BOLETIM 142 - 2011

Da Redação

 

Irmãos e amigos leitores.

 

Você está recebendo o Boletim das Fraternidades 142. O propósito desta edição é o de lhe oferecer meios de espiritualidade para o padre diocesano, com a temática: Dia de Fraternidade. Os textos, de modo geral, relatam a vivência de irmãos que estão bebendo na fonte da espiritualidade do Ir. Carlos de Jesus, tornando o seu ministério um testemunho de Fraternidade.

Os textos apresentados são excelentes no seu conteúdo e no testemunho de cada um dos irmãos que os escreveram, assim como o texto do Diretório. Fica como sugestão a leitura e a meditação em particular ou em fraternidade.

A agenda das Regiões apresenta uma vasta e rica proposta de encontros que podem proporcionar o aprofundamento e o conhecimento da espiritualidade da Família Espiritual do Ir. Carlos. Os encontros são sempre uma excelente ocasião para convidar os irmãos presbíteros, que ainda não a conhecem, a conhecerem e participarem da espiritualidade do Padre de Foucauld. “É no dia de fraternidade que se dá a ‘graça do encontro’. Os irmãos se sentem solidários uns com os outros, por isso participam do dia de fraternidade. Não se trata de mais uma reunião. É um momento forte e um momento fonte. Há irmãos que fazem longas viagens para não perder o dia de fraternidade”. 

Vejam também as indicações de livros que poderão ajuda-lo a conhecer melhor a espiritualidade e aproveitem para presentear um amigo. 

Publicamos ainda neste número a Missa em Honra do Beato Ir. Carlos de Jesus, que poderá ser celebrada por ocasião da memória de seu martírio no dia 1º de dezembro.

Esperamos que o Boletim 143 seja dedicado a Adoração, mas para isso precisamos da sua contribuição. Assim teremos a certeza de que estamos colaborando com os nossos irmãos presbíteros e com as pessoas que tem a adoração como fonte de sua espiritualidade.

Parabenizamos o Diácono Almir José de Ramos, de Lages, SC pela sua Ordenação Presbiteral, no dia 20 de agosto. Que seu ministério seja fecundo e que produza muitos frutos, bênçãos e graças. 

 

Desejamos a cada irmão e a todos os amigos da Fraternidade boa leitura.

 

1. DIA DE FRATERNIDADE 

 

É no dia de fraternidade que se dá a “graça do encontro”. Os irmãos se sentem solidários uns com os outros, por isso participam do dia de fraternidade. Não se trata de mais uma reunião. É um momento forte e um momento fonte. Há irmãos que fazem longas viagens para não perder o dia de fraternidade. 

Na prática, o encontro acontece uma vez por mês. Uma frequência menor pode enfraquecer a qualidade da reflexão do grupo. Maior frequência se torna pastoralmente impraticável. Normalmente os irmãos se encontram no início da manhã e permanecem juntos até ao cair da tarde. Outros preferem começar na véspera, considerando a noite e a madrugada, tempo mais oportuno para a oração. Há grupos que começam com um tempo de solidão, outros com uma conversação ou uma refeição em comum. Um esquema interessante de Dia de Fraternidade para os que moram próximos uns dos outros é começar às 15h00. 15h30 adoração. 16h40 revisão. 18h00 vésperas e missa. 19h00 lanche. 19h30 estudo e comunicações. 21h00 partida. Seja qual for a distribuição do horário, o esquema básico consta sempre de adoração, revisão de vida, meditação do Evangelho. 

O que se espera é que o grupo tenha consciência da importância de se estar junto. Habitualmente esse dia é reservado com meses de antecedência, dando-lhe alta prioridade. Cada um procura chegar ao encontro tendo feito anteriormente uma preparação para a revisão de vida num dia de deserto. Essa preparação demonstra a seriedade com a qual se toma esse tempo de graça. A fraternidade encontra-se com Jesus no silêncio, na Palavra, no mistério eucarístico, e na vida e no ministério de cada um. A estrutura do dia visa criar um clima no qual tudo isso possa acontecer. 

