O DIÁLOGO- STA. CAT. DE SENA

O DIÁLOGO – SANTA CATARINA DE SENA

INTRODUÇÃO

RESUMO DO LIVRO "O DIÁLOGO", DE SANTA CATARINA DE SENA, ORIENTADO PELO PRÓPRIO DEUS.

(São 37 pequenos capítulos).

(Ed.Paulinas 1984, trad. de Frei João Alves Brasílio, OP.)

Trata-se de revelações feitas pelo próprio Deus a Santa Catarina de Sena que, sem saber escrever, pedia a alguns redatores que copiassem o que ela ditasse durante seus êxtases. Ocorreu entre 1377 e 1378. A santa tinha 30 e 31 anos, tendo morrido 2 ou 3 anos depois, em 1380, com 33 anos, após ter conseguido fazer retornar o papa, que estava exilado na França, à Itália.

CAPÍTULO 1

Para saborear a Verdade e ser por ela iluminado (a) é preciso a oração humilde e contínua, baseada no conhecimento sincero de si mesmo e no conhecimento de Deus.

João 14,21; 17,21- “Quem ama guarda as minhas palavras e eu me manifestarei a ele; será uma só coisa comigo e eu com ele.” Pelo amor nós nos tornamos outros cristos!

Destruir a vontade própria e vestir-se com a veste nupcial da caridade e das virtudes, vestir-se com a vontade divina, unir-se e conformar-se a ela.

AS QUATRO PETIÇÕES DA SANTA

1- Primeiramente pede por si mesma, para adquirir as virtudes.

2- Pela reforma da Santa Igreja.

3- Pelo mundo todo, pela pacificação dos cristãos rebeldes, que tanto pecam e prejudicam a Santa Igreja.

4- Para que a Providência Divina cuide todos. Coloca um caso particular.

A Eucaristia é o meio mais apto para a união da pessoa com Deus e para um maior conhecimento da Verdade. Na comunhão, a pessoa se acha em Deus e Deus na pessoa, como o peixe no mar e o mar no peixe.

CAPÍTULO 02

Os sofrimentos são insuficientes para satisfazer a Deus das menores culpas. Deus é um abem infinito que exige uma satisfação infinita.

Os males não são punições, mas correções a filho que ofende. A satisfação se dá, portanto, pelo amor, pelo arrependimento e pelo desprezo do pecado. Deus quer amor e dor infinitos. O amor é infinito.

Esse amor unido a Deus se manifesta quando sofremos pela ofensa a ele cometida ou quando vemos que outros o ofendem.

Essas ações são fortalecidas pelas virtudes, pela caridade, pela contrição, pelo desprezo da culpa, que são infinitos.

1ª Cor 13,13: “Se eu não tiver caridade”...nenhuma de minhas ações em favor dos outros terá qualquer valor.

Reparamos nossas ofensas pela contrição interior, pelo amor paciente e pela humildade, considerando-nos merecedores de castigos e não de prêmios. Isso se consegue pelo autoconhecimento (conhecimento de si próprio) e consciência das próprias culpas (ser sincero ao constatar os próprios pecados).

Humildade: nada somos! Nosso ser procede de Deus, que nos ama desde antes de nascermos.

O sangue de Jesus nos lavou num “incêndio de amor”, dando-nos uma vida nova.

Ao conhecer a Verdade sofremos muito, pois tomamos conhecimento de nossos pecados e vemos a tão cega ingratidão humana. Só sofre quem ama!

Muita paciência, arrependimento e amor à virtude. Deus, então, cancelará as manchas do nosso pecado.. Já não levará em conta que nós o ofendemos. Ouvir os servidores de Deus quando nos orientam.

Deus usa muitos caminhos para convidar-nos à graça. Entre eles, o caminho dos sofrimentos.

Sem essa dor e contrição perfeita dos pecados cometidos, não alcançaremos a remissão da pena, mas apenas o perdão da culpa. Nesse caso, a remissão da pena se dará apenas no Purgatório.

Essa mancha que o pecado nos deixa é duro como um diamante, que só o Sangue de Cristo consegue quebrar.

Entretanto, enquanto vivermos poderemos mudar de atitude e pedir perdão, implorando a Graça da dor e da contrição perfeita. Se demorarmos, o tempo oportuno se esgotará e aí já não haverá mais remédio.

Deus nos deu a memória, para recordarmos os benefícios recebidos, a inteligência para conhecermos a verdade e a vontade, para o amarmos como herança eterna.

Muitos dão ao demônio a memória, quando se permitem recordações desonestas, orgulho, amor-próprio, ódio, desprezo pelos outros. A inteligência, quando é ofuscada pela vontade. A vontade, quando os leva à corrupção e à vida de pecado. O resultado não pode ser outro: O FOGO ETERNO.

Quanto mais suportamos as dores, mais mostramos que amamos a Deus. Amando, conheceremos melhor a Verdade. Quanto mais a conhecermos, mais sentiremos dor ao ver Deus ofendido.

A paciência e a caridade só existem se estiverem unidas. Se perdermos uma delas, perderemos também a outra. É na adversidade que se prova ter paciência e amor.


TODA VIRTUDE É PRATICADA NO PRÓXIMO

Quem vive longe de Deus prejudica o próximo e a si mesmo, pois o primeiro próximo nosso somos nós próprios.

Socorrer pela oração e pelos atos concretos ao corpo e ao espírito do próximo; dar bons exemplos. Agir conforme as necessidades.

Só amamos a Deus se amamos o próximo (1ª carta de João).

Na prática do mal só prejudicamos a Deus no sentido de que Ele considera feito a Ele o que fazemos contra o próximo. Deus não pode ser atingido por nada!

Agir mal, agir com malícia, afastando os outros da virtude e levando-os ao vício, não auxiliando a ninguém, sendo ganancioso, apossando-se dos bens alheios, cometendo desonestidades e impurezas, atingindo a todos os que de nós se aproximam por amizade ou por necessidade social, tudo isso é fazer o papel dos demônios!

Os soberbos procuram a fama pessoa, acreditam-se maiores que os demais, desagradam aos outros e os ofendem

Deus convidou Sta. Catarina a chorar sobre esses “mortos”, para que sua morte espiritual seja vencida pela oração.

O egoísmo envenenou o mundo inteiro e fez adoecer a hierarquia da Igreja e o povo cristão.

O homem não pode ser útil a Deus, porque ele é infinito e nenhuma perfeição lhe pode ser acrescentada. Por isso, devemos ser de utilidade às pessoas. Quem se apaixona por mim, jamais deixa de trabalhar pelos outros.

Quando não é possível ajudar efetivamente, é obrigação nossa edificar a todos com uma vida boa, santa e honesta.

Cada um se destaca mais numa determinada virtude, embora tenha as demais. Essa virtude maior dominará sobre todas as demais, porém todas elas estarão interligadas pela caridade.

Para levar o homem a praticar a caridade, Deus disse a Sta. Catarina que fez com que um necessitasse do outro; por isso, querendo ou não, somos levados a praticar a caridade. Aí se aplica a diversidade de estados de vida e de posições na sociedade. “Na casa de meu Pai são muitas as moradas” (Jo14,12).


AS DIFICULDADES

É na dificuldade que se provam as virtudes.

Mostrar Paciência quando injuriado pelos outros. Humildade quando diante do orgulhoso. A Fé diante doo infiel. A Esperança na presença de quem nada espera. A Mansidão e a Benignidade ante o irascível.

Pagando o mal com o bem, atiraremos “brasas” de amor sobre as pessoas, que consumirão a raiva e o rancor do coração irascível, levando-o a passar da ira à benevolência (Romanos 12,20)

HUMILDADE,CARIDADE, DISCERNIMENTO

Deus exige sinceridade, amor, desprezo de si mesmo, humildade, paciência, todas as virtudes, alimentar o desejo de Sua glória e da salvação das pessoas, daqueles que se penitenciam. Devem também ter discernimento e não porem seu afeto na mortificação enquanto tal. Isso até impedirá sua perfeição.

É preciso dar mais importância às virtudes que às mortificações. Estas são meios para aumentar as virtudes e deverão ser levados em conta as forças pessoais.

O discernimento dito acima consiste num exato conhecimento de si e de Deus. O discernimento enraíza-se nesse autoconhecimento. Homem sem humildade é homem sem discernimento. É preciso não orgulhar-se de algo que vem de Deus, nem roubar Sua glória para engrandecer-se.

AÇÕES RETAS, NÃO PALAVRAS VAZIAS

Deus é aquele que gosta de poucas palavras e de muitas ações, mas estas, com a destruição da vontade própria. Muito, aqui, não significa “quantidade”.

As mortificações não têm um fim em si, mas são apenas meios.

