BOLETIM 135
2009
1ª. FUNDAMENTOS CRISTOLÓGICOS E TEOLÓGICOS DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE JESUS
2ª. ATUALIDADE DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD PARA A IGREJA E PARA O MUNDO DE HOJE
4. Despesas em Geral- Fraternidade Jesus Caritas- 2009
Da redação
Da redação
Prezados irmãos da Fraternidade Sacerdotal e todos os amigos e amigas leitores do nosso Boletim.
Prezados irmãos da Fraternidade Sacerdotal e todos os amigos e amigas leitores do nosso Boletim.
Vocês estão recebendo este número depois da reunião da coordenação nacional. Leiam o relatório da reunião e fiquem atentos às datas e sugestões de atividades propostas pela coordenação. Parabéns a todos os irmãos que se esforçaram para participar do encontro de sua região. Nem sempre é fácil, as distâncias são imensas, mas há sempre uma turminha corajosa e bem disposta para quem as dificuldades não contam.
Vocês estão recebendo este número depois da reunião da coordenação nacional. Leiam o relatório da reunião e fiquem atentos às datas e sugestões de atividades propostas pela coordenação. Parabéns a todos os irmãos que se esforçaram para participar do encontro de sua região. Nem sempre é fácil, as distâncias são imensas, mas há sempre uma turminha corajosa e bem disposta para quem as dificuldades não contam.
Temos novamente notícias de nosso irmão Maurício que está em Moçambique. Maurício faz parte da “gente que vale a pena”. Todos nós o acompanhamos com interesse e com as nossas orações.
Temos novamente notícias de nosso irmão Maurício que está em Moçambique. Maurício faz parte da “gente que vale a pena”. Todos nós o acompanhamos com interesse e com as nossas orações.
No relatório da coordenação, vocês podem se inteirar do retiro para os seminaristas, que aconteceu em julho, no mosteiro de Taizé. Os rapazes têm e-mail. Escrevam para eles. Vejam a proposta de um novo retiro para seminaristas no próximo ano. Procurem mandar alguém da sua área. A grande novidade é o fechamento do mosteiro da cidade de Goiás e a abertura do mesmo espaço para uma fraternidade da nossa família espiritual. É uma experiência que precisa dar certo e precisa do apoio de todos nós. Se você tiver disponibilidade de tempo durante o ano vá até lá e passe uns dias com os três rapazes que estão assumindo o mosteiro, sob a orientação de Dom Eugênio.
No relatório da coordenação, vocês podem se inteirar do retiro para os seminaristas, que aconteceu em julho, no mosteiro de Taizé. Os rapazes têm e-mail. Escrevam para eles. Vejam a proposta de um novo retiro para seminaristas no próximo ano. Procurem mandar alguém da sua área. A grande novidade é o fechamento do mosteiro da cidade de Goiás e a abertura do mesmo espaço para uma fraternidade da nossa família espiritual. É uma experiência que precisa dar certo e precisa do apoio de todos nós. Se você tiver disponibilidade de tempo durante o ano vá até lá e passe uns dias com os três rapazes que estão assumindo o mosteiro, sob a orientação de Dom Eugênio.
Mês de Nazaré. Será feito na cidade de Goiás, no referido mosteiro. Se você pode, inscreva-se para o mês, e não se esqueça do retiro anual, desta vez em Caucaia, no Ceará.
Mês de Nazaré. Será feito na cidade de Goiás, no referido mosteiro. Se você pode, inscreva-se para o mês, e não se esqueça do retiro anual, desta vez em Caucaia, no Ceará.
Parece que as fraternidades têm dificuldade em fazer a revisão de vida, e há colegas que não entram na fraternidade por causa da revisão. É um tema a ser revisto entre nós.
Parece que as fraternidades têm dificuldade em fazer a revisão de vida, e há colegas que não entram na fraternidade por causa da revisão. É um tema a ser revisto entre nós.
E vocês estão recebendo um belíssimo trabalho feito pelo padre Palácios, dos jesuítas. Trata-se de duas conferências que ele fez na Espanha para a família espiritual do Irmão Carlos. Vale a pena ler. Na coordenação lemos juntos a primeira parte. Traz muita luz para nossa espiritualidade. Leiam o texto em fraternidade e em particular. Agradecemos ao Pe. Palácios pela colaboração dada à nossa família espiritual.
E vocês estão recebendo um belíssimo trabalho feito pelo padre Palácios, dos jesuítas. Trata-se de duas conferências que ele fez na Espanha para a família espiritual do Irmão Carlos. Vale a pena ler. Na coordenação lemos juntos a primeira parte. Traz muita luz para nossa espiritualidade. Leiam o texto em fraternidade e em particular. Agradecemos ao Pe. Palácios pela colaboração dada à nossa família espiritual.
Como viver de forma positiva num mundo de tanta corrupção e violência! A violência está institucionalizada e o banditismo penetrou em todas as esferas da sociedade. Ser ladrão é a coisa mais normal entre nós. O pior é que sem a polícia o povo se sente melhor e mais protegido. Está tudo invertido. A corrupção vem de cima e encontra pouca reação. Alguma luz precisa ser acesa no meio das trevas.
Como viver de forma positiva num mundo de tanta corrupção e violência! A violência está institucionalizada e o banditismo penetrou em todas as esferas da sociedade. Ser ladrão é a coisa mais normal entre nós. O pior é que sem a polícia o povo se sente melhor e mais protegido. Está tudo invertido. A corrupção vem de cima e encontra pouca reação. Alguma luz precisa ser acesa no meio das trevas.
Bom fim de ano e bom início de Advento a todos.
Bom fim de ano e bom início de Advento a todos.
1. REFLEXÕES
1. REFLEXÕES
1ª. FUNDAMENTOS CRISTOLÓGICOS E TEOLÓGICOS DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE JESUS
1ª. FUNDAMENTOS CRISTOLÓGICOS E TEOLÓGICOS DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE JESUS
Pe. Carlos Palácio. SJ
Pe. Carlos Palácio. SJ
Embora esteja muito contente, dirijo-me a vocês, com certo temor e tremor. Por duas razões: primeiro, porque o Irmão Carlos é uma figura cuja estatura é gigantesca e é um atrevimento pôr-me a dar conselhos nessa linha e o segundo motivo é que o fato de falar a vocês, que são os herdeiros naturais dessa vida e dessa experiência espiritual.
Embora esteja muito contente, dirijo-me a vocês, com certo temor e tremor. Por duas razões: primeiro, porque o Irmão Carlos é uma figura cuja estatura é gigantesca e é um atrevimento pôr-me a dar conselhos nessa linha e o segundo motivo é que o fato de falar a vocês, que são os herdeiros naturais dessa vida e dessa experiência espiritual.
Vou tentar de maneira muito simples partilhar com vocês o que consigo ver e o que me parece importante nesses dois temas que me colocaram. São mais intuições que propriamente afirmações ou certezas apodícticas sobre a espiritualidade. Mas é assim que o vejo, minha pobre apreciação que não é nenhum dogma. De modo que deixo a vocês o conselho de São Paulo, provem de tudo e fiquem com o que lhes sirva...
Vou tentar de maneira muito simples partilhar com vocês o que consigo ver e o que me parece importante nesses dois temas que me colocaram. São mais intuições que propriamente afirmações ou certezas apodícticas sobre a espiritualidade. Mas é assim que o vejo, minha pobre apreciação que não é nenhum dogma. De modo que deixo a vocês o conselho de São Paulo, provem de tudo e fiquem com o que lhes sirva...
Introdução
Introdução
O próprio título que me deram parece-me problemático. Não me parece que se tenha que fazer uma fundamentação teológica da espiritualidade do Irmão Carlos. Porque já a tem. Creio que a tarefa é explicitar as bases teológicas sobre as quais repousa essa experiência. Porque falar de "fundamentação teológica" pode dar a entender que é preciso dar-lhe uma base sólida, como se não a tivesse. Creio antes que é preciso desentranhar cada vez mais o fundamento teológico que tem, e é isso justamente que pode alimentar uma teologia. Não é a teologia que vai dar cartão de cidadania a essa experiência espiritual, ao contrário é ela que tem que ensinar. É muito importante porque se trata de ver a questão pelo lado contrário. Quero dizer com isso que há muito que aprender ainda dessa experiência espiritual e que isso não se aprende nos livros nem nos grandes teólogos. O máximo que nós podemos fazer é dar nome ao que está sendo vivido.
O próprio título que me deram parece-me problemático. Não me parece que se tenha que fazer uma fundamentação teológica da espiritualidade do Irmão Carlos. Porque já a tem. Creio que a tarefa é explicitar as bases teológicas sobre as quais repousa essa experiência. Porque falar de "fundamentação teológica" pode dar a entender que é preciso dar-lhe uma base sólida, como se não a tivesse. Creio antes que é preciso desentranhar cada vez mais o fundamento teológico que tem, e é isso justamente que pode alimentar uma teologia. Não é a teologia que vai dar cartão de cidadania a essa experiência espiritual, ao contrário é ela que tem que ensinar. É muito importante porque se trata de ver a questão pelo lado contrário. Quero dizer com isso que há muito que aprender ainda dessa experiência espiritual e que isso não se aprende nos livros nem nos grandes teólogos. O máximo que nós podemos fazer é dar nome ao que está sendo vivido.
Nesse sentido, não começarei pelo que vocês formularam como traços da identidade. Sei que lhes preocupa essa questão da identidade e não é só vocês que se preocupam, mas todos nós, como cristãos e nas diferentes famílias religiosas. Não se trata em primeiro lugar de uma questão teórica, porque mais ou menos teoricamente todos temos clara a identidade do que somos. Trata-se antes de desentranhar dessa identidade como ela tem que ser vivida, entendida e apresentada hoje.
Nesse sentido, não começarei pelo que vocês formularam como traços da identidade. Sei que lhes preocupa essa questão da identidade e não é só vocês que se preocupam, mas todos nós, como cristãos e nas diferentes famílias religiosas. Não se trata em primeiro lugar de uma questão teórica, porque mais ou menos teoricamente todos temos clara a identidade do que somos. Trata-se antes de desentranhar dessa identidade como ela tem que ser vivida, entendida e apresentada hoje.
Não é que não saibamos, mas talvez nos detenhamos no passado, com as primeiras formulações. Evidentemente, toda experiência é formulada com a linguagem disponível no tempo em que nasce. E a do Irmão Carlos, da mesma maneira. É evidente que a do Irmão Carlos está muito mais próxima de nós que, por exemplo, Santo Inácio dos jesuítas. A linguagem é muito mais próxima, o que não quer dizer que não esteja condicionada também por sua história, por sua vida, pela Igreja de sua época. Então, a tarefa e o esforço, ao colocar-se em contato com essa espiritualidade, é desentranhar sua atualidade,
Não é que não saibamos, mas talvez nos detenhamos no passado, com as primeiras formulações. Evidentemente, toda experiência é formulada com a linguagem disponível no tempo em que nasce. E a do Irmão Carlos, da mesma maneira. É evidente que a do Irmão Carlos está muito mais próxima de nós que, por exemplo, Santo Inácio dos jesuítas. A linguagem é muito mais próxima, o que não quer dizer que não esteja condicionada também por sua história, por sua vida, pela Igreja de sua época. Então, a tarefa e o esforço, ao colocar-se em contato com essa espiritualidade, é desentranhar sua atualidade,
E preciso tomar cuidado para que não se petrifique, como se bastasse repetir o que já foi dito uma vez por todas; não, é preciso fazer constantemente o esforço de uma tradução viva e atual. Esse esforço, só poderíamos chamá-lo de busca dos fundamentos, mas busca de algo que já está fundado. A experiência do Irmão Carlos é o Evangelho. Não há melhor teologia cristã que a do Evangelho. Quando se esquece isso, a teologia torna-se especulação.
E preciso tomar cuidado para que não se petrifique, como se bastasse repetir o que já foi dito uma vez por todas; não, é preciso fazer constantemente o esforço de uma tradução viva e atual. Esse esforço, só poderíamos chamá-lo de busca dos fundamentos, mas busca de algo que já está fundado. A experiência do Irmão Carlos é o Evangelho. Não há melhor teologia cristã que a do Evangelho. Quando se esquece isso, a teologia torna-se especulação.
Nesse sentido, explicitar isso hoje numa família como esta tão diversificada, não é nada fácil. É diferente quando se trata de um grupo mais ou menos homogêneo. Mas a diversidade dessa família é também sua riqueza. Uma das genialidades do Irmão Carlos é não ter restringido a experiência a uma única forma de viver. Apesar de ter sonhado com regras para irmãos e irmãs, no começo. Mas deixou aberta a experiência para que pudesse ser captada e vivida de muitas maneiras. E aí, nessa diversidade, está a riqueza dessa experiência e a fonte de inspiração. Essa diversidade é. ao mesmo tempo, uma riqueza e um desafio: desafio no sentido de que não podemos metê-la numa camisa de força; mas, por outro lado, não se pode diluir de tal forma que tudo caiba nela. porque nesse caso não haveria o risco de que cada um se arrogue o direito de dizer: Nós somos herdeiros também do Irmão Carlos. É preciso pôr certas balizas ou pautas. E nesse sentido, eu entendo sua preocupação de buscar traços de identidade que não amarrem de uma maneira arbitrária, mas ao mesmo tempo, que tudo não fique tão solto que qualquer coisa possa caber nessa experiência espiritual.
Nesse sentido, explicitar isso hoje numa família como esta tão diversificada, não é nada fácil. É diferente quando se trata de um grupo mais ou menos homogêneo. Mas a diversidade dessa família é também sua riqueza. Uma das genialidades do Irmão Carlos é não ter restringido a experiência a uma única forma de viver. Apesar de ter sonhado com regras para irmãos e irmãs, no começo. Mas deixou aberta a experiência para que pudesse ser captada e vivida de muitas maneiras. E aí, nessa diversidade, está a riqueza dessa experiência e a fonte de inspiração. Essa diversidade é. ao mesmo tempo, uma riqueza e um desafio: desafio no sentido de que não podemos metê-la numa camisa de força; mas, por outro lado, não se pode diluir de tal forma que tudo caiba nela. porque nesse caso não haveria o risco de que cada um se arrogue o direito de dizer: Nós somos herdeiros também do Irmão Carlos. É preciso pôr certas balizas ou pautas. E nesse sentido, eu entendo sua preocupação de buscar traços de identidade que não amarrem de uma maneira arbitrária, mas ao mesmo tempo, que tudo não fique tão solto que qualquer coisa possa caber nessa experiência espiritual.
Nesse sentido, vou desenvolver brevemente três passos:
Nesse sentido, vou desenvolver brevemente três passos:
O primeiro seria refletir sobre o talante da experiência do Irmão Carlos. O talante, a não ser confundido com as claves. Ao desenvolvê-lo, vocês verão um pouco o que quero dizer com essa questão de talante. É uma forma de viver. Depois, evidentemente, o que vocês chamam de "claves" (em espanhol) e que são traços arrancados desse modo de viver, são traduções disso, mas não podem ser entendidas fora desse talante, desse modo de ser, e desse itinerário porque, caso contrário, se tornariam algo abstrato que, depois, cada um poderia interpretar como quer. E em terceiro lugar, muito brevemente, daria algumas pistas a partir de onde isso está enraizado teologicamente e quais são os fundamentos teológicos que estão implícitos, vividos, não explicitados formalmente na experiência. O Irmão Carlos o explicitou nos seus escritos, mas não de forma acabada. Sua preocupação não era fazer uma teoria espiritual. E creio que isso é muito importante: uma coisa é a experiência espiritual, outra a teoria espiritual. Não podem ser confundidas, embora estejam unidas e por ambos caminhos se possa aprofundar a experiência.
O primeiro seria refletir sobre o talante da experiência do Irmão Carlos. O talante, a não ser confundido com as claves. Ao desenvolvê-lo, vocês verão um pouco o que quero dizer com essa questão de talante. É uma forma de viver. Depois, evidentemente, o que vocês chamam de "claves" (em espanhol) e que são traços arrancados desse modo de viver, são traduções disso, mas não podem ser entendidas fora desse talante, desse modo de ser, e desse itinerário porque, caso contrário, se tornariam algo abstrato que, depois, cada um poderia interpretar como quer. E em terceiro lugar, muito brevemente, daria algumas pistas a partir de onde isso está enraizado teologicamente e quais são os fundamentos teológicos que estão implícitos, vividos, não explicitados formalmente na experiência. O Irmão Carlos o explicitou nos seus escritos, mas não de forma acabada. Sua preocupação não era fazer uma teoria espiritual. E creio que isso é muito importante: uma coisa é a experiência espiritual, outra a teoria espiritual. Não podem ser confundidas, embora estejam unidas e por ambos caminhos se possa aprofundar a experiência.
1 – Talante
1 – Talante
Vamos ao primeiro ponto que eu lhes propunha: o talante da experiência espiritual do Irmão Carlos. Não se trata de uma espiritualidade teórica, o que importa nessa experiência não são, em primeiro lugar, os conteúdos, é a vida. da qual podem depois brotar essas considerações. Com isso quero dizer algo muito simples: a experiência do Irmão Carlos me parece fundamentalmente um caminho, uma maneira de ser. E como caminho e maneira de ser, só pode ser compreendido a partir do fim, a posteriori. Ele não tinha na mente, desde o princípio, nem um projeto, nem uma teoria, nem idéias claras. Ele correu o risco de entrar por um caminho e de deixar-se conduzir. E no final desse caminho, relendo o itinerário, podemos dizer: olhe o que estava aí, e é isto que eu tento viver e o que proponho para viver.
Vamos ao primeiro ponto que eu lhes propunha: o talante da experiência espiritual do Irmão Carlos. Não se trata de uma espiritualidade teórica, o que importa nessa experiência não são, em primeiro lugar, os conteúdos, é a vida. da qual podem depois brotar essas considerações. Com isso quero dizer algo muito simples: a experiência do Irmão Carlos me parece fundamentalmente um caminho, uma maneira de ser. E como caminho e maneira de ser, só pode ser compreendido a partir do fim, a posteriori. Ele não tinha na mente, desde o princípio, nem um projeto, nem uma teoria, nem idéias claras. Ele correu o risco de entrar por um caminho e de deixar-se conduzir. E no final desse caminho, relendo o itinerário, podemos dizer: olhe o que estava aí, e é isto que eu tento viver e o que proponho para viver.
Parece-me muito importante ter isso presente, porque o caminho, a maneira de chegar a isso é inseparável do conteúdo. Para compreender esses traços, o conteúdo do que eles querem transmitir, temos que voltar sempre ao que foi sua gestação no caminho do Irmão Carlos. É aí que podemos recolhê-los em sua gênese e recolocá-los, ou reduzi-los, ou atualizá-los: uma mensagem para hoje. Isso não é arbitrário. Mas só se pode fazer se nos dermos conta de que não estamos fazendo especulações, estamos tentando recolher desse caminho o que ele tem para dizer-nos hoje.
Parece-me muito importante ter isso presente, porque o caminho, a maneira de chegar a isso é inseparável do conteúdo. Para compreender esses traços, o conteúdo do que eles querem transmitir, temos que voltar sempre ao que foi sua gestação no caminho do Irmão Carlos. É aí que podemos recolhê-los em sua gênese e recolocá-los, ou reduzi-los, ou atualizá-los: uma mensagem para hoje. Isso não é arbitrário. Mas só se pode fazer se nos dermos conta de que não estamos fazendo especulações, estamos tentando recolher desse caminho o que ele tem para dizer-nos hoje.
2 - Traços de um talante
2 - Traços de um talante
a) A itinerância geográfica do Irmão Carlos não foi em vão ou inútil, não simplesmente impulso de um aventureiro - o que ele foi também quando militar. Mas quando começa seu itinerário espiritual, sua itinerância geográfica é expressão de uma itinerância espiritual, algo muito mais sério e mais profundo. Parece-me importante porque traduzi-lo em termos de itinerância significa que sua experiência, desde o princípio até o fim, é uma experiência de busca, não é uma experiência feita, acabada. Surpreendeu-se ao ser desconcertado por Deus para fazer essa descoberta e Deus lhe pareceu sempre inalcançável, maior do que ele. Em cada momento ia captando que Deus estava sempre "ailleurs", em outra parte e quando tentava fixá-lo, ele se lhe escapava.
a) A itinerância geográfica do Irmão Carlos não foi em vão ou inútil, não simplesmente impulso de um aventureiro - o que ele foi também quando militar. Mas quando começa seu itinerário espiritual, sua itinerância geográfica é expressão de uma itinerância espiritual, algo muito mais sério e mais profundo. Parece-me importante porque traduzi-lo em termos de itinerância significa que sua experiência, desde o princípio até o fim, é uma experiência de busca, não é uma experiência feita, acabada. Surpreendeu-se ao ser desconcertado por Deus para fazer essa descoberta e Deus lhe pareceu sempre inalcançável, maior do que ele. Em cada momento ia captando que Deus estava sempre "ailleurs", em outra parte e quando tentava fixá-lo, ele se lhe escapava.
Eis aí uma característica da experiência como aberta, como caminho. E por isso, desde o princípio até o fim, ele foi um buscador. Sua experiência foi vivida até o fim como algo inacabado, não porque não tivesse clareza sobre o que queria, mas como algo ao qual não se podia dar um ponto final, porque Deus pode sempre voltar a surpreender. Ou seja, nesse sentido a experiência espiritual de Carlos de Foucauld é uma experiência inacabada, aberta, em construção. E essa forma de vivê-la é tão importante quanto os conteúdos, porque senão os conteúdos se fecham, já sabemos o que são, enquanto na realidade, vivendo abertos, os conteúdos nunca se "sabem" e isso justifica que se "busque" sempre a identidade. Não porque falte, mas porque ela não pode ser encerrada.
Eis aí uma característica da experiência como aberta, como caminho. E por isso, desde o princípio até o fim, ele foi um buscador. Sua experiência foi vivida até o fim como algo inacabado, não porque não tivesse clareza sobre o que queria, mas como algo ao qual não se podia dar um ponto final, porque Deus pode sempre voltar a surpreender. Ou seja, nesse sentido a experiência espiritual de Carlos de Foucauld é uma experiência inacabada, aberta, em construção. E essa forma de vivê-la é tão importante quanto os conteúdos, porque senão os conteúdos se fecham, já sabemos o que são, enquanto na realidade, vivendo abertos, os conteúdos nunca se "sabem" e isso justifica que se "busque" sempre a identidade. Não porque falte, mas porque ela não pode ser encerrada.
b) Outro traço característico dessa maneira de ser: trata-se de uma experiência interrogativa, está feita de perguntas. Desde que se pergunta: Deus existe? Até que se pergunte: Quem é esse Deus? Como é? Onde está? Como responder-lhe? Isso o deixa inquieto até o final, nunca formulou tudo isso de maneira definitiva: foi lhe dando resposta na medida em que vivia, mais não ficava satisfeito dizendo: agora sim, agora já. Ele não tem uma resposta feita, tem que buscá-la até o final: a busca da vontade de Deus em sua vida faz dele um itinerante, não só geograficamente, mas também em sua vida espiritual: busca a Trapa, busca ser eremita, busca o deserto, busca sem parar. Essa busca gira ao redor de uma pergunta: Que queres de mim? Como responder? Que devo fazer? Esse aspecto me parece fundamental. A leitura dos textos do Irmão Carlos me inspira isso. Creio que essa é uma das raízes de sua atualidade. Não é uma espiritualidade fechada, completa, feita, mas por fazer. Por isso tem todo seu sentido que vocês se perguntem: Quais são os traços dessa identidade hoje? Não porque não saibam, estarão cansados de sabê-lo, mas como mostra-los hoje para outra circunstância? Porque Tamanrasset pode ser qualquer lugar, hoje, não necessariamente tem que ser o deserto. A descrença e o diálogo com os muçulmanos podem ser aqui, hoje. É uma maneira de dizer os acentos, os traços temos de encontrá-los na medida em que a vida nos desafia e não pensar que estão feitas. Nesse caso, bastaria vestir-se o hábito com o coraçãozinho... O que é necessário adquirir é esse olhar penetrante que ele tinha e o coração que se desfaz. E isso o importante.
b) Outro traço característico dessa maneira de ser: trata-se de uma experiência interrogativa, está feita de perguntas. Desde que se pergunta: Deus existe? Até que se pergunte: Quem é esse Deus? Como é? Onde está? Como responder-lhe? Isso o deixa inquieto até o final, nunca formulou tudo isso de maneira definitiva: foi lhe dando resposta na medida em que vivia, mais não ficava satisfeito dizendo: agora sim, agora já. Ele não tem uma resposta feita, tem que buscá-la até o final: a busca da vontade de Deus em sua vida faz dele um itinerante, não só geograficamente, mas também em sua vida espiritual: busca a Trapa, busca ser eremita, busca o deserto, busca sem parar. Essa busca gira ao redor de uma pergunta: Que queres de mim? Como responder? Que devo fazer? Esse aspecto me parece fundamental. A leitura dos textos do Irmão Carlos me inspira isso. Creio que essa é uma das raízes de sua atualidade. Não é uma espiritualidade fechada, completa, feita, mas por fazer. Por isso tem todo seu sentido que vocês se perguntem: Quais são os traços dessa identidade hoje? Não porque não saibam, estarão cansados de sabê-lo, mas como mostra-los hoje para outra circunstância? Porque Tamanrasset pode ser qualquer lugar, hoje, não necessariamente tem que ser o deserto. A descrença e o diálogo com os muçulmanos podem ser aqui, hoje. É uma maneira de dizer os acentos, os traços temos de encontrá-los na medida em que a vida nos desafia e não pensar que estão feitas. Nesse caso, bastaria vestir-se o hábito com o coraçãozinho... O que é necessário adquirir é esse olhar penetrante que ele tinha e o coração que se desfaz. E isso o importante.
c) Um terceiro aspecto dessa experiência espiritual é a descoberta daquilo que ele formulou como o absoluto de Deus. Nessa itinerância passou de não crente (embora tenha sido cristão batizado, mas abandonou a fé) a uma conversão que o leva à descoberta de Deus como absoluto: "eu percebi, diz ele, que não podia fazer outra coisa senão viver unicamente para Ele". É isso o absoluto, não é uma teoria, não é um conceito teológico. E toda a linguagem do Irmão Carlos está marcada por essa totalidade: "Tudo, todos, glorificar e consolar o mais possível, isto é definitivo, é para sempre"... Algo se apoderou dele, nada podia ficar fora. É a experiência do absoluto. É uma verdadeira experiência mística. Não no sentido que se dá com freqüência ao 'místico' como algo raro, extraordinário, unicamente para privilegiados. Trata-se de algo básico do ponto de vista cristão: a experiência de ter sido agarrado por alguém do qual não é possível escapar; tudo tem que entrar na resposta.
c) Um terceiro aspecto dessa experiência espiritual é a descoberta daquilo que ele formulou como o absoluto de Deus. Nessa itinerância passou de não crente (embora tenha sido cristão batizado, mas abandonou a fé) a uma conversão que o leva à descoberta de Deus como absoluto: "eu percebi, diz ele, que não podia fazer outra coisa senão viver unicamente para Ele". É isso o absoluto, não é uma teoria, não é um conceito teológico. E toda a linguagem do Irmão Carlos está marcada por essa totalidade: "Tudo, todos, glorificar e consolar o mais possível, isto é definitivo, é para sempre"... Algo se apoderou dele, nada podia ficar fora. É a experiência do absoluto. É uma verdadeira experiência mística. Não no sentido que se dá com freqüência ao 'místico' como algo raro, extraordinário, unicamente para privilegiados. Trata-se de algo básico do ponto de vista cristão: a experiência de ter sido agarrado por alguém do qual não é possível escapar; tudo tem que entrar na resposta.
