Os textos ficam aqui por uma semana, a partir do sábado depois das 12 ou 13 h. Os textos dos que possuem blogs ou sites podem também ser buscados pelos links a seguir: INÁCIO VALE - MAGDA MELO - PE. NELITO DORNELAS - MARCELO BARROS- PE. GEOVANE - - LEONARDO BOFF - DOM WALMOR - DOM FONTINELE - VATICAN NEWS - DOM OTACÍLIO
No Domingo de Cristo Rei, celebramos o senhorio de Jesus, que não reina pela força ou poder humano, mas pela entrega total de sua vida, pela verdade, pela justiça e pelo amor que liberta. Seu reinado é serviço, solidariedade e fidelidade ao projeto do Pai. É este Reino que Jesus inaugura e confia à comunidade dos discípulos.
À luz dessa solenidade, contemplamos também a vocação e missão dos cristãos leigos e leigas, chamados a testemunhar a presença do Reino de Deus no coração do mundo. Iluminados pelo Evangelho, são enviados a viver sua fé nas realidades cotidianas, como “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-16). Ser sal é conservar e dar sabor à vida; ser luz é iluminar caminhos, dissipar sombras e apontar possibilidades de esperança.
A Igreja, especialmente no Documento 105 da CNBB, recorda que os cristãos leigos e leigas são “sujeitos eclesiais”, responsáveis pela transformação da sociedade à luz do Evangelho e pelo testemunho da fé nos ambientes em que vivem e trabalham. Seu lugar é o mundo, não como quem se conforma, mas como quem o renova segundo a lógica do Reino.
Celebrar Cristo Rei é, portanto, renovar o compromisso missionário dos cristãos leigos e leigas, que fazem do cotidiano um espaço de evangelização. Eles constroem a paz onde há conflitos, semeiam justiça onde reina a desigualdade, defendem a dignidade onde ela é ameaçada e cuidam da vida em todas as suas formas.
O reinado de Cristo se torna visível quando os cristãos leigos e leigas assumem a missão de transformar a realidade, denunciando injustiças, anunciando a esperança e colocando-se a serviço dos mais vulneráveis. São pessoas que encarnam o estilo de Jesus e deixam transparecer, em cada gesto, que o Reino está vivo e presente.
Que este Domingo de Cristo Rei fortaleça em todos os cristãos leigos e leigas a certeza de que seu testemunho é indispensável à missão da Igreja. Sustentados pela Palavra, alimentados pela Eucaristia e animados pela vida comunitária, continuemos sendo sal e luz, sinais vivos do Reino que já está entre nós e que cresce através da nossa fé, coragem e compromisso.
XXXIV Domingo comum C:
Lc 23, 35- 43.
“No olhar da gente, a certeza do irmão: reinado do povo”
Neste último domingo do tempo comum, a Igreja Católica celebra o que chama de “Festa de Cristo-Rei” e nesse ano C, nos propõe meditar sobre Lucas 23, 35 a 43, a cena na qual Jesus, na cruz, é reconhecido como rei pelo bandido com o qual estava sendo crucificado. Este lhe pede:
- “Senhor, lembra-te de mim quando começares a reinar”
e Jesus responde: “- Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.
Para o evangelho, o modo como Jesus viveu sua missão de libertador foi de modo contrário ao poder e à força. Ele nunca usou propriamente esse título para si e, ao contrário, manifestou-se claramente contrário. O evangelho de João conta que depois de repartir o pão com a multidão, as pessoas querem fazê-lo rei e ele foge para orar na montanha (Jo 6, 15). Foi Pilatos, o governador romano que colocou na cruz de Jesus, o título “Rei dos Judeus” e fez isso para ridicularizá-lo.
Quando, na cruz, Jesus responde ao bandido que está ao seu lado: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”, isso não pode significar que o reino de Deus é o paraíso para onde se vai depois da morte.
Não deixa de ser significativo que o primeiro cidadão do reino de Jesus tenha sido um bandido que a tradição cristã chamou de “ladrão” e até de bom ladrão, mas cuja tradução mais exata da palavra grega usada pelos evangelhos seria um subversivo político condenado à morte pelo império.
Alguns exegetas fazem o malabarismo de deslocar o Hoje da frase que o evangelho diz ter Jesus pronunciado: “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso” contém a promessa imediata para hoje. Se ele disse: “Em verdade, hoje, eu te digo: estarás comigo no paraíso”, a afirmação ganha outro sentido. Aí paraíso significaria a entrada no reino e o evangelho não teria necessariamente ligado isso com a morte. Seja como for, o fato é que, na cruz, Jesus revela que, mesmo na última hora, toda pessoa pode contar com o perdão divino e a participação no seu reinado. E claro o mais importante é que o Hoje do qual Jesus fala é o hoje da salvação que vai além da referência imediata ao tempo.
Por trás dessa cena, o mais importante é ver a questão messiânica, mistério até hoje não totalmente resolvido. Já sabemos que, por seu modo de assumir a missão de Messias, Jesus frustrou as expectativas judaicas do seu tempo. Não correspondeu à figura do revolucionário que enfrenta os romanos e estabelece o reinado messiânico no mundo. Desde o princípio, as comunidades cristãs tentaram espiritualizar a sua forma de viver a missão (o meu reino não é desse mundo). Como compreender isso hoje?
A festa de Cristo Rei foi criada em 1925, quando na Europa, a sociedade caminhava para uma época de ditaduras como o Fascismo e o Nazismo em países como Portugal, Espanha, Itália, Alemanha e, a partir daí, o que resultou em uma guerra mundial. Era como se ao proclamar Jesus como Rei se quisesse contrapor outro modo de viver o poder na sociedade.
