A ORAÇÃO NA POUSTÍNIA

LIVRO ALMA DA MINHA VIDA,

CATHERINE DE HUECK DOHERTY, fundadora da MADONNA HOUSE - N. 1901 - M 14/12/1985

Edições Loyola, 1987, tradução e apresentação do PE. Heber Salvador de Lima, SJ, Goiânia, 28/08/86. Resumido pelo administrador do site

INTRODUÇÃO

-A oração é algo tão simples!

-Se nos dirigirmos a Deus como uma criança busca o seio materno, isto será oração!

-Dois namorados não complicam sua conversa com fórmulas. Não precisam de muitas palavras para se comunicarem e se aprofundam no conhecimento mútuo.

- O clamor provocado pela solidão é uma prece!

-A oração é amor. Amor expresso no silêncio e em palavras. É o ponto de encontro nosso com Deus.

1- APAIXONAR-SE POR DEUS

A oração é a expressão do nosso amor para com Deus.

-“Senhor, eu vos amo por todos os que não vos amam” = repetir isso sem cessar.

-Meditação é a contemplação de Jesus.

-O silêncio, no princípio, é cheio de “ruídos” internos, mas aos poucos se intensifica e reflete Deus.

-não importa o posicionamento do corpo. Assimilar esse reflexo do infinito e perder-se e esquecer-se em Deus! Lentamente. É o próprio Deus quem nos “suga”.

-repetir a mesma palavra, como por exemplo, “Jesus”.

-Fechar todas as portas e janelas do corpo.

-Enamorarmo-nos do crucificado!

-Se nos apaixonarmos por Deus, também nos apaixonaremos pelos feios, cansados, doentes, os que não inspiram confiança, os viciados em tóxicos, os assassinos e todos os marginalizados.

2- REZAR É ARRISCAR-SE

-POUSTINIA – “deserto, solidão”

- A oração deve levar-nos à entrega total.

- Os cristãos não estão vivendo o evangelho, não estão seguindo Jesus Cristo.

- Não podemos querer contemporizar com alianças impossíveis!

- Como os magos, a oração é olhar para o céu buscando a estrela... oferecer-se a Deus como dom total.

3- SEGURA NA MÃO DE DEUS!

- Segure na mão de Deus e fale com ele em qualquer tempo, em qualquer hora (Lucas 18,1) “sem cessar”. O importante é não largar a mão de Deus, mesmo quando estamos em silêncio ou fazendo outras coisas.

“Fazer nossas ações de cada hora, enquanto seguramos a mão de Deus e pensamos no bem dos outros”.

- A missa é um encontro especial com Deus.

- A liturgia das Horas deve também fazer parte de nossa vida de oração. Os salmos são sempre atuais.

-A Hora Santa ( Mateus 6,6: “Entre em seu quarto e feche a porta”). Podemos transformar o nosso próprio quarto numa Poustinia (=lugar deserto).

- Expor de modo simples e humilde as nossas necessidades. Não usar muito palavreado.

-Esquecer-se de si e fixar-se nas necessidades dos outros. Fugir da oração eu-me-mim.

- Enfim, rezar sempre... o tempo todo!

4- REZAR É TRANSFORMAR-SE EM ORAÇÃO

-Pe. Edward Farrell diz que a oração é uma fome.

-A oração vocal e a meditação são passagens que ela teve na vida, mas que dirigiu-a à contemplação.

-Com a contemplação, diz Catherine: “minha vida ficou diferente. Era como se o Senhor em pessoa estivesse ao meu lado, explicando-me as coisas divinas (...) Eu me senti “perdida em Deus”, eu me transformei em oração, minha mente mergulha no meu coração “.

- Os deveres continuam o mesmo! Fazer “cada coisa por amor de Deus e como expressão de sua vontade”.

- Oração é sofrimento: é com-paixão. Partilhar do sofrimento alheio. Participar também da alegria alheia: “De repente você está dançando no meio da noite e sentindo que Deus está dançando com você!”