Uma das tarefas do responsável da fraternidade é lembrar os irmãos na antevéspera o compromisso do encontro. Mas, o importante mesmo é que cada um tenha o dia reservado. 

 

 

A Fraternidade 

 

33- Quer seja um pequeno grupo que se reúne cada mês, uma equipe de trabalho, padres que vivem juntos, ou padres que procuram encontrar-se, o importante é o “Dia de Fraternidade”. Este encontro comporta, tanto quanto possível distensão, refeição, comunicações, revisão de vida, leitura da Escritura, oração silenciosa e prolongada e celebração da Eucaristia. Isto, porém, não é possível sem um tempo prolongado de encontro. É preciso encontrá-lo.

 

34- Além das Fraternidades que se encontram regularmente, um certo número de padres encontra-se, por razões diversas, em situações habituais de distância e isolamento. É preciso tentar tudo para que esses padres possam manter laços com uma Fraternidade e possam participar da revisão de vida numa correspondência regular, que sejam convidados aos encontros, retiros e ao Mês de Nazaré da Região.

 

35- Todos os irmãos, e mais especialmente os Responsáveis, devem procurar manter, com esses padres, ligações por correspondências, visitas e uma ajuda amistosa.

 

Fins e Meios da Associação 

 

2.1 – A “Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas”, inspirada nas disposições do Decreto Presbyterorum Ordinis, n. 8, do Vaticano II, propõe aos seus membros, em primeiro lugar, “uma ajuda fraterna” para estimular a santidade “no exercício do ministério” (cf. Código de Direito Canônico, cânon 278, § 2).

 

2.4 – Para isso aceitam caminhar juntos dentro de uma Fraternidade local e utilizar os meios que ela propõe, sendo o primeiro deles a revisão de vida regularmente praticada. 

 

2.5 – A vinculação à “Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas” em nada modifica a situação dos sacerdotes membros: eles continuam pertencendo ao presbitério diocesano e exercem seu ministério na obediência a seu bispo. Eles colaboram com todos os Padres para criar entre todos um ambiente fraterno.

 

2.6 – Fiéis ao espírito de fraternidade universal que animou a vida do padre de Foucauld, permanecem unidos não apenas com os outros membros da Associação nos diversos continentes, mas com todos aqueles (padres, religiosos, religiosas, leigos) que fazem parte das diversas instituições da Igreja nascidas do carisma de Charles de Foucauld.

 

2. VITA COMMUNIS MAXIMA POENITENTIA

 

 

José do Nascimento 

 

Transcrevo esse moto latino porque sinaliza um dos interesses deste artigo: a vida em comum é máxima penitência . Por esse viés, constato que a vivência fraterna com pessoas de cultura, de pensamento, de lugares diferentes se torna complexa e, ao mesmo tempo, rica na Graça. A vida comunitária é espaço de crescimento e se deixa moldar pelo amor, pela diferença, uma vez que se comunga com os ideais de Nosso Senhor Jesus Cristo e com os dons do Espírito Santo. Cabe lembrar que São Paulo, ao escrever a epístola aos filipenses, diz que Jesus se fez homem e, fazendo-se como tal, “esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. […]” . Assim, a luz da Palavra de Deus, reflete sobre os desafios da Vida Fraterna e também sobre a aceitação tanto do outro quanto de si mesmo com suas limitações. Como diz o salmista, “Vede: como é bom, como é agradável habitarem todos juntos, como irmãos” . 

Em coerência com o anteposto, observo que as palavras iniciam-se em algum lugar, em um determinado tempo histórico, como percepções fundamentais, como estupefações nascidas da experiência, e depois se tornam imagens encarnadas na linguagem. Desse modo, o vocábulo “fraternidade”, que etimologicamente provém do latim: fraternitate, em sentido circunscrito, exprime o sentimento de afeição recíproca entre os irmãos e as irmãs e é empregado como sinônimo de afeto, amizade, amor, apego, benevolência, simpatia, ternura e muita paciência. 

