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Esta expressão é usada no terceiro domingo do Advento e a motivação para isto está na proximidade da chegada de Jesus, no Natal. As leituras bíblicas da liturgia desse domingo fazem referência e um convite, dizendo, “alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fp 4,4). É como o agricultor que fica alegre quando chegam as chuvas e umedecem a terra, dando esperança de colheita com muita fartura.
A humanização de Deus acontece em função do bem da pessoa humana. Na verdade, é o Senhor que vem para dar nova vida, nova dignidade e liberdade para seus filhos. Isto significa superar as diversas tramas e atitudes opressivas que causam desespero e sofrimento para muita gente. O nascimento de Jesus aconteceu, e acontece hoje no coração das pessoas, para humanizar e divinizá-las.
Fatos bíblicos do passado levaram à desumanização das populações. Podemos citar dois deles: A escravidão e sofrimento no Egito e a reclusão no Exílio da Babilônia. Nessas circunstâncias, o que dominava mesmo era o desespero, a falta de liberdade e a baixa autoestima. Cristo veio para restaurar a vida, a esperança e a alegria, tudo aquilo que faz as pessoas viverem bem e felizes.
Ao falar de Natal, dizemos que Cristo se encarnou e nasceu para mudar a sorte do povo sofrido, porque só ele é capaz de criar encorajamento e fazer surgir vida totalmente nova numa realidade de sofrimento. Talvez seja lamentável sentir uma cultura que esvazia paulatinamente o verdadeiro e mais profundo sentido do Natal, transformando-o num clima mais comercial do que espiritual.
A alegria que envolve um momento do Advento tem relação com as palavras de João Batista: “Aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu. Não sou digno de levar suas sandalhas” (Mt 3,11). Significa a alegre chegada de novos ares, nova vida e nova esperança. É uma narrativa importante para os cristãos, porque Jesus é o Messias esperado desde um longínquo passado.
Todo esse cenário bíblico remete para sinais sensíveis do vindouro Reino de Deus, o Reino da verdade. Por isto, é motivo de júbilo, de expectativa, que faz vislumbrar e consolidar a salvação, trazida por Cristo. Agora é ter sensibilidade e acolher, no fundo do coração, sua chegada, deixar-se transformar por ele e não permitir que a luz da esperança tome conta e esvazie nossa vida.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
Estamos na época de Natal, mesmo que para muitas pessoas e muitos povos o clima seja de sexta-feira da paixão, o que deve ficar claro para nós é o significado religioso e espiritual desta festa.
Deus não é um velho barbudo, de olhos penetrantes e juiz severo de todos os nossos atos. É uma criança. E, como criança, não nos julga. Quer apenas conviver em paz, ser acolhido e acarinhado. Do silêncio da manjedoura ecoa uma voz tão forte e vibrante maior que qualquer força ou poder estabelecido que a queira silenciar. É a voz daquela parcela da humanidade deixada à margem dos projetos de sociedade pensados e programados por aqueles que têm suas mãos manchadas de sangue inocente.
É a voz de toda a criação divina que, geme ofegante como uma mulher em dores de parto, aguardando a nobre manifestação dos filhos e filhas de Deus que vão ao seu encontro para libertá-la (cf Romanos 8,18 ss).
Neste tempo natalino faz bem revisitar o poema de Fernando Pessoa sobre o Menino Jesus:
Ele é a Eterna Criança, o Deus que faltava. Ele é humano que é natural. Ele é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda certeza que ele é o Menino Jesus verdadeiro. É a criança tão humana que é divina. Damo-nos tão bem um com o outro, na companhia de tudo, que nunca pensamos um no outro. Quando eu morrer, filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno. Pega-me tu ao colo e leva-me para dentro de tua casa. Despe o meu ser cansado e humano. E deita-me na cama. E conta-me histórias, caso eu acorde, para eu tornar a adormecer. E dá-me sonhos teus para eu brincar até que nasça qualquer dia que tu sabes qual é.
Armemos nosso Presépio em família, recoberto de lirismo, conforme os relatos bíblicos e a tradição franciscana, porém, trazendo à nossa mente que Maria e José passaram pelo drama de serem recusados pelas famílias de Belém. Tiveram que ocupar um curral de animais num pasto na periferia de Belém. Depois de nascido o menino teve que fugir para o Egito, longe da repressão assassina de Herodes que manda degolar todos os bebês recém-nascidos. Deus presente na conflitividade humana.
Celebrar o nascimento de Jesus é, no mínimo, renascer com ele, deixar morrer o egoísmo que nos impregna e fazer emergir todas as boas energias que fazem do amor a matéria-prima e última de todo programa de vida centrado no advento de novas relações pessoais e sociais.