- Momentos em que se sente vazio: “O que estou fazendo aqui?” Experimenta a inutilidade da vida, cheia de tentações, dúvidas... “Pois é então que você se transforma em oração para todos os que hesitam na caminhada e duvidam na fé”.

- A oração é um movimento, um impulso do coração.

- rezar é estar continuamente na presença de Deus. Quando não conseguimos rezar, ele reza por nós (Rom 8,26).

- A Encarnação de Jesus tornou, as coisas simples da vida, em sacramentos da presença de Deus em nossa vida. Por exemplo, o que é o Batismo? A água jogada na cabeça... coisa simples, mas que nos leva ao infinito!

- Evangelizar com a vida!

5- A MÚSICA DO PASTOR

- Nossa fé é o seguimento da flauta do Bom Pastor.

- Amém quer dizer assim seja, aceito, seja feita a vossa vontade.

-Aleluia significa exultação, a alegria que vem desse amém, mesmo doloroso.

- Só se pode viver a realidade e o sentido profundo dessas duas palavras se não tiver espírito de oração que nos leva a nos convencer do que Jesus disse: “sem mim nada podeis fazer”.

- Eu não sou nada! Enquanto rezo eu me vejo como num espelho, vendo meu reflexo como imagem de espelho, vendo meu reflexo como imagem de Deus.

- Sou apenas um pecador que está sendo salvo e que pode cair em pecado a qualquer momento! Isso me assusta e é “nesse momento que a oração se transforma nessa necessidade básica de minha vida”.

- O caminho que nos leva a Deus é sofrido (Mt 16,24: Tome sua cruz...)

- A união com Deus só se dá com o generoso e total despojamento de nós mesmos. Quem perseverar até o fim é que será salvo (Mt 10,22)

- Essa união com Deus é custosa e exige sofrimento (Compara com a mãe que sofre para gerar e criar o filho, mas esses sofrimentos só fazem fortalecer o amor entre eles).

- Aí só podemos dizer uma frase: “Ajuda-me, Senhor!”

- Como nos “Cânticos”, Deus às vezes se esconde e o desejamos mais ainda.

- “Jogar para fora e para longe tudo aquilo que impede o alojamento de Deus por nós (...) É dentro de nós e não fora que se encontram as maiores muralhas erguidas contra a entrada de Deus (Mt 15,11= o que sai pela boca e não o que entra que nos torna impuros).

- O despojamento interior é como uma vassoura que varre para fora do coração tudo quanto impede a nossa união com Deus.

- Sentir a presença de Deus em mim já é o paraíso (Dt 30,11-14).

6- FOGO E LÁGRIMAS

-“Faço minhas orações contemplando imagens sacras e mesmo postais que mostram flores, paisagens, com uma mensagem. Ontem encontrei um desses que falam da oração como “sangue e lágrimas”.”

- Eu prefiro “fogo e lágrimas”. Fogo: a chama do amor de Deus. Lágrimas: de arrependimento e de gratidão.

- Só se não ficarmos na periferia da vida, mas olhando bem no fundo de nós mesmos é que descobriremos essa modalidade de oração.

- Se processa na solidão, na tranquilidade e no silêncio!

- Tentamos dizer a Deus que o amamos e que nosso coração está abrasado de amor por ele e que muitas vezes choramos de alegria pelo fato dele ter vindo a este mundo visitar-nos e salvar-nos. Deus escuta o nosso “balbuciar”.

- Deus só aceita oque é real, não um nosso “eu” fictício. Se tentarmos ser algo que não somos, nossa oração não será ouvida.

- Eterno blá-blá-blá. Não amamos nem a nós mesmos, nem aos amigos, quanto mais aos inimigos!

- “Cada vez que nossa oração sobe ao céu desligada do sofrimento, da fome do terceiro mundo, dos oprimidos e explorados da América Latina, dos problemas da Igreja nesses (e nos outros países), essa prece é água de repuxo! Não pode chegar ao céu. Cai mesmo!