Agradam a Deus a palavra embebida de caridade.

O verdadeiro discernimento faz o homem:

1-a orientar todas as suas faculdades a servirem a Deus com virilidade e solicitude

2- a amar o próximo realmente, mesmo sacrificando mil vezes a vida corporal, se fosse possível, para a salvação alheia.

3- a suportar dificuldades e aflições para que o outro possua a vida da graça.

4- a colocar seus bens materiais a serviço do outro.

Mas veja bem: ninguém deverá prejudicar-se com pecados sob o pretexto de ajudar aos outros. Veja 1ª Cor 13, 1ss: a caridade deve começar com a própria pessoa. “Não é certo que alguém, para salvar pessoas finitas e criadas por mim” (diz Deus a ela), “viesse a ofender-me enquanto Bem infinito” (Catarina já pensa nos perseguidores da hierarquia eclesiástica que pecam sob o pretexto de corrigir os defeitos alheios, como à página 237 (28.3)). De modo algum sob motivo algum, deve ser cometido o pecado.

Os sofrimentos sem a paciência e o amor são como um copo sem água. A paciência e o amor consistem em suportar, tolerar os defeitos alheios, odiando e desprezando o pecado. Alegrar-se com as tribulações e nas dificuldades.

CAPÍTULO 03

Catarina implora a misericórdia divina

Quem se contempla em Deus Vê, na pureza divina, de modo melhor, os próprios defeitos.

“Senhor Deus, te fizeste homem, e o homem se fez Deus! Pois bem, por esse amor inexprimível (inefável) eu te obrigo e imploro: usa de misericórdia para com tuas criaturas”!

CAPÍTULO 04

Deus fala dos pecados dos cristãos

A triste situação da Igreja da época.

Os padres que se alimentam da riqueza da Igreja e têm as mãos imundas para distribuir seu alimento e seu Sangue.

Deus comenta a desconsideração e a falta de respeito como são recebidos. Aquilo que deveria infundir a vida se torna fator de morte: “Para aqueles que o recebem indignamente, em estado de pecado mortal – e unicamente por culpa sua – esse Sangue produz a morte, não a vida”.

O pecado do ministro não prejudica nem mancha o Sangue, não diminui o poder da graça. O mau ministro não prejudica a pessoa a quem distribui o Sangue de Cristo; prejudica somente a si mesmo, pois comete um pecado digno de castigo, a menos que se arrependa mediante uma sincera contrição e afastamento da culpa!

A encarnação de Jesus e sua redenção tornou possível a reparação da culpa humana, cancelando a mancha do pecado de Adão. Restou apenas uma cicatriz, que fica quando uma pessoa é curada de uma ferida. Essa cicatriz é apagada, embora não completamente, pelo batismo: cancela-se o pecado original e infunde-se a graça. A inclinação para o pecado fica sob o controle da pessoa.

CAPÍTULO 05

Catarina roga pelo mundo

“Deus eterno! Misericórdia para com tuas criaturas! Tu és o Bom Pastor. Não demores em ter piedade do mundo. Parece que os homens não estão mais unidos a ti, Verdade Eterna. Nem mesmo entre si, pois não se amam com uma caridade baseada em ti”.

CAPÍTULO 06

Queixa divina

Deus diz a Catarina: “Não vês como todos me ofendem? No entanto, eu os criei numa grande chama de amor; dei-lhes graças e favores quase infinitos, gratuitamente, sem nenhum merecimento deles”!

O egoísmo é a fonte de todos os males. O amor-próprio envenenou tudo! O egoísmo procede do orgulho! Que os servidores rezem muito, com muita dor e tristeza! Ninguém escapará das mãos de Deus, por justiça ou por misericórdia.


CAPÍTULO 07

Catarina vê o universo nas mãos de Deus

CAPÍTULO 08

Deus nos ama a todos, mesmo pecadores, e quer nos perdoar. Para isso, espera que lhe peçamos perdão e as graças necessárias para a nossa salvação.

CAPÍTULO 09

Cresce o desejo santo de Catarina

Feliz porque unida a deus, sofredora por ver os pecados cometidos contra uma tão sublime bondade.

A união de seu espírito com Deus era maior do que com o corpo. Pede pelo seu diretor espiritual.


CAPÍTULO 10

Deus Pai fala sobre Jesus Cristo-ponte.

Quanto ao diretor espiritual, sofrerá perseguições, mas deve sofrê-las com paciência. Comportar-se virilmente.

Jesus Cristo é uma ponte. O pecado é um rio. Tolo é quem prefere morrer no rio, ao invés de usar a ponte. “De nada adianta ter meu Filho como ponte e assim serem felizes com os anjos, se vocês não a atravessarem”!

Tolerar as dificuldades. Extirpar os espinhos do pecado mortal com os sacramentos. Purificar-se com a contrição interior, desapegando-se da iniquidade e desejando a virtude. Caso contrário, nada receberemos (Explica aqui a parábola da vinha)

Ninguém pode praticar o bem ou o mal sem envolver os outros.

CAPÍTULO 11

Catarina pergunta a Deus quem passa ou não pela ponte.

CAPÍTULO 12-

Em que sentido Cristo é a ponte

1ºdegrau: o amor, afastar-se das afeições terrenas, despojar-se dos vícios.

2° degrau: adquirir as virtudes

3° degrau: gozar a paz.

“Quando eu for elevado atrairei a mim todas as coisas” Jo 12,32. Isto significa que o coração humano, atraído pelo amor, leva consigo todas as faculdades, todas as ações humanas, corporais ou espirituais; a memória, a inteligência, a vontade. E se a humanidade for atraída, todos os demais seres a seguirão, pois foram criados para o homem.

O revestimento da ponte é de pedra. Isto representa as virtudes verdadeiras e reais

O telhado da ponte é a misericórdia.

A ponte contém também uma despensa, que é constituída pela hierarquia, que conserva e distribui o Pão da Vida e o Sangue.

Possui também uma porta, que é o próprio Cristo. (Cf. Jo 8,12; 14,6).

Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele é a Luz. Em Cristo não existe mentira. Pela verdade ele confundiu e destruiu a mentira do demônio, enganador de Eva. Quem vai por tal caminho é filho da Verdade, atravessa a ponte e chega até Jesus, Verdade eterna, oceano de paz.

Os que se apegam às coisas e não percebem que vão morrer estão na mentira e nas estradas da mentira. O caminho do demônio é a mentira.

O Espírito Santo, chamado Paráclito, nos indicará mais claramente a estrada verdadeira, ou seja, a mensagem que Deus nos deu e que ele confirmará.


CAPÍTULO 13- Oração à misericórdia divina.

Catarina faz uma oração de ação de graças pela misericórdia divina que nos procura para nos salvar e dá-se na Eucaristia como alimento para nossa fraqueza. Essa oração pode talvez ser resumida nestes itens:

- a misericórdia divina disfarça os defeitos humanos.

-Catarina se surpreende quando Deus lhe pede para orar pelos pecadores: “Quero que oreis por eles, a fim de que eu perdoe”.

- a misericórdia de Deus governa o mundo inteiro. Deu-nos a vida, nos salvou por Cristo, nos conserva.

- a misericórdia divina produz a vida, concede a luz, revela os Espírito em todos os homens, tanto santo como pecadores.

- a misericórdia divina brilha até na escuridão do inferno, porque não dá aos condenados todo o castigo que merecem!

- pela misericórdia divina Deus veio conviver com os homens.

- pela sua misericórdia, Jesus não só aceitou a morte, mas desceu à mansão dos mortos para oferecer a salvação aos que lá estavam.

- pela misericórdia, Jesus ficou aqui como nosso alimento, na Eucaristia.

Por qualquer lado que me volte, só encontro misericórdia!


CAPÍTULO 14- Deus fala sobre os pecadores

Os pecadores concebem o mal no próprio íntimo, enfermando-se. Depois o praticam exteriormente e perdem a graça. Há 2 momentos da gênese do pecado: o “mental”, no íntimo do coração, e o “atual”, pela prática do mal contra o próximo.

Escravizar-se ao pecado é o mesmo que escravizar-se a um “nada”. O pecador nada poderá sozinho. Ele pode e deve pedir o auxílio divino para sair do pecado.

O orgulho dá vida ao egoísmo, à impaciência, à falta discernimento. A ingratidão pelos benefícios recebidos de Deus impede o pecador de conhecer a Deus e conhecer-se a si mesmo em Deus, de amá-lo.

Os pecados contra a castidade não são agradáveis nem aos próprios demônios, que não os aguentam. “Nenhum pecado é abominável como este, nem há outro que tanto escureça a inteligência humana”. Até os filósofos pagãos compreenderam isto através da natureza, pois para melhor estudarem, guardavam a continência e afastavam de si a riqueza, “para que sua preocupação nção lhes envolvessem o coração”. (página 85).