Infelizmente, na própria Igreja, o papa da época fez acordo com o ditador italiano para ser reconhecido como soberano do pequeno estado do Vaticano e entendia isso como símbolo da realeza de Cristo.
Na festa de Cristo Rei de 1963, portanto há mais de 60 anos, em Roma, durante o Concílio Vaticano II, Dom Helder Camara escrevia em uma de suas circulares: “Eu me angustio ao ver que, de certo modo, exploramos a realeza dele para justificar, inconscientemente a nossa. Durante a missa, pensei o tempo todo no pobre Rei, com estopa nas costas e coroado de espinhos...” (25ª Circular – Tomo 1. Volume 1, p. 238).
Atualmente, como já nos anos 1960, sonhava Dom Helder Camara, muitos de nós desejamos que o bispo de Roma, primaz da comunhão católica das Igrejas, se liberte das amarras do poder, renuncie a ser chefe de Estado, justamente para viver com mais liberdade o seu ministério de pastor. Ao ler, hoje, o evangelho da crucifixão, não podemos esquecer que todos os poderes da época, o político e o religioso, se colocaram de acordo para condenar Jesus à morte.
De fato, temos de nos perguntar o que significa no mundo atual, chamar Jesus de rei, mesmo se esclarecemos que ele reina na cruz e que sua forma de ser rei é oposta à forma da nobreza do mundo. No mundo antigo, como a sociedade registrou em livros, a monarquia era a única forma de poder social e político. Reis e rainhas eram senhores e tinham direito às propriedades dos seus súditos e até às suas pessoas como escravos. Mesmo se dizemos que Jesus é ou foi um rei diferente, de fato, com essa imagem, chamamos Jesus de um bom senhor de escravos. E, sem querer, legitimamos uma sociedade de senhores e de escravos. Alguns argumentam: Só o Cristo é o Senhor. Os evangelhos testemunham: Jesus nunca quis escravos. Durante a ceia, diz claramente aos discípulos e discípulas: “Não vos chamo de servos, mas de amigos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque partilhei convosco tudo quanto ouvi do meu Pai” (Jo 15, 15).
Hoje são milhões de pessoas no mundo que vivem como marginais nos mais diversos tipos de cruz inventados pelo mundo para exterminar a multidão de descartáveis que não são necessários ao comércio e ao lucro dos poderosos e da elite econômica que, no Brasil, Jessé de Souza chama de “elite do atraso”, marcada pelo racismo e pela desumanidade monstruosa.
Sem dúvida, a melhor forma de celebrar a salvação divina é não legitimar monarquias nem nobrezas humanas e realmente nos colocar como cidadãos e cidadãs do reinado dos povos crucificados aos quais precisamos fazer descer da cruz.
No Brasil de hoje, para o povo mais pobre, rei e rainha são títulos de carnaval: em Pernambuco, rei e rainha de Maracatu. Em alguns estados do Nordeste, recorda os pastoris e reizados que crianças e jovens dançam na época do Natal. Crianças gostam das histórias de reis e rainhas. Até hoje, o Cinema fatura com as aventuras dos tempos antigos e recorda as magias da terra do meio, as tramas do “Senhor do anel”.
Na música Utopia, o querido poeta e compositor Zé Vivente canta:
“No olhar da gente, a certeza do irmão: reinado do povo”
Assim, com essas palavras, proclamamos a esperança do poder popular. Somos chamados e chamadas a crer que na luta pacífica dos crucificados e crucificadas do mundo está a salvação que Jesus nos promete e que os movimentos populares chamam de “reinado do povo”.
Folia de reis
(Chico Anísio e Arnaud Rodrigues)
Ai, andar andei
Ai, como eu andei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome da rainha
E folia em nome de rei
Alegria em nome da rainha
E folia em nome de rei
Ai, mar marujei
Ai, eu naveguei
E aprendi a nova lei
Se é de terra que fique na areia
O mar bravo só respeita rei
Se é de terra que fique na areia
O mar bravo só respeita rei
Ai, voar voei
Ai, como eu voei
E aprendi a nova lei
Alegria em nome das estrelas
E folia em nome de rei
Alegria em nome das estrelas
E folia em nome de rei
Ai, eu partirei
Ai, eu voltarei
Vou confirmar a nova lei
Alegria em nome de Cristo
Porque Cristo foi o Rei dos reis
Alegria em nome de Cristo
Porque Cristo foi o Rei dos reis
Este último domingo do tempo comum encerra o ano litúrgico, com a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Essa festa de Cristo Rei tornou-se a grande festa dos batizados e batizadas organizados na Ação Católica e, depois do Concílio Vaticano II, tornou-se a festa do Povo de Deus articulado nas CEBs, nas Pastorais sociais, nas comunidades missionárias e movimentos, onde os leigos e as leigas exercem sua missão e militância de fermento no mundo e na Igreja.
O reinado de Jesus não é de dominação, mas de serviço, na gratuidade, para a construção da justiça, da paz, da solidariedade.
O trecho do evangelho escolhido para hoje (Mt 23, 35-43) é o dos soldados romanos caçoando de Jesus em cuja cruz havia um letreiro: “Este é o rei dos judeus” .
Diziam-lhe: “Se es o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo” (23, 37-38).
É o império romano que escarne de Jesus na sua derrota, ali no Calvário, pregado na cruz e agonizando.
É também o da aparente vitória do Templo cujos chefes zombam de Jesus, dizendo:
“A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo se, de fato, é o Cristo de Deus, o escolhido” (23, 35).
Um dos dois malfeitores pregado na cruz insultava Jesus dizendo: “Tu não es o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós” (23, 39-40).