- (aqui ela fala do nosso relacionamento com os irmãos, como dizer a verdade que eles precisam ouvir e que devemos dizem com amor e estarmos abertos também para ouvir o desabafo do outro. Nunca esconder os nossos sentimentos em relação aos outros).

- O pior inimigo pode ser você mesmo! Admitir sempre a própria verdade! Perdoar sempre e pedir perdão! Não é fácil dizer a verdade e não é fácil confiar!

7- O ESPÍRITO DE ORAÇÃO

-A Trindade habita em nós. Sacudir em nós o sentimento de culpa.

- Jo 14, 23- “ Se alguém me mama, nós viremos a ele e faremos nele nossa morada”.

- Deus não nos ama porque NÓS somos bons, mas porque ELE é bom.

- O oceano inteiro está dentro de nós, mesmo que o Espírito Santo nos inspire apenas gotas de água de pensamentos e inspirações.

- Minha oração diária torna-se uma “jornada diária para dentro”. Depois de “tocar” em Deus, vou tocar em você com o máximo respeito.

- Quando Deus nos chama para algum a atitude, alguma fundação, algum ato, podem crer que lá vem sofrimento! E temos medo disso!

- “Senhor, ajuda-me a seguir avante em qualquer direção que me queiras conduzir”!

- A aridez faz parte da oração, da “jornada para dentro”.

- Oração é “contato com Deus”. Para isso temos que quebrar nossos “ídolos”.

- Temos que parar de enganar a nós mesmos, escondendo nossa verdadeira face, nosso “eu autêntico”. Nunca mostrar o que não somos.

- Para Deus “pouco importa que você seja imperfeito. O que ele deseja é que você entre dentro da chama que ele veio trazer à terra (Lucas 12,43).”.

8- ORAÇÃO E VONTADE DIVINA

- Dá-me arrepios ouvir pessoas dizendo que Deus lhe disse isto e aquilo, que devem ir ou não para lá ou ficar aqui...

- Deus nunca nos manda fazer o que quer que seja de acordo com nossas próprias sugestões e interesses pessoais.

- Isso só é válido quando o assunto for de inegável alcance e valor para a glória de Deus e bem do próximo.

- Não é válido deixar compromissos e deveres sem que alguém nos substitua, para fazer outra coisa que achamos ser vontade de Deus.

- Década de 30: “Poustinia de rua e de mercado” – Ela queria dar tudo aos pobres e ir viver sozinha entre eles. Pediu orientação de muitos padres, que a dissuadiram dessa ideia. Só algum tempo depois que um bispo lhe deu permissão para isso (Neil Mcneil, de Toronto). Ela obedeceu tanto aos padres (pelo não) como ao bispo (pelo sim). “Nunca desobedeci a um bispo.”.

- Fala sobre a obediência. É pela obediência a Deus que se chega à paz. Sempre se perguntar se se está fazendo sua vontade.

- A “Madonna House” está construída sobre essa pedra fundamental: OBEDIÊNCIA À SANTA IGREJA!.

- “ Não consigo separar a oração da obediência”!

- Não é agradável a Deus lhe pedirmos só pensando em nossas próprias necessidades e conveniências.

- Nossa tendência é sempre a de pedir a Deus o que desejamos, em vez de pedir o que que quer.

- É muito importante verificar se estamos nos movendo a favor ou contra a vontade divina.

- Sempre pedir ajuda a um diretor espiritual

- “O Senhor não está na agitação” (1 Reis 19,11).

- Barulho da agitação interior, a cacofonia dos desejos, afeições e apegos desordenados. Para falar-nos, ele nos leva à paz, ao silêncio, à solidão da meditação e a da contemplação. “Leva-la-ei à solidão e aí lhe falarei ao coração “ (Oséias 2,14).

- Para fazer a vontade de uma pessoa com prazer, é necessário amá-la.

- “Onde há amor não existe sofrimento e, se houver sofrimento, este se tora amado”.

