BISPOS DA FRATERNIDADE

BISPOS NA FRATERNIDADE JESUS CARITAS

Veja também o artigo O PACTO DAS CATACUMBAS

Testemunho de Dom Eugênio Rixen, bispo de Goias

Embora já vivesse em fraternidade sacerdotal no Brasil, e já conhecesse a espiritualidade foucauldiana, só comecei a participar da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, inspirada na espiritualidade do Beato Carlos de Foucauld em janeiro de 1996, em Hidrolândia (GO). Neste mesmo retiro participou também Dom Antônio Fragoso que tinha acabado de se tornar bispo emérito da Diocese de Crateús (CE).

Durante estes vinte anos participei de quase todos os retiros nacionais e de vários retiros no Regional Centro-Oeste destas fraternidades. Tive também a alegria de pregar dois retiros nacionais, um em João Pessoa (PB), em 2007, e outro em São João Batista, perto de Florianópolis (SC), em 2014.

O que trazem estes retiros para mim, que sou bispo desde 1996? Exerci meu ministério episcopal como bispo auxiliar de Assis (SP), de 1996 a 1998, e bispo titular da Diocese de Goiás (GO), de 1999 até hoje. Fiz também o Mês de Nazaré em Goiás em 2003.

Nas fraternidades que participam dos retiros, encontrei muitos padres que procuram viver o mesmo ideal que sonho. Quero simplesmente partilhar quais são estes sonhos:

* a procura do absoluto de Deus: nossa vocação presbiteral só tem sentido a partir de uma profunda experiência de Deus e o desejo se encontrá-lo. Como disse o irmão Carlos: “Tão logo acreditei que havia um Deus, compreendi que não poderia ter outra atitude que não fosse a de viver somente por ele”.

* o desejo de viver o Evangelho: nós, padres, somos chamados a viver o Evangelho de Jesus na sua radicalidade, a ter os mesmos sentimento e as mesmas atitudes d’Ele. Como disse o irmão Carlos: “Toda nossa existência, todo o nosso ser deve gritar o Evangelho sobre os telhados”.

* a espiritualidade de Nazaré: diante da tentação do prestígio, do carreirismo, do aparecer, da procura do poder, Jesus nos ensina a humildade e o serviço. Como disse o irmão Carlos: “A medida da imitação é o amor!”

* a oração contemplativa: se a oração vocal (liturgia das horas e eucaristia) tem sua importância, a oração contemplativa enriquece muito o nosso ministério. As duas maneiras de rezar se complementam mutuamente. Como disse o irmão Carlos: “Todos os dias é preciso dar um certo tempo à contemplação estritamente falada, a esta oração pura que simplesmente é um diálogo familiar”.

* a pobreza evangélica: num mundo dominado pelo consumismo e pelo acúmulo de bens materiais, devemos procurar os verdadeiros tesouros evangélicos. Como disse o irmão Carlos: “Meu Senhor Jesus, como não ficaria pobre o mais rápido possível, aquele que, Te amando de todo o coração, sofreria por perceber-se mais rico que o seu Bem Amado”.

* a fraternidade: nossa vida celibatária não deve nos isolar. Ao contrário, nossa doação total a Jesus e ao Reino permite ampliar nosso coração, criar novos laços. A fraternidade sacerdotal, através da revisão de vida e da partilha de vida, nos ajuda muito a fortalecer nossa amizade. Como disse o irmão Carlos: “Quero habituar todos os habitantes: cristãos, muçulmanos, judeus e idólatras, a ver-me como seu irmão universal. Eles começam a chamar a casa de “fraternidade” e isso me dá grande satisfação”.

* o diálogo ecumênico e inter-religioso: não temos o monopólio sobre Deus. Deus é maior que as nossas expressões religiosas. Como disse o irmão Carlos: “Eles deverão dizer: ‘já que este homem é tão bom, também sua religião deve ser boa!’. Se alguém me perguntar por que eu sou manso e bom, deverei responder: ‘Porque eu sou o servidor de um outro que é muito melhor do que eu. Ah, se você soubesse como meu Mestre Jesus é bom!”.