Avarentos e gananciosos: são usurários, cruéis, ladrões, gerando homicídios, furtos, rapinas, lucros ilícitos, ruindade de coração, injustiças. Só amam por interesse pessoal.

O orgulho é a raiz de todos os vícios: é a procura da boa fama, desejo de suplantar os demais, o fingimento interior, interesseiro e egoísta, a dupla face. Enquanto a boca diz uma coisa, o coração pensa outra. Oculta-se a verdade, mente-se para tirar proveito, pratica-se a inveja.

Deus diz a Caterina que tolera os pecadores para que se corrijam sem ordenar à terra que os engula!

O poder, tendo como insígnia a injustiça contra Deus, contra o próximo, contra si mesmos.

Os pecadores se opõem às ações de Deus, praticadas com amor e justiça. (...) Baseados em interpretações falsas, (...) julgam más as coisas boas e vice-versa, chamando os servidores de Deus de fingidos e mentirosos.

O Paráclito reprenderá o mundo da injustiça e do julgamento falso (Jo 16,8). Essas repreensões são Três:

1ª- A voz da Igreja

Tanto São Paulo como todos os outros santos, a seu modo, sofreram as tentações, nasceram no pecado, nutriram-se do mesmo alimento, que é a Eucaristia. Deus diz a Catarina que Ele é o mesmo daquelas épocas: seu poder não diminuiu. Ele pode e sabe socorrer a quem deseja ser por ele socorrido, abandonar o rio do pecado e irem pela ponte, vivendo a mensagem de Jesus. A Igreja repreende, pois, o mundo, pelas Escrituras Sagradas e pelos servidores de Deus.

2ª- O Juízo Particular

Enquanto vive, o pecador pode ser perdoado; depois da morte, será julgado e, conforme o caso, condenado ou levado ao paraíso.

O pecado que não tem perdão (Mt 12,32), é achar que o pecado cometido é maior que a misericórdia divina. O desprezo voluntário da misericórdia divina constitui pecado mais grave que todos os anteriores.

Outra repreensão, além dessa de achar a falta maior que o perdão divino, há também a repreensão da injustiça, quando os pecadores sentem mais tristeza pelos próprios danos que por terem ofendido a Deus.

OS QUATRO TORMENTOS DO INFERNO

a)- a ausência da visão divina.

b)- o remorso que corrói interiormente o pecador privado de Deus.

c)- a visão do diabo, horrível na feiura, impossível de imaginar com nossa mente. O grau de “feiura” do demônio é visto pelo condenado conforme a gravidade de seus pecados.

d)- o fogo: arde sem consumir, sem destruir o ser humano. É imaterial e não destrói a alma incorpórea. Fere de modo cruel as almas conforme a gravidade dos pecados. Desses quatro tormentos derivam os demais: frio, calor, ranger de dentes (Mt 23,13).

3ª- O Juízo Final

“O olho doentio, mesmo diante do sol, somente vê escuridão, ao passo que o olho sadio vê apenas luz”. Assim, os condenados verão Jesus de modo obscurecido e horrível.

O rico pede que Lázaro avise seus irmãos, etc (Lc 16,27) não porque queria fazer o bem, mas sim porque ele fora o causador da perdição dos irmãos, por ser o mais velho e dar maus exemplos, e a ida deles para o inferno iria aumentar-lhe os sofrimentos!

OS BEM-AVENTURADOS

Quanto à felicidade dos santos: continuarão a amar no grau de caridade que atingiram ao chegar até Deus. Gozam da eterna visão de Deus, cada um no seu grau, de acordo com a caridade em que vieram participar de tudo o que Deus possui.

Comunicam-se com os que amaram no mundo (e que já estão com eles).

A felicidade celeste não é apenas individual, mas participada por todos os que estão no céu, tanto as pessoas como os anjos. Quando chega alguém, todos sentem sua felicidade, da mesma forma que ele participa do prazer de todos.

Se os pais virem algum filho no inferno, ou vice-versa, não se perturbam.

Os desejos dos bem-aventurados são sempre saciados. Sempre rogam por nós, querem a nossa salvação.

A ausência do corpo não lhes diminui o prazer, não é angustiante, não faz sofrer. Não é o corpo que faz feliz a alma, mas o contrário.

Quando recuperarem o corpo, esse poderá atravessar uma parede e não serão atingidos pela água ou pelo fogo. Sempre verão a faze de Jesus amoroso e cheio de misericórdia.

OS PECADORES E O FIM DA VIDA

Ninguém deve temer as possíveis lutas e tentações do demônio . Nem ele nem criatura alguma consegue dobrar a vontade. Ela nos pertence, é livre, temos o livre arbítrio e podemos escolher o querer ou não querer alguma coisa. A vontade pode, porém, ser entregue como arma nas mãos do diabo, que pode usá-la para nos ferir e matar. Se nõs não lhe dermos essa arma, se não consentirmos na tentações e lisonjas do maligno, jamais pecaremos por tentação. Sairemos dela fortalecidos. Deus permite as tentações apenas para nos conduzir ao bem e comprovar nossa virtude.

Na hora da morte os condenados se entregam ao demônio voluntariamente, pois ninguém os pode obrigar a isso. Sem aguardar qualquer julgamento, logo depois do último suspiro, os pecadores julgam-se a si mesmos pela própria consciência e se põem sob o perverso domínio do maligno. Desse modo, desesperados, condenam-se e com muito ódio se encaminham para o abismo; o escolhem como paga, junto aos demônios, seus senhores.

Os que morrem na caridade (perfeita), quando atingem o derradeiro instante, após terem vivido na perfeita iluminação da fé, na fé e na esperança do Sangue do Cordeiro, contemplam o prêmio que Deus lhes preparou; com amor o acolhem; apertam Deus com os laços da afeição, qual Bem sumo e eterno. ANTES MESMO DE DEIXAREM OS CORPOS, MESMO DE MORREREM, JÁ GOZAM DA VIDA ETERNA!(grifo meu).

Os que passam a vida na caridade “comum” e atingem o último momento, sem essa perfeição, também acolhem o prêmio eterno com fé e esperança, mas de modo imperfeito. Sentem-se culpados, mas reconhecem que a misericórdia divina é maior que seus pecados. Dirigem-se, então, ao purgatório, com fé no perdão divino.

A ILUSÃO DO PECADO

O demônio apresenta-nos diversos atrativos maus, disfarçados sob alguma utilidade ou prazer. Muitos se afastam do Bem por medo dos espinhos. Ora, quem enfrenta os espinhos, experimentam uma suave doçura, na proporção de seus esforços.

A felicidade dos que servem a Deus é a certeza da presença dele em suas vidas, é o conhecimento da Verdade divina. O sofrimento desta vida é passageiro.

A FÉ MORTA DOS PECADORES

“Quando praticada no estado de graça, a boa obra merece o céu; quando feita em pecado, embora sem merecimento, terá sua paga de várias maneiras: umas vezes, concedo” (é Deus quem está falando) “vida mais longa ou inspiro a meus servidores contínuas orações em favor, com o que tais pessoas se convertem, outras vezes, em lugar de vida mais longa e das orações, concedo bens materiais.(...) Se mesmo assim “não houver conversão, vão para o suplício eterno”.

Não se apegar de forma alguma aos bens. Os perfeitos praticam os mandamentos, deixam o mundo com seus prazeres, mortificam o corpo com penitência, fazem vigílias e preces contínuas e humildes.

Não se escravizar aos prazeres sensíveis. Quem afastar de si o apego desregrado, e se orientar para Deus na caridade e no santo temor, poderá escolher o estado de vida que quiser. Em qualquer deles alcançará a vida eterna.

Os bens materiais não satisfazem; somente Deus é capaz de saciar o ser humano. Os pecadores sofrem porque se identificam com os bens materiais (o livro dá exemplos de como o desejo de vingança., o desejo de riqueza, etc., fazem-nos sofrer). Sofrem de bobeira, sem merecimento algum.

Os servidores de Deus, mesmo sofrendo no corpo nada sofrem no espírito: identificaram–se não com os bens e vícios, mas com a vontade divina e até se alegram em tolerar males por Deus. Os justos vivem, portanto, melhor do que os pecadores, mesmo aqui na terra.

CAMINHOS DA CONVERSÃO

Só o medo da punição não basta: é preciso munir-se com as virtudes, sob o alicerce da caridade. “Quando o temor servil é acompanhado pela iluminação da fé, os pecadores passam do mal para o bem”. é preciso incutir no coração que não se deve fazer mais os pecados não tanto para não se ir ao inferno, mas porque ofendem a Deus.