9- RESPOSTA À FOME DOS JOVENS

- Fala dos jejuns e orações dos jovens hippies vizinhos da Madonna House.

- Devemos reservar um lugar, em nossa vida, para o recolhimento e o silêncio, para sempre e em qualquer situação, estar unidos a Deus. É a “jornada para dentro”.

- Kénosis: esvaziamento. Esvaziar-se para que Cristo esteja dentro de nós.

-Jejum entendido aqui como toda a mortificação dos nossos desejos desordenados, dos nossos apegos ao conforto, para podermos estar mais disponíveis para a oração e a ação de Deus em nós. Mas o jejum tradicional é também importante!

- Conta a conversão de uma hippie mediante uma conversa sobre Teresa De Ávila, S. João da Cruz e todos os grandes místicos da Igreja.

10-CRISTO NOS MEUS IRMÃOS

-Para encontrar Cristo nos meus irmãos é preciso, antes, conhecê-lo!

- Dentro de nós e na Eucaristia (para conhecer Jesus Cristo); “Eles o reconheceram no partir do pão” (Emaús). Também o reconheço na oração, no perdão (sacramento da Reconciliação).

- Há muita diferença entre “saber algo sobre Deus” e conhecê-lo intimamente (este conhecimento só pode vir de Deus).

- Fala sobre a via da oração e dos sacramentos para se entrar em contato com nosso Senhor.

- Sem o amor para com Deus e sem o nosso conhecimento desse mesmo Deus, aprimorado e cultivado na oração, podemos chamar o nosso trabalho com o próximo simplesmente de “humanitarismo”, não de trabalho cristão.

11- NADA PODEIS SEM MIM

- Os homens preferem as trevas à luz

- A fé é uma escuridão “provisória”.

- Só quem perseverar será salvo (Mateus 10,22).

- “Não existe medo no amor” (1Jo 4,18).

- Deus não entra nos nossos esquemas de organização.

- Como pode Jesus salvar quem não quer ser salvo? É como o que se está afogando que luta contra o nadador que tenta segurá-lo.

- Sem Jesus não há como se salvar

- “Há um debater-se generalizado em muita ação frenética no corpo apostólico, sem o respaldo de uma vida de oração”.

- Ler João 15 todo: “Quem permanecer em mim e eu nele, este produz muito fruto. Sem mim, vocês não podem nada!”.

- O que salva o mundo não é tanto o dinamismo de nossa ação, mas sim, nossa união com Deus.

- Quanto mais com Deus, mais com as pessoas.

- Concílio de Trento: a oração é a “Elevação da alma a Deus”.

-“A oração em palavras, como no rosário, como nas orações impressas em livros ou imagens, é a oração dos simples, dos humildes”.

- Há os que rezam com os salmos.

- Há os que simplesmente meditam de olhos parados, perdidos em seu Deus.

- “Sim, Deus é o único caminho. A única resposta. E a oração é também o único trampolim que nos projeta em Deus.

12- A ORAÇÃO DE “BACIA E TOALHA NA MÃO”.

Isaías 55,8: “ Os meus caminhos não são os vossos caminhos”.

Mateus 25: seremos julgados pelos pobres que não socorremos.

- O juízo final me dá arrepios na espinha

-Não estamos amando o próximo! Não mostramos a face de Cristo ao mundo, no século XX, porque não a trazemos em nós próprios!

- Amar o próximo não quer dizer somente dar esmola, mas também estar disponível para “ouvir o próximo”, tendo um relacionamento pessoal com ele.

- É um serviço tranquilo (nada de frenético, sem respaldo da vida inteira), prestado de pessoa a pessoa, como Cristo fez em sua vida.

- O cristianismo é comunidade como a Trindade é comunidade, e deve ser nossa referência.

- Oração de amor e serviço

- A kénosis (esvaziamento) do coração, de tudo o que não é Deus, a fim de que haja lugar para o próximo dentro de nós= quebra dos ídolos e a pobreza total.