A outra frase que está nos textos que vocês têm aqui: "Como Deus é grande! Que diferença entre Deus e tudo que não é Ele!". Numa frase como esta se expressa a tensão entre a relatividade do humano, de cada dia, daquilo que temos nas mãos. tudo o que não é ele e por isso mesmo a insatisfação que isso provoca e a necessidade de buscar mais e sempre, até que a gente perceba e diga: é isto o que eu quero. Essa tensão, que sabe constantemente relativizar o que não é o Senhor e o que é Deus. Mas, então, sem condições. Uma vez que ele sabe o que quer. tem que entrar tudo, não pode permanecer com meias medidas. Uma marca dessa totalidade e desse absoluto é a experiência do dia 15 de janeiro de 1890, um momento de ruptura em sua vida: quando decide ir definitivamente para a África e rompe com a família. Ruptura muito dolorosa para ele, porque era deixar tudo o que mais queria, a família. Chega então a essa separação, a essa imolação de tudo o que para ele significava a vida naquele momento. O "tudo" naquele momento significava isso. Depois irá integrando outras coisas, mas sem esse arranque inicial não teria sido capaz de viver como viveu. E isso não aparece de maneira abstrata em alguns conteúdos, mas num caminho concreto. E isso é o que nós temos que recuperar. O caminho concreto pode livrar-nos das interpretações erradas. O caminho concreto: ao ver por onde ele passou, a gente pode dizer: "Não me enganei ao interpretar isso assim, ou ao interpreta-lo agora de outra maneira.
A outra frase que está nos textos que vocês têm aqui: "Como Deus é grande! Que diferença entre Deus e tudo que não é Ele!". Numa frase como esta se expressa a tensão entre a relatividade do humano, de cada dia, daquilo que temos nas mãos. tudo o que não é ele e por isso mesmo a insatisfação que isso provoca e a necessidade de buscar mais e sempre, até que a gente perceba e diga: é isto o que eu quero. Essa tensão, que sabe constantemente relativizar o que não é o Senhor e o que é Deus. Mas, então, sem condições. Uma vez que ele sabe o que quer. tem que entrar tudo, não pode permanecer com meias medidas. Uma marca dessa totalidade e desse absoluto é a experiência do dia 15 de janeiro de 1890, um momento de ruptura em sua vida: quando decide ir definitivamente para a África e rompe com a família. Ruptura muito dolorosa para ele, porque era deixar tudo o que mais queria, a família. Chega então a essa separação, a essa imolação de tudo o que para ele significava a vida naquele momento. O "tudo" naquele momento significava isso. Depois irá integrando outras coisas, mas sem esse arranque inicial não teria sido capaz de viver como viveu. E isso não aparece de maneira abstrata em alguns conteúdos, mas num caminho concreto. E isso é o que nós temos que recuperar. O caminho concreto pode livrar-nos das interpretações erradas. O caminho concreto: ao ver por onde ele passou, a gente pode dizer: "Não me enganei ao interpretar isso assim, ou ao interpreta-lo agora de outra maneira.
É isso que justifica a busca da vontade de Deus: é a raiz da submissão do Irmão Carlos como obediência ao Senhor, é a raiz dessa obediência. A raiz da obediência não é submeter-se a um superior ou a um responsável, a raiz da obediência é aceitar que todos, com alguém à frente que os anime, estejamos em busca do que Deus quer. E quando nos rebelamos diante disso, é muitas vezes em nome de nosso individualismo, de nossa auto-afirmação. Mas então já teremos jogado fora esse itinerário. Eu creio que foi também o essencial da busca do Irmão Carlos, ao decidir-se pela Trapa e ao viver nela sete anos. Ele se submete ao que Deus vai lhe manifestando e trata de esclarecê-lo e se relaciona por correspondência com Huvelin e se submete à obediência, embora não veja claro, espera que ele lhe dê seu parecer antes de dar o passo. Assim vai fazendo em todas as etapas e buscas de seu itinerário até o fim. No fundo, parecia um homem continuamente insatisfeito. Não com uma insatisfação que nos deixaria mal, ou seja: "já estou cansado, já estou cheio"; não, é a insatisfação que inquieta porque sabe que não chegou ainda a tudo e não pode pôr um ponto final.
É isso que justifica a busca da vontade de Deus: é a raiz da submissão do Irmão Carlos como obediência ao Senhor, é a raiz dessa obediência. A raiz da obediência não é submeter-se a um superior ou a um responsável, a raiz da obediência é aceitar que todos, com alguém à frente que os anime, estejamos em busca do que Deus quer. E quando nos rebelamos diante disso, é muitas vezes em nome de nosso individualismo, de nossa auto-afirmação. Mas então já teremos jogado fora esse itinerário. Eu creio que foi também o essencial da busca do Irmão Carlos, ao decidir-se pela Trapa e ao viver nela sete anos. Ele se submete ao que Deus vai lhe manifestando e trata de esclarecê-lo e se relaciona por correspondência com Huvelin e se submete à obediência, embora não veja claro, espera que ele lhe dê seu parecer antes de dar o passo. Assim vai fazendo em todas as etapas e buscas de seu itinerário até o fim. No fundo, parecia um homem continuamente insatisfeito. Não com uma insatisfação que nos deixaria mal, ou seja: "já estou cansado, já estou cheio"; não, é a insatisfação que inquieta porque sabe que não chegou ainda a tudo e não pode pôr um ponto final.
d) Assim se explica também, creio eu, outra característica dessa experiência: o amor apaixonado por Deus e por Jesus e o abandono. Não se trata de um 'sentimento'. Ao dizer: "Pai, eu me abandono em tuas mãos", é uma vida que se expressa; mas entre outras coisas, esse abandono significa a insegurança e o buscar constantemente, o não poder parar. Porque do contrário seria uma atitude muito bonita, dizer: eu me abandono a Deus, que faça de mim o que quiser. O que acontece é que aquele que tem que fazer sou eu, mas o faço seguro de que não estou no vazio, que estou em suas mãos, que posso abandonar-me e que ele me guia, embora de maneira atormentada, muitas vezes.
d) Assim se explica também, creio eu, outra característica dessa experiência: o amor apaixonado por Deus e por Jesus e o abandono. Não se trata de um 'sentimento'. Ao dizer: "Pai, eu me abandono em tuas mãos", é uma vida que se expressa; mas entre outras coisas, esse abandono significa a insegurança e o buscar constantemente, o não poder parar. Porque do contrário seria uma atitude muito bonita, dizer: eu me abandono a Deus, que faça de mim o que quiser. O que acontece é que aquele que tem que fazer sou eu, mas o faço seguro de que não estou no vazio, que estou em suas mãos, que posso abandonar-me e que ele me guia, embora de maneira atormentada, muitas vezes.
Este abandono por um lado é a experiência de sentir-se realmente amado, como filho. Esta oração, que acaba sendo uma oração, mas que é expressão daquilo que ele lia no evangelho, é a atitude do filho, por sentir-se amado e saber que está seguro na insegurança, e ao mesmo tempo é o que lhe dá a dimensão cada vez mais explícita de sentir-se irmão de todos e de querer amar a todos, irmão universal, que também é uma frase muito bonita, mas que podemos esvaziar completamente. Nele, o universal e passa sempre pelo concreto. Amou a todos e a cada um como se apresentava e não tinha limites para isso. E por aí entra no universal. Uma frase dele que destacam aí é; "Sentir-se nas mãos do amado, e de qual amado! Que paz! Que doçura! Que abismo de paz e de confiança!"
Este abandono por um lado é a experiência de sentir-se realmente amado, como filho. Esta oração, que acaba sendo uma oração, mas que é expressão daquilo que ele lia no evangelho, é a atitude do filho, por sentir-se amado e saber que está seguro na insegurança, e ao mesmo tempo é o que lhe dá a dimensão cada vez mais explícita de sentir-se irmão de todos e de querer amar a todos, irmão universal, que também é uma frase muito bonita, mas que podemos esvaziar completamente. Nele, o universal e passa sempre pelo concreto. Amou a todos e a cada um como se apresentava e não tinha limites para isso. E por aí entra no universal. Uma frase dele que destacam aí é; "Sentir-se nas mãos do amado, e de qual amado! Que paz! Que doçura! Que abismo de paz e de confiança!"
c) Outro aspecto importante seria o seguinte: pouco a pouco o Irmão Carlos foi descobrindo este absoluto de Deus na carne humana, em Jesus de Nazaré.
c) Outro aspecto importante seria o seguinte: pouco a pouco o Irmão Carlos foi descobrindo este absoluto de Deus na carne humana, em Jesus de Nazaré.
Toda a descoberta que foi fazendo pouco a pouco da centralidade que tinha para ele a figura de Jesus de Nazaré. Eis aí também um itinerário. Não sei se me engano, mas às vezes tenho a impressão de que no princípio, sua cabeça está povoada por um Jesus imaginário, tal como ele o projeta, tal como o imagina, tal como o representa, idealizado muitas vezes. Daí, querer começar por uma imitação literal: E preciso ir a Nazaré, é preciso ir a Belém... Santo Inácio, quando fez a peregrinação à Terra santa, foi visitar o monte da Ascensão, depois voltou e já tinha que ir embora, mas disse: Ah não, eu me esqueci onde estava o pé direito e o pé esquerdo... Uma imitação que começa por aí é natural, é uma descoberta tão esmagadora que Deus se faça carne, e que deixe marcas na vida, que a gente se apaixona por isso, como se apaixonam os namorados quando começam a conhecer-se e começam a ver detalhes e coisas que não são a pessoa, mas expressão da pessoa. Deste primeiro passo á descoberta de Jesus, o Irmão Carlos vai sendo conduzido pouco a pouco ao que há de essencial nesta descoberta: deixar-se configurar em toda sua vida por Jesus e como Jesus. Isso é um absoluto. Isso já não tem nada de imitação, porque é impossível imitar, isso é renunciar a ser ele e a viver a partir dele mesmo. No fundo, é aceitar ser vivido por Jesus. É algo muito forte. Não se assustem, é o que disse Paulo: "Já não sou eu quem vive, é Jesus que vive em mim". O que acontece é que nós o lemos com simplicidade: Que bonito! Já não vivo eu, é o Cristo que vive em mim! Claro, mas que significa que Cristo viva em você. E que o configure totalmente com Ele. E que isso o torne alegre, e feliz, e realizado. E que, ao perder-se, você se encontre. Isso é muito forte, é uma coisa espantosa...
Toda a descoberta que foi fazendo pouco a pouco da centralidade que tinha para ele a figura de Jesus de Nazaré. Eis aí também um itinerário. Não sei se me engano, mas às vezes tenho a impressão de que no princípio, sua cabeça está povoada por um Jesus imaginário, tal como ele o projeta, tal como o imagina, tal como o representa, idealizado muitas vezes. Daí, querer começar por uma imitação literal: E preciso ir a Nazaré, é preciso ir a Belém... Santo Inácio, quando fez a peregrinação à Terra santa, foi visitar o monte da Ascensão, depois voltou e já tinha que ir embora, mas disse: Ah não, eu me esqueci onde estava o pé direito e o pé esquerdo... Uma imitação que começa por aí é natural, é uma descoberta tão esmagadora que Deus se faça carne, e que deixe marcas na vida, que a gente se apaixona por isso, como se apaixonam os namorados quando começam a conhecer-se e começam a ver detalhes e coisas que não são a pessoa, mas expressão da pessoa. Deste primeiro passo á descoberta de Jesus, o Irmão Carlos vai sendo conduzido pouco a pouco ao que há de essencial nesta descoberta: deixar-se configurar em toda sua vida por Jesus e como Jesus. Isso é um absoluto. Isso já não tem nada de imitação, porque é impossível imitar, isso é renunciar a ser ele e a viver a partir dele mesmo. No fundo, é aceitar ser vivido por Jesus. É algo muito forte. Não se assustem, é o que disse Paulo: "Já não sou eu quem vive, é Jesus que vive em mim". O que acontece é que nós o lemos com simplicidade: Que bonito! Já não vivo eu, é o Cristo que vive em mim! Claro, mas que significa que Cristo viva em você. E que o configure totalmente com Ele. E que isso o torne alegre, e feliz, e realizado. E que, ao perder-se, você se encontre. Isso é muito forte, é uma coisa espantosa...
Assim podemos entender o que significa para ele "gritar o Evangelho com a vida": não há outra maneira de dizê-lo. Não bastam as palavras. Gritar o Evangelho com a vida é isso, isto é, se eu deixar-me configurar em todos os meus aspectos, em todas as dimensões de minha vida, por Jesus e como Jesus, serei testemunha sem querê-lo. Ele não se propõe ser testemunha de ninguém, ele o é por graça, porque lhe foi dado como dom. Não se preocupa tampouco com outras coisas, que tenho que fazer? Afinal, isso. simplesmente, apenas. Será que isso lhes parece pouco como missão? Querem buscar ainda mais trabalho?
Assim podemos entender o que significa para ele "gritar o Evangelho com a vida": não há outra maneira de dizê-lo. Não bastam as palavras. Gritar o Evangelho com a vida é isso, isto é, se eu deixar-me configurar em todos os meus aspectos, em todas as dimensões de minha vida, por Jesus e como Jesus, serei testemunha sem querê-lo. Ele não se propõe ser testemunha de ninguém, ele o é por graça, porque lhe foi dado como dom. Não se preocupa tampouco com outras coisas, que tenho que fazer? Afinal, isso. simplesmente, apenas. Será que isso lhes parece pouco como missão? Querem buscar ainda mais trabalho?
Creio que, nessa descoberta progressiva, se enraíza o que ele formulará depois como "Jesus, Modelo Único", não entendido, porém, no sentido de modelo plastificado, aqui e agora vou imitar seus traços, mas na única maneira de viver e de ser vivido, é o que alimentou constantemente seu sonho de fundar algo que não existia, dizia ele. Criar algo novo. Por isso não lhe satisfez a Trapa, nem buscou outras congregações, não por desprezo, mas porque não era aquilo que ele buscava. E tinha essa necessidade: como ele diz, "seguir o exemplo e os conselhos de Jesus Nosso Senhor, só pode ser algo excelente". Mas não se trata apenas de seguir os conselhos, seguir o exemplo, mas de deixar-se triturar. E pode dizê-lo com essa alegria: "é o que há de mais excelente..."
Creio que, nessa descoberta progressiva, se enraíza o que ele formulará depois como "Jesus, Modelo Único", não entendido, porém, no sentido de modelo plastificado, aqui e agora vou imitar seus traços, mas na única maneira de viver e de ser vivido, é o que alimentou constantemente seu sonho de fundar algo que não existia, dizia ele. Criar algo novo. Por isso não lhe satisfez a Trapa, nem buscou outras congregações, não por desprezo, mas porque não era aquilo que ele buscava. E tinha essa necessidade: como ele diz, "seguir o exemplo e os conselhos de Jesus Nosso Senhor, só pode ser algo excelente". Mas não se trata apenas de seguir os conselhos, seguir o exemplo, mas de deixar-se triturar. E pode dizê-lo com essa alegria: "é o que há de mais excelente..."
f) Nesse contexto, adquire uma nova luz a dimensão contemplativa do Irmão Carlos pela qual sempre lutou e que lhe custou encontrar; que não encontrou na Trapa, nem fazendo-se eremita, só, mas que depois encontrou ao fazer-se próximo dos outros; encontrou-a porque já lhe havia sido dado esse olhar que lhe permite penetrar o fundo da realidade. Era outra a contemplação que ele buscava, não menos séria e importante. Às vezes pensamos que a contemplação é para as monjas e monges de vida contemplativa, muitas vezes associou-se a contemplação à mística e aos fenômenos extraordinários. É uma maneira de empobrecer a contemplação. Santa Teresa de Jesus era uma grande contemplativa, mas tinha os pés no chão, profundamente. Não era uma devota qualquer. Há uma contemplação que faz parte da existência cristã e que nos foi tirada muitas vezes, a qual, às vezes, perdemos e nesse caso a experiência cristã se esvazia, porque se ritualiza e se torna práticas espirituais, repetição e não alimenta essa visão que nos permita ir mais além das aparências. Essa é a contemplação, parece-me, do Irmão Carlos e o que explica que esse itinerário o levasse a situar-se no coração do mundo, porque aí encontrava Deus, encontrando-se com os outros. Mas isso não é evidente. É preciso ter olhos para descobri-lo e contemplá-lo, podendo assim entusiasmar-se. Essa vida, essa experiência, esse itinerário, seriam impossíveis sem essa dimensão contemplativa nova. É realmente um caminho novo. Também na contemplação. O pouco que conheço das irmãzinhas e dos irmãos sempre me impressionou. Uma vida assim só se sustenta, a longo prazo por gente mística, no sentido forte e profundo da palavra. E essa é a espiritualidade de todos vocês.
f) Nesse contexto, adquire uma nova luz a dimensão contemplativa do Irmão Carlos pela qual sempre lutou e que lhe custou encontrar; que não encontrou na Trapa, nem fazendo-se eremita, só, mas que depois encontrou ao fazer-se próximo dos outros; encontrou-a porque já lhe havia sido dado esse olhar que lhe permite penetrar o fundo da realidade. Era outra a contemplação que ele buscava, não menos séria e importante. Às vezes pensamos que a contemplação é para as monjas e monges de vida contemplativa, muitas vezes associou-se a contemplação à mística e aos fenômenos extraordinários. É uma maneira de empobrecer a contemplação. Santa Teresa de Jesus era uma grande contemplativa, mas tinha os pés no chão, profundamente. Não era uma devota qualquer. Há uma contemplação que faz parte da existência cristã e que nos foi tirada muitas vezes, a qual, às vezes, perdemos e nesse caso a experiência cristã se esvazia, porque se ritualiza e se torna práticas espirituais, repetição e não alimenta essa visão que nos permita ir mais além das aparências. Essa é a contemplação, parece-me, do Irmão Carlos e o que explica que esse itinerário o levasse a situar-se no coração do mundo, porque aí encontrava Deus, encontrando-se com os outros. Mas isso não é evidente. É preciso ter olhos para descobri-lo e contemplá-lo, podendo assim entusiasmar-se. Essa vida, essa experiência, esse itinerário, seriam impossíveis sem essa dimensão contemplativa nova. É realmente um caminho novo. Também na contemplação. O pouco que conheço das irmãzinhas e dos irmãos sempre me impressionou. Uma vida assim só se sustenta, a longo prazo por gente mística, no sentido forte e profundo da palavra. E essa é a espiritualidade de todos vocês.
Deixo agora a questão dos traços porque já aludi mais ou menos a isso com algumas pinceladas, dizendo como seria necessário situá-las nesse processo espiritual e fazer isso constantemente, porque acho que é isso que pode revitalizar-nos. É um trabalho sem fim, que cabe a vocês, encarnando essa espiritualidade. Então, deixamos os traços, que estão mais ou menos situados. É suficiente, vocês os conhecem melhor do que eu. Eu queria, mais do que explicitá-los, colocá-los no contexto do itinerário. É isso, me parece, que pode ajudá-los a renovarem-se e a reler a mensagem para hoje.
Deixo agora a questão dos traços porque já aludi mais ou menos a isso com algumas pinceladas, dizendo como seria necessário situá-las nesse processo espiritual e fazer isso constantemente, porque acho que é isso que pode revitalizar-nos. É um trabalho sem fim, que cabe a vocês, encarnando essa espiritualidade. Então, deixamos os traços, que estão mais ou menos situados. É suficiente, vocês os conhecem melhor do que eu. Eu queria, mais do que explicitá-los, colocá-los no contexto do itinerário. É isso, me parece, que pode ajudá-los a renovarem-se e a reler a mensagem para hoje.
3 - Fundamentos ou raízes evangélicas
3 - Fundamentos ou raízes evangélicas
O terceiro ponto seria, brevemente, não uma fundamentação teológica dessa experiência, mas o que a gente pode desentranhar dessa experiência, para ver em que se apóia teologicamente. Porque apoio ela tem, não precisamos dar-lhe. Nesse sentido, vamos pensar um pouco sobre isso.
O terceiro ponto seria, brevemente, não uma fundamentação teológica dessa experiência, mas o que a gente pode desentranhar dessa experiência, para ver em que se apóia teologicamente. Porque apoio ela tem, não precisamos dar-lhe. Nesse sentido, vamos pensar um pouco sobre isso.
Em todo seu itinerário e no processo que viveu o Irmão Carlos, até essa identificação cada vez mais entranhada e profunda com Jesus de Nazaré, todo esse processo está baseado em algo que é profundamente evangélico e, portanto, profundamente teológico.
Em todo seu itinerário e no processo que viveu o Irmão Carlos, até essa identificação cada vez mais entranhada e profunda com Jesus de Nazaré, todo esse processo está baseado em algo que é profundamente evangélico e, portanto, profundamente teológico.
a) Como Jesus, o Irmão Carlos vive um descentramento, é um descentrado, um ‘excêntrico’. Não me entendam mal. Seu centro não está nele, está fora. assim como Jesus o tinha no Pai. Isso, teologicamente, é algo enorme, porque significa que ele, a medida em que vai avançando em seu processo, só pode entender-se a partir do absoluto de Deus e a partir do absoluto dos irmãos. Isso é o mais central do Evangelho. Jesus começa anunciando o Reino de Deus e a Boa Notícia aos pobres. É isso. E é algo básico, central, e teria que ser o centro de todo cristão, evidentemente da vida religiosa. E da Igreja. A missão da Igreja não é ela mesma, são os outros. Se nós nos fizermos o centro, estamos completamente fora de lugar. Aqui há matéria para que os teólogos quebrem a cabeça, porque são coisas não muito trabalhadas teologicamente.
a) Como Jesus, o Irmão Carlos vive um descentramento, é um descentrado, um ‘excêntrico’. Não me entendam mal. Seu centro não está nele, está fora. assim como Jesus o tinha no Pai. Isso, teologicamente, é algo enorme, porque significa que ele, a medida em que vai avançando em seu processo, só pode entender-se a partir do absoluto de Deus e a partir do absoluto dos irmãos. Isso é o mais central do Evangelho. Jesus começa anunciando o Reino de Deus e a Boa Notícia aos pobres. É isso. E é algo básico, central, e teria que ser o centro de todo cristão, evidentemente da vida religiosa. E da Igreja. A missão da Igreja não é ela mesma, são os outros. Se nós nos fizermos o centro, estamos completamente fora de lugar. Aqui há matéria para que os teólogos quebrem a cabeça, porque são coisas não muito trabalhadas teologicamente.
b) Outro aspecto dessa base teológica é que o Irmão Carlos, como todos os grandes místicos apaixonados por Jesus (Francisco de Assis, Inácio de Loiola e muitos outros) são impactados e marcados pelo que poderíamos chamar o núcleo Juro da fé cristã, o núcleo que nos custa tragar e por isso é núcleo "duro", que é precisamente que o Deus cristão só pode ser encontrado na carne frágil e que não há outro Deus. Isso, logicamente, é algo enorme, porque supõe uma reviravolta total na imagem que temos de Deus e ainda não conseguimos assimilá-lo, em termos cristãos. Grandes homens e grandes santos o assimilaram, sim, mas em termos de comunidade eclesial, creio que é muito difícil chegar a isso. Experimentar a alegria de descobrir que a imagem que temos de Deus, se revela a nós, em Jesus, de maneira contrária: porque... Onde está em Jesus a onipotência de Deus? Jesus é um 'fracassado'. E, no entanto, nós o reconhecemos como Filho de Deus. Então, que significa a onipotência ou o poder de Deus?
b) Outro aspecto dessa base teológica é que o Irmão Carlos, como todos os grandes místicos apaixonados por Jesus (Francisco de Assis, Inácio de Loiola e muitos outros) são impactados e marcados pelo que poderíamos chamar o núcleo Juro da fé cristã, o núcleo que nos custa tragar e por isso é núcleo "duro", que é precisamente que o Deus cristão só pode ser encontrado na carne frágil e que não há outro Deus. Isso, logicamente, é algo enorme, porque supõe uma reviravolta total na imagem que temos de Deus e ainda não conseguimos assimilá-lo, em termos cristãos. Grandes homens e grandes santos o assimilaram, sim, mas em termos de comunidade eclesial, creio que é muito difícil chegar a isso. Experimentar a alegria de descobrir que a imagem que temos de Deus, se revela a nós, em Jesus, de maneira contrária: porque... Onde está em Jesus a onipotência de Deus? Jesus é um 'fracassado'. E, no entanto, nós o reconhecemos como Filho de Deus. Então, que significa a onipotência ou o poder de Deus?
Faz-se necessária uma reviravolta. Que poder é esse que se revela na impotência? É o poder do amor. Não há outra força, não há outras armas. Jesus vence desarmado. O centurião e o bom ladrão reconhecerão que, embora o tenham destroçado, não puderam tirar dele essa fidelidade e essa fé; que não respondeu da mesma maneira. E com isso vence realmente a injustiça e o ódio. vence-o na raiz, fere-o de morte, mas sendo vítima do mal. Este é o nosso Deus. Na fragilidade, como diz Paulo, mostra-se sua força. É um paradoxo, é algo que derruba (que põe de ponta cabeça) tudo o que nós imaginamos.
Faz-se necessária uma reviravolta. Que poder é esse que se revela na impotência? É o poder do amor. Não há outra força, não há outras armas. Jesus vence desarmado. O centurião e o bom ladrão reconhecerão que, embora o tenham destroçado, não puderam tirar dele essa fidelidade e essa fé; que não respondeu da mesma maneira. E com isso vence realmente a injustiça e o ódio. vence-o na raiz, fere-o de morte, mas sendo vítima do mal. Este é o nosso Deus. Na fragilidade, como diz Paulo, mostra-se sua força. É um paradoxo, é algo que derruba (que põe de ponta cabeça) tudo o que nós imaginamos.
