CANONIZAÇÃO: ARQUIVOS

Capela onde ocorreu o milagre 

Cidade francesa de Saumur

À esquerda, François Asselin, chefe de Charle e quem iniciou a oração a Charles de Foucauld. À direita, Vincent Artarit, padre da Paróquia de Charles de Foucauld. 

VEJA O VÍDEO DA CANONIZAÇÃO:  VÍDEO

15/05/2022-DATA DA CANONIZAÇÃO. 


O SEGUNGO MILAGRE DE C. FOUCAULD

Este é o milagre atribuído ao nosso Irmão Carlos de Foucauld necessário para a sua canonização. Aqui damos um resumo.

Se você quiser vê-lo na íntegra, acesse o blog da Fraternidade Leiga: 

https://www.fraternidadeleigacharlesdefoucauldbrasil.org/


Favorecido pelo milagre:


Charle (olha a coincidência!), um jovem não-cristão que não conhecia Charles de Foucauld.


Profissão: carpinteiro, 21 anos


Data do milagre: 30 de novembro de 2016 


Local: Saumur, na véspera do Centenário da morte de Carlos de Foucauld.


Circunstâncias: 4ª feira. Obras de restauração de patrimônio da capela da Faculdade/Colégio São Luís, na cidade de Saumur, França. 


Conta-nos o blog da fraternidade cujo link está acima:


"Em um determinado momento e após uma movimentação um tanto imprudente, por volta das 16h30, o jovem caiu no vazio a uma altura de 16 metros, impactando contra um banco. O golpe foi brutal e uma enorme viga de madeira daquele banco atravessou-o completamente justo abaixo do coração".


Todos os especialistas concordaram que a queda daquela altura contra um banco e que a viga que o perfurou deveria ter sido fatal necessariamente devido a falência de órgãos internos. No entanto, a cena deixou uma imagem ainda mais chocante quando Charle se levantou com a enorme viga de madeira atravessando seu corpo completamente".


"Além disso, esse jovem caminhou 50 metros até encontrar os funcionários do Colégio e pediu ajuda a eles".


Foi atendido em Angers, num trajeto que durou 45 minutos intermináveis. 


O chefe da empresa (130 trabalhadores), estando em Paris, chamou a esposa e rezaram na paróquia que desde 2012 se chama Charles de Foucauld. Estavam terminando a novena para a festa dos 100 anos da morte do santo.


"No momento, uma foi organizada uma enorme cadeia de oração partindo dessa paróquia e centenas de pessoas oraram incessantemente para que Charles de Foucauld intercedesse pela saúde desse jovem".


"Foi algo extraordinário! Consegui vê-lo três dias depois e conversar com ele como estou falando com você”, explica François Asselin (chefe do Charle).


Fontes:

https://www.fraternidadeleigacharlesdefoucauldbrasil.org/  de onde resumimos.

Fontes usadas pelo referido blog:

https://www.religionenlibertad.com/personajes/662218234/carlos-foucauld-milagro-joven-no-cristiano-caida-atravesado-madera.html Acesso em 01 jun. 2020.


https://es.gaudiumpress.org/content/la-increible-historia-del-milagro-con-el-que-se-canonizara-a-charles-de-foucauld/ Acesso em 12 jun. 2020.


https://www.famillechretienne.fr/filinfo/l-incroyable-histoire-du-miracle-attribue-a-charles-de-foucauld-274726 Acesso em 31 mai. 2020.


https://esacademic.com/dic.nsf/eswiki/228114 Acesso em 10 Jun. 2020. Imagem Foucauld. 


http://nantes.aujourdhui.fr/etudiant/sortie/jep-des-lyceens-ouvrent-les-portes-de-st-louis-de-saumur-journees-du-patrimoine-2019/flyer.html Acesso em 21 Maio 2020. Capela do Colégio Saint Louis em Saumur.



Charles de Foucauld e as POM na missão de 'gritar o Evangelho com a vida'

Andressa Collet e Silvonei José - Vatican News


O coordenador das Pontifícias Obras Missionárias do Continente Americano e diretor nacional das POM no Brasil, tem propriedade em fazer a conexão entre o carisma das POM e o testemunho de Charles de Foucauld, que será canonizado no domingo (15): um tipo de missão que desperta a consciência dos jovens para conhecer e seguir Jesus, numa linguagem viva. Afinal, "a palavra acompanhada do testemunho fala muito mais do que só palavra”, afirma Pe. Maurício Jardim.


O domingo, 15 de maio, será de programação especial no Vaticano para a canonização de 10 Beatos, entre eles, Charles de Foucauld. O Papa Francisco vai presidir a celebração eucarística e o rito de canonização a partir das 10h na Itália, 5h no horário de Brasília, com transmissão ao vivo do Vatican News, direto do Sagrado da Basílica de São Pedro, com comentários em português. Presente na ocasião, o Padre Maurício Jardim, coordenador das Pontifícias Obras Missionárias (POM) do Continente Americano e também diretor nacional das POM no Brasil.


O estilo de vida simples


Na Itália, o brasileiro também estará representando a Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, um dos pequenos grupos que se reúnem no país para oração, para o deserto, para revisão de vida e para ajudar os irmãos presbíteros a cuidarem de si. O Pe. Maurício conta em entrevista a Silvonei José, do Vatican News, que conheceu a história de Charles de Foucauld ainda quando era seminarista, em 1999, e desde então se nutriu dessa espiritualidade, chamada de 'espiritualidade de Nazaré', ou seja, do cotidiano e da vida simples. E o Pe. Maurício acrescenta:


"O irmão Carlos dizia 'gritar o Evangelho com a vida'. As pessoas de hoje querem ver testemunhas com a vida, não só discursos, palavras, conferências; mas querem ver uma fé na prática. E o irmão Carlos viveu esse caminho, queria imitar Jesus nos caminhos de Nazaré e, por isso, ele foi morar e ser jardineiro das Irmãs Clarissas em Nazaré. Elas aconselharam o irmão Carlos a ser padre e fundar uma fraternidade de padres. E ele é atual pelo estilo de vida simples, aquilo que o Papa Francisco quer da Igreja hoje: uma Igreja missionária, despojada, pobre para os pobres, está bem de acordo. Inclusive o Papa tem citado muito Charles de Foucauld no final da Laudato si': ele faz uma belíssima citação do irmão Carlos, falando desse gritar o Evangelho com a vida - uma fé na prática."


A espiritualidade do deserto


O sacerdote diocesano francês, o irmão Carlos, como chama o Pe. Maurício, que será canonizado no domingo (15), viveu em missão Ad Gentes entre os tuaregues na França, viveu 'a espiritualidade do deserto':


"O irmão Carlos foi também monge trapista e aprendeu dos trapistas o silêncio, o deserto, uma espiritualidade da escuta e o tipo de missão, o tipo de apostolado dele é muito atual: quando hoje a gente fala de missão Ad Gentes, que é o carisma das Pontifícias Obras Missionárias, despertar a consciência missionária universal, eu lembro muito do irmão Charles de Foucauld porque é um tipo de missão pela presença, pela amizade, pela proximidade com aquele povo tuaregue. Ele não batizou ninguém lá entre os tuaregues, mas pelo testemunho de vida, eles começaram a despertar um desejo de conhecer também Jesus e seguir o Jesus que ele seguia. Um Jesus despojado, próximo das pessoas."


“Um testemunho que fala: um tipo de linguagem e de comunicação que o irmão Carlos trouxe para aquele povo tuaregue pela presença, pelo testemunho de vida hoje tão atual. A palavra acompanhada do testemunho fala muito mais do que só palavra.”



Fraternidade de Charles de Foucauld do Brasil participa de canonização no domingo dia 15 de maio de 2022, 10 h da Itália e 5 h. de Brasília. 


Entre os 10 novos santos proclamados pelo Papa em cerimônia no próximo domingo (15) está o francês Charles de Foucauld, que inspirou fraternidades no mundo inteiro. A sua família espiritual do Brasil estará representada no Vaticano, em canonização que poderá ser seguida ao vivo, com comentários em português, pelos canais e redes sociais do Vatican News.



O Papa Francisco vai presidir a celebração eucarística e o rito da canonização de 10 Beatos no próximo domingo, 15 de maio, no Sagrado da Basílica de São Pedro. Entre eles está o sacerdote diocesano, Charles de Foucauld (1858-1916), que foi beatificado por Bento XVI em 13 de novembro de 2005.


Imitar a vida e a morte de Jesus


Segundo a biografia produzida pela Congregação das Causas dos Santos, o francês de Estrasburgo se converteu à fé cristã com quase 30 anos, ao compreender que "não podia fazer outra coisa senão viver para Deus" a quem quis consagrar toda a sua vida e, assim, "exaltar-se em pura perda de si mesmo diante de Deus". Aquele jovem que tinha conhecido a riqueza e uma vida confortável e que tinha sido possuído por uma grande vontade de poder, queria imitar Jesus.


Após uma peregrinação à Terra Santa, para viver na terra frequentada por Jesus e pelos apóstolos, descobriu o mistério de Nazaré - o coração da espiritualidade de Charles de Foucauld. A ordenação sacerdotal veio em 9 de junho de 1901, aos 43 anos, após retiros que lhe mostraram que a vida de Nazaré, que parecia ser a sua vocação, "tinha que ser vivida não na Terra Santa, que tanto amava, mas entre as almas mais doentes, as ovelhas mais abandonadas".



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11/11/2021




E, já que a vocação do eremita era "para uma vida escondida e silenciosa e não a de um homem de palavras", procurou levar Cristo a todos os homens que encontrava com a oração, a penitência, a prática das virtudes evangélicas e aa caridade. O amor o levou ao ponto de dar a sua vida em 1o dezembro de 1916, quando foi assassinado aos 58 anos por saqueadores.


O presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas e postulador da causa de canonização, Pe. Bernard Ardura, lembra que o sacerdote francês "quis imitar Cristo, quis reproduzir as virtudes de Jesus em sua própria vida", "no desejo incessante de ser um 'irmão universal' para cada pessoa". Inspiração que levou à criação de fraternidades em todo o mundo, como no Brasil.


Fraternidade Charles de Foucauld no Brasil


Magda Melo, assessora de imprensa da Fraternidade Sacerdotal, já está em Roma para participar da cerimônia de canonização no domingo (15). Ela conta ao Vatican News que as atividades no Brasil acontecem com retiros e encontros nacionais e regionais, por exemplo, dos membros da fraternidade. E não só:


"A gente tem a Adoração, a revisão de vida que nos ajuda muito diante de tantas situações que a gente tem no dia a dia. Então, aquilo que está nos inquietando a poder partilhar com os irmãos e ter certeza que aquilo ali só é para uma ajuda de crescimento. Como também o deserto, a gente poder a partir da formação, a gente interiorizar e poder buscar essa transformação."


A história de vida humana e evangélica de Charles de Foucauld está na origem da fraternidade e continua até hoje inspirando os membros da Fraternidade Sacerdotal. As intuições do francês, como finaliza Magda, se revelaram simples e fecundas para a nossa época: "ele passou por várias etapas, por vários lugares, onde ele buscava se encontrar. E às vezes a gente pensa que não vale a pena, mas a gente tem que ter essa fé e esperança. É a partir dela que a gente se fortalece e fortalece o outro. Ele deixou todo esse exemplo na forma de viver, no seu carisma, de 'estar ao encontro'".


Cerimônia será transmitida ao vivo, em português


A canonização dos 10 Beatos será transmitida ao vivo pelos canais e redes sociais do Vatican News, com comentários em português, direto do Sagrado da Basílica de São Pedro, a partir das 10h na Itália, 5h no horário de Brasília.



O TEXTO A SEGUIR NÃO FOI CORRIGIDO E ESTÁ COMO O GOOGLE TRADUZIU. SE VOCÊ QUISER VER O ORIGINAL, POR FAVOR, CLIQUE AQUI: biografia


"Eu gostaria de ser bom para que possamos dizer: Se tal é o servo, como será o Mestre?"

 

VIDA E OBRAS

 

Nascimento, infância e juventude

 

    Charles de Foucauld nasceu em 15 de setembro de 1858 em Estrasburgo (França) em uma família muito cristã. Ele foi batizado dois dias após seu nascimento e, em 28 de abril de 1872, recebeu sua primeira comunhão e crisma. Ele perdeu ambos os pais quando tinha apenas 6 anos de idade. Carlos e sua irmã Maria são confiados ao avô materno. Aos 12 anos, depois que a Alemanha anexou a Alsácia, a família mudou-se para Nancy.

 

Estudos superiores, carreira militar e afastamento da fé

 

    Extremamente inteligente, dotado de um espírito curioso, desde muito cedo desenvolveu a paixão pela leitura. Ele se deixa vencer pelo ceticismo e positivismo religiosos que marcam seu tempo. Logo, segundo suas próprias palavras, ele perde a fé e mergulha em uma vida mundana de prazer e desordem que, no entanto, o deixa insatisfeito.

    Em 1876, Charles entrou em Saint-Cyr por dois anos. Oficial aos 20 anos, ele foi enviado para a Argélia. Três anos depois, não encontrando o que procurava, renunciou a empreender, com risco de vida, uma viagem de exploração no Marrocos, então fechado aos europeus; exploração científica, que ele descreverá no livro Reconnaissance au Maroc, 1883-1884 e lhe dará a glória reservada aos exploradores do século XIX.

 

A conversão

 

    A descoberta da fé muçulmana, a busca interior da verdade, a bondade e a amizade discreta de seu primo, a ajuda do abade Huvelin o farão redescobrir a fé cristã. No final de outubro de 1886 ele foi para Abbé Huvelin na Igreja de Santo Agostinho em Paris: ele se confessou e recebeu a comunhão. Esta conversão, sem dúvida latente há algum tempo, torna-se total e definitiva.

    Completamente renovado por esta conversão, alimentada pela Eucaristia e pela Sagrada Escritura, Carlos de Foucauld compreendeu então que "não podia deixar de viver para Deus" a quem deseja consagrar toda a sua vida e assim "expirar em pura perda de si na face de Deus". Durante três anos, ajudado pelo abade Huvelin, procurará compreender como realizar concretamente a sua vocação de total consagração a Deus: Aquele que conheceu a riqueza e uma vida confortável e que foi possuído por uma grande vontade de poder, quer imitar Jesus. - Pobre que tomou "o último lugar".

 

A busca da santidade, no mistério de Nazaré

 

    Depois de uma peregrinação à Terra Santa (1888-1889), onde, "caminhando pelas ruas de Nazaré sobre as quais repousavam os pés de Jesus, pobre artesão", descobre o mistério de Nazaré, que será doravante o coração da sua espiritualidade , ele entra na Trappe de Nossa Senhora das Neves, na diocese de Viviers na França e, depois de alguns meses, será enviado para a Síria, na Trappe de Nossa Senhora do Sagrado Coração, uma Trappa pobre, perto de Akbès.

    Ele viverá lá por 7 anos, deixando-se treinar na escola monástica e buscando a mais perfeita imitação de Jesus vivendo em Nazaré. Mas não encontrando o radicalismo que desejava, mesmo que "todos o venerassem como um santo", pediu para deixar o Trappa. Em janeiro de 1897, o padre Abade Geral o libera de seus compromissos temporários trapistas e o deixa livre para seguir sua vocação pessoal.

    Carlos partiu para a Terra Santa e foi viver em Nazaré como servo das Clarissas (1897-1900). No serviço, no trabalho mais humilde, na meditação do Evangelho aos pés do Tabernáculo, procurará viver "a existência humilde e sombria do divino obreiro de Nazaré", como irmãozinho de Jesus na casa santa de Nazaré entre Maria e José. Meditando sobre o mistério da Visitação, aquele que recebeu "a vocação à vida oculta e silenciosa e não a do homem de palavras" descobre que também ele pode participar da obra da salvação imitando "a Santa Virgem no mistério da Visitação trazendo, em silêncio, Jesus e a prática das virtudes evangélicas [...] entre os povos infiéis, para santificar estes infelizes filhos de Deus através da presença da Sagrada Eucaristia e do exemplo das virtudes cristãs”.

 

Ordenação sacerdotal e permanência na Argélia

 

    Confortado pela certeza de que "nada glorifica tanto a Deus aqui embaixo como a presença e a oferta da Eucaristia", recebeu a ordenação sacerdotal em 9 de junho de 1901 em Viviers, depois de ter passado um ano de preparação no mosteiro de Nossa Senhora da Neves, ele acolhera no início de sua vida consagrada.

    "O meu diaconato e os retiros sacerdotais mostraram-me que esta vida de Nazaré, que me parecia ser a minha vocação, devia ser vivida não na Terra Santa, tão amada, mas entre as almas mais doentes, as ovelhas mais abandonadas".

    Em 1901, Charles de Foucauld foi assim para a fronteira de Marrocos, na Argélia, e colocou-se ao serviço do Prefeito Apostólico do Sahara, Mons.Guérin, morando no oásis de Beni-Abbès (1901-1904). Lá ele tentará trazer a Cristo todos os homens que encontrar “não com palavras, mas com a presença do Santíssimo. Sacramento, a oferta do sacrifício divino, a oração, a penitência, a prática das virtudes evangélicas, a caridade, a caridade fraterna e universal, partilhando até o último pedaço do pão com cada pobre, cada hóspede, cada estrangeiro que se apresenta e recebendo cada homem como um irmão amado”.

    Ele constrói um eremitério e se dá um regulamento detalhado, como um monge. Mas seu desejo de acolher a todos que batem à sua porta logo transforma a ermida em uma colméia de manhã à noite. Ele escreve: “Quero acostumar todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus, a olhar para mim como seu irmão, o irmão universal. Começam a chamar a casa de “fraternidade” e eu gosto muito disso”.

 

Missionário de um Deus-Amor em Tamanrasset, no meio dos tuaregues

 

    Devido ao fechamento das fronteiras com o Marrocos, e ao receber um convite para o Hoggar - nenhum padre poderia residir lá, devido à política anticlerical do governo francês - ele se volta para os tuaregues. Por isso, em 1905, Charles foi morar no coração do Saara, em Tamanrasset. Pobre entre os pobres por fidelidade à sua vocação de imitar a vida oculta de Jesus em Nazaré que se fez pequeno para dar um rosto humano a Deus, Carlos se faz pequeno entre os pobres para revelar o rosto de um Deus que é Amor: " Amar uns aos outros, como Jesus nos amou, é fazer da salvação de todas as almas a obra de nossa vida, dando, em caso de necessidade, nosso sangue por ele, como Jesus fez”.

    O amor o leva a dar a vida em 1º de dezembro de 1916, assassinado por invasores, em uma extrema desapropriação.

 

Imita o pobre Jesus até a morte

 

    Na morte cumpriu perfeitamente sua vocação: "Silenciosamente, secretamente como Jesus em Nazaré, obscuramente, como Ele, passando desconhecido na terra como um viajante na noite [...] pobre, laboriosamente, desarmado e mudo diante da injustiça como Ele, deixando-me como o divino Cordeiro para tosquiar e sacrificar sem resistir nem falar, imitando Jesus em tudo em Nazaré e Jesus na Cruz”.

    Assim se realizou um dos desejos mais tenazes: o desejo de imitar Jesus na sua morte dolorosa e violenta, dar-lhe o sinal do maior amor e assim completar a união, a fusão de quem ama em quem é amado .

    O irmãozinho Charles de Foucauld não é um fundador no sentido estrito da palavra, mas um iniciador, um irmão mais velho que abriu o caminho para muitos outros que querem caminhar como ele, seguindo Jesus de Nazaré.

 

"ITER" DA CAUSA

 

a) Com vista à beatificação

 

    A causa de beatificação e canonização do Beato Charles de Foucauld foi iniciada sob a legislação estabelecida pelo Codex Iuris Canonici de 1917. O Prefeito Apostólico de Ghardaïa no Saara iniciou o processo de informação em 1927. Setenta e oito textos, a maioria deles de visu , foram examinados no julgamento ordinário de Ghardaïa e em doze inquéritos rogatoriais, de 1927 a 1947. O decreto de introdução da Causa foi concedido em 13 de abril de 1978, o Relator foi nomeado em 1984, o decreto de validade dos julgamentos ordinários e apostólicos foi emitido em 21 de junho de 1991 e o Positio super virtutibus foi entregue em 27 de julho de 1995.

    Em 24 de abril de 2001, São João Paulo II promulgou o Decreto sobre as virtudes heroicas do Servo de Deus.

    O Conselho Médico da Congregação, reunido em 24 de junho de 2004, considerou por unanimidade a cura atribuída à intercessão do Servo de Deus como cientificamente inexplicável.

    O Congresso de Consultores Teológicos e a Sessão Ordinária de Cardeais e Bispos reconheceram esta cura como um milagre, operado por Deus por intercessão do Venerável Servo de Deus Carlos de Foucauld, que foi beatificado, na Basílica Papal de São Pedro, na Vaticano em 13 de novembro de 2005.