A devoção ao Menino Jesus remonta aos primeiros séculos da Igreja. Em suas homilias sobre São Lucas, Origenes, no século terceiro, não se contenta em propor como modelo de fé aos pastores, a espiritualidade do Presépio. Ele demonstra tanta familiaridade com esta espiritualidade, que expressa essa intimidade quase familiar, este fervor que o anima pelo seu Senhor e seu Cristo, afirmando que todo aquele que, como Simeão, aspira à liberdade, deve tomar Jesus em seus braços. Somente assim poderá então alegrar-se e ir aonde quiser, para que por meio de sua voz, outros possam também tomar o Filho de Deus, abraçá-lo, merecer as graças do perdão e do progresso espiritual, consciente de que rezando a este Deus Menino, está se rezando ao Deus onipotente, com quem desejamos falar carregando-o em nossos braços.
A espiritualidade do Presépio também se expressa pela alegria do velho Simeão, homem sábio por excelência, que reconheceu, imediatamente, como Salvador do mundo e proclamou como Luz para iluminar as nações e glória de Israel a criancinha que recebeu em seus braços.
Que seja esta a nossa espiritualidade no hoje de nossas famílias, nossas comunidades, da Igreja e da sociedade.
Uma cristologia que não é cruzada pelas cruzes da história torna-se retórica.
Discurso de Dom Domenico Battaglia
"Legalidade não é uma obsessão dos magistrados, não é uma fixação dos professores, não é uma mania dos prefeitos. Legalidade é a gramática mínima para morar junto. É a coragem de dizer que a lei não pertence aos astutos, mas aos frágeis. Não é uma cerca dos fortes, é proteção dos fracos.
"Solidariedade não é uma emoção sazonal, é um princípio estrutural. Não é um "extra", é a espinha dorsal de uma sociedade justa.
"A justiça não é um tribunal abstrato, não é uma escala perfeita desenhada em códigos. É a maneira concreta pela qual um povo decide quem conta e quem não conta, quem pode levantar a voz e quem deve permanecer em silêncio, quem tem direito a um futuro e quem pode ser sacrificado."
O discurso a seguir, feito pelo Cardeal Dom Domenico Battaglia, foi discurso inaugural do ano acadêmico da Faculdade Pontifícia de Teologia do Sul da Itália, Seção de São Tomás - PFTIM. O evento contou também com a presença do Presidente da República. O discurso foi publicado em Chisesa di Napoli, em 27-11-2025.
Segundo o cardeal, "uma Igreja neutra é uma Igreja infiel ao seu Deus. Uma Igreja que permanece em silêncio diante da corrupção, violência, discriminação, tortura, guerras apresentadas como "operações especiais", fronteiras que se tornam armadilhas mortais, não é prudente: é cúmplice. Uma teologia que observa tudo isso com o distanciamento do estudioso não é neutra: está do lado do status quo".
Eis o discurso.
"Senhor Presidente da República,
Vossas Excelências, irmãos bispos,
Reverendo Diretor, Reverendo Deans,
Autoridades civis,
Prezados professores, queridos alunos, amigos,
Hoje à noite não estamos inaugurando um ano acadêmico. Estamos saindo do lugar comum. De fora parece uma cerimônia: cumprimentos, siglas, faixa tricolor, algumas fotos. Mas se você ouvir com atenção, sob protocolo pode ouvir outra coisa: como o som de um canteiro de obras começando. Martelos na realidade. Pregos cravados na carne viva do país. Poeira no ar.
O título que escolhemos – "Legalidade, solidariedade: justiça" – não é um slogan. É um interruptor. Se você abaixá-lo, a luz da sala desliga. Se você o eleva, percebe que a luz que entra não é gentil: é a luz bruta do feridas abertas.
Olhe as palavras. Há uma vírgula, depois um dois-pontos. Nem pensar. Nunca é. A vírgula é um suspiro contido: legalidade, solidariedade. Como dois soldados esperando a ordem, em pé, em posição de sentido, com as mochilas nos ombros. Os dois pontos, por outro lado, são uma porta escancarada: a justiça. Como se as duas primeiras palavras precisassem de algo para julgá-las, superá-las, colocá-las à prova.
Hoje à noite, gostaria de partir daí: daquela vírgula hesitante até os dois pontos que não dão escapatória. Porque o mundo fora desta câmara não é neutro. E nós também não, mesmo quando fingimos ser. Fora daqui, a história, neste momento, tem o som de sirenes e a cor da poeira.
Na Ucrânia, as janelas vibram não pela passagem dos trens, mas pelas explosões. Toda criança sabe distinguir, de ouvido, o som de um míssil do de uma tempestade.
Em Gaza, as casas não desmoronam em documentários: elas caem agora, enquanto falamos, e levam consigo cozinhas fixas, cadernos abertos, fotografias penduradas com fita adesiva.
