Pe. Anderson Messina Perini Pe. Geraldo Martins Dias Lindolfo E. Ferreira Neto
Colaboradores no nº 171 Dom Eugenio Rixen
Pe. Carlos Roberto dos Santos Pe. José de Anchieta
Pe. Willians Roque Brito Lindolfo E. Ferreira Neto
Ilustração e capa
Pe. Anderson Messina Perini
Editoração
Pe. Anderson Messina Perini
Revisão
Pe. Anderson Messina Perini Pe. José de Anchieta M. Lima Pe. Geraldo Martins Dias Lindolfo E. Ferreira Neto
Responsável Internacional Pe. Eric Lozada (Filipinas) E-mail: ericlozada@yahoo.com
Equipe internacional
Pe. Fernando Tapia (Chile) Pe. Honoré Sawadogo (Burkina Faso) Pe. Matthias Keil (Áustria) Pe. Tony Llanes (Filipinas)
Responsável Pan-americano Pe. Carlos Roberto dos Santos E-mail: pecarlosroberto@gmail.com
Responsável Nacional
Pe. José de Anchieta Moura Lima Pça Vigário Maia, 107 – Centro CEP: 36140-000 Lima Duarte/MG Cel.: (32) 3281 1236 e +55 32 99917-4278 (vivo)
E-mail:
jesuscaritasbrasil@gmail.com
Este Boletim nº 171 é uma publicação trimestral da Fraternidade Sacerdotal Jesus + Caritas no Brasil, e tem como objetivo criar laços entre as diversas Fraternidades por meio de estudos e comunicações entre seus membros espalhados em todo o território do país.
Pe. José de Anchieta Moura Lima – Lima Duarte/MG Irmão de todos, como responsável nacional da FSJC
“Meu Pai, a vós me abandono, fazei de mim o que quiserdes...” assim expressamos nosso desejo, enquanto nova coordenação, de se colocar à serviço das Fraternidades, no seguimento ao Cristo e seu Evangelho, na imitação do nosso querido São Carlos Foucauld. Contamos com suas orações e apoio, para mais esta missão entre 2024 a 2029, que enquanto equipe, abraçamos com tremor e com ardor.
Agradecemos a todos os que, enquanto coordenação nacional, nos últimos seis anos, deram sua bela e importante contribuição para a FSJC. Deus ilumine a todos vocês. Nosso muito obrigado!
Apresentamos o Boletim das Fraternidades sob o nº 171, o primeiro deste ano de 2024. Nele, “degustaremos” o conteúdo das oito meditações do nosso retiro anual, que aconteceu no Centro de Convivência Mãe do Bom Conselho, das irmãs Agostinianas Missionárias, em Jundiai SP, nos dias 23 a 30 de janeiro de 2024. Retiro este, que contou de forma partilhada, com a colaboração de alguns membros das nossas Fraternidades. E no dia 30 de janeiro, se realizou a assembleia da Fraternidade Sacerdotal “Jesus Charitas”.
Esperamos que a leitura atenta e orante, deste boletim possa nos ajudar a ser mais “enxertados” no espírito que a FSJC nos propõe. Sempre atentos aos meios que ela sugere para o maior crescimento e fortalecimento das fraternidades locais, alicerce que fundamenta nossa mística e espiritualidade, sempre sob a intercessão de São Carlos.
Recordemos nossa agenda para o próximo ano: retiro anual em Florianópolis SC, dias 6 a 13 de janeiro de 2025. Ainda estamos definindo o pregador e localização do retiro. A assembleia internacional que acontecerá em Buenos Aires Argentina, dias 14 a 30 de janeiro de 2025. Portanto, o mês de Nazaré foi adiado para janeiro de 2026.
Que a vida, obra, testemunho missionário de São Carlos, que está nas origens da Fraternidade, nos inspirem cada vez mais a viver a Fraternidade e a Amizade Social, pois em Cristo somos irmãos e irmãs.
Que as alegrias da Pascoa, renovem nosso entusiasmo para construir um mundo mais humano, onde as divisões sejam superadas! “Que vossa Igreja seja testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz, para que a humanidade se reanime com uma nova esperança” (Cf. Oração Eucarística IV).
Com votos de boa leitura, o meu abraço cheio de Fra-Ternura pascal a todos vocês.
Em tempo: Expresso em nome dos meus 11 irmãos da família “Moura Lima” nosso agradecimento pelos inúmeros votos de pesar de todos vocês, por ocasião do falecimento da minha querida mãe Juracy de Moura Lima, em 29 de fevereiro, aos 84 anos. Após receber os sacramentos, ela fez sua Páscoa definitiva, depois viver vários anos de sofrimento, por último, vítima de insuficiência pulmonar aguda. Teve uma vida marcada por “dores e alegrias”, “lutas e vitórias”. Pode deixar três de seus filhos para a Igreja, todos atuando como párocos: Pe. Aureliano, Missionário Sacramentino de Nossa Senhora, reside no Bairro Pro-Morar em Teresina PI e Frei Gabriel Frade Menor Missionário, que mora em Toledo PR e eu, o irmão mais velho.
O Retiro anual da Fraternidade Sacerdotal do Brasil aconteceu nos dias 23 a 30 de janeiro na cidade de Jundiaí – SP. No dia 29 realizou-se a Assembleia eletiva, que acontece a cada seis anos, conforme o Diretório e Estatuto, pois findou o tempo do Pe. Carlos Roberto dos Santos como responsável nacional.
Este ano o retiro foi um pouco diferente, primeiro porque, atipicamente, só participaram 27 pessoas. Segundo, porque o Pe. Antônio Reges Brasil, que seria o pregador, não pode fazê-lo por orientações médicas. Como a notícia chegou em outubro, não houve tempo hábil para convidar outro orientador para o retiro, e organizamos uma equipe de padres da Fraternidade, coordenada pelo Pe. Carlos Roberto dos Santos, para pregar o retiro. Escolhemos os temas para cada meditação a partir das decisões da primeira parte do Sínodo da Sinodalidade, conforme segue:
A introdução ao Retiro e primeira meditação foram feitas pelo Pe. Carlos e teve como tema: Carlos de Foucauld, um irmão inacabado: a partir da caminhada de Carlos de Foucauld e sua herança espiritual motivou a vivência de todos os outros temas, tendo em vista os desafios atuais na caminhada eclesial.
Na 2ª na meditação Dom Eugênio Rixen partilhou sobre a Sinodalidade como novidade, apresentando vários aspectos polêmicos da Carta do Sínodo, nos ajudando a meditar sobre esta realidade.
Pe. Willians Roque de Brito fez a 3ª meditação, ajudando-nos atualizar um tema importante de nossa espiritualidade: “Apostolado da Bondade: Uma Igreja sinodal em missão", valorizando a contribuição de todos os batizados, na variedade de suas vocações.
Na 4ª meditação Dom Eugênio Rixen trabalhou o tema: “Tecendo laços, construindo fraternidade e comunhão" a partir da fraternidade universal, proposta em nossa Fraternidade.
A 5ª meditação, feita pelo Irmãozinho Lindolfo Euqueres, ajudou-nos a meditar sobre uma verdade muito cara para todos nós: “os pobres são os protagonistas do caminho da igreja”. Deu um excelente testemunho da inserção dos irmãozinhos no mundo, no meio dos pobres.
Na 6ª meditação, Pe. Gildo Nogueira Gomes, a partir da Fratelli Tutti, nos ajudou a rever o Profetismo da Igreja, diante de um individualismo que se volta contra si mesmo, um populismo que divide o povo, criando ódio contra o irmão, e uma globalização que homogeneíza os pobres e uniformiza a exploração e diminuição de qualidade de vida do ser humano.
Na 7ª meditação, o Pe. Willians Roque de Brito nos ajudou a enfrentar a “missão no ambiente digital”, muitas vezes falso, mas também um novo areópago onde podemos testemunhar a espiritualidade de São Carlos de Foucauld e ajudar na caminhada da Igreja em nosso tempo. A grande questão: como poderemos contribuir neste ambiente digital, de forma segura tanto para nossa existência humana e ministerial, como para ajudar no crescimento dos outros? É necessário treinamento e acompanhamento de missionários digitais e a criação de redes.
Na 8ª meditação, Pe. Carlos Roberto dos Santos nos ajudou a meditar a questão da “Ansiedade, depressão e suicídio na vida do povo, especialmente do clero”. A partir de dados concretos sobre alto índice de suicídio no clero no Brasil; a colaboração da psicologia e da neurociência, apresentou como princípio curativo, do corpo e da alma, a amizade com Jesus e com os irmãos vivida a partir do apostolado da bondade, na gratuidade da vida. A amizade verdadeira permite aos irmãos conversarem, sem medo, sobre suas alegrias e esperanças.
Estava prevista, numa manhã até o almoço, uma roda de conversa com o Pe. Júlio Lancelloti. Ansiávamos ouvi-lo partilhando seu testemunho de vida, mas ele não pode vir. De última hora seus advogados reuniram-se com ele para preparar sua defesa diante da perseguição e das acusações constantes que vem sofrendo devido ao seu trabalho com os irmãos e irmãs em situação de rua. Mas valeu a intenção da semente.
No dia 29, instaurou-se a Assembleia eletiva da Fraternidade Sacerdotal Jesus + Caritas no Brasil. Pe. Carlos, responsável nacional, apresentou e leu as orientações e procedimentos para a eleição previstas no Diretório e Estatuto da Fraternidade. Ele apresentou estas mesmas orientações, durante o ano 2023, nos encontros das diversas fraternidades das seis regiões do Brasil.
Num primeiro turno da eleição, cada regional indicou três nomes de irmãos de todo o Brasil para assumirem o cargo de Responsável Nacional nos anos 2024-2029. Os três mais votados foram: Pe. José de Anchieta Moura Lima, da Arquidiocese de Juiz de Fora/MG, Dom Edson Tasqueto Damian, bispo emérito da Diocese de São Gabriel da Cachoeira/AM e Pe. Willians Roque de Brito, da Diocese de Marilia/SP. Foi eleito com unanimidade de votos, o Pe. José de Anchieta Moura Lima, da Arquidiocese de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais. Ele foi consultado pelo Pe. Carlos Roberto dos Santos e após o aceite, como já havia aprovação verbal de seu bispo, tomou posse imediatamente do cargo, assumindo a coordenação da Fraternidade Sacerdotal Jesus + Caritas como o Responsável Nacional pelo período de 2024 a 2029.
Goiás, 21 de fevereiro de 2024
Pe. Carlos Roberto dos Santos
Por Pe. Carlos Roberto dos Santos
Responsável Pan-Americano – Goiás/GO
1. Acolhida e apresentação dos participantes
✓ Apresentação dos participantes
✓ Apresentação da programação do Retiro
✓ Motivação deste retiro que estará diferenciado
Pe. Antônio Regis, nosso pregador para 2024, não poderá estar conosco por causa do problema de saúde. Está fazendo sessões de quimioterapia e o médico o aconselhou a não viajar. Portanto, o Conselho da Fraternidade, reunido em agosto de 2023, confiou-me (Pe. Carlos) a missão de organizar uma equipe com membros da Fraternidade para juntos, pregarmos o retiro.
1. Introdução ao Retiro e primeira meditação: Pregador: Carlos Roberto dos Santos
Tema: Carlos de Foucauld, um irmão inacabado: a partir da caminhada de Carlos de Foucauld e sua herança espiritual (de Nazaré, do último lugar, de acolhida de todos e da fraternidade universal) motivar a vivência de todos os outros temas, tendo em vista os desafios atuais na caminhada eclesial.
2. Segunda meditação: Pregador: Dom Eugênio Rixen
Tema: Sinodalidade como novidade? Uma experiência vivida e enriquecedora, um tempo intenso de grande escuta, não só de um continente, mas dos cinco continentes e das Igrejas Orientais, uma experiência repetitiva, mas ao mesmo tempo valiosa e enriquecedora".
3. Terceira meditação: Pregador: Willians Roque de Brito Tema: “Apostolado da Bondade: Uma Igreja sinodal em missão", à luz da espiritualidade de São Carlos de Foucauld, que valoriza a contribuição de todos os batizados, na variedade de suas vocações.
4. Quarta meditação: Pregador: Dom Eugênio Rixen
Tema: "Tecendo laços, construindo fraternidade e comunhão": A partir da nossa espiritualidade, como criar um conjunto de processos e uma rede de órgãos que permitem, de um lado, ajudar os ministros ordenados a viverem mais integrados consigo mesmo e com uma Igreja pobre e servidora.
5. Quinta Meditação: Pregador: Irz. Lindolfo Euqueres
Tema: Os pobres são os protagonistas do caminho da Igreja, e eles pedem amor à Igreja, ou seja, respeito, aceitação e reconhecimento, sem vê-los como objetos de caridade, superando o assistencialismo e insistindo em um melhor conhecimento da Doutrina Social da Igreja.