 

 

b) Com vista à canonização

 

    Para esta próxima fase, foi examinada a suposta “fuga por pouco” de um jovem aprendiz de carpinteiro de 21 anos, vítima de uma queda de 15,50 metros.

    Este incidente ocorreu em 30 de novembro de 2016, poucas horas antes de 1º de dezembro, memória litúrgica do Beato Carlos de Foucauld; aconteceu cem anos depois do nascimento do Beato no Céu, num ano em que toda a "família espiritual Carlos de Foucauld" levantou muitas orações para pedir a sua canonização. Finalmente, o evento aconteceu em uma paróquia dedicada a ele. Então, no momento do acidente já existia uma rede de oração. Devido às inúmeras coincidências de tempos e lugares, este prodígio foi imediatamente considerado como um sinal de Deus na conclusão do centenário do Beato Charles de Foucauld.

    Uma semana depois, o jovem deixou o Hospital Universitário de Angers e, pouco a pouco, retomou a sua atividade profissional, sem quaisquer consequências físicas ou psicológicas.

    O médico consultado pela Congregação para as Causas dos Santos sobre este caso, sublinhou no seu relatório de 5 de maio de 2017 que certamente se esperavam consequências mais graves e numa superfície corporal muito maior, tendo em conta a violência do impacto. Ele concluiu interpretando o feliz resultado da queda como uma fuga por pouco .

    O Bispo de Angers, portanto, decidiu abrir um inquérito diocesano sobre o caso em questão.

    Então, em 30 de novembro de 2017, foi celebrada a Sessão de Abertura do Inquérito Diocesano que terminou em 7 de junho de 2018. A Congregação para as Causas dos Santos concedeu o Decreto de Validade do Inquérito Diocesano em 21 de setembro de 2018.

Para o estudo do caso, dois Peritos ex officio     foram nomeados pelo Dicastério que concluíram por unanimidade, dadas as modalidades do caso, que se tratava de uma fuga por pouco devido à ausência de lesões muito mais graves e altamente antecipadas.

    O Conselho de Medicina, na sessão de 14 de novembro de 2019, decidiu por unanimidade, emitindo estas definições conclusivas: ser enquadrado como uma fuga estreita ”.

    No Congresso Peculiar, que se reuniu em 18 de fevereiro de 2020, os Consultores Teológicos votaram unanimemente pela afirmativa. A mesma opinião foi expressa pelos Cardeais e Bispos, membros da Congregação.

    O Santo Padre Francisco autorizou a Congregação para as Causas dos Santos a promulgar o decreto supermilagroso .


Perspectivas com a Canonização do irmão Carlos!

 

Irmãozinho Lindolfo

 

Pela não canonização, foi um sentimento comum entre as primeiras gerações, sobretudo, dos religiosos da família espiritual do Ir. Carlos. O movimento de inserção e inculturação das Fraternidades em realidades tão diversas à fronteira dos espaços eclesiais e às vezes hostis a estes como o secularismo na Europa; evitava-se insistentemente traços de triunfalismo, clericalismo, intelectualismo que implicasse o poder, o ter e o aparecer, que pudesse distanciar os irmãos e irmãs dos grupos humanos com os quais se identificavam e se identificam até hoje, num grande esforço em traduzir a espiritualidade de Nazaré como fermento na massa.

Há de se notar que a primeira regra do Ir. Carlos a ser seguida inicialmente pelos nossos pais e mães das Fraternidades está marcada integralmente pela forma de vida contemplativa do escondimento, do anonimato e da abjeção. Esta é a base genética do nosso Nazaré, cuja intuição central do Ir. Carlos unido à busca do último lugar, constitui para todos os grupos da família do Ir. Carlos, a fonte espiritual, que garante ao nosso apostolado e missão pastoral uma fecundidade peculiar em solidariedade com e como os pobres. Somos chamados a viver a radicalidade desta herança espiritual como sinal bem concreto da universalidade da nossa vocação.

As etapas do processo de canonização[1]demandaram desafios não fáceis de solucionar, pois, refletiam a complexidade da personalidade e o itinerário do Ir. Carlos. Foram-se 104 anos desde a sua morte quando nos chega a notícia de que o Beato Charles de Foucauld seria canonizado santo. Aqui podemos mencionar o título da canção de Pe. Fábio de Melo, “Humano Demais”, para caracterizar a figura do monge missionário, eremita do Saara.

Em geral, nos detemos pouco na reflexão sobre os traços de sua humanidade, o que a Congregação para a Causa dos Santos solicitou à equipe de Postulação prova documental de santidade em vista de questões delicadas do Ir. Carlos: no âmbito afetivo-familiar; com seu temperamento terno e colérico ao mesmo tempo; posicionamentos radicais no contexto da colonização francesa; além de uma possível postura preconceituosa e discriminatória em relação a judeus e alemães num contexto histórico concreto, cujas expressões usadas pelo Ir. Carlos não foram felizes. Mas coube à equipe de Postulação explicar cada uma destas questões, incansavelmente, ademais de dirimir acusações e críticas ao Ir. Carlos como colonialista e nacionalista.  Estas questões encontram-se respondidas no livro “El Testamento de Carlos de Foucauld[2]”.

O milagre[3] aprovado pela Igreja tendo como autoria a intercessão de Ir. Carlos para sua canonização traz alguns elementos que ressaltam aos olhos e ao coração, pois é difícil não associá-lo a uma releitura da vida espiritual do Ir. Carlos acontecido justamente à véspera do 1º de dezembro na comemoração do centenário de sua morte. Trata-se da sobrevivência de um jovem carpinteiro francês-argelino, não cristão, de nome Charle, que caiu de um andaime a 16 metros de altura quando fazia reparos de manutenção na cúpula de uma capela. Nesta ocasião, o dono da empresa em que Charles trabalhava era membro da Paróquia Charles de Foucauld, na região de Saumur na França. Estavam em plena festa do padroeiro quando foram chamados a rezar pedindo a intercessão do Ir. Carlos pela vida daquele jovem, em que uma enorme estaca de madeira lhe havia ultrapassado o tórax logo abaixo do coração sem deixar-lhe sequelas praticamente, pronto para o trabalho dois meses após sobre o andaime parecia impossível de se ver.

Com antecedência os grupos das Fraternidades Leiga e Sacerdotal pudemos nos preparar com a liturgia eucarística para o momento sublime da canonização do Ir. Carlos e outros santos da Igreja em Roma como uma grande comoção internacional.  À distância os que acompanhamos pelas mídias, pudemos experimentar a riqueza do encontro entre irmãos e irmãs esta energia e alegria que contagiou a todos. Como compreender essa efusão do Espírito Santo num só movimento de Fraternidade Universal nestes dias de celebração e canonização do Ir. Carlos? Só Deus mesmo! Ele o marabu, mergulhado profundamente na solidão em Deus, do deserto, alcançou com sua fidelidade de amizade com o Cristo, homens e mulheres, os pobres dos rincões de todo o mundo.

Assim como o espírito do Ir. Carlos e a vida das Fraternidades estiveram presentes, embora, discretamente nos bastidores do Concílio Vaticano II pela força do Espírito Santo numa grande e profunda renovação eclesial. Hoje também somos chamados como discípulos missionários de Jesus a exemplo de São Carlos de Foucauld a testemunhar o Evangelho por uma Igreja solidária na luta pela dignidade dos povos marginalizados e excluídos da sociedade. Para nos animar sempre na caminhada deixemo-nos cativar pelo olhar profundo e sereno do Ir. Carlos tão presente em suas fotografias. São Carlos de Foucauld, rogai por nós!

 

[1] Como foi o caminho de Charles de Foucauld aos altares? ADITAL-UNISINOS, 2020. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/599472-como-foi-o-caminho-de-charles-de-foucauld-aos-altares. Acesso em: 13/09/2022.

[2]J.F.SIX - M.SERPETTE - P.SOURISSEAU, El Testamento de Carlos de Foucauld, Editorial San Pablo,Madrid, 2005.

[3] (...) el gran milagro de Carlos de Foucauld con un no cristiano. ReligiónenLibertad. Disponível:https://www.religionenlibertad.com/personajes/662218234/carlos-foucauld-milagro-joven-no-cristiano-caida-atravesado-madera.html. Acesso em: 13/09/2022.

 

São Carlos de Foucauld, irmão Carlos

 

Pe Gildo Nogueira Gomes

 

Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo, eu sou o Senhor, vosso Deus (Lv 11,44; 19,2), como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo vosso proceder (1Pd 1,15). Todos são chamados à santidade. Também somos chamados ao amor a Deus e ao próximo: Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus, o Senhor é um. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda tua força (Dt 6,4s) e ao teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18; Mt 22,39).

‘Assim como eu vos amei, amai-vos uns aos outros’ (Jo 13,34). O Papa Francisco nos recorda as palavras de Jesus nos últimos, graves e decisivos momentos de sua vida, de sua entrega. Nesta hora tenebrosa Jesus confirma seu amor pelos seus. Nas trevas e nas tempestades da vida o essencial é isto: Deus nos ama! Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo quem nos amou (1Jo 4,10), nunca esqueçamos isto.

No centro não está nossa capacidade, nossos méritos, mas o amor incondicional de Deus, que não merecemos. Isto é o mais importante: somos amados. 

Irmãos Carlos fez um caminho de conversão, uma vez que desde a adolescência perdeu a fé. Durante sua incursão pelo Marrocos foi afetado pelos muçulmanos que diversas vezes ao dia faziam sistematicamente orações a Deus. Buscou, através de sua prima Marie de Bondy, aulas de religião e encontrou-se com o Pe. Huvelin, que na Igreja de Santo Agostinho, em Paris, propôs-lhe a confissão dos pecados e a comunhão eucarística. Assim ele faz uma profunda experiência do absoluto de Deus e diz que não poderá mais viver senão só para Deus.

Pe. Huvelin que o acompanhará desde então, como seu diretor espiritual, o orientará no novo caminho, propondo-lhe retiros espirituais diversos e uma peregrinação à Terra Santa. Ao passar por Nazaré, ainda uma pequena, pobre e simples cidade, perceberá a pequenez de Deus, que se fez um de nós, naquela humilde cidade, um Deus que se fez pobre, último, solidário com os pequenos.

‘O absoluto de Deus que se fez pobre pede a imitação’, com esta intuição Irmão Carlos fará uma busca da imitação de Jesus de Nazaré, procurando conhecê-lo e amá-lo. Ele o encontrará na Eucaristia e nos pobres, irá adorá-lo e buscará imitá-lo desde então.

Procurará um estilo de vida que se aproxime mais de Jesus de Nazaré, entrará para isso na Trapa, que é simples e pobre e depois continuará a aprofundar, mudando os meios que o permita imitar sempre mais a Jesus de Nazaré.

O caminho para esta imitação de Jesus é indicado pelos pobres. O Conde, de família rica, encontrará o modo de imitar a Jesus vivendo o mais simples e pobre possível. Deixará a Trapa para viver Nazaré. Depois quando aceita a ordenação sacerdotal, será com o propósito de levar o banquete eucarístico aos mais abandonados, especialmente no Marrocos (cf. Lc 14,13), percebendo que poderá viver Nazaré em qualquer parte, pois Deus se identifica com os últimos, os pobres, qualquer deles (cf. Mt 25,31-46).

A Eucaristia e os pobres serão para o Ir. Carlos a possibilidade de viver na presença de Deus.

Trapa, Nazaré, ordenação, Saara, Akbés, Tamanraset, Hogar, sempre buscando o último lugar, se tornará próximo dos habitantes das localidades, procurará servi-los, conviverá com eles. No tempo que não lhe foi permitido ter a Eucaristia, celebrar ou adorar o Senhor, decidiu ficar com os Tuaregues, empenhado no convívio e na preparação para uma futura evangelização dos mesmos.

O testemunho do Irmão Carlos, agora São Carlos de Foucauld, provoca em nós e em muitas pessoas o desejo de imitação a Jesus de Nazaré, ser sinal de sua vida no mundo em que vivemos, formando grupos ou de modo pessoal.

São Carlos de Foucauld, rogai por nós e suscite uma igreja testemunha de Jesus no mundo.

Nosso Irmão Carlos de Foucauld é Santo. E agora?

 

Dom Sílvio Guterres Dutra

Bispo de Vacaria RS

 

Ter tomado parte da celebração eucarística, presidida pelo Papa Francisco, no último dia 15 de maio de 2022, na Praça São Pedro, na qual foi proclamado santo nosso querido e sempre Irmão Carlos de Foucauld, passou para minha história como um daqueles dias inesquecíveis. O reconhecimento das virtudes humanas cristãs de Carlos de Foucauld, o marabuto do deserto, é, sem dúvida, motivo de grande alegria, especialmente para quem o tenha encontrado pelas estradas da vida, acolhendo-o como um amigo e companheiro de viagem, como se deu com este bispo que agora relata aqui seu testemunho. No entanto, não convém dispensar o senso crítico. Me refiro a algumas experiências vividas em Roma, nos dias que antecederam a canonização, e que me geraram certa crise ou, ao menos, alguma frustração.

Confesso que a vigília de véspera do dia da canonização, realizada na igreja Trinitá dei Monti, em Roma, não correspondeu ao que se esperaria. A anunciada adoração eucarística, que seria o centro da programação da vigília, foi transformada num evento do estilo pentecostal católico, com excesso de músicas, sons, palmas, movimentos e testemunhos, coisas que deixaram o próprio Cristo Eucarístico em situação difícil. Creio que, assim como eu, também Ele (o Cristo presente na Eucaristia), exposto no ostensório, desejava não permanecer ali. Ele permaneceu, pois suporta tudo por amor, mas eu e outros incomodados decidimos voltar para casa e procurar o silêncio contemplativo, elemento tão precioso ao Irmão Carlos em suas horas de intimidade com a Eucaristia.

O querido Irmão Carlos merece ser tratado como o trata nosso iluminado Papa Francisco, que o cita abundantemente em muitos dos documentos do seu pontificado, como modelo a ser seguido. São Carlos de Foucauld é um modelo de amor radical ao Evangelho, um sinal que aponta para a concretude da chamada Igreja em Saída, tão cara a Francisco; é um profeta a convocar para o essencial do encontro com o Único Absoluto com quem ele mantinha profundos colóquios diários na humilde capela de seu eremitério. No dia do seu martírio, em 01 de dezembro de 1916, sua companhia e seu consolo foi a Eucaristia que mantinha entre suas vestes e que acabou se misturando com o seu sangue nas areias de Tamanrasset

Para não dizerem que não lembrei das flores, não seria justo concluir este curto texto sem testemunhar a mística experiência vivida na igreja de Sant’Andrea della Valle, ao presenciar o espetáculo “Charles de Foucauld: o irmão universal”. O jovem artista italiano que encenou textos referentes a passagens da vida do Irmão Universal, acompanhado somente de um instrumentista, encarnou de tal forma o espírito do novo santo que foi impossível não se emocionar várias vezes durante aquela uma hora e meia que, ao final, pareceram ser apenas alguns minutos, tamanho era o estase ao qual fomos conduzidos.

Digno de registro é, igualmente, a visita que fizemos às Irmãzinhas, em TreFontane, onde o contato com objetos pessoais que pertenceram ao Irmão Carlos, somado ao testemunho de vida simples das Irmãzinhas, completou a alegria daqueles dias.

Qual lição deverá ficar para nós da canonização do Irmão Carlos? Não permitamos que ele se torne apenas mais um “santo de parede”, para o qual se acenderá velas em situações de apuro, reduzido ao aspecto importante, mas insuficiente, da sua intercessão. Ele é muito mais, é antes um modelo atual e oportuno de uma opção radical de vida que vai desde o despojamento total da experiência no deserto entre os muçulmanos, homem da busca insistente por sentido, passando pela causa antiescravagista, até desembocar na descoberta do Único Absoluto

Que saibamos, como membros da família espiritual do agora São Carlos de Foucauld, ser guardiões e propagadores, pregando o Evangelho com a própria vida, de uma experiência atual, profética e inspiradora tanto para a Igreja como para o mundo inteiro.

 

As fraternidades pós Canonização

 

Pe. Celso Pedro da Silva

 

A canonização do Irmão Carlos foi motivo de alegria para todos os que de alguma forma o conheciam. Alegria para toda a Igreja que, apesar de seus pecados, vê brotar santos e santas em seu meio. Alegria particular para as fraternidades que congregam admiradores e seguidores das intuições deste homem que procurou ser fiel a seu bem-amado Senhor Jesus.

Num primeiro momento, tempos atrás, quando se falava de uma possível abertura de processo em vista da canonização, o entusiasmo não era grande na família espiritual de Carlos de Foucauld. A canonização colocaria em evidência aquele que quis viver, oculto e no último lugar, a espiritualidade de Nazaré. Certamente ele nunca se imaginou num altar, em imagem, venerado por fiéis. Assim pensavam alguns entre nós.

Nosso irmão Maurice Bouvier, que trabalhava em Roma, tomou a dianteira. Interessou-se e levou à frente o trabalho de pesquisa e documentação para que a beatificação acontecesse. E aconteceu. Veio depois a canonização, com um novo postulador, o padre premonstratense Bernard Ardura. Trata-se agora de saber interpretar a elevação do Irmão Carlos de sua querida Tamanrasset, ou de El Golea onde está sepultado, aos altares do mundo todo.

Meditando a vida e os escritos do Irmão Carlos, e vendo e ouvindo o testemunho de muitos de nossos irmãos e irmãs da família espiritual, percebemos, brotando de forma silenciosa e vicejante, a semente que caiu na terra. Este homem de virtudes heroicas torna-se para o mundo todo uma figura viva do Evangelho de Jesus. Ele mostra, sem pretensões, que é possível gritar o Evangelho com a própria vida. Os santos de nossa Igreja não são estatuas num templo de idólatras. São seres humanos, em cujas vidas se pode ver, na prática, a mensagem do Reino.

Maurice Bouvier, o primeiro postulador, é um exemplo de que vale a pena inspirar-se nas intuições do Irmão Carlos de Jesus. Ao ser convidado para trabalhar em Roma, procurou informar-se se lá havia uma fraternidade da União Sacerdotal. Dele se disse por ocasião de sua morte, que foi “grande figura da Igreja diocesana e universal, um servidor fiel durante toda a sua vida, com grande atenção às pessoas, particularmente em todos os procedimentos de justiça eclesial”. Ainda jovem, meditando o Evangelho de São Mateus, entrou num caminho de intimidade com Jesus Cristo, aprofundada com Carlos de Foucauld. Entrou na Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas e orientou sua vida na espiritualidade do Irmão Carlos. Como promotor da causa de beatificação, escreveu o livro “O Cristo de Carlos de Foucauld”.

Trabalhador incansável, formado em Direito Canônico, nunca se fechou numa aplicação rigorista do Direito. Ao contrário, seu espírito pastoral era visível em suas atitudes. Foi este homem, acolhedor e fraterno, membro da família Jesus Caritas que assumiu com força e coragem a tarefa de tornar visível a heroicidade das virtudes de Carlos de Foucauld. 

Somos todos fracos, limitados, pecadores. No entanto, temos visto em irmãos e irmãs nossos que o mergulho sincero e sério na espiritualidade do Irmão Carlos abre perspectivas de novas respostas para as interrogações sempre novas da vida, como fez o Irmão Carlos. Pode ser animador participar de uma fraternidade, se não de originalmente santos, ao menos de convertidos.

  

Testemunhos e relatos dos irmãos(as)

que participaram da canonização

Por ocasião da Canonização do Irmão Charles de Foucauld

Uma Romaria a Roma e ASSIS - 12 a 18 de maio 2022

 

Dom Eugênio Rixen

 

Fomos vários bispos, padres, diácono, e uma leiga para Roma a fim de participar da canonização do irmão Charles de Foucauld. A vida e os escritos deste santo inspiram a nossa espiritualidade na fidelidade a Jesus Cristo e a sua mensagem.

Na quinta-feira, 12 de maio à tarde, fomos visitar as irmãzinhas de Jesus em Tre Fontane. Fiquei impressionado com a acolhida das irmãzinhas, o túmulo da irmãzinha Madalena de Jesus, fundadora da congregação e a celebração da eucaristia no final da tarde. Nossa irmãzinha Neide de Belo Horizonte nos acompanhou com muito carinho durante toda a visita!

Na sexta-feira, 13 de maio à tarde, visitamos a catacumba Santa Domitila, lugar onde os bispos no final do Concílio Vaticano II (1965) fizeram o compromisso de viver na pobreza e com os pobres através do conhecido Pacto das Catacumbas. O mesmo compromisso foi feito no mesmo lugar por alguns bispos que participaram do Sínodo sobre a Amazônia (2019), insistindo também sobre a importância da defesa do meio-ambiente. No final desta visita foi lido este pacto e nós nos comprometemos com as grandes intuições destes pactos.