No Sahel, em áreas da África que voltaram a aparecer em branco nos mapas das notícias, pessoas desaparecem entre guerras esquecidas e mudanças climáticas que não queríamos ver. Lá, a palavra "crise humanitária" há muito deixou de ser notícia: saiu de moda.
Na Ucrânia, as janelas vibram não pela passagem dos trens, mas pelas explosões. Toda criança sabe distinguir, de ouvido, o som de um míssil do de uma tempestade – Dom Domenico Battaglia
E o Mediterrâneo, esse mar que insistimos em chamar de "nosso", continua fazendo um trabalho sujo: não apenas o berço da civilização, mas um cemitério líquido. Um cemitério sem túmulos, sem nomes, sem data de nascimento e falecimento. Só números, coordenadas, estatísticas.
Sabemos de tudo isso. E removemos tão rápido quanto passamos o dedo pela tela. Vinte segundos de indignação, depois um vídeo de gatinhos, um anúncio, um meme.
No Sahel, em áreas da África que voltaram a aparecer em branco nos mapas das notícias, pessoas desaparecem entre guerras esquecidas e mudanças climáticas que não queríamos ver. Lá, a palavra "crise humanitária" há muito deixou de ser notícia: saiu de moda – Dom Domenico Battaglia
Mas a teologia – se é teologia – não tem o direito de fluir. Ela é chamada para parar, olhar, recordar, a ser memória obstinada das vítimas.
Caso contrário, vira um luxo: música de fundo para quem já tem tudo.
E enquanto o mundo arde em chamas, a Itália não está isenta, Nápoles não está. Esta está isenta, este Sul que poderia ser um laboratório do futuro e, em vez disso, muitas vezes é um laboratório de injustiça experiente, refinada e normalizada.
Aqui, a palavra legalidade tem sido um tabu por anos, uma palavra para conferências, faixas, desfiles escolares.
Enquanto isso, organizações criminosas sentavam-se em boas mesas, assinavam contratos, forneciam "serviços", distribuíam trabalho, regras, até mesmo uma forma de assistência social paralela. Eles aprenderam a se disfarçar de sistema, de normalidade. Não mais só armas, mas canetas. Não são mais apenas ameaças, mas sorrisos.
Mas a teologia – se é teologia – não tem o direito de fluir. Ela é chamada para parar, olhar, recordar, a ser memória obstinada das vítimas. Caso contrário, vira um luxo: música de fundo para quem já tem tudo – Dom Domenico Battaglia
A doutrina social da Igreja, quando fala de estruturas de pecado, fala precisamente disso: o mal que não tem mais apenas o rosto do indivíduo, mas se encarna em circuitos, costumes, línguas. É o "Così fan tutti" que se torna lei não escrita. É o "sempre foi assim" que se torna justificativa universal.
Então, vamos deixar claro: legalidade não é uma obsessão dos magistrados, não é uma fixação dos professores, não é uma mania dos prefeitos. Legalidade é a gramática mínima para morar junto. É a coragem de dizer que a lei não pertence aos astutos, mas aos frágeis. Não é uma cerca dos fortes, é proteção dos fracos.
Mas não basta elogiar a legalidade. Isso seria conveniente demais. Porque até a lei pode ser injusta. Sabemos bem que existem páginas de códigos que humilharam a dignidade da pessoa, muitas vezes no silêncio ensurdecedor das instituições e, às vezes, até das Igrejas.
É por isso que a tradição cristã, quando fala de legalidade, não se ajoelha diante de toda norma. Ele sabe que a última palavra pertence à consciência.
E ela sabe que há momentos em que a fidelidade a Deus exige desobediência às leis dos homens.
Não basta "respeitar a lei" para estar do lado certo da história. É possível violar a justiça respeitando cada parágrafo. Pode-se ser perfeitamente ordeiro e profundamente injusto.
A doutrina social da Igreja, quando fala de estruturas de pecado, fala precisamente disso: o mal que não tem mais apenas o rosto do indivíduo, mas se encarna em circuitos, costumes, línguas. (…) É o "sempre foi assim" que se torna justificativa universal – Dom Domenico Battaglia
Mas há outra palavra, após a vírgula: solidariedade. Nós a domesticamos, a reduzimos a uma caixa com o logo, a uma foto no jornal, a um evento beneficente de Natal. Solidariedade se tornou a palavra boa para limpar a consciência. Uma coleta é feita, um concerto é organizado, cobertores são recolhidos: tudo, possivelmente, cuidadosamente documentado nas redes sociais.
Mas a doutrina social da Igreja já mudou o eixo há muito tempo: solidariedade não é uma emoção sazonal, é um princípio estrutural. Não é um "extra", é a espinha dorsal de uma sociedade justa.