Lucas chega a repetir por três vezes os escárnios, zombarias e insultos:
“Salva-te a ti mesmo”. Comenta Pagola:
“Que ‘Messias’ pode ser este, se não tem poder para salvar? Que tipo de ‘Rei’ pode ser este, se não tem poder para salvar-me? Como irá salvar seu povo da opressão de Roma, se não pode escapar dos quatro soldados que vigiam sua agonia? Como irá Deus estar do seu lado, se não intervém para libertá-lo?
De repente, em meio de tanta zombaria, uma invocação:
‘Jesus, lembra-te de mim, quando chegares no teu reino’.
É o outro delinquente que reconhece a inocência de Jesus, confessa sua culpa e, cheio de confiança no perdão de Deus, só pede a Jesus que se lembre dele.
Jesus lhe responde: ‘Hoje estarás comigo no paraíso’.
Agora estão os dois agonizando, unidos no desamparo e na impotência. Mas hoje mesmo estarão os dois desfrutando a vida do Pai.
O relato da crucificação nos demonstra a nós, seguidores de Jesus que seu reino não é um reino de glória e de poder, mas de serviço, amor e entrega total para resgatar o ser humano do mal, do pecado e da morte”.
Sejamos humildes servidores de Jesus e, pelo nosso compromisso e firme esperançar, testemunhas vivas de sua ressurreição, no limiar do novo ano litúrgico que começa logo mais no dia 30 de novembro, com o primeiro domingo do Advento.
Daqui para frente, seremos guiados pelo evangelista Mateus, que nos entrega o programa de Jesus com o Sermão da montanha (Mt 5, 6, 7).
A palavra “rei” teve uma conotação privilegiada no Antigo Testamento. Era o poder centrado nas mãos de uma única pessoa e reconhecido pelas demais. Apesar do querer do povo judeu, a prática não foi tão saudável como se esperava. Como diz o ditado, “o poder quando sobe na cabeça”, perde o sentido do servir. Para o cristão, o único Rei é o ungido do Pai, Jesus, que serviu morrendo na cruz.
O verdadeiro Rei é aquele que assume a missão de construir um Reino de paz, de justiça e amor. Dizemos que esse Rei é Cristo, mas, a missão se estende para a vida de seus seguidores, também ungidos pelo Batismo e confirmados no Sacramento da Crisma. Essa missão pesa sobre aqueles que governam uma Nação, um Estado ou um Município, porque são espaços onde se deve construir a paz.
Antes de ser implantado o sistema de reinado, entre os hebreus, e o surgimento do primeiro rei, o Rei Saul, as decisões eram coletivas, porque o povo estava organizado pelo sistema tribal. Não havia um chefe absoluto, que ditava as regras para as comunidades. Mas, acontece que tudo mudou com a chegada de Saul, que agia de forma autoritária, mais como rei e menos como pastor de ovelhas.
Lamentavelmente, presenciamos cenas desastrosas para o povo. Entre elas, está o massacre no Rio de Janeiro, numa cidade civilizada, culta, bela, mas lameada pelo sangue de tantas pessoas motivadas pelo tráfico. O que vem acontecendo mesmo é ausência de políticas públicas que atendam as necessidades da população. Onde não está o poder público, estão as organizações criminosas.
Todo poder deveria ser divino, porque vem de Deus. Mas, a força política e os conchavos econômicos esvaziam a identidade dos que estão no poder e agem de forma arbitrária e interesseira. Desta forma, acabam prejudicando a vida das pessoas e da comunidade por eles administradas. Cada autoridade deveria ser uma embaixadora de Deus na preservação do bem comum e da harmonia entre todos.
O pior diante das más administrações é o silêncio do povo e sua falta de reação. Isso acontecia na cultura dos faraós do Egito, até que apareceu Moisés com força libertadora e conseguiu que o povo se livrasse daquelas imposições arbitrárias. É importante olhar para a prática de Jesus, que não impunha sua onipotência e autoridade. É necessário buscar que tipo de autoridade devemos eleger!
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
O *subsídio para o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas de 2025 (DNCL)* já está disponível para download no site do CNLB! O DNCL será celebrado em 23 de novembro, na Solenidade de Cristo Rei do Universo.
Com o tema *“Cristãos leigos e leigas: Sinais de Esperança no Mundo”*, o material convida comunidades, conselhos, grupos e pastorais a refletirem sobre a missão dos batizados e batizadas na transformação da sociedade.
O subsídio traz textos de reflexão, roteiro para círculo bíblico, celebração da Palavra e um anexo histórico sobre a origem e o significado do DNCL.
