Santo.
1-A ressurreição de Cristo: força vital para todos
“Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança, e não nos faltará a sua ajuda para cumprir a missão que Ele nos confia” (EG 275). “Sua ressurreição não é algo do passado; envolve uma força vital que penetrou no mun- do (...). Cada evangelizador é um instrumento deste dinamismo” (EG 276).
Nós nos perguntamos
Que sinais da Ressurreição de Cristo vejo hoje à minha volta?
Sinto-me instrumento de uma poderosa força vital que não vem de mim, mas de Cristo Ressuscitado?
2-O “senso de mistério”
“Quem se oferece e se entrega a Deus por amor certamente será fecundo (cf. Jo 15, 5). Essa fecundidade é muitas vezes invisível, inatingível, não pode ser con- tada. Sabe-se bem que a própria vida dará fruto, mas sem pretender saber como, onde ou quando (...). O Espírito Santo opera como quer, quando quer e onde quer; nos rendemos, mas sem ver resultados marcantes” (EG 279).
“Não há maior liberdade do que deixar-se levar pelo Espírito, renunciar a calcular e controlar tudo, e permitir que Ele nos ilumine, nos guie, nos oriente, nos impul- sione para onde Ele quiser. Ele sabe bem o que é necessário em cada época e em cada momento. Isso é chamado de ser misteriosamente fértil!” (EG 280).
Nossa cultura de concorrência, eficiência e sucesso dificulta essa atitude em relação à missão e podemos facilmente nos contaminar com ela e diluir-se nossa vida no presbitério ou na comunidade cristã à qual pertencemos. Uma coisa é “ser bem-sucedido” e outra é “dar fruto”, que é o que o Evangelho nos pede (cf. Jo 15,1ss). Ambos exigem, é verdade, disciplina, esforço e trabalho árduo. Mas o mais importante hoje são as diferenças:
“Dar fruto”
Deixar espaço ao mistério, ao oculto
Segue o ritmo da natureza
Assume as imperfeições e defeitos
Dar espaço à receptividade e à relação
Não se exibe
“Ter sucesso”
Demanda um exigente controle
Força os ritmos naturais
Reclama a perfeição
Está regido por uma lei que não duvi- da de passar por cima das pessoas
Se exibe abertamente e termina endu-
recendo o coração.
Diante do Senhor, então nos perguntamos:
O que procuro no meu trabalho evangelizador, na minha missão? Dar frutos ou ter sucesso? Não devemos esquecer que somos mais dependentes do que pensamos do nosso ambiente cultural e de seus “valores”.
Poupa-se tempo livre no meu trabalho pastoral, necessário para a oração, para o descanso, para a Fraternidade, para manter uma distância saudável do ativismo, para cultivar relações gratuitas, para aceitar e assumir os próprios limites pessoais?
Eu atingi o ritmo pessoal certo que sabe como combinar “atividade” e “passividade” em minha vida?
3-A força missionária de intercessão
“Há uma forma de oração que nos estimula particularmente à dedicação evangelizadora e nos motiva a buscar o bem dos outros: é a intercessão. (…) Essa atitude também se torna gratidão a Deus pelos outros. A intercessão é como ‘fer- mento’ no seio da Trindade” (EG 281-282-283)
Perguntamo-nos se a nossa ação evangelizadora é acompanhada de oração de intercessão e de ação de graças por aqueles a quem servimos como pastores ou como agentes pastorais. Seus rostos estão presentes em nossa oração?
4-Maria, a Mãe da Evangelização
“Aos pés da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo nos conduz a Maria. Ele conduz-nos a Ela, porque não quer que caminhemos sem mãe, e o povo lê naquela imagem materna todos os mistérios do Evangelho. O Senhor não se agra- da que sua Igreja não tenha o ícone feminino” (EG 285).“Como mãe de todos, ela é um sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que surja a justiça. Ela é a missionária que se aproxima de nós para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno” (EG 286).
“Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque cada vez que olhamos para Maria, acreditamos novamente na natureza revolucionária da ternura e do afeto (...). Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplar e caminhar para os outros, é o que faz dela um modelo eclesial de evangelização” (EG 288)
Nós nos perguntamos:
Que lugar ocupa Maria na nossa vida de evangelizadores e na transmissão do Evangelho?
Que importância damos à religiosidade popular mariana em nossa ação evangelizadora?
Assumimos o “estilo mariano” de evangelizar?
Conclua rezando a oração a Maria que o Papa escreve no final de sua Exortação (EG 288)
Virgem e Mãe Maria, Vós que, movida pelo Espírito, acolhestes o Verbo da vida na profundidade da vossa fé humilde, totalmente entregue ao Eterno, aju- dai-nos a dizer o nosso “sim” perante a urgência, mais imperiosa do que nunca, de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus. Vós, cheia da presença de Cristo, levastes a alegria a João o Batista, fazendo-o exultar no seio de sua mãe. Vós, estremecendo de alegria, cantastes as maravilhas do Senhor. Vós, que permanecestes firme diante da Cruz com uma fé inabalável, e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição, reunistes os discípulos à espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora. Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte. Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apa- ga. Vós, Virgem da escuta e da contemplação, Mãe do amor, esposa das núpcias eternas intercedei pela Igreja, da qual sois a ícone puríssima, para que ela nunca se feche nem se detenha na sua paixão por instaurar o Reino. Estrela da nova evangelização, ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até os confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz. Mãe do Evangelho vivente, manancial de alegria para os pequeninos, rogai por nós. Amém. Aleluia!