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que a incursão em ‘ser irmanado’ entremeia o pensamento Ocidental e as questões que permeiam a vida, a coletividade, ultrapassando os domínios da psique humana. No contexto do cristianismo, fundamenta-se na concepção de caridade, impor-se como vantajoso ou indispensável para a afeição mútua inculcando o ágape fraterno, tanto entre homens e mulheres quanto entre os membros de uma determinada sociedade, pois todos descendem do mesmo Criador. Em suma, é o significado para aqueles que vivem o seguimento de Jesus Cristo e das primeiras comunidades cristãs. Essa forma de vida se dá, com efeito, no exercício do processo da busca de si no outro. Assim, observa-se que, nesse artifício, dá-se o processo de individuação, isto é, a interioridade. No que concerne a esse tema, Carl Gustav Jung assevera que “[...] o termo individuação no sentido do processo que gera um in-dividuum psicológico, ou seja, uma unidade indivisível, um todo” . 

No caso do irmão e da irmã que compõe uma comunidade seja religiosa ou laica, o processo da individuação passa pelo amor e pela comunhão espiritual com Deus e no segmento do seu fundador. Dentro desse éthos, encontra-se a auto-aceitação em face da História, na qual o Cristo é o exemplo a ser seguido. Note-se que a individuação é definida como o processo pelo qual o ser humano pode tornar-se uma totalidade, ou seja, representa a unicidade interna, o retorno do sentido. É um processo arquetípico que permite o surgimento lento de uma personalidade cada vez mais ampla . Assim, o indivíduo orienta sua razão de existir na procura de um encontro com Cristo, partindo da meditação, do sofrimento e culminando no êxtase, isto é, compartilhando com Ele suas experiências, pluralidade dos carismas e mistérios. Consiste na fusão amorosa da vontade com a anulação de si, na qual o sujeito acolhe a vida de Cristo de maneira condizente e em comunhão, como se ocorresse uma troca de corações: o seu coração no coração de Cristo e o Dele no seu; isto é, no ambiente/espaço onde vive/trabalha. 

Além do amor pela Igreja, inclui o amor ao outro, que não perpassa em si mesmo, mas se faz como canal, o que significa não se aceitar de maneira significativa, mas permitir-se o direito de atingir sua totalidade pela autonegação. Frente a essa afirmação, a palavra “com–paixão: sofrimento–com” é o resultado do sentir como seu o sofrimento dos outros. No que tange a essa questão, Leonardo Boff (1999) alerta para o fato de que a compaixão não é o mesmo que piedade ou algo passivo; pelo contrário, é a capacidade de compartilhar a paixão (pathos – sofrimento) do Outro e com o Outro, saindo do campo puramente individual para adentrar no universo do outro. Daryl Sharp, em contrapartida, segue a mesma linha junguiana de perceber a introspecção como fato real e expõe o seguinte:

          Percebam que a individuação requer que o foco se concentre no eixo interior, que vá do ego para o inconsciente, que passemos a nos conhecer interiormente. O ideal da união não reconhece as fronteiras naturais entre as pessoas, e não leva em conta as diferenças. Tudo o que resta é uma identidade inconsciente. A individuação permite que nos relacionemos com as outras pessoas a partir de uma posição de integridade pessoal. Ela é a base da intimidade com distanciamento . 

O processo individuatório perpassa pelo eixo interior, isto é, a relação inter frater com os seus interlocutores. Essa é, pois, uma união que clarifica aquelas coisas que eram úteis ao seu viver. A ela podemos, por conseguinte, aplicar as palavras do Salmista: “[...] firmaste meus pés em lugar espaçoso” . E ainda: “Eu corro no caminho dos teus mandamentos, pois tu alargas o meu coração” . Nessa circunstância, existe o anseio natural de retornar; é, pois, a busca pela paz divina. Vale lembrar, ainda, que Rix Weaver constata que “[...] as pessoas que entram no mundo espiritual das idéias, e dos ideais, tornam-se prisioneiras delas [...]” . 

