USAR MEIOS POBRES

USAR MEIOS POBRES


Jesus usou meios pobres para evangelizar?

Em primeiro lugar, ele escolheu uma casa, um lar pobre (mas não miserável). Mãe pobre, simples, humilde (mas de linhagem real). Nasceu numa cocheira, foi colocado num cocho de capim a que chamamos de manjedoura para ficar mais chique. Os primeiros a visitá-lo foram os pastores, tão odiados e marginalizados naquele tempo.

Jesus nasceu numa família de migrantes: Lucas 2,4: José veio “de Belém da Judeia para a Galileia, em busca de melhores condições de vida” (Frei Carlos Mesters, “Com Jesus na Contramão”, pág 17)

Trabalhou como agricultor e carpinteiro, aprendendo, assim a profissão de seu pai: Mateus 13,55; Marcos 6,3.

Jesus viveu pobre, por opção de vida: Lucas 9,58.

“Ao que Jesus respondeu: As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”.

Em Filipenses 2,6-7, vemos como Jesus se humilhou com a encarnação e mais ainda ao se fazer pobre entre os pobres.

Em Mateus 6,24, manda-nos escolher entre Deus e o dinheiro: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.

Em Lucas 19,45, Jesus dispensa certos meios usados hoje para a evangelização (cf. Aparecida SP) ao expulsar os vendedores do templo.

Vemos também que Jesus não possuía dinheiro nem para pagar o imposto anual e pessoal para cobrir as necessidades do templo, a didracma. Nem a caixa comum foi usada para Jesus pagar a sua parte. Ele usou a Providência Divina como fazem os pobres: Mateus 17, 24.27: “Vai ao mar, lança o anzol, e ao primeiro peixe que pegares abrirás a boca e encontrarás um estatere. Toma-o e dá-o por mim e por ti”.

Ademais, Jesus caminhava por toda a região sem usar nenhum tipo de montaria. Às vezes encurtava caminho com a barca, mas era emprestada, e usada comumente pelos pescadores (devia ter cheiro forte de peixe!). Quando usou um jumento, ao entrar em Jerusalém, o fez apenas uma vez na vida, e de modo simbólico (João 12,14-16).

Quando Jesus parou, com os discípulos, para conversar com a samaritana, já tinham andado mais ou menos 50 quilômetros! Acho que isso era usar meios pobres!

Também não consta que ele tenha saído daquelas regiões da Palestina. Vivia entre a Judeia e a Galileia. Nada além disso. Isso nos ensina a usarmos meios pobres para a evangelização, talvez num sistema de “ondas” como a água: eu instruo um grupo, que instrui outros grupos, e assim sucessivamente, sem precisar grandes meios ou grandes somas de dinheiro.

Jesus não usava os poderosos da época; quando se achegava a eles era para convertê-los, como aconteceu com Zaqueu, em Lucas 19,1-10.

Não podemos dizer que o uso dos milagres não são meios pobres, pois hoje eles existem, como no tempo de Jesus. Ademais, o milagre ou as graças são dádivas do céu. Não são meios humanos “poderosos”, mas graça pura e, como o nome já diz, gratuita de Deus, de que qualquer pessoa, por mais pobre que seja, pode usufruir.

A santidade de Jesus pode ser considerada um meio pobre, pois qualquer um de nós pode ser santo! (Mateus 5,48; 1ª Pedro 1,16; Tiago 1,4).

Jesus usava muito o templo, que nós também podemos usar (Lucas 4,26-27; Mateus 9,35).

“Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade”.

EXEMPLOS

Temos muitos exemplos, na Igreja atual, de pessoas que procuram evangelizar como Jesus nos ensinou, ou seja, com meios pobres, e não com sofisticações que só mostram o orgulho, a vaidade e a autossuficiência de pregadores que se acham poderosos e “irresistíveis”. E temos também exemplos desta última forma de evangelização. São pessoas que usam apenas as próprias forças, caindo numa tremenda ineficácia, que causa a queda imediata de todo o aparato montado, tão logo aquele pregador deixa o cenário, ou por morte ou outro motivo.

A sociedade sacerdotal Jesus-Cáritas, fraternidade inspirada na vida do Beato Carlos de Foucauld, busca sempre os meios pobres de evangelização. Como o nosso irmão Carlos. Ele utilizava os meios pobres: viver pobre com os pobres. Mesmo que não se consiga muitas coisas, muito resultado, a evangelização acontece, cria raízes, tem maior eficácia, e isso por vários fatores. O| principal é a ajuda abundante e generosa de Deus, que guia os passos e a ação dos que nele confiam, dos que nele se apoiam.