_Acesse aqui: cnlb.org.br/cnlb-lanca-subsidio-para-celebrar-o-dia-nacional-dos-cristaos-leigos-e-leigas-de-2025
Nós, da Cúpula dos Povos, reunidos em Belém do Pará, na Amazônia brasileira, de 12 a 16 de novembro de 2025, declaramos aos povos do mundo o que acumulamos em lutas, debates, estudos, intercâmbios de experiências, atividades culturais e depoimentos, ao longo de vários meses de preparação e nestes dias aqui reunidos. Nosso processo reuniu mais de 70.000 pessoas que compõem movimentos locais, nacionais e internacionais de povos originários e tradicionais, camponeses/as, indígenas, quilombolas, pescadores/as, extrativistas, marisqueiras, trabalhadores/as da cidade, sindicalistas, população em situação de rua, quebradeiras de coco babaçu, povos de terreiro, mulheres, comunidade LGBTQIAPN+, jovens, afrodescendentes, pessoas idosas, dos povos da floresta, do campo, das periferias, dos mares, rios, lagos e mangues. Assumimos a tarefa de construir um mundo justo e democrático, com bem viver para todas e todos. Somos a unidade na diversidade. O avanço da extrema direita, do fascismo e das guerras ao redor do mundo exacerba a crise climática e a exploração da natureza e dos povos. Os países do norte global, as corporações transnacionais, e as classes dominantes são os maiores responsáveis por essas crises. Saudamos a resistência e nos solidarizamos com todos os povos que estão sendo cruelmente atacados e ameaçados pelas forças do império estadunidense, Israel e seus aliados da Europa. Há mais de 80 anos, o povo palestino tem sido vítima de genocídio praticado pelo Estado sionista de Israel, que bombardeou a faixa de Gaza, deslocou pela força milhões de pessoas e matou dezenas de milhares de inocentes, a maioria crianças, mulheres e idosos. Nosso repúdio total ao genocídio praticado contra a Palestina. Nosso apoio e abraço solidário ao povo que bravamente resiste, e ao movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). Ao mesmo tempo, no mar do Caribe, os Estados Unidos intensificam sua presença imperial. Fazem-no expandindo operações conjuntas, acordos e bases militares, em conluio com a extrema direita, sob o pretexto de combate ao narcotráfico e ao terrorismo, como com a operação recém anunciada “Lança do Sul”. O imperialismo segue ameaçando a soberania dos povos, criminalizando movimentos sociais e legitimando intervenções que historicamente serviram aos interesses privados na região. Nos solidarizamos à resistência da Venezuela, Cuba, Haiti, Equador, Panamá, Colômbia, El Salvador, República Democrática do Congo, Moçambique, Nigéria, Sudão, e com os projetos de emancipação dos povos do Sahel, Nepal e de todo o mundo. Não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidados. Por isso, o feminismo é parte central do nosso projeto político. Colocamos o trabalho de reprodução da vida no centro, é isso que nos diferencia radicalmente dos que querem preservar a lógica e a dinâmica de um sistema econômico que prioriza o lucro e a acumulação privada de riquezas. Nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade, lutas e de cooperação entre nossos povos. As verdadeiras soluções são fortalecidas por esta troca de experiências, desenvolvidas em nossos territórios e por muitas mãos. Temos o compromisso de estimular, convocar e fortalecer essas construções. Por isso, saudamos o anúncio da construção do Movimento Internacional de Atingidas e Atingidos por barragens, pelos crimes socioambientais e pela crise climática. Iniciamos nossa Cúpula dos Povos navegando pelos rios da Amazônia que, com suas águas, nutrem todo o corpo. Como o sangue, sustentam a vida e alimentam um mar de encontros e esperanças. Reconhecemos também a presença dos encantados e de outros seres fundamentais na cosmovisão dos povos originários e tradicionais, cuja força espiritual orienta caminhos, protege territórios e inspira as lutas pela vida, pela memória e por um mundo de bem viver. Depois de mais de dois anos de construção coletiva e de realizar a Cúpula dos Povos, afirmamos: 1. O modo de produção capitalista é a causa principal da crise climática crescente. Os principais problemas ambientais do nosso tempo são consequência das relações de produção, circulação e descarte de mercadorias, sob a lógica e domínio do capital financeiro e das grandes corporações capitalistas. 2. As comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos e o racismo ambiental. Enfrentam, por um lado, a ausência de políticas de infraestrutura e de adaptação. Por outro, a falta de ações de justiça e reparação, em especial às mulheres, jovens, pessoas empobrecidas e não brancas. 3. As empresas transnacionais, em cumplicidade com governos do norte global, estão no centro de poder do sistema capitalista, racista e patriarcal, sendo os atores que mais causam e mais se beneficiam das múltiplas crises que enfrentamos. As indústrias de mineração, energia, das armas, o agronegócio e as Big Techs são as principais responsáveis pela catástrofe climática em que vivemos. 4. Somos contrários a qualquer falsa solução a crise climática que venha a perpetuar práticas prejudiciais, criar riscos imprevisíveis e desviar a atenção das soluções transformadoras e baseadas na justiça climática e dos povos, em todos os biomas e ecossistemas. Alertamos que o TFFF, sendo um programa financeirizado, não é uma resposta adequada. Todos os projetos financeiros devem estar sujeitos a critérios de transparência, acesso democrático, participação e benefício real para as populações afetadas. 5. É evidente o fracasso do atual modelo de multilateralismo. São cada vez mais recorrentes os crimes ambientais e os eventos climáticos extremos que ocasionam mortes e destruição. Isto demonstra o fracasso das inúmeras conferências e reuniões mundiais que prometeram resolver esses problemas, mas nunca enfrentaram as suas causas estruturais. 6. A transição energética está sendo implementada sob a lógica capitalista. Apesar da ampliação das fontes renováveis, não houve redução nas emissões de gases de efeito estufa. A expansão das fontes de produção energética acabou por se configurar também como um novo espaço de acumulação de capital. 