Assim, à guisa do encerramento de uma discussão, e não da sua conclusão, pode-se afirmar que o processo pela união fraterna perpassa no plano espiritual e consequentemente altera a vida, o quotidiano, pois faz-se comunhão de ideais, de escopo. Frente a essa afirmação, pois, um novo “eu” surge, tem um novo centro e um novo sentido. A mudança mobiliza, com efeito, as coisas antigas, o homem velho, para deixar surgir o homem novo, o novo Adão. Toma-se como exemplo o ato de adentrar numa desaceleração do ritmo e, desse modo, tornemo-nos mais ‘espiritual’ e façamos uso da vontade em ir ao encontro de si no outro. Em vista disso, nascem novos caminhos que ampliam nossos horizontes, pois é vida de amor, de fraternidade, de comunhão. 

Note-se que isso se ressignifica quando homens e mulheres se doam e ultrapassam esse limite dominador em busca do seu desabrochar, na aventura da fé, em abscultar a voz do Esposo que chama. Assim, a alma sedenta se aproxima do Amado. Nesse caminho, “se trata de abandonar as próprias representações, sentimentos e imagens para aguardar, na escuridão, o Deus totalmente outro” . De fato, a universalidade do amor ao próximo torna-se um princípio teologal que no sacramento do batismo faz-se processo norteador da união com o Esposo, com o Uno, na mística de fraternidade e sororidade universal.

 

3. UNIÃO DE IRMÃOS E IRMÃS DE JESUS SODALÍCIO CARLOS DE FOUCAULD

 

127, rua Notre Dame des Champs 75006 Paris

 

1º de dezembro de 2010

Irmãos e Irmãs,

 

Uma pequena confidência. Quase um ano antes de sua morte, tive uma conversa com Louis Massignon. Perguntei-lhe por que tinha dado o nome de “Sodalício” (que Carlos de Foucauld não usa: ele fala de sua “pequena confraria”). Ele me respondeu, sorrindo, com uma ponta de ironia: “Você não sabe que no Direito Canônico da Igreja antes de 1917 “sodalício” é exatamente sinônimo de “confraria”? Respondi-lhe que sou da nova geração, a do Direito Canônico de 1917, que, portanto, não tenho obrigação de saber. “Às vezes, você gosta das palavras esotéricas”, acrescentei na impertinência de minha juventude. “Tudo bem! ‘Sodalício’ traduz exatamente o termo “confraria”, usado por Foucauld. Não é, porém, um termo complicado, pouco compreensível?” Ele concordou, mas me deu a razão que o havia levado a escolher tal palavra. Quando se desenvolveram “ As Fraternidades do Padre de Foucauld” - foi o título que o Padre Voillaume deu ao seu primeiro livro em 1947 - L. Massignon, querendo observar que a “confraria” fundada em 1909 por Foucauld era diferente, por sua estrutura, das fraternidades que surgiam nos anos 40, indicou então a diferença: Carlos de Foucauld tinha fundado, não “fraternidades” (com priores, responsáveis, vida comum ou vida de grupo, reuniões, revisões de vida...), mas uma “confraria”, isto é, um grupo de batizados em diáspora, um movimento de gente espalhada um pouco por toda parte, para serem, onde estiverem, em sua vida cotidiana de Nazaré, “missionários isolados”, “pioneiros evangélicos”. O único vínculo entre eles, na Comunhão dos Santos, é esta mesma vocação que traduzem, cada uma, cada um, em sua vida cotidiana. E Foucauld lhes tinha proposto, como instrumento de união, um “boletim”, uma correspondência enviada a todos, o menos possível institucional para se consagrarem o mais possível aos “irmãos de Jesus que o ignoram”.

Há quase cinquenta anos, desde que L. Massignon uniu-se a Carlos de Foucauld, em seu novo nascimento (“o verdadeiro nascimento é a morte”, escrevia C. de Foucauld a seu caro primo Luis pouco antes de sua morte), que as cartas aos membros da UNIÃO, aos amigos, aos simpatizantes, não cessaram; humildes, muitas vezes, balbuciantes, pequenas brasas transmitidas discretamente. O essencial é a criatividade batismal de cada uma, de cada um para ser um “pioneiro evangélico” no seguimento de Jesus, o irmão mais velho, que traçou esse caminho. 