Que significa a sabedoria e a onisciência, que sempre atribuímos a Jesus? Jesus era onisciente, desde o princípio, já sabia tudo, ele soprava e do barro apareciam pombinhas... Os apócrifos, nós os temos na cabeça, entraram em nós pela tradição. E que significam, diante daquilo que vemos que Jesus tem que aprender, que tem que "fazer-se" igual a nós? "Fazer-se" significa um processo, um caminho, não saber, aceitar o que é o limite de toda experiência humana: não dispor do futuro e, por isso, ir abrindo caminho. É aí que tocamos no núcleo duro da fé cristã, isso é um escândalo, isso nos deixa sem fôlego, porque intuímos que pode ter conseqüências.
Que significa a sabedoria e a onisciência, que sempre atribuímos a Jesus? Jesus era onisciente, desde o princípio, já sabia tudo, ele soprava e do barro apareciam pombinhas... Os apócrifos, nós os temos na cabeça, entraram em nós pela tradição. E que significam, diante daquilo que vemos que Jesus tem que aprender, que tem que "fazer-se" igual a nós? "Fazer-se" significa um processo, um caminho, não saber, aceitar o que é o limite de toda experiência humana: não dispor do futuro e, por isso, ir abrindo caminho. É aí que tocamos no núcleo duro da fé cristã, isso é um escândalo, isso nos deixa sem fôlego, porque intuímos que pode ter conseqüências.
Essa proximidade do Senhor encarnado será a paixão do Irmão Carlos: Jesus Modelo Único. É por aí que ele vai aprendendo que Deus só é Deus em Jesus de Nazaré como próximo, como pequeno, e portanto ao contrário do que pensamos, ele se encontra aonde nós não iríamos busca-lo. Que significa que Jesus, como diz a carta aos Hebreus, "nos dias de sua vida tenha aprendido com dor e lágrimas e gritos de sofrimento" até a cruz: "por que me abandonaste"? Significa aprender padecendo, ou seja, obedecer é deixar-se ensinar pela paixão e pela vida, e ir-nos assim configurando a Jesus e a Deus. Essa é a obediência de Jesus. O texto dos Hebreus, com um jogo de palavras muito bonito, diz: "Aprendeu padecendo, e assim fez-se causa de salvação". O que nos salva é que ele tenha vivido por dentro nossa vida, nossa experiência, nossas limitações, nossa fragilidade. Ele nos salva por dentro. Ensina-nos que se pode viver isso de outra maneira. E essa é a grande Boa Nova de Jesus.
Essa proximidade do Senhor encarnado será a paixão do Irmão Carlos: Jesus Modelo Único. É por aí que ele vai aprendendo que Deus só é Deus em Jesus de Nazaré como próximo, como pequeno, e portanto ao contrário do que pensamos, ele se encontra aonde nós não iríamos busca-lo. Que significa que Jesus, como diz a carta aos Hebreus, "nos dias de sua vida tenha aprendido com dor e lágrimas e gritos de sofrimento" até a cruz: "por que me abandonaste"? Significa aprender padecendo, ou seja, obedecer é deixar-se ensinar pela paixão e pela vida, e ir-nos assim configurando a Jesus e a Deus. Essa é a obediência de Jesus. O texto dos Hebreus, com um jogo de palavras muito bonito, diz: "Aprendeu padecendo, e assim fez-se causa de salvação". O que nos salva é que ele tenha vivido por dentro nossa vida, nossa experiência, nossas limitações, nossa fragilidade. Ele nos salva por dentro. Ensina-nos que se pode viver isso de outra maneira. E essa é a grande Boa Nova de Jesus.
c) Assim se explica, quando aprofundamos a vida do Irmão Carlos, por que são inseparáveis nele a paixão por Deus e a paixão pelos irmãos. É impossível separá-los. É muito diferente viver uma causa, defender a justiça, lutar pelos pobres, ou estar com eles porque são o rosto de Deus. É muito diferente a maneira de estar. Isso não supõe nada contra os que lutam por todas as causas boas, mas acho que é muito importante perceber que se nós estamos aí, temos que estar de outra maneira. Não somos "atores sociais" em primeiro lugar, somos "irmãos", somo os que se aproximam. Pode ser que vocês não 'resolvam' muitos problemas, mas lhes dão sentido para que vivam as lutas. Isso não é pouca coisa. É a esperança! Coisa que para um lutador social não é o motivo principal; o motor é mudar a situação, as estruturas. E é necessário mudá-las, mas não podemos confundir as coisas. Por exemplo, na América Latina, muitas vezes, a vida religiosa foi entendida nessa linha; a situação era tão gritante, tão injusta, que então muitos se foram, e talvez foram dizendo: é preciso lutar, isso tem que mudar... Mas, o que nos leva a estarmos aqui? Se tivermos a mesma justificação, já não somos, como dizia o Irmão Carlos, testemunhas de Jesus.
c) Assim se explica, quando aprofundamos a vida do Irmão Carlos, por que são inseparáveis nele a paixão por Deus e a paixão pelos irmãos. É impossível separá-los. É muito diferente viver uma causa, defender a justiça, lutar pelos pobres, ou estar com eles porque são o rosto de Deus. É muito diferente a maneira de estar. Isso não supõe nada contra os que lutam por todas as causas boas, mas acho que é muito importante perceber que se nós estamos aí, temos que estar de outra maneira. Não somos "atores sociais" em primeiro lugar, somos "irmãos", somo os que se aproximam. Pode ser que vocês não 'resolvam' muitos problemas, mas lhes dão sentido para que vivam as lutas. Isso não é pouca coisa. É a esperança! Coisa que para um lutador social não é o motivo principal; o motor é mudar a situação, as estruturas. E é necessário mudá-las, mas não podemos confundir as coisas. Por exemplo, na América Latina, muitas vezes, a vida religiosa foi entendida nessa linha; a situação era tão gritante, tão injusta, que então muitos se foram, e talvez foram dizendo: é preciso lutar, isso tem que mudar... Mas, o que nos leva a estarmos aqui? Se tivermos a mesma justificação, já não somos, como dizia o Irmão Carlos, testemunhas de Jesus.
d) E muito difícil aceitar essa aparente inutilidade. Mas se lermos a vida de Jesus em termos de eficácia humana, foi um fracasso. Se nos pusermos a medir, a quantificar, os resultados da vida de Jesus são muito parcos: um grupinho, que até o final está completamente desorientado e foge. Pouca coisa. E olhem por onde. vinte séculos depois, estamos aqui. Há, então, algo mais do que os resultados.
d) E muito difícil aceitar essa aparente inutilidade. Mas se lermos a vida de Jesus em termos de eficácia humana, foi um fracasso. Se nos pusermos a medir, a quantificar, os resultados da vida de Jesus são muito parcos: um grupinho, que até o final está completamente desorientado e foge. Pouca coisa. E olhem por onde. vinte séculos depois, estamos aqui. Há, então, algo mais do que os resultados.
Engolir isso é muito difícil, porque o mundo moderno busca a eficácia, resultados. As empresas, o que querem é produzir, e isso nós estamos transpondo à igreja e à vida religiosa. Queremos "ver" os frutos. E nos esquecemos do que Jesus disse ao semeador: "outros colherão o que vocês semearam".
Engolir isso é muito difícil, porque o mundo moderno busca a eficácia, resultados. As empresas, o que querem é produzir, e isso nós estamos transpondo à igreja e à vida religiosa. Queremos "ver" os frutos. E nos esquecemos do que Jesus disse ao semeador: "outros colherão o que vocês semearam".
e) Por aí creio que tocamos os eixos de uma teologia profundíssima, muito séria, muito sólida, que dá base à experiência espiritual do Irmão Carlos. E dela é inseparável toda essa dimensão contemplativa: algo que tem que impregnar toda a maneira de ser e de viver, porque é alimentando essa contemplação no sentido profundo, que poderemos ir atravessando e desvelando as aparências da realidade até tocar no fundo verdadeiro da realidade. Mas é algo que se deve exercitar, que é preciso alimentar, não se trata de algo espontâneo.
e) Por aí creio que tocamos os eixos de uma teologia profundíssima, muito séria, muito sólida, que dá base à experiência espiritual do Irmão Carlos. E dela é inseparável toda essa dimensão contemplativa: algo que tem que impregnar toda a maneira de ser e de viver, porque é alimentando essa contemplação no sentido profundo, que poderemos ir atravessando e desvelando as aparências da realidade até tocar no fundo verdadeiro da realidade. Mas é algo que se deve exercitar, que é preciso alimentar, não se trata de algo espontâneo.
Será então uma contemplação na vida e da vida, mas vista com os olhos de Jesus. Cada vez se torna mais difícil, no mundo tal como se apresenta, como cristãos, ver positivamente essa realidade, porque o que predomina é a crueldade, o negativo, a injustiça, a destruição, etc. O que leva naturalmente, quase espontaneamente, ao desalento: "Isso não tem jeito". E nós nos esquecemos que, mutatis mutandis, o mundo, quando Jesus se encarnou, não era tão diferente; claro, num outro contexto, evidentemente. No entanto, o olhar que Jesus tinha sobre essa realidade era o olhar terno e amoroso da Trindade, que se encarna nessa realidade e aceita que o filho chegue e nela penetre para fazer-se um de nós.
Será então uma contemplação na vida e da vida, mas vista com os olhos de Jesus. Cada vez se torna mais difícil, no mundo tal como se apresenta, como cristãos, ver positivamente essa realidade, porque o que predomina é a crueldade, o negativo, a injustiça, a destruição, etc. O que leva naturalmente, quase espontaneamente, ao desalento: "Isso não tem jeito". E nós nos esquecemos que, mutatis mutandis, o mundo, quando Jesus se encarnou, não era tão diferente; claro, num outro contexto, evidentemente. No entanto, o olhar que Jesus tinha sobre essa realidade era o olhar terno e amoroso da Trindade, que se encarna nessa realidade e aceita que o filho chegue e nela penetre para fazer-se um de nós.
E esse olhar de Deus continua sobre este mundo; este é o mundo amado por Deus, não existe outro. Deus há de ver algo nisso, além do que vemos nós. Essa presença de Deus, esse olhar de Deus, é tão real como o mal, a injustiça, a destruição, etc. Tão real como isso, mas o que acontece é que nós não o alcançamos, mas faz parte da verdade da realidade, faz parte integrante, porque Deus não volta atrás.
E esse olhar de Deus continua sobre este mundo; este é o mundo amado por Deus, não existe outro. Deus há de ver algo nisso, além do que vemos nós. Essa presença de Deus, esse olhar de Deus, é tão real como o mal, a injustiça, a destruição, etc. Tão real como isso, mas o que acontece é que nós não o alcançamos, mas faz parte da verdade da realidade, faz parte integrante, porque Deus não volta atrás.
A contemplação é precisamente ter olhos para isso, para ir até o fundo desta verdade. Então se entende por que, nessa imersão em nossa vida, na realidade cotidiana e banal e sofrendo e submetendo-se às mesmas contradições, o Irmão Carlos dizia gritar o Evangelho com a vida. De outra maneira. Não lhe faziam falta as palavras, os discursos, nem sermões. Foi exatamente isso que Jesus fez.
A contemplação é precisamente ter olhos para isso, para ir até o fundo desta verdade. Então se entende por que, nessa imersão em nossa vida, na realidade cotidiana e banal e sofrendo e submetendo-se às mesmas contradições, o Irmão Carlos dizia gritar o Evangelho com a vida. De outra maneira. Não lhe faziam falta as palavras, os discursos, nem sermões. Foi exatamente isso que Jesus fez.
Conclusão
Conclusão
Jesus atuou pouquíssimo. Nós nos esquecemos. Isso também seria um tema teológico muito interessante, para fazer uma reviravolta na teologia. Nós nos esquecemos que na vida de Jesus, digamos nos trinta e três anos. a maior parte da vida foi não fazer nada, ou seja, viver a vida comum das pessoas. Isso é o que vocês chamam Nazaré, que é muito mais que uma palavra, que é uma vida. São trinta anos, ou trinta e três. E, no entanto, vamos aos dois últimos anos, onde a missão estrita de Jesus parece ocupar tudo e nós nos esquecemos de todo o resto.
Jesus atuou pouquíssimo. Nós nos esquecemos. Isso também seria um tema teológico muito interessante, para fazer uma reviravolta na teologia. Nós nos esquecemos que na vida de Jesus, digamos nos trinta e três anos. a maior parte da vida foi não fazer nada, ou seja, viver a vida comum das pessoas. Isso é o que vocês chamam Nazaré, que é muito mais que uma palavra, que é uma vida. São trinta anos, ou trinta e três. E, no entanto, vamos aos dois últimos anos, onde a missão estrita de Jesus parece ocupar tudo e nós nos esquecemos de todo o resto.
Que significa, teologicamente, que Jesus tenha que ser entendido a partir da inatividade de toda a sua vida? E como isso nos obriga a interpretar de outra forma sua missão? A missão de Jesus, em realidade, foi estar e viver, e daí vinha sua autoridade. Quando as pessoas se admiram: se não estudou, se não sabe, se não é letrado. Que é isso? De onde lhe vem a força que transmite? Viver é a missão de Jesus, sua verdadeira mensagem.
Que significa, teologicamente, que Jesus tenha que ser entendido a partir da inatividade de toda a sua vida? E como isso nos obriga a interpretar de outra forma sua missão? A missão de Jesus, em realidade, foi estar e viver, e daí vinha sua autoridade. Quando as pessoas se admiram: se não estudou, se não sabe, se não é letrado. Que é isso? De onde lhe vem a força que transmite? Viver é a missão de Jesus, sua verdadeira mensagem.
Então, vocês estão ancorados na maior oferta teológica cristã, que é o Evangelho. Estamos de acordo? Pois vendam tudo mais e comprem esse campo...
Então, vocês estão ancorados na maior oferta teológica cristã, que é o Evangelho. Estamos de acordo? Pois vendam tudo mais e comprem esse campo...
2ª. ATUALIDADE DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD PARA A IGREJA E PARA O MUNDO DE HOJE
2ª. ATUALIDADE DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD PARA A IGREJA E PARA O MUNDO DE HOJE
Pe. Carlos Palácio, SJ
Pe. Carlos Palácio, SJ
Introdução
Introdução
Tal como me formularam o tema desta segunda colocação, trata-se de algo muito sério, muito impressionante, difícil de manejar, porque é mais ou menos isto: "Uma espiritualidade para o mundo atual, a de Carlos de Foucauld" e: "Missão da Fraternidade na Igreja e no mundo de hoje". São dois aspectos de um tema que é para assustar qualquer pessoa. No fundo, são duas afirmações ou aspectos de uma mesma e única realidade. Poderíamos começar dizendo que a espiritualidade do Irmão Carlos é a experiência de ser e viver para os outros.
Tal como me formularam o tema desta segunda colocação, trata-se de algo muito sério, muito impressionante, difícil de manejar, porque é mais ou menos isto: "Uma espiritualidade para o mundo atual, a de Carlos de Foucauld" e: "Missão da Fraternidade na Igreja e no mundo de hoje". São dois aspectos de um tema que é para assustar qualquer pessoa. No fundo, são duas afirmações ou aspectos de uma mesma e única realidade. Poderíamos começar dizendo que a espiritualidade do Irmão Carlos é a experiência de ser e viver para os outros.
Digo isso porque a palavra "espiritualidade" sugere muitas vezes — em certa tradição cristã ao longo dos séculos - algo aéreo, alienado, distante da realidade; recortes de uma experiência, aspectos que se sublinha ou se põe, em primeiro plano, de uma maneira de viver. Há 'carismas' ou 'espiritualidades' que são mais 'devoções'. Para dar um exemplo, as sete chagas do Senhor. Será isso suficiente para alimentar uma verdadeira experiência espiritual, uma espiritualidade? Não se trata de desprezar as devoções, é um exemplo de como muitas vezes a espiritualidade se empobrece, se banaliza.
Digo isso porque a palavra "espiritualidade" sugere muitas vezes — em certa tradição cristã ao longo dos séculos - algo aéreo, alienado, distante da realidade; recortes de uma experiência, aspectos que se sublinha ou se põe, em primeiro plano, de uma maneira de viver. Há 'carismas' ou 'espiritualidades' que são mais 'devoções'. Para dar um exemplo, as sete chagas do Senhor. Será isso suficiente para alimentar uma verdadeira experiência espiritual, uma espiritualidade? Não se trata de desprezar as devoções, é um exemplo de como muitas vezes a espiritualidade se empobrece, se banaliza.
Nesse sentido, creio que a força da espiritualidade do Irmão Carlos é como o sopro que o faz viver, o sopro que alenta sua experiência de vida, de existência. E que não se pode reduzir a um aspecto, pois é o conjunto desta maneira de viver que deve alimentar a vida e que a alimenta.
Nesse sentido, creio que a força da espiritualidade do Irmão Carlos é como o sopro que o faz viver, o sopro que alenta sua experiência de vida, de existência. E que não se pode reduzir a um aspecto, pois é o conjunto desta maneira de viver que deve alimentar a vida e que a alimenta.
A raiz do que se poderia chamar espiritualidade do Irmão Carlos é a experiência de viver com Espírito. Por isso não se pode separar os aspectos, por exemplo: a espiritualidade do Irmão Carlos se alimentaria da adoração. Sem dúvida, é um aspecto importante em sua experiência de vida, mas é um aspecto que não se pode separar, como tampouco se pode reduzir sua espiritualidade à oração de abandono. E essa totalidade que inspira, que alenta e dá sentido ao viver. Por isso digo que são como dois lados de uma mesma experiência e realidade. O tema de hoje é como voltar a olhar a experiência a partir de um outro prisma.
A raiz do que se poderia chamar espiritualidade do Irmão Carlos é a experiência de viver com Espírito. Por isso não se pode separar os aspectos, por exemplo: a espiritualidade do Irmão Carlos se alimentaria da adoração. Sem dúvida, é um aspecto importante em sua experiência de vida, mas é um aspecto que não se pode separar, como tampouco se pode reduzir sua espiritualidade à oração de abandono. E essa totalidade que inspira, que alenta e dá sentido ao viver. Por isso digo que são como dois lados de uma mesma experiência e realidade. O tema de hoje é como voltar a olhar a experiência a partir de um outro prisma.
1 - Situação espiritual do mundo atual
1 - Situação espiritual do mundo atual
Num primeiro momento, eu gostaria de refletir com vocês em que sentido esse talante espiritual - mais do que espiritualidade - do Irmão Carlos é uma proposta que pode interessar ao mundo de hoje. Onde e como situar essa proposta? Para isso. pode ser útil captar o que o Irmão Carlos introduz de verdadeiramente novo na história da espiritualidade cristã e o que há nela de inspirador para o momento de nosso mundo e de nossa cultura.
Num primeiro momento, eu gostaria de refletir com vocês em que sentido esse talante espiritual - mais do que espiritualidade - do Irmão Carlos é uma proposta que pode interessar ao mundo de hoje. Onde e como situar essa proposta? Para isso. pode ser útil captar o que o Irmão Carlos introduz de verdadeiramente novo na história da espiritualidade cristã e o que há nela de inspirador para o momento de nosso mundo e de nossa cultura.
Em grande parte o mundo atual, a sociedade atual, nossa cultura pós-moderna, se apresentam como um 'mundo sem Deus'. É um pouco o que veicula a cultura moderna e pós-moderna. O homem moderno se fez o centro de seu ser, de sua vida. e em certo sentido pode prescindir em tudo dessa referência a Deus. Por isso se fala tanto (já desde o século XIX) da 'morte de Deus'. Ou cada vez sentimos mais, no modo de viver das pessoas, a 'ausência de Deus'.
Em grande parte o mundo atual, a sociedade atual, nossa cultura pós-moderna, se apresentam como um 'mundo sem Deus'. É um pouco o que veicula a cultura moderna e pós-moderna. O homem moderno se fez o centro de seu ser, de sua vida. e em certo sentido pode prescindir em tudo dessa referência a Deus. Por isso se fala tanto (já desde o século XIX) da 'morte de Deus'. Ou cada vez sentimos mais, no modo de viver das pessoas, a 'ausência de Deus'.
As novas gerações parecem dispensar tudo isso. E isso reflete na perda de valores, na falta de sentido da vida, nesse vazio em que as pessoas não sabem o que buscam. Como se reflete também na busca anárquica do 'espiritual' em todas as formas possíveis, muitas vezes as mais exóticas. Mas nessa busca há uma sede de algo que mostra que o ser humano não pode. sem mais, abandonar uma referência à Transcendência. Essa busca muitas vezes se contenta com pequenas transcendências, poderíamos dizer, que de alguma maneira nos fazem sair de nós mesmos, mas que não se atrevem a chegar à experiência da verdadeira Transcendência. Pequenas transcendências que podem ser meu grupinho de amigos, meu clube, minha região... Isto nos faz olhar um pouquinho mais além de nós, mas não nos tira de nós mesmos.
As novas gerações parecem dispensar tudo isso. E isso reflete na perda de valores, na falta de sentido da vida, nesse vazio em que as pessoas não sabem o que buscam. Como se reflete também na busca anárquica do 'espiritual' em todas as formas possíveis, muitas vezes as mais exóticas. Mas nessa busca há uma sede de algo que mostra que o ser humano não pode. sem mais, abandonar uma referência à Transcendência. Essa busca muitas vezes se contenta com pequenas transcendências, poderíamos dizer, que de alguma maneira nos fazem sair de nós mesmos, mas que não se atrevem a chegar à experiência da verdadeira Transcendência. Pequenas transcendências que podem ser meu grupinho de amigos, meu clube, minha região... Isto nos faz olhar um pouquinho mais além de nós, mas não nos tira de nós mesmos.
Neste sentido, muitas vezes na própria Igreja, a maneira de situar-se diante desta realidade cultural, aquela que nos toca viver, está mais habitada pelo que João XXIII chamava os "profetas da desgraça", que não sabiam ver os sinais de esperança, que vêm tudo mal. Isso impede que se possa responder a essa situação de maneira criativa, com algo que responda de fato à necessidade dessa situação.
Neste sentido, muitas vezes na própria Igreja, a maneira de situar-se diante desta realidade cultural, aquela que nos toca viver, está mais habitada pelo que João XXIII chamava os "profetas da desgraça", que não sabiam ver os sinais de esperança, que vêm tudo mal. Isso impede que se possa responder a essa situação de maneira criativa, com algo que responda de fato à necessidade dessa situação.
Digo isso porque a este que chamamos muito genericamente 'mundo sem Deus', quer-se responder muitas vezes com um "Deus sem mundo", ou seja com propostas espirituais que não correspondem a essa situação. Eu creio que, atualmente, no âmbito da proposta da fé atualmente, da experiência cristã e de uma espiritualidade capaz de dar sentido ao que se vive hoje. há uma ausência a notável de propostas eclesiais que sejam atraentes.
Digo isso porque a este que chamamos muito genericamente 'mundo sem Deus', quer-se responder muitas vezes com um "Deus sem mundo", ou seja com propostas espirituais que não correspondem a essa situação. Eu creio que, atualmente, no âmbito da proposta da fé atualmente, da experiência cristã e de uma espiritualidade capaz de dar sentido ao que se vive hoje. há uma ausência a notável de propostas eclesiais que sejam atraentes.
A resposta, muitas vezes, é endurecer os aspectos doutrinais, mas isso não responde aos problemas das pessoas e, portanto, não alimenta a experiência. Isso não significa que a doutrina não tenha importância. Mas no seu devido lugar. Nenhuma doutrina pode substituir a experiência viva. Cada coisa em seu lugar. Hoje predomina o doutrinai sobre o experiencial na maneira de propor a fé cristã. Ou então se insiste nos ritos, nos ritualismos que muitas vezes não chegam até a vida, não tocam a vida. É preciso ir à Missa porque é preciso ir à Missa e, assim, as pessoas deixam de ir à Missa... Ou é preciso batizar porque é preciso batizar e a maioria das famílias jovens não batizam mais. Mas isso não se resolve afirmando intransigentemente a lei, é preciso, ao contrário, ver como ajudar essas pessoas a descobrirem e a fazerem uma experiência que, depois, poderá formular-se em doutrina.
A resposta, muitas vezes, é endurecer os aspectos doutrinais, mas isso não responde aos problemas das pessoas e, portanto, não alimenta a experiência. Isso não significa que a doutrina não tenha importância. Mas no seu devido lugar. Nenhuma doutrina pode substituir a experiência viva. Cada coisa em seu lugar. Hoje predomina o doutrinai sobre o experiencial na maneira de propor a fé cristã. Ou então se insiste nos ritos, nos ritualismos que muitas vezes não chegam até a vida, não tocam a vida. É preciso ir à Missa porque é preciso ir à Missa e, assim, as pessoas deixam de ir à Missa... Ou é preciso batizar porque é preciso batizar e a maioria das famílias jovens não batizam mais. Mas isso não se resolve afirmando intransigentemente a lei, é preciso, ao contrário, ver como ajudar essas pessoas a descobrirem e a fazerem uma experiência que, depois, poderá formular-se em doutrina.
Ou então, refugiar-se nas práticas espirituais tradicionais, que se repetem mecanicamente, mas que pouco ajudam. Nesse sentido, creio eu, sem querer fazer julgamentos contundentes, os chamados "movimentos eclesiais" (não sei aqui como funcionam, se são muitos ou não, mas na América Latina e no Brasil concretamente, proliferam de tal maneira que a gente fica pasmado) são movimentos de massa, atraem muita gente, mas pessoas já tocadas pela fé. A grande maioria das pessoas que não crêem, não vai atrás desses movimentos que buscam o sensacional, o espetáculo, o puramente emotivo. Tocam a emoção das pessoas. Mas, claro, quando acaba a emoção, a pessoa fica sem nada. Não se dá substância, consistência às coisas.
Ou então, refugiar-se nas práticas espirituais tradicionais, que se repetem mecanicamente, mas que pouco ajudam. Nesse sentido, creio eu, sem querer fazer julgamentos contundentes, os chamados "movimentos eclesiais" (não sei aqui como funcionam, se são muitos ou não, mas na América Latina e no Brasil concretamente, proliferam de tal maneira que a gente fica pasmado) são movimentos de massa, atraem muita gente, mas pessoas já tocadas pela fé. A grande maioria das pessoas que não crêem, não vai atrás desses movimentos que buscam o sensacional, o espetáculo, o puramente emotivo. Tocam a emoção das pessoas. Mas, claro, quando acaba a emoção, a pessoa fica sem nada. Não se dá substância, consistência às coisas.