6. Sexta Meditação: Pregador: Gildo Nogueira Gomes
Tema: Profetismo da Igreja diante de um individualismo que se volta contra si mesmo, um populismo que divide o povo, criando ódio contra o irmão, e uma globalização que homogeneíza os pobres e uniformiza a exploração e diminuição de qualidade de vida do ser humano.
7. Sétima meditação: Pregador: Willians Roque de Brito Tema: A missão no ambiente digital é uma dimensão crucial do testemunho da Igreja na cultura contemporânea, é necessário compreendê-la. Somos convidados a contribuir para um ambiente digital que seja seguro e que constitua uma experiência de crescimento para aqueles com quem nos comunicamos. O que a espiritualidade de São Carlos de Foucauld pode colaborar? Propõe-se o treinamento e o acompanhamento de missionários digitais e a criação de redes. 8. Oitava meditação: Pregador: Carlos Roberto dos Santos Tema: Ansiedade, depressão e suicídio na vida do povo, especialmente do clero - busca da paz
9. Nona Meditação: Esperava-se a conversa com o Pe. Júlio Lancelloti
“Deus chama a gente pra um momento novo!”
Quem faz o Retiro: não é o pregador. É você mesmo.
• Colocando-se na presença de Deus e permanecendo lá apesar das tentações
• Enfrentando-se: tendo coragem de olhar-se verdadeiramente como você é e como tem vivido.
• Discernindo quais desejos e motivações interiores têm dominado em suas escolhas cotidianas: o que eles te levam a escolher – coisas boas? coisas questionáveis? ou coisas ruins?
• Discernindo se você está fazendo a vontade de Deus, ou a sua vontade. Se a sua confiança em Deus é maior que a confiança em si mesmo.
Retiro é imitar nosso Bem-amado Senhor Jesus, diante de Deus, em meditação e oração:
Retirou-se para o deserto, onde foi tentado pelo Satanás. (Mc1,12-13) Retirou-se para o outro lado do lago, onde procurou descansar, mas não deu (Mt 14,22-23).
Retirou-se para a montanha para tomar decisão: escolher os doze (Lc 6,12-13)
Retirou-se para o Monte Tabor, mostra a glória para aceitar a cruz. (Lc 9,28-36)
Retirou-se para o Monte das Oliveiras, no Jardim do Getsêmani entrou em agonia (Mt 26,36-42; Mc 14, 32-36; Lc, 22,39-44)
Retirou-se deste mundo para o Pai como gesto supremo de amor. (Lc 24, 50-52)
Para nós o retiro será um momento oportuno de, imitando Jesus, a exemplo do Irmão Carlos, fazer:
Re-tiro: tirar de novo a água da fonte!
Re-visão: ver de novo a Deus!
Re-conhecimento: conhecer de novo a presença de Deus na vida! Re-colhimento: colher de novo os frutos da justiça!
Re-flexão: dobrar-se de novo diante da grandeza e da ternura de Deus Re-forço: força de novo a entrada para dentro de si!
Re-ação: agir de novo a partir do novo começo!
Re-cordação: fazer passar de novo pelo coração toda a vida do povo sofrido! Re-união: unir de novo a comunidade!
Re-creio: criar de novo a vida como Deus sonhou!
Meios que podem te ajudar:
✓ a disposição íntima de querer fazer um bom retiro espiritual. ✓ o silêncio interior e exterior é necessário para o retiro produzir bons frutos em sua vida. Por isso, peça a Deus a graça de esvaziar-se completamente de todas as preocupações e problemas cotidianos para deixar-se preencher e moldar-se pela vontade de Deus.
✓ A oração como resposta a Deus (fazer sua vontade).
Você está para iniciar a sua oração? Deus fala no profundo do seu coração! É preciso dispor-se para acolher a Sua voz, ou seja, é preciso abrir espaço em sua vida para escutá-lo. Tente fazer coisas simples que talvez, no início, te custarão um pouco .... mas ao final vão te ajudar, e muito.
✓ acalma-te ... diante de Deus ... na espera de Deus
✓ coloque-se em atitude de escuta ... um olho/ouvidos na vida e outro olho na Palavra de Deus
✓ siga a voz de Deus ... meditação pessoal sobre a Palavra;
✓ conversão - abra seu espírito ao Espírito que nos transforma e nos faz filhos(as) e irmãos(ãs).
✓ seja seu seguidor(a)... (avaliar sua vida à luz da Palavra e oração)
O Papa Francisco propõe uma Igreja viva, seguidora do Bem-amado Mestre Jesus e, por causa de Jesus e do Evangelho, uma igreja sensível às dores das pessoas, e amorosa em sua ação com eles e por eles. E propõe, desde o início de seu ministério petrino, que sejamos uma Igreja em saída, que vá a
todas as periferias existenciais da vida, para ajudar a reerguer e reintegrar o ser humano na festa da vida, aqui e agora, e, com a graça de Deus, na vida eterna. Cheio de ânimo, apesar das dificuldades, o papa tem avançado e propôs um caminhar juntos numa Igreja Sinodal. Quantas coisas boas têm surgido deste “caminhar juntos”, no entanto, o que vemos à nossa volta: no mundo, ódio, dominação e guerras; na igreja, ódio, dominação e guerras.
Dia destes alguém, num grupo de WhatsApp, disse a maioria dos leigos pensantes do passado já não estão mais na Igreja. Eles migraram para as universidades e projetos sociais ou políticos do país. E dos que estão dentro da Igreja, uns 80% dos leigos estão doentes, vivendo no “mundanismo” uma religião de devoção, descompromissada com a vida, não raramente hedonistas e relativistas, na maioria das vezes, usando-a como fuga. A vida religiosa e consagrada, tanto quanto a vida dos ministros ordenados, também não está muito diferente disso. A preocupação com a saúde mental dos nossos padres e religiosos, tão escondida, mas discutida superficialmente, nos últimos tempos, nos mostra que uma grande maioria dos padres jovens, e de consagrados, e consagradas, estão utilizando a Igreja para sua promoção pessoal, principalmente nas redes sociais. E, por isso, entre outros fatores, motivos, muitos padres, religiosos e religiosas estão desanimando na caminhada.
Nossa igreja distanciou-se dos pobres e está parecendo um sanatório. Muitos que alcançam um certo nível de consciência do caminho escolhido e a máscara cai, nem sempre conseguem ver saída e acabam tirando a própria vida.
A estória de um Cacique: velho, cansado, que deverá entregar a coordenação da Aldeia a um filho, mas eles eram três e ele precisava decidir para qual iria deixar esta missão. Então, propôs um desafio para que eles lhe trouxessem “ideias” e quem apresentasse a melhor ideia seria escolhido o futuro cacique. E assim aconteceu: O primeiro filho, depois de muito procurar, encontrou algo que poderia agradar seu pai, e trouxe-lhe uma flor de rara beleza, difícil de se encontrar. O segundo filho, andou por todo lugar, e também querendo agradar seu pai, trouxe-lhe uma pedra preciosa de bom tamanho. Já o terceiro filho também andou e procurou muito, mas chegou com as mãos vazias, e disse ao pai: eu andei, subi ao mais alto da montanha, olhei para trás e vi a tristeza do povo, passavam necessidades por causa dos rios poluídos e das florestas devastadas; olhei além do horizonte e vi novos rios, lagos, florestas cheias de vida e de animais. Gostaria de ajudar meu povo subir até lá. Há um horizonte de vida! É isto que desejo para nosso povo! O velho cacique sorriu e indicou este filho para ser o próximo cacique da aldeia.
Por Pe. Carlos Roberto dos Santos
Responsável Pan-Americano – Goiás/GO
O Irmão Carlos de Foucauld, o apóstolo dos tuaregs e eremita do Saara, foi, principalmente depois da sua conversão, um buscador permanente de Jesus de/em Nazaré1. Em seu itinerário de vida, o silêncio foi um grande caminho para escutar: escutar a voz de Deus; escutar os Evangelhos, escutar a si mesmo; escutar os santos amigos de Deus2e escutar os anseios do povo no lugar onde estava.
O retiro silencioso foi um dos meios de perseverança e progresso da vida espiritual a que recorreu Carlos de Foucauld. Ele fez quatro retiros antes de entrar na Trapa. E fazia retiro todos os anos, pois era apaixonado pela solidão e desejava ardentemente estes momentos a sós com o Bem-amado. Foi no silêncio que viveu a imitação escondida de Nazaré. Foi no silêncio que mudou muitas vezes o rumo de sua vida, pois assim que percebia estar longe da vontade do Bem-amado, procurava escutar o que Deus queria e, novamente, lá ia o Irmão Carlos aventurar-se em mais um rebaixamento de sua vida, imitando Jesus.
O silêncio é necessário para o retiro produzir bons frutos na vida do retirante. Por isso, peça a Deus a graça de esvaziar-se completamente de todas as preocupações e problemas cotidianos para deixar-se preencher e moldar-se pela vontade de Deus. No silêncio, na contemplação e na meditação da Palavra de Deus, busque respostas para sua vida nos dias atuais.
Foi no silêncio e na solidão que Elias ouviu a voz de Deus, na suavidade de uma brisa
1Rs 19,11-13 “E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos: “Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar”. Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos. Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento, houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo, ouviu se um murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isso, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs- -se à entrada da gruta”
Muitos outros profetas, na contemplação e em recolhimento, sentiram o chamado de Deus e deixaram-se impregnar pelo Espírito, adquirindo forças para sua missão: Isaías, Esdras, Neemias, Jeremias, Amós, Oseias, João Batista e o próprio Jesus, lutaram pela libertação do povo judeu, pela ascensão dos pobres e pela partilha do pão.
Sabedoria 18, 14-15: “enquanto um profundo silêncio envolvia todas as coisas e a noite ia no meio de seu curso, desceu do céu, ó Deus, de seu trono real, a vossa Palavra toda poderosa”. O silêncio da criatura, diante do criador, é um silêncio de adoração, respeito e atitude de discípulo que escuta.
Habacuc 2,20: “o Senhor está em seu santuário: silêncio em sua presença, ó terra inteira”. Silêncio para estar atento à Palavra. Zacarias 2, 17: “eis que venho morar em teu meio... silêncio! Toda criatura se encontra diante do Senhor! Ele desperta e sai de sua morada santa”.
Isaias 41,1: “fazei silêncio diante de mim”; Sofonias 1,7: “silêncio diante do Senhor”;É o silêncio para confrontar: projeto de Deus e o nosso!
Marcos 1,35: “Bem cedo, levantando-se antes do amanhecer, Jesus saiu e foi a um lugar deserto e lá ficou em oração”. Jesus retirava-se no silêncio da noite para encontrar-se com seu Pai em oração!
A oração de Jesus era silenciosa: Jesus se afastava muitas vezes das multidões que o seguia e retirava-se para lugares desertos onde pudesse entregar-se à contemplação, ficando a sós com o Pai. Antes de iniciar a sua vida pública, recolheu-se num deserto, onde sua natureza humana foi posta à prova, sem que o demônio a pudesse dominar. Antes de escolher seus discípulos, passou a noite inteira em oração. Antes de oferecer-se na Cruz para nos salvar, viveu a “noite escura” no jardim das Oliveiras, para conformar a vontade do Pai com a sua vontade. A oração silenciosa o ajudava a compreender sua missão: ele não era contra qualquer rico, nem a favor de qualquer pobre. Suas parábolas mostram que exigia partilha, mas não aceitava nem os ricos nem os pobres acomodados. Todos tinham que trabalhar, cooperar e partilhar. Exigiu igualdade, direito humanos e justiça sociais. Aceitava autoridades, mas não se curvava a elas:
Nos Evangelhos, vemos que o silêncio fazia parte da vida de Maria:
Lucas 2,19: “Maria, porém, guardava todos esses acontecimentos, meditando-os em seu coração”. No silêncio do ambiente e do coração, longe dos rumores da vida humana e social, podemos ser discípulos, ouvintes da palavra e dos projetos do Senhor. Maria, a mãe de Jesus, foi modelo de discípula. Ela “guardava silêncio de seu coração” procurando entrar no mistério de Deus para compreender os acontecimentos cotidianos.
Os discípulos de Jesus o imitam:
Lucas 10,41-42: “Marta, Marta, tu andas preocupada e agitada por muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.” O retiro é tempo propício para o silêncio diante de Deus. Maria, irmã de Marta, como discípula aos pés de Jesus” escolheu a melhor parte. É necessário retirar-se, fazer silêncio, meditar e abrir-se para Deus para confrontar nossa vida com tudo o que Deus nos chama, nos propõe e envia. Sejam, estes próximos dias: de recolhimento, de oração e de meditação.