Quando falamos de desigualdade, não estamos falando de gráficos. Estamos falando de pessoas que trabalham em tempo integral e continuam pobres. De jovens que nascem em bairros que não são subúrbios: eles são condenações. Onde a escola é cansativa, o trabalho é ilegal, a saúde está longe, o Estado é uma memória desbotada.
Solidariedade, então, não é apenas a mão estendida.
É a política que assume o controle.
É a economia que se permite ser julgada.
É a cultura que para de contar o conto de fadas de que "se você quiser, pode fazer", como se o início não valesse nada, como se não houvesse inclinações verticais, paredes invisíveis, portas fechadas.
Solidariedade. Nós a domesticamos, a reduzimos a uma caixa com o logo, a uma foto no jornal, a um evento beneficente de Natal. Solidariedade se tornou a palavra boa para limpar a consciência. Uma coleta é feita, um concerto é organizado, cobertores são recolhidos: tudo, possivelmente, cuidadosamente documentado nas redes sociais – Dom Domenico Battaglia
Existe uma solidariedade com selfies, e ela precisa ser desmascarada. Existe uma solidariedade que não toca privilégios e deve ser convertida. Existe uma solidariedade que não entrega mudanças e defende bens, e ela deve ser denunciada.
O Evangelho não conhece esse truque.
Quando Jesus diz: "Eu era um estrangeiro e vocês me acolheram", ele não está falando de uma campanha de conscientização, mas da vida cotidiana, cruzada, mesclada, complicada.
A acolhida verdadeira tem custos reais: tempo, espaço, conflitos, correções, fadiga. É a solidariedade que quase sempre não custa nada, não vale nada.
E então os dois pontos. E depois dos dois pontos, a palavra que mantém tudo unido e derruba tudo: justiça.
Os profetas nos recordam: a justiça não é um tribunal abstrato, não é uma escala perfeita desenhada em códigos. É a maneira concreta pela qual um povo decide quem conta e quem não conta, quem pode levantar a voz e quem deve permanecer em silêncio, quem tem direito a um futuro e quem pode ser sacrificado.
Quando as Escrituras falam da justiça de Deus, falam de um Deus que toma uma posição. Não é neutro. Ele toma partido com a viúva, com o órfão, com o estrangeiro, com o pobre, olha a história pela borda, pela periferia, por baixo.
Se quisermos ser honestos, este é o escândalo: continuamos a imaginar Deus acima, lá em cima, bem longe. As escrituras sistematicamente O devolvem isso abaixo, abaixo, próximo, ajoelhado ao lado dos que estavam no chão.
Quando as Escrituras falam da justiça de Deus, falam de um Deus que toma uma posição. Não é neutro. Ele toma partido com a viúva, com o órfão, com o estrangeiro, com o pobre, olha a história pela borda, pela periferia, por baixo – Dom Domenico Battaglia
Então, sejamos honestos:
Uma Igreja neutra é uma Igreja infiel ao seu Deus. Uma Igreja que permanece em silêncio diante da corrupção, violência, discriminação, tortura, guerras apresentadas como "operações especiais", fronteiras que se tornam armadilhas mortais, não é prudente: é cúmplice.
Uma teologia que observa tudo isso com o distanciamento do estudioso não é neutra: está do lado do status quo.
Justiça, hoje, significa ter coragem de nomeá-lo: Existem sistemas econômicos que matam, políticas migratórias que matam, comportamentos individuais que matam. E não só o corpo. Eles matam esperanças, palavras, possibilidades. Eles matam a confiança, que é o sangue vital de toda democracia.
E nós, aqui, esta noite, quem somos nós em tudo isso? Uma Faculdade de Teologia. No sul da Itália. Em Nápoles.
Podemos nos considerar um detalhe marginal. No entanto, acredito que um jogo sério está sendo jogado aqui. Porque teologia, nestes tempos, deveria significar algo muito concreto: pensar em Deus com as feridas do mundo sobre a mesa. Não em um canto. Não em um parágrafo final intitulado "actualizações pastorais". Na mesa. No centro. Ao lado da Bíblia, dos Padres, dos textos do Concílio, das grandes encíclicas sociais.
Existem sistemas econômicos que matam, políticas migratórias que matam, comportamentos individuais que matam. E não só o corpo. Eles matam esperanças, palavras, possibilidades. Eles matam a confiança, que é o sangue vital de toda democracia – Dom Domenico Battaglia
Uma cristologia que não é cruzada pelas cruzes da história torna-se retórica.
Uma eclesiologia que não escuta os silêncios das comunidades feridas torna-se um exercício de estilo.
Uma moral social que não é medida pela evasão fiscal "normal", pela corrupção "óbvia", pelo racismo "irônico", pelo machismo "tradicional", pelo populismo "instintivo", é uma teoria inofensiva. E não podemos nos dar ao luxo de teorias inofensivas.