“Infelizmente muitos deles se põem a viver em tal tibieza (são como água morna) que com facilidade retrocedem, após ter atingido a margem do rio do pecado. Ventos contrários os obrigam a retornarem às ondas no caudal tenebroso do pecado”.

Devemos ter cuidado com as mentiras do demônio, como estas: “A obra que começaste de nada serve por causa dos teus pecados”. Ou: “Goze a vida! No fim, você se arrependerá e será perdoado”! Não se pode ofender a Deus porque ele é bom! Isso é engano demoníaco!

A mudança de vida é indispensável. Quem não progride, volta atrás! Progredir nas virtudes deve ser sempre a nossa meta.


CAPÍTULO 15

Catarina pede explicações sobre os degraus da ponte

(o texto é bem pequeno e não foi preciso resumir)

CAPÍTULO 16-

Deus Pai fala sobre a função das faculdades na vida espiritual.

Considera três faculdades: memória, inteligência e vontade.

O homem “sensual” vê apenas aparências de luz. Peca porque o mal toma colorações de bem. A inteligência não mais discerne ou reconhece a Verdade; por cegueira, engana-se e procura o bem e a satisfação onde eles não estão.

Ninguém pode dominar a pessoa humana quanto à vontade, pois ela possui o livre arbítrio, que sempre fica entre a sensualidade (ou seja, fortemente inclinada ao mal) e a razão.

Temos que “congregar “ as três faculdades em Deus e assim todas as atividades espirituais e corporais humanas ficam unificadas.

Sem a unificação dessas três faculdades (memória, inteligência, vontade), ninguém conseguirá perseverar. E sem a perseverança, ninguém chegará à meta final.

“Quem tem sede venha a mim e beba, pois eu sou a fonte da água viva” (Jo 7,37; 4,10). Jesus não disse: ”Vai ao Pai e beba”, porque o Pai não pode sofrer, mas ele, sim. Bebemos e saboreamos o sangue do Verbo encarnado quando vivemos na “caridade perfeita” ou na “caridade comum”, seguindo os mandamentos e, no primeiro caso, também os conselhos evangélicos. Imergimos, então, num oceano de paz. Para isso, todos teremos que passar por Cristo e, consequentemente, pelo sofrimento.

“Não existe 2 sem 3 e 3 sem 2”: sem a observância dos 2 mandamentos: amar a Deus e ao próximo, é impossível unificar em Deus as três faculdades: inteligência, memória, vontade, e vice-versa.

O egoísta, solitário, não conta diante de mim, não me agrada. Eis porque Jesus diz em Mt 18,20: “ Se dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”.

Ao se retirar do coração humano o apego aos bens materiais, ele se enche com o “ar” celeste do amor divino e com a “água” da graça.

CAPÍTULO 17- Visão de Catarina sobre a humanidade peregrina

A humanidade: uns, com medo dos castigos eternos começaram a subir do rio para a ponte-Cristo; numerosos atingiram o 2° degrau, após terem atendido ao primeiro apelo de Deus; pouquíssimos iam com grandíssima perfeição.

CAPÍTULO 18- Deus Pai explica com o atingir a perfeição

Enquanto viver aqui, o homem está no tempo do perdão. Deve destruir o egoísmo, ser prudente, constante, perseverante. O amor humano é muito imperfeito: amor que visa a procura da consolação.

Tudo o que Deus permite é para a nossa santificação (Mt 6,28). O amor ao próximo deve ser sincero e desinteressado.

Devemos evitar o pecado porque ofende a Deus e praticar a virtude por amor a Deus.

1° estado- o amor interesseiro

2° estado- o amor servil

3° estado- o amor-amizade

Amor-amizade consiste nos que perseveram na oração e nas boas obras, progridem na virtude (João 14,21.23). A esses, Deus se manifesta.

Tal como Deu é, nunca poderemos vê-lo. Só o veremos na pessoa de Jesus.

Chega-se ao amor-amizade pela caridade, que por sua vez se alimenta da humildade, que por sua vez nasce do autoconhecimento e da vitória sobre o egoísmo da sensualidade.

A base de tudo é a cela do autoconhecimento. Mesmo que se afaste com suas consolações, Deus nunca se afasta com as suas graças.

Pela confissão sacramental o pecador “vomita” a podridão do pecado e então, pela graça, Deus volta à alma.

Se o cristão amar a Deus desinteressadamente, com fé viva e desapego de si próprio, alegrar-se-á nas adversidades, achando-se de viver no sossego e descanso da mente.

É preciso aguardar o Espírito Santo numa vigília constante de oração. Orar continuamente, interiormente, mantendo o pensamento na bondade do amor de Deus. Amar a Deus desinteressadamente e ao próximo é como beber numa vasilha que está ligada à fonte: a água nunca termina.

Podemos fazer ao próximo o que não podemos fazer a Deus. É preciso perseverar na oração.

No primeiro estágio da oração, ocupar-se da oração vocal para não cair na inatividade, mas esta deve ser feita com a oração do espírito: enquanto você pronuncia as palavras, eleve seu pensamento até Deus, considere os próprios defeitos em geral, medite sobre a paixão de Jesus.

Se não forem acompanhados pelo pensamento da paixão, o autoconhecimento e a reflexão sobre os próprios pecados confundem a alma. É preciso considerar a misericórdia divina. Não se ater à quantidade de preces vocais. Não abandonar a oração mental pela vocal.

Logo que a pessoa percebe a visita de Jesus, deve deixar, sem remorso, a oração vocal. A liturgia das horas é a única exceção. O clero é obrigado a rezá-la.

Não é pela quantidade de palavras que se chega à oração perfeita, mas pelo amor e conhecimento de Deus e de si mesmo.

Tanto a oração mental como a vocal devem ser praticadas ao mesmo tempo. Andam juntas como a vida ativa e a vida contemplativa. São Paulo diz que não pára de orar quem não cessa de fazer o bem.

Catarina fala, então, dos vários enganos de quem busca as consolações no contato com Deus: “Se os homens caminharem com prudência, não parando estupidamente na procura de consolações, retornarei, depois, com imensa delícia, força, luz, ardor de caridade”, diz Deus a Catarina.

A dada altura do livro, Catarina fala do “diabo em figura de luz”. Ninguém deve desejar satisfações e visões espirituais. Aspire-se apenas pela virtude!

O diabo, às vezes, toma a figura de um anjo, outras vezes a de Jesus ou de alguns dos santos, a quem sonha gulosamente com visões (a quem deseja muito ter visões). “ A única solução, em tais casos, é a humildade, pois o diabo não tolera a pessoa humilde. “

O sinal de que é o diabo é que o primeiro impulso será de alegria, mas depois virão perturbações internas e trevas.


OS SINAIS DA PERFEIÇÃO

O conhecimento de si deve ser acompanhado pelo conhecimento da bondade de Deus, sob pena de se cair na perturbação interior.

Se a sensualidade quiser incomodar, a consciência agirá como juiz e fará a racionalidade prevalecer, coibindo os impulsos errados. Não ser, entretanto, radical e exagerado, a ponto de coibir também as inspirações que Deus nos envia. Dizia São Gregório: “ A consciência delicada põe pecado onde ele não existe”!


HÁ QUATRO “ESTADOS” DA ALMA

1- Amor servil (medo dos castigos)

2- Amor interesseiro (procura de consolações)

3- Amor altruísta (pelas pessoas, apostolado)

4- Amor filial por Deus (união).

O terceiro e o quarto estão unidos entre si, pois significam a saída de si mesmo.

Quanto à confissão, se for impossível, basta a contrição interior, pois com ela “o meu Espírito” dá o perdão. A penitência (a confissão) é, pois, um batismo perene.

Catarina fala, a seguir, dos “perfeitíssimos”, os que atingiram a perfeição. Eles jamais perdem o consolo da presença divina.

Deus fala sobre os êxtases: “Seu peso natural permanece, mas a união da alma comigo fica mais profunda do que com o próprio corpo”.

“Afirmo-te, mesmo, que o fato da pessoa não morrer em tal união é um milagre maior do que ressuscitar um morto”.

Os perfeitíssimos não temem (e até desejam) a morte. Nada temem. Alegram-se com os sofrimentos porque acreditam-se participantes dos sofrimentos de Cristo.


O CONHECIMENTO INFUSO

“Nos assuntos de santificação da alma, é melhor aconselhar-se com uma pessoa rude, mas dotada de uma consciência reta e santa, do que com um literato orgulhoso. Cada um dá o que possui. Vivendo no pecado, os literatos orgulhosos apresentam a luz das Escrituras envolta em trevas, ao passo que os meus servidores, devido à luz que possuem, falam do que têm, com autêntico desejo da salvação”.