Os discípulos de Jesus observaram seus hábitos de oração. Eles o viram frequentemente procurando um lugar deserto ou isolado para estar a sós e falar com seu Pai. Numa dessas ocasiões, eles pediram para Jesus: "Senhor, ensina-nos a orar" (Lucas 11,1). Jesus fez como eles pediram e os ensinou como rezar, tanto por suas palavras como por seu exemplo. Ensinou-os Jesus, com seu testemunho, a gastar um tempo precioso ficando a sós consigo mesmo e com Deus;
Os Apóstolos, no Cenáculo, rezaram por nove dias, na oração e no silêncio, esperando a manifestação do Espírito Santo. “Chegando o dia de Pentecostes estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados.” (Atos 2,1-2)
O silêncio e o recolhimento na oração foram e são marca constante na Igreja, desde o Antigo Testamento;
Os eremitas fugiam das concupiscências da carne e da soberba da vida, indo para o deserto onde entregavam-se ao conhecimento de si próprios e à união com Deus, para irradiarem a vida na Igreja com sua sabedoria.
O irmão Carlos foi um amante do silêncio. Na leitura e meditação do evangelho, na celebração eucarística e na adoração, ficava horas e horas a sós com seu Bem-amado, contemplando-O. Foi assim que Irmão Carlos tornou se contemplativo na ação. Compreendeu que a mesma boca que disse: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19) também é a mesma que disse: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40).
Este itinerário de amor o levou a encontrar o mesmo Bem-amado da Eucaristia e da Palavra no irmão, e principalmente nos últimos dos últimos.
A Igreja de Jesus passou por muitas turbulências neste dois séculos de sua existência. E passa por um grande vendaval, que a está abalando neste momento. É preciso ter os pés firmes no chão da nossa história e os olhos fixos em Jesus, para assumirmos a nossa missão, sem falsas ilusões, e continuarmos colaborando ativamente na construção do Reino de Deus.
O Papa Francisco nos pede insistentemente, com amor e ardor, que sejamos uma Igreja viva, seguidora do Bem-amado Mestre Jesus e, por causa de Jesus e do Evangelho, uma igreja sensível às dores das pessoas, e amorosa em sua ação com eles e por eles. Esta proposta não é nova, e nos leva a imitar Jesus, que vivia no meio do povo; nos leva a ser uma Igreja em saída, que vá em todas as periferias existenciais da vida, para ajudar a reerguer e reintegrar o ser humano lá onde ele estiver caído, para que possa participar da festa da vida, aqui e agora, e, com a graça de Deus, na vida eterna.
Cheio de ânimo, apesar das dificuldades e perseguições, o Papa Francisco tem avançado nesta proposta. Nos últimos tempos convidou-nos a fazer um caminhar juntos, com proximidade, escutando-nos uns aos outros, aqui e ali, numa Igreja Sinodal. E quantas coisas boas têm surgido deste “caminhar juntos”. No entanto, apesar disso, o que vemos à nossa volta: no mundo? ódio, dominação e guerras; e na igreja? ódio, dominação e guerras.
Dia destes, num grupo de WhatsApp dos “padres da caminhada”, alguém disse que a maioria dos leigos pensantes do passado já não está mais na Igreja. Eles migraram para as universidades e projetos sociais ou políticos do país, ou simplesmente abandonaram a Igreja. E dos que estão dentro da Igreja, uns 80% dos leigos estão doentes, na maioria das vezes usando-a como fuga, vivendo no “mundanismo” uma religião de devoção, descompromissada com a vida, não raramente hedonista e relativista. Na vida religiosa e consagrada, e dos ministros ordenados, a realidade não está muito diferente disso. A preocupação com a saúde mental dos nossos padres e religiosos, tão escondida, e só discutida superficialmente, nos últimos tempos, nos faz ver que uma grande maioria dos padres jovens, e de consagrados e consagradas, está utilizando a Igreja para sua promoção pessoal, principalmente nas redes sociais. E isso, acrescido de outros fatores, leva muitos padres, religiosos e religiosas a desanimarem da caminhada, e até mesmo de sua própria vida.
Nossa igreja distanciou-se dos pobres e está parecendo um sanatório. Todos os que querem seguir o Senhor sabem que a oração é parte essencial da vida do discípulo. Mas, às vezes a oração parece uma luta para falar com Deus. A oração não é tão simples e nem sempre está em nossa boca, em nosso coração e em nosso ser como expressão fácil e confortável de nossa fé e confiança em Deus.
Muitos não alcançam uma compreensão consciente do caminho escolhido, e, vivem num mundo “fantasioso”. Quando a máscara cai, nem sempre conseguem ver saídas, e acabam perdendo o sentido do seu caminhar e de sua vocação. Muitos, sem rumo nem direção, acabam tirando a própria vida.
Que o silencio vivido por Irmão Carlos nos ajude a viver verdadeiramente em silêncio neste retiro, e nos ajude a recentralizar nossas esperanças e a nossa própria vida. Nos ajude a voltarmos ao essencial: Jesus, a meditação do Evangelho, a Eucaristia e adoração. E por causa de Jesus e do Evangelho, a serviço dos mais pobres, os últimos dos últimos, que encontrarmos em nossa caminhada de vida.
Tudo por causa de um grande amor (bis)
Tudo ... tudo ... por causa de um grande amor.
Por causa .... de um grande amor.
1 Em seus escritos não vemos a preocupação de quem escreve um livro. Neles estavam, de maneira simples, a sua maneira de ser, pensar e agir. Encontramos apenas a oração habitual e familiar de alguém que busca a Deus incessantemente. René Bazin leu todos os seus escritos e afirma: “Examinei um número imenso de páginas escritas por Charles de Foucauld no intervalo entre sua conversão e sua morte e nada encontrei que não fosse infinitamente puro ... Isto leva-nos a crer que Charles de Foucauld, o oficial de caçadores em África, foi objeto de uma graça extraordinária, no dia em que entrou de imprevisto no confessionário do padre Huvelin” (Cf. Foucauld, Charles. Textos Espirituais. Tradução do Francês por Silvia Ferreira. Editora Coimbra, 1958, p. 18)
2Irmão Carlos lia a vida dos santos, de maneira especial: São João Crisóstomo, São Bernardo de Claraval, Santa Tereza e São João da Cruz, e esforçava-se para aplicar em sua vida os conselhos e a doutrina que encontrava na vida deles. (Cf. Foucauld, Charles. Textos Espirituais. Tradução do Francês por Silvia Ferreira. Editora Coimbra, 1958, p. 12).
Por Dom Eugenio Rixen
Bispo Emérito de Goiás – Goiás/GO
UMA IGREJA SINODAL EM MISSÃO
Nesta Meditação, Dom Eugenio trouxe trechos do Relatório de Síntese do Sínodo para ajudar a reflexão da construção da sinodalidade na Igreja e seus desafios. Eis trechos do texto meditado:
Um terceiro passo consiste no esforço pastoral por valorizar todas as formas de oração comunitária sem se limitar apenas a oração da Missa. Outras experiências da oração litúrgica, como também as práticas da piedade popular, na qual se espelha o gênio das culturas locais, são elementos de grande importância para favorecer o envolvimento de todos os fiéis, para introduzir gradualmente no mistério cristão e para aproximar ao encontro com o Senhor que tiver menos familiaridade com a Igreja. Entre as formas de piedade popular, destaca-se particularmente a devoção mariana, pela sua capacidade de sustentar e alimentar a fé de muitas pessoas (3. m).
Que a experiência do encontro, da partilha de vida e do serviço aos pobres e aos marginalizados se torne parte integrante de todos os percursos formativos oferecidos pelas comunidades cristãs: trata-se de uma experiência de fé, não de uma opção. Isto vale em particular para os candidatos ao ministério ordenado e à vida consagrada (4. o).
É necessária uma renovada atenção à questão das linguagens que utilizamos para falar às mentes e aos corações das pessoas numa grande diversidade de contextos, num modo que seja acessível e belo... Recomendamos um renovado compromisso no diálogo e no discernimento em matéria de justiça racial. É necessário identificar os sistemas que criam ou mantém a injustiça racial dentro da Igreja e combatê-los. Que se dê vida a processos de cura e de reconciliação para erradicar o pecado do racismo, com a ajuda daqueles que sofrem as suas consequências. (5.1 e 5.q).
Percebe-se a necessidade de uma maior criatividade na instituição de ministérios tendo por base as exigências das Igrejas locais, envolvendo de modo particular os jovens. Pode-se pensar em ampliar ainda mais as tarefas atribuídas ao ministério instituído do leitor, que, já hoje, não se limitam ao papel que desempenham durante as liturgias. Deste modo, poder-se-ia configurar um verdadeiro ministério da Palavra de Deus, que, em contextos apropriados, poderia incluir também a pregação. Explore-se também a possibilidade de instituir um ministério a conferir a casais comprometidos em apoiar a vida familiar e a acompanhar as pessoas que se preparam para o sacramento do matrimônio (8.n).
É urgente garantir que as mulheres possam participar nos processos de decisão e assumir papeis de responsabilidade na pastoral e no ministério. O Santo Padre aumentou de modo significativo o número de mulheres em posições de responsabilidade na Cúria Romana. O mesmo deveria acontecer nos outros níveis da Igreja. Consequentemente, é necessário adaptar o direito canônico... Considere-se, avaliando caso a caso e conforme os contextos, a oportunidade de inserir presbíteros que deixaram o ministério num serviço pastoral que valorize a sua formação e a sua experiência (9.m e 11.1).
A formação dos ministros ordenados deve ser pensada de forma coerente com uma Igreja sinodal, nos diferentes contextos. Isto requer que, antes de realizarem caminhos específicos, os candidatos ao ministério tenham amadurecido uma real, embora inicial, experiência de comunidade cristã. O caminho formativo não deverá criar um ambiente artificial, separado da vida comum dos fiéis. Salvaguardando as exigências da formação ao ministério, deverá favorecer um autêntico espírito de serviço ao Povo de Deus na pregação, na celebração dos sacramentos e na animação da caridade. Isto poderá exigir uma revisão da Ratio Fundamentalis para os sacerdotes e os diáconos permanentes (14.n).
Entre as questões sobre as quais é importante continuar a reflexão, conta-se a da relação entre amor e verdade e as repercussões que ela tem sobre muitas questões controversas. Ainda antes de ser um desafio, esta relação é, na realidade, uma graça que habita a revelação cristológica. Com efeito, Jesus levou à plenitude a promessa que se lê nos Salmos: O amor e a verdade vão
se encontrar, vão-se beijar a paz e a justiça. Da terra há de brotar a verdade, e a justiça espreitará do céu (S185,11-12) (15.d).
As páginas do Evangelho mostram que Jesus se encontra com as pessoas na unicidade da sua história e da sua situação. Ele nunca parte de preconceitos ou de rótulos, mas de uma relação autêntica na qual Ele se envolve com todo o seu ser, mesmo sob o prejuízo de ficar expostos à incompreensão e à rejeição. Jesus escuta o grito de ajuda de quem passa necessidade, mesmo quando fica por se exprimir, realiza gestos que transmitam amor e restituem confiança; com a sua presença torna possível uma vida nova: quem se encontra com Ele, sai transformado. Isto acontece porque a verdade que Jesus é portador não é uma ideia, mas é a própria presença de Deus no meio de nós; e o amor que atua não é apenas um sentimento, mas a justiça do Reino que muda a história (15.e).
A dificuldade que encontramos para traduzir esta límpida visão evangélica em opções pastorais é sinal da nossa incapacidade de viver à altura do Evangelho e recorda-nos que não podemos apoiar quem precisa de ajuda, a não ser através da nossa conversão, pessoal e comunitária. Se utilizarmos a doutrina com dureza e com atitude de quem julga, traímos o Evangelho; se praticarmos uma misericórdia barata, não transmitimos o amor de Deus. A unidade entre verdade e amor implica que nos encarreguemos das dificuldades do outro até as fazermos nossas, como acontece entre verdadeiros irmãos e irmãs. Por isso mesmo, esta unidade só pode ser realizada se seguirmos com paciência o caminho do acompanhamento (15.f).
Algumas questões como as relacionadas com a identidade de gênero e a orientação sexual, com o fim da vida, com as situações matrimoniais difíceis, com os problemas éticas ligadas à inteligência artificial, são controversas não só na sociedade, mas também na igreja, porque colocam questões novas. Por vezes, as categorias antropológicas que elaboramos não são suficientes para colher a complexidade dos elementos que emergem da experiência ou do saber das ciências e requerem afinamento e estudo ulterior. É importante tomar o tempo necessário para esta reflexão e nela investir as melhores energias, se ceder a juízos simplificadores que ferem as pessoas e o Corpo da Igreja. Muitas indicações já foram apresentadas pelo Magistério e estão à espera de ser traduzidas em iniciativas pastorais apropriadas. Mesmo nos casos em que forem necessários ulteriores esclarecimentos, o comportamento de Jesus, assimilado na oração e na conversão do coração, indica-nos o caminho a seguir (15.g).