O Evangelho não foi dado à Igreja para tranquilizar o pensamento certo, mas para desarmar as injustiças.
É aí que entra a responsabilidade desta casa.
Teologia, nestes tempos, deveria significar algo muito concreto: pensar em Deus com as feridas do mundo sobre a mesa. Não em um canto. Não em um parágrafo final intitulado "atualizações pastorais". Na mesa. No centro. Ao lado da Bíblia, dos Padres, dos textos do Concílio, das grandes encíclicas sociais – Dom Domenico Battaglia
Quero falar francamente com vocês, professores. Você têm uma ferramenta explosiva na mão: a palavra. Cada conceito que você explica, cada texto que comenta, cada exame que você prepara, pode se tornar um tranquilizante ou um detonador.
Peço que não domestiquem a doutrina social da Igreja. Não a relegue a um curso opcional, não o trate como um anexo, como um apêndice, como um "extra" para os poucos interessados. Faça disso um horizonte, uma linguagem, um contexto que percorra os tratados: Deus, Cristo, Igreja, sacramentos, moralidade, tudo.
Todo sacramento tem uma face social.
Cada página de teologia tem uma consequência política.
Todas as definições soam, lá fora, na vida concreta das pessoas.
Ao explicar o que é consciência, pense em objeções corajosas e confortáveis.
Quando você fala em liberdade religiosa, pense nas Igrejas perseguidas e também nas Igrejas que perseguem.
Quando você abordar o tema do pecado, não se esqueça dos pecados das estruturas, não apenas dos indivíduos.
Peço que não domestiquem a doutrina social da Igreja. Não a relegue a um curso opcional, não o trate como um anexo, como um apêndice, como um "extra" para os poucos interessados. Faça disso um horizonte, uma linguagem, um contexto que percorra os tratados: Deus, Cristo, Igreja, sacramentos, moralidade, tudo – Dom Domenico Battaglia
Para vocês, estudantes, gostaria de dizer apenas o seguinte: não sejam espectadores.
Não vivam esses anos como um estacionamento esperando pela "vida real".
Deixem os rostos que vocês encontram entrarem aqui: o do prisioneiro que você olhou nos olhos pela primeira vez, o da mulher explorada, o do homem sem-teto deitado na frente da sua paróquia, o do garoto estrangeiro sentado no fundo da sala que entende metade das palavras.
Também analise as notícias que tiraram seu sono. Traga sua raiva, seu descontentamento, seu cansaço aqui. Deus não tem medo das suas perguntas. Nem mesmo teologia, se é que faz jus ao nome.
E agora deixe-me usar uma imagem.
Nápoles, afinal, é uma ótima estrada.
Uma rua onde as coisas não acontecem "em teoria", elas realmente acontecem.
Onde legalidade e ilegalidade andam lado a lado, muitas vezes na mesma faixa.
Onde a solidariedade pode ser vista em pratos de massa compartilhados, mas também nos silêncios que cobrem negócios sujos.
Onde a justiça não é um conceito abstrato, é a diferença entre aqueles que vão para casa à noite e aqueles que não vão.
Imaginamos a sociedade como uma estrada assim.
Legalidade são as placas: limites de velocidade, passagens de pedestres, semáforos. Pequeno, irritante, aparentemente inútil. No entanto, se desaparecerem, a estrada vira uma pista de aterrisagem.
Solidariedade é o gesto que nenhum código prescreve: diminuir a velocidade para que um idoso atravesse, parar quando alguém cair, colocar no carro aqueles que ficaram presos na chuva.
Justiça é a decisão de não aceitar que existem faixas de primeira e segunda classe, calçadas para os privilegiados e valas para outros. É rejeitar a ideia de que alguém vale menos só porque chegou tarde, nasceu em outro lugar, cometeu um erro uma vez.
Deixem os rostos que vocês encontram entrarem aqui: o do prisioneiro que você olhou nos olhos pela primeira vez, o da mulher explorada, o do homem sem-teto deitado na frente da sua paróquia, o do garoto estrangeiro sentado no fundo da sala que entende metade das palavras – Dom Domenico Battaglia
Agora amplie a imagem:
O mundo inteiro é uma estrada planetária.
Comboios de armas e comboios de ajuda humanitária passam por ele.
Influenciadores e refugiados, gerentes e agricultores, generais e enfermeiros cruzam essa área.
Nossas casas, nossas escolas, nossas paróquias, nossas faculdades têm vista para esta estrada.
A pergunta é simples, brutal, inevitável:
Que língua queremos ensinar àqueles que caminharão depois de nós?
A linguagem do medo ou a da fraternidade?
A gramática da resignação ou a da indignação?