7. Finalmente, afirmamos que a privatização, mercantilização e financeirização dos bens comuns e serviços públicos contrariam frontalmente os interesses populares. Nestes marcos, as leis, instituições de Estado e a imensa maioria dos governos foram capturados, moldados e subordinados à busca do lucro máximo pelo capital financeiro e pelas empresas transnacionais. São necessárias políticas públicas para avançar na recuperação dos Estados e enfrentar as privatizações. Frente a esses desafios, propomos: 1. O enfrentamento às falsas soluções de mercado. O ar, as florestas, as águas, as terras, os minérios e as fontes de energia não podem permanecer como propriedade privada nem serem apropriados, porque são bens comuns dos povos. 2. Cobramos que haja participação e protagonismo dos povos na construção de soluções climáticas, reconhecendo os saberes ancestrais. A multidiversidade de culturas e de cosmovisões, carrega sabedoria e conhecimentos ancestrais que os Estados devem reconhecer como referências para soluções às múltiplas crises que assolam a humanidade e a Mãe Natureza. 3. Exigimos a demarcação e proteção das terras e territórios indígenas e de outros povos e comunidades locais, uma vez que são quem garantem a floresta viva. Exigimos dos governos o desmatamento zero, o fim das queimadas criminosas, e políticas de Estado para restauração ecológica e recuperação de áreas degradadas e atingidas pela crise climática. 4. Reivindicamos a concretização da reforma agrária popular e o fomento à agroecologia, para garantia da soberania alimentar e combate à concentração fundiária. Os povos produzem alimentos saudáveis, a fim de eliminar a fome no mundo, com base na cooperação e acesso a técnicas e tecnologias de controle popular. Esse é um exemplo de verdadeira solução para combater a crise climática. 5. Demandamos o combate ao racismo ambiental e a construção de cidades justas e periferias vivas através da implementação de políticas e soluções ambientais. Os programas de moradia, saneamento, acesso e uso da água, tratamento de resíduos sólidos, arborização, e acesso à terra e à regularização fundiária, devem considerar a integração com a natureza. Queremos o investimento em políticas de transporte público, coletivo e de qualidade, com tarifas zero. Essas são alternativas reais para o enfrentamento da crise climática nos territórios periféricos no mundo todo, que devem ser implementadas com o devido financiamento para adaptação climática. 6. Defendemos a consulta direta, a participação e gestão popular das políticas climáticas nas cidades, para o enfrentamento às corporações do setor imobiliário que têm avançado na mercantilização da vida urbana. A cidade da transição climática e energética deverá ser uma cidade sem segregação e que abrace a diversidade. Por fim, condicionar o financiamento climático a protocolos que visem a permanência habitacional e, em última instância, a indenização justa para pessoas e comunidades com garantia de terra e moradia, tanto no campo quanto nas cidades. 7. Exigimos o fim das guerras e a desmilitarização. Que todos os recursos financeiros destinados às guerras e à indústria bélica sejam revertidos para a transformação desse mundo. Que as despesas militares sejam direcionadas à reparação e recuperação de regiões atingidas por desastres climáticos. Que sejam tomadas todas as medidas necessárias para impedir e pressionar Israel, responsabilizando-o pelo genocídio cometido contra o povo palestino. 8. Exigimos a justa e plena reparação das perdas e danos impostos aos povos pelos projetos de investimento destrutivos, pelas barragens, mineração, extração de combustíveis fósseis e desastres climáticos. Também exigimos que sejam julgados e punidos os culpados pelos crimes econômicos e socioambientais que afetam milhões de comunidades e famílias em todo o mundo. 9. Os trabalhos de reprodução da vida devem ser visibilizados, valorizados, compreendidos como o que são - trabalho - e compartilhados no conjunto da sociedade e com o Estado. Esses são essenciais para a continuidade da vida humana e não humana no planeta. Isso também garante autonomia das mulheres, que não podem ser responsabilizadas individualmente pelo cuidado, mas devem ter suas contribuições consideradas: nosso trabalho sustenta a economia. Queremos um mundo com justiça feminista, autonomia e participação das mulheres. 10. Demandamos uma transição justa, soberana e popular, que garanta os direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras, bem como o direito a condições de trabalho dignas, liberdade sindical, negociação coletiva e proteção social. Consideramos a energia como um bem comum e defendemos a superação da pobreza e da dependência energética. Tanto o modelo energético, quanto a própria transição, não podem violar a soberania de nenhum país do mundo. 11. Exigimos o fim da exploração de combustíveis fósseis e apelamos aos governos para que desenvolvam mecanismos para garantir a não proliferação de combustíveis fósseis, visando uma transição energética justa, popular e inclusiva com soberania, proteção e reparação aos territórios. Em particular na Amazônia e demais regiões sensíveis e essenciais para a vida no planeta. 12. Lutamos pelo financiamento público e taxação das corporações e dos mais ricos. Os custos da degradação ambiental e das perdas impostas às populações devem ser pagos pelos setores que mais se beneficiam desse modelo. Isso inclui fundos financeiros, bancos e corporações do agronegócio, do hidronegócio, aquicultura e pesca industrial, da energia e da mineração. Esses atores também devem arcar com os investimentos necessários para uma transição justa e voltada às necessidades dos povos. 13. Exigimos que o financiamento climático internacional não passe por instituições que aprofundam a desigualdade entre Norte e Sul, como o FMI e o Banco Mundial. Ele deve ser estruturado de forma justa, transparente e democrática. Não são os povos e países do Sul global que devem continuar pagando dívidas às potências dominantes. São esses países e suas corporações que precisam começar a saldar a dívida socioambiental acumulada por séculos de práticas imperialistas, colonialistas e racistas, pela apropriação de bens comuns e pela violência imposto a milhões de pessoas mortas e escravizadas. 