Dirigem-se à Igreja à procura de escuta e acompanhamento também de pessoas que sofrem diferentes formas de pobreza, exclusão e marginalização dentro da sociedade na qual cresce inexoravelmente a desigualdade. Escutá las permite à Igreja dar- se conta do seu ponto de vista e colocar-se concretamente ao seu lada, sobretudo deixar-se evangelizar por elas. Agradecemos e encorajamos as pessoas comprometidas no serviço de escuta e acompanhamento de todos os que se encontram na prisão e precisam particularmente de experimentar o amor misericordioso do Senhor e de não se sentir isolados da comunidade. Em nome da Igreja eles realizam as palavras do Senhor; "estava na prisão e fostes ter comigo" (Mt 25,36) (16.1).
Difusas em muitas partes do mundo, as comunidades de base ou pequenas comunidades cristas favorecem as práticas de escuta dos batizados. Somos chamados a valorizar o seu potencial, examinando também como seria possível adaptá-las aos contextos urbanos (16.m).
O que devemos mudar para que as pessoas que se sentem excluídas possam experimentar uma Igreja acolhedora. A escuta e o acompanhamento não são apenas iniciativas individuais, mas constituem uma forma de agir eclesial. Por isso mesmo, devem encontrar lugar dentro da promoção pastoral ordinária e da estruturação operacional das comunidades cristãs aos vários níveis, valorizando também o acompanhamento espiritual. Uma Igreja sinodal não pode renunciar a ser uma Igreja que escuta e este compromisso deve traduzir-se em ações concretas (16.n).
Há muitas iniciativas online, de grande valor e utilidade, ligadas à Igreja, que fornecem uma excelente catequese e formação para a fé. Infelizmente, há também alguns sites nos quais as temáticas ligadas a fé são tratadas de forma superficial, polarizada e até cheio de ódio. Como Igreja e, pessoalmente, como missionários digitais temos o dever de nos interrogarmos como garantir que a nossa presença online continua uma experiência de crescimento para as pessoas com quem comunicamos (17.g).
A composição doa vários Conselhos para o ato de discernir e de decidir de uma comunidade missionária sinodal deve prever a presença de homens e mulheres que tenham um perfil apostólico, que se distinga, antes de mais, não pela frequentação assídua de espaços eclesiais, as por um testemunho evangélico genuíno nas realidades mais comuns da vida. O Povo de Deus será tanto mais missionário, quanto mais for capaz de ressoar em sua, mesmo nos organismos de participação, as vozes de todos os que já vivem a missão habitando o mundo e as suas periferias (18. d)
Por Pe. Willians Roque de Brito
Diocese de Marília – Marília/SP
A conversão de Charles de Foucauld, o eremita do Saara, foi inicialmente marcada pela contemplação da fé de pessoas não cristãs, que professavam o credo islâmico. Sabemos que, depois de ver o modo como os mulçumanos viviam a sua fé e forma como marcavam seus dias, o Ir. Carlos experimentou o apelo profundo de Deus. Era uma voz suave que clamava no interior de seu coração e que o colocava diante de m novo horizonte em sua vida. Poderíamos dizer que, naquele momento, o seu coração iniciou um processo de reabertura a Jesus, a quem chamaria de bem-amado irmão e Senhor, após um período de vida desenfreada. Em uma de suas cartas, ele mesmo testemunha este fato:
O islamismo produziu em mim uma profunda reviravolta [...]. Ver essa fé, essas almas vivendo na contínua presença de Deus fez-me entrever algo maior e mais verdadeiro do que as ocupações mundanas. Comecei a estudar o islamismo e, depois, a Bíblia. (Carta a Henry de Castries, 08/Jul/1901)
Charles de Foucauld sempre foi um homem muito prático, que acreditava bem mais naquilo que via do que naquilo que lhe contavam. Por isso, a experiência de reencontro com o Senhor através dos islâmicos, iniciada antes mesmo de sua conversão, certamente influenciou o seu modo de anunciar o evangelho às pessoas. Já no século XIX, ele estava convencido de que a evangelização não seria suficiente apenas pelas palavras e pela imposição de uma verdade. Anunciar o evangelho, para Charles, era primeiramente, aproximar-se amigavelmente das pessoas. Esta amizade seria vivida de tal maneira que deveria despertar nelas a experiência de Deus. A este estilo de vida, Charles chamava de apostolado da bondade.
Dizia Charles: “Meu apostolado deve ser o apostolado da bondade; ao me verem, as pessoas devem dizer: “Sendo esse homem tão bom, sua religião deve ser boa”. Em outras palavras, a melhor pregação é aquela que “grita o evangelho com a vida”. Essa mentalidade fez o irmão Carlos procurou interpretar e viver o evangelho, procurando ser cada vez mais semelhante a Jesus de Nazaré. Como se vê, esse estilo de vida está em estreita conformidade ao estilo que o próprio Cristo ensinou na Galileia:
Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. “Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu” (Mateus 5,13-16).
Sobre ele, o Papa Francisco afirmou na Audiência de 18 de outubro de 2023:
Desejava que quem o encontrasse visse, por meio de sua bondade, a bondade de Jesus. A bondade é simples e pede que sejamos pessoas simples, que não tenham medo de dar um sorriso. Com o sorriso, com a sua simplicidade irmão Carlos dava testemunho do Evangelho, nunca proselitismo, nunca, mas testemunho. A evangelização não se faz por proselitismo, mas pelo testemunho, pela atração. Por fim, o Papa concluiu, convidou a levar em nós e aos outros "a alegria cristã, a mansidão cristã, a ternura cristã, a compaixão cristã e a proximidade cristã” (FRANCISCO, n.p., 2023).
Durante toda a sua vida, mas especialmente em sua estadia entre os tuaregues, na Argélia, o Ir. Carlos estava convencido de que era necessário evangelizá-los com a bondade, seguindo o exemplo do próprio Jesus. O proselitismo, ainda tão presente no mundo atual, seria mais um entrave que uma solução para apresentar Jesus aos estranhos. Pregar o evangelho como uma verdade através de um conjunto de ideias bem definidas seria afugentar os nativos, como ele os chamava. Em uma de suas orações, ele reconhecia a grande bondade de Deus:
Meu Deus, como sois bom! Como sois bom por amar-nos a ponto de estar em nós, de viver em nós com o vosso amor por nós!” Essa bondade do Senhor lhe indicava o caminho para a evangelização: “Um cristão é sempre terno e amigo de todo ser humano, ele tem por toda pessoa os sentimentos do coração de Jesus: ser caridoso, bondoso, humilde com todos: é isto que nós aprendemos de Jesus. (CHARLES DE FOUCAULD)
Charles de Foucauld não via os nativos como objetos a serem conquistados, mas como pessoas com quem deveria estabelecer relações de amizade, acolhimento, diálogo, serviço. Essa maneira de ver o mundo e as pessoas lhe permitia encarnar-se na realidade onde ele procurou ser um ostensório de Jesus e ajudou-lhe a prestar todos os serviços possíveis aos tuaregues. Quando se pensa em serviço, deve-se recorrer a coisas muito concretas: ser gentil, não pegar em armas, não militar em nome da fé. Somente praticando a brandura de Jesus é que se pode levar cada vez mais pessoas a encontrá-lo. Assim, a bondade, além de uma imitação sincera do bom Mestre, é instrumento profundamente qualificado de evangelização. Inspirados nesse irmãozinho de Jesus e de todas as pessoas, com espírito tão evangélico, pode-se encontrar a medida da bondade para ser cada vez mais semelhante ao Bom Mestre, cultivando no coração os mesmos sentimentos que Ele possuía.
O apostolado da bondade é, portanto, um jeito concreto e eficaz de proclamar o evangelho. Repetindo, não é feito por multiplicação de palavras vazias e muito menos por proselitismo. O missionário é enviado por Jesus como ovelha no meio de lobos. Como cordeiros, eles anunciam com mansidão, não pela força ou imposição. O apostolado da bondade se constitui numa forma verdadeira de sacrificar-se a si mesmo pelo bem de todos, tornando-se irmão de todas as pessoas. Sem esse espírito fraterno, corre-se o risco de se aproximar de todos com ar de superioridade enquanto maior é aquele que se põe a serviço (cf. Lc 22,25s).
Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de
lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês. O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. Vocês serão odiados de todos, por causa do meu nome. Mas, aquele que perseverar até o fim, esse será salvo. Quando perseguirem vocês numa cidade, fujam para outra. Eu garanto que vocês não acabarão de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o Filho do Homem. O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. Para o discípulo basta ser como o seu mestre, e para o servo ser como o seu senhor. Se chamaram de Belzebu o dono da casa, quanto mais os que são da casa dele! (Mateus 10,16-25)
Tornando-nos companheiros de vida das demais pessoas e colaborando em tudo o que é nobre e bom para com elas, fazemos que o evangelho irradie a todos, penetrando-lhes o coração e a vida. Nesta mesma perspectiva, afirma o papa Paulo VI que:
Por força deste testemunho sem palavras, estes cristãos fazem aflorar no coração daqueles que os veem viver, perguntas indeclináveis: Por que é que eles são assim? Por que é que eles vivem daquela maneira? O que é, ou quem é, que os inspira? Por que é que eles estão conosco? (EN, n.21)
“Fazer-se tudo para todos para dar todos a Jesus”, dizia o irmão Carlos, inspirado nas palavras de Paulo aos Coríntios. Vê-se que a sua opção pelos pobres não era uma ideologia ou demagogia. Portanto, ele não queria simplesmente defender essa ideia, mas buscava servir a todos, tendo a clara consciência de que Jesus Cristo era o bem último de sua vida. Colocando-se a serviço dos irmãos, antes mesmo de sugerir o papa Paulo VI, Charles buscava servir neles o próprio Cristo. Toda a sua imitação de Jesus era uma busca incessante pelo próprio Senhor. E isso só se tornava concreto quando se fazia irmão de todos os seres humanos.
Repetindo, ao servir as pessoas, o irmão Carlos procurava servir ao próprio Senhor, porque Jesus ensina: “tudo o que você faz ao menor dos meus irmãos é a mim que está fazendo” (Mt 25,40). Além disso, buscando levar cada uma das pessoas a Jesus e esforçando-se para que elas o encontrassem e o amassem, Carlos mostrava a clara consciência de que fazia tudo para Jesus e, por causa dele, servia aos seus irmãos mais vulneráveis. Assim, sua bondade não era semelhante a um trabalho puramente social, já que “não só de pão vive o homem”. Doutro lado, não se pode alimentar apenas o espírito, é preciso “dar-lhes nós mesmos o que comer”. Seu desejo era transformar as relações para que, em seguida, toda a realidade dos tuaregues fosse renovada, tanto as terrenas quanto as relativas à fé.
Nesse tempo em que nos cabe viver, a ternura e a bondade inspirada por Charles de Foucauld provocam uma evangelização nova ou, ao menos, inspirada na novidade de Jesus. Com o diálogo e a abertura de coração ao outro, tornando-se semelhante aos seus irmãos, o cristão pode estabelecer a cultura do encontro proposta pelo papa, especialmente na encíclica sobre a amizade social. “Irmão Charles está convencido de que a conversação aproxima as pessoas, supera divisões, facilita e possibilita a amizade” (MIGUEL SAVIETO apud. AZEVEDO, 2022). A construção dessa amizade que evangeliza é o reconhecimento de que a unidade é superior ao conflito e à imposição (cf. FT, n.244).
Faz-se necessário compreender que o culto sincero a Deus não deve ser portador de discriminação, ódio e violência. Pelo contrário, tais realidades só ofuscam a visão autêntica do bom e amado Senhor Jesus, pois “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,8), pois quem ama a Deus deve também amar o seu semelhante. “Com efeito, Deus todo poderoso não precisa ser defendido por ninguém e não quer que seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas” (FT, n.285).
Consequentemente, essa fé na bondade de Deus que se irradia pelas boas obras dos cristãos, não está restrita a um grupo de pessoas seletas e privilegiadas, mas todos podem tomar parte desse anúncio. Cada Cristão, agindo como Alter Christus – Outro Cristo – é uma verdadeira lâmpada que pode fazer propagar a luz de Jesus Cristo. Sobre os fiéis leigos, o Relatório de Síntese do Sínodo afirma:
Se a missão é graça que empenha toda a Igreja, os fiéis leigos contribuem de modo vital para a realizar em todos os ambientes e nas situações mais ordinárias de cada dia. São, sobretudo, eles que tornam presente a Igreja e que anunciam o Evangelho na cultura do ambiente digital, que tem um impacto tão forte em todo o mundo, nas culturas juvenis, no mundo do trabalho, da economia e da política, das artes e da cultura, da pesquisa científica, da educação e da formação, no cuidado da casa comum e, de modo particular, na participação na vida pública. No lugar onde estão presentes, eles são chamados a testemunhar Jesus Cristo na vida quotidiana e a partilhar explicitamente a fé com outros. De modo particular, os jovens, com os seus dons e as suas fragilidades, enquanto crescem na amizade com Jesus, fazem-se apóstolos do Evangelho entre os seus contemporâneos. (Relatório de Síntese do Sínodo, 8, d)
A amizade crescente com Jesus leva-nos, consequentemente, a uma amizade solidária com os mais pobres. Fazer amizade significa entrar num processo colegial, sinodal e fraterno, mas com os olhos sempre fixos em Jesus, ondem quer que se apresente para ser servido: na liturgia, na iniciação cristã, na missão e, sobretudo, nos irmãos, especialmente os mais pobres. Uma Igreja que se feche no proselitismo, no colonialismo certamente não corresponde aos anseios de Jesus e, muito menos, das pessoas que dialogam com ela. Apenas o testemunho de uma proximidade gratuita e desinteressada poderá fazer a luz cristã acender e brilhar nos corações.