Sim, Jesus foi “pioneiro evangélico”. Ele o foi trinta anos em Nazaré, “artesão”, dizia Foucauld, “artesão” numa profissão, na banalidade dos dias e no aprendizado do que é uma vida humana; no aprendizado, ao mesmo tempo, da vida de comunidade e de sociedade com os habitantes de sua cidade, de sua região, a Galiléia dos pagãos, bem diferente da religiosa Judéia; um homem entre os homens de seu tempo. Assim ele já realizava a sua missão, ele já era “salvador”, como insistia Foucauld. “Nazaré” não foi um “esconderijo”, mas a encarnação, a participação plena e inteira da condição humana, e o início de sua tarefa divinizadora dessa mesma condição. Antes de “semear e de colher”, é preciso, diz Foucauld, “desbravar”. Foi o que Jesus fez em Nazaré. Depois, Jesus semeou: pregou. Enfim, por sua morte e ressurreição, colheu o grande feixe de todos os seres humanos que conquistou em sua vida. 

Desbravador, semeador, coletor: trinta anos, três anos, três dias. Desbravador em Tamanrasset, Foucauld apostava numa possível conversão ao cristianismo de seus amigos tuaregs para “talvez daqui a dois séculos”. O tempo do desbravamento evangélico é extremamente longo em relação aos dois outros. Não se vê o resultado, não se colhe o fruto dos esforços feitos e se é feliz, na alegria por estar nessa vocação, por estar nessa fase e nela permanecer. O que há diante de nós, hoje? Imensas extensões das quais nos dizem que sofrem um eclipse de Deus. Gostaríamos que de repente os céus se abrissem e que os relâmpagos iluminassem tais desertos. O bem-aventurado Carlos de Foucauld nos convida a percorrer esses desertos como Jesus percorreu as vielas de Nazaré, com passos simples e verdadeiros, com gestos diários de humanidade. 

Que nossas vidas sejam marcadas, aqui e ali, pela oração, pela ceia eucarística numa pequena capela ou numa catedral, isto são fontes indispensáveis. Há, porém, o outro lado, as 99 ovelhas, das quais fala Foucauld, que estão fora do rebanho, que seguem seus próprios caminhos; e não poderemos encontrá-las se não entrarmos em seus caminhos e os esposarmos, se não desbravarmos com eles a terra bruta para torná-la apta a ser terra humanamente semeada, cultivada, colhida e, enfim, divinizada com Jesus de Nazaré morto e ressuscitado. 

 

* * *

 

Por que Carlos de Foucauld, no momento de sua ordenação em 1901, decide, numa extraordinária reviravolta de perspectiva, renunciar a se estabelecer como padre na Terra Santa e lá fundar uma “fraternidade”, uma família de eremitas, por que decide tomar outra direção: partir para um país onde se encontram tantos “irmãos de Jesus que o ignoram” para aí viver em fraternidade com eles? Por quê? Só se pode responder com uma palavra: por amor. Por amor por estas ovelhas do deserto perdido.

Esta é sua conversão final. Sua conversão inicial havia sido compreender porque um “Deus que se faz homem”, por que Jesus: por amor; é por amor, por que Deus é amor há a encarnação, por que o Deus de Jesus ama, ama o ser humano, cada um. O padre Huvelin tinha então definido Foucauld: aquele “que faz da religião um amor”. Entendamos bem: aquele para quem a religião é Deus-Amor.

E pouco depois, Marie de Bondy, que havia descoberto que Jesus é um coração, transmitira-o a seu jovem primo convertido. O coração de Cristo, não é uma devoção, é uma realidade: um amor louco, inimaginável, os esponsais de Deus e da humanidade – e não esqueçamos que são os de fora, os pobres da rua, os caídos nas sarjetas, os estropiados que não podem ir adiante, que Deus quer fazer entrar no banquete de suas núpcias, nós todos.