“livre deste ‘inferno’ que é a vontade própria, o homem saboreia a vida eterna já em vida”.


CAPÍTULO 19- Catarina pede explicações sobre as lágrimas

Quais são as espécies de lágrimas, qual sua natureza, sua origem, suas características.

CAPÍTULO 20- As lágrimas, suas espécies e frutos.

1- Lágrimas imperfeitas são fundamentadas no temor servil. As lágrimas de condenação, dos pecadores. As lágrimas de medo, medo do castigo, os que deixam o pecado mortal.

2- Lágrimas perfeitas são as que procedem, dos que atingiram a perfeição do amor pelo próximo e que amam a Deus desinteressadamente. As lágrimas de prazer são espirituais, na suavidade. As lágrimas de fogo, espirituais, são concedidas aos que desejam chorar e não conseguem. São lágrimas interiores. Oferecem a Deus as aspirações da vontade que deseja chorar. Está chorando todo o servidor que possui o desejo santo e faz orações contínuas e humildes na presença de Deus. O Espírito Santo chora em Deus “com gemidos inenarráveis” (Rom 8,26), a nosso favor.


OS FRUTOS DAS LÁGRIMAS

Os efeitos das lágrimas de condenação:

1- as más ações,

2- os sentimentos maus,

3- as más palavras (vigiar nas palavras!),

4- os vícios capitais

5- os vendavais da vida.

a)- os vendavais da prosperidade (quando causa apego e pecado)

b)- os vendavais da adversidade (perda de bens ou entes queridos),

c)- os vendavais do temor servil (quando se tem medo de perder tudo o que ama)

d)- os vendavais do remorso (oportunidades dadas por Deus e descartadas).

EFEITOS DAS LÁGRIMAS DE TEMOR

Limpeza da casa da alma (confissão). Paz e ordem nas afeições, abre a inteligência para o autoconhecimento.


EFEITOS DAS LÁGRIMAS DE AUTOCOMPAIXÃO

Busca o amor e a prática das virtudes. Já não teme.


EFEITOS DAS LÁGRIMAS DE AMOR

Desejo da glória divina, da salvação das pessoas, renúncia de si mesmo e do pecado.

Grande força em dominar a sensualidade, verdadeira humildade, muita paciência. A paciência é como uma rainha encastelada numa fortaleza da rocha. Vence e jamais é vencida.


EFEITOS DAS LÁGRIMAS DE UNIÃO

Não só suporta as dificuldades, como as deseja com alegria. Renuncia a toda satisfação pessoal, seja ela qual seja.

Fruto desta lágrima de união é a quietude do espírito, comunhão contínua com Deus com grande prazer. Deixa de preocupar-se com os próprios interesses. Descobre o próximo como meio para amar a Deus.


CAPÍTULO 21- Catarina pede esclarecimentos a Deus.

1°-Como aconselhar pessoas que querem servir a Deus?

2°- Como captar os sinais da presença divina na alma, para que se possa distinguir se é Deus ou não?


CAPÍTULO 22- Deus diz que vai responder


CAPÍTULO 23- Catarina obedece e eleva seu espírito para compreender a verdade sobre os assuntos perguntados


CAPÍTULO 24- A TRÍPLICE ILUMINAÇÃO DO HOMEM

A iluminação da caridade comum

A luz da fé dada no Batismo, a transitoriedade das realidades terrenas (passam como o vento), o pecado, que significa amar o que Deus abomina e abominar o que Deus ama. O vício, por exemplo, é abominado por Deus.

A iluminação dos imperfeitos.

Penitentes que não são humildes e não dominam a vontade própria. Criticam os que caminham por outras vias. O “egoísmo espiritual”.

Iluminação dos perfeitos.

Acham-se indignos de qualquer consolação e procuram santificar-se. Suportam tudo com amor. Já não se pertencem. Meditam e regem sua conduta pelos sofrimentos e oferecimento de si mesmo feitos por Cristo. “Eu construí o caminho, como minha paixão abri a porta; não sejais negligentes em caminhar, permanecendo sentados no egoísmo, de má vontade, com a presunção de servir-me a vosso modo. Eu, Verbo Eterno, fiz a estrada em mim mesmo e a percorri no sangue”.

A penitência que fazem é para domar e eliminar a vontade própria. Não perdem tempo a julgar falsamente ou a condenar os que seguem o mundo. Não se preocupam com as maledicências que dizem contra eles.

A pureza completa obtém-se unindo-se a Deus, pureza suma e eterna. Deus é o fogo que purifica o homem.

Ninguém tem o direito de julgar o segredo do coração humano.

1- Unir-se a Deus no amor com a lembrança dos favores recebidos.

2- Entender o inestimável amor que Deus nos dedica.

3- Não julgar má a vontade alheia, procurando ver nela a vontade divina.


TRÊS ATITUDES FUNDAMENTAIS

Não corrigir o próximo.

Corrigir os defeitos apenas genericamente, mediante conselhos sobre as virtudes, e isto com amor e bondade.

Em caso de necessidade, usar firmeza, mas com mansidão.

Ao perceber defeitos nos outros, reconhecê-los primeiro em si próprio.


NÃO JULGAR O INTERIOR DO HOMEM

Muitas pessoas em dificuldades na fé ou na prática da fé podem não estar em pecado mortal, mas apenas passando por uma provação, privada de consolações espirituais anteriores.


RESPEITAR A ESPIRITUALIDADE ALHEIA

Não obrigar os outros a viverem como nós vivemos. Quanto à correção, às vezes precisamos fazer isso. Nessas vezes, seguir Mateus 18,16.


VISÕES E ALEGRIAS ESPIRITUAIS

Muitos vivem à procura de visões e depositam maior interesse nelas que em Deus.

A alegria causada por Deus contém amor à virtude. As pessoas acostumadas a consolações costumam muitas vezes receberem a visita do diabo em forma de luz.


EXORTAÇÃO À PRECE

Nunca desanimar de pedir o auxílio divino. Pedir sempre misericórdia para o mundo. Alegrar-se com o Cristo na cruz. Chorar sobre os mortos que morreram em grande miséria espiritual. Se Deus notar que somos perseverantes, bondosos e que estamos voltado a Ele, atenderá aos nossos anseios (assim Deus garantiu a Catarina).

“Bata à minha porta! Chame-me na voz do amor e das orações humildes e contínuas”!

SEGUNDA PARTE DO LIVRO

SITUAÇÃO DA HIERARQUIA ECLESIÁSTICA E PERSEGUIÇÕES POLÍTICAS

CAPÍTULO 25-

Catarina faz diversos pedidos a Deus, para que ele explique os pecados dos ministros da Igreja.

CAPÍTULO 26-

Deus Pai promete lhe atender e pede compreensão e não ser negligente aos ministros. Fala da Eucaristia, que é o tesouro colocado por Deus nas mãos dos padres.

CAPÍTULO 27-

Catarina se põe a meditar sobre as virtudes dos bons.

CAPÍTULO 28-

A vida dos bons e dos maus sacerdotes.

A dignidade dos sacerdotes e a Eucaristia. Como receber a Eucaristia. Em cada pedacinho Jesus está por inteiro. Coloca várias comparações: espelho quebrado, em que vemos nosso rosto em cada pedaço, chamas iguais em velas de tamanhos diferentes...

Depende muito do desejo com que nos apresentamos diante da Eucaristia. Jesus está realmente presente na Hóstia consagrada.


Visão sobre a Eucaristia

A fé é o principal modo de conhecer a eucaristia, pois não se engana. “É na fé que haveis de contemplar este sacramento. E como tocá-lo? Pelo amor! É a caridade que alcança a realidade que a fé percebe. (...) Sensivelmente a língua sente o gosto do pão, mas o paladar da alma percebe o Homem-Deus. (...) Não deveis olhar para a eucaristia só com os sentidos corporais, mas com os sentidos do coração! É pelo amor que o homem há de pensar, acolher e saborear a eucaristia. (...) Quem recebeu o pão da vida com as devidas disposições, permanece em mim e eu nela, como o peixe está o mar e o mar está no peixe”. (Palavras de Deus à santa).


VIRTUDES SACERDOTAIS

Neste mundo é impossível uma dignidade maior que a do sacerdócio. Nem os anjos possuem essa dignidade. Que os sacerdotes tenham seus corações puros, na maior perfeição, maior do que a dos cristãos comuns.

Nem na luxúria (falta de castidade), nem no orgulho, nem na impaciência, nem no rancor. Devem ser sempre generosos, sem ganância, sempre trabalhar com gratuidade.

Os donativos dados aos padres não superam, nem mesmo podem equiparar-se ao que os católicos recebem espiritualmente através das graças, orações e qualquer outro ato desse gênero.