Esse tipo de abordagem não chega aos que não crêem. No fundo, é uma resposta tradicional, incapaz de distanciar-se de um passado conhecido e de responder com criatividade ao desafio que nos coloca essa realidade presente. No fundo, há como um medo de confrontrar-se com essa vida e, por isso, muitas vezes essas 'espiritualidades', diria eu, são espiritualidades de fuga. Fogem da realidade, se escondem. É o que eu dizia: a um 'mundo sem Deus' se oferece 'um Deus sem mundo'. Como se dissessem: eu tenho um Deus, mas não tem nada a ver com o que está passando, com o que se vive, com os problemas reais das pessoas, etc.
Esse tipo de abordagem não chega aos que não crêem. No fundo, é uma resposta tradicional, incapaz de distanciar-se de um passado conhecido e de responder com criatividade ao desafio que nos coloca essa realidade presente. No fundo, há como um medo de confrontrar-se com essa vida e, por isso, muitas vezes essas 'espiritualidades', diria eu, são espiritualidades de fuga. Fogem da realidade, se escondem. É o que eu dizia: a um 'mundo sem Deus' se oferece 'um Deus sem mundo'. Como se dissessem: eu tenho um Deus, mas não tem nada a ver com o que está passando, com o que se vive, com os problemas reais das pessoas, etc.
2. A proposta espiritual do Irmão Carlos
2. A proposta espiritual do Irmão Carlos
Frente a isso, como eu qualificaria a espiritualidade do Irmão Carlos? Com essa simples frase: "Deus no coração do mundo". A experiência de Deus, nós a fazemos em plena realidade da vida com todos os seus problemas. É aí que temos que encontrar Deus, é aí onde Deus tem que iluminar a nossa existência. Creio que isso é uma das características da vida, do modo de ser do Irmão Carlos e do que é o espírito dessa experiência, de onde viria essa espiritualidade. É uma espiritualidade da Encarnação. Por isso é tão central nessa experiência descobrir Deus como o Deus de Jesus. Não se trata de qualquer experiência espiritual ou de qualquer transcendência: trata-se de um Deus que se revela no coração da realidade humana de Jesus. Jesus não é simplesmente a roupagem humana de Deus, mas é Deus por dentro de nossa existência humana, sentindo, experimentando, vivendo. E ao descobrir esse Deus de Jesus, a vida vai se iluminando de outra maneira, os problemas recebem outro sentido.
Frente a isso, como eu qualificaria a espiritualidade do Irmão Carlos? Com essa simples frase: "Deus no coração do mundo". A experiência de Deus, nós a fazemos em plena realidade da vida com todos os seus problemas. É aí que temos que encontrar Deus, é aí onde Deus tem que iluminar a nossa existência. Creio que isso é uma das características da vida, do modo de ser do Irmão Carlos e do que é o espírito dessa experiência, de onde viria essa espiritualidade. É uma espiritualidade da Encarnação. Por isso é tão central nessa experiência descobrir Deus como o Deus de Jesus. Não se trata de qualquer experiência espiritual ou de qualquer transcendência: trata-se de um Deus que se revela no coração da realidade humana de Jesus. Jesus não é simplesmente a roupagem humana de Deus, mas é Deus por dentro de nossa existência humana, sentindo, experimentando, vivendo. E ao descobrir esse Deus de Jesus, a vida vai se iluminando de outra maneira, os problemas recebem outro sentido.
No fundo, creio que essa maneira de ser recolhe plenamente o que Jesus, no evangelho de São João diz tão insistentemente a seus discípulos: "Vocês não são do mundo, mas têm que estar no mundo". Uma coisa é estar metidos no mundo, outra coisa é ser como os outros, no sentido de viver da mesma maneira. É preciso estar neste mundo, porque é o mundo pelo qual Deus dá a vida e não se arrepende, não volta atrás; mas é preciso estar como ele, de outra maneira. Claro que Jesus está neste mundo, sofrendo o que faz sofrer todo ser humano. Não porque lhe agrade, mas por opção, por amor, porque quer abrir esta realidade à experiência do amor próximo (que está perto) de Jesus. É isso que pode abrir-nos à experiência de que a simples 'presença', esse 'estar', aparentemente inútil, não é tão inútil, porque vai nos dando o sentido de que outro mundo é possível. E não como pura utopia, como sonho, mas como realidade, porque esta realidade tão cruel já foi tocada por essa presença do Senhor. E isso é irreversível, ou seja, o futuro deste mundo não está ainda por decidir; esta ambigüidade foi dirimida com a ressurreição de Jesus, depois de ter atravessado toda essa realidade, sofrido essa realidade e tê-la aberto à novidade de Deus.
No fundo, creio que essa maneira de ser recolhe plenamente o que Jesus, no evangelho de São João diz tão insistentemente a seus discípulos: "Vocês não são do mundo, mas têm que estar no mundo". Uma coisa é estar metidos no mundo, outra coisa é ser como os outros, no sentido de viver da mesma maneira. É preciso estar neste mundo, porque é o mundo pelo qual Deus dá a vida e não se arrepende, não volta atrás; mas é preciso estar como ele, de outra maneira. Claro que Jesus está neste mundo, sofrendo o que faz sofrer todo ser humano. Não porque lhe agrade, mas por opção, por amor, porque quer abrir esta realidade à experiência do amor próximo (que está perto) de Jesus. É isso que pode abrir-nos à experiência de que a simples 'presença', esse 'estar', aparentemente inútil, não é tão inútil, porque vai nos dando o sentido de que outro mundo é possível. E não como pura utopia, como sonho, mas como realidade, porque esta realidade tão cruel já foi tocada por essa presença do Senhor. E isso é irreversível, ou seja, o futuro deste mundo não está ainda por decidir; esta ambigüidade foi dirimida com a ressurreição de Jesus, depois de ter atravessado toda essa realidade, sofrido essa realidade e tê-la aberto à novidade de Deus.
Esperar de maneira cristã não é esperar cegamente, é esperar com sentido, com um sentido que está aí. Essa experiência está no coração da espiritualidade do Irmão Carlos e é isso que o leva a ser solidário com todos os homens e mulheres, com o mundo, com a realidade mais dura; mas solidário com a mesma solidariedade de Jesus, com a solidariedade de Deus.
Esperar de maneira cristã não é esperar cegamente, é esperar com sentido, com um sentido que está aí. Essa experiência está no coração da espiritualidade do Irmão Carlos e é isso que o leva a ser solidário com todos os homens e mulheres, com o mundo, com a realidade mais dura; mas solidário com a mesma solidariedade de Jesus, com a solidariedade de Deus.
À luz da experiência de Jesus, com o Irmão Carlos aprendemos a estar na vida saboreando antecipadamente o fato de que cada uma destas realidades pode ser religada a Deus. pode ser posta em ligação com Deus, porque foi sentida por Deus. padecida por Ele e assim aberta ao Pai em puro abandono. É isso que nos permite crer verdadeiramente que o ser humano é mais do que nos querem fazer crer. E apostar nisso é toda uma espiritualidade.
À luz da experiência de Jesus, com o Irmão Carlos aprendemos a estar na vida saboreando antecipadamente o fato de que cada uma destas realidades pode ser religada a Deus. pode ser posta em ligação com Deus, porque foi sentida por Deus. padecida por Ele e assim aberta ao Pai em puro abandono. É isso que nos permite crer verdadeiramente que o ser humano é mais do que nos querem fazer crer. E apostar nisso é toda uma espiritualidade.
Como classificar isso? É a espiritualidade de Deus no coração do mundo. Poderíamos dizer que é essencialmente o Evangelho, a simplicidade evangélica. Tão simples assim! Parece quase impossível. Mas que significa a expressão 'Senhor do impossível?' É essa a simplicidade da espiritualidade; como dizia Francisco de Assis, no 'Evangelho sem glosa', não ao pé da letra, mas sem glosa, isto é, sem adoçá-lo, sem que o matizemos demais. Isso não é fácil, mas é o que o Irmão Carlos queria viver. E é aí que aparece precisamente a simplicidade dessa espiritualidade evangélica e o sentido profundo do estar, da presença, do partilhar, do viver junto.
Como classificar isso? É a espiritualidade de Deus no coração do mundo. Poderíamos dizer que é essencialmente o Evangelho, a simplicidade evangélica. Tão simples assim! Parece quase impossível. Mas que significa a expressão 'Senhor do impossível?' É essa a simplicidade da espiritualidade; como dizia Francisco de Assis, no 'Evangelho sem glosa', não ao pé da letra, mas sem glosa, isto é, sem adoçá-lo, sem que o matizemos demais. Isso não é fácil, mas é o que o Irmão Carlos queria viver. E é aí que aparece precisamente a simplicidade dessa espiritualidade evangélica e o sentido profundo do estar, da presença, do partilhar, do viver junto.
É assim que vão aparecendo todos os traços que víamos ontem. Por exemplo, é uma espiritualidade de amor oblativo, porque só se pode viver assim por amor. E, portanto, é uma espiritualidade eucarística no sentido que o Irmão Carlos lhe dá: a vida entregada, a vida oferecida. São coisas tão simples e tão enormes, que as tragamos sem pensar.
É assim que vão aparecendo todos os traços que víamos ontem. Por exemplo, é uma espiritualidade de amor oblativo, porque só se pode viver assim por amor. E, portanto, é uma espiritualidade eucarística no sentido que o Irmão Carlos lhe dá: a vida entregada, a vida oferecida. São coisas tão simples e tão enormes, que as tragamos sem pensar.
Será isso o que vivemos? Será essa a espiritualidade que transmitimos? Eu me refiro mais ao modo pelo qual a Igreja se apresenta no mundo de hoje. No fundo, poderíamos dizer que essa espiritualidade nos permite, num mundo aparentemente sem Deus. estar onde Deus está e não onde o imaginamos ou onde queremos colocá-lo.
Será isso o que vivemos? Será essa a espiritualidade que transmitimos? Eu me refiro mais ao modo pelo qual a Igreja se apresenta no mundo de hoje. No fundo, poderíamos dizer que essa espiritualidade nos permite, num mundo aparentemente sem Deus. estar onde Deus está e não onde o imaginamos ou onde queremos colocá-lo.
O que dá uma força surpreendente a essa maneira de ser e de viver é que essa presença que alenta e dá sentido à vida das pessoas, aparentemente inútil, é o que revela a chamada parábola do Juízo final. Nela se manifesta de que lado se posicionou e estava Deus neste mundo aparentemente sem sentido. Isso não tem muito de religioso, de espiritual, no sentido fácil destas palavras, mas tem tudo da espiritualidade da Encarnação.
O que dá uma força surpreendente a essa maneira de ser e de viver é que essa presença que alenta e dá sentido à vida das pessoas, aparentemente inútil, é o que revela a chamada parábola do Juízo final. Nela se manifesta de que lado se posicionou e estava Deus neste mundo aparentemente sem sentido. Isso não tem muito de religioso, de espiritual, no sentido fácil destas palavras, mas tem tudo da espiritualidade da Encarnação.
3. Missão atual dessa espiritualidade na Igreja e no mundo
3. Missão atual dessa espiritualidade na Igreja e no mundo
Situar esta experiência ou esta espiritualidade dessa maneira é importante para aquilo que nos preocupa: Qual é a atualidade desta experiência? Para captar isso é necessário dar-se conta do contexto no qual nos situamos e que respostas tentamos dar e que poderia dar - e certamente pode dar - a proposta do Irmão Carlos. E com isso passamos já à missão desta experiência e desta espiritualidade na Igreja e no mundo.
Situar esta experiência ou esta espiritualidade dessa maneira é importante para aquilo que nos preocupa: Qual é a atualidade desta experiência? Para captar isso é necessário dar-se conta do contexto no qual nos situamos e que respostas tentamos dar e que poderia dar - e certamente pode dar - a proposta do Irmão Carlos. E com isso passamos já à missão desta experiência e desta espiritualidade na Igreja e no mundo.
a) "Algo novo"...
a) "Algo novo"...
No Irmão Carlos irrompe algo que não existia na tradição anterior. Que não existia dessa maneira, que nos faz voltar à origem,pondo entre parêntese um longo tempo de história, para voltar às origens. Mas esse princípio tinha sido algo suavizado ao longo dos séculos na espiritualidade cristã. No Irmão Carlos há uma novidade, algo que o deixava sempre inquieto: queria algo novo, radical; não sabia como nomeá-lo, não sabia como formulá-lo, plasmá-lo, mas intuía que se tratava de algo que não existia, que não se encontrava em parte nenhuma.
No Irmão Carlos irrompe algo que não existia na tradição anterior. Que não existia dessa maneira, que nos faz voltar à origem,pondo entre parêntese um longo tempo de história, para voltar às origens. Mas esse princípio tinha sido algo suavizado ao longo dos séculos na espiritualidade cristã. No Irmão Carlos há uma novidade, algo que o deixava sempre inquieto: queria algo novo, radical; não sabia como nomeá-lo, não sabia como formulá-lo, plasmá-lo, mas intuía que se tratava de algo que não existia, que não se encontrava em parte nenhuma.
Visto a partir da história da Vida Religiosa, parece-me que depois do grande peso que teve no século V a vida monástica, as ordens mendicantes a partir da idade média e no princípio da idade moderna Inácio de Loiola, com outra visão de vida religiosa apostólica, só com o aparecimento do Irmão Carlos surgiu algo verdadeiramente novo, inédito. Santo Inácio teve que lutar muito para que sua intuição não fosse reduzida ao monástico: não queria coros, penitências nem outras coisas semelhantes, porque queria ir ao mundo, aos homens, ao que ia aparecendo durante o século XVI que era o chamado novo mundo, as grandes descobertas, as cidades grandes, etc. É o que passou-se a chamar '"vida religiosa apostólica", que depois foi se desenvolvendo de maneira muito variada até o século XX. E nesse momento surge o Irmão Carlos com outra fórmula que não se encaixa em nada disso, porque certamente não é uma vida monástica, certamente não é uma vida contemplativa como a tradicional e certamente não é uma vida apostólica como a que nós conhecemos. Mas tem de tudo: tem fraternidade, tem contemplação e tem missão. É algo paradoxal. Então, onde situá-lo?
Visto a partir da história da Vida Religiosa, parece-me que depois do grande peso que teve no século V a vida monástica, as ordens mendicantes a partir da idade média e no princípio da idade moderna Inácio de Loiola, com outra visão de vida religiosa apostólica, só com o aparecimento do Irmão Carlos surgiu algo verdadeiramente novo, inédito. Santo Inácio teve que lutar muito para que sua intuição não fosse reduzida ao monástico: não queria coros, penitências nem outras coisas semelhantes, porque queria ir ao mundo, aos homens, ao que ia aparecendo durante o século XVI que era o chamado novo mundo, as grandes descobertas, as cidades grandes, etc. É o que passou-se a chamar '"vida religiosa apostólica", que depois foi se desenvolvendo de maneira muito variada até o século XX. E nesse momento surge o Irmão Carlos com outra fórmula que não se encaixa em nada disso, porque certamente não é uma vida monástica, certamente não é uma vida contemplativa como a tradicional e certamente não é uma vida apostólica como a que nós conhecemos. Mas tem de tudo: tem fraternidade, tem contemplação e tem missão. É algo paradoxal. Então, onde situá-lo?
Digo que não tem nada de vida monástica, embora com um elemento tão importante como a fraternidade. A vida monástica surge com toda a força do Espírito num momento em que era necessário pôr em questão a adaptação da Igreja ao Império. Mas pouco a pouco, foi se distanciando dessa realidade, criando seu mundo à parte, distante da realidade. Não era certamente isso que buscava o Irmão Carlos. Ele buscava tateando, mas não sem saber (docta ignorantia!) . Por isso pode dizer a si mesmo: não é por aí, é 'outra coisa'. Isso o levou a fazer um longo caminho para explicitar o que queria. Por isso não comprometeu sua vida nesse caminho.
Digo que não tem nada de vida monástica, embora com um elemento tão importante como a fraternidade. A vida monástica surge com toda a força do Espírito num momento em que era necessário pôr em questão a adaptação da Igreja ao Império. Mas pouco a pouco, foi se distanciando dessa realidade, criando seu mundo à parte, distante da realidade. Não era certamente isso que buscava o Irmão Carlos. Ele buscava tateando, mas não sem saber (docta ignorantia!) . Por isso pode dizer a si mesmo: não é por aí, é 'outra coisa'. Isso o levou a fazer um longo caminho para explicitar o que queria. Por isso não comprometeu sua vida nesse caminho.
Não era tampouco uma 'vida apostólica' no sentido habitual e corrente dessa expressão, na qual mais de uma vez se confunde a missão com as tarefas realizadas. Ele buscava um que fazer, mas indubitavelmente se sentia 'enviado', não recusava realizar uma 'missão'. A Fraternidade tem uma missão. Não no sentido de 'fazer' como às vezes se entende em muitas congregações. O Irmão Carlos não 'fazia' nada e, no entanto, 'vivia' o essencial. Nesse sentido, essa é a 'palavra inédita' que brota nele e que clama por sulcos através dos quais expressar-se, não encontrando na tradição formas adequadas. Como no Evangelho: "vinho novo em odres novos". Os odres velhos não lhe serviam, queria expressá-lo à sua maneira.
Não era tampouco uma 'vida apostólica' no sentido habitual e corrente dessa expressão, na qual mais de uma vez se confunde a missão com as tarefas realizadas. Ele buscava um que fazer, mas indubitavelmente se sentia 'enviado', não recusava realizar uma 'missão'. A Fraternidade tem uma missão. Não no sentido de 'fazer' como às vezes se entende em muitas congregações. O Irmão Carlos não 'fazia' nada e, no entanto, 'vivia' o essencial. Nesse sentido, essa é a 'palavra inédita' que brota nele e que clama por sulcos através dos quais expressar-se, não encontrando na tradição formas adequadas. Como no Evangelho: "vinho novo em odres novos". Os odres velhos não lhe serviam, queria expressá-lo à sua maneira.
Creio que nisso está o profundo significado da intuição do Irmão Carlos para a Igreja. Sua presença é um verdadeiro 'carisma' para a Igreja, uma 'graça', um 'dom', algo imprevisível que não pode ser domesticado. Porque o Espírito suscita seus dons quando quer e como quer. E não podemos controlá-lo. Por isso não 'controlaram' o Irmão Carlos. Sim, porque as outras formas de vida religiosa a partir do século XVII, Santo Inácio, por exemplo, lutou muitíssimo para romper o estilo de vida monástica, mas a companhia foi progressivamente obrigada a viver durante muito tempo dentro de um esquema monástico (como monges que faziam pequenas escapadas para a missão e depois voltassem ao mosteiro porque aí estariam protegidos). O que era uma contradição com a inspiração original de Santo Inácio. Assim se voltava a pôr o novo em odres velhos, sem deixar-lhe seu espaço como verdadeiro dom para a Igreja.
Creio que nisso está o profundo significado da intuição do Irmão Carlos para a Igreja. Sua presença é um verdadeiro 'carisma' para a Igreja, uma 'graça', um 'dom', algo imprevisível que não pode ser domesticado. Porque o Espírito suscita seus dons quando quer e como quer. E não podemos controlá-lo. Por isso não 'controlaram' o Irmão Carlos. Sim, porque as outras formas de vida religiosa a partir do século XVII, Santo Inácio, por exemplo, lutou muitíssimo para romper o estilo de vida monástica, mas a companhia foi progressivamente obrigada a viver durante muito tempo dentro de um esquema monástico (como monges que faziam pequenas escapadas para a missão e depois voltassem ao mosteiro porque aí estariam protegidos). O que era uma contradição com a inspiração original de Santo Inácio. Assim se voltava a pôr o novo em odres velhos, sem deixar-lhe seu espaço como verdadeiro dom para a Igreja.
Os verdadeiros carismas, em sua novidade, são suscitados pelo Espírito para que todos os cristãos possam perceber e descobrir que devemos voltar ao Evangelho constantemente: que isso não se pode supor já conseguido. E que às vezes nos afastamos demais dele. Para reavivar essa memória, para que essa consciência chegue a todos, é necessário que alguns encarnem esse carisma, lhe dêem vida e façam descobrir sua atração. Creio que é esse o sentido da Fraternidade. Vocês são uma espécie de "Resto de Israel", com a função que esse 'resto' tinha na história do povo de Israel. Em nosso caso, para ajudar todos a recuperar o entusiasmo inicial do acontecido com a irrupção de Jesus e do Evangelho na história.
Os verdadeiros carismas, em sua novidade, são suscitados pelo Espírito para que todos os cristãos possam perceber e descobrir que devemos voltar ao Evangelho constantemente: que isso não se pode supor já conseguido. E que às vezes nos afastamos demais dele. Para reavivar essa memória, para que essa consciência chegue a todos, é necessário que alguns encarnem esse carisma, lhe dêem vida e façam descobrir sua atração. Creio que é esse o sentido da Fraternidade. Vocês são uma espécie de "Resto de Israel", com a função que esse 'resto' tinha na história do povo de Israel. Em nosso caso, para ajudar todos a recuperar o entusiasmo inicial do acontecido com a irrupção de Jesus e do Evangelho na história.
b) "... que é para todos".
b) "... que é para todos".
Isso é importante porque durante muito tempo a Vida Religiosa foi considerada na Igreja como um "estado de perfeição". Já a palavra 'estado' é problemática. É como dizer que já chegamos, que já alcançamos a meta. O que equivale a dizer: 'podemos deixar de lado... E com isso se mata o dinamismo e a novidade do Espírito que nos surpreende sempre e não nos deixa tranqüilos, se o escutarmos!
Isso é importante porque durante muito tempo a Vida Religiosa foi considerada na Igreja como um "estado de perfeição". Já a palavra 'estado' é problemática. É como dizer que já chegamos, que já alcançamos a meta. O que equivale a dizer: 'podemos deixar de lado... E com isso se mata o dinamismo e a novidade do Espírito que nos surpreende sempre e não nos deixa tranqüilos, se o escutarmos!
Essa concepção não somente nos fazia mal aos religiosos (a sutil tentação de ser vistos ou de considerar-se como 'elite'), mas também fazia mal ao povo de Deus. Os cristãos "a pé", o povo de Deus, tinham que contentar-se com os mandamentos. O que equivale a empobrecer a vida cristã até esvaziá-la. Não é à toa que o concilio Vaticano II estabelece a igualdade fundamental dos cristãos como premissa da comunidade eclesial: todos são chamados à plenitude da vida cristã, ou seja, à santidade. A partir daí se dá a distinção de funções e de estilos de vida na igreja.
Essa concepção não somente nos fazia mal aos religiosos (a sutil tentação de ser vistos ou de considerar-se como 'elite'), mas também fazia mal ao povo de Deus. Os cristãos "a pé", o povo de Deus, tinham que contentar-se com os mandamentos. O que equivale a empobrecer a vida cristã até esvaziá-la. Não é à toa que o concilio Vaticano II estabelece a igualdade fundamental dos cristãos como premissa da comunidade eclesial: todos são chamados à plenitude da vida cristã, ou seja, à santidade. A partir daí se dá a distinção de funções e de estilos de vida na igreja.
De alguma maneira o Irmão Carlos intuía que o destino e a função da vida religiosa não podiam consistir em isolar-se, não teriam que levar a uma separação do povo cristão. Os religiosos não são uma "casta espiritual'; o que eles vivem é para todos. Por isso é necessário estar nó meio do povo, para que essa experiência fecunde a vida da Igreja e de cada cristão. Não somos religiosos para que nos venerem e nos digam: Como são santos! Era isso que o 'estado de perfeição' insinuava.
De alguma maneira o Irmão Carlos intuía que o destino e a função da vida religiosa não podiam consistir em isolar-se, não teriam que levar a uma separação do povo cristão. Os religiosos não são uma "casta espiritual'; o que eles vivem é para todos. Por isso é necessário estar nó meio do povo, para que essa experiência fecunde a vida da Igreja e de cada cristão. Não somos religiosos para que nos venerem e nos digam: Como são santos! Era isso que o 'estado de perfeição' insinuava.
Creio que esta perspectiva abre uma grande pista para captar o que seja a missão da Fraternidade na Igreja: devolver-nos, a todos, a consciência de que em muitas coisas estamos muito longe do Evangelho e isso pode ser feito sem contestações que assustem. Os mais perigosos não são os que gritam, mas aqueles que vivem: embora não abram a boca, incomodam profundamente. É essa a contestação evangélica. O Evangelho em si mesmo é 'contestação', porque é contra-cultural. Como vêem, não precisam preocupar-se; têm muito a fazer...
Creio que esta perspectiva abre uma grande pista para captar o que seja a missão da Fraternidade na Igreja: devolver-nos, a todos, a consciência de que em muitas coisas estamos muito longe do Evangelho e isso pode ser feito sem contestações que assustem. Os mais perigosos não são os que gritam, mas aqueles que vivem: embora não abram a boca, incomodam profundamente. É essa a contestação evangélica. O Evangelho em si mesmo é 'contestação', porque é contra-cultural. Como vêem, não precisam preocupar-se; têm muito a fazer...
Dito com outras palavras, a missão da Fraternidade é antes de tudo ser, viver, mais do que 'fazer'. A vida religiosa tradicional (entenda-se vida apostólica 'moderna') sucumbiu muitas vezes, a meu ver, à obsessão de fazer coisas, deixando de lado o que se era, o que se tinha que ser. Ao criar-se essa dicotomia e incorporá-la como se fosse natural, abre-se um abismo entre o que dizemos ser e o que na realidade vivemos. E isso contamina negativamente o que fazemos, porque tão importante é 'aquilo que' fazemos como a maneira de fazê-lo, a maneira pela qual estamos no que fazemos e vivemos. É preciso ter isso muito presente, porque é exatamente o que o Evangelho nos diz: a coerência de vida entre o que se diz e o que se faz. É a contradição denunciada muitas vezes por Jesus no Evangelho quando se refere aos escribas e aos fariseus: "façam o que eles dizem, mas não o que fazem". Ou então, quando nos diz: "Não é o que diz Senhor, Senhor, que se salva, mas aquele que põe em prática, aquele que o vive". No fundo, essa missão de "ser" é o que nós chamamos com outra palavra o "testemunho". Mas não se trata de propor-se para 'dar testemunho'. A vida fala por si mesma; é isso dar testemunho. É um testemunho, se quiserem, não buscado e por isso mesmo autêntico. Em que consiste esse testemunho? Não para que nos digam: Que pessoa boa, que exemplo nos dá! O verdadeiro testemunho cristão é o que revela Jesus Cristo com a própria maneira de viver, sem necessidade de palavras.