Portanto, cantemos juntos:
Canto: Cristo, quero ser instrumento
Letra baseada na Oração de São Francisco de Assis
Música: Frei Fabretti
1. Cristo, quero ser instrumento de tua paz e do teu infinito amor: onde houver ódio e rancor, que eu leve a concórdia, que eu leve o amor!
Refrão: Onde há ofensa que dói, que eu leve o perdão; onde houver a discórdia, que eu leve a união e tua paz!
2. Onde encontrar um irmão a chorar de tristeza, sem ter voz e nem vez, quero bem no seu coração semear alegria, pra florir gratidão!
3. Mestre, que eu saiba amar, compreender, consolar e dar sem receber! Quero sempre mais perdoar, trabalhar na conquista e vitória da paz!
Questões para meditar:
Preocupo-me com os gestos de bondade cotidianos como expressão da solidariedade divina com todas as pessoas?
Como me porto diante dos diferentes e das diferenças? Impondo-me ou acolhendo-o?
Recordar-me das ações concretas que traduzem no dia a dia a amizade
Por Dom Eugenio Rixen
Bispo Emérito de Goiás – Goiás/GO
Textos inspiradores: Salmo133 (132); Atos 2,42-47; 2ª Cor 4,7; Mateus 18, 15-22; Romanos 12, 9-13
1. Muitas vezes agimos como personagens". Usamos máscaras. Fomos treinados para agir, realizar tarefas, ser protagonistas, heróis. Tudo isso nos faz pagar um alto preço: angústias, solidões, amarguras, hiperatividade, enfermidades psicossomáticas, depressões. É um grande desafio viver com os outros. Necessita-se de paciência e de misericórdia recíproca. Precisamos extinguir em nós a tendência instintiva a querer coordenar, interpretar, desqualificar. É difícil para nós compartilharmos a vida com simplicidade, com suas grandezas e seus limites que necessariamente cada um de nós carrega dentro de si. É um longo caminho, para isso é preciso morrer aos nossos temores e nascer para a esperança. Isso é obra do Espírito que nos une num encontro prazeroso. Aos poucos vamos descobrir que não podemos caminhar sozinho na vida, precisamos dos outros, de companheiros, de conselhos, de consolos e de correções. Precisamos ser amados e reconhecidos, ser acompanhados, ser olhados com olhos humanos pelos outros. A criança vai construindo sua identidade sob olhos de sua mãe.
2. O Evangelho nos revela que a vida nova trazida por Jesus Cristo é na origem da vida fraterna. É o vinho novo para transformar as relações humanas. O Evangelho nos convida a viver uma novidade. Conduzidos pelo Espírito, somos chamados a criar vínculos cada vez mais fortes e mais amplos para descobrir nosso próprio estilo de vida. No batismo recebemos o Espírito; depois no sacramento da confirmação e no sacramento da ordem nós voltamos a recebê-lo de novo. Nós vamos aprender uns dos outros, que o outro é outro, com suas diferenças. A comunidade é a essência da Igreja.
3. Viver em comunidade é a verdadeira escola onde aprendemos a purificar nosso egoísmo, nossa estreiteza de visão, a não manipular os outros, a superar o individualismo. Nós vivemos num no mundo de grande anonimato, no meio de homens e mulheres solitários. Ninguém se preocupa com ninguém!
O QUE BUSCA A FRATERNIDADE?
1. Crescer juntos no seguimento de Jesus Cristo. Nós nos reunimos como os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), para reencontrar o Ressuscitado na amizade, na revisão de vida, na partilha da Palavra, na oração. Ο ressuscitado nos ilumina e nos conduz com sua palavra, "começando por Moisés e percorrendo todos os profetas, Ele lhes explicava as Escrituras".
2. Aprender a ser transparentes, a confiar nos outros. Os outros fazem parte da minha família, da minha vida, do meu dinheiro, das minhas relações, dos meus sofrimentos e das minhas necessidades. Pelos membros da Fraternidade me sinto reconhecido, valorizado e apoiado nos meus projetos.
3. Aprender a sair de nossas categorias de pensamentos através do encontro com os outros. Aceitar de ser incomodado pelo outro pelo fato dele ser diferente. Ser um sinal desta fraternidade que gostaríamos de viver com todos. E anunciar que a mensagem fraterna de Jesus é possível ser vivido.
4. Aprender a querer e a lutar, a ser diferente e não por isso ir cada um do seu lado. Se abrir ao diferente, aceitar sua existência, seu direito de fazer e de atuar diferentemente. Aceitar receber daqueles que são diferentes.
5. Aprender a pertencer, a ser com os outros e dos outros. Não é suficiente ser, é necessário também pertencer. Criar laços. Ser " irmão universal". Não somos melhores que ninguém pelo fato de pertencermos a uma Fraternidade, por isso reconhecemos nossas fragilidades e necessitamos de ser ajudados pelos outros.
6. Aprender a carregar a vida uns dos outros. É o nosso serviço. Somos tão complexos. Aprender que somos homens pobres e limitados que fazemos o que somos capazes de fazer da melhor maneira possível.
7. Aprender a viver e a partilhar como irmãos. Sair das categorias de superioridade, de dominador- dominado, protetor-protegido que são sinais autoritários que todos nós temos. Precisamos de uma Igreja fraterna e não de uma Igreja manipuladora e paternalista. Às vezes buscamos inconscientemente um pai, um chefe, um diretor e nós nos revoltamos contra eles. A partir da nossa própria história, projetamos sobre Deus nossa própria vida, nossos acertos e frustrações. Somos todos irmãos, há um único Pai, Abbá.
8. Tornar realidade os laços que nos ligam uns aos outros: aos párocos, com quem criamos laços de caridade, de oração e de cooperação. Queremos aprender a ser mais fraternos com o bispo, com os outros padres, com o povo, e especialmente com os mais pobres. Nunca pensamos que somos isentos de erros para sempre, já que seremos tentados até o último dia pelo dinheiro, prestígio, sexo, fé, etc.
O que é uma fraternidade sacerdotal?
1. É o encontro de 4 a 6 padres - há também em algumas fraternidades religiosas e leigos e leigas- que mensalmente se encontram para partilhar as suas vidas e colocá-las nas mãos uns dos outros, como também de carregar a vida dos outros, ser corresponsáveis. É o lugar onde podemos ser reconhecidos e aceitos como nós somos.
O que é necessário?
1. Decisão de participar e unir-se a outros. Pedir a graça da fraternidade para melhor viver o Evangelho e para nos mantermos unidos. 2. Decisão de ser verdadeiro, de compartilhar o que realmente está se passando na nossa vida. Isso é um processo!
3. Participar na reunião mensal de um dia, incluindo descanso, comida, oração silenciosa, revisão de vida e partilha do Evangelho. 4. Abaixar as defesas e deixar-se olhar. Não devemos ter medo de ser julgados, em geral temos muito medo disso. Acreditar que os outros vão ter um olhar bondoso para conosco. Confidencialidade do que foi ouvido! 5. Ser fiéis na participação da vida em fraternidade, mesmo que ela demore em criar laços.
6. Aceitar as frustrações que toda vida comunitária tem: que os outros faltam, que um quer falar e não há espaço e possibilidade de fazê-lo. 7. A Fraternidade universal começa com aqueles que vivem ao nosso lado - Fraternidade no presbitério - na própria diocese. É um dom de Deus e uma tarefa para todos.
Para a reflexão pessoal e no grupo
- Em que a Fraternidade me ajuda a viver meu ministério presbiteral e meu seguimento de Jesus Cristo?
- Quais foram os momentos positivos que vivemos juntos em Fraternidade?
- Quais as dificuldades que nossa Fraternidade enfrentou ou está enfrentando? O que foi feito para superá-las?
- O que nos mantém unidos?
A FRATERNIDADE UNIVERSAL
O amor fraterno para com todos os homens: diálogo ecumênico e inter religioso
A escolha da fraternidade universal é inaugurada no Evangelho e no Novo Testamento através da atitude de Jesus para com os pagãos e os não judeus. Jesus derruba as barreiras, faz-se próximo daqueles que estão longe, entra ou aceita o diálogo com eles, deixa-se comover pela sua expressão de fé. Mas se depara com a incompreensão de uma parte do seu povo, cuja identidade se vive como separada, sujeitando-se à violência sob a Cruz "matando o ódio" e reunindo na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos.
Charles de Foucauld, da mesma maneira que o bom e amado Senhor Jesus, tendo vivido toda a sua vida adulta com os não crentes, judeus e muçulmanos, desenvolveu precocemente a relação com o outro como uma fraternidade, fraternidade universal ou amor fraterno por todos os homens. Ele é para nós um mestre em constante saída: ele deixa o seu país para ir para o país do outro (Marrocos, Akbès, Argélia, Saara).
Chegando a Béni-Abbès, depois da sua ordenação, disse Ir. Carlos: "Quero fazer com que todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus e idólatras, acostumem-se a olhar para mim como seu irmão, seu irmão universal". Ele pede a Henry de Castries que reze para que seja " verdadeiramente irmão de todas as pessoas daquele país ". Enquanto espera que se torne irmãos, são os "outros" que são irmãos para ele, acolhendo fraternalmente, militares e indígenas. Ele quer habituá-los a chamar a sua casa de "a fraternidade", quer que todos os habitantes de Beni Abbés saibam que ali "os pobres têm um irmão: não só os pobres, mas todos as pessoas". Trata se, em suma, de passar da hospitalidade à fraternidade. Em 1905, irmão Carlos se mudou para Tamanrasset, passou um tempo considerável para aprender a língua dos tuaregues, para conhecer a sua cultura, a fazer-se um deles e servir a compreensão entre Tuaregue e Francês, fazendo-se tradutor entre as duas línguas. Ele respeita a fé dos muçulmanos que o acolhem. Ele coloca em prática o apostolado da bondade; ele os apresenta em sua oração.
Para nós, padres diocesanos, que vivemos num contexto cultural particular, devemos nos perguntar quanto tempo temos dedicado ao encontro e ao diálogo com o outro. Tal contexto pode dizer respeito ao descrente ou ao que acredita de outro modo.
"A ignorância do outro leva ao medo do outro; e o medo provoca a violência", afirmava o filósofo Averróis.
Por sua vez, a fraternidade, ao reconhecer o outro tal como é, e com quem se faz aliança, supera a ignorância e o medo, introduzindo a dimensão do amor mútuo sob a forma de diálogo.
a) Manter relação com os irmãos de outras confissões cristãs (Ecumenismo)
b) Manter em relação com os irmãos de outras religiões (diálogo inter religioso)
1- A relação ecumênica depende do nosso ambiente eclesial. Se as relações com os nossos irmãos de outras Igrejas cristãs forem pacíficas, também podemos encontrar comunidades das igrejas da reforma que cultivam uma forte tendência anticatólica. Contudo, não podemos ser indiferentes ao testemunho da fé que busca a unidade entre os cristãos. Por conseguinte, convém levar em conta a nossa comum condição de filhos do Pai e de irmãos de Cristo. Nossa fraternidade nos impele a conhecer as comunidades de confissão protestante ou ortodoxa, poder encontrá-las através das pessoas, criar um vínculo de amizade e de proximidade, respeitando as nossas respectivas tradições eclesiais, até rezarmos juntos, lendo a Palavra e agindo em comunhão para o serviço dos pobres. A dimensão fraterna da relação nos permite sair da posição de concorrente, do espírito de imposição, do desrespeito, para criar relações duradouras de amor mútuo. Num contexto de secularização, este testemunho de fraternidade entre cristãos de diversas confissões parece essencial para dar esperança ao mundo.
2- As nossas sociedades, cada vez mais pluriculturais com migrações de populações, são um desafio para as regiões tradicionalmente cristãs ou mesmo católicas. Em outras épocas, a pluralidade religiosa fixou os limites geográficos para cada confissão religiosa. Neste mundo em constante mudança, as identidades de uns e de outros são tentadas a endurecer-se, a fechar-se e a proteger-se do outro. Nesse ambiente, as discriminações e, por vezes, a violência se desenvolvem. Daí a obrigação, para nós pastores, de convidar incessantemente as nossas comunidades a sair ao encontro do outro e a aprender a dialogar, respeitando as diferenças. Além disso, é preciso dialogar com aqueles que, em nossas comunidades, sentem medo. Todos sofrem o endurecimento sem a relação inter-religiosa, especialmente entre cristãos e muçulmanos. Charles de Foucauld viveu entre os muçulmanos como um irmão entre outros irmãos. As tensões dentro das correntes religiosas põem em perigo o projeto da fraternidade universal. As próprias comunidades católicas, às quais estamos encarregados, já não estão tão prontas como antes para entrar em contato com as comunidades muçulmanas. Daí nasce a nossa obrigação de pastores de tomar iniciativa e ir ao encontro das comunidades muçulmanas (mesquitas, imãs, associações) a fim de criar um vínculo de amizade e desfazer as tensões provocadas pela atualidade. Alguns irmãos de nossas fraternidades estão engajados neste diálogo com os muçulmanos, apesar de seus limites. O desafio é importante.