A noite deste mesmo dia fomos para o claustro da igreja “Della Trinità dei Monnti”, onde houve uma palestra sobre a história da espiritualidade do irmão Carlos pelo padre Bernard Ardura, postulador da canonização, e o arcebispo de Marselha. Este último destacou cinco características da vida do novo santo:

A bondade: Se Jesus é tão bom para conosco, nós também somos chamados a ser bons uns com os outros. Escreve o irmão Carlos: “Meu apostolado deve ser o apostolado da bondade: ao me verem, as pessoas devem dizer: ‘Sendo este homem tão bom, sua religião deve ser boa’”.

A disponibilidade: “Só vejo um único bem em mim: é a vontade constante de fazer o que mais agrada ao bom Deus, sempre e em tudo. Seguir Jesus é fazer a sua vontade, estar aberto aos chamados que Ele nos faz através da sua Palavra e dos acontecimentos da vida”.

A indignação: Irmão Carlos se revolta contra a maneira como são tratados pelos colonizadores franceses os escravos na Argélia. “Não há frase do Evangelho, acredito eu, que me tenha causado impressão mais profundo e transformado mais a minha vida do que a que diz:’ A que fizerdes a um desses pequeninos, é a mim que o fareis’ “. E o irmão Carlos acrescenta: “Estas palavras saíram da mesma boca que disse:’ Isto é o meu corpo... isto é o meu sangue’. Com que força somos levados a procurar e a amar Jesus nestes pequenos, nos mais pobres”. Irmão Carlos procurou estar perto dos mais pobres e ajudá-los e ao mesmo tempo imitar Jesus contemplando-O diante do Santíssimo e meditando os Evangelhos.

A proximidade: Carlos quis viver no meio dos mais abandonados, dos mais rejeitados, encontrar neles o rosto do próprio Jesus. Ele quis salvar os tuaregues do deserto e acabou sendo salvo por eles quando estava muito doente. Eles lhe ofereceram leite de cabras que o curou!

A Eucaristia- o mistério pascal- a cruz: A adoração eucarística está no centro da espiritualidade do irmão Carlos. As longas horas passadas diante do Santíssimo o modelaram. Escreve: “A imitação é a medida do amor...é o segredo da minha vida. Eu perdi o meu coração por este Jesus de Nazaré crucificado há mil novecentos anos e passo a minha vida tentando imitá-lo, na medida que a minha fraqueza permite”.

No sábado de manhã, assistimos na igreja Sant’Andrea dela Valle a um teatro de Francesco Agnello: “Carlos de Foucauld, o irmão universal”. O artista Gérard Rouzier, acompanhado por um instrumento musical “Hang”, soube apresentar as principais características da vida e da mensagem do irmão Carlos: Humildade, pobreza, obediência, castidade. A peça mostrou bem a crítica do santo contra a escravidão. O teatro foi muito emocionante e de uma profunda espiritualidade!

No sábado à noite, assistimos a uma vigília de oração na igreja “Trinità dei Monti”. Foi um momento de oração com pouco conteúdo! Foi uma decepção!

No domingo de manhã, 15 de maio, participamos da missa onde Charles de Foucauld foi canonizado, junto com mais 9 (nove) outros santos. A missa foi presidida pelo Papa Francisco. Na sua homilia, e comentando o Evangelho do dia, ele insistiu sobre a importância de deixar-se amar por Jesus para depois amar os outros. Disse Jesus: “Eu vos dou um mandamento novo: amai-vos uns aos outros! Como eu vos amei, vocês também, amem-se uns aos outros!”.

Havia muitos bispos brasileiros presentes na celebração por causa da visita Ad Limina de vários regionais de Nordeste.

À noite, assistimos a um oratório (orquestra e comentários) sobre a vida do irmão universal: “Viajante da noite” na Basílica São João do Latrão. Os cantos, textos, comentários nos ajudaram a conhecer melhor Charles de Foucauld.

Na segunda-feira, 16 de maio, participamos da missa de Ação de Graças pela canonização de Charles de Foucauld na Basílica São João do Latrão, presidida pelo Cardeal Angelo De Donatis, vigário geral do Papa Francisco para a diocese de Roma. Com a presença de muitos amigos e amigas do santo Charles de Foucauld, agradecemos a Deus pelo testemunho de vida dele que quis “gritar o Evangelho com a própria vida”. Durante o ofertório, um grupo de irmãzinhas de Jesus da África levaram, dançando, as oferendas para o altar. Foi também um momento de encontrar muitos amigos e amigas ligados a espiritualidade do irmão Carlos.

À tarde deste mesmo dia, fomos visitar o túmulo de São Pedro na Basílica dedicado a ele. Rezemos também junto aos túmulos de São João XXIII e São Paulo II. Subimos na cúpula da basílica para contemplar a beleza da cidade!

Na terça-feira, 17 de maio, viajamos para Assis. Visitamos os túmulos de São Francisco, de Santa Clara e do beato Carlo Acutis, padroeiro dos adolescentes.

Rezemos para que a vida destes santos nos ilumine no nosso ministério na fidelidade ao projeto de Jesus Cristo!

Que as nossas Fraternidades possam cada vez mais:

·      gritar o Evangelho com a própria vida

·      viver a espiritualidade de Nazaré

·      procurar os últimos lugares

·      viver com os pobres na pobreza

·      testemunhar mais que pregar

·      inculturar a fé

·      ser irmão universal, sem discriminação

 

Foi uma grande alegria participar da Canonização do Irmão Carlos

 

Pe. Carlos Roberto

Fomos um grupo da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas do Brasil: bispos, padres e uma leiga. Nos hospedamos na Casa Geral das Irmãs da Caridade de Santa Giovanna Antida Thouret, perto da Basílica São Pedro. Dali pudemos visitar muitos lugares importantes para a nossa fé. Não tivemos uma vida de fraternidade, mas rezávamos juntos numa capela na casa onde estávamos. O café da manhã, nós partilhamos juntos todos os dias na casa. As refeições, fazíamos nos lugares onde estávamos, mas em alguns dias jantamos juntos na casa.

Lá em Roma encontramo-nos com as irmãzinhas de Jesus e foi muito bom estar com elas, beber naquela fonte que guarda a essência da nossa espiritualidade, seguindo os passos de São Carlos de Foucauld. Tivemos a oportunidade de visitar o túmulo de Irmãzinha Madalena, que está ali mesmo em Tre Fontane.

Participamos de palestras, missas e espetáculos que falavam da vida do irmão Carlos. Foi tudo muito bom.

Mas a emoção e a alegria transbordaram no dia da canonização. Ver toda a trajetória de nosso “vieux frère”, nosso irmão mais velho, uma trajetória de vida que procurou, numa amizade intima com Jesus, imitá-lo e viver em busca dos pequenos e pobres, os últimos dos últimos; que procurou

imitar o Bem-amado até o último lugar; que procurou evangelizar pela presença bondosa e amiga; que procurou fazer-se irmão de todos, o irmão universal, sem nunca buscar reconhecimento ou recompensas. Ver que, agora, a Igreja o considera um modelo para todos os cristãos do mundo todo, para que, olhando o exemplo de São Carlos de Foucauld, voltem ao essencial: a Jesus e ao Evangelho, neste nosso tempo tão conturbado. Foi realmente um dia de alegria.

Ao mesmo tempo, foi impossível não olhar nossa responsabilidade aqui no Brasil. Ainda há muito caminho a percorrer: um longo caminho que nos conduza ao essencial: Jesus, o Evangelho e a Eucaristia, e que os pobres realmente façam parte de nossas vidas, da vida de nossas igrejas, da vida de nosso povo.

Em breve traduziremos a missa de São Carlos de Foucauld (orações, textos e prefácio) e a enviaremos a todos os irmãos da Fraternidade.

Agradeço a Deus, e à Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, a oportunidade de ter vivido este momento tão importante para a vida da Igreja e para a nossa Fraternidade.

São Carlos de Foucauld, rogai por nós!

 

 

Participação na celebração de canonização de Carlos de Foucauld

Pe. Almir Ramos

 

Tive a grata satisfação de participar da celebração de canonização de Charles de Foucauld. Foi um momento único onde pude presenciar o reconhecimento público da vida e missão daquele que quis viver no escondimento em companhia dos mais abandonados.

De toda a programação que tivemos a oportunidade de participar dois me chamaram muito a atenção:

1. nos primeiros dias em Roma ficamos hospedados na Casa das Irmãs Carmelitas do Divino Coração. Nessa casa convivemos com 70 refugiados da Guerra na Ucrânia e que estão sendo acolhidos pelas irmãs. Desse grupo os adultos são todos surdos mudos. Um trabalho humanitário belíssimo.

2. também tivemos a graça de visitar o antigo Palácio transformando em casa de acolhimento pelo Papa Francisco para acolher moradores de rua.

 

  

Também esse é um lugar com um trabalho humanitário encantador.

 

Novo santo como modelo a ser seguido

Pe. Freddy Goven

 

Em 15 de maio pp. tive a alegria e felicidade de participar com um grupo bastante grande de companheiros brasileiros da canonização do nosso “Irmão Universal”, Charles de Foucauld.

Vários dias e noites anteriores fomos em lugares diferentes dedicados à preparação da canonização, todos bem preparados e muito interessantes. O que mais me chamou a atenção foi quando fomos participar de uma bela apresentação da vida do Irmão Carlos em uma das igrejas de Roma. Inacreditável como durante duas horas um ator francês era capaz, sem papel nem falhas, de trazer todos os momentos mais importantes da vida do Santo, declamando e imitando muitas personagens diferentes, cada um com diferente sotaque e tonização. Fiquei maravilhado!

No domingo fomos concelebrar a santa missa na praça São Pedro. Uma multidão de diáconos, sacerdotes, bispos, cardeais além de uma imensa multidão de freiras, leigos e leigas estavam juntos para a canonização de 10 beatos, modelos de Santidade e cada um com seu programa de vida, entre os quais o nosso Irmão Carlos de Foucauld. Teve muita animação, cantos, danças, alegria e profunda participação.

Na sua homilia o Papa Francisco sintetizou tudo isso dizendo: “Somos todos e todas filhos e filhas de Deus.

As delegações tendo Irmão Carlos como guia, do mundo inteiro, foram muito numerosas e reconhecíveis graças a distintivos. Acrescento agora ainda alguns pensamentos que brotam no meu coração.

- A canonização é um momento muito importante para a Igreja, já que a mesma significa a apresentação ao mundo inteiro daquele novo Santo como modelo a ser seguido. A partir deste domingo Charles de Foucauld e a sua devoção ganham dimensão Universal. A canonização já era esperada há muito tempo, porque não há dúvida que alguém que viveu com tanta radicalidade o Evangelho, o amor apaixonado por Jesus, uma doação sem medida aos pobres, merecia essa canonização.

- No dia da canonização de Foucauld o Papa Francisco recitou a oração do “Abandono” e continuou depois dizendo: “Que esta oração se torne a de vocês nos momentos das suas escolhas e cruzes da vida. Somente assim poderão entrar na dinâmica evangélica da Igreja na sua diocese, sua paróquia, sua pastoral e movimento que expressam o desejo de viver a fraternidade universal deste eremita do Saara. - “Cada um de nós é chamado à Santidade, a uma santidade única e irrepetível. O Senhor tem um plano de amor para cada um, tem um sonho para sua vida. Acolha-o e o realize com alegria.”

O que impressiona na aventura cristã de São Charles de Foucauld é que ele, durante sua vida, “parece não ter feito nada”. Ele não converteu ninguém, não fundou nada, não conseguiu realizar nenhum de seus projetos, não “levou resultados para casa”. Charles de Foucauld só amou Jesus, imitando-o em tudo, até a morte. Precisamente por isso, a sua história sugere a todos os batizados, que para ser Igreja “não é necessário construir grandes obras”, que toda a atividade eclesial só é fecunda se e quando “nascer do encontro e do amor a Cristo”, enquanto “sem amor a Cristo, de nós restam somente estruturas caras, quer físicas como humanas”.

O exemplo do irmão Charles nos ajuda a compreender que somos pobres, pequenos e frágeis. E mais ainda, por questão de sobrevivência, precisamos ser menos egoístas e mais solidários com aqueles que têm menos e precisam mais. A bondade (não a hipocrisia) e o cuidado uns dos outros e da nossa casa comum precisam voltar a fazer parte de nossas vidas.

(Pensando no Sínodo do ano próximo...) O Irmão Carlos tornando-se “Irmão de todos” ensina-nos uma FRATERNIDADE feita de diálogo e cooperação com todos os homens de boa vontade. Esta abertura “Universal”, é baseada para nós os crentes na certeza que todo o homem é amado por Deus, é um irmão por quem Cristo morreu. Não será isto um dos desafios do caminho sinodal que a Igreja nos pede neste tempo?

Carlos de Foucauld inaugurou um modelo de vida contemplativa no coração do mundo. Esta modalidade, continua a inspirar as várias fraternidades, que entre nós vivem a vocação, religiosa ou laical, através de uma vida simples e comum, nunca afastada da condição quotidiana dos mais pobres. Compartilham o seu estilo de vida, suas expectativas e sofrimentos, sem olharem às suas crenças ou estatutos familiares. Assumem compromissos com o mundo, a partir de uma vida simples e próxima com os mais desfavorecidos. Reservam tempos fortes à oração e adoração, onde buscam forças para se dedicarem cada vez mais a Deus e aos irmãos. Enriquecemos a Igreja através destas opções vocacionais, continua a manter vivo o testemunho do Irmão Carlos, procurando, como ele, encontrar Deus numa quotidiana vida oculta e gritar o Evangelho com a vida.



Conheci o pequeno irmão Charles de Foucauld no penúltimo ano de Teologia em Trento

 

Pe. Mario Filippi

 

Conheci o pequeno irmão Charles de Foucauld no penúltimo ano de Teologia em Trento, (1964) lendo um livro que contava sua vida e suas intuições evangélicas. Gostei muito e fiquei impressionado. Sua vida, sua radicalidade, sua contínua buscam do Bem-amado, seu desejo de segui-lo e imitá-lo, buscando sempre o último lugar, o lugar ocupado por Jesus, me inspiravam e deixavam inquieto. Depois de um ano de trabalho pastoral na Itália, vim ao Brasil como padre “Fidei Donum” junto com outros amigos padres.

Treze anos após ter sido ordenado presbítero, com a aprovação do Bispo de Santa Maria RS, dom Ivo Lorcheider, e do Bispo de Trento, Alessandro M. Gottardi, deixei a paróquia e fui morar na periferia pobre de Santa Maria; encontrei trabalho numa correaria.  Não estava fazendo uma experiencia, mas era uma opção de vida, buscando seguir Jesus na sua encarnação, imitando um pouco o Irmão Charles. Durante 7 anos levei a vida de padre operário e isto foi muito importante para mim.  Depois de 7 anos fui para o Recife, para acompanhar o amigo padre Claudio Dalbon.

Pretendia continuar como padre operário, mas o bispo José Cardoso Sobrinho não quis saber: ele queria só padres evangelizadores, não padres operários. Não deu para dialogar. Fui morar nas periferias em casa de taipa, mas trabalhando só como padre. Após três anos o Bispo mandou embora padre Claudio e eu, porque… não éramos em sintonia com ele.

Nos aguardava a periferia de Manaus onde o bispo dom Clovis Frainer nos enviou, junto ao padre Luiz Giuliani. Foi um trabalho grande e muito belo. Fui morar numa invasão, mas não como padre operário, (já era velho demais para encontrar emprego nalguma fábrica).

O grupo da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, ajudou-me muito: sentia seu apoio, especialmente no tempo que era padre operário.

Porque nem todo mundo compreendia e concordava: alguns padres comentaram que era o primeiro passo para depois casar, algumas freiras comentaram que eu tinha ido enterrar os talentos na favela, os companheiros da fábrica perguntavam o que me faltava nos estudos para ser um padre como os outros (mais tarde dirão que todos os padres deveriam trabalhar como eu, para sentir como é a vida do povo pobre).

Em 2002 voltei para a Diocese de Trento e trabalhei em paróquia durante 8 anos. Consegui com alguns outros padres formar um pequeno grupo que se reunia periodicamente: todos eles tinham sido de uma maneira o de outra tocados pela espiritualidade do irmão Charles.

Em 2010 voltei para o Brasil e fui trabalhar na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, com o Bispo dom Edson Damian, que todos conhecemos, amigo desde quando era seminarista em Santa Maria.

A Canonização do Santo Charles de Foucauld foi muito importante porque neste tempo no qual a Igreja é continuamente tentada de dobrar-se sobre si mesma, num clericalismo revestido de um espiritualismo surreal, a espiritualidade encarnada e sadia do irmão Carlos é muito preciosa e não por nada papa Francisco muitas vezes em suas pregações lembra o pequeno irmão de Jesus.

Os dias que vivemos em Roma foram maravilhosos seja pelas apresentações e celebrações, seja pelo reencontro com os velhos amigos que compartilham a mesma fé e piedade. Realmente temos muito a agradecer, como esplendidamente falou o Cardeal Angelo de Donatis.

Voltando para Trento, também fruto do que vivemos em Roma, conseguimos retomar os encontros do grupo da Fraternidade: no primeiro encontro estavam presentes também três irmãzinhas de Jesus da diocese de Trento que vivem em Roma, Cuba e Filipinas.  Uma bênção.

Agradeço, e como diz papa Francisco “non dimenticatevi di pregare per me”.

 

Indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça, Deus nos conduz

Pe. Tiago Jacques Hahusseau

 

"Indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça, Deus nos conduz"!

Continua ressoando ainda nos meus ouvidos este refrão que acompanhou nossos retiros da Fraternidade!

No momento estou fazendo "retiro veraneio", no mosteiro "Nossa Senhora de Bonneval", lugar bonito da França, como é bonita também a história deste velho mosteiro, construído no século 1 e destruído no tempo da revolução francesa (1790). Suas ruínas ficaram abandonadas por um tempo, mas foram reconstruídas anos depois (1970).

Aqui recolhido, venho até vocês para contar como foi na Canonização do nosso Ir. Carlos de Foucauld, no mês de maio, em Roma.

Lá encontrei alguns irmãos, padres e bispos, da Fraternidade sacerdotal do Brasil. Me acolheram muito bem no meio deles. Com eles caminhei nesses dias, acompanhando o que tinha sido planejado de encontros e visitas. Nunca tinha passado tanto tempo em Roma. Sempre fiquei a distância desta "pompa romana e vaticana"!

Esta potência e ganância exagerada da Igreja, em Roma, em outros tempos, escandalizou Lutero e continua questionando ainda muita gente. Mas, assim como Francisco de Assis e tantos outros, com o passar do tempo, muitos queriam uma Igreja mais fiel à Palavra de Deus e ao Evangelho de Jesus, uma Igreja dos Pobres e com os pobres.

Este domingo 15 de maio 2022, na hora da Missa da canonização, foi impressionante ver a grande bandeira, imagem do Ir. Carlos, erguida na frente da Basílica Sao Pedro (com outros Santos, canonizados na mesma hora). Com esta faixa, outro sinal estava sendo dado para Igreja e para o mundo de hoje, resgatando um passado doloroso e questionado. Esta nossa amada "Igreja Romana" se tornava mais "católica", abrindo as suas colunas da praça do Berlin, para os pobres, e todos os romeiros, discípulos do Ir. Carlos e desejos duma Igreja serva e pobre. A grande figura do Ir. Carlos, dominando esta multidão reunida. Ele monge trapista, convertido nesta Igreja ocidental carregada de história, belezas artísticas e manchadas também pela sua potência do passado e suas glorias mundanas, venha abrir e fortalecer novo caminho de conversão. Papa Francisco designava Ir. Carlos como Santo "registrado" e os seus seguidores, como trilhando caminho certo

Aqui estávamos todos em Roma, nesta hora da canonização, enroscados na história e a gloria do "Berlin, mas chamados para caminhar pelas "periferias existenciais", como Jesus de Nazare, vivendo sempre mais esta conversão evangélica do Ir. Carlos, "gritar o Evangelho com toda nossa vida", indo e vindo com os pobres, no meio dos pobres!  Tempo de agradecimento e tempo para pensar e agir melhor para seguir o Caminho de Jesus de Nazare. 

Aproveitando tempo e oportunidade em Roma, nossa turminha foi visitar as Irmãzinhas em "Tre Fontane", na fonte onde nasceram várias vocações para o mundo inteiro. Aqui lembramos e encontramos irmãs que trabalharam no Brasil, caminhando com os pobres. A presença da Irmãzinha Genoveva nos acompanhou e aproximou do Povo Tapirapé. 

Passamos uma tarde, visitando a "Catacumba Sta. Priscila", lugar de resistência e celebrações, onde muitas vidas foram ceifadas e semeadas no sangue dos Mártires das primeiras horas da Igreja. Aqui se firmou o "Pacto das Catacumbas" (depois o Concilio Vaticano II) e Igreja abriu Caminho da "opção preferencial pelos Pobres". 