Dito com outras palavras, a missão da Fraternidade é antes de tudo ser, viver, mais do que 'fazer'. A vida religiosa tradicional (entenda-se vida apostólica 'moderna') sucumbiu muitas vezes, a meu ver, à obsessão de fazer coisas, deixando de lado o que se era, o que se tinha que ser. Ao criar-se essa dicotomia e incorporá-la como se fosse natural, abre-se um abismo entre o que dizemos ser e o que na realidade vivemos. E isso contamina negativamente o que fazemos, porque tão importante é 'aquilo que' fazemos como a maneira de fazê-lo, a maneira pela qual estamos no que fazemos e vivemos. É preciso ter isso muito presente, porque é exatamente o que o Evangelho nos diz: a coerência de vida entre o que se diz e o que se faz. É a contradição denunciada muitas vezes por Jesus no Evangelho quando se refere aos escribas e aos fariseus: "façam o que eles dizem, mas não o que fazem". Ou então, quando nos diz: "Não é o que diz Senhor, Senhor, que se salva, mas aquele que põe em prática, aquele que o vive". No fundo, essa missão de "ser" é o que nós chamamos com outra palavra o "testemunho". Mas não se trata de propor-se para 'dar testemunho'. A vida fala por si mesma; é isso dar testemunho. É um testemunho, se quiserem, não buscado e por isso mesmo autêntico. Em que consiste esse testemunho? Não para que nos digam: Que pessoa boa, que exemplo nos dá! O verdadeiro testemunho cristão é o que revela Jesus Cristo com a própria maneira de viver, sem necessidade de palavras.
c) "do fazer tarefas a fazer-se próximo/estar perto
c) "do fazer tarefas a fazer-se próximo/estar perto
Num mundo como o nosso, cansado de grandes discursos e já saturado de grandes relatos, se anseia e se grita por pessoas que vivam. É isso que atrai, o que pode suscitar seguidores, o que tem poder de fascinar as pessoas e é capaz de suscitar uma interrogação: Por que essa maneira de ser? Como explicar essa vida? Estarão loucos? São as mesmas interrogações que se fazia sobre Jesus: O que o leva a proceder assim? De onde lhe vem tal autoridade? E não é preciso abrir a boca para isso, nem fazer sermões, nem declarar a doutrina cristã. É a vida que é cristã.
Num mundo como o nosso, cansado de grandes discursos e já saturado de grandes relatos, se anseia e se grita por pessoas que vivam. É isso que atrai, o que pode suscitar seguidores, o que tem poder de fascinar as pessoas e é capaz de suscitar uma interrogação: Por que essa maneira de ser? Como explicar essa vida? Estarão loucos? São as mesmas interrogações que se fazia sobre Jesus: O que o leva a proceder assim? De onde lhe vem tal autoridade? E não é preciso abrir a boca para isso, nem fazer sermões, nem declarar a doutrina cristã. É a vida que é cristã.
No fundo, vejam como essa maneira de ser e essa missão recolhe o que nos diz Jesus na parábola do Samaritano: essa espiritualidade é a espiritualidade de fazer-me próximo/estar perto dos outros. Portanto, a primeira missão dessa espiritualidade é o amor, a compaixão, partilhar a própria vida e o próprio ser. Dessa maneira - é o que vocês experimentam diariamente - o primeiro que levam às pessoas é o sentido, devolvem-lhes a dignidade, a possibilidade de acreditarem em si mesmas, de humanizarem-se, de recuperar a esperança. E, portanto, o sabor da vida. Parece pouco como missão? Claro, vocês "não fizeram nada' (colégios, obras sociais, etc); não fizeram mais do que 'estar' com o povo: em suas lutas, na mesma vida, sofrendo com eles, inspirando-lhes esperança e sentido. Haverá melhor missão que essa?
No fundo, vejam como essa maneira de ser e essa missão recolhe o que nos diz Jesus na parábola do Samaritano: essa espiritualidade é a espiritualidade de fazer-me próximo/estar perto dos outros. Portanto, a primeira missão dessa espiritualidade é o amor, a compaixão, partilhar a própria vida e o próprio ser. Dessa maneira - é o que vocês experimentam diariamente - o primeiro que levam às pessoas é o sentido, devolvem-lhes a dignidade, a possibilidade de acreditarem em si mesmas, de humanizarem-se, de recuperar a esperança. E, portanto, o sabor da vida. Parece pouco como missão? Claro, vocês "não fizeram nada' (colégios, obras sociais, etc); não fizeram mais do que 'estar' com o povo: em suas lutas, na mesma vida, sofrendo com eles, inspirando-lhes esperança e sentido. Haverá melhor missão que essa?
Algo que parece tão simples, mas que os faz entrar de cheio no Evangelho. É o que Jesus dizia ao afirmar: vocês têm que ser fermento, têm que ser sal para dar sabor, luz que ilumine o tenebroso da vida. Dessa maneira ajudam as pessoas a verem no humano - tão esmagado e sofrido - o que não se vê. o invisível, Deus. Dessa maneira vocês os ajudam a crer no futuro com esperança, apesar de tudo aquilo que a realidade parece dizer. Esperar, como diz São Paulo, contra toda esperança. Mas isso só pode ser vivido a partir de Jesus e com ele: porque esperar contra esperança parece absurdo. A não ser que se possa dizer: não creio no que vejo (apesar de tudo que a realidade quer me fazer crer) porque o que não vejo - a vitória de Jesus ressuscitado - é a palavra última e definitiva sobre essa realidade. A realidade é muito mais do que alcanço ver. Por isso espero. De alguma maneira o mal se esgota e é vencido por Jesus, com sua maneira de crer e de esperar, de viver confiante e abandonado: "em tuas mãos".
Algo que parece tão simples, mas que os faz entrar de cheio no Evangelho. É o que Jesus dizia ao afirmar: vocês têm que ser fermento, têm que ser sal para dar sabor, luz que ilumine o tenebroso da vida. Dessa maneira ajudam as pessoas a verem no humano - tão esmagado e sofrido - o que não se vê. o invisível, Deus. Dessa maneira vocês os ajudam a crer no futuro com esperança, apesar de tudo aquilo que a realidade parece dizer. Esperar, como diz São Paulo, contra toda esperança. Mas isso só pode ser vivido a partir de Jesus e com ele: porque esperar contra esperança parece absurdo. A não ser que se possa dizer: não creio no que vejo (apesar de tudo que a realidade quer me fazer crer) porque o que não vejo - a vitória de Jesus ressuscitado - é a palavra última e definitiva sobre essa realidade. A realidade é muito mais do que alcanço ver. Por isso espero. De alguma maneira o mal se esgota e é vencido por Jesus, com sua maneira de crer e de esperar, de viver confiante e abandonado: "em tuas mãos".
A grande missão da Fraternidade, creio eu, e sua grande novidade neste momento da Igreja e do mundo, é manter viva entre nós, na Igreja, a memória viva do Evangelho. E como isso se mantém? Vivendo-o. Assim o Evangelho se inscreve na vida. Um verdadeiro re-escrever o Evangelho hoje que é, de certa maneira o quinto Evangelho feito carne na história. Se isso não é evangelizar, que será evangelizar?
A grande missão da Fraternidade, creio eu, e sua grande novidade neste momento da Igreja e do mundo, é manter viva entre nós, na Igreja, a memória viva do Evangelho. E como isso se mantém? Vivendo-o. Assim o Evangelho se inscreve na vida. Um verdadeiro re-escrever o Evangelho hoje que é, de certa maneira o quinto Evangelho feito carne na história. Se isso não é evangelizar, que será evangelizar?
4. Uma espiritualidade por estrear
4. Uma espiritualidade por estrear
Num último passo, eu gostaria de fazer algumas reflexões a respeito do por que a espiritualidade, assim entendida, é uma espiritualidade para este século, para uma cultura a pós-moderna como a nossa e para esta sociedade.
Num último passo, eu gostaria de fazer algumas reflexões a respeito do por que a espiritualidade, assim entendida, é uma espiritualidade para este século, para uma cultura a pós-moderna como a nossa e para esta sociedade.
Sem dúvida, isso não quer dizer que tenha que ser a única espiritualidade. O espírito pode soprar de muitas maneiras. Mas certamente é uma espiritualidade que tem como principal função ser uma espécie de 'memória crítica' ou 'memória evangélica' daquilo que é a Igreja ou tem que ser em termos cristãos, isto é, a forma evangélica de ser Igreja. Nesse sentido, eu diria que essa espiritualidade está por ser estreada, ela é recém-nova, embora vocês já a tenham vivido durante muitos anos. Que são cinqüenta, oitenta ou noventa anos na maneira de contar o tempo histórico? E insignificante. O tempo histórico se conta por milhões de anos.
Sem dúvida, isso não quer dizer que tenha que ser a única espiritualidade. O espírito pode soprar de muitas maneiras. Mas certamente é uma espiritualidade que tem como principal função ser uma espécie de 'memória crítica' ou 'memória evangélica' daquilo que é a Igreja ou tem que ser em termos cristãos, isto é, a forma evangélica de ser Igreja. Nesse sentido, eu diria que essa espiritualidade está por ser estreada, ela é recém-nova, embora vocês já a tenham vivido durante muitos anos. Que são cinqüenta, oitenta ou noventa anos na maneira de contar o tempo histórico? E insignificante. O tempo histórico se conta por milhões de anos.
Creio que é muito importante perceber isso, porque é como uma semente que necessita muito tempo para germinar. Já caiu na terra, sem dúvida, e talvez hoje vocês já estejam vivendo uma primeira experiência daquilo que significa que o grão que cai na terra tem que morrer para dar fruto... Isso custa. E talvez vocês tenham a sensação de que está por morrer. Atrevo-me a crer que está por nascer, que está por ressuscitar, mas passando por aí: cair na terra, desaparecer, apodrecer para dar frutos.
Creio que é muito importante perceber isso, porque é como uma semente que necessita muito tempo para germinar. Já caiu na terra, sem dúvida, e talvez hoje vocês já estejam vivendo uma primeira experiência daquilo que significa que o grão que cai na terra tem que morrer para dar fruto... Isso custa. E talvez vocês tenham a sensação de que está por morrer. Atrevo-me a crer que está por nascer, que está por ressuscitar, mas passando por aí: cair na terra, desaparecer, apodrecer para dar frutos.
Foi o que o Evangelho significou analogamente para os primeiros apóstolos. Eles o transmitiram, lançaram ao ar a semente da Palavra e tiveram que esperar com paciência até ver os primeiros frutos. O Evangelho não pegou assim de repente, embora os Atos dos Apóstolos nos digam que já no primeiro dia se converteram uns cinco mil com o discurso de Pedro. Mas não parece que tenha sido tão fácil.
Foi o que o Evangelho significou analogamente para os primeiros apóstolos. Eles o transmitiram, lançaram ao ar a semente da Palavra e tiveram que esperar com paciência até ver os primeiros frutos. O Evangelho não pegou assim de repente, embora os Atos dos Apóstolos nos digam que já no primeiro dia se converteram uns cinco mil com o discurso de Pedro. Mas não parece que tenha sido tão fácil.
b) Uma linguagem humana
b) Uma linguagem humana
Por que eu creio que essa experiência tão nova é uma experiência para o futuro? Porque me parece que ela está traduzida na linguagem mais universal possível e se querem - entendam-me bem - menos "religiosa": a linguagem "humana". Essa linguagem, todos a entendem. Pode ser que uma pessoa se assuste quando lhe propomos preceitos de moral, ou na necessidade de crer na união hipostática de Jesus Cristo. Mas se vocês lhes disserem: 'eu estou com você', o entenderão.
Por que eu creio que essa experiência tão nova é uma experiência para o futuro? Porque me parece que ela está traduzida na linguagem mais universal possível e se querem - entendam-me bem - menos "religiosa": a linguagem "humana". Essa linguagem, todos a entendem. Pode ser que uma pessoa se assuste quando lhe propomos preceitos de moral, ou na necessidade de crer na união hipostática de Jesus Cristo. Mas se vocês lhes disserem: 'eu estou com você', o entenderão.
Essa linguagem universal que todos entendem, que significa ela na espiritualidade do Irmão Carlos? Eu creio que é uma forma de transmitir, de fazer compreender que a experiência do Deus de Jesus anima nossa vida, que essa espiritualidade humaniza. E esse humanizar é um passo prévio ao de "cristianizar". A Irmãzinha Madalena o plasmou de modo perfeito numa frase às Irmãzinhas de Jesus: "Sejam humanas antes de ser religiosas". Isso também é profundamente do Irmão Carlos.
Essa linguagem universal que todos entendem, que significa ela na espiritualidade do Irmão Carlos? Eu creio que é uma forma de transmitir, de fazer compreender que a experiência do Deus de Jesus anima nossa vida, que essa espiritualidade humaniza. E esse humanizar é um passo prévio ao de "cristianizar". A Irmãzinha Madalena o plasmou de modo perfeito numa frase às Irmãzinhas de Jesus: "Sejam humanas antes de ser religiosas". Isso também é profundamente do Irmão Carlos.
A linguagem humana tem um valor anterior à explicitação da fé. Por que se pode dizer que essa experiência do Deus de Jesus, essa experiência da encarnação humaniza? Porque em sua vida vocês vão manifestando que, de verdade, Deus e o ser humano não são rivais, que não lutam um contra o outro, isto é, que para ter espaço um não tem que esmagar o outro. E vice-versa, Deus não cresce pisando o homem e o homem não precisa renegar a Deus para ser ele mesmo. Isso seria crescer de maneira inversamente proporcional. Mas não é cristão. O que a Encarnação nos diz é o contrário. Deus, ao assumir por dentro nossa vida, nos faz divinos, eleva ao máximo nossas potencialidades. E o que a filosofia tantas vezes e de diversas formas anunciou: o homem é mais do que ele mesmo, mais do que acredita ser, supera-se a si mesmo, como dizia Pascal. Estou seguro que isso não assusta vocês, mas se eu o dissesse em outros auditórios, não faltaria quem dissesse: que barbaridade! Ele perdeu completamente a fé! O que acontece é que entender o humano dessa maneira é levá-lo até seus limites, é entendê-lo de uma maneira à qual não estamos acostumados. Mergulhar dessa maneira no humano, descer até as profundidades do humano, para aí encontrar Deus é inverter nossa maneira de entender a Deus: não a partir da glória e do triunfo, mas a partir do pequeno.
A linguagem humana tem um valor anterior à explicitação da fé. Por que se pode dizer que essa experiência do Deus de Jesus, essa experiência da encarnação humaniza? Porque em sua vida vocês vão manifestando que, de verdade, Deus e o ser humano não são rivais, que não lutam um contra o outro, isto é, que para ter espaço um não tem que esmagar o outro. E vice-versa, Deus não cresce pisando o homem e o homem não precisa renegar a Deus para ser ele mesmo. Isso seria crescer de maneira inversamente proporcional. Mas não é cristão. O que a Encarnação nos diz é o contrário. Deus, ao assumir por dentro nossa vida, nos faz divinos, eleva ao máximo nossas potencialidades. E o que a filosofia tantas vezes e de diversas formas anunciou: o homem é mais do que ele mesmo, mais do que acredita ser, supera-se a si mesmo, como dizia Pascal. Estou seguro que isso não assusta vocês, mas se eu o dissesse em outros auditórios, não faltaria quem dissesse: que barbaridade! Ele perdeu completamente a fé! O que acontece é que entender o humano dessa maneira é levá-lo até seus limites, é entendê-lo de uma maneira à qual não estamos acostumados. Mergulhar dessa maneira no humano, descer até as profundidades do humano, para aí encontrar Deus é inverter nossa maneira de entender a Deus: não a partir da glória e do triunfo, mas a partir do pequeno.
Uma amigo meu, jesuíta, tem um livro que se intitula: "Descer ao encontro de Deus". Nosso imaginário nos leva a pensar que é preciso "subir ao encontro de Deus", como se fosse necessário deixar o humano para alcançar a Deus, mas a Encarnação nos diz o contrário, é preciso descer ao encontro de Deus, porque Deus con-descendeu a descer ao nosso encontro. Não se trata de uma teologia inventada pela modernidade; é a carta aos Filipenses que nos diz isso, o hino tão conhecido (Fil 2, 6-11): Jesus, sendo de condição divina, não se agarrou desesperadamente a esse modo de ser, mas aceitou viver essa condição divina de outra forma, esvaziando-se, despojando-se, descendo, identificando-se com o humano, com o mais baixo do humano, como servo até a morte, a ponto de não ser reconhecida sua aparência humana (Is 52, 13).
Uma amigo meu, jesuíta, tem um livro que se intitula: "Descer ao encontro de Deus". Nosso imaginário nos leva a pensar que é preciso "subir ao encontro de Deus", como se fosse necessário deixar o humano para alcançar a Deus, mas a Encarnação nos diz o contrário, é preciso descer ao encontro de Deus, porque Deus con-descendeu a descer ao nosso encontro. Não se trata de uma teologia inventada pela modernidade; é a carta aos Filipenses que nos diz isso, o hino tão conhecido (Fil 2, 6-11): Jesus, sendo de condição divina, não se agarrou desesperadamente a esse modo de ser, mas aceitou viver essa condição divina de outra forma, esvaziando-se, despojando-se, descendo, identificando-se com o humano, com o mais baixo do humano, como servo até a morte, a ponto de não ser reconhecida sua aparência humana (Is 52, 13).
A descida ao humano, com tal radicalismo, só tem duas possíveis saídas: o desespero, ou admitir que o humano que conhecemos é o humano empobrecido, que para chegar ao humano de verdade temos que distanciar-nos dos condicionamentos que nos habitam. O humano nos chega mediatizado, filtrado pelo contexto familiar, social, cultural, etc todos de uma maneira ou de outra passamos por essa experiência. E o Irmão Carlos também, certamente.
A descida ao humano, com tal radicalismo, só tem duas possíveis saídas: o desespero, ou admitir que o humano que conhecemos é o humano empobrecido, que para chegar ao humano de verdade temos que distanciar-nos dos condicionamentos que nos habitam. O humano nos chega mediatizado, filtrado pelo contexto familiar, social, cultural, etc todos de uma maneira ou de outra passamos por essa experiência. E o Irmão Carlos também, certamente.
Normalmente nós trabalhamos com uma redução do 'humano', empobrecido e desgastado por nossa cultura. Para compreender o 'humano cristão' que se revela em Jesus é preciso desprender-se e purificar-se desse humano que nos habita - o humano reduzido, tantas vezes desumano - e descobrir o humano em sua autenticidade. Porque em Jesus se revela o humano como Deus somente o sonhou e o quis. Por isso, ao vivê-lo em plenitude, Jesus evangeliza o humano, o humaniza.
Normalmente nós trabalhamos com uma redução do 'humano', empobrecido e desgastado por nossa cultura. Para compreender o 'humano cristão' que se revela em Jesus é preciso desprender-se e purificar-se desse humano que nos habita - o humano reduzido, tantas vezes desumano - e descobrir o humano em sua autenticidade. Porque em Jesus se revela o humano como Deus somente o sonhou e o quis. Por isso, ao vivê-lo em plenitude, Jesus evangeliza o humano, o humaniza.
d) União de contrários?
d) União de contrários?
A missão de viver imersos no mundo com esse 'espírito' é unir com a vida dois pólos que normalmente separamos (fé e espiritualidade por um lado, a vida por outro) porque nos parecem contraditórios ou pelo menos que se excluem. Mas à luz da encarnação não é assim. Viver e manter essa tensão fecunda é o grande desafio da paradoxal experiência cristã.
A missão de viver imersos no mundo com esse 'espírito' é unir com a vida dois pólos que normalmente separamos (fé e espiritualidade por um lado, a vida por outro) porque nos parecem contraditórios ou pelo menos que se excluem. Mas à luz da encarnação não é assim. Viver e manter essa tensão fecunda é o grande desafio da paradoxal experiência cristã.
No fundo, essa missão é a missão de estar na vida com Jesus e como Jesus. Nada menos e nada mais. E vive-la nessa tensão constante que introduz a vida de Jesus, isto é, num movimento também aparentemente contraditório, que nos leva por um lado a aproximar-nos cada vez mais dos outros, a ser próximos, a estar junto a eles e, por outro lado, nos separa, nos faz 'diferentes' como Jesus.
No fundo, essa missão é a missão de estar na vida com Jesus e como Jesus. Nada menos e nada mais. E vive-la nessa tensão constante que introduz a vida de Jesus, isto é, num movimento também aparentemente contraditório, que nos leva por um lado a aproximar-nos cada vez mais dos outros, a ser próximos, a estar junto a eles e, por outro lado, nos separa, nos faz 'diferentes' como Jesus.
É a 'diferença cristã' do humano. Se nós quisermos acostumar-nos com que encontramos cada dia - o humano aplastado e desfigurado - é preciso separar-se daquilo que o mundo quer fazer-nos ver e vislumbrar para além dessa 'des-figuração' do cotidiano, o humano 'trans-figurado' que está sempre 'mais além'. Foi o que levou o Irmão Carlos a buscar expressões diferentes. Primeiro no Marrocos, depois em Israel, mais tarde na Argélia. Mas o que ele queria sempre era "estar junto"; por isso era incapaz de absolutizar o que havia descoberto como se fosse o definitivo. Sempre ia mais longe, às fronteiras do humano, poderíamos dizer.
É a 'diferença cristã' do humano. Se nós quisermos acostumar-nos com que encontramos cada dia - o humano aplastado e desfigurado - é preciso separar-se daquilo que o mundo quer fazer-nos ver e vislumbrar para além dessa 'des-figuração' do cotidiano, o humano 'trans-figurado' que está sempre 'mais além'. Foi o que levou o Irmão Carlos a buscar expressões diferentes. Primeiro no Marrocos, depois em Israel, mais tarde na Argélia. Mas o que ele queria sempre era "estar junto"; por isso era incapaz de absolutizar o que havia descoberto como se fosse o definitivo. Sempre ia mais longe, às fronteiras do humano, poderíamos dizer.
Essa tensão é muito evangélica e característica da encarnação. Mas quando tentamos levá-la a sério, ela nos deixa como se vivêssemos na intempérie. Não há tendas sob as quais esconder-se. De onde vem essa sensação de viver na intempérie? Talvez porque o conteúdo desta "espiritualidade" é simplesmente a vida, a vida de cada dia naquilo que apresente de mais banal: é esse o conteúdo. Podem ter a impressão, talvez, de que estou exagerando, ou secularizando demais. Não, o conteúdo da vida espiritual não é algo 'espiritualizado', é a vida comum vivida com espírito, com o Espírito de Jesus. Isto é. a vida de cada dia vivida de outra forma, que é a forma de Jesus.
Essa tensão é muito evangélica e característica da encarnação. Mas quando tentamos levá-la a sério, ela nos deixa como se vivêssemos na intempérie. Não há tendas sob as quais esconder-se. De onde vem essa sensação de viver na intempérie? Talvez porque o conteúdo desta "espiritualidade" é simplesmente a vida, a vida de cada dia naquilo que apresente de mais banal: é esse o conteúdo. Podem ter a impressão, talvez, de que estou exagerando, ou secularizando demais. Não, o conteúdo da vida espiritual não é algo 'espiritualizado', é a vida comum vivida com espírito, com o Espírito de Jesus. Isto é. a vida de cada dia vivida de outra forma, que é a forma de Jesus.
Digam-me se essa espiritualidade não tem futuro num mundo como o nosso. E a linguagem da vida e do 'estar com', do testemunho. Estilo de vida que surpreende e chama a atenção, linguagem que todo mundo entende. É inevitável que as pessoas se interroguem: de que vive aquele que vive assim? Isso nos faz pensar na força das palavras que Jesus dirige aos primeiros discípulos que se aproximam timidamente dele: Aonde vive? De que vives? Venham e verão. Não há outra resposta. Porque frente a vida não pode haver respostas feitas. Ou aquilo que afirma João no início de sua primeira carta: "o que vimos, o que ouvimos, o que tocamos com nossas mãos, o que os nossos olhos penetraram, etc é o que queremos transmitir-lhes para que vivam".
Digam-me se essa espiritualidade não tem futuro num mundo como o nosso. E a linguagem da vida e do 'estar com', do testemunho. Estilo de vida que surpreende e chama a atenção, linguagem que todo mundo entende. É inevitável que as pessoas se interroguem: de que vive aquele que vive assim? Isso nos faz pensar na força das palavras que Jesus dirige aos primeiros discípulos que se aproximam timidamente dele: Aonde vive? De que vives? Venham e verão. Não há outra resposta. Porque frente a vida não pode haver respostas feitas. Ou aquilo que afirma João no início de sua primeira carta: "o que vimos, o que ouvimos, o que tocamos com nossas mãos, o que os nossos olhos penetraram, etc é o que queremos transmitir-lhes para que vivam".
Conclusão
Conclusão
Que podemos concluir de tudo isso? Que para vivê-lo é necessário crer nesta missão, na força que ela tem, no importante que é, e na necessidade de que esta semente volte a ser lançada com toda força e com toda esperança.
Que podemos concluir de tudo isso? Que para vivê-lo é necessário crer nesta missão, na força que ela tem, no importante que é, e na necessidade de que esta semente volte a ser lançada com toda força e com toda esperança.
Talvez a tarefa que lhes toca é manter viva e aberta essa experiência. Embora às vezes possam ter a sensação de que já se esgotou. Eu creio que é necessário também, como víamos ontem, voltar a referir os conteúdos fundamentais dessa experiência ao itinerário seguido pelo Irmão Carlos. Fazendo sem cessar esse movimento circular (experiência, explicitação em conteúdos, confrontação com o itinerário do Irmão Carlos, experiência, etc) é que nós podemos liberar-nos de formas do passado e re-inventá-las. Mas dentro da mesma intuição e do mesmo espírito. É o que significa re-escrever o Evangelho na vida cotidiana. Porque a vida muda as formas de escrevê-lo hão de ser também diferentes. Vocês não vivem nem se vestem como no começo. E é normal (embora seja um aspecto secundário) porque o contexto é outro. A intuição e a espiritualidade do Irmão Carlos não podem ser reduzidas a isso. É preciso ir ao essencial. Como re-fazer este caminho, sendo plenamente fiéis à intuição do Irmão Carlos? Essa criatividade é o grande desafio que vocês estão se colocando. A tarefa me parece suficientemente grande e apaixonante para que valha a pena correr o risco. Coragem!
Talvez a tarefa que lhes toca é manter viva e aberta essa experiência. Embora às vezes possam ter a sensação de que já se esgotou. Eu creio que é necessário também, como víamos ontem, voltar a referir os conteúdos fundamentais dessa experiência ao itinerário seguido pelo Irmão Carlos. Fazendo sem cessar esse movimento circular (experiência, explicitação em conteúdos, confrontação com o itinerário do Irmão Carlos, experiência, etc) é que nós podemos liberar-nos de formas do passado e re-inventá-las. Mas dentro da mesma intuição e do mesmo espírito. É o que significa re-escrever o Evangelho na vida cotidiana. Porque a vida muda as formas de escrevê-lo hão de ser também diferentes. Vocês não vivem nem se vestem como no começo. E é normal (embora seja um aspecto secundário) porque o contexto é outro. A intuição e a espiritualidade do Irmão Carlos não podem ser reduzidas a isso. É preciso ir ao essencial. Como re-fazer este caminho, sendo plenamente fiéis à intuição do Irmão Carlos? Essa criatividade é o grande desafio que vocês estão se colocando. A tarefa me parece suficientemente grande e apaixonante para que valha a pena correr o risco. Coragem!
