VIVER

EM FRATERNIDADE

01- VIVER EM FRATERNIDADE


“Por causa de Cristo e do Evangelho”, é o lema das fraternidades. Isto significa que o nosso compromisso é com Cristo e com todas as pessoas deste mundo, num espírito de fraternidade universal.


Nosso compromisso consiste em procurar ser irmão um do outro. Formar fraternidade e viver em fraternidade significa estender pontes e encurtar distâncias. Significa buscar com renovado ardor uma nova qualidade no relacionamento humano. Soa aos nossos ouvidos a palavra de Jesus em Marcos: “Entre vós não será assim” (Mc 10, 43) porque vocês vão colocar sinais do reino no tempo da humanidade, vocês vão mostrar ao mundo o que é uma sociedade sem dominações.


Na esperança, começamos o que queremos que aconteça. Por isso tentamos viver fraternidade com os padres, nossos

próximos mais próximos, com os quais carregamos o mesmo peso do dia.


Nosso ministério é um ministério de reconciliação. Na cruz, Cristo mata em sua pessoa a inimizade e derruba o muro de separação que afasta uns dos outros (cf. Ef 2,14-22). Vivendo em fraternidade testemunhamos de forma visível as possibilidades do amor. Certamente, todo problema humano se concentra na dificuldade de relacionamento. Fraternidade significa caminhar no sentido contrário, estabelecendo um novo tipo de relacionamento.


O propósito de uma fraternidade vai além da simples convivência ou de discussões teológicas e pastorais. Em fraternidade, os irmãos buscam entrar em sintonia com Jesus que veio realizar a vontade do Pai. Cada fraternidade se organiza de acordo com as necessidades de seus membros, mas dois pontos precisam ser levados em consideração:


O grupo deve dar tempo ao tempo para que cada um se sinta à vontade e se superem os mecanismos de defesa que bloqueiam os relacionamentos.

O segundo ponto é a estabilidade do grupo. Sem a estabilidade dos membros é difícil chegar a um nível razoável de confiança.

A fraternidade “não funciona” se em cada encontro o grupo é diferente. A estabilidade de cinco a seis membros se faz necessária.


02- A LIBERDADE DAS FRATERNIDADES

“Ter a santa liberdade dos filhos de Deus e estar na alegria de Deus. Uma regra, mas uma santa liberdade na aplicação, como faria Jesus”- Irmão Charles de Foucauld (1).


Escreve um dos maiores especialistas em Charles de Foucauld, Jean–François Six: “Quando se desenvolveram as Fraternidades do Padre Charles de Foucauld” – foi o titulo que o Padre René Voillaume deu ao seu primeiro livro em 1947 – Louis Massignon querendo observar que a “confraria” fundada em 1909 por Foucauld era diferente, por sua estrutura, das fraternidades que surgiam nos anos 40, indicou então a diferença: Carlos de Foucauld tinha fundado não “fraternidades” (com priores, responsáveis, vida comum ou vida de grupo, reuniões, revisões de vida...), mas uma “confraria”, isto é, um grupo de batizados em diáspora, um movimento de gente espalhada um pouco por toda parte, para serem, onde estiverem, em sua vida cotidiana de Nazaré, “missionários isolados”, “pioneiros evangélicos”. O único vínculo entre eles, na Comunhão dos Santos, é esta mesma vocação que traduzem cada uma, cada um, em sua vida cotidiana. E Foucauld lhes tinha proposto, como instrumento de união, um “boletim”, uma correspondência enviada a todos, o menos possível institucional para se consagrarem o mais possível aos “irmãos de Jesus que o ignoram” (2).


“Nazaré” não foi um “esconderijo”, mas a encarnação, a participação plena e inteira da condição humana, e o inicio de sua tarefa divinizadora dessa mesma condição. Antes de “semear e de colher”, é preciso, diz Foucauld, “desbravar”. Foi o que Jesus fez em Nazaré. Depois, Jesus semeou: pregou. Enfim, por sua morte e ressurreição, colheu o grande feixe de todos os seres humanos que conquistou em sua vida.


Desbravador, semeador, coletor: trinta anos, três anos, três dias. Desbravador em Tamanrasset, Foucauld apostava numa possível conversão ao cristianismo de seus amigos tuaregues para “talvez daqui a dois séculos”. O tempo do desbravamento evangélico é extremamente longo em relação aos dois outros. Não se vê o resultado, não se colhe o fruto dos esforços feitos e se é feliz, na alegria por estar nessa vocação, por estar nessa fase e nela permanecer. O que há diante de nós, hoje? Imensas extensões das quais nos dizem que sofrem um eclipse de Deus. Gostaríamos que de repente os céus se abrissem e que os relâmpagos iluminassem tais desertos. O bem-aventurado Charles Foucauld nos convida a percorrer esses desertos como Jesus percorreu as vielas de Nazaré, com passos simples e verdadeiros, com gestos diários de humanidade.


Que nossas vidas sejam marcadas, aqui e ali, pela oração, pela ceia eucarística numa pequena capela ou numa catedral, isto são fontes indispensáveis. Marcada pelo Espirito de liberdade, “Todos juntos livres, padres e leigos, solteiros e casados, diz Foucauld, enviados para fazer conhecer, por nossa vida, nosso amor à vida, nossa alegria de viver, nossa abertura à toda pena e sofrimento, para fazer conhecer que nosso Deus é um Coração.” Cabe a cada um inventar, onde estiver em consciência, sua maneira de amar, fazer respeitar os direitos do ultimo homem, acolher particularmente de todo coração “os irmãos de Jesus que o ignoram”.


São Paulo apóstolo afirma a gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Rm 8,21). A liberdade que temos em Cristo Jesus (GI 2,4). Temos que pô-la em pratica dia por dia: é para a liberdade que vocês foram chamados diz ele ainda aos Gálatas (5,13). Onde está o Espírito do Senhor, ai esta a liberdade. (2 Cor 3,17). A liberdade em tudo no amor de Deus em prol do seu semelhante. “Querer amar é amar”, nos disse Foucauld, no dia de sua morte (era uma primeira sexta-feira do mês consagrada ao coração do Cristo).


A vida evangélica só tem razão de ser no testemunho libertário e na dimensão da caridade: amor-Cáritas.



Ir. Inácio José do Vale

Fraternidade Sacerdotal JesusCáritas