Nesses dias privilegiados em Roma, passamos da multidão deste povo reunido na Praça S. Pedro, para as ruinas do Império romano, onde muitas sementes de mártires foram jogadas na terra. Séculos passaram, trevas e luzes, muitas histórias, belezas das Artes para dar Gloria a Deus em outros tempos, com gloria e poder! Mas hoje, desejo, com o Ir. Carlos, de reencontrar e seguir o caminho de Jesus. Passamos assim dias privilegiados perto da "Igreja Matriz", Igreja de Roma, para tempo de discernimento, conflitos internos e interrogações para acertar hoje novo caminho!  Sentimos sensibilidades eclesiais diferentes, tentações de voltar para Igreja as cores do Império. Clero revestido de honra e poder!

A herança e o chamado do Ir. Carlos são agora "marca registrada", novo caminho aberto para seguir Jesus e trilhar o Caminho de Nazare. Leigos batizados, padres, homens e mulheres...todos juntos no mesmo embalo sinodal para abrir novos caminhos de Igreja com os pobres e para os pobres, sem fronteiras.

Ir. Carlos a unir nossas vozes para "gritar o Evangelho com toda a nossa vida", cada um com seu sotaque, sua cultura.

Ir. Carlos: "Santo", ele é! Sigamos juntos com gratidão, confiança e Esperança! 

"Indo e vindo, trevas e luzes, tudo é Graça, Deus nos conduz"!

 

As riquezas de uma experiência única

Pe. Willians

 

Nossa viagem para a canonização do Irmão Carlos se iniciou desde o dia do anúncio de sua canonização. No meio desse processo, a pandemia fez a viagem ficar longa, pois houve uma espera de dois anos para que ocorresse a celebração. Chegando lá, em Roma, aos 12 de maio, foi uma experiência muito rica, onde iniciamos a vivência em fraternidade, com os demais irmãos e irmãs do Brasil e do mundo, que fizeram a mesma peregrinação.

A primeira riqueza, para mim, foi participar desse momento histórico. A canonização do irmão Carlos encheu de alegria toda a nossa família espiritual. Lá pudemos participar de encontros com o postulador, de uma vigília eucarística e da missa de ação de graças, além da missa de canonização. Pessoas de todas as línguas e nações puderam se reunir por uma mesma alegria.

A segunda riqueza foi a peregrinação que nosso grupo brasileiro fez a icônica cidade de Assis. Lá, tivemos experiência com o ambiente vital do santo de Assis que inspira profundamente as pessoas que, após o segundo milênio, esforçam-se para seguir fiéis ao evangelho de Jesus. Além de Francisco, pudemos conhecer Clara e sua vida no mosteiro em que fundou.

A terceira riqueza foi estar mais próximos ao nosso amado Papa Francisco, que tem sido uma grande inspiração de pessoa que ama a Jesus, conduzindo o mundo a pensar e viver a sua palavra. Ouvir sua homilia e fazer-nos próximos a ele foi algo que enriquece a nossa vida cristã e a nossa opção pelos pobres, por amor a Jesus.

Tudo isso, soma-se a alegria de estar próximo ao papa e em Assis, pela primeira vez.

Não era um sonho de maior grandeza conhecer a cidade de Roma, mas a experiência superou a expectativa.

Por fim, senti a alegria de participar de um momento fraterno e feliz, enfim, histórico.

 

Inspiração rica e pertinente na experiência espiritual do irmão Carlos

Diac. José Gomes

 

A diversidade da família espiritual de Charles de Foucauld é impressionante. Nela encontramos todos os diferentes estados de vida cristã: fiéis leigos e leigas, religiosos e religiosas de vida ativa ou contemplativa, leigos(as) consagrados(as), diáconos, presbíteros e bispos e isso vimos e presenciamos durante o período que ficamos em Roma participando dos momentos celebrativos, conferências e vivência fraterna com todos e especialmente com o nosso grupo da Fraternidade Sacerdotal JESUS CARITAS.

Todos nós conseguimos obter uma inspiração rica e pertinente na experiência espiritual do irmão Carlos que passou por todos os estágios da vida cristã: um fiel leigo que perdeu e recuperou a fé, um monge contemplativo e eremita, um sacerdote “livre” ao mesmo tempo, diocesano e “religioso”, e à sua maneira, um missionário extraordinário.

Gratidão a Deus por nós proporcionar esse tempo tão importante para nós que vivemos a espiritualidade do irmão Charles de Foucauld procurando ser irmão universal gritando o Evangelho com a Vida, a alegria de conhecermos a Casa Geral da Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, momentos de oração na Capela e a satisfação de rever a Irz. Dorinha (Responsável Geral), a atenção e acolhida de Neid com as demais Irmãzinhas, também o agradecimento por tudo a Dom Eugênio Rixen, ao Pe Carlos Roberto (Responsável Nacional), a Irmã Maria Rita da Congregação das Irmãs de Caridade Santa Giovanna que nos acolheu na Casa Geral em Roma, enfim aos componentes e a componente (Magda Melo) do nosso grupo tão amado e fraterno.

Que São Charles de Foucauld, interceda por nós na vida e na missão.

Fraternalmente, o irmão menor!

 

Nessa partilha está um resumo de tudo que vivi

Neid Duarte

 

Com essa partilha está um resumo de tudo que vivi nessa oportunidade que a fraternidade me deu de ir à canonização do Irmão Carlos. Eu ainda estou emocionada com tudo que vivi e para dizer a verdade fiquei muito impressionada com o carinho e acolhida que tive lá. Cada uma mais carinhosa e todas reconhecendo minha caminhada com as irmãzinhas.

Fiquei cinco dias de quarentena, com outras irmãzinhas que foram chegando do Líbano, Iraque, Coreia, Congo, Palestina. As refeições fazíamos juntas e com isso fomos nos conhecendo e partilhando a caminhada, com momentos muito agradáveis. Depois fui para a outra fraternidade. E comecei a participar da vida de Tre Fontaine, e pedi um serviço que eu pudesse ajudar no grande movimento, então fiquei ajudando na roupa lavada, passar, dobrar etc.   e as vezes colocar a mesa paras o almoço.

Participei de todas as celebrações, ofício, missa, e fazia adoração todos os dias, essa capela convida né? A primeira semana era a organização da Canonização e muito movimento, mas as irmãzinhas em equipe organizaram tudo com muita competência, impressionante, e foi tudo dando certo. Eu saia todos os dias ali por perto para fazer caminhada e fui descobrindo muitos lugares apropriados. E fazia bem ir conhecendo tantos lugares bonitos.

Na semana de preparação outros pequenos serviços foram aparecendo como cuidado dos jardins e lugares de acolhida.

Fizemos várias reuniões para ir organizando o grande dia.

Tivemos também a oportunidade de fazer um pequeno curso sobre o Irmão Carlos feito por uma irmãzinha, ela pegou aspectos bem diferentes da sua vida, foi bem legal. Foram três tardes com mais de uma hora cada vez.

Fui encontrando muitas conhecidas, do Ano Comum e outras que a gente tinha se conhecido.

Levei várias fotos das irmãzinhas e com elas fui dando notícias de cada uma e situando onde estão, todas gostaram muito e me pediram para deixar essas fotos com o conselho geral.

Na semana toda teve muitas visitas, que eram bem organizadas, tinha irmãzinha lá na Trapa recebendo e muito grupos do mundo inteiro passando pelo museu, capela do Sagrado Coração, na grande capela e na venda de artesanato e no túmulo da irmãzinha Madalena, Na quinta-feira foi o grupo do Brasil, umas doze pessoas e eu fiquei acompanhando com Dorinha e outras irmãzinhas. A tarde teve a celebração com o Cálice do Irmão Carlos, o Dom Edson Damian e Dom Eugenio concelebraram com o sobrinho do Irmão Carlos. Muita emoção.

Na sexta feira a adoração foi com o ostensório do Irmão Carlos E sempre muito grupos que passaram e a capela sempre cheia de irmãzinhas e gente que ficava para a adoração.

Na véspera da ordenação fomos ver um espetáculo, era um teatro monologo de um artista que fez a história do irmão Carlos, como se fosse ele.

No dia da canonização saímos de Tre Fontaine às 5h da manhã, tinha ônibus para levar-nos. Lá na Praça de São Pedro foi mais difícil porque só abriram as 8h e a multidão aumentava e ia comprimindo a gente, foi um sufoco quando abriram os portões, mas com a agilidade de algumas irmãzinhas, conseguimos sentar e quase todas juntas.

Nós recebemos antes de ir uma sacola de pano com a logo da canonização, o ingresso, o livro da celebração, lanche e água. A cerimônia foi bonita, como eram 10 santos canonizados, não se falou muito do irmão Carlos.

À noite saímos ainda para um “Oratório” em Italiano, um grupo preparou com muito carinho, era um musical. Eles faziam várias pessoas da vida do Irmão Carlos cantando, com muita poesia e profundidade. Foi emocionante.

No dia seguinte foi a grande celebração de Ação de Graças na Igreja de São João de Latrão que as irmãzinhas prepararam, foi uma linda celebração, o ofertório foi com as irmãzinhas, maioria africanas dançando, foi lindíssimo.

Fui um dia em Assis, sozinha, e passei um dia caminhando nas ruas, visitando igrejas e rezando.

Uma irmãzinha que trabalha no arquivo de fotos no computador me pediu para ajudá-la a organizar as fotos do Brasil, com o nome de cada uma e das fraternidades, foram várias manhãs de trabalho e algumas tardes também. Ela ficou aliviada de ver tudo com os nomes e locais.

Fui convidada para um passeio em Roma, com ônibus de turismo que passa pelos principais pontos turísticos, comemos pizza na praça e passamos na Igreja do Perpetuo Socorro onde o Ir. Carlos rezava. E em outros pontos lugares.

No último dia me emocionei demais, fizeram um grande encontro no refeitório da comunidade onde estava. Na hora de minha saída fizeram uma despedida com lenços coloridos.

  

Alegria e emoção indescritiveis

Magda Melo

 

Alegria e emoção indescritíveis, momento de profundidade, oportunidade de estar pertinho do querido papa Francisco para participar da canonização do irmão universal Charles de Foucauld. Em companhia de bispos, presbíteros, na casa das irmãs de Caridade Santa Giovanna em Roma, bem próximo do Vaticano, foi um tempo inenarrável.

Tive a oportunidade de chegar um pouquinho antes, e nesse periodo ficar hospedada na casa das irmãs que acolhiam ulcranianos deficientes surdos e mudos, visitar a casa dentro dos muros do vaticano onde o pessoal de rua são acolhidos, dar entrevista na radio vaticano, e ganhar um convite muito especial, proporcionando-me participar da canonização bem próxima ao papa, e, ainda, nesse periodo anterior a chegada dos membros da fraternidade, estar com pessoas italianas em Veneza e região, visitar lugares bonitos, misticos, históricos.

Próximo ao dia da canonização participamos da programação sobre o irmao Carlos de Foucauld, visitamos alguns lugares, entre eles, visitamos as irmãzinhas de Jesus em Tre Fontane, onde tivemos acolhimento caloroso, carinho e muito resgate da vida do irmão Carlos, visitamos ainda, onde está sepultada Irmãzinha Madalena e outros espaços em Tre Fontane. Visitamos a catacumba Santa Domitila, assistimos na igreja Sant’ Andrea Dela Valle a um teatro de Francesco Agnello falando sobre toda a vida de Carlos de Foucauld, e junto com ele somente o artista que o acompanhava tocando um instrumento musical.

Foi emocionante a canonização de Charles de Foucauld, na praça de São Pedro, diante de uma multidão que vieram para as canonizações de dez beatos, papa Francisco entrou em uma cadeira de rodas para a celebração, apesar da dor, realizou uma belíssima celebração, uma homilia profunda e ao final passou com seu papa móvel por toda a multidão que se encontrava na praça.

Ao termino da celebração, na praça São Pedro, pude admirar a belíssima escultura que se encontra no pátio do vaticano, o monumento aos migrantes. Muito expressivo.

Ainda em Roma, participamos da celebração de Ação de Graças pela canonização de Charles de Foucauld na Basílica São João de Latrão, viajamos para Assis e visitamos os túmulos de São Francisco, de Santa Clara e do Beato Carlo Acutis, padroeiro da internet.

Gratidão Deus pela grande oportunidade de participar desse momento ímpar, oportunidade única, especial, lembranças inesquecíveis e fortalecimento na espiritualidade de nosso irmão universal.

São Carlos de Foucauld, rogai por nós.


13 de novembro, beatificação de Charles de Foucauld- ANIVERSÁRIO

Escrita de forma esplêndida a biografia do bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), por Pierre Sourisseau, arquivista da causa da canonização por mais de trinta anos, é uma obra magistral. O estudo da correspondência e da bibliografia dá acesso à busca do irmão Charles pela chamada de Jesus por fidelidade à Igreja, inovando, por exemplo, uma figura de "sacerdote livre", ligada às circunstâncias e para os lugares cruzados. A imitação de um modelo, exposto a um rigor excessivo, dissuasivo e, no entanto, tão desejado por muitos companheiros, rapidamente detectado por seu pai espiritual, o sábio padre Henri Huvelin, abre caminho para uma identificação mais convincente com Nosso Senhor Jesus Cristo. Além das representações que poderiam impedi-lo, o martírio esperado selou a união total com a pessoa de Cristo. A rota é confusa. São preenchidas lacunas nas informações, desde as árvores genealógicas da família até os detalhes do assassinato final, através dos anos de juventude e maturidade, através do exame minucioso de fontes acessíveis. A serenidade do trabalho, despida de qualquer controvérsia fora do lugar, faz desta biografia um excelente livro de história e espiritualidade. No final de cada etapa, os "retratos" facilitam a entrada gradual do leitor neste sempre presente testemunho de fé, esperança e amor. Tudo se resume em “Jesus Cáritas”.

Pierre Sourisseau, é um dos melhores conhecedores do homem que foi oficial do exército francês, explorador em Marrocos, agnóstico, monge trapista, padre, missionário e eremita no deserto do Saara. Sourisseau arquivista da sua causa de beatificação, tem 35 anos ativos de trabalhos de pesquisa, de artigos e de conferências sobre Foucauld. 

Para enriquecer o livro, o prefácio do padre Bernard Ardura, postulador da causa de canonização do Beato Charles de Foucauld, cujo espírito - como observa Pierre Sourisseau na conclusão da biografia - depois de sua morte, "rapidamente tornou-se um bem comum da Igreja" e "o seu carisma se manifesta sob muitas formas nos compromissos de homens e mulheres" do nosso tempo. O padre francês Bernard Ardura é presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas.

Pierre Sourisseau, nasceu em 1939 em Saint-Paul-en-Pareds, uma comunidade nas proximidades de Croix-Bara. Exceto pelo período em que esteve no exército, Sourisseau viveu na região de Vendée, trabalhando até seu retiro em 1999 como pedreiro. Aos vinte anos, em 1959, ele foi recrutado no exército por 28 meses. Ele foi enviado para a Argélia, onde a guerra franco-argelina (1954-1962) ocorreu. Nos anos posteriores, ele costumava dizer que estava feliz por nunca ter matado ninguém. No entanto, este período o impressionou muito, o que é expresso em seu trabalho artístico. Já jovem, Sourisseau tinha o desejo de fazer arte visual e, em 1975, como artista autodidata, começou a fazer pinturas e esculturas, uma atividade que continuaria pelo resto da vida, resultando em um grande número de criações.

No dia 1º de dezembro de 1916, morria Charles de Foucauld, assassinado aos 58 anos de idade por um grupo armado da tribo dos Senussi, que tinha cercado o seu eremitério de Tamanrasset no Saara argelino. Se a notícia da sua morte não teve uma grande repercussão na Europa dilacerada pela Primeira Guerra Mundial, o religioso passaria aos olhos da história como um dos mais importantes da sua geração, na virada de dois séculos.

A primeira biografia escrita pelo renomado escritor francês René Bazin em 1923 consagrou a sua posteridade espiritual, tornando conhecida na França e, depois, no mundo a sua personalidade fora do comum e a sua obra prolífica, que suscitaram tantas vocações.

Beatificação

Em 13 de novembro de 2005, Charles de Foucauld foi beatificado na Basílica de São Pedro, em Roma. Ele agora é homenageado com o título de “Bem-aventurado”.

Aqui está um trecho de magnífica expressão teológica do Papa Bento XVI na beatificação do Irmão Universal:

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

“Vamos dar graças ao testemunho dado por Charles de Foucauld. Em sua vida contemplativa e escondida em Nazaré, ele descobriu a verdade sobre a humanidade de Jesus e convida-nos a contemplar o mistério da Encarnação; neste lugar, ele aprendeu muito sobre o Senhor, a quem ele queria seguir com humildade e pobreza. Ele descobriu que Jesus, que veio para se juntar a nós na nossa humanidade, nos convida a fraternidade universal, que ele posteriormente viveu no deserto do Saara, e ao amor, do qual Cristo nos deu o exemplo. Como sacerdote, ele colocou a Eucaristia e o Evangelho no coração de sua vida, as duas mesas da Palavra e do Pão, fonte da vida cristã e da missão”.

Meditar abissalmente

Quando Charles de Foucauld elabora os estatutos de sua congregação, da qual há anos trazia o projeto no coração, ele resume em poucas e belas palavras um ideal missionário, que parte de uma convicção: “todo batizado é convidado a viver como Jesus”. “Em todas as coisas, perguntarmo-nos o que Jesus faria no nosso lugar, e fazê-lo”. Daí de forma evangelical afirma: “gritar o Evangelho sobre os telhados com toda a nossa vida”.

Pelo menos duas dezenas de institutos e fraternidades de religiosos, padres e leigos, criados, na maior parte dos casos, após a sua morte e interpretando, cada qual segundo a sua sensibilidade, o legado de Charles de Foucauld, continuam a manter viva a espiritualidade daquele que o célebre teólogo dominicano francês Yves Congar um dia chamou de “farol místico” para o século XX, junto com Santa Teresinha do Menino Jesus.

Inácio José do Vale, FCF

Sociólogo em Ciência da Religião

Professor de Pós-Graduação na Faculdade Norte do Paraná

Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas-Bem-aventurado Charles de Foucauld

 

Fontes:

https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=fr&u=https://www.revue-etudes.com/article/charles-de-foucauld-de-pierre-sourisseau-18884&prev=search

http://www.thejosephhouse.org/defoucauld/biography.htm 


BEM-AVENTURADO CHARLES DE FOUCAULD

Bem-aventurado Charles de Foucauld, Irmão Carlos de Jesus ou Irmão Universal, com forte inquietação na busca do Absoluto encontra a fonte da Luz e faz da sua ação evangélica ao nível mundial.

Foi oficial militar francês e explorador em Marrocos e sem hesitar em sua intemperança dilapidou sua fortuna com leviandade chegando à dor da desesperança e da descrença.

Foi monge trapista, padre, missionário e no deserto do Saara um santo eremita. Gritar com a própria vida o evangelho de Cristo, esse é o seu viver e seu carisma que devemos fazer. Nazaré é sua espiritualidade de cuja mística é de uma abissal fé em Jesus Cáritas, temos um manancial de solidariedade e unidade.

Seu projeto é fraternidade, caridade com todos e todas as religiões sem fronteiras de regiões e sem exclusão, e sim unidas no amor e na dignidade da pessoa humana, porque sua experiência de conversão começou na observação da prática muçulmana.

Sua vida estava fundamentada em duas mesas: da Palavra e da Eucaristia, essas eram a sua motivação em prol da sua jornada e profunda alegria. Esse santo alimento era causa do seu avivamento que o fortalecia na adoração do Santíssimo Sacramento.

Buscando o último lugar sem soberba e vaidade para uma vida salutar com Deus no seu altar. Deixou um legado como todos os heróis desbravadores, de sua família espiritual têm seguidores no mundo inteiro. Ele nos presenteou com a “Oração de Abandono” para rezar ao Pai com todo amor do coração. 

Inácio José do Vale, FCF


 Papa Francisco reconhece milagre atribuído à intercessão do Beato Charles de Foucauld

Em 26 de maio de 2020, o Papa Francisco recebeu em audiência o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Becciu, ocasião em que autorizou a mesma Congregação a promulgar o Decreto relativo: “Ao milagre atribuído à intercessão do Beato Charles de Foucauld; sacerdote diocesano francês” (1). 

A vida do Bem-aventurado Charles de Foucauld cativou e atraiu gerações após gerações e continua de forma incrível atraindo maior número de discípulos no mundo inteiro!


De tal maneira que aquilo que não obteve em vida se realizou após o seu nascimento para o Céu. Ao longo dos anos, mais de vinte famílias de leigos, sacerdotes, religiosos e religiosas brotaram da sua espiritualidade e da sua maneira de viver o Evangelho (entre as maiores, as Fraternidades dos Irmãozinhos e Irmãzinhas de Jesus). “Um homem que deu um testemunho que fez bem à Igreja”, afirmou o Papa Francisco na missa a que presidiu a 1 de dezembro de 2016, centenário da morte. E o Papa Bento XVI, no momento da beatificação, a 13 de novembro de 2005, declarou que a sua vida é “um convite a aspirar à fraternidade universal”.