1. A última meditação do EE de Santo Inácio é chamada de “Contemplação para Alcançar o Amor”. O pedido que ele sugere fazer resume, de certa forma, seu conteúdo: “Pedirei um conhecimento íntimo de tanto bem que recebi, para que, agra- decendo tudo, possa em tudo amar e servir sua divina majestade” (EE n.233).
2. A gratidão cria uma atitude positiva em relação à vida e ajuda a encontrar Deus em todas as coisas. Pessoas gratas são agradáveis e tornam a vida – sua e de outras pessoas – mais feliz e rica.
3-Tanto o AT quanto o NT contêm muitos cânticos de louvor e bênção ao Senhor porque Ele fez maravilhas entre Seu povo. Desde o cântico de Moisés depois de ter atravessado o Mar Vermelho (Ex 15,1ss.), até aos cânticos do Apoca- lipse, passando por muitos salmos e pelo Magnificat da Virgem Maria. ( A lista completa está no Índice de Cânticos que a Liturgia das Horas traz).
4-Jesus era uma pessoa grata pelas coisas grandes e pequenas: o copo de água da mulher samaritana, a amizade de Marta, Maria e Lázaro, a revelação de coisas importantes aos pequeninos (Lc 10,21), etc.
5-E São Paulo, nas suas Cartas, depois de ter saudado a comunidade acolhida, começa por agradecer: “Antes de tudo, dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, por causa de todos vós, porque a vossa fé é louvada em todo o mundo” (Rm 1,8), e reco- menda a gratidão: “Alegrai-vos sempre, orai sem cessar, dai graças a Deus em todas as ocasiões: isto é o que Deus quer de todos vós, em Cristo Jesus” (1Ts 5,16-18). Veja também 2Cor 4,15; Efésios 5,20; Filipenses 4,4-7.
6-Uma das características distintivas do documento de Aparecida é que ele é marcado pela ação de graças, fruto do reconhecimento da presença e da ação de Deus em nossa história e em nossas culturas. Esse reconhecimento crente desper- ta em nós gratidão, confiança, esperança e alegria. A primeira coisa não é o que fazemos, mas o que Deus está fazendo:
“A graça tem uma primazia absoluta na vida cristã e em toda a ação evangelizadora da Igreja: ‘Pela graça de Deus sou o que sou’” (1Cor 15,10) (n. 348).
7-Esta convicção de fé marca o que poderíamos chamar de “espiritualidade eucarística” de todo o documento. (Veja as diferentes expressões de agradecimen- tos, bênçãos e louvores a Deus.).(18 Ver, por exemplo, os nºs 24 a 32; 104 a 128, etc. )
8-Na tradição cristã, a gratidão ocupa um lugar central. Pensemos apenas na Eucaristia: na grande ação de graças ao Pai pelo dom do seu Filho, pelo dom total que Ele realiza, pela esperança de salvação que este dom desperta em nós, pela vida nova que Ele nos comunica partilhando este Pão que desceu do céu, pelo chamado que nos faz a participar na sua missão libertadora e pela força que nos dá para a realizar. Diante de tanto amor, só há espaço para louvor, bênção, celebração, que é o contexto em que devemos sempre celebrar a Eucaristia.
9-A gratidão é uma “dependência aceita” para a qual dizemos “sim”. Seu oposto é o orgulho. Agradecer requer uma certa maturidade. A criança não faz isso espontaneamente. É difícil para o adolescente. E há adultos que se concen- tram exclusivamente em seus próprios direitos e não sabem como ser gratos. O adulto maduro aceita suas limitações e dependências, reconhece que deve muito aos outros (“O que você tem que não recebeu?” 1Cor 4,7).
10A proposta de vida, “amar e servir em todas as coisas” no final do E.E., brota da gratidão. É a consciência das muitas bênçãos recebidas que melhor pode nos levar ao serviço alegre e altruísta. O “Tome, Senhor e receba” encontrado nesta mesma meditação é exatamente o oposto do voluntarismo forçado. Brota de um coração agradecido. Eu dou tudo porque recebi tudo.
11-Há muitas coisas neste mundo pelas quais não podemos nem devemos ser gratos: sofrimentos injustos, desigualdades irritantes, violência, corrupção etc. No entanto, para a tarefa interminável de fazer um mundo mais justo e humano, as pessoas gratas estão mais bem preparadas do que as pessoas amargas ou fanáticas, porque são alegres, corajosas e perseverantes. Eles sabem em quem deposi- taram sua confiança. Ele não falha. É rocha sólida.
“Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor, de geração em geração eu cantarei vossa verdade! Porque dissestes: “O amor é garantido para sempre!” E a vossa lealdade é tão firme como os céus.” (Salmo 89 (88), 2-3; também salmos 36 e 143)
TOMA, SENHOR, E RECEBE
TODA A MINHA LIBERDADE, MINHA MEMÓRIA, MEU ENTENDIMENTO E TODA A MINHA VONTADE; TODO O MEU CRÉDITO E MINHA POSSE.
VÓS ME DEU TUDO;
A VÓS, SENHOR, EU VOS DEVOLVO; É TODO VOSSO
DISPONHA DE TUDO DE ACORDO COM A VOSSA VONTADE; DÁ-ME APENAS GRAÇA PARA VOS AMAR;
ISSO É O SUFICIENTE PARA MIM.
(Santo Inácio de Loyola)
Adaptada por Diác. Amauri Dias de Moura, FSJC grupo BH/MG
Arquidiocese de Belo Horizonte/MG
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na primeira reunião do Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sua última análise de conjuntura eclesial e social, isso em meados de fevereiro de 2025, a primeira do ano.
A parte eclesial é dedicada à reflexão sobre a conjuntura da Igreja a partir do caminho proposto pelo Jubileu da Encarnação que apresenta Jesus Cristo como Esperança para a humanidade. A análise de conjuntura eclesial foi conduzida pelo bispo de Petrópolis (RJ), presidente da Comissão para a Doutrina e membro do Instituto Inapaz da CNBB, dom Joel Portella.
Já a parte social da conjuntura, focada na questão social da Moradia, foi feita pelos estudiosos e peritos do Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB – Padre Thierry Linard, com o tema “Justiça e Moradia”, abordando um tema crucial para a realidade brasileira. Em resumo, uma visão geral do documento:
Contexto e Relevância
A análise se insere em um contexto de crescente preocupação com a questão da moradia no Brasil, especialmente diante do aumento da população em situação de rua e da precarização das condições de habitação em muitas áreas urbanas e rurais. O tema se conecta diretamente com a Campanha da Fraternidade de 2025,
que aborda a “Fraternidade e ecologia integral”, destacando a importância da moradia digna como um direito fundamental e parte integrante do cuidado com a “Casa Comum” e mais ainda já antecipa os preparativos para CF 2026 que terá como tema “Fraternidade e Moradia”, com o lema “E veio morar entre nós” (Jo 1,14).
Principais Pontos Abordados
*Acesso à Moradia como Direito Humano
A análise reforça a visão da Igreja de que a moradia é um direito humano básico, essencial para a dignidade da pessoa e para a construção de uma sociedade justa. É criticada a especulação imobiliária e a falta de políticas públicas eficazes que garantam o acesso à moradia para as populações mais vulneráveis.
*Desafios da Realidade Brasileira
O documento destaca os desafios enfrentados pelo Brasil na área da mora- dia, incluindo o déficit habitacional, a precariedade das habitações existentes, a falta de infraestrutura básica em muitas comunidades e o aumento da população em situação de rua.
São analisadas as causas estruturais desses problemas, como a desigualdade social, a concentração de renda e a falta de planejamento urbano adequado.
*Ações e Propostas
A CNBB apresenta propostas para enfrentar os desafios da moradia, incluindo a necessidade de políticas públicas que priorizem a construção de moradias populares, a regularização fundiária, o combate à especulação imobiliária e o apoio a iniciativas de autogestão habitacional.
É enfatizada a importância da participação da sociedade civil na formulação e implementação de políticas de moradia, bem como o papel das comunidades eclesiais na promoção da justiça e da solidariedade.
Conclusão
A análise da CNBB busca sensibilizar a sociedade brasileira para a urgência da questão da moradia e para a necessidade de ações concretas que garantam o direito à habitação digna para todos.
O documento reforça o compromisso da Igreja com a defesa dos direitos humanos e com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Carlos Eduardo Sell. Para onde vai a Igreja Católica? Uma Análise sociológica. Edi- tora Vozes. 2025.
Giorgio Agamben. O Mistério do Mal. Editora Boitempo. 2015.
Tomás Halík. Toque as feridas: sobre o sofrimento, confiança e arte de transforma- ção. Editora Vozes. 2013.
Bruno Paes Manso. A Fé e o Fuzil: crime e religião no Brasil no século XXI. Editora Todavia. 2023.
Carina Rossa e Viviana Carlevaris Colonnetti. Proteger a infância: proteção integral e garantia do direito fundamentais de crianças e adolescentes. Editora Cidade Nova. 2021.
O Papa, a crise ambiental e os Líderes de destaque – The Letter: Laudato Si’ Film
A Era da Estupidez – EUA, 2009, 100 minutos
A Lei da Água – de Fernando Meireles
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Carta escrita no ano 2070
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