Dizia Santo Tomás de Aquino:

“È melhor andar mancando no caminho certo do que correr no caminho errado, pois andando no caminho certo, mesmo mancando, chegaremos ao objetivo, o que não acontece se estivermos correndo no caminho errado”.

Eu diria, parafraseando: “É melhor caminhar devagar com a ajuda e a orientação de um Deus que nem sempre percebemos, do que correr tentando fazer tudo sozinho, pois com Deus não precisamos temer coisa alguma, mesmo que não cheguemos a resultados palpáveis”.

Há muitos missionários nesse Brasil afora que não contam com nada, com nenhuma ajuda financeira ou poderosa, mas que fazem milagres na evangelização do povo.

Em contrapartida, poderíamos, em sã consciência, garantir que os meios poderosos estariam evangelizando realmente?

Um pequeno grupo de oração e reflexão que se reúne semanalmente numa casa, por exemplo, evangeliza muito mais do que a frequência anual a grandes santuários mas sem compromissos comunitários. Se esses pequenos grupos se multiplicarem, a evangelização decerto estará garantida!

Muitos meios dispendiosos de evangelização não evangelizam realmente. Limitam-se a incentivar a pé do povo em curas e benefícios pessoais, mas não a uma evangelização verdadeira, que o levaria a crer de um modo mais eclesial, mais comunitário, do que simplesmente a praticar a busca desesperada por curas e manifestações pessoais do sagrado.

Na minha opinião, por exemplo, toda a evangelização de algumas emissoras de televisão é como que anulada pelo tipo de propaganda comercial que fazem. Será que os fins justificam os meios?

Há também o risco da propaganda enganosa ou ato enganoso quando um padre abençoa a água, mas não é ao vivo, e não avisam os telespectadores. Quem na verdade está benzendo aquela água é um vídeo, uma gravação, e não o padre que gravou aquilo em outra hora. É a mesma coisa que eu benzer a minha água com um cd do Pe. Vítor Coelho de Almeida, ou receber a bênção de um vídeo do papa João Paulo II!

Uma sociedade apostólica atual deu de presente ao papa Bento XVI um terço feito de contas de rubi (as ave-marias) e de diamantes (os pais-nossos). Ao recebê-lo, o papa, admirado, respondeu: “precioso, precioso”! Não é esquisito o papa rezar pelos pobres desfiando rubis e diamantes nos dedos?

São João Crisóstomo (of. leit. da 21ª semana comum) diz: “Que proveito haveria se a mesa de Cristo (o altar )está coberta de taças de ouro e ele próprio morre de fome (na pessoa do pobre)? Sacia primeiro o faminto e, depois, do que sobrar, adorna a sua mesa. Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água”? E vai ainda nesse assunto até o fim da leitura. Termina dizendo: “Por conseguinte, enquanto adornas a casa (de Deus) não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo”.

Nós sempre conseguimos grandes quantias para a construção e reformas de templos, mas que miséria para combater a fome e a desnutrição!

São Paulo diz a Timóteo em 1ª Timóteo 6,7-11:

“Nada trouxemos para este mundo, e é certo que nada podemos levar dele. Tendo, porém, com que nos sustentarmos e nos vestirmos estejamos satisfeitos com isso. (...) O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e causaram a si mesmos muitas dores. Mas tu, homem de Deus, foge destas coisas, e segue ajustiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência e a mansidão”!

Se Deus nos convida a uma vida simples, não nos abandonará. Vai nos ajudar, vai nos prover do necessário para a vida. Leia estes textos na bíblia:

Provérbios 23,26; Isaías 44,21; Lucas 12,32-34; Apoc 2,10 (“Não temas diante do que hás de sofrer”!); 1ª Pedro 5,7


Procuremos seriamente abandonar em nossa vida os gastos supérfluos!


Que as autoridades da religião, tanto Católica como as demais, não gastassem também tanto tempo com o cuidado das obras de arte. A Igreja Católica já foi guardiã das artes no passado, mas agora isso não é mais preciso! Há pessoas até mais competentes que têm como profissão (e muito lucrativa) cuidar das artes. Hoje em dia, mais do que a “arte pela arte”, ela tornou-se um investimento alto na economia mundial. Deixou de ser uma tarefa da Igreja. “Deixe que os mortos enterrem seus mortos”! Deixem que os organismos artísticos cuidem da arte! Não gastemos tempo nisso, e dinheiro, já que a arte sustentada pela Igreja é despesa e não entrada.