O maior marco de sua vida foi a profunda experiência de conversão, que o transformou num dos maiores buscadores de Deus. Ele, grande explorador inclusive do ponto de vista geográfico, dedicou na prática o resto dos seus anos a explorar o imenso território da relação entre o Absoluto e as criaturas. Disse: “Logo que descobri que existe Deus entendi que não podia mais fazer outra coisa a não ser viver por ele: minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou a minha fé”.

A jornada

Nascido em Estrasburgo (França), no dia 15 de setembro de 1858 de uma família nobre, e ele próprio detentor do título de visconde de Pontbriand, passa a primeira infância em Wissembourg, mas perde os pais aos seis anos, passando a ser educado pelo avô materno, o coronel Beaudet de Morlet, que lhe deixa uma grande herança. O jovem Charles de Foucauld em 1876 entra na Escola Militar de Saint Cyr e torna-se oficial. Deixa o exército para se dedicar a expedições geográficas em Marrocos, e dedica-se a estudar árabe e hebraico. Distingue-se como explorador, de tal maneira que em 1885 recebe a medalha de ouro da Sociedade Francesa de Geografia. Em 1890 entra no Mosteiro Trapista, na França, mas depressa pede para retirar-se para uma trapa muito mais pobre, na Síria. Remonta a este período um primeiro projeto de congregação religiosa.

Com 32 anos, Charles de Foucauld sente a necessidade de ser dispensado dos votos, e alguns anos depois o pedido é deferido. Em 1897, a abade-geral dos Trapistas deixa-o livre para seguir a sua vocação. Fica durante algum tempo na Terra Santa. Regressado a França, é ordenado padre em 1901. No mesmo ano transfere-se para África, e estabelece-se num oásis do deserto do Saara profundo. Reveste uma túnica branca, na qual coze um coração de tecido vermelho, sobreposto por uma cruz. Hospeda todos aqueles que passam por ele, cristãos, muçulmanos, judeus, pagãos, e durante 13 anos vive na vila tuaregue de Tamanrasset. Reza onze horas por dia, mergulha no mistério da Eucaristia, redige um grande dicionário de francês-tuaregue, ainda hoje usado naquela região. Sua missão é ajudar a todos. 

Em 1909, fundou a União de Irmãos e Irmãs do Sagrado Coração com a missão de evangelizar as colônias francesas na África. Os povos berberes, maioria no noroeste da África, reconheceram que a missão de Charles de Foucauld gerava sentimentos amigáveis ​​em relação aos franceses. 

Charles de Foucauld foi assassinado por assaltantes de passagem, na porta de seu eremitério, em 1 de dezembro de 1916, em Tamanrasset, Argélia francesa, estava com 58 anos de idade. Logo foi considerado um mártir e, nos anos seguintes, sua memória passou a ser venerada. Ao mesmo tempo, sua biografia do famoso escritor francês René Bazin (1853-1932), publicada em 1921, tornou-se um best-seller.

Destaco aqui três práticas na vida de Foucauld que são modelos para os verdadeiros seguidores de Jesus de Nazaré

Missão

"Minha missão deve ser o apostolado da bondade. A meu ver, deverão dizer 'Já que este homem é tão bom, também sua religião deve ser boa'. Se alguém me perguntar por que eu sou manso e bom, deverei responder: 'Porque eu sou servidor de um outro que é muito melhor do que eu. Se soubesse como é bom o meu Mestre Jesus!'. Quero ser tão bom que possam dizer de mim: 'Se o servidor é assim, como não será o Mestre!'"

O último lugar

"Não quero passar minha vida em primeira classe, enquanto Aquele que me ama a passou na última".

Tenho para mim procurar o último dos últimos lugares, para ser tão pequeno como o meu Mestre, para estar com Ele, para caminhar atrás dEle, passo a passo, como servo leal, discípulo fiel, porque na sua bondade infinita e incompreensível Ele me permite falar assim, em irmão leal, em esposo fiel. Por isso a minha vida deve ser concebida de modo a ser o último, o mais desprezado dos homens, a fim de passá-la com o meu Mestre, o meu Senhor, o meu Irmão, o meu Esposo, que foi 'desprezo do povo e opróbrio da terra, um verme e não um homem'. Viver pobre, desprezado, no sofrimento, na solidão, esquecido, para estar na vida com o meu Mestre, o meu Irmão, o meu Esposo, o meu Deus, Ele que assim viveu toda a sua vida, dando-me este exemplo desde o seu nascimento.

Seguir Jesus

Seguir Jesus é imitar Jesus em tudo, partilhar a sua vida como o faziam a Santíssima Virgem, São José, os apóstolos, isto é, por um lado, conformar como eles a nossa alma à dEle, convertendo o mais possível a nossa alma à sua alma infinitamente perfeita; por outro lado, conformar como eles a nossa vida exterior à dEle, partilhando como eles fizeram, a sua pobreza, a sua humilhação, os seus trabalhos, os seus cansaços, enfim tudo o que foi a parte visível de sua vida... Na dúvida de fazer ou não alguma coisa, perguntar-se o que teria feito Jesus em nosso lugar e fazê-lo. Não imitar tal ou tal santo, mais só a Jesus.

Disse o erudito Bento XVI que “nós podemos resumir a nossa fé nas seguintes palavras: Jesus Caridade, Jesus Amor” (Angelus, 25 de Setembro de 2005), que são as mesmas palavras que Charles de Foucauld escolheu como mote para exprimir a sua espiritualidade. 

Para Charles de Foucauld imitar Jesus de Nazaré só na abissalidade do amor e da caridade!

A experiência profunda de Charles de Foucauld como monge, padre, missionário e eremita é de um rio de água cristalina que tem em sua correnteza um único fim: “O Paraíso com Deus”. 

Inácio José do Vale, FCF

Sociólogo em Ciência da Religião

Professor de Psicologia e Cultura Religiosa no

Centro Educacional Católico Reis Magos

Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas-Charles de Foucauld


Nota:


(1) https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-05/papa-francisco-decretos-milagres-martirio-charles-foucauld.html


OUTRO TEXTO, DO "NOTÍCIAS DO  VATICANO "

Com Charles de Foucauld, Papa canonizará estilo de vida cristã da Igreja do Magreb, diz cardeal


"O Irmão Charles, que para traduzir os Evangelhos aprendeu a língua dos Tuaregues, compondo um léxico e uma gramática nesse idioma, não exorta porventura as pessoas que se inspiram no seu carisma a entrar em diálogo com as culturas dos homens de hoje e a percorrer o caminho do encontro com as outras tradições religiosas, em particular com o Islão? Assim, as diferentes comunidades religiosas serão verdadeiramente "como comunidades comprometidas num diálogo de respeito, e nunca mais como comunidades em conflito" (Discurso de São João Paulo II na Mesquita Omeyade, em Damasco, na Síria, a 6 de maio de 2001).


Vatican News

A decisão do Papa Francisco de canonizar Charles de Foucauld, canoniza por assim dizer o estilo de vida cristã da Igreja do Magrebe, cujo carisma tem suas raízes no norte da África. Esta é a leitura do cardeal Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat, Marrocos, ao comentar o anúncio nesta semana do reconhecimento por parte do Papa Francisco de um milagre atribuído à intercessão do religioso francês falecido na Argélia em 1916.

"É um grande estímulo para nossa ação pastoral - escreve o purpurado em uma carta aos fiéis - é a consagração de uma espiritualidade que apoiamos e promovemos".

O cardeal López Romero recorda que na escola de Charles de Foucauld formaram-se padre Charles-André Poissonnier e padre Albert Peyriguère, que deixaram uma forte marca na Diocese de Rabat, fortalecendo aquela que o próprio cardeal chama de "espiritualidade e tradição franciscano-foucauldiana".


VEJA TAMBÉM O HISTÓRICO DO PROCESSO DE CANONIZAÇÃO DE CHARLES DE FOUCAULD, PUBLICADO NA UNISINOS: 

http://www.ihu.unisinos.br/599472-como-foi-o-caminho-de-charles-de-foucauld-aos-altares 


Notícia sobre a canonização

Charles de Foucauld, "um Santo do nosso tempo"

Charles de Foucauld: presença de encontro com todos  (.Inácio Vale)

PREPARANDO A CANONIZAÇÃO DO IRMÃO CARLOS

TEXTO 1: A CANONIZAÇÃO DO IRMÃO CARLOS E NOSSA OPÇÃO PELOS POBRES

TEXTO 2: Biografia. Preparação à canonização do irmão Carlos

PRINCIPAIS ASPECTOS BIOGRÁFICOS DE CARLOS DE FOUCAULD

     Pe. Nabons-Wendé Honoré SAVADOGO, Burkina Faso

ATUALIDADE DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD

TEXTO 3. FUNDAMENTOS DE UMA ESPIRITUALIDADE INSPIRADA PELO IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD

Pe. Nabons-Wendé Honoré SAVADOGO, Burkina

Texto 4. Nosso modo de evangelizar

Fernando Tapia, Chile

Texto 5. O diálogo no intinerário espiritual do irmão Carlos. Jean-François BERJONNEAU

Notícia sobre a canonização


Charles de Foucauld será santo em 15 de maio

Marcada a data para a cerimônia de canonização do sacerdote francês e de outros seis beatos, decretada pelo Papa na primavera passada e adiada por causa da pandemia.



Paolo Ondarza – Vatican News


O rito de canonização de Charles de Foucauld e outros seis beatos será celebrado em 15 de maio de 2022. Isto foi decidido pelo Papa Francisco que, no Consistório público ordinário de 3 de maio de 2021, havia decretado as canonizações sem, no entanto, fixar uma data por causa da pandemia. A Congregação para as Causas dos Santos anunciou a decisão em um comunicado divulgado nesta terça-feira.

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Sete testemunhas do Evangelho


Duas mulheres e cinco homens serão elevados à veneração universal da Igreja. Além do sacerdote diocesano francês, que desejava ser um "irmão universal" para todos e que plantou as sementes da Palavra divina no coração do Saara até seu assassinato em 1916, Maria Domenica Mantovani será proclamada santa, cofundadora e primeira Superiora Geral do Instituto das Irmãzinhas da Sagrada Família, que se dedicou inteiramente ao serviço dos pobres, órfãos e doentes, e Maria Francisca de Jesus, fundadora das Irmãs Terciárias Capuchinhas de Loano, incansável em sua proximidade com os últimos, da Itália à América Latina.


Também serão canonizados os sacerdotes Giustino Maria Russolillo, fundador da Sociedade das Divinas Vocações e da Congregação das Irmãs das Divinas Vocações, dedicada à pastoral vocacional e familiar; Luigi Maria Palazzolo, fundador do Instituto das Irmãs dos Pobres - Instituto Palazzolo, ativo entre os jovens na educação e formação religiosa; e César de Bus, sacerdote, fundador da Congregação dos Padres da Doutrina Cristã, um modelo para todos os catequistas. Enfim, Lázaro, conhecido como Devasahayam, será proclamado santo. Ele é o primeiro leigo indiano a se tornar santo, tendo-se convertido ao cristianismo em idade adulta e, por esta razão, perseguido até o martírio.

Martírio e caridade


Cada um dos novos santos contribuiu para levar a luz do Evangelho ao mundo: através do testemunho heróico do martírio ou no exercício da caridade e das virtudes cristãs. "Os santos e as santas, tinha escrito o Papa Francisco em um tweet no dia 3 de maio passado, "nos mostram que se pode louvar a Deus sempre, nos bons e nos maus momentos, porque Ele é o amigo fiel, e Seu amor nunca falta".


Charles de Foucauld, o “irmão universal” que imitou Jesus



Após o anúncio da data de canonização de Charles de Foucauld, feito na terça-feira, 9 de novembro, o postulador da sua causa de canonização, padre Bernard Ardura, lembra que o sacerdote francês "quis imitar Cristo, quis reproduzir as virtudes de Jesus em sua própria vida


Marine Henriot e Amedeo Lomonaco – Vatican News


A notícia foi divulgada na terça-feira, 9 de novembro, pela Congregação das Causas dos Santos com um comunicado: a cerimônia de canonização do sacerdote francês Charles de Foucauld e outros seis beatos será realizada no dia 15 de maio. É uma grande alegria, ressalta o presidente do Pontifício Comitê de Ciências Históricas e postulador de sua causa de canonização, padre Bernard Ardura. É uma alegria, acrescenta ele, "para sua família espiritual, para a Igreja no Norte da África".


A notícia foi dada com a data da canonização


Padre Ardura: "Lembro-me que durante as felicitações à Cúria Romana no último Natal eu disse ao Papa Francisco: esperamos por esta canonização. E ele me respondeu imediatamente: certamente, quero fazê-la, mas é preciso esperar. Agora temos esta grande alegria. Uma alegria para a família espiritual de Charles de Foucauld. Uma alegria para a Igreja no Norte da África. Isto é importante porque esta Igreja é constituída por pequenas comunidades formadas por estrangeiros que vivem na Argélia, Marrocos, Tunísia e Líbia. Para eles, é muito importante que Charles de Foucauld se torne um sinal universal. Estas Igrejas não estão sozinhas, não estão isoladas, mas pertencem à Igreja católica. E creio que isto é muito importante para a consciência, para a consciência que estas Igrejas têm de si mesmas como parte integrante da Igreja católica."


Qual é o ensinamento de Charles de Foucauld?


Padre Ardura: "Charles de Foucauld, quando se converteu, entendeu uma coisa: minha vida deve ser inteiramente dedicada a Cristo. Foi isto que ele quis viver até o final de sua vida. Charles de Foucauld quis imitar Jesus, quis reproduzir em sua própria existência a vida de Jesus, as virtudes de Jesus. Ele fez isso, no início, indo viver na Terra Santa, para viver na terra frequentada por Jesus e pelos apóstolos. Depois, pouco a pouco, sua fé se purificou, amadureceu: entendeu que o ambiente geográfico não era essencial. Ele entendeu que tinha que viver a vida de Jesus todos os dias. E viver esta comunhão com Jesus interiormente. Por esse motivo ele foi para o Saara, onde viveu entre soldados franceses, todos batizados, mas não crentes, e entre muçulmanos. Neste contexto, ele quis ser outro Cristo. Ele foi para eles um sinal de um amor universal. E por esta razão podia dizer com razão: eu sou o irmão universal."


Uma testemunha do Evangelho



Antes de se tornar "Irmão Charles de Jesus", o jovem Charles, nascido em Estrasburgo em 15 de setembro de 1858, empreendeu a carreira militar. Na adolescência, deixou de lado sua fé, mas durante uma perigosa exploração no Marrocos, uma pergunta surgiu nele: "Deus existe? "Meu Deus, se existis, fazei que eu vos conheça" foi o pedido dele, que já assumia os traços daquela oração incessante que caracterizaria toda a sua vida. De volta à França, De Foucauld se colocou em uma busca e pediu a um sacerdote que o instruísse. Depois ele foi em peregrinação à Terra Santa. Nos lugares da vida de Cristo, ele encontrou sua vocação: consagrar-se totalmente a Deus, imitando Jesus em uma vida escondida e silenciosa. 


Ordenado sacerdote aos 43 anos de idade (1901), Charles De Foucauld foi para o deserto argelino do Saara, primeiro para Beni Abbès, pobre entre os mais pobres, depois mais ao sul para Tamanrasset com os Tuareg do Hoggar. Ele viveu uma vida de oração, meditando continuamente a Sagrada Escritura, no desejo incessante de ser um "irmão universal" para cada pessoa. Ele morreu aos 58 anos de idade na noite de 1º de dezembro de 1916, assassinado por um grupo de saqueadores de passagem. Bento XVI o beatificou em 2005.


Charles de Foucauld inspira caminho da Igreja no norte da África. Canonização será em maio

A canonização de Charles de Foucauld em 15 de maio inspirou os trabalhos dos Bispos da Região da África do Norte, reunidos em Argel para sua Assembleia. Pandemia e caminho sinodal também estiveram na pauta do encontro, cujos participantes subiram ao Mosteiro de Tibhirine, onde viviam os sete monges trapistas sequestrados e mortos em 1996, e proclamados Beatos em 8 de dezembro de 2018, junto com outros 12 mártires católicos mortos na Argélia entre 1994 e 1996.

"Para a nossa Igreja no norte da África, a canonização de Charles de Foucauld em breve é uma oportunidade para alegrar-nos e para aprofundar ainda mais suas intuições". Assim escrevem os membros da Conferência dos Bispos da Região da África do Norte (CERNA) na mensagem final de sua Assembleia anual, realizada em Argel, de 12 a 15 de fevereiro.

Os bispos católicos participantes do encontro também sugerem algumas das "intuições" do monge a ser proclamado Santo em 15 de maio, que devem ser seguidas e aprofundadas no contexto particular dos países do Norte de África indicando, em particular, a "a recíproca emulação na fé no contato com outros crentes, o interesse pela cultura do outro, desejo de fraternidade universal".

Na sexta-feira, 11 de fevereiro, todos os membros do CERNA reunidos na capital argelina também participaram da cerimônia de posse do novo arcebispo de Argel, Jean-Paul Vesco. No dia seguinte, os prelados presentes na Assembleia (não estavam os membros da Líbia e El Aaiún, que participaram por videoconferência) subiram ao Mosteiro de Tibhirine, onde viviam os sete monges trapistas sequestrados e mortos em 1996, proclamados Beatos em 8 de dezembro de 2018, junto com outros 12 mártires católicos mortos na Argélia entre 1994 e 1996.

"Naquele lugar de oração, de entrega e memória - lê-se no comunicado final da Assembleia - confiamos ao Senhor as alegrias, as tensões e os sofrimentos de nossas populações e dos nossos países. Pensamos em particular na Líbia, onde a igreja de Sebha foi destruída na manhã de domingo, 23 de fevereiro, por milicianos, e onde Trípoli está novamente em situação de alta tensão há alguns dias. Mas pensamos em todas as dificuldades provocadas, em um lugar pela guerra, em outro lugar pela situação política e econômica, e em todos os lugares pela pandemia”.

Precisamente por causa da Covid-19, os bispos membros do CERNA não haviam se encontrado presencialmente em um mesmo local desde setembro de 2019. Durante este tempo - escrevem no comunicado final, fazendo um balanço dos anos difíceis da pandemia - "algumas de nossas comunidades tiveram mortes; todos sofreram com o isolamento devido às medidas de confinamento (movimentos limitados, suspensão de muitas atividades, locais de culto fechados ....). Mas este período difícil também foi uma oportunidade para medir o quão estamos ligados uns dos outros. (…). Muitos compreenderam esta fragilidade comum e deram provas de resiliência, resistindo à tentação de se voltarem prá si mesmos, procurando colocar-se ao serviço dos mais vulneráveis, tomando iniciativas para rezar juntos, mesmo à distância”.

À luz das experiências vividas neste momento difícil, e também pelas solicitações em função da já próxima canonização de Charles de Foucauld, os bispos do CERNA também começaram a discutir as questões e propostas que podem surgir no âmbito diocesano e regional de o processo sinodal lançado em vista do Sínodo sobre a sinodalidade, previsto para 2023.

Durante a Assembleia foram renovados os cargos executivos do CERNA. Para os próximos três anos, o cardeal Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat (que sucede no cargo de presidente a Dom Paul Desfarges, arcebispo Emérito de Argel) presidirá o órgão eclesial, enquanto as funções de vice-presidente serão exercidas por Nicolas Lhernould, bispo de Constantina. Membro do Escritório da direção será Dom George Bugeja, vigário apostólico de Trípoli, enquanto um membro suplente será Ilario Antoniazzi, arcebispo de Túnis.

 *Com Agência Fides


Charles de Foucauld, "um Santo do nosso tempo"

Nesta segunda-feira, 3 de maio, o Papa Francisco presidiu a celebração do ofício da Hora Terceira e um Consistório Público Ordinário para a canonização de sete beatos, incluindo Charles de Foucauld, beatificado em 2005. Sobre esta figura singular, de grande atualidade, a redação de íngua francesa conversou com o diretor do Serviço Nacional para Relações com Muçulmanos na Conferência Episcopal francesa, padre Vincent Feroldi.


Olivier Bonnel – Vatican News


O diretor do Serviço Nacional para as Relações com os Muçulmanos da Conferência Episcopal francesa, padre Vincent Feroldi, recorda ao Vatican News a figura de Charles de Foucauld e sua importância para a Igreja na França e a comunidade muçulmana.


Que sentimentos a canonização de Charles de Foucauld inspiram no senhor?

A futura canonização de Charles de Foucauld é uma grande alegria para a Igreja na França. Esperamos desde que foi declarado Beato e sabíamos que a canonização viria a seguir. É uma grande alegria porque Charles de Foucauld é francês, nasceu no Grand Est, foi ordenado sacerdote em Viviers, em Ardèche, antes de exercer o seu belo e grande ministério na Argélia. Ele é, portanto, uma personalidade para nós hoje, e esta canonização será uma oportunidade para todos nós descobrirmos ou redescobrirmos, aprofundarmos a pessoa que é Charles de Foucauld, e que realmente me parece um Santo para o nosso tempo. Olhando para a totalidade de sua vida e o que fez com os outros, representa para nós um verdadeiro caminho para a missão hoje.