Temos muitos pontos em comum com os muçulmanos, a saber: a fé em um Deus único, a misericórdia de Deus, a vida de oração, a comunidade de fé, os atos de caridade etc. Isto nos convida a nos conhecermos mutuamente como irmãos na fé, respeitando as nossas diferenças. A proximidade fraterna ajuda a melhorar o ambiente nos bairros, acentuar o diálogo entre populações diversas, abrir as comunidades cristãs ao encontro do outro; e, converter o seu coração, descobrindo as suas riquezas.
Por Lindolfo Euqueres Ferreira Neto
João Pessoa/PB
Questão: “Os pobres são os protagonistas do caminho da Igreja, e eles pedem amor à Igreja, ou seja, respeito, aceitação e reconhecimento, sem vê-los como objetos de caridade, superando o assistencialismo e insistindo em um melhor conhecimento da Doutrina Social da Igreja.” (Relatório Síntese da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 2023).
A vida contemplativa das Fraternidades constitui a base fundante de nosso Nazaré histórico, geográfico e espiritual. Esta intuição central do Ir. Carlos unido à busca do último lugar, estabelece para todos os grupos da família do Ir. Carlos, a fonte espiritual, que garante ao nosso apostolado e missão pastoral uma fecundidade peculiar em solidariedade com e como os pobres. Somos chamados a viver a radicalidade desta herança espiritual como sinal bem concreto da universalidade da nossa vocação.
Mais especificamente, a vida contemplativa dos Irmãozinhos de Jesus, caracteriza a centralidade da sua vocação, de tal maneira, o apostolado da bondade e da presença não se resume a uma ação pastoral em qualquer que seja a etapa de sua vida religiosa. Por outro lado e ao mesmo tempo, a vida contemplativa torna-se constituinte da ação pastoral e missionária dos irmãos, à medida que a anima e dinamiza a partir da opção preferencial pelos pobres.
Pelo itinerário da vida contemplativa, os irmãos se inserem na vida da comunidade, buscam articular os dons que favoreçam e fortaleçam os laços comunitários, desde a partilha de vida com os vizinhos e amigos marcada pela gratuidade das relações à formação de pequenos grupos, comunidades e pastorais, motivando a participação e o engajamento em associações e organizações pela defesa da vida como sujeitos históricos, a partir de uma espiritualidade do cotidiano e do ser fermento na massa.
Da espiritualidade da Fraternidade a partir dos pobres sob o signo do Sínodo para a Sinodalidade: “Os pobres são os protagonistas do caminho da Igreja”, apresentamos um breve resumo do texto – “Os dois gritos do Evangelho: reflexões pastorais a partir de Charles de Foucauld (1858-1916) e o Irmãozinho de Jesus, Guy Maurice Norel (Guido) (1929-2014)”.
Charles de Foucauld e Irmãozinho Guido, em seu apostolado e testemunho profético da vida religiosa, são os dois gritos do Evangelho, que interpelam e lançam luzes sobre a dimensão pastoral da Igreja a partir da sua espiritualidade: a vida escondida de Jesus em Nazaré. Em consonância com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE), vincula-se a espiritualidade de Nazaré à teologia da casa proposta pelas Diretrizes (DGAE), como fundação e alicerce da ação pastoral em construção através dos pilares: Palavra, Pão, Caridade, Missão - para a formação de Comunidades Eclesiais Missionárias, de acordo com a dimensão pastoral Igreja-Comunidade. Ao mesmo tempo, o testemunho destes dois irmãos, mestre e discípulo, inspira e refontiza a esperança frente à realidade atual, pelo qual os efeitos do conservadorismo eclesial, opera na Igreja Católica um retrocesso da opção preferencial pelos pobres assumida pela reflexão pós conciliar da Conferência Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM).
Por sua vez, Charles de Foucauld, fora impactado pelas palavras de Pe. Huvelin ao discorrer sobre a paixão e morte de Jesus na cruz, durante o sermão: “Jesus tomou de tal maneira o último lugar que jamais alguém pode arrebatá-lo”. Estas palavras deram-lhe sentido à sua busca da vida religiosa, onde e como concretizá-la. Em viagem à Terra Santa, estando em Nazaré compreendeu o mistério da Encarnação e da família de Nazaré à luz do dom pascal de Jesus na cruz, como um só caminho de amor: “O amor é inseparável da imitação: quem ama quer imitar: é o segredo de minha vida. Apaixonei
me por esse Jesus de Nazaré crucificado, e passo a vida tentando imitá-lo”. Em 1990, Irmãozinho Guido, após mais de duas décadas vivendo na primeira Fraternidade do Brasil em Santo André/SP, se mudou para a Fraternidade em João Pessoa/PB, bairro de Mandacarú. Foi voluntário na Pastoral Carcerária por dezoito anos, escutando os presos e visitando suas famílias, chegou a testemunhar diante das autoridades contra situações de abuso e violência extrema. Para Guido, compaixão e solidariedade caminham juntas, sofrer avec: “No Evangelho, o texto hebraico sobre a compaixão é um negócio que te pega nas vísceras. Muito forte!”.
Da solidariedade do Irmãozinho Guido:
“Solidariedade não é só compartilhar, o compartilhar é o ter, o que você tem para receber (ou oferecer); agora a solidariedade é mais profunda, atinge o ser, que compromete até no agir, que (é) no ser mesmo. O compromisso não é o ter, só o ter de dar para, eu acho que é mais profundo nesse sentido a solidariedade.”
“Eu para mim, no início, é o chamado de Jesus, que pediu de visitar os presos, não me pediu para ir rezar, pediu para ir visitar. É gozado, porque a gente se sente às vezes solidário de todo mundo, [...] uma vez, houve uma rebelião no Silvio Porto, fomos lá todos na porta, sabe, me sentia solidário de todo mundo, dos presos, dos agentes penitenciários e das mulheres, familiares que estavam lá gritando na porta. Não sei como dizer, é o sofrimento de todos. Eu me senti solidário a assumir um pouco o sofrimento de todos.”
A este apelo, “Á Igreja os pobres pedem amor” (SÍNODO DOS BISPOS, 2023). Para as Fraternidades, permanece o testemunho de amor: Charles de Foucauld “fez da religião um amor”. Irmãozinho Guido no início de sua busca vocacional tendo passado dois anos na Trapa nos assegura: “amei muito”. Papa Francisco às Irmãzinhas de Jesus em seu último capítulo, disse-lhes: “Sejam livres para amar”.
Carlos de Foucauld inaugurou um modelo de vida contemplativa no coração do mundo [...] é preciso continuar a manter vivo o testemunho do Irmão Carlos, com nossas opções vocacionais, procurando, como ele, encontrar Deus numa quotidiana vida oculta e gritar o Evangelho com a vida (GOVEN, Pe. FREDDY, 2022).
REFERÊNCIAS
BOLETIM DAS FRATERNIDADES. Testemunhos e relatos dos irmãos(ãs) que participarão da canonização. N. 167. Outubro/ 2022. p. 22-24. CASSIERS, Benito (Org.). Eu sou teu irmão: no seguimento de Jesus de Nazaré. São Paulo:
Loyola, 1993, p.45)
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes Gerais da Evangelização da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023). Edições CNBB. Documento 109. 2019.
FERREIRA NETO, Lindolfo Euqueres. Os dois gritos do Evangelho: reflexões pastorais a partir de Charles de Foucauld e o Irmãozinho de Jesus Guy Maurice Norel (Guido). 2023.
FOUCAULD, Charles. Meditações sobre o Evangelho. Lisboa/Portugal: Livraria Morais,
1962. (Círculo do Humanismo Cristão).
HUVELIN, Pe. Carta ao abade do mosteiro de Solesmes. [S.l.: s.n.]. 1889.
XVI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS. Relatório de Síntese. uma Igreja sinodal em missão. Documentos da Igreja 71. 2023.
PAPA FRANCISCO. Papa motiva religiosas a estar entre os pobres para amá-los. Disponível em:
https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/papa-motiva religiosas-a-estar-entre-os-pobres-para-ama-los/. Acesso em: 10/11/2023.
Por Pe. Willians Roque de Brito
Diocese de Marília - Marília/SP
Segundo o site só escola3, “termo “comunicar” tem origem no latim “communicare”, que significa “partilhar”, “tornar comum”. Comunicar é, portanto, o ato de tornar algo conhecido por outra pessoa, estabelecendo uma conexão entre emissor e receptor”. Esta primeira conexão foi estabelecida, segundo os cristãos, no ato da criação. Naquela ocasião, Deus comunicou aos seres o seu sopro vital, dando-lhes uma existência livre e em plena comunhão com o seu ser. Desde então, o ato de revelar-se através da oração, das criaturas, dos povos foi desencadeado no processo chamado de revelação. É nesta perspectiva que se pode situar os fundamentos do envio missionário, para comunicar ao mundo o evangelho da vida.
Esse processo comunicador entre Deus e os seres humanos assume a sua máxima expressão, segundo a teologia, em Jesus Cristo. João narra em seu evangelho que essa revelação, antes distante da compreensão humana, aproxima-se de modo surpreendente em Jesus Cristo: “E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (João 1,14). Charles de Foucauld, o irmãozinho de Jesus, sempre teve em seu horizonte de vida, desde que encontrou Jesus de Nazaré, o mistério da encarnação. Impressionava-lhe o fato de Jesus, sendo Deus, ter assumido para si um corpo e uma alma humanos e se tornado pobre entre os pobres. Ainda mais, nasceu na pequena fragilidade de uma criança. Sobre isso, ele realizou muitas meditações em sua vida. Dizia ele em uma dessas reflexões, transcrita aos 06 de novembro de 1897:
3 https://www.soescola.com/glossario/comunicar-o-que-e-significado. Acessado em 21/jan./2024, às 10h58.
A encarnação tem sua fonte na bondade de Deus, mas uma coisa logo se destaca, tão maravilhosa, tão brilhante, tão surpreendente que brilha como sinal fascinante: é a humildade infinita que tal mistério se encerra [...] Deus, o Ser, o Infinito, o Perfeito, o Criador todo-poderoso, imenso, Mestre soberano de tudo, ao fazer-se homem, unindo-se a uma alma e um corpo humanos e aparecendo na terra como um homem, e como o último dos homens [...] Para mim, buscar sempre o último dos últimos lugares, para fazer-se tão pequeno quanto o meu mestre, para estar com Ele, para segui-lo, passo a passo, como servo fiel, discípulo fiel [...] para viver com meu Deus que viveu assim toda a sua vida e me dá um exemplo tão grande no seu nascimento (FOUCAULD apud.: ANNIE DE JESUS, 2004, p.37)
Vê-se que a meditação a respeito da encarnação de Jesus, que assumiu a condição de um servo, não lhe era apenas uma ideia. A partir de suas reflexões, Charles de Foucauld extraía claras motivações para a sua própria vida, buscando em tudo ser semelhante ao seu bem-amado e Senhor Jesus. Motivado por esse mesmo espírito, quando esteve entre os tuaregues, dedicou-se a escrever um dicionário tuaregue-francês, como bem o sabemos. O dicionário não foi, para ele, um mero instrumento de ideias e gozo no saber, mas se tratava de uma clara expressão de tentativa de encarnação na realidade do povo a quem dedicou os últimos anos de sua vida. Era preciso compreender lhes para, em seguida, tornar-se um deles e “dá-los todos ao bom e amado Jesus”, como ele mesmo afirmava. Ele compreendia bem que é impossível comunicar-se sem buscar superar os entraves que a comunicação oferece: cultural, ruídos, desatenção, emoções e outras coisas.
No mundo atual, existem diversas formas de se situar entre os últimos e, umas delas, é adentrar o ambiente juvenil e contemporâneo, muitas vezes esquecidos na evangelização cristã. Quando se fala em jovens, deve-se destacar, especialmente, o ambiente digital. Não devemos chamá-lo de virtual, pois as pessoas que se utilizam destes meios, embora não se façam fisicamente presentes, constroem cada vez mais relações reais e que levam consequências transformantes para a sua vida: amizades, formação, informação, comércio, debates políticos.