O alfabeto cínico de "salve minha vida e o resto não me diz respeito" ou o desconfortável de "ninguém é salvo sozinho"?
Este ano letivo que está começando pode ser muitas coisas. Pode ser uma entre muitas, com suas aulas, sessões de exames, suas teses encadernadas em azul.
Ou pode ser – mesmo que um pouco – um ano em que esta Faculdade decide não se limitar a falar sobre legalidade, solidariedade, justiça, mas começar a falar com ela com sua própria vida, sua própria organização, suas próprias escolhas.
Um ano em que a teologia, pelo menos aqui, à nossa maneira, para de andar na calçada e vai para as ruas. Com toda cautela, é claro. Mas sem o álibi da neutralidade.
Porque uma coisa, pelo menos, precisa ficar clara: a neutralidade, hoje, não é mais uma opção inocente.
Uma coisa, pelo menos, precisa ficar clara: a neutralidade, hoje, não é mais uma opção inocente. (...) Em nome do Evangelho que proclamamos, temos o dever de ser um pouco menos prudentes e um pouco mais proféticos. Livre. Mais real. Mais exposto – Dom Domenico Battaglia
Diante de guerras, migração, pobreza estrutural, crescentes desigualdades, violência de gênero, democracias vazias, uma teologia neutra não é imparcial: está do lado daqueles que sempre vencem. Então, em nome do Evangelho que proclamamos, temos o dever de ser um pouco menos prudentes e um pouco mais proféticos. Livre. Mais real. Mais exposto.
Confiemos essa coragem ao Deus que derruba os poderosos de seus tronos e levanta os humildes, que enche os famintos com coisas boas e manda os ricos embora de mãos vazias. Ao Deus que chamamos de Pai e que sonha para seus filhos não com obediência temerosa, mas com a liberdade dos justos.
Que "Legalidade, solidariedade: justiça" não permaneça o título elegante de uma palestra, mas se torne, dia após dia, a língua materna desta casa, de nossas comunidades, de nossas cidades.
Que assim seja.
E obrigado."
3º Domingo do Advento – Mt 11, 2- 11
Com o 3º domingo do Avento, chegamos à segunda parte do Advento. Enquanto nas duas primeiras semanas, os textos litúrgicos nos convidavam mais expressamente à expectativa do reino divino, nessa segunda parte, que iniciamos hoje, somos convidados/as a preparar com mais intensidade a própria festa do Natal, para que a memória do nascimento de Jesus nos torne de fato humanos e fraternos, para vivermos um novo nascimento em nós. Por causa dessa proximidade do Natal, na tradição litúrgica, esse é chamado o Domingo da Alegria.
Neste domingo, as comunidades leem o começo da terceira parte do evangelho de Mateus (Mt 11, 1- 12). Depois de ter enviado os discípulos em missão (Mt 10), no primeiro verso de Mt 11, o próprio Jesus parte pelas aldeias e cidades da Galileia. Começa a fazer ele mesmo o que tinha proposto aos discípulos e discípulas. Assim, ele mostra, na prática, o que significa cumprir a missão e enfrentar os conflitos que a acompanham (Mt 11,1). E o mais estranho é que o primeiro conflito ou incompreensão não vem dos inimigos. No verso 2, mostra que, da prisão, João Batista manda discípulos interrogarem a Jesus a respeito de sua missão messiânica libertadora.
Conforme o evangelho, João Batista tinha batizado Jesus e a partir do batismo, Jesus assumiu uma vocação profética própria e original. Enquanto João atuava nas margens do rio Jordão e no deserto, Jesus se inseriu nas aldeias da Galileia. Enquanto João anunciava a vinda iminente da justiça divina, Jesus agia diferentemente. Para anunciar o amor e a bondade do Pai, Jesus curava as pessoas das doenças e as libertava de toda energia negativa.
No contexto daquela época, João faz a Jesus a mesma contestação que hoje muitos cristãos fazem quando alguém cumpre uma missão libertadora: será que isso não é mais político do que religioso? Quantas pessoas que se consideram católicos expressaram dúvidas a respeito do ministério de pastores como Helder Camara, Tomás Balduíno e Pedro Casaldáliga? Quantos, se pudessem, teriam perguntado ao papa Francisco se ele ainda cumpria o Evangelho de Jesus Cristo ou se mudou para outra coisa?