Por que Charles de Foucauld é um Santo de nosso tempo?

Ele é uma verdadeira testemunha de fraternidade, mas demorou muito para descobrisse profundamente o que o Senhor esperava dele, e isso é o que é muito interessante. Esta canonização nos permitirá olhar para a totalidade da vida de Charles de Foucauld. Ele foi um homem em sua plenitude, mas na diversidade, ele também é uma pessoa apaixonada. Ele foi primeiro um soldado, depois um explorador, principalmente no Marrocos, ele estava em uma busca contínua pelo sentido de sua vida e do Senhor. É nessa globalidade que ele irá descobrir gradativamente o que o Senhor espera dele. Queria viver em fraternidade, era o portador da civilização, do que era para ele a verdade, isto é, o encontro com Cristo, e depois nos seus fracassos ... Penso em particular em 1908: cai gravemente doente e descobre que, finalmente, ele que foi levar Cristo aos tuaregues, mas são os tuaregues que levarão a vida a ele, pois foram os tuaregues que o salvaram do escorbuto, e assim inesperadamente ele vai compreender que o tempo de Deus não é o tempo dos homens, e o que o Senhor lhe pede é, em última instância, "a cada um seu trabalho", a Deus pelo Espírito para falar ao coração do homem, e a ele Irmão Charles, de viver esta fraternidade no dia a dia com os que estão ao seu redor, sobretudo com o povo tuaregue.


Para além da dimensão inter-religiosa, a dimensão missionária é portanto muito forte. Qual o legado de Charles de Foucauld?

Esta dimensão missionária é precisamente para nós um verdadeiro desafio para compreender o que colocamos na palavra “missão”. Irmão Charles, no início, é o portador deste Jesus Cristo. Ele fez saber que nunca deixou de ter consigo o ostensório, e para ele a dimensão eucarística era muito importante. Ele foi, gostaria de dizer, um portador de Cristo. Aos poucos compreenderá que sua missão é antes de tudo viver a fraternidade com os que o rodeiam, testemunhar a sua alegria no quotidiano. Vemos que no final da vida é sobretudo a figura do linguista que emerge, que vai recolher a cultura do outro, recolher textos, poemas, canções tuaregues. E no centro disso, no centro dessa atenção para aqueles ao seu redor, finalmente haverá a presença do Evangelho. Esta missão de que dá testemunho é ser portador de Cristo, portador da Boa Nova, na vida quotidiana partilhada e, sobretudo, deixar espaço para que o Espírito de Cristo faça a sua obra no coração de cada homem. Charles não estava ali para mostrar o caminho, mas para permitir a cada um encontrar Jesus, não necessariamente da maneira que ele inicialmente imaginou, mas na maneira que só Deus conhece, que é o caminho que é bom para cada um.


O senhor é diretor do Serviço Nacional para as Relações com os Muçulmanos da Conferência dos Bispos da França. O que essa canonização significa hoje para os muçulmanos?

Para os muçulmanos, o Irmão Charles é um marabout, um homem de Deus, então eles se regozijam em ver a valorização desse homem. Eles irão finalmente, assim como nós, descobrir quem é Charles de Foucauld, porque para muitos de nós, ele é aquele que viveu em Assekrem. Mas Charles de Foucauld é o itinerário de um homem em toda a sua complexidade, e que pouco a pouco, no seu desejo de encontrar Deus, o irá encontrar, o irá contemplar, o irá adorar, e que o convidará então a viver a fraternidade e o amor. Para os muçulmanos da França, esta será a oportunidade de descobrir como um cristão em um país muçulmano pode experimentar não só o encontro com o outro, naquele que é o caminho que Deus desejou para ele.


Charles de Foucauld: presença de encontro com todos

 

“É um grande dia para a Igreja na Argélia”, foi com estas palavras que o arcebispo de Argel e presidente da Conferência Episcopal Regional do Norte de África comentou a aprovação, da parte do consistório ordinário público presidido pelo papa Francisco, da canonização do sacerdote francês Charles de Foucauld (1858-1916).

“Charles de Foucauld tem um lugar de relevo na nossa Igreja. É ele que queria ser irmão universal, ele que foi primeiro ao encontro dos outros, ele que se fez próximo. E é um pouco a vocação da nossa Igreja”, declarou o arcebispo Dom Paul Desfarges.

A espiritualidade de Nazaré sobre a qual se fundava o carisma de Charles de Foucauld marcou profundamente a nossa presença nesta terra, uma presença amiga e fraterna, onde o encontro humano é essencial. Por isso, o fato de Charles de Foucauld ser canonizado é para nós muito importante porque nos confirma na nossa vocação: ser uma presença fraterna de encontro, de humanidade e espiritualidade com todos, acrescentou.

Charles de Foucauld foi também e sobretudo um pioneiro do diálogo com as outras culturas e religiões, em particular com o islão: “Insistiu sempre muito sobre a bondade. O seu apostolado era do da bondade”.

“Nada – a seu ver – se podia fazer fora de um clima de bondade. A prioridade para ele era a de amar as pessoas, amá-las como são, amá-las gratuitamente. O diálogo quotidiano que construímos hoje com os nossos irmãos muçulmanos coloca-se precisamente sobre esta dimensão, no sulco da bondade”, assinalou.

A herança do inspirador dos Irmãozinhos e Irmãzinhas de Jesus enfrenta hoje, porém, muros, medos e preconceitos, sobretudo com quem é diferente: “Acredito que o que Charles de Foucauld hoje diria é que é acertado tomar precauções, mas ter meto do outro não leva a lado nenhum”, observou o prelado.

Pelo contrário, a mensagem hoje deveria ser: não tenhais medo. Os muros construídos pelo medo devem ser abatidos, mas para isso é preciso aproximar-se, encontrar-se, conhecer-se. O medo nasce precisamente porque não se conhecem as pessoas verdadeiramente por aquilo que são. Não tenhais medo, é isso que Jesus disse aos apóstolos. É a frase retomada por João Paulo II no início do seu pontificado e é aquilo que hoje nos pede o Papa Francisco. “Quanto mais aprofundarmos o conhecimento uns dos outros, mais conseguiremos reconhecê-los irmãos, mais humanos, mais universais”, afirmou Dom Paul Desfarges.

Charles de Foucauld viaja para o deserto argelino do Saara, primeiro em Beni Abbès, pobre entre os mais pobres, depois mais a sul, em Tamanrasset, com os tuaregues, dedicando-se a uma vida silenciosa de oração, no desejo incessante de ser para cada pessoa o “irmão universal”. 

Vida impactante

Charles de Foucauld foi assassinado por assaltantes de passagem, na porta de seu eremitério, em 1 de dezembro de 1916. Logo foi considerado um mártir e, nos anos seguintes, sua memória passou a ser venerada. Ao mesmo tempo, sua biografia pelo renomado escritor francês René Bazin (1853-1932), publicada em 1921, tornou-se um best-seller.

Seu processo de beatificação começa em 1927, tendo sido interrompido durante a guerra da Argélia e posteriormente retomado. Charles de Foucauld foi declarado venerável em 24 de abril de 2001 pelo Papa João Paulo II e beatificado pelo Papa Bento XVI em 13 de novembro de 2005.

A vida de Charles de Foucauld é impactante! Foi um oficial das Forças Armadas da França que se tornou explorador e geógrafo, posteriormente monge trapista, viveu como irmão serviçal junto das Irmãs Clarissas em Nazaré (Terra Santa), sacerdote diocesano, missionário e eremita no deserto argelino do Saara.

A espiritualidade foucauldiana é abissal, impactante e atual. A sua dimensão configura comunhão, bondade, solidez e amor ao ser humano da era pós-moderna. Seu legado é a cultura da presença de encontro com todos!


Inácio José do Vale, FCF

Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas

Espiritualidade de Nazaré de Charles de Foucauld

Educador e Sociólogo em Ciências da Religião 

Fontes:

https://snpcultura.org/canonizacao_de_charles_de_foucauld_confirma_a_igreja_como_presenca_de_encontro_com_todos.html


https://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20051113_de-foucauld_po.html


 

 Text 1, port., Canonização do Irmão Carlos e opção pelos pobres

Postado em: 21/11/2020 por: Fraternidad Iesus Caritas

FRATERNIDADE SACERDOTAL JESUS CARITAS

PREPARANDO A CANONIZAÇÃO DO IRMÃO CARLOS

TEMA 1: A CANONIZAÇÃO DO IRMÃO CARLOS E NOSSA OPÇÃO PELOS POBRES

Fernando Tapia Miranda

Equipe Internacional

“A pandemia acentuou a difícil situação dos pobres e o grande desequilíbrio que reina no mundo”, disse o Papa Francisco no último 19 de agosto. E ele acrescentou: “O vírus, sem excluir ninguém, encontrou grandes desigualdades e discriminações no seu caminho devastador. E aumentou-as!

Isso significa que os pobres hoje sofrem mais do que antes, por causa da falta de assistência médica, do desemprego e da fome.

O Santo Padre reconhece que a resposta à pandemia deve ser dupla: Se por um lado, “é essencial encontrar uma cura para um pequeno mas terrível vírus que põe o mundo inteiro de joelhos”, por outro lado, acrescenta o Papa, “temos que nos curar de outro grande vírus: o da injustiça social, da desigualdade de oportunidades, da marginalização e da falta de proteção para os mais fracos”.

Esta situação nos estimula a reafirmar nossa opção evangélica pelos pobres. Francisco diz em sua catequese: “A fé, a esperança e o amor nos impelem necessariamente para esta preferência pelos mais necessitados, que vai além da pura assistência necessária. Trata-se de caminhar juntos, deixando-nos evangelizar por eles, que conhecem bem o Cristo sofredor, deixando-nos “contaminar” pela sua experiência de salvação, pela sua sabedoria e pela sua criatividade. Partilhar com os pobres significa enriquecer-nos uns aos outros. E se existirem estruturas sociais enfermas, que impedem os pobres de sonhar com um futuro, temos que trabalhar juntos para curá-las, para transformá-las” (Como não reconhecer aqui, o jeito evangelizador do Irmão Carlos?)

O Santo Padre afirma que “a pandemia é uma crise, e de uma crise nós não saímos iguais: ou saímos melhores, ou saímos piores. Devemos sair melhores, no que diz respeito às injustiças sociais e à degradação do meio ambiente.”

A canonização do Irmão Carlos acontece neste contexto e não é por acaso. Através deste acontecimento de graças, Deus quer colocar à vista de todos, um homem, um crente, um pastor, um missionário que se entregou de corpo e alma aos mais pobres e abandonados do seu tempo, os Tuaregues. Ele se fez um deles, caminhou com eles, foi evangelizado por eles. Atualmente, a santidade passa pela opção preferencial pelos pobres.

Se queremos preparar e celebrar da melhor maneira possível a canonização do Irmão Carlos, não é para glorificar o Irmão Carlos, mas para fortalecer em toda a Igreja um amor ativo e proativo pelos pequeninos, os últimos, que, atualmente é mais necessário do que nunca. O Papa afirma na Evangelii Gaudium: “Nem sempre a própria beleza do Evangelho pode ser manifestada de forma adequada por nós, mas há um sinal que nunca deverá faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade rejeita e exclui.” (EG 165)

Nós, a família espiritual do Irmão Carlos, acolhemos como uma graça o seu carisma, que recebe, além disso, neste contexto de pandemia, uma atualização e uma validação especial. Não podemos mantê-lo escondido, negligenciá-lo ou deixá-lo estéril. “Reaviva o dom de Deus que está em ti”, disse São Paulo a Timóteo. Este é o convite que nosso Irmão e Senhor Jesus nos faz hoje, para contribuir na grande renovação da Igreja que o Espírito Santo está impulsionando por meio do Papa Francisco. Portanto, temos uma grande responsabilidade. A canonização do Irmão Carlos é uma oportunidade única para progredir nesta direção.

Para reflexão e oração pessoal ou em grupo:

• Vejo uma conexão entre nossa opção pelos pobres, a renovação da Igreja impulsionada pelo Papa Francisco e a canonização do Irmão Carlos?

• Que apelo à conversão o Senhor está nos enviando, por meio dessa canonização?

• Qual será a minha contribuição para que a Canonização dê todos os frutos que o Senhor espera dela?

Santiago do Chile, 10 de setembro de 2020

PDF: Text 1, port., Canonização do Irmão Carlos e opção pelos pobres BR

Este post foi publicado em: Documentos por: Fraternidad Iesus Caritas. Arquivado em: Link permanente.


Texto 2: Biografia. Preparação à canonização do irmão Carlos

Postado em: 04/12/2020 por: Fraternidad Iesus Caritas


PRINCIPAIS ASPECTOS BIOGRÁFICOS DE CARLOS DE FOUCAULD

Pe. Nabons-Wendé Honoré SAVADOGO, Burkina Faso


Um órfão cercado de afeto

O visconde Charles-Eugène de Foucauld de Pontbriand nasceu em Estrasburgo em 15 de setembro de 1858, filho de François Édouard, inspetor adjunto de Águas e Florestas, e Elisabeth Marie Beaudet de Morlet. Ele tinha apenas uma irmãzinha mais nova, Marie, nascida em 13 de agosto de 1861.A infância de Carlos foi marcada pelo luto. Em 1864, aos 6 anos, ele perdeu sua mãe em um aborto espontâneo em 13 de março, seu pai em 9 de agosto e sua avó paterna em outubro. Carlos e sua irmã foram educados por seu avô, o coronel de Morlet, que envolveu sua infância com caloroso afeto. A infância também foi marcada pelo carinho da família de sua tia paterna, os Moitessiers. Carlos criou uma amizade sólida e profunda especialmente com sua prima Marie Moitessier, que desempenhará um papel determinante em seu crescimento humano e espiritual. Seu avô lhe deu uma boa educação cristã; ele fez a primeira comunhão e recebeu o sacramento da confirmação em 27 de abril de 1872.


Fé perdida e encontrada

Admitido na Escola Secundária de Nancy em 1872 e na Escola Militar de Saint-Cyr em 1976, Carlos perdeu a fé e permaneceu descrente por uns dez anos. Essa fase de sua vida foi marcada por excessos e desvios de comportamento. A morte de seu avô em 3 de fevereiro de 1878 piorou a situação. E Carlos, então, afundou-se numa vida de preguiça, indolência, tédio, indisciplina, mediocridade, festas desregradas e despesas financeiras absurdas. Ele até se apegou a uma mulher, Marie C, e fez dela sua concubina.

Um soldado pouco disciplinado, mas corajoso. Carlos vivia entediado e acabou deixando o exército em 1882 para dedicar-se à exploração do Marrocos. O brilho do sucesso devolveu-lhe a estima e admiração de sua família e da sociedade. Daí em diante ele é habitado por uma busca moral e religiosa. O carinho e a fé, vividos no seu ambiente familiar, sustentam-no em sua busca religiosa cada vez mais intensa: “Meu Deus, se tu existe, faça com que eu te conheça!” Ele encontrou-se com o Padre Huvélin na Igreja de Santo Agostinho em Paris para discutir religião, mas este o convidou a confessar-se e a comungar. Carlos de Foucauld se converteu assim, no final de outubro, e sua relação com Deus será gradativamente cheia de amor, ternura e total abandono em Deus.


Trapista e imitador radical de Jesus de Nazaré

Em 1890, apenas três anos após sua conversão, ele entrou para o mosteiro dos Trapistas em Notre-Dame des Neiges, e, depois no mosteiro de Notre-Dame du Sacré-Coeur, em Akbès (Síria). Porém, muito insatisfeito por não poder encontrar a extrema pobreza de Jesus em Nazaré, e desejando fundar uma congregação para viver plenamente esse ideal, ele deixou a Trapa em janeiro de 1897. Ouvindo os conselhos de seu diretor espiritual, Padre Henry Huvelin, ele foi para a Terra Santa e tornou-se empregado doméstico no mosteiro das irmãs Clarissas de Nazaré, para imitar a vida oculta de Jesus, pobre, despojado de tudo e sentado no último lugar.


A descoberta da sua vocação sacerdotal e missionária

Durante quase três anos, Carlos de Foucauld viveu diariamente longas horas de adoração eucarística, de meditação do Santo Evangelho e leitura de livros teológicos. Mudanças muito importantes aconteceram, então, na percepção de sua vocação e do sacramento da Eucaristia. Ele percebe que, acima de tudo, nada glorifica tanto a Deus aqui na terra como a presença e a oferta da Sagrada Eucaristia. Ele também fica convencido de que um homem nunca imitará Jesus mais perfeitamente do que quando oferece o sacrifício ou administra os sacramentos. Carlos retorna a Notre-Dame des Neiges onde se prepara para o sacerdócio. Os retiros para a ordenação diaconal e sacerdotal incutem nele a convicção de que a Eucaristia é um banquete a ser levado para os mais pobres. Ela, a Eucaristia, exige a vivencia de uma fraternidade universal com todos os homens, em particular com os mais distantes. A partir de agora, a sua vocação de imitar Jesus de Nazaré não é mais viver na Terra Santa, mas de estar no meio das ovelhas mais abandonadas, as do Marrocos.


A abertura evangélica do Saara através da amizade e da bondade

Ordenado sacerdote diocesano em 9 de junho de 1901, no seminário maior de Viviers, Carlos queria ir para o Marrocos e morar em Beni-Abbès, uma encruzilhada na fronteira entre a Argélia e o Marrocos. O Irmão Carlos viveu no Saara uma evangelização de testemunho através da amizade e da bondade. Em Beni-Abbès, começou levando uma vida intensamente contemplativa, mas com grande disponibilidade fraterna a todos aqueles que chegavam em sua Fraternidade: as caravanas, os soldados e oficiais, os simples viajantes, os escravos e especialmente os mais pobres e mais desfavorecidos.

Para iniciar a evangelização dos tuaregues, empreendeu viagens pastorais ao ritmo de missões militares. Ele queria, assim, conquistar a confiança das populações e fazer amizade com elas. Tempos mais tarde, ele foi morar entre os tuaregues, em Tamanrasset, em maio de 1905, de onde fazia viagens pastorais. Ele se encarna na cultura daquele povo ao aprender sua língua e cultura, e ao traduzir o Santo Evangelho e algumas passagens do Antigo Testamento para o tuaregue. Carlos também fez importantes trabalhos linguísticos entre os quais, a realização de uma gramática elementar e dois léxicos tuaregue-francês, francês-tuaregue. Apesar das muitas dificuldades, Carlos não renunciou a sua presença entre os tuaregues, que ele resumiu nos seguintes termos:

É, em primeiro lugar, colocar Jesus no meio deles: Jesus no Santíssimo Sacramento, Jesus descendo todos os dias no Santo Sacrifício; é, também, colocar uma oração no meio deles, a oração da Igreja, por mais miserável que seja aquele que a oferece … é, então, mostrar a estes ignorantes que os cristãos não são aquilo que eles supõem, que nós acreditamos, amamos, esperamos; enfim, é confiar nas almas, na amizade, neste tolerar-se uns aos outros, e, se possível, fazer amigos; para que depois desse primeiro contato, outros possam fazer mais bem por essas pessoas pobres1.

Foi no meio dos tuaregues que Carlos de Foucauld morreu na sexta-feira, 1º de dezembro de 1916, assassinado por senussitas que tinham vindo saquear sua residência e levá-lo como refém. Ele foi beatificado pelo Papa Bento XVI em 13 de novembro de 2005 e canonizado pelo Papa Francisco em… 2021.


ATUALIDADE DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DE CARLOS DE FOUCAULD

Uma multidão de “seguidores”

Após 15 anos de ministério pastoral no Saara, Carlos de Foucauld não fez muitos convertidos. Seu desejo ardente de fundar uma congregação religiosa para viver a perfeita imitação de Jesus de Nazaré não teve sucesso. Apesar desse aparente fracasso, a vida e a morte do Irmão Carlos foram fecundadas pelo Senhor. É assim que numerosos discípulos de Cristo se inspiram na experiência espiritual do Irmão Carlos, fundada na Eucaristia celebrada, adorada e vivida, na fraternidade universal, na escuta quotidiana e na meditação do Evangelho, num abandono total e confiante à vontade do Pai, no desejo ardente de levar Cristo aos mais pobres e distantes.

A transformação por meio da Eucaristia

A experiência espiritual de Carlos de Foucauld é como uma luz que o Senhor oferece hoje à sua Igreja, para iluminar a sua caminhada. A intensa devoção eucarística que ele nos comunica é um meio eficaz de viver as nossas celebrações e adorações eucarísticas no frescor da reforma conciliar do Vaticano II. Na escola do irmão Carlos, não se pode participar na Eucaristia sem viver uma profunda comunhão com Cristo, que nos abre a todos os homens, em particular aos mais pobres e distantes. O seu modelo de adoração eucarística convida-nos a escutar a Palavra de Deus para sermos transformados pela imitação das virtudes de Jesus.