- Pobreza verdadeira é também não ser dono nem do próprio coração! O outro pode entrar sem bater!

- As coisas de Deus são muito simples! Nós é que somos complicados. Não ser dono de nada, nem de si mesmo, nem da própria vontade.

- Estou em dúvida se digo: “Vamos juntar as mãos e rezar, gente!”, ou: “ Vamos pegar uma bacia e uma toalha, gente”! (para lavar os pés dos outros). Eu prefiro a última;

-Os pobres cada vez mais pobres, os ricos cada vez mais ricos, os jovens cada vez mais drogados, o amor sufocado e assassinado pela onda cada vez mais nauseante de pornografia, permissividade e sexo livre, que está atingindo até as crianças.

13- QUANDO A PALAVRA É PÃO E VINHO

-A missa tem o tremendo poder de unir-me a Deus é a humanidade.

- Catherine explana a realidade maravilhosa e misteriosa da Eucaristia. Ao comungar ela se vê comendo a Palavra, como em Ez 2,8-10; 3,1,4. Deus manda o profeta comer o livro da Palavra.

- Comer no sentido de deixar que ela nos penetre e vá bem fundo no coração.

-Meditação e leitura diária da Palavra de Deus

-A Palavra nos fortalece!

-Na missa nos alimentamos da Palavra e da eucaristia. João 6, 54: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”.

14- REZAR EM NOME DE JESUS

-Deus deve tornar-se o centro de nossa vida. Nosso eu deve, então, desaparecer.

- Os místicos orientais rezam: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo, tende compaixão de mim, que sou pecador”. Repetem isso milhares de vezes.

- Com o nome de Jesus coisas boas começas a acontecer.

- Que pecado é pronunciá-lo de maneira leviana e vã, como o “My God” dos americanos.

- A própria palavra “Jesus” já é uma oração.

- Não se preocupar em concentrar-se. Continuar a dizer: “Senhor Jesus, Filho de Deus vivo, tende compaixão de mim que sou pecador”.

- Ela não é feita: ela acontece, no ritmo da respiração.

15- O GRANDE POÇO DO SILÊNCIO

-“Rezar” a bíblia.

(Comenta com detalhes o benefício que a bíblia nos traz quando a meditamos e a rezamos: “Todas as palavras da bíblia são “Grávidas de sentido”).

- Deus é o OUTRO por excelência.

- Meditá-la no silêncio e na oração.

- Meu coração é a morada do silêncio.

- Jogo no “poço do silêncio” do meu coração todas as palavras maldosas e as expressões que me ferem e machucam minha alma.

- Desse poço de silêncio, que são a minha oração e meditação, tudo isso sobe e me transforma interiormente.

- Todas as vezes que a impaciência, a emotividade e o orgulho tomam conta de mim, então desço ao meu “poço de silêncio”, onde peso as ideias, conceitos, intenções, palavras e pessoas” E torno-me mais caridosa.

- Mesmo que alguém me feriu, não posso fechar a porta.

- “Abertura quer dizer que as pessoas podem entrar e sair, falar bem ou falar mal, elogiar ou criticar”

- “Quando estamos preparados para a dor e os sofrimentos(...) a dor se transforma em alegria”.

- Você pertence a Deus e seu destino está nas mãos dele, então, esse momento se transforma em alegria.

- O sofrimento é inevitável a quem segue Cristo.

16- QUANDO SE VAI A UMA POUSTINIA (deserto), OU A UM RETIRO INDIVIDUAL

- Não entrar com a obsessão de rezar. Levar apenas a bíblia. Sinal da cruz, inclinar-se ao crucifixo e à imagem de N. Sra. e dizer: “Que a paz esteja nesta casa e também comigo”. Isso é TUDO!

- Se estiver cansado, descanse. Se tiver sono, durma o quanto quiser. Se estiver com boa vontade, até dormindo o seu coração estará velando (Ct 5,2).