Nesses ambientes acontecem fatos que constroem a sociedade atual e, portanto, não mais virtuais. Por isso, os jovens atuais são também chamados de “nativos digitais”, pois a comunicação em redes digitais já faz parte inerente de sua formação e crescimento social. Desde crianças, eles são estimulados a esse tipo de interação. Tudo isso, porém, não é garantia de relações sadias e verdadeiras. Ao contrário, torna-se um verdadeiro risco quando a vivência digital é desprovida de uma boa formação.
Para anunciar a boa nova da salvação que Jesus traz a todos, é necessário ocupar também o ambiente digital. Em certa medida, construir casas e pontes para a vivência do evangelho. Hoje, o uso da internet e dos aparelhos eletrônicos não deve ser compreendido somente como uma perda de tempo, mas como meio simples para construir relações verdadeiras, quando utilizados, pelos cristãos, dentro da ética evangélica. Também na internet é possível construir laços de fraternidade. O documento de síntese da primeira sessão do sínodo afirma:
Portanto, a cultura digital não é tanto uma área
distinta da missão, mas uma dimensão crucial do testemunho da Igreja na cultura contemporânea. Por esta mesma razão, reveste-se de um significado particular numa Igreja sinodal. Os missionários sempre partiram com Cristo rumo a novas fronteiras, precedidos e impelidos pela ação do Espírito. Hoje, cabe-nos a nós chegar à cultura atual em todos os espaços onde as pessoas procuram sentido e amor, também nos seus telemóveis e tablets. (RELATÓRIO DE SÍNTESE, 2023, n/p)
Como, porém, inculturar-se nesse novo ambiente sem compreender bem os seus mecanismos e funcionamentos? Certamente, as redes são um instrumento muito utilizados por grandes conglomerados ideológicos para massificar a cultura, matando as realidades locais e gerando grandes divisões e conflitos entre os seus usuários. Esses conflitos, alimentados pela volúpia comercial, geram divisões concretas nas vidas das pessoas. Isso se observa, inclusive, no aspecto religioso. Padres, pastores, religiosos e leigos influentes massificam a cultura religião, destruindo a raiz dos costumes locais. Por isso, responder o apelo de Jesus por uma real formação de valores, exige o mesmo princípio da formação de comunidades paroquiais e de base. Não se trata simplesmente de reproduzir mais do mesmo, mas de ser a presença de Jesus nesses ambientes.
Para a evangelização das redes, é preciso renunciar todo tipo de linguagem agressiva para fazer o anúncio explícito e implícito de Jesus, bem como para denunciar as injustiças do mundo contemporâneo. Para expressar se é oportuno, antes, treinar-se na escuta. No ambiente virtual, sem a escuta das demandas, que são múltiplas, parece impossível posicionar-se da melhor maneira. O Papa Francisco afirma o seguinte na sua mensagem pelo dia mundial das comunicações sociais, em 2023:
Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente. E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor (cf. Ef 4, 15). (FRANCISCO, 2023, n/p)
Talvez, seja difícil à geração que nasceu antes desse ambiente digital, adaptar-se a esse novo ambiente de evangelização. Para isso, é preciso adaptar o desejo do irmão Carlos de evangelizar com meios simples e pobres. Uma boa alternativa oferecida pelo sínodo é recorrer àqueles que nasceram nesse mundo. Ninguém melhor do que eles para oferecer caminhos de atuação no ambiente digital:
Os jovens, e entre eles os seminaristas, os jovens padres e os jovens consagrados e consagradas, que, muitas vezes, têm uma experiência direta profunda destas realidades, são os mais adequados para levar a acabo a missão da Igreja no ambiente digital, bem como para acompanhar o resto da comunidade, inclusive os próprios pastores, rumo a uma maior familiaridade com as suas dinâmicas (RELATÓRIO DE SÍNTESE, 2023, n/p)
Diante disso, é preciso encontrar, ao menos, alguns jovens que se disponham a colaborar no processo de oferecer um conteúdo adequado às redes com uma linguagem que agrada ao coração das pessoas. É preciso estimulá-los e não os criticar, pois eles têm uma cultura notavelmente diferente das comunidades formadas em ambientes pré-digitais. A linguagem digital é, antes de mais, audiovisual, curta, direta e possuem conteúdo que despertem a curiosidade inicial do ouvinte. Imagens, vídeos, músicas, símbolos; cada detalhes ocupa o seu local. Para inculturar-se nas redes o conteúdo não pode ser muito acadêmico e, muito menos, longo. A mensagem precisa ser leve, dinâmica e consumir pouco tempo na rotina das pessoas, pois as pessoas literalmente consomem aquilo que gasta menos as suas energias.
O desafio é muito grande, mas não intransponível. Mas não seria conservadorismo de nossa parte permanecer inertes nessa transformação cultural que nos cabe viver hoje? A verdadeira pastoral de conversão do mundo contemporâneo exige que entremos nessa outra cultura, aprender os seus símbolos, a sua linguagem, os seus comportamentos, as suas relações, acolhendo a sua realidade e fermentando o seu interior. Tal desafio colabora na formação espiritual que nos convida a estar abertos a ouvir, ouvir e ouvir, porque “a fé vem da escuta da voz de Deus” (Rm 10,17) que também fala através dos sinais dos tempos. Poderíamos dizer seguramente que o ambiente digital contém partes significativas dos sinais atuais.
PARA REFLETIR:
Ler 1 Coríntios 9,16-23:
Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho! Se eu o anunciasse de própria iniciativa, teria direito a um salário; no entanto, já que o faço por obrigação, desempenho um cargo que me foi confiado. Qual é então o meu salário? É que, pregando o Evangelho, eu o prego gratuitamente, sem usar dos direitos que a pregação do Evangelho me confere. Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me o servo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Com os judeus, comportei-me como judeu, a fim de ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei me como se estivesse sujeito à Lei - embora eu não esteja sujeito à Lei -, a fim de ganhar aqueles que estão sujeitos à Lei. Com aqueles que vivem sem a Lei, comportei-me como se vivesse sem a Lei - embora eu não vivo sem a lei de Deus, pois estou sob a lei de Cristo -, para ganhar aqueles que vivem sem a Lei. Com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo. Tudo isso eu o faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dele.
1. É possível encarnar-se no mundo atual sem encontrar recursos para se inserir no ambiente digital?
2. Como passar de uma pastoral de conservação para uma pastoral decididamente missionária nesse ambiente?
3. Se tenho me esforçado para fazer algo, considero que tenho utilizado de boas iniciativas para penetrar no coração das pessoas que habitam os ambientes digitais?
Por Pe. Carlos Roberto dos Santos
Responsável Pan Americano - Goiás/GO
No antigo Testamento, vemos que “A ansiedade é inimiga do agir de Deus!” Olhemos a vida de Abraão, por exemplo. Deus lhe prometeu um filho quanto ele tinha 75 anos, mas ele não soube esperar a promessa, que demorava a se cumprir e, quanto estava com 86 anos, a pedido de sua esposa Sara, teve um filho, Ismael, com a serva Agar. Consequência deste ato foi o silencio de Deus ficou por 13 anos. Quando não temos paciência, não sabemos esperar e agimos segundo nossa vontade, muitos problemas são gerados (Abraão teve que mandar seu filho Ismael embora), pois com 100 anos ele teve o filho Isaac, de Sara, como Deus lhe havia prometido.
Esta situação acontece quando uma pessoa reza, confia em Deus, como a Bíblia nos ensina, mas o tempo vai passando, o prazo vai acabando e o que ela esperava de Deus não acontece. Este silencio de Deus diante da oração de uma pessoa, que já está angustiada, pode levá-la à uma crise existencial e a uma depressão, achando que Deus não se importa com ela, por isso não responde aos seus pedidos.
O que é exatamente a Crise existencial? É um momento de
questionamentos sobre vários aspectos da vida, como: a própria existência, o lugar no mundo, a função que ocupa nos contextos em que está envolvido, o propósito da vida, e o propósito de estar vivendo. Estes questionamentos, quando não encontram respostas aceitáveis, acabam gerando estafa mental, desgosto pela vida, pessimismo, ansiedade, insônia, vontade de se isolar, insatisfação generalizada.
Em diversos de seus escritos, o Ir. Carlos nos ensina o quanto é importante perguntar-se por que Deus fica em silêncio, mas permanecer em Sua presença. É importante aprender a esperar em Deus. É importante confiar e abandonar-se nas mãos de Deus.
Dizia um padre: todas as reflexões, preocupações e tentativas de entender o suicídio entre os padres são válidas. Mas a nossa vida sacerdotal é apenas uma parte de nossa história. Valeria a pena questionarmo-nos sobre a origem dos casos de forma mais profunda e remota. Uma boa reflexão sobre as motivações vocacionais e histórico familiar, penso que ajudaria muito, também. Quem sabe uma comissão, neste nosso grupo, pra tentar encontrar, ouvir e nos solidarizar com as famílias destes nossos irmãos. Algumas situações e realidades podem estar antes da formação e do ministério. Trabalho na formação há alguns anos, e não é difícil saber que alguns vão precisar de acompanhamentos e atenção durante toda a vida. (Pe. Francisco no grupo da caminhada)
Uma ajuda da fraternidade Sacerdotal: A amizade é um grande benefício para saúde
A psicologia nos ajuda a entender que a “Amizade”, um conceito tão antigo quanto a própria humanidade, é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro, afirmou o sábio Platão (428/427-348/347 a.C.)
A amizade tem sido objeto de estudo em várias disciplinas atualmente: filosofia, pedagogia, psicanálise, sociologia, psicologia, psiquiatria, medicina e neuropatia. No entanto, recentemente, a ciência começou a explorar em profundidade o impacto biológico e fisiológico dessas relações amistosas em nossa saúde e bem-estar integral.
A ciência afirma que nosso cérebro é intrinsecamente projetado para se conectar com outras pessoas em todos os níveis. As áreas do cérebro envolvidas na interação social, como córtex pré-frontal e as amígdalas, são ativados quando interagimos com conhecidos, amigos, parceiros, família... e fortalecemos nossas conexões neurais. Essas conexões neurais fortalecidas são capazes de ajudar a melhorar a memória, a tomada de decisões e a regulação emocional.
Dentre os muitos hormônios presentes no corpo humano, um deles, a ocitocina, frequentemente chamado de hormônio da felicidade e do amor, é liberada durante interações sociais positivas, ela é ativada para dar lugar a uma ampla variedade de efeitos físicos e psicológicos relacionados a sentimentos de afeto, confiança, carícia, palavras carinhosas, fidelidade e a qualidade de vida.
https://youtu.be/g7ngIwshA4o?t=8
A medicina comportamental nos ajuda a perceber que as relações sociais, especialmente as amizades, são parte integrante da experiência humana que proporcionam a saúde física, emocional, mental e espiritual. Nos mostra que as relações sociais positivas, como passar um tempo com amigos e entes queridos, podem atuar como um bálsamo para o estresse, reduzindo os níveis hormonais relacionados ao estresse. Ao reduzir o estresse, essas relações podem ajudar a manter nosso sistema imunológico funcionando em plena capacidade. O cortisol é um hormônio que é liberado em resposta ao estresse e tem múltiplos efeitos no corpo.
As verdadeiras amizades causam benefícios ao nosso comportamento. Os amigos costumam atuar como modelos ou influências positivas, incentivando-nos a adotar hábitos saudáveis, como caminhada, lazer, hobby, dieta equilibrada, exercícios físicos e evitar comportamentos de risco. Esses hábitos saudáveis fortalecem a funcionalidade em nossa vida. Ter amizades verdadeiras nos ajudam a ter menos problemas de saúde mental, fobias, pessimismo, ansiedade e depressão. Neste sentido, a fraternidade pode ser um grande aliado aos irmãos, principalmente no aporte humano e emocional que traz a “Revisão de Vida”; também pelo incentivo de estar constantemente (uma hora por dia e na eucaristia) com Jesus, com Maria, além de dedicar-se com carinho aos irmãos e os mais pobres que Deus colocar em nossos caminhos. Principalmente o testemunho de uns aos outros, vivendo o “apostolado da bondade” em sua vida cotidiana.
Uma renomada jornalista e premiada escritora científica, sra. Lydia Denworth, explora como a amizade influencia nossa saúde, nosso cérebro e nossa evolução. Ela sugere que ter amigos íntimos atua como um fertilizante genérico para quase todas as doenças, e confirma que nossos corpos e mentes são projetados para a amizade em diferentes estágios da vida.
Neste tempo em que vivemos, marcado pela ciência, pela tecnologia, pelas redes sociais, pelo isolamento e pelas incompatibilidades, é de suma importância valorizar o poder curativo da amizade, a imensurável riqueza dos amigos, a essencialidade gloriosa dos relacionamentos e a evolução de tudo isso para o fortalecimento da nossa felicidade e a eficácia do nosso bem estar e longevidade. Amizade é a riqueza que flui abundantemente amor, paz, gratidão, prosperidade e a saúde integral.