Um modelo de evangelização em situação de secularização e fundamentalismo religioso

A atualidade do irmão Carlos se expressa, também, por meio de seu modelo de evangelização. Em meio a um mundo fortemente muçulmano, onde não podia convidar abertamente a crer em Jesus, Carlos de Foucauld quis proclamar seu Mestre vivendo a bondade e a amizade com todos aqueles com os quais se encontrava. Não é desta presença fraterna, amiga e terna que necessitamos para testemunhar Jesus em nosso mundo cada vez mais secularizado? O irmão Carlos viu seus irmãos muçulmanos se radicalizarem: “É a islamização de Hoggar, […] … É um fato muito grave […] em alguns anos, se a influência muçulmana touatiana prevalecer, será uma hostilidade profunda e duradoura…”. A atitude do irmão Carlos em relação ao fundamentalismo religioso, tão difundido em nossos dias, é mais atual do que nunca e inspiradora para nós. Quer estejamos em diálogo ou amizade com os muçulmanos, quer sejamos vítimas do fundamentalismo, é necessário cultivarmos a amizade, o diálogo, o conhecimento lúcido do outro para “compreendê-lo”, a gentileza e a ternura para promover a união dos corações.

Padroeiro das periferias e da fraternidade universal

O Magistério do Papa Francisco nos convida a ir às periferias existenciais dos seres humanos, para fazer de todas as pessoas, especialmente os mais distantes e excluídos, nossos irmãos. Podemos ver o irmão Carlos como o especialista, o padroeiro das “periferias” e da fraternidade universal. Foi isto que ele viveu e ensinou: “devemos amar igualmente todos os seres humanos: ricos e pobres, felizes e infelizes, saudáveis e enfermos, bons e maus, porque todos são membros do Corpo Místico de Jesus (próximo assunto ou distante), e consequentemente membros de Jesus, uma porção dele, isto é, infinitamente veneráveis, amáveis e sagrados” 2.

Um amigo no céu que acompanha e questiona

Carlos de Foucauld é tão atual, porque, acima e tudo, sua presença diante de Deus, na imensa multidão dos santos, é a realização da fraternidade universal que ele tanto procurou. Sua participação na glória e na intercessão de Cristo torna-o tão presente para nós, quotidianamente agindo em nossas vidas e na vida da Igreja. Cada um de nós pode se perguntar: quais frutos a amizade com o Irmão Carlos produziu em minha vida? Há algum aspecto de minha vida que o Irmão Carlos me desafia a mudar?

São Carlos, rogai por nós!

São Carlos de Foucauld, rogai por nós, ajude-nos a abandonarmo-nos totalmente ao Pai, “sem medida, com infinita confiança”, porque Ele é nosso Pai e você, você é nosso amigo. São Carlos de Foucauld, reze por nós!


Texto 3. FUNDAMENTOS DE UMA ESPIRITUALIDADE INSPIRADA PELO IRMÃO CARLOS DE FOUCAULD

Postado em: 18/12/2020 por: Fraternidad Iesus Caritas

Pe. Nabons-Wendé Honoré SAVADOGO, Burkina

Carlos de Foucauld “empreendeu um caminho de transformação até se sentir irmão de todos os homens e mulheres. [..] Ele orientou o desejo de doação total de sua pessoa a Deus para a identificação com os últimos, os abandonados, nas profundezas do deserto africano”. (Fratelli tutti, 286-287)

A diversidade da família espiritual de Carlos de Foucauld é impressionante. Nela encontramos todos os diferentes estados de vida cristã: fiéis leigos, religiosos e religiosas de vida ativa ou contemplativa, leigos consagrados, sacerdotes e bispos. Todos conseguem obter uma inspiração rica e pertinente na experiência espiritual do Irmão Carlos. Muitas vezes esquecemos os não-cristãos e mesmo aqueles que não são grandes praticantes de uma religião, mas se sentem inspirados pela experiência de Carlos.

O segredo de uma espiritualidade tão profunda e sem fronteiras é, antes de tudo, a fidelidade ao Evangelho. Quanto mais próxima do Evangelho for conduzida a vida de uma pessoa, mais atraente e relevante ela é para todos os cristãos. Além dessa fidelidade ao Evangelho, o Irmão Carlos passou por todos os estados da vida cristã: um fiel leigo que perdeu e recuperou a fé, um monge contemplativo e eremita, um sacerdote “livre” ao mesmo tempo, diocesano e “religioso”, e à sua maneira, um missionário extraordinário. Esta profundidade da experiência espiritual de Carlos de Foucauld implica a existência de elementos básicos comuns a todos os que afirmam fazer parte de sua família espiritual. Tais elementos não devem faltar na vida espiritual de quem deseja seguir Jesus, inspirando-se no modelo foucauldiano.


1. Uma espiritualidade do coração: fazer da religião um amor

Em primeiro lugar, existe amor e misericórdia. O coração, sede e símbolo do amor, é a insígnia do Irmão Carlos, elemento central, distintivo e específico da sua espiritualidade. Desde sua conversão, ele queria que seu coração se tornasse como o de Cristo. Ao longo de sua vida agitada, ele fez tudo que estava ao seu alcance para transformar seu coração e expandir-se de acordo com os limites infinitos do Sagrado Coração de Jesus. Este amor insaciável por Deus e pelos homens é a principal razão de todas as mudanças e transformações inesperadas que aconteceram em sua vida. Em sua oração, ele nunca deixa de pedir a Jesus para trazer seu reino de amor ao mundo. Estamos familiarizados com a Oração do abandono do Irmão Carlos, mas a oração que frequentemente estava em seus lábios era: “COR JESU sacratissimum, adveniat Regnum tuum!” (Sagrado Coração de Jesus, venha o seu reino!). Ele mesmo gostava de dizer que o fundamento da religião e da vida espiritual é o coração e o amor. O que ele escreveu nas regras da congregação que ele queria fundar, ainda é válido para todos aqueles que desejam segui-lo: “Sejamos ardentes de amor como o Coração de Jesus! … Amemos todos os homens” feito à imagem de Deus”, como “este Coração que tanto amou os homens! “… Amemos a Deus, por quem devemos amar os homens, e a quem só devemos amar por si mesmo … Amemos a Deus como o Coração de Jesus o ama, tanto quanto possível!” Sobre este assunto do amor, Carlos estava convencido de que se deve amar sem limites e sem nenhuma restrição. Ele dizia: “O amor é a perfeição; podemos superar em tudo, exceto no amor: no amor nunca podemos ir longe o suficiente…”1.


2. A Eucaristia celebrada, adorada e vivida

Podemos tomar emprestada a consagrada expressão do Concílio Vaticano II para dizer que a Eucaristia é a fonte e o ápice de toda a experiência espiritual de Carlos de Foucauld. Nesta experiência espiritual, a presença da Eucaristia é fundamental, transversal e inevitável a tal ponto que se pode dizer que a sua vida se desenvolveu como uma única contemplação e uma experiência cada vez mais profunda da Eucaristia. A Eucaristia marcou do início ao fim tudo o que ele viveu espiritualmente: sua conversão, sua vida de oração, sua relação com Jesus, a movimentada trajetória de sua vocação, sua pastoral da bondade, sua fraternidade universal, sua visão missionária, sua presença no Saara, cada momento de sua vida, sua morte …

Não se poderia ser discípulo do Irmão Carlos sem um amor cada vez maior por Jesus presente na Eucaristia, celebrada e adorada. Apesar de sua grande devoção eucarística, ele nunca deixou de tomar decisões para amar mais e mais a Eucaristia. Como ele, nós também devemos renovar constantemente o nosso amor pela Eucaristia. Precisamos fazer nossa esta decisão que ele tomou durante um de seus muitos retiros espirituais: “Estar aos pés do Santíssimo Sacramento sempre que a vontade de Deus, isto é, um dever muito certo, não me obrigue a afastar-me dela … […] Nunca ficar sem receber a Sagrada Comunhão, sob qualquer pretexto” 2.


3. A fraternidade universal

O Beato Carlos de Foucauld encontrou na Eucaristia a fonte da fraternidade universal. Tendo percebido claramente que todo ser humano é, de uma forma ou de outra, uma parte, um membro do corpo eucarístico de Cristo, ele deduziu daí a necessidade de amar todos os homens sem distinção: “devemos amar a todos os homens, venerá-los, respeitá-los, incomparavelmente, porque todos são membros de Jesus, fazem parte de Jesus…”. Considerando também que a Eucaristia é o sacramento no qual o amor de Deus se manifesta de maneira suprema, ele pensa que a sua recepção deve tornar-nos ternos, bons e cheios de amor por todos os homens. O Papa Francisco acaba de nos dar o Irmão Carlos como modelo de fraternidade e amizade universal nestes termos: Carlos de Foucauld “fez um caminho de transformação até se sentir irmão de todos os homens e mulheres. [..] Ele orientou o desejo de doação total de sua pessoa a Deus para a identificação com os últimos, os abandonados, nas profundezas do deserto africano” (Fratelli tutti, 286-287). Um desafio inevitável para qualquer discípulo do Irmão Carlos é esta transformação em irmão universal, buscando incessantemente um amor sem fronteiras para se tornar irmão universal de todos os homens e mulheres.


4. Amor pelos mais pobres

Para o Irmão Carlos, a adoração e a ternura que temos pelo Corpo de Cristo na celebração e na adoração eucarística devem ser a mesma veneração e a mesma ternura pelos pobres. Ele tinha o sentimento de que, cada vez que dizíamos “isto é o meu corpo, isto é o meu sangue”, é o mesmo Senhor que disse na parábola do juízo final que tudo aquilo que tivermos feito ao mais pequeno de seus irmãos, é para Ele que nós fizemos. Quando ele permanecia durante longo tempo diante do Santíssimo Sacramento em Beni Abbes, e alguém batia na porta, ele deixava o sacrário para ir ao encontro da pessoa que vinha visitá-lo. É o mesmo Cristo que ele encontrava no Santíssimo Sacramento e nos pobres que o visitavam. Para ficar com os mais pobres, para chegar às almas mais distantes, aceitou enormes sacrifícios: a solidão, a pobreza, a insegurança, a impossibilidade de celebrar a Eucaristia …


5. A sobriedade de vida: penitência, abjeção, pobreza, partilha

Para imitar Jesus em sua descida ao último lugar, por meio da encarnação e do sacrifício da cruz, Carlos de Foucauld levou uma vida de abjeção e intensa mortificação. Embora, às vezes, em sua vida tivesse que amenizar suas mortificações, o irmão Carlos permaneceu um grande asceta ao longo de sua vida. A penitência e a mortificação já não estão mais tão presente nas nossas práticas espirituais e no nosso mundo consumista, mas a figura do Irmão Carlos nos lembra constantemente o convite de Jesus para segui-lo em sua descida à nossa humanidade e em seu sacrifício na Cruz. Como reivindicar a própria escola espiritual sem uma certa dose de penitência, ou pelo menos de sobriedade? Precisamos de muita sobriedade para remar contra a maré de consumismo que tanto desfigura a beleza de nosso mundo e ameaça destruir nossa mãe terra. Uma espiritualidade de penitência e sobriedade constitui um verdadeiro antídoto contra qualquer uso excessivo e abusivo dos bens que a Providência divina coloca à nossa disposição.


6. A contemplação da beleza de Deus na natureza

Já dissemos anteriormente que a vida de Carlos se desenvolveu como uma contínua contemplação da presença de Jesus na Eucaristia e na Sagrada Escritura.

Diariamente, Carlos passava longas horas contemplando a Deus, olhando para Ele com amor e ternura, em oração. Ele foi uma pessoa sempre apaixonada pelo esplendor e pela beleza do infinito amor de Deus. Apesar desta intensa vida de contemplação, Carlos não era indiferente à natureza, também sabia encontrar nela o esplendor da beleza divina. Ele manteve esse senso de beleza na criação por toda sua vida. Ele dizia: “Admiremos as belezas da natureza, todas tão belas e tão boas, pois são obra de Deus. Elas nos levam, imediatamente, a admirar e louvar seu autor. Se a natureza, o homem, a virtude, se a alma é tão bela, então quão bela deve ser a beleza de alguém de quem essas belezas emprestadas são apenas um pálido reflexo! ” (Meditação sobre os Salmos, p. 66 ou: Ch. D. Foucauld, Rencontres à themes, Nouvelle Cité 2016. Capítulo: beleza)


7. Um zelo missionário inalterável

A vida espiritual do irmão Carlos foi marcada por um zelo missionário infalível. Assim que ele descobriu sua vocação de ser missionário do banquete eucarístico para os mais pobres, os mais distantes e os mais famintos – hoje diríamos os mais “periféricos” – não parou de rezar e trabalhar pela missão. Para que o Evangelho seja conhecido e anunciado, ele dizia estar disposto a sacrificar tudo para “ir até o fim do mundo e viver até o último dia …”. Qualquer que seja a forma de nosso estado de vida, podemos seguir autenticamente o irmão Carlos sem querer que o Evangelho e a Eucaristia sejam conhecidos e amados em todo o mundo?

Para terminar como começamos, reafirmamos que, com Carlos de Foucauld, nos deparamos com uma espiritualidade quase inesgotável pela sua ligação direta com o Evangelho. Delineamos apenas alguns dos elementos básicos de sua experiência espiritual. Cabe a cada um questionar-se sobre o lugar e a extensão desses elementos centrais e fundamentais em sua vida espiritual pessoal. Sua presença e seu aprofundamento podem ser uma indicação da autenticidade de nossa fidelidade à experiência espiritual do Irmão Carlos.

Pe. Savadogo Nabons-Wendé Honoré

Ouahigouya (Burkina Faso), dezembro de 2020.

PDF: Text 3, port. BR. Fundamentos de uma esprititualidade inspirada por Charles de Foucaud


Texto 4. Nosso modo de evangelizar

Postado em: 16/01/2021 por: Fraternidad Iesus Caritas

Fernando Tapia, Chile

Como sacerdotes diocesanos, partilhamos com toda a Igreja a única missão que lhe pertence: evangelizar. O Papa Francisco nos deu orientações muito claras para fazer isso em sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”. Fazemos nossas as suas próprias orientações, e tentamos nos inspirar nelas para nossa ação evangelizadora em nossas paróquias, comunidades, centros de formação cristã, centros de acolhimento dos mais pobres, etc.

No entanto, a pergunta é válida se nós, enquanto presbíteros da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, desenvolvermos algumas características particulares nascidas no carisma do Irmão Carlos e em nossa espiritualidade. Nós pensamos que sim, e apresentamos, abaixo, algumas dessas características


1. O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO

Nosso modo de evangelizar é marcado, em primeiro lugar, pelo mistério da Encarnação, mistério que fascinou o Irmão Carlos e está na raiz de sua espiritualidade:

“A encarnação está enraizada na bondade de Deus. Mas uma coisa aparece, primeiro, tão maravilhosa, brilhante e assombrosa que brilha como um sinal deslumbrante: é a humildade infinita que contém tal mistério. Deus, o Ser, o Infinito, a Perfeição, o Criador, o imenso Onipotente, Senhor soberano de tudo, fazendo-se homem, unindo uma alma e um corpo humano e aparecendo na terra como um homem, e o último dos homens ” (EsEs p.49.)

A encarnação sempre ocorre num determinado tempo, lugar e cultura. O Irmão Carlos fez um ótimo trabalho ao conhecer a cultura dos tuaregues, sua língua, seus costumes, sua poesia, etc. Queremos sempre ter em conta o contexto histórico, as características do tempo e da cultura em que evangelizamos, porque estamos convencidos de que Deus prolonga a sua encarnação em cada época e que Cristo Ressuscitado continua falando conosco por meio dos sinais dos tempos, convidando-nos a construir o seu Reino de vida.

Levando em conta que Cristo entra no mundo pela “porta dos pobres”, como disse Dom Enrique Alvear, nós também gostaríamos de entrar por essa porta em nossa ação evangelizadora, e daí anunciar o Evangelho a todos.


2. AS PERIFERIAS

Em espírito de disponibilidade para com os nossos Bispos, queremos dar prioridade aos locais mais abandonados e mais afastados da Igreja. As periferias geográficas ou existenciais, como diz o Papa Francisco. São os lugares de fronteira: populações marginais, campos distantes, campos de refugiados, migrantes, dependentes químicos, privados de liberdade, excluídos em geral. Esta proximidade nos permitirá ouvir e atender ao clamor dos pobres, que às vezes é muito fraco e outras vezes impetuoso. E usando meios pobres, basicamente nossa própria presença amigável e misericordiosa. 1

Irmão Carlos nos diz:

“Devo buscar sempre o último dos últimos lugares, para ser, também, tão pequeno como o meu Mestre, para estar com ele, caminhar atrás d’ele, passo a passo, como servo fiel, discípulo fiel e – visto que, em sua infinita bondade, incompreensível, ele se digna a falar assim – como um irmão e fiel esposo” (EsEs p.68).

“Este banquete divino, do qual sou ministro, é necessário apresentá-lo não aos irmãos e parentes, aos vizinhos ricos, mas aos coxos, aos cegos, às almas mais abandonadas e à falta de padres … Eu pedi e obtive permissão para me estabelecer no Saara Argelino”. (EsEs p.80).

Se formos enviados para lugares mais ricos, gostaríamos de ser agentes de sensibilização social e fazedores de pontes entre os ricos e a realidade dos pobres.

Viemos como amigos e irmãos dos pobres. Descobrimos Deus já presente em seus gritos e aspirações. Nós, por sua vez, deixamos os pobres nos evangelizar e enriquecer nosso ministério.


3. TESTEMUNHO PESSOAL

Em todos os lugares, mas principalmente nos lugares marginalizados, queremos dar prioridade à evangelização com o testemunho mais que com a palavra. Testemunho marcado pela proximidade, simplicidade, acolhimento, bondade, interesse pelo que acontece com o outro, serviço concreto, alegria interior. Escrevia o irmão Carlos a um amigo:

“Quer saber o que posso fazer pelos nativos. Não é possível falar diretamente com eles sobre nosso Senhor. Isso os faria fugir. Há que inspirar-lhes confiança, ser amigo deles, prestar-lhes pequenos serviços, dar-lhes bons conselhos, travar amizade com eles, exortá-los discretamente a seguir a religião natural, mostrar-lhes que os cristãos os amam. (EsEs p.84).

Já no retiro de novembro de 1897, havia formulado o seu modo de evangelizar com esta frase, posta na boca de Jesus: “Aceite tua vocação: a de anunciar o Evangelho sobre os telhados, não com a tua palavra, mas com a tua vida”.

Isso não significa que negligenciamos o ministério da Palavra. Sabemos que é parte essencial da nossa missão despertar e alimentar a fé: “A fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10,17). O Concílio Vaticano II diz isso claramente no decreto sobre “Ministério e vida dos presbíteros”: “A palavra da salvação desperta a fé no coração dos não crentes, e a fortalece no dos que já acreditam. Com a fé, começa a se desenvolver a comunidade dos fiéis.”2


4. NOSSA ESCOLHA DA FRATERNIDADE

Por escolhermos a fraternidade, privilegiamos o trabalho em equipe com outros presbíteros, sejam eles da nossa Fraternidade ou não, diáconos, religiosos e religiosas ou leigos. Queremos ser mais irmãos do que tiranos, mestres ou senhores religiosos, como diz o Concílio: “Os presbíteros vivem com os outros como irmãos”.3 O Irmão Carlos se antecipou ao Concílio a esse respeito quando busca e valoriza o trabalho com os leigos:

“Ao lado dos padres, são necessários Priscilas e Aquilas, para ver aqueles que o padre não vê, para penetrarem nos lugares onde ele não pode ir, para irem ao encontro daqueles que fogem, para evangelizarem com um contato benfeitor, com uma bondade transbordante antes de tudo, e com um afeto sempre pronto a doar-se, com um bom exemplo que atraia aos que deram as costas ao padre e lhe são hostis por princípio.” (de Assekrem, 3 de maio de 1912).

Por isso mesmo, queremos dar tempo à formação dos leigos, ao acompanhamento espiritual deles e apoiar a formação de comunidades fraternas, respeitando o ritmo de cada pessoa.

Igualmente, acreditamos na fraternidade como forma de vida, uma fraternidade universal, que inclui pessoas que não pertencem à Igreja, caracterizada pela amizade, reciprocidade e diálogo.

Da mesma forma, nossa opção pela fraternidade nos leva a favorecer a participação dos leigos na coordenação pastoral de nossas paróquias, evitando todo autoritarismo e clericalismo de nossa parte e toda passividade por parte dos leigos. A existência de conselhos pastorais, conselhos de assuntos econômicos, equipes de animação das diversas áreas pastorais e movimentos, assembleias paroquiais, planejamento pastoral feito em conjunto, etc., devem ser uma marca distintiva das paróquias ou de outras estruturas pastorais confiadas aos nossos cuidados.