14. Denunciamos a contínua criminalização dos movimentos, a perseguição, o assassinato e desaparecimento de nossas lideranças que lutam em defesa de seus territórios, bem como aos presos políticos e presos palestinos que lutam por libertação nacional. Reivindicamos a ampliação da proteção de defensores e defensoras de direitos humanos e socioambientais na agenda climática global, no marco do Acordo de Escazú e outras normativas regionais. Quando um defensor protege o território e a natureza, ele não protege apenas um indivíduo, mas todo um povo e beneficia toda a comunidade global. 15. Reivindicamos o fortalecimento de instrumentos internacionais que defendam os direitos dos povos, seus direitos consuetudinários e a integridade dos ecossistemas. Precisamos de um instrumento internacional juridicamente vinculante em matéria de direitos humanos e empresas transnacionais, que seja construído desde a realidade concreta das lutas das comunidades atingidas pelas violações cometidas, exigindo direitos para os povos e regras para as empresas. Afirmamos ainda que a Declaração dos Direitos Campesinos e de Outras Pessoas que Trabalham nas Áreas Rurais (UNDROP) deve ser um dos pilares da governança climática. A plena implementação dos direitos camponeses devolve o povo aos territórios, contribui diretamente para a sua alimentação, para o cuidado do solo e o esfriamento do planeta. Por fim, consideramos que é tempo de unificar nossas forças e enfrentar o inimigo comum. Se a organização é forte, a luta é forte. Por esta razão, a nossa tarefa política principal é o trabalho de organização dos povos em todos os países e continentes. Vamos enraizar nosso internacionalismo em cada território e fazer de cada território uma trincheira da luta internacional. É tempo de avançar de modo mais organizado, independente e unificado, para aumentar nossa consciência, força e combatividade. Este é o caminho para resistir e vencer. “Povos do mundo: Uni-vos”
Cada 16 de novembro recorda um acontecimento fundamental para as Igrejas cristãs e para o mundo. Nessa data, em 1965, em Roma, durante o último período de sessões do Concílio Vaticano II, 42 bispos católicos de diferentes países e continentes se encontraram para assinar um compromisso público fundamental para a inserção amorosa da Igreja junto às populações mais empobrecidas. Através daquele documento, os bispos decidiam renunciar a títulos honoríficos como “príncipes da Igreja” e a símbolos de nobreza, como palácio episcopal, cruz e anel de ouro, ou metal precioso. Alguns arcebispos tinham até trono. Assumiram, então, o compromisso de simplicidade e sobriedade no modo de morar, de vestir e de viver. Como servidores do Evangelho, testemunhavam que, por vocação evangélica, a Igreja de Cristo deve ser, prioritariamente, Igreja de pobres e para pobres. Para assumir e assinar esse documento, aqueles 42 bispos se reuniram nas Catacumbas de Domitila, em Roma. Era um local simbólico, porque, ali, nos primeiros séculos, junto ao túmulos de irmãos e irmãs, mártires da fé, a comunidade cristã de Roma celebrava o louvor de Deus e vivia a comunhão. Por isso, esse documento se tornou conhecido como “Pacto das Catacumbas”. Nos dias seguintes, mais de 500 outros bispos de todo o mundo assinaram o documento e assumiram o mesmo compromisso.
No episcopado católico brasileiro, depois do Concílio Vaticano II, esse novo modo de compreender a missão eclesial e de viver o ministério pastoral foi vivido por homens como Helder Camara, Antônio Fragoso, Jorge Marcos, Marcos Noronha, José Maria Pires e mais tarde, Tomás Balduíno, Pedro Casaldáliga, José Gomes, José Rodrigues, Paulo Evaristo Alves e vários outros pastores profetas. Mesmo sem a mesma visibilidade, houve movimento semelhante entre alguns pastores evangélicos brasileiros e latino-americanos.
Em 2019, durante o Sínodo para a Amazônia no Vaticano, um grupo de bispos, padres, missionários e missionárias leigas, ministros e ministras de outras Igrejas cristãs e também representantes de povos originários se reuniram de novo, nas Catacumbas de Domitila. Ali, renovaram o compromisso do Pacto das Catacumbas e o atualizaram em um documento que se chamou: Pacto das Catacumbas pela Casa Comum". Em 15 pontos que atualizam o chamado à pobreza evangélica e à defesa da vida e da casa comum, essa nova versão do Pacto focou na defesa da Amazônia, no cuidado com a Mãe-Terra e na solidariedade aos povos originários.
A partir dessa iniciativa, em algumas Igrejas locais, grupos ecumênicos laicos se constituíram como grupos da renovação do Pacto.
Na época do primeiro pacto, o compromisso com os irmãos e irmãs pobres se compreendia como caminho ascético de renúncia ao conforto e busca de comunhão com os empobrecidos e empobrecidas do mundo. Já em tempos anteriores ao Vaticano II, em alguns países, surgiu o movimento dos padres operários. Depois do Concílio, muitos irmãs e irmãos religiosos (as) optaram por morar nas periferias e viver junto às pessoas mais empobrecidas. Também alguns grupos de jovens seguiram este caminho.
Em nossos dias, as pessoas pobres não são apenas indivíduos. São coletivos que o mártir salvadorenho Ignacio Ellacuría chamava de “povos crucificados. Por isso, hoje, o Pacto das Catacumbas não pode mais ser apenas de comunhão e proximidade. É urgente fazer os povos crucificados descerem da cruz. A Teologia da Libertação nos ensinou: “Com os pobres, mas contra a pobreza injusta”.
Para isso, a solidariedade aos povos empobrecidos (opção não só preferencial, mas prioritária) continua necessária, mas é preciso mais. Temos de atacar as raízes do problema: as causas estruturais da pobreza no mundo. Se não lutarmos contra as estruturas sociais e políticas que criam e alimentam os diversos rostos que a pobreza toma, agimos como alguém que quisesse enxugar uma sala molhada, sem antes fechar a torneira.
Desde o começo do seu ministério, em 2013, o saudoso Papa Francisco propôs que a Igreja se colocasse “em saída, ao encontro das periferias do mundo”. Concretamente, Francisco provocou encontros mundiais de representantes de movimentos populares de todo o mundo e propôs como meta da luta contra a pobreza o direito universal aos três T: terra, trabalho e teto.
