POBREZA

POBREZA


Na Fraternidade não emitimos votos, nem o da pobreza, mas aceitamos os desafios do Evangelho. Vivendo num continente empobrecido e numa nação de profundos contrastes sociais, não somos ricos, mas também não vivemos na insegurança do dia a dia.


Num pais onde é possível passar num mesmo dia da idade da pedra lascada à da alta tecnologia, reconhecemos que a pobreza material está subordinada às legítimas obrigações de nosso ministério presbiteral. O exercício do ministério no contato direto com a vida do nosso povo nos leva a distinguir entre a pobreza como virtude e a pobreza como desgraça social.


Estamos convencidos de que o ponto de partida para a vivência da pobreza como virtude está na liberdade interior, liberdade do coração, que nos torna generosos servidores num mundo de contradições.


Conseqüentemente, o carisma do Irmão Carlos nos leva ao compromisso efetivo com os empobrecidos, os menos amados, os esquecidos e excluídos. A consciência do mundo dos pobres na Fraternidade Internacional mantém viva a sensibilidade de cada irmão e é um constante desafio para todos.


A Fraternidade nos ajuda a não escolher lugar, a aceitar o que ninguém quer, a estarmos disponíveis quando precisam de nós. Nossa pobreza de padres seculares não está circunscrita a um lugar geográfico. A pobreza, em última análise, está em nós, em nossas limitações, e a vivência da pobreza como virtude não depende de onde moramos, mas das pontes que somos capazes de lançar a partir do nosso lugar. Nós mesmos estamos pobremente equipados para realizar a missão de Jesus na terra e os meios de que dispomos são pobres por opção.


A fraternidade ajuda também um irmão a discernir sobre o uso do dinheiro. Não se trata de pedir permissão para gastos, mas de questionar ou ao menos de se interrogar sobre a validade de certos gastos. Nesta dimensão da espiritualidade, a vida do Irmão Carlos permanece uma fonte de intranquilidade e desconforto, verdadeiro estímulo para a liberdade.


A SIMPLICIDADE DE VIDA- de Tony Philpot, 2012

“Ele me enviou a anunciar a Boa Notícia aos pobres”. Não posso fazê-lo de um jeito paternalista, Pregar o Evangelho ficando numa situação de dominação, não é pregá-lo. Desastres na vida da Igreja, como a Reforma e a Revolução Francesa, tem a ver com a rejeição de um clero que não dava testemunho de sua fé. Como padre, meu estilo de vida deve ser de alegre simplicidade. A grande maioria dos católicos no mundo atual tem uma vida de simplicidade e tem necessidade de perceber o padre como alguém que partilha a vida deles e assemelha-se a eles, em termos de recursos financeiros. Não necessariamente mais pobre mas, com certeza, não mais rico. Alguém que pode assemelhar-se à situação econômica deles, identificar-se a eles quando a situação se torna difícil.

Carlos de Foucauld veio de uma família rica e aprendeu a viver numa pobreza cristã. Aprendeu-o entrando nos cistercienses e depois como pobre operário na Terra Santa e, enfim, na cabana simples do deserto da Argélia. A vida escondida de Jesus foi sua grande motivação: poderia recorrer aos recursos da família, mas sabia que a missão dele exigia austeridade. Essa austeridade falava aos árabes e tuaregues, significando: “estou disposto a qualquer sacrifício por causa de vocês”. Significa também: “não estou brincando, acredito realmente no Evangelho que eu lhes anuncio”.

Nós, padres do século 21, devemos fazer uma escolha consciente. Talvez seja mais fácil hoje do que antigamente, porque nossa tomada de consciência das questões ligadas ao aquecimento global e ao meio ambiente nos incentiva a não desperdiçar. Nossos paroquianos não vão estranhar de nos verem andar a pé e não de carro, de nos verem utilizar transporte coletivo e frequentar os supermercados mais baratos. Isso deve ser uma constante na nossa maneira de viver: evitar a ostentação. Essa atitude tem a ver com a maneira de me comportar em minha vida pessoal e nem tanto com a compra de alfaias e mobiliário decente para a igreja.

Se eu vivo na simplicidade, posso acolher qualquer um sem preocupação ou angústia. Posso oferecer uma refeição ou uma cama sem constranger ninguém. Não precisarei ser evasivo em relação a minhas férias, aonde eu vou e o que eu vou fazer. Haverá nitidez e clareza evangélica quanto à minha maneira de viver. Os membros da Fraternidade Jesus Cáritas vêm de países bem diferentes. Muitos não têm condições de aspirar a acumular dinheiro ou viver no luxo, usando roupas finas. Na Europa e na América do Norte, porém, a tentação é real. é uma das preocupações de nossa Fraternidade. Quando nos reunimos, cada mês, e fazemos revisão de vida, é uma das coisas que vamos examinando. Todos nós conhecemos padres buscando carreira, aspirando a ser nomeados nas paróquias mais ricas da diocese e almejando o título que possa acompanhar essa nomeação. É tão importante não ser assim!

“Dá-me simplesmente Teu amor e Tua Graça; com isso sou rico e não desejo nada mais...”, pedia Santo Inácio de Loyola. Adquirir bens e dinheiro torna a água enlameada. É preciso que isso seja claro como o cristal, tanto para nós como para nossos paroquianos, ou seja, que nossas riquezas verdadeiras estão no céu.