Os donativos devem ser divididos em três partes:

1ª – para sustento;

2ª – para os pobres;

3ª – para a igreja naquilo que for necessário.

Os sacerdotes pecam se usarem o dinheiro para outros gastos que não forem esses!

O RESPEITO DEVIDO AO SACERDOTE

Todos os sucessores de Pedro possuem a mesma autoridade de Pedro. Nenhum pecado a diminui, do mesmo modo que não destrói a santidade do Sangue de Cristo e dos Sacramentos.

VISÃO SOBRE O PAPA

O papa é o Cristo na terra.


NÃO PERSEGUIR OS SACERDOTES

Quem os punir cairá na maior infelicidade. “Não toqueis os meus cristos”! (Salmo 105,15).


O GRANDE PECADO DOS PERSEGUIDORES

Ninguém deveria perseguir meus sacerdotes por causa de seus defeitos, porque:

1- Os perseguidores agem contra Deus em tudo o que fazem em oposições aos seus ministros.

2- Perseguindo-os, desobedecem àquela ordem pela qual Deus proibiu que os sacerdotes fossem tocados.

3- É uma falta maldosa e deliberada. Os perseguidores têm consciência de que o não devem cometer, sabem que vão pecar; cometem um ato de orgulho.

O pior é que tais pessoas procuram encobrir seus defeitos sob o manto dos defeitos dos ministros de Deus. Não se lembram de que não existe capa que os esconda diante de Deus.

OS SANTOS PASTORES DO PASSADO

Eles merecem o respeito não por si mesmos, mas por causa da autoridade que Deus lhes conferiu.

1- Eles se assemelhavam ao sol

2- Eram justos (humildes, caridosos, prudentes)

3- Praticavam a justiça, corrigiam seu povo.

4- Eram pobres, numa pobreza voluntária, sem dinheiro, vida simples e humilde.

5- Eram generosos.

Ademais, não recusavam trabalhos, não fugiam das fadigas, não fugiam da cruz. Ansiavam pelo bem das pessoas, pela difusão da fé, enfrentando as dificuldades. Com muita paciência enfrentavam os perigos, continuamente ofereciam seus pedidos e oração constante. Por suas lágrimas e suor lavavam as chagas do pecado alheio, e os pecadores recuperavam a perfeita saúde do espírito, aceitando humildemente o curativo.

PECADOS DOS CLÉRIGOS

(O livro traz muitas coisas, de arrepiarem os cabelos. Tentei aqui colocar algumas coisas muito importantes mesmo para os dias de hoje. Deixei de lado alguns pecados dos clérigos de que hoje não se tem mais conhecimento, ou falei deles em apenas algumas pinceladas).

Egoísmo e ganância (ser pão duro, soberbo, amante da riqueza).

Injustiça (e não corrigem os vícios)

Impureza

“Usam os bens do templo para adornarem a pobre diaba com quem vivem pecaminosamente” (Palavras do próprio Deus).

Celebram de manhã, após dormirem com as concubinas.

Pecam contra a natureza: “Os demônios não toleram esse pecado. Não porque desejam a virtude, mas, por sua origem angélica, recusam-se a ver tão hediondo vício”.

Visão de Catarina sobre a impureza

Deus comenta com a santa que permitiu uma peste, em 1374, em que Sena perdeu um terço da população, e Deus permitiu-a por causa da corrupção da sociedade por causa da impureza. “Não havia pequenos ou grandes, religiosos ou clérigos, prelados ou súditos, senhores ou servos, cujos corpos não estivessem manchados por essa maldição.

(Deus elogia, então, Catarina por ter pedido muito por essas pessoas e lhe diz:).

“Filha minha querida, jamais entenderás como tal vício, cometido por eles (pelos clérigos) ofende-me muito mais do que quando feito pelos leigos em geral e pelos leigos consagrados. Os ministros são lâmpadas colocadas sobre o candelabro e devem iluminar pelo ministério eucarístico, ela virtude, pelo bom exemplo”.


DEFEITOS DOS RELIGIOSOS

Vivem pior que os demônios!

Não produzem os frutos nos que os ouvem.

Pregação apenas para deleitar os ouvidos, para “fazer bonito”.

Não se preocupam em extirpar os vícios.

Só se esforçam no embelezamento dos corpos, dos quartos, em divagar pelas ruas.

Vivem fora de suas celas, numa existência desonesta e vã. Abandonam suas celas (seus quartos) e “morrem” como o peixe fora da água e vão girando pelas casas de parentes e amigos leigos. Buscam o prazer.

Não se importam se os súditos estão nas mãos do diabo.

Conspurcam o voto de castidade e não cumprem os outros dois votos de pobreza e obediência.

Um quer ser mais rico que o outro.

Caçoam dos confrades santos.

Catarina lembra que se os religiosos seguissem o voto de pobreza, não teriam dinheiro para gastar em relações sexuais e alimentação não condizente com a vida religiosa.


PRINCIPAIS VÍCIOS DOS CLÉRIGOS


A IMPUREZA

(Com toda a sinceridade, não consegui digitar o que a santa escreve sobre esse assunto. É deprimente demais e duvido que ainda haja tanta malandragem como o que ela descreve ali. Quem quiser ler, por favor, veja o livro em alguma biblioteca ou, se ainda for vendido, compre-o).


A GANÂNCIA

A santa usa cinco páginas para falar sobre esse assunto.

Gula, dinheiro do templo gasto com maus companheiros ou mal gasto, esbanjado, por exemplo, com cavalos de raça desnecessários (hoje seriam os carros de luxo?), ao passo que deveriam sentir prazer em ajudar os pobres, doentes, a quem ajudariam em suas necessidades espirituais e materiais.

Emprestam dinheiro com usura (juros altos) a quem precisa, e isso era proibido naquele tempo, ou seja, era proibido cobrar qualquer porcentagem de juros.

Corações mesquinho, gananciosos, avarentos.

Comercializavam os sacramentos, em vista de donativos, cargos e benefícios (hoje em dia seria talvez realizar a bênção de um casamento ilícito para obter ajuda para alguma casa de beneficência?), nomeação de prelados (bispos) pela aparência e não pela capacidade e santidade.


O ORGULHO

Nasce e nutre-se do egoísmo. Lúcifer caiu do céu quando se envaideceu, porque o orgulho desagrada muito a Deus.

Pelo orgulho, se afastam dos simples e dos pobres.

Naquele tempo, alguns sacerdotes viviam em pecado e simulavam a consagração do pão e do vinho, na missa, para não terem que comungar o Corpo e o Sangue de Cristo. Ou seja, como a missa era em latim, eles falavam palavras diferentes das que eram para serem usadas e não havia a consagração. Não o faziam por aversão ao pecado, mas por temerem os castigos divinos.

Ao invés de se arrependerem, com o propósito de emenda, solucionavam o impasse com uma consagração simulada e faziam um pecado maior do que o que haviam cometido, pois não consagrando o pão e o vinho, levavam o povo a cometer idolatria: o que estava sendo adorado era simples pão e vinho, pois não tinham sido consagrados.

Sei de um caso, aqui no Brasil, no início dos anos 70, em que um diácono provisório (que ia ser padre), numa celebração, tendo faltado partículas consagradas, simplesmente foi buscar partículas não consagradas, na sacristia, e continuou a dar a comunhão. Ou seja, o povo comungou pão pensando que era o Corpo e o Sangue de Cristo. Eu fiquei chocado quando soube disso! O povo não fez pecado algum, pois não sabia. Mas o diácono...

Continuando o que Catarina dizia, como o pastor não corrige a si mesmo nem tem remorso, as ovelhas se perdem.

Pessoas assim, tão más, não merecem o nome de sacerdotes, aliás, nem mesmo o nome de homem. Tornam-se animais horrendos. (é, minha gente, essa santa era “fera”! Vocês sabem que ela conseguiu trazer o papa da época, de Avinhão, França, onde ele estava desterrado, de volta para o Vaticano? E o detalhe, é que ela era analfabeta! Esses livros ela ditava, em êxtase, a uma amiga dela, que era uma espécie de secretária. Deus lhe deu a graça de saber escrever no final de sua vida).


CONSEQUÊNCIAS DESASTROSAS

Catarina comenta os grandes males que os maus sacerdotes fazem às comunidades.

Convencem as pessoas incautas a pecarem, não rezam a salmodia do ofício divino (até hoje nós, padres, temos que rezar o antigamente chamado de breviário, diariamente, de manhã, ao meio dia, às três, e à noite, as vésperas).