5. VIDA ESPIRITUAL E EUCARISTIA

Este modo de evangelizar supõe uma vida espiritual muito profunda em cada um de nós que nos leve a contemplar Jesus nos Evangelhos, para nos configurarmos cada vez mais com Ele, graças à ação do Espírito Santo em nós. Ele nos capacitará para entrar na dinâmica da descida, do rebaixamento, do despojamento, típica do mistério da Encarnação, deixando muitas coisas por Ele e pela fidelidade ao Evangelho: preconceitos, bens materiais, prestígio, busca de poder, seguranças, etc. Nos dará a liberdade interior para encontrar novos caminhos e campos na tarefa evangelizadora da Igreja, buscando sempre a vontade do Pai, com infinita confiança.

O nosso impulso missionário, sobretudo de chegar e permanecer nos lugares mais difíceis, é sustentado pela celebração da Eucaristia, pela Adoração diária e pelos outros meios de crescimento espiritual próprios da nossa Fraternidade. Eles nos ajudam a tomar consciência do amor infinito de Deus por nós, da sua fidelidade e misericórdia e conduzem-nos à missão.

A Eucaristia deve tornar-se, para nós, um estilo de vida caracterizado pela partilha do pão, da palavra e histórias pessoais, inclusive com pessoas de outras tradições religiosas.

Devemos promover uma experiência espiritual semelhante entre os leigos, se quisermos transformar nossas paróquias no sentido missionário que o Papa Francisco deseja: uma Igreja “em saída” que, sem medo de acidentes ou de manchar-se nas lamas do caminho, vai em busca dos afastados e descartados pela sociedade4.

Por outro lado, a Eucaristia nos abre à pertença a um Corpo eclesial cada vez mais amplo. Queremos estar muito conscientes de que a Evangelização é uma missão partilhada com toda a Igreja diocesana e universal. Como presbíteros diocesanos, queremos ser os primeiros a sentir-nos parte de um presbitério, com seu bispo à frente, apoiando a gestação e a implementação de projetos diocesanos, aos quais contribuímos com nosso carisma e nossos dons pastorais.


PARA A REFLEXÃO PESSOAL E A ORAÇÃO

Você adicionaria algo a este esquema?

A estrutura pastoral em minha paróquia, centro de formação, etc. está caminhando nesta direção?

Quais características nosso estilo de vida pessoal deve ter para sermos coerentes com esta forma de evangelizar?

PDF: Texto 4 – Nosso modo de evangelizar 


Texto 5. O diálogo no intinerário espiritual do irmão Carlos. Jean-François BERJONNEAU

Postado em: 23/01/2021 por: Fraternidad Iesus Caritas

Jean-François BERJONNEAU, France

O Irmão Carlos viveu sessenta anos antes do Concílio Vaticano II.

A noção de diálogo inter-religioso tal qual ouvimos atualmente na Igreja era totalmente estranha para ele. Embora eu acredito que ele tenha sido um precursor das aberturas do Concílio à dimensão universal da missão da Igreja, o processo de diálogo entre os crentes cristãos e os muçulmanos enquanto tal não se enquadra nessas categorias. Ele viveu com a teologia de seu tempo, com medo de se juntar aos muçulmanos para salvar “essas almas ignorantes”, fazendo-as conhecer a Cristo.

Além disso, ele desempenhou seu ministério em um contexto sócio-político específico. A França, em sua época, estendia seu império colonial sobre parte da África. Na época, muitos acreditavam que ela estava fazendo um trabalho civilizador e que poderia fornecer a educação necessária para libertar os povos colonizados da pobreza e da ignorância. O irmão Carlos aderiu a este objetivo. Ele, portanto, não via no Islã de seu tempo uma religião com consistência própria, com sua história e suas diferentes correntes, com algumas das quais os cristãos pudessem dialogar.

Embora o Islã tivesse exercido sobre ele, num determinado momento de sua vida, um certo fascínio e o encontro com os muçulmanos constituísse para ele uma etapa não desprezível no caminho de sua conversão, ele estava longe de concordar com a visão conciliar do Islã segundo a qual “A Igreja olha com estima os muçulmanos que adoram o Único Deus, vivo, misericordioso e todo-poderoso, criador do céu e da terra, que falou com os homens …” (Nostra Aetate nº 3). Não foi, portanto, na problemática teológica do Concílio Vaticano II, que reconhece nas religiões não cristãs a presença de “sementes da Palavra” que podem constituir uma base para entrar em diálogo com os crentes de outra religião.Portanto, não se encontrava na problemática teológica do Concílio Vaticano II, que reconhecia nas religiões não cristãs a presença de “sementes da Palavra” que podem constituir uma base para entrar em diálogo com os crentes de outra religião.

Sem dúvidas, parece-me que podemos considerar o Irmão Charles como um precursor do diálogo. Pois ele instituiu com as populações muçulmanas que conheceu, em particular com os tuaregues, um “diálogo de vida” que foi então apresentado pela encíclica “Ecclesiam Suam” do Papa Paulo VI em 1964, como base fundamental para qualquer diálogo: “Não podemos salvar o mundo exterior; como a Palavra de Deus que se fez homem, devemos assimilar, em certa medida, as formas de vida daqueles a quem queremos levar a mensagem de Cristo … Devemos compartilhar seus usos comuns, desde que sejam humanos e honestos, especialmente os costumes dos mais pequenos, se quisermos ser ouvidos e compreendidos. Antes mesmo de falar, é necessário escutar a voz, e mais ainda, o coração do homem … Devemos fazer-nos irmãos dos homens … O clima de diálogo é a amizade” nº 87.

Assim, o Irmão Charles, dedicando toda a sua energia e grande parte do seu tempo para aprender a língua dos tuaregues com os quais compartilhava a vida, desenvolvendo conversas muito simples sobre a realidade do seu quotidiano, abrindo-se a eles, à sua poesia e, assim, procurando entender a genialidade deste povo, soube abrir, pelo diálogo com os seus anfitriões, um clima de confiança a tal ponto que se tornou, para muitos, “um amigo”. Assim, mostrou que a missão da Igreja é também suscitar irmãos, respeitando as diferenças culturais ou religiosas, como a Igreja fez posteriormente em muitos países do planeta, impulsionada pelas aberturas do Concílio Vaticano II.

Podemos, portanto, reconhecer, como padres membros da Fraternidade sacerdotal Jesus Caritas, que o Irmão Carlos nos abriu uma espiritualidade de diálogo que ainda pode nos inspirar nos encontros que vivemos não só com os muçulmanos, mas também com todos aqueles que não compartilham nossa fé. Assim, o caminho de diálogo que ele abriu com os tuaregues desdobrou-se em vários movimentos fundamentais:

Ele soube distanciar-se de tudo para mergulhar no país do outro. Ele realizou este movimento que o Papa Francisco chama de “uma Igreja em saída”. Ele queria ser acolhido por essas pessoas e tornar-se, tanto quanto possível, “um deles”. E fez do aprendizado da língua deles (os tuaregues) uma obra mística, porque isto tinha, para ele, o sentido da encarnação de Cristo nesta humanidade que ele veio salvar.

Embora seu maior desejo fosse que os muçulmanos se convertessem à fé cristã, ele nunca exerceu qualquer pressão para alcançar seus objetivos. Ele sempre respeitou a liberdade deles. Em 1908, ele reconheceu que não faria nenhuma conversão e concluiu que provavelmente não era a vontade de Deus. Mas ele permaneceu no meio desse povo tuaregue em nome da aliança que fizera com eles, simplesmente para avançar no caminho da fraternidade com eles.

Seu objetivo: tornar-se amigo do outro. Em uma carta que endereçou a um correspondente, ele caracterizou o modo de relacionamento que queria adotar com os muçulmanos ao seu redor: “Primeiro, preparar o terreno em silêncio por meio da bondade, do contato íntimo, exemplo; amá-los do fundo do coração, ser estimado e amado por eles; Desse modo, quebrar preconceitos, ganhar confiança, adquirir autoridade – isso leva tempo – depois falar em particular aos mais dispostos, com muita prudência, e, pouco a pouco, de várias maneiras, dando a cada um conforme sua capacidade de receber.” Não podendo anunciar explicitamente o Evangelho, ele quis fazer de sua própria pessoa a presença do Evangelho. Era isso o que ele entendia quando disse que queria “gritar o Evangelho não com as palavras, mas com toda sua vida”

Ele soube adaptar-se à maneira como Deus olha para os muçulmanos que conheceu. Ele não os viu primeiramente como “infiéis” ou “descrentes”, mas, em seu desejo de se tornar um irmão universal, ele os considerou “irmãos amados, filhos de Deus, almas redimidas pelo sangue de Jesus, amadas almas de Jesus ”

Ele manifestou o rosto de uma Igreja diaconal. Ele não somente morou com eles, mas também contribuiu, na medida de suas possibilidades, para a melhoria de suas condições de vida e para o desenvolvimento do país. Ele lutou contra a escravidão, combateu as doenças, introduziu a medicina, novas técnicas agrícolas e meios de comunicação neste país tão pobre.

Sempre que pôde, ele abriu um diálogo espiritual com os muçulmanos. Claro que ele não aderiu à doutrina do Islã de forma alguma. Mas ele reconheceu nela um ponto em comum com a fé cristã: o duplo mandamento de amar a Deus de todo o coração e de amar o próximo como a si mesmo. Com base nisso, ele desenvolveu numerosos diálogos com seus amigos muçulmanos, mostrando-lhes em várias circunstâncias como esse duplo mandamento poderia se desenvolver em suas relações diárias.

Finalmente, e este não é um dos menores elementos do diálogo, ele fez do mistério pascal o caminho real para o diálogo. Pois, contemplando constantemente a vida de Cristo em Nazaré, como Ele percorreu o caminho da humildade, da pobreza, da escuta e do morrer para si mesmo no encontro com o outro. Ao longo de sua vida, ele demonstrou que “não há maior amor do que dar a vida por aqueles que você ama.”

Apresentando-se como “um pioneiro”, mostrou-nos que o diálogo da vida faz parte integrante da missão da Igreja.

PDF: Texto 5. O diálogo no intinerário espiritual do irmâo Carlos. Jean-François BERJONNEAU -pt



O Papa: Foucauld, profeta do nosso tempo, soube trazer à luz a essencialidade da fé.


18/05/22

Raimundo de Lima – Vatican News


"O novo Santo viveu seu ser cristão como um irmão para todos, a começar pelos pequenos. Seu objetivo não era converter outros, mas viver o amor gratuito de Deus, vivendo ‘o apostolado da bondade’": disse o Papa Francisco ao receber em audiência esta quarta-feira (18/05) a Associação Família Espiritual de Charles de Foucauld, cujo novo Santo foi canonizado no domingo, 15 de maio, na Missa presidida pelo Pontífice na Praça São Pedro, no Vaticano


"Como Igreja, precisamos voltar ao essencial - voltar ao essencial! - não nos perder em tantas coisas secundárias, com o risco de perder de vista a pureza simples do Evangelho." Foi o que disse o Papa Francisco ao receber em audiência, na manhã desta quarta-feira (18/05) na pequena sala da Sala Paulo VI, no Vaticano, os membros da Associação Família Espiritual Charles de Foucauld.


Após expressar sua satisfação em encontrá-los e partilhar com eles a alegria pela canonização do Irmão Charles, no domingo, 15 de maio, o Santo Padre definiu o novo Santo um profeta do nosso tempo, que soube trazer à luz a essencialidade e a universalidade da fé, duas palavras em torno das quais Francisco articulou e desenvolveu seu breve discurso.


Essencialidade


A essencialidade, condensando o significado do crer em duas palavras simples, nas quais está tudo: "Iesus - Caritas"; disse o Santo Padre, e, sobretudo, voltando ao espírito das origens, ao espírito de Nazaré.


Francisco fez votos de que também eles, como o Irmão Charles, continuem a imaginar Jesus caminhando no meio povo, que leva adiante pacientemente um trabalho árduo, que vive na cotidianidade de uma família e de uma cidade. "Como o Senhor fica contente por ver que o imitamos no caminho da pequenez, da humildade, da partilha com os pobres!" – enfatizou.


Charles de Foucauld, no silêncio da vida eremita, em adoração e serviço aos irmãos e irmãs, escreveu que enquanto "somos levados a colocar em primeiro lugar as obras, cujos efeitos são visíveis e tangíveis, Deus dá o primeiro lugar ao amor e depois ao sacrifício inspirado pelo amor e à obediência derivada do amor".

Universalidade


Em seguida, Francisco destacou a universalidade. "O novo Santo viveu seu ser cristão como um irmão para todos, a começar pelos pequenos. Seu objetivo não era converter outros, mas viver o amor gratuito de Deus, vivendo ‘o apostolado da bondade’."


Assim ele escreveu – prosseguiu o Pontífice: "Quero acostumar todos os habitantes cristãos, muçulmanos, judeus e idólatras a considerar-me como seu irmão, o irmão universal". E para fazer isso, observou o Papa, ele abriu as portas de sua casa para que ela pudesse ser "um porto" para todos, "o teto do Bom Pastor".


Francisco agradeceu os presentes por levarem adiante este testemunho, que faz muito bem, "especialmente em um tempo em que há o risco de fechar-se nos particularismos, de aumentar a distância, de perder de vista o irmão. Infelizmente, vemos isso nas notícias de todos os dias", frisou.


Testemunho do Papa: espiritualidade de Foucauld em sua vida



Antes de despedir-se, o Santo Padre deixou um seu testemunho sobre o novo Santo:



E também eu gostaria de agradecer a São Charles de Foucauld porque sua espiritualidade me fez muito bem quando eu estudava teologia, um tempo de amadurecimento e também de crise, e que me chegou através do Padre Paoli e através dos livros de Boignot que li constantemente, e me ajudou muito a superar crises e a encontrar uma forma de vida cristã mais simples, menos pelagiana, mais próxima do Senhor. Agradeço ao Santo e dou testemunho disso, porque me fez muito bem.




Participando da Canonização do Irmão Carlos de Foucauld

Magda Melo

No dia 15 de maio de 2022 o Papa Francisco irá canonizar o Bem-aventurado Charles de Foucauld, que fora beatificado aos 13 de novembro de 2005 por Bento XVI.

Irmão Carlos procurou sempre Gritar o Evangelho com a própria vida, queria ser chamado de irmão, vivia o apostolado da bondade e lutando por criar uma fraternidade universal. Dizia: “O meu apostolado deve ser o da bondade. Vendo-me, devem pensar: se este homem é tão bom, quanto não deve ser bem melhor o seu Mestre.” Queria ser chamado de irmão e sua ermida de fraternidade.

Para ele todo cristão, toda cristã deveriam exercer a caridade, praticar o amor, ter atitudes de bondade, ternura, fraternidade, ser exemplo de virtude, humildade e doçura, atitudes cristãs que agradam.

O silencio fazia parte da vida do irmão Carlos de Foucauld, entretanto, mesmo no silencio, jamais deixou de estar atento às palavras do Senhor, pronto a ouvir o que Deus tinha a lhe dizer.

No barulho não se percebe, escuta ou entende a voz de Deus. Ela se mistura com outras vozes, e não consegue distingui-la. A tranquilidade, a calma, a confiança, são frutos desse ouvir Deus e estar interessado em fazer aquilo que Ele quer que façamos.

Depois que ele abraçou a fé não sabia mais viver fora dela. “O justo vive realmente desta fé, pois ela substitui para ele maior parte dos sentidos da natureza. Assim, aquele que vive da fé tem a alma cheia de pensamentos novos, de gestos novos, de julgamentos novos.

Com alegria participarão da Canonização de Charles de Foucauld: Dom Eugenio, Dom Edson, Dom Sílvio, Carlos, Willians, Maurício, Tiago Hahusseau, Freddy, Almir, José Gomes, Neid e Magda, que fazem parte da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, que tem sua inspiração em Charles de Foucauld, o qual chamamos carinhosamente por Irmão Carlos.

 

Canonização do irmão Carlos: um gozo e um engajamento

Carta da Equipe Internacional aos Irmãos do mundo inteiro

 

Queridos irmãos:

 

A notícia que tanto esperávamos chegou por fim: o Papa Francisco vai canonizar o Ir. Carlos o dia 15 de maio de 2022 em Roma, junto com outros seis beatos. Esta notícia encheu-nos de alegria, todos os que nos inspiramos de sua espiritualidade: laicos e laicas, religiosos e religiosas, diáconos, bispos e sacerdotes.

Diz o Concílio Vaticano II que “o Espírito fala na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo (…) com diversos dons jerárquicos e carismáticos dirige e enriquece com todos os seus frutos a Igreja. (…) A faz rejuvenescer, a renova constantemente e a conduz à união consumada com seu Esposo”

O Ir. Carlos foi um instrumento dócil á ação do Espírito Santo, deixou-se guiar por Ele com paixão e grande liberdade interior, procurando fazer sempre a vontade do Pai. Não esqueçamos que rezava três vezes ao dia o “Veni Creator”. Impulsado pelo Espírito Santo entrou na vida monástica, foi servente das Clarissas em Nazaré, aceitou ser ordenado padre diocesano e foi missionário no meio dos tuaregues, “abandonados no mais profundo do deserto africano”

Sem o pretender, Carlos de Foucauld renovou profundamente a vida religiosa e sacerdotal, desde uma imitação radical de Jesus de Nazaré: obediência absoluta ao Pai e abandono confiado em suas mãos, pobreza no estilo de vida e engajamento com os mais vulneráveis, procura ativa das periferias onde o Evangelho não tinha sido ainda anunciado, fazer-se irmão de todos como um caminho privilegiado de evangelização.

Sua influência estendeu-se em toda a Igreja, particularmente na América Latina e no Caribe, dando origem a uma “Igreja pobre e para os pobres”, como disse o Papa Francisco aos jornalistas, logo depois de assumir o seu serviço como Papa. Uma Igreja missionária que sai em busca das pessoas para lhes oferecer a pérola do Evangelho, movida da misericórdia. Uma Igreja martirial, que acredita na fecundidade do grão de trigo que cai em terra, morre e dá muito fruto. Uma Igreja que, junto com homens e mulheres de outras religiões e com não crentes, procura caminhos de fraternidade e de amizade para derrotar a violência e superar as injustiças.

O testemunho do Ir. Carlos é hoje mais vigente que nunca, e pode ser um farol inspirador e esclarecedor da Igreja Universal, para impulsar a profunda reforma que o Papa Francisco está realizando no Povo de Deus. Não é por acaso que ele remate sua Encíclica Fratelli Tutti referindo-se ao Ir. Carlos como sua principal figura inspiradora.

Para nós, padres de Jesus Caritas, esta canonização não é só um dom, mas também uma chamada a colaborar mais ativamente no processo renovador da Igreja que o Espírito Santo está fazendo nela, por meio do Papa Francisco, começando por nossa fidelidade, cada vez maior, ao carisma do Ir. Carlos.

É também um engajamento de dar a conhecer a vida do novo santo aos seminaristas e sacerdotes para que tenham nele uma figura inspiradora de seu ministério evangelizador, numa cultura cada vez mais afastada dos valores do Evangelho e indiferente aos sofrimentos dos pobres e descartados.

Também os laicos e laicas de nossa família esperam a nossa proximidade para aprofundar no testemunho e nos escritos do Ir. Carlos, que lhes vão permitir somar-se ativamente á “transformação missionária da Igreja” ₄ impulsada pelo Papa Francisco.

Queridos Irmãos, vos pedimos que, com renovada energia e firme determinação, aproveitemos todas as oportunidades e não deixemos que este tempo de graça ao redor do 15 de maio decorra sem ser utilizado! Por algum tempo, Carlos de Foucauld estará no foco de atenção quer das pessoas religiosas quer do público em geral. Organizem conferências, escrevam artigos em revistas de Igreja e em jornais seculares, implementem encontros com jovens, conversem com nossos bispos e sejamos criativos para fazer conhecer e frutificar o dom que descobrimos no caminho do Irmão Carlos. Em primeiro lugar e antes de mais, temos que reavivar o nosso engajamento de caminhar juntos na espiritualidade foucauldiana, especialmente através de nossos intercâmbios pessoais dentro de nossas fraternidades locais.

Finalmente, desejamos a todos um abençoado Natal. Assim como o Emmanuel veio sob a forma duma pequena criança num presépio com Maria e José, queira Ele abraçar todas as famílias que estão nas margens, “as quais a pandemia marginalizou ainda mais” ₅ com seus dons de alegria, ternura, e renovada esperança. Que o Deus da Luz continue brilhando intensamente nos sistemas, estruturas e relações de nosso mundo de hoje, enredado na mentira e na indiferença. Com os três Magos, sejamos o Povo sinodal de Deus, caminhando juntos e escutando uns a outros como irmãos e irmãs que estão buscando o Nascimento dum novo começo.


Eric, Honoré, Matthias, Tony e Fernando

Equipe Internacional Jesus Caritas 

Dezembro 2021

(Tradução em português: irmãzinha Josefa FALGUERAS)