Neste 2025, 16 de novembro coincide com o 33º Domingo comum do ano, no qual, pela nona vez, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial dos Pobres. Neste ano, o tema proposto é “Tu és a minha esperança" (Sl 71,5).
De fato, o aumento descomunal da pobreza no mundo, as discriminações sociais e a perseguição violenta que migrantes e estrangeiros sofrem nos mais diversos países, assim como a proliferação de guerras e conflitos tornam urgente esse chamado. O olhar sobre a realidade, por mais necessário que seja, pode ser desmobilizador e os diagnósticos, pessimistas. A esperança só pode vir da confiança da fé. Podemos dizer “Tu és a nossa esperança”. Concretamente, o Espírito de Amor, no qual esperamos suscita a resistência das comunidades originárias, dos grupos afrodescendentes e dos movimentos populares. Quanto mais dificuldades e obstáculos se agravam, mais expressam alegria e resistência amorosa. Assim, o amor vence a indiferença e a vida vence a morte. Dom Helder Camara repetia sempre: “Quanto mais escura é a noite, mais bela e fulgurante será a aurora”.
Quase todos fazemos a experiência de que tudo está passando depressa demais. Já estamos próximos do Natal, logo depois vêm as festas de fim de ano, o carnaval e assim outras datas. Esse sentimento é ilusório ou tem base real?
Há uma acirrada discussão entre os cientistas, especialmente físicos e climatólogos, que essa sensação não possui base científica. Estes geralmente se movem ainda dentro do velho paradigma que não considera a interação de tudo com tudo, como o demonstrou a física quântica e foi assumida pela ecologia integral do Papa Francisco em sua encíclica: “Sobre o cuidado da Casa Comum”(2015) e ecologia em geral.
Outro grupo de pesquisadores, no entanto, que assumem o novo paradigma holístico, como os do Hearth Math Institute acolhem a hipótese de que o sol e a atividade geomagnética influenciam a vida humana e a de todos os seres vivos. É neste contexto que se coloca a influência da Ressonância Schumann para aclarar a sensação de que tudo passa tão rápido.
O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por um campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera, cerca de 60-100 km acima de nós. A Terra e a ionosfera agem como uma imensa "caixa" ressonante mais ou menos constante, da ordem de 7,83 pulsações herzt por segundo. Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Verificou-se também que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma frequência de 7,83 hertz.
Empiricamente fez-se a constatação de que não podemos ser saudáveis fora dessa frequência biológica natural. Sempre que os astronautas, em razão das viagens espaciais, ficavam fora da atividade eletromagnética terrestre e da Ressonância Schumann, sentiam-se enfraquecidos. Após a viagem espacial deviam repousar por algum tempo até recuperar seu equilíbrio. Mas submetidos à ação de um simulador Schumann recuperavam o equilíbrio e a saúde.
Por milhares de anos as batidas do coração da Terra tinham essa frequência de pulsações e a vida se desenrolava em relativo equilíbrio ecológico. Ocorre que a partir dos anos 80, e de forma mais acentuada a partir dos anos 90 até hoje, a frequência passou de 7,83 para 9,11,13 e mais hertz por segundo. O coração da Terra disparou.
Então muitos pesquisadores entre as várias influências solares e eletromagnéticas que a Terra está constantemente submetida, incluíram também a Ressonância Schumann. Afirmam que está bem estabelecido que a dimensão celebral e cardiovascular e o sistema nervoso automático são afetados. Afirmam que não é de estranhar que coincidentemente ocorram desequilíbrios ecológicos e sociais: o aquecimento global da Terra, eventos extremos, com secas severas e grandes inundações pelo excesso de chuvas, maior atividade dos vulcões, crescimento de tensões e conflitos no mundo e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido à aceleração geral, a jornada de 24 horas, continua sendo de 24 horas, mas na verdade, a percepção é como se fosse de somente de 16 horas. Portanto, a sensação de que tudo está passando rápido demais não é ilusória, mas teria base real nesse transtorno dos campos eletromagnéticos e da Ressonância Schumann.
Os dados do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climática e assumidos pelas várias COPs revelam que estão ocorrendo eventos extremos, o crescimento global do planeta, chegando neste ano a 1,7ºC quando se previa que até 2030 que chegaria a 1,5ºC.
Não podemos mais parar a roda, apenas desacelerá-la mediante um processo de precaução, prevenção, adaptação e de minoração dos efeitos nocivos. Haverá, se não mudarmos de rumo civilizatório, grandes dizimações de espécies e milhões de pessoas poderão correr risco de vida.
A Terra é Gaia, quer dizer, um super-organismo vivo que articula o físico, o químico, o biológico e antropológico de tal forma que ela se torna benevolente para com a vida. Agora ela não consegue sozinha se autorregular. Temos que ajudá-la, mudando o padrão de intervenção na natureza, de produção e de consumo. Caso contrário, poderemos conhecer o destino dos dinossauros. Nós, seres humanos, somos aquela porção da Terra que sente, pensa, ama, cuida e venera. Temos o imperativo ético, bem expresso no livro do Gênesis (2,15) de guardar e cuidar da Casa Comum.
Esse imperativo deve começar por nós mesmos: fazer tudo sem estresse, com mais serenidade, com mais amor, que é uma energia cósmica e essencialmente harmonizadora. Cientistas desta área testemunham que as pessoas que se alinham à Ressonância Schumann normal (7,83 herzt) se mostram mais cordiais, cuidadosas e compassivas.
Precisamos respirar juntos com a Terra, para conspirar com ela pela paz que é o equilíbrio do movimento e frutoda justa medida em todas as nossas atividades.