Estes são alguns dos valores que as nossas fraternidades procuram viver, seguindo os passos do Irmão Carlos de Foucauld. Posso dizer que, como batizado, presbítero e bispo, encontrei um caminho para seguir Jesus!


Testemunho de Dom Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira

Um dia o Pe. Gunther, de Rondonópolis, acompanhou-me na visita ao meu bispo de Santa Maria, Dom Ivo Lorscheiter, para solicitar-lhe a permissão para que eu fosse responsável nacional da Fraternidade. A certa altura ele quis saber quem eram os bispos da Fraternidade. Lembramos Dom Waldyr Calheiros, de Volta Redonda (RJ), e Dom Celso Pinto, de Teresina (PI). Ele comentou: “Houve um tempo em que ainda se faziam bispos da Fraternidade”. De fato, foi preciso esperar vários anos para que fosse escolhido Dom Eugênio Rixen, de Goiás (GO). E, no dia 04 de março de 2009, Dom Giovane Pereira, de Tocantinópolis (TO), e eu, este pobre servo, para São Gabriel da Cachoeira (AM).

Quando era missionário em Roraima fui convidado para orientar o dia de espiritualidade para os bispos na Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 2004. Relutei muito em aceitar. Até que Dom Celso Queiroz me argumentou: “Lembre-se de que todos os bispos um dia foram padres. E, oxalá, agora sejam padres melhorados!”.

Dom Waldyr Calheiros animou, com entusiasmo e bom humor, vários retiros para a Fraternidade. Em um deles contou-nos que algumas paroquianas, quando souberam da sua nomeação episcopal, comentaram: “Estragaram o Pe Waldyr”.

O Bispo da Fraternidade carrega no exercício do ministério tudo o que viveu, aprendeu e partilhou com seus irmãos presbíteros nos retiros, nos dias de deserto, no mês de Nazaré, nas revisões de vida, na partilha da caminhada pastoral, na fidelidade ao Bem Amado Irmão e Senhor Jesus, no amor aos pobres e na escolha do último lugar.

Quando o Núncio me chamou para me comunicar que fora escolhido para ser bispo em São Gabriel da Cachoeira, apresentei várias justificativas para não aceitar. Mas, ele refutou a todas. Até quando lhe disse que já era velho demais. Afirmou: “É agora que tem a experiência necessária. Deu-se bem com os indígenas de Roraima. Vai se entender melhor com os índios de São Gabriel que são ainda mais numerosos”. Naquela hora veio-me à mente a imensa dívida social que temos com os Povos Indígenas: tiveram suas terras invadidas, foram saqueados, escravizados, dizimados aos milhares. E os poucos direitos adquiridos na Constituição de 1988 estão ameaçados de perdê-los pelos atuais execrados políticos de plantão. Quem mais pobre do que o irmão índio? E lembrei-me também que estar ao lado deles significa escolher o último lugar como testemunha o irmão Charles de Foucauld.

Em 2013, quando o Papa Francisco esteve no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude , minha mãe me contou que, junto com meu pai, só saiam da frente da TV para dar de comer aos animais. Disse-me também que tinha entendido tudo o que o Papa falou e que desejava muito um dia estar perto dele para lhe fazer um pedido. “Qual?”, perguntei-lhe. “Transferir-te para mais perto de mim!”. Respondi-lhe: “E o Papa lhe diria: seu filho está onde a Igreja deve permanecer: nas periferias geográficas e existenciais”.

Nos caminhos da Fraternidade, gritando o Evangelho com a vida, aprendemos a amar e servir a todos com Jesus e como Jesus.

E para todos nós, discípulos missionários de Jesus, valem as palavras do Papa Francisco: “A vida se alcança e amadurece à medida em que é entregue para dar vida aos outros. Isto é, definitivamente, a missão”.