Foi em 1889, ano santo em que o papa Leão XIII consagra o gênero humano ao Coração de Cristo, que o peregrino Carlos de Foucauld descobre Nazaré e sua humanidade nua; foi no dia 6 de junho desse ano, que ele se consagrou ao Coração do Cristo (na basílica de Montmartre, lá onde passará a noite de 21-22 de fevereiro de 1909 em oração, com Louis Massignon, juntos, pedras fundadoras e fundamentais da União). 

 

Quantas cartas à Huvelin, cartas cheias de coração, Foucauld escreverá, ao terminar, como no fim daquela de 13 de dezembro de 1903, que ele o ama “de todo o seu coração no Coração do Bem-Amado Jesus”! E na última que ele lhe escreveu, na segunda-feira de Pentecostes de 1910 (padre Huvelin morre em 10 de julho; terá podido lê-la?) ele empregará a mesma fórmula final.

E, às vezes, eu me pergunto, depois de mais de meio século em que girei em torno de Carlos de Foucauld, um irmão mais velho tão cheio de amor, eu me pergunto se insisti o suficiente tanto sobre o ímpeto de amor que ele era como, mais particularmente, sobre o que era o centro de sua vida: o Coração de Jesus, seu amor intenso por cada um que ele encontrava, “começando pelos últimos”, como dizia Massignon, o Coração de Jesus que nos faz chegar à compreensão de que nosso Deus é “um Deus de coração de carne” (segundo a expressão de Hugues Didier, o excelente autor da Pequena vida de Carlos de Foucauld). 

 

* * *

 

Quando pensamos que somos amados, então somos livres. O batismo é o sinal de nossa inserção no circuito de Amor que é a Trindade. O batismo nos faz livres. O batismo, nos o cultivamos, ele nos torna inventivos, ele dá seus frutos. Carlos de Foucauld colocou sem cessar seu batismo em ação, com o Espírito, dia após dia. Sabemos que Dom Guérin falava dele: “Como os que o Espírito de Deus dirige, ele sabe maravilhosamente apreciar as circunstâncias”. Depois que eu encontrei este irmão mais velho, comecei a admirar sempre mais a contínua realização que ele fez de seu batismo, suas “conversões”, passo a passo, a abertura sempre mais viva de todo o seu coração, de todo o seu ser, para participar da missão de Jesus junto aos mais distantes, aos mais perdidos. 

Todo batizado, uma carmelita no fundo de seu convento, deve ter essa preocupação mística dos mais distantes, como Teresa (e sua solidão extrema, “missionária isolada” na sua noite da fé no convento de Lisieux, caminhando pelos missionários da China, rezando em sua noite pelos mais distantes); é maravilhoso que dois Carmelos tenham logo se afiliado à União, por intermédio do padre Crozier, tão paulino, que falava da fundação de Foucauld como de uma “união apostólica universal”! Todo batizado, a menor carmelita, o menor Bispo, o menor leigo, o menor sacristão devem, para além de obedecer o Papa, tornar viva, eficaz, ardente, a realidade de sua consciência batismal. O Vaticano II, na Lumen Gentium, lembrou a vocação primordial de todo batizado à santidade. 

Todos juntos livres, padres e leigos, solteiros e casados, diz Foucauld, enviados para fazer conhecer, por nossa vida, nosso amor da vida, nossa alegria de viver, nossa abertura à toda pena e sofrimento, para fazer conhecer que nosso Deus é um Coração. Cabe a cada um inventar, onde estiver, em consciência, sua maneira de amar, fazer respeitar os direitos do ultimo homem, acolher particularmente de todo coração “os irmãos de Jesus que o ignoram”.

Às vezes, me dizem: “não há suficiente estrutura na União, sem responsável ou superior geral, sem reuniões fixas, sem adoração eucarística juntos, sem revisões de vida em comum, nenhum controle, etc..” Que resposta senão aquela do apóstolo Paulo que afirma “a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8,21)? “A liberdade que temos em Cristo Jesus” (Gl 2,4), temos que pô-la em prática dia por dia: “É para a liberdade que vocês foram chamados” diz ele ainda aos Gálatas (5,13). “Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Co 3,17). 