2. NOSSOS IRMÃOS
2. NOSSOS IRMÃOS
2.1. CALARAM MAIS UM PROFETA NA AMAZÔNIA
2.1. CALARAM MAIS UM PROFETA NA AMAZÔNIA
Na tarde escaldante deste dia 20 de setembro, milhares de pessoas, entre lágrimas e cantos, deram seu último adeus ao Pe. Ruggero Ruvoletto. O missionário de 52 anos, da
Na tarde escaldante deste dia 20 de setembro, milhares de pessoas, entre lágrimas e cantos, deram seu último adeus ao Pe. Ruggero Ruvoletto. O missionário de 52 anos, da
Diocese italiana de Pádua, fora covardemente alvejado por um tiro certeiro, preliminarmente planejado nas rodas de "boca-de-fumo" do crime organizado de um dos bairros mais violentos da periferia da cidade de Manaus.
Diocese italiana de Pádua, fora covardemente alvejado por um tiro certeiro, preliminarmente planejado nas rodas de "boca-de-fumo" do crime organizado de um dos bairros mais violentos da periferia da cidade de Manaus.
Na manhã do dia 19 de setembro, seu sangue profético regou o chão da Amazônia. O último gesto corajoso de Pe. Ruggero foi estampado na capa dos jornais da cidade: de joelhos junto de sua simples cama oferecera a Deus, em oração, talvez, seus últimos minutos de vida. Uma vida marcada pela missão corajosa junto aos mais pobres e excluídos da sociedade.
Na manhã do dia 19 de setembro, seu sangue profético regou o chão da Amazônia. O último gesto corajoso de Pe. Ruggero foi estampado na capa dos jornais da cidade: de joelhos junto de sua simples cama oferecera a Deus, em oração, talvez, seus últimos minutos de vida. Uma vida marcada pela missão corajosa junto aos mais pobres e excluídos da sociedade.
Desde que chegara à Amazônia no início de 2008, Pe. Ruggero iniciou sua caminhada de oblação. Com um histórico missionário de opção evangélica pelos mais pobres e esquecidos do nordeste brasileiro, em Manaus, foi designado a uma região da periferia da cidade. Aqui, encontrou inúmeros agentes de pastoral ansiosos por sua sábia ajuda. Também encontrou muitos desafios pastorais e um silêncio da população com relação à atuação do crime organizado do tráfico de drogas na região.
Desde que chegara à Amazônia no início de 2008, Pe. Ruggero iniciou sua caminhada de oblação. Com um histórico missionário de opção evangélica pelos mais pobres e esquecidos do nordeste brasileiro, em Manaus, foi designado a uma região da periferia da cidade. Aqui, encontrou inúmeros agentes de pastoral ansiosos por sua sábia ajuda. Também encontrou muitos desafios pastorais e um silêncio da população com relação à atuação do crime organizado do tráfico de drogas na região.
Sua missão, no início, desenvolveu-se timidamente num processo intenso de visita às famílias, de escuta, de abertura ao novo. Freqüentemente solicitava ajuda, nos nossos "debates sociológicos", para melhor compreender a dinâmica da cidade. Queria conhecer mais sobre os indígenas e ribeirinhos e entender porque continuam migrando, sempre em ordem crescente, para as periferias da cidade. Logo entendeu que a Amazônia vive um histórico de descaso dos poderes públicos nos municípios do interior e centraliza todos os bens e serviços nas capitais, principalmente na cidade de Manaus com seu fantasmagórico projeto de Zona Franca que canaliza todos os recursos federais para uma elite da indústria de montagem. Por isso essa realidade marcada pelo êxodo rural, pelos crimes ambientais, pelos conflitos agrários e pelas ocupações urbanas que indicam o grande déficit de políticas públicas de moradia, educação, emprego e segurança.
Sua missão, no início, desenvolveu-se timidamente num processo intenso de visita às famílias, de escuta, de abertura ao novo. Freqüentemente solicitava ajuda, nos nossos "debates sociológicos", para melhor compreender a dinâmica da cidade. Queria conhecer mais sobre os indígenas e ribeirinhos e entender porque continuam migrando, sempre em ordem crescente, para as periferias da cidade. Logo entendeu que a Amazônia vive um histórico de descaso dos poderes públicos nos municípios do interior e centraliza todos os bens e serviços nas capitais, principalmente na cidade de Manaus com seu fantasmagórico projeto de Zona Franca que canaliza todos os recursos federais para uma elite da indústria de montagem. Por isso essa realidade marcada pelo êxodo rural, pelos crimes ambientais, pelos conflitos agrários e pelas ocupações urbanas que indicam o grande déficit de políticas públicas de moradia, educação, emprego e segurança.
Sua presença simpática e acolhedora foi cirando laços de amizade e comprometimento. Sempre preocupado com as questões sociais, sugeriu a organização de um calendário permanente de debate sobre a situação das várias comunidades que atendia na Área Missionária Imaculado Coração de Maria (AMICOM). Sua intuição profética motivou várias iniciativas por parte das lideranças das comunidades e dos movimentos sociais na criação de espaços de formação permanente de lideranças tais como a Escola de Fé e Cidadania que abrange outras áreas. Não era presença somente na AMICOM. Logo passou a acompanhar a organização pastoral de outras áreas missionárias da Zona Norte da cidade. Passou a apoiar os organismos arquidiocesanos ligados à dimensão missionária e às Comunidades Eclesiais de Base.
Sua presença simpática e acolhedora foi cirando laços de amizade e comprometimento. Sempre preocupado com as questões sociais, sugeriu a organização de um calendário permanente de debate sobre a situação das várias comunidades que atendia na Área Missionária Imaculado Coração de Maria (AMICOM). Sua intuição profética motivou várias iniciativas por parte das lideranças das comunidades e dos movimentos sociais na criação de espaços de formação permanente de lideranças tais como a Escola de Fé e Cidadania que abrange outras áreas. Não era presença somente na AMICOM. Logo passou a acompanhar a organização pastoral de outras áreas missionárias da Zona Norte da cidade. Passou a apoiar os organismos arquidiocesanos ligados à dimensão missionária e às Comunidades Eclesiais de Base.
Com uma prática litúrgica muito sensível e inculturada, fazia das celebrações eucarísticas momentos fortes de celebração da vida, das esperanças e do compromisso evangélico. Nas reflexões com os grupos nas comunidades ou nas famílias, embaixo das árvores, ou nas áreas externas nas pequenas casas, estava sempre atento aos clamores e lamentos das pessoas. Suas palavras davam novo alento e fazia o povo voltar a ter esperança em uma realidade marcada pela violência e pelo descaso das políticas públicas.
Com uma prática litúrgica muito sensível e inculturada, fazia das celebrações eucarísticas momentos fortes de celebração da vida, das esperanças e do compromisso evangélico. Nas reflexões com os grupos nas comunidades ou nas famílias, embaixo das árvores, ou nas áreas externas nas pequenas casas, estava sempre atento aos clamores e lamentos das pessoas. Suas palavras davam novo alento e fazia o povo voltar a ter esperança em uma realidade marcada pela violência e pelo descaso das políticas públicas.
Depois de intensas reuniões e debates, juntamente com os agentes de pastoral, elaboraram uma carta-denúncia que foi lida, rezada e reformulada nas várias celebrações comunitárias. Na carta estava contido o clamor do povo que já não suporta mais tanta violência resultante do tráfico de drogas na região. Denunciava o descaso público para com a educação, o transporte coletivo, o abastecimento d’água e tantas outras deficiências por parte dos poderes públicos.
Depois de intensas reuniões e debates, juntamente com os agentes de pastoral, elaboraram uma carta-denúncia que foi lida, rezada e reformulada nas várias celebrações comunitárias. Na carta estava contido o clamor do povo que já não suporta mais tanta violência resultante do tráfico de drogas na região. Denunciava o descaso público para com a educação, o transporte coletivo, o abastecimento d’água e tantas outras deficiências por parte dos poderes públicos.
Com a carta-denúncia em mãos, o povo resolveu se pronunciar. Na manhã do dia 15 de agosto as ruas do bairro de Santa Etelvina foram tomadas pelos cantos e frases de protesto. Uma manifestação pacífica de centenas de pessoas cobrando o exercício pleno da cidadania. Esse dia marca o fim do silêncio e do medo histórico que amordaçava os moradores deste bairro. Durante a caminhada, Pe. Ruggero, o homem da palavra, não fez uso dos microfones. Sob um sol de quase 40 graus, acompanhou tudo de forma muito discreta, fotografando e distribuindo panfletos aos transeuntes e curiosos que saíam às portas para ver o povo passar.
Com a carta-denúncia em mãos, o povo resolveu se pronunciar. Na manhã do dia 15 de agosto as ruas do bairro de Santa Etelvina foram tomadas pelos cantos e frases de protesto. Uma manifestação pacífica de centenas de pessoas cobrando o exercício pleno da cidadania. Esse dia marca o fim do silêncio e do medo histórico que amordaçava os moradores deste bairro. Durante a caminhada, Pe. Ruggero, o homem da palavra, não fez uso dos microfones. Sob um sol de quase 40 graus, acompanhou tudo de forma muito discreta, fotografando e distribuindo panfletos aos transeuntes e curiosos que saíam às portas para ver o povo passar.
Em dado momento, já na metade da manifestação, quando algumas pessoas lhe pediam para se pronunciar aos microfones, se aproximou e disse: "Márcia, estou pensando que é melhor eu não me pronunciar porque já vi passando algumas pessoas ligadas ao tráfico de drogas que vêm me ameaçando e me ‘aconselhando’ a deixar essas denúncias de lado. Eu lhe garanto que não vou deixar a luta porque já não é mais possível ficar calado diante de tanta violência e injustiça. Não agüento mais ouvir tantas mães desesperadas com seus filhos nas drogas sem poder fazer nada. Sei que é arriscado, mas não tenho medo".
Em dado momento, já na metade da manifestação, quando algumas pessoas lhe pediam para se pronunciar aos microfones, se aproximou e disse: "Márcia, estou pensando que é melhor eu não me pronunciar porque já vi passando algumas pessoas ligadas ao tráfico de drogas que vêm me ameaçando e me ‘aconselhando’ a deixar essas denúncias de lado. Eu lhe garanto que não vou deixar a luta porque já não é mais possível ficar calado diante de tanta violência e injustiça. Não agüento mais ouvir tantas mães desesperadas com seus filhos nas drogas sem poder fazer nada. Sei que é arriscado, mas não tenho medo".
Foi uma das últimas conversas que tivemos. Uma semana depois passou rapidamente por minha casa depois da celebração e comentou que estava animado com a repercussão da carta e da manifestação. Novamente afirmou que se sentia ameaçado por pessoas ligadas ao tráfico de drogas do bairro de Santa Etelvina que atuavam também nos bairros visinhos, especialmente no Lagoa Azul. Parecia muito preocupado, mas sempre destemido, reafirmava o compromisso com a causa da justiça. Como sempre fazia, pediu algumas orientações no campo sociológico. Queria entender por que a pouca polícia que atua nos bairros da periferia não inspira a confiança do povo? Por que os assaltos aos ônibus coletivos e residências continuam aumentando e por que o 12º Distrito Policial do Bairro continuava desativado e sem nada que o substituísse? Comentou ainda sobre o alto índice de assassinatos no bairro, quase todos ligados ao tráfico de drogas. Estava muito preocupado, principalmente com os jovens, vítimas das drogas e da prostituição. Ao se despedir toquei no assunto das ameaças. Olhou-me sereno e, sorrindo me disse: "estou tranqüilo. Sei que esse tipo de gente, quando quer matar, não manda recados".
Foi uma das últimas conversas que tivemos. Uma semana depois passou rapidamente por minha casa depois da celebração e comentou que estava animado com a repercussão da carta e da manifestação. Novamente afirmou que se sentia ameaçado por pessoas ligadas ao tráfico de drogas do bairro de Santa Etelvina que atuavam também nos bairros visinhos, especialmente no Lagoa Azul. Parecia muito preocupado, mas sempre destemido, reafirmava o compromisso com a causa da justiça. Como sempre fazia, pediu algumas orientações no campo sociológico. Queria entender por que a pouca polícia que atua nos bairros da periferia não inspira a confiança do povo? Por que os assaltos aos ônibus coletivos e residências continuam aumentando e por que o 12º Distrito Policial do Bairro continuava desativado e sem nada que o substituísse? Comentou ainda sobre o alto índice de assassinatos no bairro, quase todos ligados ao tráfico de drogas. Estava muito preocupado, principalmente com os jovens, vítimas das drogas e da prostituição. Ao se despedir toquei no assunto das ameaças. Olhou-me sereno e, sorrindo me disse: "estou tranqüilo. Sei que esse tipo de gente, quando quer matar, não manda recados".
Nas semanas que se passaram continuou se pronunciando sobre a necessidade da organização popular. Mas, parecia mais discreto do que o habitual. Talvez percebera que era preciso ter mais cautela pois estava mexendo numa "caixa preta" que envolve grandes traficantes e gente da polícia.
Nas semanas que se passaram continuou se pronunciando sobre a necessidade da organização popular. Mas, parecia mais discreto do que o habitual. Talvez percebera que era preciso ter mais cautela pois estava mexendo numa "caixa preta" que envolve grandes traficantes e gente da polícia.
Após seu assassinato, a polícia trabalha com a suspeita de latrocínio. Pode ser que vão seguir com esta versão para não ter muito trabalho com a investigação. É mais simples afirmar que foi roubo seguido de assassinato. Muitos dos que estavam no velório também acreditam nesta versão. Talvez porque já estão habituados a acreditar em tudo o que a polícia diz, mesmo quando não se tem fundamentos convincentes. Entretanto, várias das milhares de pessoas que lotaram o ginásio de esportes do Santa Etelvina para se despedir do Pe. Ruggero, não acreditam nessa "orquestração". O povo sabe a verdade. Talvez tenha medo de dizer, mas o certo é que sabe que não foi nenhum "ladrãozinho", como afirma a polícia que alvejou o padre. Pode até ser que um ladrãozinho tenha sido contratado para disparar o tiro certeiro. Mas, todos sabem que por traz disso estão os controladores do tráfico que se sentiam incomodados com a atuação do Pe. Ruggero.
Após seu assassinato, a polícia trabalha com a suspeita de latrocínio. Pode ser que vão seguir com esta versão para não ter muito trabalho com a investigação. É mais simples afirmar que foi roubo seguido de assassinato. Muitos dos que estavam no velório também acreditam nesta versão. Talvez porque já estão habituados a acreditar em tudo o que a polícia diz, mesmo quando não se tem fundamentos convincentes. Entretanto, várias das milhares de pessoas que lotaram o ginásio de esportes do Santa Etelvina para se despedir do Pe. Ruggero, não acreditam nessa "orquestração". O povo sabe a verdade. Talvez tenha medo de dizer, mas o certo é que sabe que não foi nenhum "ladrãozinho", como afirma a polícia que alvejou o padre. Pode até ser que um ladrãozinho tenha sido contratado para disparar o tiro certeiro. Mas, todos sabem que por traz disso estão os controladores do tráfico que se sentiam incomodados com a atuação do Pe. Ruggero.
Desde que se espalhou a notícia, a comoção tomou conta de todos. Centenas de pessoas, durante todo o dia de sábado estiveram organizando o local do velório, preparando os cartazes de despedida, ensaiando os cantos e o último adeus. A chegada do corpo tomou a todos de grande comoção. Durante toda a noite de sábado e a manhã deste domingo, as comunidades se revezaram para prestar sua última homenagem. Algumas pessoas vinham de longe, trazendo flores dos seus jardins, como é costume na região. Uma adolescente "coroinha" trouxe pétalas vermelhas e espalhou ao redor do caixão. Chorava e falava baixinho com ele certa de que era escutada. Os idosos se aproximavam e o chamavam de "filho querido". Foram inúmeras as demonstrações de carinho e emoção junto ao caixão. Na celebração da oblação, um gesto muito forte: representantes das várias comunidades se aproximaram do caixão no momento do ofertório, o levantaram e o ofereceram ao altar da imolação. Nas falas e nos cartazes o destaque era o clamor por justiça.
Desde que se espalhou a notícia, a comoção tomou conta de todos. Centenas de pessoas, durante todo o dia de sábado estiveram organizando o local do velório, preparando os cartazes de despedida, ensaiando os cantos e o último adeus. A chegada do corpo tomou a todos de grande comoção. Durante toda a noite de sábado e a manhã deste domingo, as comunidades se revezaram para prestar sua última homenagem. Algumas pessoas vinham de longe, trazendo flores dos seus jardins, como é costume na região. Uma adolescente "coroinha" trouxe pétalas vermelhas e espalhou ao redor do caixão. Chorava e falava baixinho com ele certa de que era escutada. Os idosos se aproximavam e o chamavam de "filho querido". Foram inúmeras as demonstrações de carinho e emoção junto ao caixão. Na celebração da oblação, um gesto muito forte: representantes das várias comunidades se aproximaram do caixão no momento do ofertório, o levantaram e o ofereceram ao altar da imolação. Nas falas e nos cartazes o destaque era o clamor por justiça.
Até a hora da despedida, o povo seguiu cantando "se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão!" Todos os momentos de oração e celebração foram marcados por muitos gestos que falavam por si e por cânticos alegres e muito bem cantados seguindo o ritmo das águas dos rios e da sinfonia da floresta e das coisas bonitas da Amazônia.
Até a hora da despedida, o povo seguiu cantando "se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão!" Todos os momentos de oração e celebração foram marcados por muitos gestos que falavam por si e por cânticos alegres e muito bem cantados seguindo o ritmo das águas dos rios e da sinfonia da floresta e das coisas bonitas da Amazônia.
No início desta manhã, um sinal importante indicava que "a semente que caiu na terra vai logo brotar": Os agentes de pastoral da AMICOM e as lideranças dos movimentos sociais se reuniram logo cedo, ali mesmo, num cantinho do ginásio e formularam um pequeno panfleto exigindo justiça. Deliberaram as tarefas e em poucas horas, o folheto já havia sido digitado, fotocopiado e distribuído a todas as pessoas que estiveram na celebração enquanto alguns jovens saíram pelas ruas do bairro distribuindo-o a todos e convocando para uma manifestação no dia seguinte à missa de sétimo dia. O resumo do folheto afirma que a morte do Pe. Ruggero não será em vão. O último parágrafo é digno de reprodução neste breve ensaio: "Por isso gritamos que chega de violência! Queremos paz e ação enérgica do governo que tem sido incompetente e mentiroso afirmando que, por causa dele, devemos ter orgulho de ser amazonenses".
No início desta manhã, um sinal importante indicava que "a semente que caiu na terra vai logo brotar": Os agentes de pastoral da AMICOM e as lideranças dos movimentos sociais se reuniram logo cedo, ali mesmo, num cantinho do ginásio e formularam um pequeno panfleto exigindo justiça. Deliberaram as tarefas e em poucas horas, o folheto já havia sido digitado, fotocopiado e distribuído a todas as pessoas que estiveram na celebração enquanto alguns jovens saíram pelas ruas do bairro distribuindo-o a todos e convocando para uma manifestação no dia seguinte à missa de sétimo dia. O resumo do folheto afirma que a morte do Pe. Ruggero não será em vão. O último parágrafo é digno de reprodução neste breve ensaio: "Por isso gritamos que chega de violência! Queremos paz e ação enérgica do governo que tem sido incompetente e mentiroso afirmando que, por causa dele, devemos ter orgulho de ser amazonenses".
Resta concluir que o Pe. Ruggero é mais um mártir da Amazônia e que sua luta seguirá na vez e na voz de todos aqueles e aquelas que descobriram que sua esperança está na força da união. Essa gente, ninguém mais segura. Oxalá que o sangue derramado deste profeta regue o chão da Amazônia e produza muitos frutos de justiça.
Resta concluir que o Pe. Ruggero é mais um mártir da Amazônia e que sua luta seguirá na vez e na voz de todos aqueles e aquelas que descobriram que sua esperança está na força da união. Essa gente, ninguém mais segura. Oxalá que o sangue derramado deste profeta regue o chão da Amazônia e produza muitos frutos de justiça.
Manaus, 21 de setembro de 2009.
Manaus, 21 de setembro de 2009.
Márcia Maria de Oliveira. Socióloga e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia. Coordenadora do Departamento de Educação do Serviço de Ação, Reflexão e Educação Social - SARES
Márcia Maria de Oliveira. Socióloga e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia. Coordenadora do Departamento de Educação do Serviço de Ação, Reflexão e Educação Social - SARES
2.2. CARTA DO CLERO DE MANAUS/AM
2.2. CARTA DO CLERO DE MANAUS/AM
Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus. (Mt 5,10)
Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus. (Mt 5,10)
Considerando os últimos e violentos acontecimentos que têm ferido profundamente nosso povo e, particularmente, aqueles que atingiram diretamente diversos seguimentos de nossa Igreja Católica, (invasão de casas religiosas, seqüestros) que culminaram com o cruel e vil assassinato do missionário italiano, Ruggero Ruvoletto, o Padre Rogério, da Área Missionária Imaculado Coração de Maria, bairro de Santa Etelvina, nós membros do clero de Manaus, não podemos deixar de manifestar nossa palavra de indignação e repúdio diante deste conturbado quadro que envolve nosso povo, abandonado à própria sorte.
Considerando os últimos e violentos acontecimentos que têm ferido profundamente nosso povo e, particularmente, aqueles que atingiram diretamente diversos seguimentos de nossa Igreja Católica, (invasão de casas religiosas, seqüestros) que culminaram com o cruel e vil assassinato do missionário italiano, Ruggero Ruvoletto, o Padre Rogério, da Área Missionária Imaculado Coração de Maria, bairro de Santa Etelvina, nós membros do clero de Manaus, não podemos deixar de manifestar nossa palavra de indignação e repúdio diante deste conturbado quadro que envolve nosso povo, abandonado à própria sorte.
A repercussão do assassinato do Padre Rogério fez emergir em cada um de nós, como em toda a sociedade um sentimento de medo e insegurança, mas ao mesmo tempo uma reação de indignação que nos motiva a um compromisso pela paz. A discussão suscitada pela Campanha da Fraternidade de 2009 sobre a Segurança Pública deve ser mantida com vigor e eficácia. Segurança é uma política de Estado, não de governo, pautada na defesa da dignidade da pessoa com valorização e respeito à vida e à cidadania. Assistimos a um mega-investimento do erário público em estruturas, obras e publicidade e do outro lado os serviços essenciais à população, apresentam qualidade questionável. A fragilidade do aparato de segurança provoca cada vez mais o descrédito da população nas instituições responsáveis pelo seu bem-estar. O povo desconfia de quem deve proteger!
A repercussão do assassinato do Padre Rogério fez emergir em cada um de nós, como em toda a sociedade um sentimento de medo e insegurança, mas ao mesmo tempo uma reação de indignação que nos motiva a um compromisso pela paz. A discussão suscitada pela Campanha da Fraternidade de 2009 sobre a Segurança Pública deve ser mantida com vigor e eficácia. Segurança é uma política de Estado, não de governo, pautada na defesa da dignidade da pessoa com valorização e respeito à vida e à cidadania. Assistimos a um mega-investimento do erário público em estruturas, obras e publicidade e do outro lado os serviços essenciais à população, apresentam qualidade questionável. A fragilidade do aparato de segurança provoca cada vez mais o descrédito da população nas instituições responsáveis pelo seu bem-estar. O povo desconfia de quem deve proteger!
Não podemos continuar fazendo de conta que as coisas estão bem! As coisas não estão bem! As estatísticas não são necessárias neste momento de perceber que agressões, assaltos, assassinatos, seqüestros, conflitos violentos se espalharam em nossos bairros como uma epidemia fora do controle. Passados mais de sete dias do assassinato do Pe. Rogério, não temos outra resposta a não ser os desencontros noticiados pelos meios de comunicação. Queremos acreditar numa séria investigação dos fatos que nos apresentem uma resposta esclarecedora e verdadeira. Nos fazemos solidários com o povo de Santa Etelvina e o clamor deste povo ecoa em nossas vozes: "Queremos justiça!" Mas entendemos também, que justiça não é vingança. O Deus da vida é também o Deus da Misericórdia! Como membros da Igreja de Manaus, tornamos público o nosso perdão aos agressores. Nos fazemos solidários ao Pe. Sandro Sebastião e com as lideranças das comunidades da Área Missionária Imaculado Coração de Maria, para que continuem a caminhada de luta, fé e esperança que vinha sendo conduzida pelo irmão Pe. Rogério.
Não podemos continuar fazendo de conta que as coisas estão bem! As coisas não estão bem! As estatísticas não são necessárias neste momento de perceber que agressões, assaltos, assassinatos, seqüestros, conflitos violentos se espalharam em nossos bairros como uma epidemia fora do controle. Passados mais de sete dias do assassinato do Pe. Rogério, não temos outra resposta a não ser os desencontros noticiados pelos meios de comunicação. Queremos acreditar numa séria investigação dos fatos que nos apresentem uma resposta esclarecedora e verdadeira. Nos fazemos solidários com o povo de Santa Etelvina e o clamor deste povo ecoa em nossas vozes: "Queremos justiça!" Mas entendemos também, que justiça não é vingança. O Deus da vida é também o Deus da Misericórdia! Como membros da Igreja de Manaus, tornamos público o nosso perdão aos agressores. Nos fazemos solidários ao Pe. Sandro Sebastião e com as lideranças das comunidades da Área Missionária Imaculado Coração de Maria, para que continuem a caminhada de luta, fé e esperança que vinha sendo conduzida pelo irmão Pe. Rogério.
Por fim, conclamamos as organizações populares, as instituições e serviços comprometidos com a transformação social, as igrejas, os demais seguimentos da sociedade e as autoridades competentes para que inauguremos uma corrente de iniciativas que discutam, reflitam, debatam a questão da Segurança Pública. Que realizemos juntos um verdadeiro mutirão em favor da vida e da paz. Coloquemos na nossa pauta a necessidade de resgate da justiça social. Só a Justiça gera Paz!
Por fim, conclamamos as organizações populares, as instituições e serviços comprometidos com a transformação social, as igrejas, os demais seguimentos da sociedade e as autoridades competentes para que inauguremos uma corrente de iniciativas que discutam, reflitam, debatam a questão da Segurança Pública. Que realizemos juntos um verdadeiro mutirão em favor da vida e da paz. Coloquemos na nossa pauta a necessidade de resgate da justiça social. Só a Justiça gera Paz!