Leonardo Boff, ecoteólogo e Membro da Comissão Internacional da Carta da Terra.
"Dentre esses quatro objetivos destaco um, que merecia ter recebido grande destaque nesta COP-30, realizada na Amazônia: a relação entre o Socialismo e o Bem Viver tendo no horizonte a Esperança do Reino de Deus."
Pedro A. Ribeiro de Oliveira
doutor em Sociologia,
Professor aposentado dos PPGCR da UFJF e PUC-Minas.
Acabo de fazer a inscrição para o 13º Encontro Nacional de Fé e Política – ENFP, que se realizará em São Bernardo do Campo, no último final de semana de abril de 2026. Estarei lá porque é uma ótima oportunidade para encontrar gente que, por todo esse Brasil, tem na Fé cristã uma luz que ilumina sua prática política. Essa Fé que se concretiza politicamente direciona-se para construir um mundo onde Justiça e Paz se abraçarão, englobando nesse abraço toda a comunidade de vida da Terra. Para quem, como eu, tem a sensação de ser minoria numa sociedade que se deixa guiar pela política do ódio e se congratula quando a polícia mata na periferia, o 13º ENFP será um bom momento para sentir que somos muitos e que nossa Esperança é bem fundamentada.
Para isso, é importante reencontrar companheiros e companheiras de outros lugares e conhecer gente nova, mas a necessária dimensão afetiva não é suficiente para fundamentar a Esperança de “outro mundo possível” tão proclamada pelos Fóruns Sociais Mundiais. É preciso também conhecer “a razão da nossa Esperança” (1Pe 3, 15). Isso requer estudo e reflexão em grupo e para estimula-los o Encontro tem como objetivos (i) enfrentar a extrema direita em 2026 fortalecendo a Democracia com candidaturas comprometidas com as causas da Justiça e da Paz; (ii) fortalecer os trabalhos de base para construir um projeto viável de Socialismo e Bem Viver, que já antecipem o Reinado de Deus; (iii) manter viva a memória das lutas sociais e políticas, em especial das mulheres, movimentos negros, Povos Originários e Comunidades Tradicionais; e (iv) realçar o papel da Arte e da Cultura para o êxito na luta social e política, com destaque para as periferias e as juventudes.
Dentre esses quatro objetivos destaco um, que merecia ter recebido grande destaque nesta COP-30, realizada na Amazônia: a relação entre o Socialismo e o Bem Viver tendo no horizonte a Esperança do Reino de Deus.
A carta de princípios do MNFP faz clara opção pelo socialismo, embora tenha sido escrita quando o socialismo soviético já estava desmoronando. Depois foi incorporado ao seu ideário o Bem-viver, sem resolver uma inevitável ambiguidade: sendo pouco conhecida a luta política dos povos andinos pelo Sumak Kawsay, o Bem Viver foi interpretado como receita de vida saudável, fundada em relações amorosas dos humanos entre si e com a natureza, sem afetar o modo de produção que rege as estruturas econômica, social e política. Consequência dessa ambiguidade é que para muitos de nós Socialismo parece ser uma coisa e Bem viver, outra.
E a questão é mais séria. Pelo lado do socialismo, é clara nossa crítica ao modelo implantado na antiga URSS – especialmente a partir do comando de Stalin – mas muitos de nós admiramos outras experiências, como as de Cuba e especialmente a do sandinismo autêntico na Nicarágua. Hoje fala-se de Ecossocialismo, e essa perspectiva tem boa aceitação em nosso meio. Pelo lado do Bem Viver, é preciso corrigir aquela concepção equivocada que não vê nele o fundamento das lutas de povos originários de Nossa América: a proposta de um modo de produção capaz de superar o modo de produção capitalista, feita a partir de um pensamento decolonial.
Explico: enquanto o projeto de Socialismo foi elaborado na Europa, a partir do moderno paradigma cartesiano, que é racional e antropocêntrico, a Sabedoria do Bem Viver é o produto da luta de povos originários – Quitchua e Aymara – a partir de sua Tradição ancestral revista no contexto das lutas contra o capitalismo neoliberal no final do século XX. Ela tem paralelo com os Caracóis do povo Maia em Chiapas, que faz a síntese entre sua Sabedoria ancestral e a experiência histórica do Exército Zapatista de Libertação Nacional, inspirada nas lutas de outras organizações populares pelo Socialismo.
O problema dessa ambiguidade não é mera elocubração teórica. Ele se refere à nossa práxis, isto é à prática de luta que fundamenta nossa concepção da história mas que, num movimento dialético, nela se inspira. Optar pelo Socialismo e optar pelo Bem Viver é ou não é a mesma coisa? Mudam apenas as palavras, ou estamos no caminho de superar o Socialismo da modernidade europeia pelo Bem Viver da ancestralidade do Novo Mundo?
Enfim, a questão se complica quando se coloca em pauta o projeto do Reino de Deus como projeto a ser construído já na História, como o apresentam os Evangelhos. A referência explícita ao Reino de Deus está presente desde a fundação do MNFP, mas sua articulação com o socialismo e o Bem-Viver raramente é explicitada. Explicitar essa articulação com sólida fundamentação teórica pode ajudar muito a tornar mais claro o projeto do nosso Movimento.
Tudo isso é o tema de apenas uma das 13 mesas temáticas programadas! Teremos em São Bernardo do Campo uma oportunidade única de reflexão e aprofundamento de temas práticos e teóricos que vão nortear nossas ações imediatas e nossos projetos de longo prazo. Por isso, recomendo:
Inscreva-se logo para participar do 13ºENFP!