Quanto ao sacerdote, sua casa deveria ser acolhedora dos pobres. Sua esposa deveria ser o breviário. Seus filhos deveriam ser os livros das Sagradas Escrituras. Seu prazer deveria ser ensinar os outros a viverem bem.


A MORTE DOS MINISTROS DE DEUS

A morte do bom sacerdote

Se a vontade de todos fosse reta e estivesse em conformidade com a de Deus, não existiria o sofrimento, pois as contrariedades seriam voluntariamente aceitas por amor dele. As pessoas as aceitariam por saber que são queridas por Deus.

O falecimento do homem conformado à vontade de Deus acontece na paz. O justo supera o medo da morte mediante o desejo de alcançar a meta. Desaparece, pois, todo sofrimento que vem do apego natural ao corpo. (Continua mostrando todos os benefícios que um bom sacerdote recebe na morte, como não temer o demônio, confiar na misericórdia divina...)


A morte do mau sacerdote

A descrição que Catarina faz, como ela ouviu de Deus, é horrível e pesada.

Os demônios o acusam tremendamente e mostram-lhe sua horrível figura. O remorso corrói o mau sacerdote moribundo com mail violência. A sensualidade e os prazeres desordenados o acusam. Ao tomar conhecimento do desconhecido, se perturba enormemente. O egoísmo lhe apagara a iluminação da fé. Nem sabe o que fazer. Não se alimentava da esperança.

Sua confiança repousava em si mesmo, nos cargos importantes nos prazeres mundanos. Está com as mãos vazias! Só lhe resta um auxílio: esperar no perdão divino. Quem se desespera e julga que seu pecado é maior que a bondade divina, já não se arrepende, já não sente dor pela culpa. O pecado que não tem perdão é considerar as próprias faltas maiores que o perdão divino (Mt 12,32).

Catarina termina o capítulo e a segunda parte do livro mostrando os terrores que o mau sacerdote sente na agonia, ao ver que devia ser pobre, casto e caridoso mas não o foi: gastou dinheiro da Igreja com luxo e não com os pobres, com prostitutas e na educação dos filhos bastardos, no enriquecimento dos parentes e na gula, na ornamentação da casa, nos vasos de prata, em vez de viver na pobreza.

Também de não ter rezado o Ofício Divino (os sacerdotes fazem um juramento, no dia da ordenação diaconal, de rezarem o Ofício Divino, também conhecido como Breviário), ou tê-lo rezado só com a boca, estando longe o coração (isso infelizmente já fiz, mas pedi perdão). Os súditos pelos quais devia ter caridade e zelo e dado bom exemplo, e de não ter corrigido os que precisavam correção.

TERCEIRA PARTE

A PROVIDÊNCIA DIVINA

CAPÍTULO 29- Oração pelo mundo e pela Igreja

-Cataria agradece a Deus Pai. Coloco apenas um trecho:

“Ó Pai, a humanidade jazia enferma por causa do pecado de Adão; tu enviaste o amoroso Verbo encarnado como médico. A mim mesma, quando estava enferma por negligência e maldade (Catarina era exagerada), tu, Deus eterno, médico bondoso, me deste o medicamento doce-amargo, que me curou e reergueu Quanto me é suave o fato de te revelares a mim no amor! Quanto me é agradável teres iluminado minha inteligência com a luz da fé! Nessa luz, por tua vontade, entendi a grandeza da graça concedida às pessoas quando se distribui o sacramento do todo-Deus e todo-Homem na hierarquia da santa Igreja, bem como a dignidade dos sacerdotes encarregados de fazê-lo”!


CAPÍTULO 30- A PROVIDÊNCIA DIVINA

Então o Pai eterno olhou com bondade e clemência para aquela serva, como a significar que sua providência jamais falta ao homem em nada, sob a condição de que ele a aceite. Foi o que Deus Pai afirmou com esta sentida queixa:

- Deus quer usar de misericórdia para com o mundo e auxiliar-nos em todas as nossas necessidades.

-Entretanto as pessoas são más e usam como veneno mortífero o que Ele deu para a vida e prejudicam-se.

-Da parte de Deus, ele auxilia sempre.

-Na sua providência, criou a humanidade, criou-nos à sua imagem e semelhança. Deu-nos a memória para que retivesse a recordação dos seus favores e participássemos de seu poder de Pai.

-Deu-nos a inteligência com a qual compreendesse sua vontade na sabedoria do Filho, pois Deus é o doador das graças em grande chama de caridade.

-Deu-nos o alimento cotidiano para nos fortalecer na caminhada desta vida.

-Deu-nos a vontade, que participa da clemência do Espírito Santo e isto nos possibilita amarmos o que a inteligência percebe. Tudo isso para que nós o conhecêssemos, experimentássemos e gozássemos a eterna visão.

-O homem que deposita sua confiança nos bens passageiros e vazios, nem alcançará o que pretende. Quem espera no mundo e em si mesmo, por certo não confia em Deus. Deus odeia os desejos maus.


-PROVIDÊNCIA GERAL E PARTICULAR

- Tanto aos perfeitos como aos imperfeitos, jamais faltará a providência divina, se não caírem na presunção de confiarem em si mesmos.

- Esses imperfeitos não usufruem da graça divina. Veem tudo distorcido, mesmo sendo retas todas as coisas. Cegos, captam a luz como escuridão e a escuridão como luz.

_Como podem achar que Deus, bondade suma, lhes deseje o mal nos pequenos acontecimentos da vida, sabendo, através dos grandes acontecimentos, que Ele só deseja a nossa santificação?

-Deus permite mal a fim de que o ofendido prove sua paciência ou a adquira. Às vezes Deus deixa que todos se ergam contra o justo, e permite mesmo a sua morte. Mas Ele tudo faz com providência, com a única finalidade de salvar as pessoas.


CAPÍTULO 31- Catarina fixa o pensamento em Deus

(Não há o que comentar)

CAPÍTULO 32- Queixa divina e pedido de atenção.

Deus se queixa de nosso egoísmo, que cega a pessoa humana, que passa a confiar apenas em si mesma.

Quando uma pessoa faz uma boa ação, é Deus quem lhe dá o querer e a aptidão (Fil 2,13), a capacidade e a ciência necessária para a ação. Entretanto, o ser humano prefere basear-se no seu tato, que é enganador. Nisso vão apalpando os prazeres do mundo e condenando os bons.

O egoísmo é o ouvido do pecado.


CAPÍTULO 33- Catarina se concentra em Deus.

(também aqui não há o que comentar).


CAPÍTULO 34- A PROVIDÊNCIA DIVINA – CONTINUAÇÃO.

-UM CASO PARTICULAR

Deus mostra a Catarina a possível condenação de um certo homem.

“Quem respeita Maria, seja santo ou pecador, não será levado pelo demônio infernal”, diz Deus a Catarina.

Catarina convertera um condenado à morte, talvez Nicoló de Tuído, de Perugia, e Deus disse a Catarina que o entregara a Maria.

Nunca podemos duvidar da Providência Divina.

Só a graça divina nunca nos será retirada ou mudada. “Por que não confias em mim, teu Criador? Por que confias em ti mesmo”?

O livre-arbítrio humano pode transformar este mundo num paraíso ou num inferno.

“O Espírito Santo é como uma mãe que nos nutre no divino amor”.

Catarina conta aqui vários fatos extraordinários com ela e a Eucaristia, de modo inusitado, onde se vê claramente a intervenção divina.


A PROVIDÊNCIA DIVINA E OS PECADORES

Deus diz a Catarina: “São infinitos os meios que uso para afastar o pecador da culpa mortal”.

A PROVIDÊNCIA DIVINA E OS IMPERFEITOS

Deus permite que os males entrem livremente no homem pelas faculdades dos sentidos, mas não pela vontade dele. “Todas essas sensações ficam na periferia da ‘cidade’ da alma, mas não penetram em seu interior. A menos, repito, que a pessoa o queira”.

Aí ele completa: ”Não permito que os males entrem livremente no homem pela vontade, mas o permito que entrem pelas outras faculdades humanas”.

Os que deixaram o pecado mortal mas ainda são imperfeitos, têm, como única fonte de paz, a certeza de não quererem ofender a Deus. A vontade é como a porta de entrada da alma, e Deus a protege a quem o ama e abandona o pecado mortal. “Os demônios e os demais adversários poderão penetrar por outros setores, mas nunca pela vontade”. (A não ser que a pessoa queira e permita).

Deus muitas vezes não intervém quando nos dedicamos à oração e a outros exercícios porque, sendo imperfeitos, iríamos atribuir aos nossos esforços pessoais o que não nos pertencia.

A perfeição no amor consiste em amar as pessoas por causa de Deus: a caridade perfeita pelo próximo depende da caridade perfeita por Deus.