Manaus, 26 de setembro de 2009.
Manaus, 26 de setembro de 2009.
O clero de Manaus, junto com seus bispos.
O clero de Manaus, junto com seus bispos.
2. 3. DESSE JEITO NÃO DÁ
2. 3. DESSE JEITO NÃO DÁ
Dom Luiz Soares Vieira, Arcebispo de Manaus, AM
Dom Luiz Soares Vieira, Arcebispo de Manaus, AM
Neste ano tivemos uma Campanha da Fraternidade, toda ela voltada para a segurança pública. O tema foi escolhido por solicitação de muitas entidades da sociedade civil que o consideraram extremamente grave. Graças a Deus, as repercussões foram positivas e os debates atingiram inclusive os meios de comunicação social. As próprias conferências nacionais, estaduais e municipais de segurança pública sofreram influência das reflexões realizadas e publicadas. Valeu a pena levantar o debate!
Neste ano tivemos uma Campanha da Fraternidade, toda ela voltada para a segurança pública. O tema foi escolhido por solicitação de muitas entidades da sociedade civil que o consideraram extremamente grave. Graças a Deus, as repercussões foram positivas e os debates atingiram inclusive os meios de comunicação social. As próprias conferências nacionais, estaduais e municipais de segurança pública sofreram influência das reflexões realizadas e publicadas. Valeu a pena levantar o debate!
Nestes últimos dois meses a Igreja Católica em Manaus sentiu na pele a urgência de levar-se bem mais a sério esse problema. Do jeito como andam os atos de violência contra pessoas e instituições ligadas a nós não dá pra continuar. Veja só o elenco dos fatos: primeiro, assaltaram a mão armada o convento dos capuchinhos; segundo, invadiram a mão armada a Casa das Irmãs Idosas e Doentes do Patronato Santa Terezinha; terceiro, entraram com mão armada numa casa paroquial e roubaram tudo; quarto, no dia 17 de setembro, dom Gutemberg Régis, bispo de Coari, e padre Manoel Soares, superior dos Redentoristas, foram seqüestrados, aterrorizados e tiveram o carro roubado no Bairro de Aparecida; quinto, a Praça da Matriz está nas mãos de pessoas que assaltam fiéis e turistas; sexto, muitas igrejas têm sido roubadas; sétimo, para coroar nossos sofrimentos, no dia 19 de setembro de 2009, às 7h, assassinaram estupidamente o padre Ruggero Ruvoletto, um sacerdote italiano, missionário das Dioceses de Pádua (Itália) e de Pesqueira, que há dois anos trabalhava na evangelização de Santa Etelvina, União da Vitória e comunidades das rodovias BR e AM. Era ele um homem sossegado, incapaz de maltratar alguém, um cristão de muita fé. Sua morte doeu muito. Estamos intrigados com a sucessão muito próxima de violências pesadas contra gente da Igreja Católica. Por outro lado sentimos que o mesmo acontece em doses amargas contra o povo de Manaus. Assaltos em ônibus, nas ruas, nas casas e por todo lado; assassinatos de todos os tipos e com sucessão alucinante; drogas a rodo. Pobre de nossos cidadãos e cidadãs o dia dos funerais, a comunidade de Santa Etelvina distribuiu um manifesto em que expressa o medo de todos: “Tudo isso tem nos deixado apavorados, pois o clima da insegurança é total; temos que contar com a própria sorte.”
Nestes últimos dois meses a Igreja Católica em Manaus sentiu na pele a urgência de levar-se bem mais a sério esse problema. Do jeito como andam os atos de violência contra pessoas e instituições ligadas a nós não dá pra continuar. Veja só o elenco dos fatos: primeiro, assaltaram a mão armada o convento dos capuchinhos; segundo, invadiram a mão armada a Casa das Irmãs Idosas e Doentes do Patronato Santa Terezinha; terceiro, entraram com mão armada numa casa paroquial e roubaram tudo; quarto, no dia 17 de setembro, dom Gutemberg Régis, bispo de Coari, e padre Manoel Soares, superior dos Redentoristas, foram seqüestrados, aterrorizados e tiveram o carro roubado no Bairro de Aparecida; quinto, a Praça da Matriz está nas mãos de pessoas que assaltam fiéis e turistas; sexto, muitas igrejas têm sido roubadas; sétimo, para coroar nossos sofrimentos, no dia 19 de setembro de 2009, às 7h, assassinaram estupidamente o padre Ruggero Ruvoletto, um sacerdote italiano, missionário das Dioceses de Pádua (Itália) e de Pesqueira, que há dois anos trabalhava na evangelização de Santa Etelvina, União da Vitória e comunidades das rodovias BR e AM. Era ele um homem sossegado, incapaz de maltratar alguém, um cristão de muita fé. Sua morte doeu muito. Estamos intrigados com a sucessão muito próxima de violências pesadas contra gente da Igreja Católica. Por outro lado sentimos que o mesmo acontece em doses amargas contra o povo de Manaus. Assaltos em ônibus, nas ruas, nas casas e por todo lado; assassinatos de todos os tipos e com sucessão alucinante; drogas a rodo. Pobre de nossos cidadãos e cidadãs o dia dos funerais, a comunidade de Santa Etelvina distribuiu um manifesto em que expressa o medo de todos: “Tudo isso tem nos deixado apavorados, pois o clima da insegurança é total; temos que contar com a própria sorte.”
Dentre as muitas manifestações de conforto, destaco o telegrama enviado pelo papa Bento 16, em que ele condena “este ato vil e cruel contra pacíficos servidores do Evangelho”, e nos fala do perdão a ser concedido aos assassinos. Jesus perdoou os seus matadores: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.” Perdoamos de coração porque cremos num Deus que perdoa sempre. Mas, como acreditamos num Deus justo, exigimos que sejam presos para receberam reeducação (seja utopia no atual sistema prisional brasileiro?). E continuamos a luta pela paz.
Dentre as muitas manifestações de conforto, destaco o telegrama enviado pelo papa Bento 16, em que ele condena “este ato vil e cruel contra pacíficos servidores do Evangelho”, e nos fala do perdão a ser concedido aos assassinos. Jesus perdoou os seus matadores: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.” Perdoamos de coração porque cremos num Deus que perdoa sempre. Mas, como acreditamos num Deus justo, exigimos que sejam presos para receberam reeducação (seja utopia no atual sistema prisional brasileiro?). E continuamos a luta pela paz.
2.4. O GRÃO DE MOSTARDA
2.4. O GRÃO DE MOSTARDA
Um amigo do Brasil perguntou-me porque deixei de escrever. Dei-me conta que nos primeiros meses, escrever era uma necessidade pessoal. Hoje, mais ambientado na cultura makhuwa, se torna um desafio expressar o que sinto e vivo após um ano que já estou na missão em Moçambique.
Um amigo do Brasil perguntou-me porque deixei de escrever. Dei-me conta que nos primeiros meses, escrever era uma necessidade pessoal. Hoje, mais ambientado na cultura makhuwa, se torna um desafio expressar o que sinto e vivo após um ano que já estou na missão em Moçambique.
Tenho me questionado: dizer o que para aqueles (as) que estão do outro lado do atlântico? Confesso que a tentação era expressar grandes coisas realizadas, curiosidades culturais ou os mega problemas sociais de miséria, descaso na educação e na saúde pública. Poderia também relatar o número impressionante de batismos, do acompanhamento ao projeto de construção de dez poços este ano, de iniciativas de auto-sustentabilidade, do sínodo africano ou da caminhada sinodal de cinco anos aqui na arquidiocese de Nampula.
Tenho me questionado: dizer o que para aqueles (as) que estão do outro lado do atlântico? Confesso que a tentação era expressar grandes coisas realizadas, curiosidades culturais ou os mega problemas sociais de miséria, descaso na educação e na saúde pública. Poderia também relatar o número impressionante de batismos, do acompanhamento ao projeto de construção de dez poços este ano, de iniciativas de auto-sustentabilidade, do sínodo africano ou da caminhada sinodal de cinco anos aqui na arquidiocese de Nampula.
Nesta semana quando ouvi o texto de Mateus 13,31-32, comparando o Reino de Deus com o grão de mostarda, achei por bem falar e valorizar os pequenos gestos que silenciosamente fazem o reino acontecer. Acordei-me numa madrugada lembrando-me do chocolate, do feijão preto e do café que recebi de minha mãe no Brasil, dos telefonemas e mensagens dos amigos(as), das refeições com partilhas em nossa casa em Moma, dos momentos ao redor da fogueira para ouvir as novidades do povo, das visitas que chegam a nossa casa diariamente, das crianças que nos rodeiam e nos chamam de brancos com largos sorrisos e olhos brilhantes, do meio litro de sangue doado por uma visita da Itália a uma mulher com anemia profunda devido a situação de fome. Também penso nos pequenos gestos de partilha dos cristãos durante o momento do ofertório. Com danças trazem parte de sua produção de arroz, feijão, milho, amendoim, mandioca, galinhas e ofertam a equipe missionária.
Nesta semana quando ouvi o texto de Mateus 13,31-32, comparando o Reino de Deus com o grão de mostarda, achei por bem falar e valorizar os pequenos gestos que silenciosamente fazem o reino acontecer. Acordei-me numa madrugada lembrando-me do chocolate, do feijão preto e do café que recebi de minha mãe no Brasil, dos telefonemas e mensagens dos amigos(as), das refeições com partilhas em nossa casa em Moma, dos momentos ao redor da fogueira para ouvir as novidades do povo, das visitas que chegam a nossa casa diariamente, das crianças que nos rodeiam e nos chamam de brancos com largos sorrisos e olhos brilhantes, do meio litro de sangue doado por uma visita da Itália a uma mulher com anemia profunda devido a situação de fome. Também penso nos pequenos gestos de partilha dos cristãos durante o momento do ofertório. Com danças trazem parte de sua produção de arroz, feijão, milho, amendoim, mandioca, galinhas e ofertam a equipe missionária.
Assim se continuasse poderia relembrar uma infinidade de grãos de mostarda. Eles são tão pequenos e silenciosos que passam por nós despercebidos. De outro lado situa-se na cultura dominante a lógica do mega, do big, do extraordinário, das cifras, da eficácia, do lucro e do espetáculo que produz visibilidade, impacto e barulho. Me pergunto: onde se coloca o valor da pessoa nesta lógica? A criança, o pobre, o velho e o doente onde se situam? Consciente ou inconsciente quando colocamos esta lógica no primeiro plano, passamos facilmente por cima das pessoas e nos esquecemos do grão de mostarda ou da célebre frase de Jesus: “Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça e tudo vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33).
Assim se continuasse poderia relembrar uma infinidade de grãos de mostarda. Eles são tão pequenos e silenciosos que passam por nós despercebidos. De outro lado situa-se na cultura dominante a lógica do mega, do big, do extraordinário, das cifras, da eficácia, do lucro e do espetáculo que produz visibilidade, impacto e barulho. Me pergunto: onde se coloca o valor da pessoa nesta lógica? A criança, o pobre, o velho e o doente onde se situam? Consciente ou inconsciente quando colocamos esta lógica no primeiro plano, passamos facilmente por cima das pessoas e nos esquecemos do grão de mostarda ou da célebre frase de Jesus: “Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça e tudo vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33).
Voltemos nosso olhar a Jesus que aponta o valor das pequenas coisas que se tornam grandes na lógica evangélica. “O grão de mostarda é a menor de todas as sementes, contudo quando cresce, torna-se uma árvore, vêm os pássaros e se aninham em seus ramos” (Mt 13,32). Os preciosos grãos de mostarda são encontrados em espaços de intervalo da informalidade gratuita de nossas agendas lotadas. São nestes momentos aprazíveis de gratuidade que conseguimos ver o pequeno e perdido grão de mostarda que outrora estava sufocado pela tentação da visibilidade de projetos ou planos faraônicos que fazem barulho e produzem impacto.
Voltemos nosso olhar a Jesus que aponta o valor das pequenas coisas que se tornam grandes na lógica evangélica. “O grão de mostarda é a menor de todas as sementes, contudo quando cresce, torna-se uma árvore, vêm os pássaros e se aninham em seus ramos” (Mt 13,32). Os preciosos grãos de mostarda são encontrados em espaços de intervalo da informalidade gratuita de nossas agendas lotadas. São nestes momentos aprazíveis de gratuidade que conseguimos ver o pequeno e perdido grão de mostarda que outrora estava sufocado pela tentação da visibilidade de projetos ou planos faraônicos que fazem barulho e produzem impacto.
Hoje, na oração da manhã celebramos o dia de santa Marta, a ativa, preocupada e inquieta hospedeira que descobriu na visita de Jesus que o essencial da vida do discípulo é a escuta da palavra de Deus: “uma coisa é necessária”. O pequeno grão de mostarda estava passando despercebido na atitude de Marta em fazer grandes coisas. “Marta, Marta....” Em África estou apreendendo com os pequenos que o importante não é fazer grandes coisas, mas pequenos gestos com grande amor. Será que não é paradoxal e esquizofrênica nossas posturas que sufocam os pequenos grãos de mostarda? Repito: “uma coisa é necessária e Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc10, 42).
Hoje, na oração da manhã celebramos o dia de santa Marta, a ativa, preocupada e inquieta hospedeira que descobriu na visita de Jesus que o essencial da vida do discípulo é a escuta da palavra de Deus: “uma coisa é necessária”. O pequeno grão de mostarda estava passando despercebido na atitude de Marta em fazer grandes coisas. “Marta, Marta....” Em África estou apreendendo com os pequenos que o importante não é fazer grandes coisas, mas pequenos gestos com grande amor. Será que não é paradoxal e esquizofrênica nossas posturas que sufocam os pequenos grãos de mostarda? Repito: “uma coisa é necessária e Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” (Lc10, 42).
Pe.Maurício da Silva Jardim
Pe.Maurício da Silva Jardim
29/07/2009
29/07/2009
Missionário em Moçambique
Missionário em Moçambique
3. NOTICIAS
3. NOTICIAS
3.1. REUNIÃO DA COORDENAÇÃO NACIONAL
3.1. REUNIÃO DA COORDENAÇÃO NACIONAL
Nos dias 26 a 29 do mês de outubro, os irmãos da coordenação nacional se reuniram em Mairporã, SP, na Casa de Oração Maria de Nazaré, das Cônegas de Santo Agostinho. Faltaram os irmãos do Sudeste e do Leste, respectivamente o Edvaldo Pereira dos Santos e o Hideraldo Veríssimo Vieira. Do Nordeste veio o Eliésio dos Santos (Ceará); do Centro-Oeste, o Paulo Wafflard (Goiás); do Norte, o Antônio Carlos de Souza Gomes (Pará); e do Sul o Sílvio Guterres Dutra (Rio Grande do Sul); o Freddy Goven, responsável pelo Mês de Nazaré e Celso Pedro, responsável nacional. José Bizon, da secretaria, participou um dia, e José João da Silva, da tesouraria, uma tarde. Pe. Aldo, da fraternidade de São Paulo, passou para apanhar o Sílvio que se hospedou na sua casa e seguiu na manhã de quinta-feira para Porto Alegre.
Nos dias 26 a 29 do mês de outubro, os irmãos da coordenação nacional se reuniram em Mairporã, SP, na Casa de Oração Maria de Nazaré, das Cônegas de Santo Agostinho. Faltaram os irmãos do Sudeste e do Leste, respectivamente o Edvaldo Pereira dos Santos e o Hideraldo Veríssimo Vieira. Do Nordeste veio o Eliésio dos Santos (Ceará); do Centro-Oeste, o Paulo Wafflard (Goiás); do Norte, o Antônio Carlos de Souza Gomes (Pará); e do Sul o Sílvio Guterres Dutra (Rio Grande do Sul); o Freddy Goven, responsável pelo Mês de Nazaré e Celso Pedro, responsável nacional. José Bizon, da secretaria, participou um dia, e José João da Silva, da tesouraria, uma tarde. Pe. Aldo, da fraternidade de São Paulo, passou para apanhar o Sílvio que se hospedou na sua casa e seguiu na manhã de quinta-feira para Porto Alegre.
O ambiente foi muito agradável e muito fraterno. Vivemos a espontaneidade e a simplicidade próprias da fraternidade, refletindo e rezando. Tivemos tempo para o ofício em comum pela manhã, a adoração, a celebração da Eucaristia e a revisão de vida.
O ambiente foi muito agradável e muito fraterno. Vivemos a espontaneidade e a simplicidade próprias da fraternidade, refletindo e rezando. Tivemos tempo para o ofício em comum pela manhã, a adoração, a celebração da Eucaristia e a revisão de vida.
Fizemos a pauta e tratamos dos seguintes assuntos:
Fizemos a pauta e tratamos dos seguintes assuntos:
1. O próximo retiro em Caucaia, na grande Fortaleza. - Vamos iniciar no dia 5 de janeiro de 2010, terça-feira, com o jantar e terminar no dia 12, terça-feira, com o almoço. No dia 5, à noite, Geraldo Gereon fará a meditação de abertura; nos dias 6 e 7 seguimos a programação habitual, com uma meditação pela manhã e outra à tarde, sempre com o Geraldo Gereon. Na noite do dia 7 teremos a nossa adoração noturna seguida de dia de deserto, no dia 8. Dia 9, sábado, programação normal, e dia 10, domingo, confraternização pela manhã. A Eucaristia será celebrada à tarde, no retorno. Nesse dia chegam os irmãos da Coordenação Internacional, Abraham Apolinário, responsável geral, da República Dominicana; Eddy Lagae, da Bélgica; Richard Reiser, dos Estados Unidos. O Bizon faz parte dessa equipe. Estarão conosco no dia 11, quando faremos as reuniões e os planejamentos regionais. Em princípio, a coordenação internacional deve ficar em Caucaia até o fim da semana, em reunião, enquanto nós terminamos no dia 12. Estamos solicitando que eles se desloquem para a cidade de Goiás, onde estará acontecendo o Mês de Nazaré.
1. O próximo retiro em Caucaia, na grande Fortaleza. - Vamos iniciar no dia 5 de janeiro de 2010, terça-feira, com o jantar e terminar no dia 12, terça-feira, com o almoço. No dia 5, à noite, Geraldo Gereon fará a meditação de abertura; nos dias 6 e 7 seguimos a programação habitual, com uma meditação pela manhã e outra à tarde, sempre com o Geraldo Gereon. Na noite do dia 7 teremos a nossa adoração noturna seguida de dia de deserto, no dia 8. Dia 9, sábado, programação normal, e dia 10, domingo, confraternização pela manhã. A Eucaristia será celebrada à tarde, no retorno. Nesse dia chegam os irmãos da Coordenação Internacional, Abraham Apolinário, responsável geral, da República Dominicana; Eddy Lagae, da Bélgica; Richard Reiser, dos Estados Unidos. O Bizon faz parte dessa equipe. Estarão conosco no dia 11, quando faremos as reuniões e os planejamentos regionais. Em princípio, a coordenação internacional deve ficar em Caucaia até o fim da semana, em reunião, enquanto nós terminamos no dia 12. Estamos solicitando que eles se desloquem para a cidade de Goiás, onde estará acontecendo o Mês de Nazaré.
Atenção: Quando chegar em Fortaleza, vá até a Avenida do Imperador. Nessa avenida passam os ônibus da empresa Vitória. Tome o ônibus Capuan ou Sítios Novos. Eles passam na frente do convento das irmãs, na Rua Coronel Garcia, 2718. Tel (85) 3342.0906.
Atenção: Quando chegar em Fortaleza, vá até a Avenida do Imperador. Nessa avenida passam os ônibus da empresa Vitória. Tome o ônibus Capuan ou Sítios Novos. Eles passam na frente do convento das irmãs, na Rua Coronel Garcia, 2718. Tel (85) 3342.0906.
2. Mês de Nazaré. – Será no Mosteiro da Anunciação, na cidade de Goiás, Go, de 4 a 29 de janeiro. De 5 a 9 se fará um retiro com a ajuda do Anchieta e do livro “15 dias com o Irmão Carlos”. Há um grupo inscrito e esperamos que outros irmãos se decidam a fazer o mês. A coordenação é do nosso irmão Freddy, de Alagoinhas, Ba. Se for possível, a coordenação internacional fará lá o seu encontro.
2. Mês de Nazaré. – Será no Mosteiro da Anunciação, na cidade de Goiás, Go, de 4 a 29 de janeiro. De 5 a 9 se fará um retiro com a ajuda do Anchieta e do livro “15 dias com o Irmão Carlos”. Há um grupo inscrito e esperamos que outros irmãos se decidam a fazer o mês. A coordenação é do nosso irmão Freddy, de Alagoinhas, Ba. Se for possível, a coordenação internacional fará lá o seu encontro.
3. O Mosteiro de Goiás e a Fraternidade de Extrema, MG. – O Mosteiro beneditino de Goiás, por falta de monges, passou à administração da Diocese. Dom Eugênio pediu sugestões à nossa Fraternidade, esperando até que pudéssemos assumir o Mosteiro e transformá-lo num ponto de encontro, revitalização, oração para padres e outras pessoas. Tal projeto já circulou entre nós no passado. Não é claro que seja nossa vocação tal empreendimento. Mas, pode ser. Neste momento indicamos a Dom Eugênio uma comunidade nascente em Extrema, MG, na linha da espiritualidade do Irmão Carlos. São sete rapazes. Tiveram contatos com o Pe. Bizon e recentemente seis deles estiveram com o Pe. Celso e conversaram sobre o assunto. Estão enviando três rapazes para Goiás. O início da experiência será no primeiro domingo do Advento. Dom Eugênio conta com o nosso apoio e nossa presença. Pe. Paulo passará um dia com os três a cada quinze dias. O Mês de Nazaré será feito lá com a participação dos três para maior entrosamento entre as pessoas e com a espiritualidade. Fica aberto o convite para os padres que queiram ficar algum tempo com os nossos irmãos de Extrema no Mosteiro de Goiás.
3. O Mosteiro de Goiás e a Fraternidade de Extrema, MG. – O Mosteiro beneditino de Goiás, por falta de monges, passou à administração da Diocese. Dom Eugênio pediu sugestões à nossa Fraternidade, esperando até que pudéssemos assumir o Mosteiro e transformá-lo num ponto de encontro, revitalização, oração para padres e outras pessoas. Tal projeto já circulou entre nós no passado. Não é claro que seja nossa vocação tal empreendimento. Mas, pode ser. Neste momento indicamos a Dom Eugênio uma comunidade nascente em Extrema, MG, na linha da espiritualidade do Irmão Carlos. São sete rapazes. Tiveram contatos com o Pe. Bizon e recentemente seis deles estiveram com o Pe. Celso e conversaram sobre o assunto. Estão enviando três rapazes para Goiás. O início da experiência será no primeiro domingo do Advento. Dom Eugênio conta com o nosso apoio e nossa presença. Pe. Paulo passará um dia com os três a cada quinze dias. O Mês de Nazaré será feito lá com a participação dos três para maior entrosamento entre as pessoas e com a espiritualidade. Fica aberto o convite para os padres que queiram ficar algum tempo com os nossos irmãos de Extrema no Mosteiro de Goiás.
4. Retiro de seminaristas. Fizemos o retiro em Alagoinhas, BA, no mosteiro de Taizé, nos dias 21-23 de julho de 2009. Pe. Celso e Pe. José João de São Paulo orientaram o retiro. Pe Silvano ficou com o grupo o tempo todo assim como o Pe. Videlson, que já estava em Taize. Jailson passou para um almoço com a turma e Jaime veio uma manhã e fez uma palestra sobre nossa história e nossa espiritualidade. Participamos cada dia dos três momentos de oração dos irmãos de Taizé, recebendo a comunhão, conforme o costume deles, e uma tarde celebramos entre nós. Foi-lhes apresentada a fraternidade e seus meios, com a insistência na graça do encontro, na amizade e na secularidade de nossa vocação. Não pedimos que formassem fraternidade, por estarem ainda no seminário, mas que mantivessem contato com os padres e os outros ramos da família, procurassem fazer a adoração e ler a nossa literatura. Foi tudo muito simples e muito fraterno. A coordenação achou bom repetir o retiro e marcou para o próximo ano, de cinco a nove de julho, também na cidade de Goiás. Os seminaristas entrariam assim em contato com a nova comunidade do mosteiro. Gostaríamos muito de contar com o Gildo do Rio e o Aldo de São Paulo para esse retiro. Conversamos também sobre o futuro de Taizé no Brasil. Na dinâmica do provisório, os irmãos decidiram sair do Brasil e abrir uma comunidade no Chile. O terreno do mosteiro é da diocese. Rezamos para que se mantenha em Alagoinhas o ambiente de oração criado pelos irmãos de Taizé. Lembramos que o Pe. Voillaume esteve muito presente nos inícios de Taizé na França.
4. Retiro de seminaristas. Fizemos o retiro em Alagoinhas, BA, no mosteiro de Taizé, nos dias 21-23 de julho de 2009. Pe. Celso e Pe. José João de São Paulo orientaram o retiro. Pe Silvano ficou com o grupo o tempo todo assim como o Pe. Videlson, que já estava em Taize. Jailson passou para um almoço com a turma e Jaime veio uma manhã e fez uma palestra sobre nossa história e nossa espiritualidade. Participamos cada dia dos três momentos de oração dos irmãos de Taizé, recebendo a comunhão, conforme o costume deles, e uma tarde celebramos entre nós. Foi-lhes apresentada a fraternidade e seus meios, com a insistência na graça do encontro, na amizade e na secularidade de nossa vocação. Não pedimos que formassem fraternidade, por estarem ainda no seminário, mas que mantivessem contato com os padres e os outros ramos da família, procurassem fazer a adoração e ler a nossa literatura. Foi tudo muito simples e muito fraterno. A coordenação achou bom repetir o retiro e marcou para o próximo ano, de cinco a nove de julho, também na cidade de Goiás. Os seminaristas entrariam assim em contato com a nova comunidade do mosteiro. Gostaríamos muito de contar com o Gildo do Rio e o Aldo de São Paulo para esse retiro. Conversamos também sobre o futuro de Taizé no Brasil. Na dinâmica do provisório, os irmãos decidiram sair do Brasil e abrir uma comunidade no Chile. O terreno do mosteiro é da diocese. Rezamos para que se mantenha em Alagoinhas o ambiente de oração criado pelos irmãos de Taizé. Lembramos que o Pe. Voillaume esteve muito presente nos inícios de Taizé na França.