Conforme o evangelho, a primeira pessoa que teve de se posicionar sobre Jesus foi João Batista, o profeta que estava preso. Pelo que diz este evangelho, o posicionamento de João não foi positivo e sim de decepção e incompreensão. Claro que, no caso de João, o problema não era a separação entre fé e política. Era que Jesus não parecia um agente da justiça de Deus no mundo. Não tinha a severidade e o rigor que João achava que o Messias deveria ter. Para anunciar a vinda do Messias, João tinha se baseado em profecias que prometiam a manifestação da justiça e da ira de Deus (como Ml 3, 2- 3). No tempo em que pregava nas margens do Jordão, conforme os profetas que anunciavam a vinda do Messias, João garantia que o Cristo viria ao mundo trazendo o julgamento divino. O Messias deveria vir com força, como um machado na raiz das árvores. Separaria o trigo das palhas para queimá-las (Cf. Mt 3, 10). João Batista foi radical e, por isso, foi preso. Agora ele quer que Jesus realize suas obras de juízo, destinadas a defender os justos e os eleitos e a condenar ímpios e impuros.
Na prisão, João Batista ouve dos seus discípulos histórias sobre como Jesus atua e João se decepciona. Entra em crise de fé. Sente-se como traído. Deus tinha lhe mandado anunciar um tipo de Messias e o que veio foi outro. Assim João podia ser considerado um dos falsos profetas que anunciam algo que não se cumpre. Esta é a sua crise. Por isso, ele manda os discípulos interrogarem a Jesus: “É você mesmo Aquele que vem, ou temos ainda de esperar por outro?”.
A expressão “Aquele que vem” se referia ao Messias que deveria vir para restabelecer o reinado de Israel e libertá-lo dos seus inimigos (Cf. Salmo 118, 26; Dn 7, 13).
A dúvida de João é a porta de entrada desta seção do evangelho que será toda marcada pela desconfiança e mesmo pela rejeição. Jesus sai em missão e é questionado por João, rejeitado pelos habitantes das cidades do lago da Galileia e mal visto pelos religiosos.
É provável que o evangelista Mateus tenha contado a crise de vocação de João Batista e o posicionamento de Jesus sobre João para tratar da relação conflitiva ou tensa que havia entre o grupo dos seguidores de João e os cristãos na época dos evangelhos (anos 80 do primeiro século da era cristã).
Então, ao responder aos questionamentos de João, de fato, Jesus está respondendo aos problemas das comunidades de Mateus, como também das dúvidas e questionamentos nossos que vivemos nos dias atuais.
Também em nossos dias, muitos irmãos e irmãs veem a realidade atual e se perguntam que sentido ainda têm a missão e o anúncio da salvação. Diante do tipo de religião que a gente vê nas Igrejas, o que significa a missão? Como nos posicionar quando vemos bispos, padres, pastores e grupos evangélicos e católicos se colocarem a favor da extrema-direita política? Como reagir ao fechamento de muitos do clero e da hierarquia católica às questões de gênero? Como reagir ao se ver televisões católicas sustentando as piores posturas políticas e ligando a missão cristã à ambição de juntar muito dinheiro em nome de Deus? Isso tudo é idolatria, falsas posturas religiosas.
As questões de João Batista a Jesus tinha um sentido mais ou menos assim: será que não está na hora da violência de Deus contra todo esse absurdo? Você, Jesus, não vai agir como Elias e fazer descer fogo do céu contra esses ímpios? Como lidar com padres, bispos e pastores que se revelam falsos profetas e enganadores do povo?
Jesus não responde diretamente à pergunta de João. Ele faz referência a profecias diferentes que mostram a compaixão e a misericórdia divina com os necessitados (Is 35 e 61). Jesus não quer ser juiz e senhor da história. Coloca-se como pobre, descentrado, sempre ao lado do pequeno, do sofredor e mesmo do impuro e das pessoas pecadoras.
As suas ações só destacam uma coisa: a compaixão com as multidões cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor, como antes o evangelho tinha mostrado (Mt 9, 36). Suas ações são de misericórdia e de vida para enfermos, pobres, impuros e excluídos. Jesus manda dizer isso a João Batista e adverte: Cuidado! Aceite isso e não rompa comigo pelo fato de que a imagem de Deus que proponho não é a mesma a qual você se habituou. Pelo fato de não compreender, ou por ter pensado uma coisa e ter acontecido outra, não caia na armadilha do escândalo. Não chegue a “romper a sua relação de adesão” (sua fé). Deus sempre surpreende a gente.
Até hoje, Jesus nos responde que a solução para essa crise só pode vir através da radicalização do cuidado com os mais abandonados e por uma atitude de mais humanidade ainda do que antes fazíamos.