- Se tiver vontade de passear, faça-o! Oração é descanso do espírito, simplicidade e liberdade do espírito!

- Quem faz no estilo Russo, divida o pão em três partes: uma para o café da manhã, uma para o almoço e a última para a ceia. Xícaras de café ou chá, à vontade.

- Deixe as listas de nomes em sua casa. Deus conhece todos os seus amigos!

- Trabalho principal = MEDITAR (pensar em Jesus Cristo, nos seus interesses, nas suas palavras e atitudes. Tudo isso está no evangelho).

- Mais do que meditar, rezar é contemplar, no silêncio total da mente e do coração, em que a pessoa olha para o seu Deus, contempla o seu Deus.

- Olhe para onde quiser, desde que o pensamento, o seu coração, estejam presos em Jesus Cristo.

-Quem vai a um Poustínia ou faz um retiro espiritual, simplesmente se lança nos braços do Pai, sem estruturas. Mais do que um espaço material, exterior, a Poustínia é um lugar interior e espiritual, e pode ser feita em qualquer lugar, mesmo na cidade ou num ônibus.

- Poustínia é a cabeça descansando sobre o coração de Deus, para escutar suas pulsações eternas que repercutem no mundo.

17- ORAÇÃO E SOLIDÃO

_Fuga frequente para lugares de silêncio e prece na atualidade. Tem-se a impressão que ninguém suporta mais o barulho e o tumulto desta vida moderna, derramada no consumismo e em outras coisas piores.

- “Fuga ou escapismo?”

- Se por falta de coragem e de estrutura para enfrentar as situações inevitáveis, isso seria tentar fugir de nós mesmos. Isso não funcionaria. Estamos sempre conosco mesmos!

- Como distinguir se é busca real ou escapismo?

- Uma casa de oração só se mantém e é de oração, se tiver muito amor e muita paz.

- Não dá para fugir sempre do mal, mas é possível fugir de vez em quando para saber como enfrenta-lo.

- A oração só transforma o mundo se antes ME transformar.

- Todas as casas de oração só serão possíveis se eu fizer uma poustínia no meu coração.

- Encontramos Deus em nós mesmos!

- A diferença entre oração e solidão é que a oração é um contato com Deus e não precisa da solidão para existir.

O Silêncio é um estado de espírito, um estado de amor. Posso rezar mesmo em meio ao barulho da rua, desde que exista em mim o silêncio interior.

- “Concordo que deva haver condições externas que favoreçam a paz e a solidão da alma e do coração, mas essas condições não precisam ser um mosteiro, nem uma igreja, e nem são absolutamente indispensáveis.”

- “A verdadeira união com Deus é algo assim: não há barulho que consiga atravessá-la ou perturbá-la”.

18- O ESTRANHO PAÍS DA SOLIDÃO

- A paz precede a nossa entrada no país da solidão, que é onde aceitamos a cruz.

- Você passa a acreditar em Deus não só com a mente, mas também com todo o seu ser.

- Você percebe que faz parte também dos outros e pertence a todos eles. Você se torna pés e mãos de todos.

- Mas... você sabe que pertence a Deus. A distinção desaparece e todos somos um, como o Pai e o Cristo são um: é o país da solidão, que não é de tristeza, mas de alegria.

- É uma solidão em que temos fome e sede de Deus, e é aí que começa o tormento da solidão.

- A necessidade de sobressairmos, impressionarmos, atrair os outros para nós mesmos, tudo isso cai dos ombros, como roupa velha, e se torna necessidades inúteis.

-No país da solidão, a amizade se torna simples e alegre, porque todas as necessidades foram centradas em Jesus Cristo. Queremos levar tudo e todos a Deus!

LIVRO ALMA DA MINHA VIDA,

CATHERINE DE HUECK DOHERTY,

Edições Loyola, 1987, tradução e apresentação do PE. Heber Salvador de Lima, SJ, Goiânia, 28/08/86. Resumido pelo administrador do site.