Na vida do Ir. Carlos, o desejo de ser amigo de Jesus, e de imitá-lo em sua kenosis/rebaixamento, no serviço e no gastar sua vida em favor dos irmãos tuaregues, teve um grande salto quando ele ficou doente, lá no Hogar, devido à fome que assolava a região por causa de “dezessete meses sem chuva”. Naquela região, o alimento básico era o leite das cabras, e nem isto havia, como ele mesmo escreve:
“As cabras estavam tão secas quanto à terra, e as pessoas tão secas quanto às cabras ... Fiquei bastante doente nesses dias. Já nem sei mais de que: alguma coisa no coração, acredito, sem tossir, sem sofrer nada no peito; o mínimo movimento me deixava ofegante, a ponto de ficar prestes a desmaiar ... acreditei que fosse o fim ... [mas os tuaregs] ... foram buscar todas as cabras num raio de quatro quilômetros para dar-me um pouco de leite.”4
Desta vez o pobre e miserável era o Irmão Carlos. Os tuaregs fizeram o impossível para ajudar o amigo, que estava morrendo. Dessa inversão gerada na reciprocidade, nasceram verdadeiras amizades.
“A confiança com que os tuaregs da vizinhança me cercam tem aumentado, os amigos antigos estão se tornando mais íntimos; amizades novas estão sendo feitas. Eu ajudo no que posso, tento mostrar que os amo, quando a ocasião me parece favorável, falo de religião natural, dos mandamentos de Deus, do seu Amor, da união à sua vontade, do amor ao próximo” (Carta ao Pe. Woillard).5
Na concepção de apostolado/evangelização do Irmão Carlos, o primeiro lugar é ocupado pela bondade e pelo bom exemplo no relacionamento com os amigos. E como isso faz bem!
A evangelização deve ser conduzida pela bondade e expressa no bom exemplo vivido. E sua fonte não pode ser outra, senão o Bem-Amado Irmão e Senhor Jesus Cristo.
4 Cf. Annie de JÉSUS. Charles de Foucauld – nos passos de jesus de Nazaré. Várgea Grande Paulista, Editora Cidade Nova, 2004, p. 78-79.
5 Cf. Annie de JÉSUS. Charles de Foucauld – nos passos de jesus de Nazaré. Várgea Grande Paulista, Editora Cidade Nova, 2004, p. 79.
Este retiro anual da fraternidade sacerdotal Jesus Cáritas é um renovar as forças da caminhada. Onde com a partilha de vida e o testemunho fraterno de cada irmão e irmã, nos possibilita a busca para uma vida mais simples e configurada a Jesus de Nazaré. Os meios da fraternidade nos ajudam a encarnar o Evangelho na vida. O dia de fraternidade entre irmãos, viver a fraternidade de uma maneira muito simples, revisão de vida e a oração, tudo isto acompanhado da meditação da Palavra de Deus.
Este ano o retiro anual nos possibilitou refletirmos vários aspectos que são inerentes à vida da fraternidade e ao momento em que estamos vivendo. Louvo a Deus por este retiro e agradeço aos irmãos e irmãs pela partilha, e reflexões isto nos fortalece muito na missão para “Gritar o evangelho com a vida”. Ainda mais em tempos que querem sufocar nossos gritos de profecia com soluções que não passam pelo compromisso com os mais pobres e marginalizados. Num tempo em que as tensões políticas e ideológicas são motivo de ruptura e distanciamento de famílias, pessoas, comunidades que outrora dialogavam, ajudavam-se mutuamente e buscavam consenso nas diferenças.
Fraternidade e amizade social como caminho e ideário para uma vida comprometida com a transformação dos corações, das atitudes, das estruturas injustas que não revelam a face de Deus e a misericórdia de sua bondade que quer alcançar a todos e revelar sua autoridade amorosa.
Jesus Mestre se insere na realidade de vidas que querem ser restauradas, mas esperam e querem proximidade, sensibilidade e verdade.
Sejamos conscientes de nossas atitudes, da necessidade de ver, ouvir, tocar e acolher aos que mais precisam.
Pe. Ivanildo Araújo Souza
Encontro da FSJC São Paulo
Data:29/4 a 01 de maio de 2024
Local: a definir
Encontro da FSJC Região Leste
Data: 20 a 23 de maio de 2024
Local: Centro Treinamento Dom João Batista – Vitória/ES
Encontro da FSJC Região Sul
Data: 7 a 9 de julho de 2024
Local: a definir
Encontro da FSJC Região Norte
Data: 08 a 11 de julho de 2024
Local: São Luiz do Maranhão/MA
Encontro da FSJC Região Centro Oeste
Data: 26 a 28 de agosto de 2024
Local: a definir
Encontro da FSJC Região Nordeste
Data: 26 a 29 de agosto de 2024
Local: Convento Franciscano Santo Antônio Ipuarana – Lagoa Seca – Campina Grande/PB
Encontro da Equipe Panamericana 2024
Data: 2 a 9 de janeiro de 2024
Local: Ouaxaca – México
Retiro Nacional da Fraternidade 2025
Data: 6 a 13 de janeiro 2025
Local: Florianópolis/SC
Pregador: a ver
Lembramos aos membros das diversas fraternidades do Brasil o compromisso de colaborar financeiramente, uma vez ao ano, com 10% do seu salario mensal, para a manutenção da Fraternidade.
Calcule o valor e faça sua colaboração no Encontro Regional da sua fraternidade. No entanto, se necessário, sua colaboração também pode ser feita no Retiro Anual, com o tesoureiro da Fraternidade.
Não se esqueça de enviar comprovante ao tesoureiro nacional
BOLETIM DA FRATERNIDADE
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• O investimento para cada assinatura -três edições ao ano -é de R$ 50,00 (cinquenta reais), pago de uma única vez ao tesoureiro da Fraternidade (veja Pe.Willians, na página 51).
• Voce pode fazer um presente a um amigo simpatizante da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, ou àquele que há tempos não está participando, ou outra pessoa.
• Se quiser fazer uma doação para colaborar com os custos dos boletins que forem impressos para circulação gratuita, é só acrescentar, ao valor da assinatura, o quanto a mais quer doar.
• Você pode colaborar com uma doação espontânea, fazendo um pix para 47.659.405/0001-08 – CNPJ e envie comprovante para o e-mail: casadafraternidade22@gmail.com
• Você pode fazer uma colaboração mensal. Entre em contato conosco pelo e-mail: casadafraternidade22@gmail.com
• Você pode fazer um depósito bancário na conta da ASSOCIAÇÃO JESUS CARITAS, Agência 277-1 (Banco do Brasil), conta Corrente 29.813-1 - IBAN: BR3900000000002770000298131C1 e envie comprovante para o e-mail: casadafraternidade22@gmail.com
Responsável Nacional
Pe. José de Anchieta Moura Lima
Pça Vigário Maia, 107 – Centro
CEP: 36140 000 – Lima Duarte/MG Cel.: (32) 3281 1236 e
+55 32 99917-4278 (vivo)
e-mail: janchietamoura@hotmail.com Diocese de Juiz de Fora
Responsável da Região Norte
Pe. Paulo Sergio Mendonça Cutrim
Rua Francisca Pires Sampaio, 10 – Centro 65130-000 – Paço do Lumiar/MA
Tel. (98) 99145-4291 / 99153-2525
e-mail: pe.sergio@yahoo.com.br
Responsável da Região Nordeste
Diácono José Gomes Batista
Av. Monteiro da França, 1051 – apto 1802 – B. Manaira 58038-320 – João Pessoa/PB - Arquidiocese da Paraíba
Tel. (83) 98205-0447 vivo e zap 83 99982-0447 tim
e-mail: diacgomes@gmail.com
Responsável da Região Sul
Pe. Loivo Aloisio Kochhann
Rua Emilio Otto, 998 – Bairro Morro Santana 91450-260 – Porto Alegre/RS
Tel.: (51) 99900-9905
e-mail: peloivo@yahoo.com.br
Responsável da Região Sudeste
Pe. Willians Roque de Brito
Av.João Dal Ponte 853 - Bairro Santa Antonieta 17512-350 – Marília/SP
Tel.: (14) 99907-2143 / 3415-1543
e-mail: williansrb17@homail.com
Responsável da Região Leste
Pe. Jose de Anchieta Moura Lima
Praça Vigário Maia, 107 - centro - 36140-000 – Lima Duarte/MG
TEL (32) 99917-4278
Email: janchietamoura@hotmail.com
Responsável da Região Centro-Oeste Pe. José da Silva
Praça Barão do Rio Branco /Catedral 78200-000 – Cáceres/MT –
Tel. (65) 99625-8840
e-mail: cristotrabalhadorcac@diocesedecaceres.com.br
Retiro Anual: Pe. Carlos Roberto dos Santos
Mês de Nazaré: Dom Eugenio Rixen
Rua Dr. Joaquim Rodrigues s/n° - Caixa Postal 05
CEP 76.600-000 – Goiás – GO
Tel. (62) 98553-3585
e-mail: domeugeniogoias@gmail.com
Publicações: Pe. José Bizon
Rua Afonso de Freitas, 704 – Paraíso
CEP 04.006-052 – São Paulo – SP
Tel. (11) 3884-1544 e (11) 99910-2629 (tim)
e-mail:dcj@casadareconciliacao.com.br; padrebizon@casadareconciliacao.com.br
Boletim da Fraternidade
Responsável: Pe. Anderson Messina Perini
Rua Felício Pedroso, 201 – Bairro Jardim Bom Pastor
09051-330 – Santo André/SP
Tel. (14) 99683-9584 (vivo whats)
e-mail: anderson.m.perini@gmail.com
Equipe de Redação do Boletim
Pe. Anderson Messina Perini anderson.m.perini@gmail.com
Boletim (Expedição): Nome
Rua Castelo de Montalvão, 141 – Apto. 201 – Castelo
CEP 31330-150 – Belo Horizonte – MG
Tel.:(34)99803-0462 /99248-2000 - Email: magdamelo.magda@gmail.com
Finanças: Pe. Almir José Ramos
Rua Constâncio Krummel, 952 bairro Praia Comprida CEP: 88103-600 – São José/SC
Tel.: +55 48 31970130/cel.: +55 48 99909-2101
Colabore com a Fraternidade Sacerdotal Jesus + Caritas depositando na conta: ASSOCIAÇÃO JESUS CARITAS FSJC CNPJ: 47.659.405/0001-08
Banco do Brasil
Agência: 277-1
Conta Corrente: 30457-3
Chave PIX: fsjcbrasil@gmail.com (e-mail) Comunique ao Pe. Willians, por mensagem Tel. (14) 3415-1543; WhatsApp (14) 99907-2143 vivo
e-mail: williansrb17@hotmail.com
e-mail.: ajderamos@yahoo.com.br
1. Irmãzinhas de Jesus
Rua São José, 200, bairro Olhos d’Água
CEP: 30000-001 - Belo Horizonte - MG
Tel.: (31) 3288-1574
e-mail: adp.larsaojose@terra.com.br
e-mail: Ir. Maria Dulcidéa: torresdulcidea@gmail.com
2. Irmãozinhos do Evangelho
Irz. Pe João Cara, fie / Comunidade da Trindade - Igreja da Trindade Av. Jequitaia, 165 - Água de Meninos,
CEP: 40460-110 Salvador - BA
e-mail: igrejadatrindade@gmail.com
3. Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas
Responsável: Pe. Carlos Roberto dos Santos
Rua Padre Felipe Leddet, Quadra 7, Lote 33 – Setor São Vicente - Caixa Postal 5 76600-000 – Goiás – GO
Cel.: (14) 99698 4661 (vivo)
E-mail: fjcbrasil@gmail.com
4. Fraternidade Leiga Charles de Foucauld
Coordenadora nacional: Marcia Sanches e Daniel Hygino
Rua Mar das Caraíbas, 132 – Parque Vivamar
CEP: 11680-000 - Ubatuba - SP
Fone: (11) 96705-0462
e-mail: marsanturi@hotmail.com.es
5. Fraternidade Missionária Carlos de Foucauld
Responsável: Pe. Beto Mayer
Rua da Mooca, 93 – Moóca - 03103-000 - São Paulo - SP
Fone: (11) 3107-5710
e-mail: mayerbeto@gmail.com
6. Irmãozinhos da Divina Ternura
Responsáveis: Irmãozinhos João, Helder e Junior
Rua Genarino Firmino Battistelli, 100 – B. Industrial
85045-630 - Guarapuava – PR – Caixa Postal 241 - Fone: (42) 36242153 e-mail: santuariosstrindade@hotmail.com
7. Instituto Secular
Responsável: Maria Concilda Marques
Rua Nogueira Acioli, 1050 - Apartamento, 703 - Centro
60110-140 Fortaleza - CE
Fone: (85) 3226-4074 Fixo e (85) 996109546 Tim
e-mail: marcelocorima@yahoo.com.br
8. Sodalício Carlos de Foucauld
Responsável: Margareth Malfiet
62220-000 Poranga - CE
Fone: (88 9985-9830 - e-mail: gretaporanga@yahoo.com.br