Após deixar claro qual é a mais profunda política de Deus e, portanto, a sua maneira de cumprir a missão – como sinal e testemunha da ternura divina, Jesus fala com o povo sobre João: “A quem vocês foram ver no deserto?”. Confirma que João é profeta. É mesmo o maior dos profetas, o precursor do Messias, como um novo Elias, o profeta que a piedade popular acreditava que voltaria ao mundo antes da vinda do Messias Jesus encerra a sua palavra com uma sentença enigmática: “Entre os nascidos de mulher, nunca houve alguém maior do que João. Entretanto, o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11, 11). João é alguém muito importante, o maior de todos. Mas, de que adianta essa grandeza humana no reino dos céus? No estilo dos rabinos do seu tempo, Jesus afirma que o importante não é tanto admirar João, mas viver de um modo que se possa participar do reinado divino. As diferenças que João tinha percebido e que fez com que ele se interrogasse sobre Jesus, de fato, não são assim tão grandes. Jesus conclui com outra palavra misteriosa: “Desde os dias de João até agora o reino de Deus se toma pela força e são os fortes que se apoderam dele” (Mt 11, 12).
João não precisa saber se Jesus é aquele que há de vir. O que João precisa saber é que ele mesmo, justamente por estar no cárcere, por estar sofrendo perseguição, por defender o direito e a justiça, é o próprio enviado, o próprio Cristo.
Cristo é o termo grego para “consagrado”, ungido para uma missão libertadora. Jesus de Nazaré mereceu de tal forma este título que Cristo se tornou quase como se fosse um sobrenome dele: Jesus, o Cristo. No entanto, o Espírito suscitou na história da humanidade muitas pessoas, homens e mulheres, que viveram essa missão de pessoas consagradas à plena libertação da humanidade. As grandes tradições espirituais falam de Sidharta Guatama, o Buda que atuou na Índia, cinco séculos antes do nascimento de Jesus Cristo, mas até hoje encanta e orienta milhões de pessoas no mundo. Do mesmo modo, podemos falar no profeta Muhamad (Maomé), pioneiro da fé muçulmana. No Brasil, temos figuras como Zumbi dos Palmares, Dandara e mais recentemente tantos irmãos e irmãs, mártires da caminhada de libertação.
Esse Natal será para nós um novo Natal, se cada um/uma de nós formos esse Cristo que deveria vir e veio para testemunhar o amor e a compaixão divina pelos empobrecidos no coração do mundo e nas nossas comunidades e nos consagrarmos a realizar juntos e juntas o projeto divino de um novo mundo com justiça e paz.
https://youtu.be/GV-waMJLivY?si=jBM8Wsg_w5JmvnKw
Ó VEM, SENHOR, NÃO TARDES MAIS!
VEM SACIAR NOSSA SEDE DE PAZ! (BIS)
Ó VEM, COMO CHEGA A BRISA DO VENTO,
TRAZENDO AOS POBRES JUSTIÇA E BOM TEMPO!
Ó VEM, COMO A CHUVA QUE CHEGA NO CHÃO
TRAZENDO FARTURA DE VIDA E DE PÃO!
Ó VEM, COMO CHEGA A LUZ QUE FALTOU
SÓ TUA PALAVRA NOS SALVA SENHOR!
Ó VEM, COMO CHEGA A CARTA QUERIDA
BENDITO CARTEIRO DO REINO DA VIDA!
Ó VEM, COMO CHEGA O FILHO ESPERADO
CAMINHA CONOSCO JESUS BEM AMADO!
Ó VEM, COMO CHEGA O LIBERTADOR
DAS MÃOS DO INIMIGO NOS SALVA SENHOR
Zé Vicente
“É promover a igualdade
A solidariedade
E a justiça”.
É buscar a conversão
Com empenho e confiança
Na mudança de vida.
Preparar o cominho
Para acolher o Senhor
É aplainar e nivelar-se
Rebaixar-se
Endireitar-se
Alisando-se as asperezas.
É transformação
É rasgar o coração
Para acolher
O Jesus
Que vem
Trazendo a paz.
É preciso afastar-se
Da vida
Que vivemos
É preciso santificar-se
Purificar-se
Pela chama do amor.
É viver melhor
Amar mais
Servir mais
Cuidar mais
Sorrir mais
Viver mais a fraternidade.
Que requer preparação
Busca e esperança
Anseio.
Que nos faz suplicar ao eterno
“Vem Senhor, nos salvar
Vem nos dar a paz”.
O caminho é para a liberdade
Pela via do desprendimento
Dos apegos e ideias fixas
De abertura ao transcendente
De transformação exterior e interior
De encontro com Deus.
O caminho
É o trajeto
Da pessoa para Deus
E de Deus
Que vem
Ao encontro da humanidade.
O caminho se converte
Em encontro
De dois peregrinos
Decididos e apaixonados
Para chegar
A libertação e a salvação.
Deus se aproxima de nós
Procurando as frestas
Que mantém o ser humano
Aberto ao verdadeiro
Ao bem
A graça.
É um tempo inspirador
De espera e alegria
De levantar a cabeça
De ampliar o olhar
E descobrir o caminho
Para encontrar e receber Jesus.
+ Fontinele