5. Publicações – A coordenação nacional verificou também o estado das publicações. O livro de Antoine Chatelart, Vers Tamanressset, já está traduzido e impresso. Aguardamos que as Paulinas o coloquem à venda. Excelente obra do irmãozinho de Jesus que vive em Tamanrasset. O Fermento na Massa e a biografia da Irmãzinha Magdeleine estão dependendo da cessão dos direitos autorais das Edições du Cerf, na França. Nosso irmão Jaime de Alagoinhas fez uma pesquisa sobre a história da Fraternidade no Brasil. Estava faltando o relato de São Paulo. Foi feita uma longa entrevista com Darcy Corazza, que está cego, mas, infelizmente, a gravação se perdeu. Vamos tentar fazê-la de novo. A publicação em português legendado ou dublado dos dvds da beatificação do Irmão Carlos está parada. Vamos levá-la adiante, verificando primeiramente os preços. Todos estão de acordo que é melhor dublar.
5. Publicações – A coordenação nacional verificou também o estado das publicações. O livro de Antoine Chatelart, Vers Tamanressset, já está traduzido e impresso. Aguardamos que as Paulinas o coloquem à venda. Excelente obra do irmãozinho de Jesus que vive em Tamanrasset. O Fermento na Massa e a biografia da Irmãzinha Magdeleine estão dependendo da cessão dos direitos autorais das Edições du Cerf, na França. Nosso irmão Jaime de Alagoinhas fez uma pesquisa sobre a história da Fraternidade no Brasil. Estava faltando o relato de São Paulo. Foi feita uma longa entrevista com Darcy Corazza, que está cego, mas, infelizmente, a gravação se perdeu. Vamos tentar fazê-la de novo. A publicação em português legendado ou dublado dos dvds da beatificação do Irmão Carlos está parada. Vamos levá-la adiante, verificando primeiramente os preços. Todos estão de acordo que é melhor dublar.
6. Revisão de Vida – Falamos ainda das dificuldades da Revisão de Vida nas fraternidades. Não é fácil fazê-la e os mais novos não têm a prática da antiga Ação Católica. Combinamos editar um número especial do Boletim sobre esse tema. A propósito da revisão, falamos entre nós da violência que grassa pelo país a fora e da corrupção entre os políticos. O que nós como padres da Fraternidade podemos fazer? Uma campanha de não reeleição? E a violência que se complicou demais em suas causas?
6. Revisão de Vida – Falamos ainda das dificuldades da Revisão de Vida nas fraternidades. Não é fácil fazê-la e os mais novos não têm a prática da antiga Ação Católica. Combinamos editar um número especial do Boletim sobre esse tema. A propósito da revisão, falamos entre nós da violência que grassa pelo país a fora e da corrupção entre os políticos. O que nós como padres da Fraternidade podemos fazer? Uma campanha de não reeleição? E a violência que se complicou demais em suas causas?
7. Próximo encontro – A coordenação nacional se encontrará no retiro de Fortaleza e no próximo ano em Porto Alegre, de 18 a 22 de outubro de 2010.
7. Próximo encontro – A coordenação nacional se encontrará no retiro de Fortaleza e no próximo ano em Porto Alegre, de 18 a 22 de outubro de 2010.
8. Os Regionais – Os responsáveis presentes prestaram contas do seu regional, e dos encontros que todos fizeram, com exceção do Sudeste. Não temos notícias do Leste.
8. Os Regionais – Os responsáveis presentes prestaram contas do seu regional, e dos encontros que todos fizeram, com exceção do Sudeste. Não temos notícias do Leste.
3.2. ENCONTRO DAS FRATENIDADES DO NORDESTE
3.2. ENCONTRO DAS FRATENIDADES DO NORDESTE
Em atitude de PARTILHA com os irmãos das diversas fraternidades do Brasil, informamos a realização do Encontro das Fraternidades do Nordeste/2009.
Em atitude de PARTILHA com os irmãos das diversas fraternidades do Brasil, informamos a realização do Encontro das Fraternidades do Nordeste/2009.
O território de acolhida foi o Estado do Piauí. De modo exato, a cidade de Esperantina (Diocese de Parnaíba).
O território de acolhida foi o Estado do Piauí. De modo exato, a cidade de Esperantina (Diocese de Parnaíba).
O anfitrião foi o Padre Hernesto, membro da Fraternidade.
O anfitrião foi o Padre Hernesto, membro da Fraternidade.
Envolvendo os dias 25 e 26 de agosto, comparecemos as seguintes fraternidades:
Envolvendo os dias 25 e 26 de agosto, comparecemos as seguintes fraternidades:
1. Alagoinhas (BA); (incluindo dois Leigos)
1. Alagoinhas (BA); (incluindo dois Leigos)
2. Crateús (CE);
2. Crateús (CE);
3. Itapipoca (CE);
3. Itapipoca (CE);
4. Esperantina (PI).
4. Esperantina (PI).
Trabalhamos durante os dois dias na trilha dos “Meios da Fraternidade”: Oração comum, Adoração, Eucaristia, Revisão de Vida, lazer...
Trabalhamos durante os dois dias na trilha dos “Meios da Fraternidade”: Oração comum, Adoração, Eucaristia, Revisão de Vida, lazer...
A primeira ocupação que tivemos foi de ESTUDO. Com assessoria de Padre Jaime Jongmans, fomos introduzidos na mais recente publicação literária sobre o Irmão Carlos: Le Chenim Veris Tamanrasset (O Caminho Rumo a Tamanrasset)...
A primeira ocupação que tivemos foi de ESTUDO. Com assessoria de Padre Jaime Jongmans, fomos introduzidos na mais recente publicação literária sobre o Irmão Carlos: Le Chenim Veris Tamanrasset (O Caminho Rumo a Tamanrasset)...
Entre as “vivências”, foi significativa para nós a de integração com a Comunidade de Lagoa Seca. Estando a mesma no Festejo Religioso e a convite de Padre Hernesto, nos fizemos presentes na Celebração do dia 25. Além da Santa Eucaristia, presidida por nosso Responsável Regional (Padre Eliésio dos Santos), fizemos um mutirão para Confissão dos fieis. E a comunidade nos recepcionou com um jantar fraterno, farto e delicioso, especialmente o creme de graviola...
Entre as “vivências”, foi significativa para nós a de integração com a Comunidade de Lagoa Seca. Estando a mesma no Festejo Religioso e a convite de Padre Hernesto, nos fizemos presentes na Celebração do dia 25. Além da Santa Eucaristia, presidida por nosso Responsável Regional (Padre Eliésio dos Santos), fizemos um mutirão para Confissão dos fieis. E a comunidade nos recepcionou com um jantar fraterno, farto e delicioso, especialmente o creme de graviola...
Nas comunicações, Padre Freddy Goven informou sobre os preparativos para o Mês de Nazaré 2009. Ele manifestou inquietação com o atraso do Boletim, que deveria estar noticiando os encaminhamentos para o referido Mês. PEDIMOS URGÊNCIA!
Nas comunicações, Padre Freddy Goven informou sobre os preparativos para o Mês de Nazaré 2009. Ele manifestou inquietação com o atraso do Boletim, que deveria estar noticiando os encaminhamentos para o referido Mês. PEDIMOS URGÊNCIA!
Alegres em partilhar, com votos de perseverança e dinamismo no caminhar de todas as fraternidades do Brasil, ofertamos a cada irmão e irmã que as integram nosso caloroso abraço.
Alegres em partilhar, com votos de perseverança e dinamismo no caminhar de todas as fraternidades do Brasil, ofertamos a cada irmão e irmã que as integram nosso caloroso abraço.
Pela nota de “partilha”,
Pela nota de “partilha”,
Padre Aldenor Claudino
Padre Aldenor Claudino
3.3. ENCONTRO DAS FRATERNIDADES DA REGIÃO SUL
3.3. ENCONTRO DAS FRATERNIDADES DA REGIÃO SUL
O encontro das fraternidades da região sul (SC, PR e RS) aconteceu entre os dias 13 e 15 de setembro de 2009 em Porto Alegre. A estrutura do encontro seguiu o esquema do “dia da fraternidade”: tivemos momentos de deserto, revisão de vida e Eucaristia (adoração e celebração).
O encontro das fraternidades da região sul (SC, PR e RS) aconteceu entre os dias 13 e 15 de setembro de 2009 em Porto Alegre. A estrutura do encontro seguiu o esquema do “dia da fraternidade”: tivemos momentos de deserto, revisão de vida e Eucaristia (adoração e celebração).
Estiveram presentes as fraternidades de Caxias do Sul e Porto Alegre, e dois seminaristas de Joinvile.
Estiveram presentes as fraternidades de Caxias do Sul e Porto Alegre, e dois seminaristas de Joinvile.
Como ponto alto do encontro devemos indicar a confirmação da importância da revisão de vida feita num clima de confiança e oração.
Como ponto alto do encontro devemos indicar a confirmação da importância da revisão de vida feita num clima de confiança e oração.
Pe. Sílvio Guterres Dutra
Pe. Sílvio Guterres Dutra
3.4. PRIMAVERA DE CHILE "MARIANO PUGA"
3.4. PRIMAVERA DE CHILE "MARIANO PUGA"
En un tiempo cuando los medios de masas en Chile han alcanzado los
En un tiempo cuando los medios de masas en Chile han alcanzado los
niveles más altos de estupidez farandulera, y en un contexto donde
niveles más altos de estupidez farandulera, y en un contexto donde
nadie tiene poder de convocatoria-a excepción de grupos rockeros
nadie tiene poder de convocatoria-a excepción de grupos rockeros
foráneos que de vez en cuando llenan algún estadio, en un corto
foráneos que de vez en cuando llenan algún estadio, en un corto
período, se han producido dos eventos con llenos totales en los
período, se han producido dos eventos con llenos totales en los
resintos escogidos para celebrarlos, pero sobre todo ha sido
resintos escogidos para celebrarlos, pero sobre todo ha sido
manifiesto el alto espíritu de alegría, de esperanza y de comunión de
manifiesto el alto espíritu de alegría, de esperanza y de comunión de
parte de sus concurrentes. Ellos se sienten "protagonistas", y no
parte de sus concurrentes. Ellos se sienten "protagonistas", y no
meros "espectadores". Son hombres y mujeres de todas las edades que se
meros "espectadores". Son hombres y mujeres de todas las edades que se
reunen en torno a la figura excepcional de Mariano Puga.
reunen en torno a la figura excepcional de Mariano Puga.
Mariano como es su peculiaridad conserva su gran capacidad de amor, de
Mariano como es su peculiaridad conserva su gran capacidad de amor, de
acogida y de humor. En todo momento, él da testimonio de su fe y de
acogida y de humor. En todo momento, él da testimonio de su fe y de
sus convicciones. En medio de los aplausos y vítores, como: ¡"Mariano,
sus convicciones. En medio de los aplausos y vítores, como: ¡"Mariano,
hermano, el pueblo está contigo"!, él no ha dejado de emocionarse y
hermano, el pueblo está contigo"!, él no ha dejado de emocionarse y
expresar: "Este premio les pertenece a todos Uds.". Se refiere a la
expresar: "Este premio les pertenece a todos Uds.". Se refiere a la
condecoración de haber recibido el título de "Héroe de la Paz". Una
condecoración de haber recibido el título de "Héroe de la Paz". Una
iniciativa de la Universidad Padre Hurtado, para destacar el concepto
iniciativa de la Universidad Padre Hurtado, para destacar el concepto
de "héroe" divulgado por el Padre Hurtado: como una persona que con su
de "héroe" divulgado por el Padre Hurtado: como una persona que con su
constancia de carácter, compromiso con la justicia, los derechos
constancia de carácter, compromiso con la justicia, los derechos
humanos y la paz; y con la solidaridad hacia los más débiles da
humanos y la paz; y con la solidaridad hacia los más débiles da
cuenta de la puesta en práctica de los valores que pueden ser punto de
cuenta de la puesta en práctica de los valores que pueden ser punto de
partida para un Chile nuevo, más juesto y más humano.
partida para un Chile nuevo, más juesto y más humano.
Mariano ha insistido en estas ocasiones, tanto en la celebración de
Mariano ha insistido en estas ocasiones, tanto en la celebración de
sus 50 años de vida sacerdotal, como en la solemne ceremonia en el
sus 50 años de vida sacerdotal, como en la solemne ceremonia en el
resinto del Ex-Congreso de Chile, en Santiago, con la presencia de la
resinto del Ex-Congreso de Chile, en Santiago, con la presencia de la
Exma. Presidente de Chile, Dra. Michelle Bachellet, que es necesario
Exma. Presidente de Chile, Dra. Michelle Bachellet, que es necesario
"escuchar". Hay que escuchar a los pobres, a los explotados, a los que
"escuchar". Hay que escuchar a los pobres, a los explotados, a los que
no se rinden ni se venden al universo de antivalores que están
no se rinden ni se venden al universo de antivalores que están
carcomiendo nuestra sociedad hundida en un rampante consumismo sin
carcomiendo nuestra sociedad hundida en un rampante consumismo sin
alma.
alma.
Estos dos eventos han estado llenos de emociones, lágrimas de alegría
Estos dos eventos han estado llenos de emociones, lágrimas de alegría
y esperanza de centenares de hombres y mujeres, jóvenes y niños que
y esperanza de centenares de hombres y mujeres, jóvenes y niños que
concurren y pueden seguir concurriendo a este tipo de convocatorias en
concurren y pueden seguir concurriendo a este tipo de convocatorias en
torno a líderes del estilo de Mariano Puga, quien agradece a este
torno a líderes del estilo de Mariano Puga, quien agradece a este
pueblo que lo haya formado y llegar a ser lo que es. "Me debo a Uds."
pueblo que lo haya formado y llegar a ser lo que es. "Me debo a Uds."
afirma dando gracias a los pobres que tienen hambre de justicia.
afirma dando gracias a los pobres que tienen hambre de justicia.
Josè Leandro Flores e Comitè Oscar Romero de Chile,
Josè Leandro Flores e Comitè Oscar Romero de Chile,
6 de octubre de 2009.
6 de octubre de 2009.
Chile
Chile
Frente a la crisis sacerdotal
Frente a la crisis sacerdotal
Por José Aldunate, s.j.
Por José Aldunate, s.j.
El sacerdocio y aun la Iglesia del futuro serán, al fin, no algo
El sacerdocio y aun la Iglesia del futuro serán, al fin, no algo
estereotipado, sino lo que la juventud de hoy hará de ella y hará de su
estereotipado, sino lo que la juventud de hoy hará de ella y hará de su
sacerdocio.
sacerdocio.
Miércoles 7 de octubre de 2009 | | Blog Columnistas
Miércoles 7 de octubre de 2009 | | Blog Columnistas
Estamos en una crisis sacerdotal. Los jóvenes ya no quieren ser "curas".
Estamos en una crisis sacerdotal. Los jóvenes ya no quieren ser "curas".
Sobre todo, la misma imagen del sacerdote está dañada por abusos
Sobre todo, la misma imagen del sacerdote está dañada por abusos
lamentables de unos pocos, y los reparos de una nueva juventud. "Que pasar
lamentables de unos pocos, y los reparos de una nueva juventud. "Que pasar
metido en la sacristía no me interesa", "que el celibato no me convence",
metido en la sacristía no me interesa", "que el celibato no me convence",
"que los párrocos son prepotentes", etcétera. La Iglesia está preocupada.
"que los párrocos son prepotentes", etcétera. La Iglesia está preocupada.
El Papa ha declarado esta temporada "año sacerdotal". Ante las imágenes
El Papa ha declarado esta temporada "año sacerdotal". Ante las imágenes
distorsionadas del sacerdocio, podemos ofrecer otras tres más auténticas
distorsionadas del sacerdocio, podemos ofrecer otras tres más auténticas
en realidad.
en realidad.
(1) Alberto Hurtado transparentó un mensaje de entrega a los pobres y al
(1) Alberto Hurtado transparentó un mensaje de entrega a los pobres y al
mundo laboral, rompía la reclusión de la Iglesia de su tiempo y la preparó
mundo laboral, rompía la reclusión de la Iglesia de su tiempo y la preparó
para el aggiornamento del Concilio Vaticano II (1962-65). Los jóvenes
para el aggiornamento del Concilio Vaticano II (1962-65). Los jóvenes
marcharon con él. Constituyó un fuego que encendió otros fuegos,
marcharon con él. Constituyó un fuego que encendió otros fuegos,
proporcionándoles, a la vez, el acceso a las fuentes que alimentan todo
proporcionándoles, a la vez, el acceso a las fuentes que alimentan todo
compromiso de vida. En 2003 fue proclamado por la Iglesia como testigo de
compromiso de vida. En 2003 fue proclamado por la Iglesia como testigo de
la acción de Dios, transformadora del mundo.
la acción de Dios, transformadora del mundo.
(2) El obispo Jorge Hourton. Ahora estoy leyendo su autobiografía recién
(2) El obispo Jorge Hourton. Ahora estoy leyendo su autobiografía recién
publicada: "Memorias de un obispo sobreviviente" (Ediciones Lom).
publicada: "Memorias de un obispo sobreviviente" (Ediciones Lom).
Sobrevive en verdad a una admirable serie de obispos y sacerdotes que
Sobrevive en verdad a una admirable serie de obispos y sacerdotes que
dieron una batalla en momentos delicados y dolorosos para Chile durante la
dieron una batalla en momentos delicados y dolorosos para Chile durante la
dictadura militar. Comprendieron que ante el asesinato y la desaparición,
dictadura militar. Comprendieron que ante el asesinato y la desaparición,
la tortura y despojo de centenares de hermanos, y la usurpación del poder
la tortura y despojo de centenares de hermanos, y la usurpación del poder
político, la Iglesia no podía quedar indiferente. Por estos derechos
político, la Iglesia no podía quedar indiferente. Por estos derechos
humanos se jugaron, ayudando y salvando la vida de muchos. Aunque es
humanos se jugaron, ayudando y salvando la vida de muchos. Aunque es
verdad que no todos los prelados estuvieron a la altura.
verdad que no todos los prelados estuvieron a la altura.
Jorge Hourton juntó a agnósticos, marxistas y cristianos en una secretaría
Jorge Hourton juntó a agnósticos, marxistas y cristianos en una secretaría
donde se compartió el diálogo y la comprensión, preparando la convivencia
donde se compartió el diálogo y la comprensión, preparando la convivencia
democrática que Chile ha querido consolidar.
democrática que Chile ha querido consolidar.
(3) Mariano Puga es nuestra tercera figura sacerdotal. Testigo del
(3) Mariano Puga es nuestra tercera figura sacerdotal. Testigo del
Evangelio inmerso en nuestra realidad social. Obrero con los obreros, lo
Evangelio inmerso en nuestra realidad social. Obrero con los obreros, lo
veíamos encaramado en los andamios pintando edificios; con los familiares
veíamos encaramado en los andamios pintando edificios; con los familiares
de desaparecidos; en Villa Grimaldi con los torturados; en La Legua con
de desaparecidos; en Villa Grimaldi con los torturados; en La Legua con
drogadictos y delincuentes. Finalmente, acompañando en su caminar a los
drogadictos y delincuentes. Finalmente, acompañando en su caminar a los
responsables de las comunidades católicas de Chiloé.
responsables de las comunidades católicas de Chiloé.
En la iglesia de San Francisco, de Santiago, celebró Mariano Puga sus 50
En la iglesia de San Francisco, de Santiago, celebró Mariano Puga sus 50
años de vida sacerdotal. Para acompañarlo estuvimos centenares de
años de vida sacerdotal. Para acompañarlo estuvimos centenares de
compañeros de su vida y andanzas, para agradecerle y agradecer a Dios el
compañeros de su vida y andanzas, para agradecerle y agradecer a Dios el
bien que nos ha significado encontrarlo en el camino de nuestra vida.
bien que nos ha significado encontrarlo en el camino de nuestra vida.
Yo me pregunto si la figura del sacerdocio que nos ofrecen estos tres
Yo me pregunto si la figura del sacerdocio que nos ofrecen estos tres
hombres -Hurtado, Hourton y Puga- no será atractiva y desafiante para la
hombres -Hurtado, Hourton y Puga- no será atractiva y desafiante para la
juventud de nuestros días. Yo les diría que el sacerdocio y aun la Iglesia
juventud de nuestros días. Yo les diría que el sacerdocio y aun la Iglesia
del futuro serán, al fin, no algo estereotipado, sino lo que la juventud
del futuro serán, al fin, no algo estereotipado, sino lo que la juventud
de hoy hará de ella y hará de su sacerdocio.
de hoy hará de ella y hará de su sacerdocio.
4. Despesas em Geral- Fraternidade Jesus Caritas- 2009
4. Despesas em Geral- Fraternidade Jesus Caritas- 2009
ENTRADAS
ENTRADAS
Saldo em Dezembro 2009- 4.161,16
Saldo em Dezembro 2009- 4.161,16
Contrib. jan. 2009- No retiro de Brasília 4.600,00
Contrib. jan. 2009- No retiro de Brasília 4.600,00
Doações recebidas para a Fraternidade 1.780,00
Doações recebidas para a Fraternidade 1.780,00
Contrib. receb. de fev. a out. 2009 1.260,00
Contrib. receb. de fev. a out. 2009 1.260,00
Contr. de fev. a out. 2009 c/Bradesco 500,00
Contr. de fev. a out. 2009 c/Bradesco 500,00
DESPESAS
DESPESAS
Postagens/selos 1.402,05
Postagens/selos 1.402,05
Retiro de Alagoinhas BA – Diárias 840,00
Retiro de Alagoinhas BA – Diárias 840,00
Confecção dos boletins 1.014,45
Confecção dos boletins 1.014,45
Confecção de boletins - 2009 2.310,95
Confecção de boletins - 2009 2.310,95
Confecção de folders 780,00
Confecção de folders 780,00
Compra dos livros Espiritualidade presbiteral 460,00
Compra dos livros Espiritualidade presbiteral 460,00
Retorno dos livros Espiritualidade presbiteral 690,00
Retorno dos livros Espiritualidade presbiteral 690,00
Despesas bancarias 421,58
Despesas bancarias 421,58
Ajuda para a fraternidade internacional 650,00
Ajuda para a fraternidade internacional 650,00
Total Parcial
Total Parcial
entradas 12.991,16
entradas 12.991,16
saídas 7.949,03
saídas 7.949,03
saldo 5.042,13
saldo 5.042,13
No Unibanco temos C/c : 544,17
No Unibanco temos C/c : 544,17
Aplicado 4.280,34
Aplicado 4.280,34
No Bradesco: C/c : 217,62
No Bradesco: C/c : 217,62
Total de R$ 5,042,13
Total de R$ 5,042,13
Pe. José João da Silva
Pe. José João da Silva
5. UM LIVRO UM AMIGO
5. UM LIVRO UM AMIGO
SUESS, Paulo (organizador). Servo de Cristo Jesus. Memória de lutas e esperanças. Dom Erwin Krautler. Paulinas, São Paulo, 2009.
SUESS, Paulo (organizador). Servo de Cristo Jesus. Memória de lutas e esperanças. Dom Erwin Krautler. Paulinas, São Paulo, 2009.
SILVA, Celso Pedro da e BIZON, J. (Orgs.) Meios para uma espiritualidade presbiteral. Ed. Loyola, São Paulo, 2ª. edição, 2009.
SILVA, Celso Pedro da e BIZON, J. (Orgs.) Meios para uma espiritualidade presbiteral. Ed. Loyola, São Paulo, 2ª. edição, 2009.
FRAÇOIS SIX, Jean, Charles de Foucauld, O Irmãozinho de Jesus. Paulinas, São Paulo, 2008.
FRAÇOIS SIX, Jean, Charles de Foucauld, O Irmãozinho de Jesus. Paulinas, São Paulo, 2008.
MURPHY, Roseane, Mártir da Amazônia. Paulus, São Paulo, 2009.
MURPHY, Roseane, Mártir da Amazônia. Paulus, São Paulo, 2009.
MARCONI, Momolina, Prelúdio à história das religiões. São Paulo, Paulus, 2009.
MARCONI, Momolina, Prelúdio à história das religiões. São Paulo, Paulus, 2009.
COMBLIN, José, A profecia na Igreja, São Paulo, Paulus, 2009.
COMBLIN, José, A profecia na Igreja, São Paulo, Paulus, 2009.
ARINZI, Francis, Reflexões sobre o Sacerdócio, carta a um jovem padre, São Paulo, Paulus, 2009
ARINZI, Francis, Reflexões sobre o Sacerdócio, carta a um jovem padre, São Paulo, Paulus, 2009
6. AGENDA
6. AGENDA
Retiro Anual
Retiro Anual
05 a 12 de janeiro de 2010
05 a 12 de janeiro de 2010
Orientador: Pe. Geraldo Gereon
Orientador: Pe. Geraldo Gereon
Casa de Encontros Cordimariana
Casa de Encontros Cordimariana
Rua Coronel Correia, 2.718
Rua Coronel Correia, 2.718
Fortaleza - Caucaia – CE
Fortaleza - Caucaia – CE
Tel. (85) 3342-0906
Tel. (85) 3342-0906
Diária R$ 40,00
Diária R$ 40,00
Resp. Pe. Celso Pedro da Silva
Resp. Pe. Celso Pedro da Silva
Mês de Nazaré
Mês de Nazaré
04 a 29 de janeiro 2010
04 a 29 de janeiro 2010
Mosteiro da Anunciação do Senhor
Mosteiro da Anunciação do Senhor
Rua Felipe Leddet, s/n
Rua Felipe Leddet, s/n
Goiás, GO
Goiás, GO
Resp. Pe. Freddy Goven e Equipe
Resp. Pe. Freddy Goven e Equipe
Retiro para Seminaristas
Retiro para Seminaristas
5 a 9 de julho de 2010
5 a 9 de julho de 2010
Mosteiro da Anunciação do Senhor
Mosteiro da Anunciação do Senhor
Goiás, GO
Goiás, GO
Resp. Pe. Celso Pedro da Silva
Resp. Pe. Celso Pedro da Silva
Retiro da Região Nordeste
Retiro da Região Nordeste
17 e 18 de agosto de 2010
17 e 18 de agosto de 2010
Alagoinhas, BA
Alagoinhas, BA
Resp. Pe. Eliésio dos Santos
Resp. Pe. Eliésio dos Santos
Equipe de Coordenação
Equipe de Coordenação
18 a 22 de outubro de 2010
18 a 22 de outubro de 2010
Porto Alegre, RS
Porto Alegre, RS
Resp. Pe. Celso Pedro da Silva
Resp. Pe. Celso Pedro da Silva
FAMÍLIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD NO BRASIL (CLIQUE PARA ACESSAR A LISTA DA FAMÍLIA C.F.)
FAMÍLIA ESPIRITUAL DO IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD NO BRASIL (CLIQUE PARA ACESSAR A LISTA DA FAMÍLIA C.F.)