Fala também dos perfeitos: seus sofrimentos, dedicação, amor, confiança em Deus etc.

O apetite sensível não é eliminado nos perfeitos, mas apenas “adormecido”. Se não souberem disso, poderão talvez cair miseravelmente.

O que faz os perfeitos padecerem são os pecados cometidos contra Deus pela humanidade.

Deus se manifesta de várias formas aos perfeitos.

Orientações diversas aos servidores de Deus

Apostolado e humildade

Harmonia pessoal do apóstolo cristão.

Fechando as portas externas da alma, não recordando as ações pecaminosas, fechadas aos prazeres, deleites e misérias do mundo, e lembrando-se dos benefícios divinos. Usam os sentidos apenas para a finalidade à qual foram criados, e para servir a Deus.

A comunhão do amor

Cada pessoa faz a sua parte e desse modo precisam recorrer aos demais, que fazem outras coisas. Um precisa do outro. Cuidar dos pobres! No céu, ninguém goza sozinho a felicidade, mas a partilha com os outros.

Providência e necessidades materiais.

Deus faz até milagres.

Deus cuida das necessidades materiais de seus servidores (Catarina conta aqui vários milagres de multiplicação de pães etc ).

Exigências divinas: desapego das riquezas.

Todos os males procedem do desordenado apego e ganância da riqueza. Nasce o orgulho. A riqueza empobrece e destrói a vida da alma.

A pobreza autêntica

Toda felicidade, paz, sossego e quietude nascem da pobreza. Os que a seguem possuem todas as virtudes. São justos e caridosos para com todos, sem acepção de pessoas. Deus fala sobre o exemplo de pobreza que Jesus nos deixou. Ele desposou a pobreza, embora fosse rico eternamente como Deus. Nasceu numa estrebaria, entre animais, em extrema penúria. Durante o resto de sua vida muito sofreu, só ou em companhia de seus discípulos. Ao morrer, mostra-se nu, despojado, flagelado à coluna, sedento no madeiro da cruz. De tal monta foi sua pobreza que, na cruz não tinha onde encostar a cabeça, tendo de incliná-la sobre o peito.

Quem assume a pobreza acha todas as virtudes, todas as graças, todas as satisfações que deseja. Não teme a luta nem a carestia, nem a fome, porque confiou em Deus. Deus jamais os abandona.

Tudo o que foi mencionado é ignorado pelo homem, que tanto ofende a Deus e desconhece tão alto preço.

QUARTA PARTE

OBEDIÊNCIA E DESOBEDIÊNCIA

CAPÍTULO 35- Catarina interroga sobre a obediência.

CAPÍTULO 36-A obediência

em geral.

Ninguém entra na vida

eterna se não for obediente (Mt 19,17). A obediência abriu a porta do céu, da

mesma forma como a desobediência de Adão a fechara.

A obediência e a paciência

vivem juntas. A humildade nutre o amor e alimenta também a obediência. A

obediência nasce da humildade.

A obediência comum dos

mandamentos

A obediência especial dos

conselhos evangélicos

Para pessoas que têm essa

vocação e a seguem-na intenção e na vida.

Diminuem o próprio espaço

de movimentação, entrando para a vida religiosa ou submetendo-se a uma pessoa.

A vida religiosa é a

vocação mais perfeita. O julgamento será feito quanto à perseverança e não

quanto à entrada nela.

Fala sobre a vocação

beneditina e franciscana e depois sobre a dominicana. Fala também sobre os que

seguem e os que não seguem os carismas dessas ordens “não por defeito na ordem,

mas porque apareceram súditos desobedientes e superiores maus”.

“Quem peca contra o voto

de obediência raramente não ofende também os votos de castidade e de pobreza”.

Fala também dos que se santificaram.

Disposições necessárias

para a vida religiosa: fé, eliminar o egoísmo, vencer a sensibilidade, aceitar

obedecer e com isso chegar ao amor. Deve ser paciente e humilde

(humilhação mais o desprezo do mundo).

Em seguida fala do

religioso obediente e da eficácia da obediência religiosa, sobre o religioso

que é obediente na comunidade e sabe conviver tanto com pessoas que temem a

Deus como com as que não temem. Segue os horários de modo perfeito e agradável

a Deus, nunca se queixa quando lhe falta o necessário. Seu quarto é pobre, sem

cortinados. Não temem ladrões, nem a ferrugem ou a traça. E enumera muitas

virtudes derivadas da obediência. “Quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12). O

prêmio dessas pessoas será de cem por um e a vida eterna (Mt 19,27-29).

Já o religioso

desobediente é exatamente o contrário, sofre e faz sofrer os demais. Goza na

terra a garantia do inferno: vive revoltado, triste, cheio de remorsos, molesto

à ordem e ao superior, insuportável até a si mesmo. Ao pecar contra os três

votos cai na ruína, seus defeitos aumentam, nem parece mais um religioso, mas

um demônio encarnado.

O religioso desobediente

cai na ilusão da desobediência, enganado pelo egoísmo, concentra sua

inteligência nos prazeres do apetite sensível e nos bens materiais. Ao querer

evitar os sofrimentos (não obedecendo) acaba indo ao seu encontro.

A “árvore” da

desobediência produz frutos mortais, pois a raiz dessa árvore está plantada na

soberba e circundada de egoísmo. Por isso tudo nasce corrompido: as folhas, as

flores, os frutos, nascidos de três ramos estragados que são a desobediência, a

pobreza e a castidade. Os frutos são a bisbilhotice, julgar sobre as intenções

do superior, cometer impurezas, distrair-se com longas conversas com falsas

devotas. Responde ao superior, não tolera os confrades, sempre distila o veneno

da própria impaciência, da sua ira, do seu ódio. Vê como mal o que o confrade

lhe fizera como seu bem. Contrariado, angustia-se na alma e no corpo. Por que

se desagrada dos outros? Porque somente pensa em agradar-se!

Depois Deus se queixa da

desobediência e fala sobre outro mal terrível: a tibieza religiosa. A tibieza

representa um mal terrível para quem quer seguir a vida religiosa, pois é como

Apocalipse 3,20: nem frio, nem quente, e “a água morna vomitarei da minha boca”.

Terão a aparência de vida regular, praticarão as cerimônias exteriores, mas sem

espírito interior. Por falta de discernimento muitas vezes condenarão os

religiosos que são mais perfeitos que eles. Para eles é penoso sofrer, e por

isso poucos frutos lhes restam. Eles lesam a perfeição para a qual entraram com

compromisso de realiza-la.

Como vencer a tibieza

Procurar conhecer-se,

desconfiar de si mesmo, despreocupar-se da própria reputação pública, mergulhar

no amor de Deus, renovar na fé seus compromissos de obediência, aplicar-se em

vigílias de oração humilde e contínua, afastar de si o egoísmo, caminhar na luz

como os obedientes verdadeiros.

Em seguida Deus faz outras

considerações sobre a obediência religiosa. Fala sobre a obediência jovial,

agradável, iluminadora, que afasta as trevas do egoísmo, dá a vida da graça,

destrói o pecado e o egoísmo, que são inimigos do ser humano. Obediência

generosa, súdita de todos, benigna e piedosa. Com bondade e mansidão suporta

qualquer peso, auxiliada pela fortaleza e paciência. A perseverança é a coroa

da obediência, não desaparece diante da impertinência do superior ou diante de

graves encargos por ele impostos sem discernimento. Na fé, a obediência suporta

tudo.

Aí Deus fala sobre a vida

consagrada dos leigos e a compara com a dos religiosos.

Fala também sobre exemplos

de obediência, a obediência na vida e na morte: pela obediência tudo se deve

deixar, mesmo os enlevos de oração. O alimento da obediência é conhecer-se e

conhecer a Deus. Ao tomar consciência do próprio nada e pecado, ao ver que Deus

é aquele que é, o homem experimenta quem é o Cristo em sua verdade.

Há em seguida um resumo

geral do livro e no capítulo 37 Catarina faz um agradecimento final de tudo o

que ela e Deus conversaram: “ Agradeço-te, agradeço-te, Pai eterno, porque não

desprezaste esta tua criatura e os seus desejos. Tu és a luz e eu sou a

escuridão. És a vida e eu sou a morte. És o médico e eu, a enferma. És a pureza

e eu a pecadora. És o infinito e eu a finitude. És a sabedoria e eu a tolice”.

As últimas palavras do

livro são estas:

“Aqui acaba o livro

composto pela bendita virgem, esposa e serva de Jesus Cristo, Catarina de Sena,

ditado em êxtase, revestida do hábito de São Domingos. Amém”.

Livro O Diálogo, Edições

Paulinas, ISBN 85-05-00187-7, 1987. Santa Catarina viveu entre 1347 e 1380.