Cooperar a todo instante com o Espírito de liberdade, ter diante dos olhos, sem cessar, a liberdade espiritual que nos foi dada, tê-la como aguilhão que nos impulsiona, não a nos lançarmos em vontades de poder e de reconquista evangelizadora, não a nos escondermos numa simples presença passiva neste mundo, mais um aguilhão que nos convida serenamente a um grande amor pelos homens de nossa vida e de nosso tempo, um amor de todos os dias, simples como um bom dia, em diálogo e partilha com todo o amor contido em seu coração, aqueles com os quais estamos no dia a dia. É exigente? Sim, damos simplesmente um passo, e depois outro. “Querer amar, é amar”, nos disse Foucauld, no dia de sua morte (era uma primeira sexta-feira do mês consagrada ao Coração do Cristo).

 

A cada um, a cada uma, a todos vocês, irmãos e irmãs,

“de todo o meu coração no Coração do Bem-Amado Jesus” (Carlos de Foucauld)

Jean-François Six

 

          No fim de outubro de 2011 fará 125 anos que Carlos de Foucauld se converteu.

          Depois dos livros “Charles de Foucauld Autrement” e “Le Grand Revê de Charles de Foucauld et de Louis Massignon”, publicados em honra do 150º aniversário do nascimento de Carlos de Foucauld (em 2008), depois da “Correpondence Foucauld Huvelin (Nouvelle Cité) para o centésimo aniversário da morte do Padre Huvelin (2010), aparecerá em 2011 o conjunto das cartas de Carlos de Foucauld a seu grande amigo Henry de Castries entre 1901 e 1916, os quinze anos saarianos durante os quais fundou a UNIÃO. (Nessas cartas a Henri de Castries há aquela, capital, de 14 de agosto de 1901, dois meses após sua ordenação, na qual ele faz a seu amigo o mais belo relato, nunca até então escrito, sobre sua conversão, um relato fantástico).

 

          A UNIÃO não organiza colóquios, nem retiros, nem congressos, não há reuniões internas, mas o aniversário dos 125 anos poderia, talvez, ser celebrado a nossa maneira, informal. De que modo? Dêem sugestões. Seria um suave encontro para o qual a UNIÃO convidaria, é claro, todos e todas para os quais a pessoa de Carlos de Foucauld é um ponto de referência. O que pensam disso? 

 

          Anotem a data: sábado, 29 de outubro de 2011.

          Lugar: Paris

          Para este eventual encontro em torno de Carlos de Foucauld? 

 

4. NA PLENA LUZ DE CHARLES DE FOUCAULD. 

 

Dom Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, Itália

 

          Na escola de Foucauld e de Voillaume, o amor dá um sentido novo à vida, um sentido até revolucionário, se confrontado com a lógica do sucesso que domina as ambições do mundo. 

          "C'est à vous, théologiens, de faire parler la charité": foi com estas palavras que Magdeleine de Jésus me acolheu, a fundadora das Irmãzinhas de Jesus, quando já, há muitos anos, fiz algumas aulas de teologia com essas mulheres consagradas, humildes e corajosas, provenientes de todas as partes do mundo. "A sua tarefa, teólogos, é fazer falar a caridade": a verdade dessa afirmação é comprovada pelo belo livro de um jovem teólogo, sacerdote da Fraternidade Jesus Caritas, Cruz Oswaldo Curuchich Tuyuc, fruto de uma tese de doutorado, apresentada na Universidade Lateranense, intitulada Charles de Foucauld e René Voillaume. Esperienza e Teologia del 'Mistero di Nazaret' (Ed. Cittadella).

          O propósito do livro é focalizar o valor teológico da vivência espiritual desses dois grandes testemunhos da fé cristã no século que há pouco findou: Charles de Foucauld (1858-1916), beatificado em 2005 por Bento XVI, e René Voillaume (1905-2003), que foi, em certo sentido, o apóstolo mais conhecido do primeiro, juntamente com a já citada Magdeleine de Jésus.

          O impacto de Foucauld sobre a espiritualidade do século XX foi vasto e profundo, como demonstram as muitas famílias religiosas que se inspiram nele: não é à toa que um teólogo da estatura de Yves Congar pôde afirmar que, sob o perfil da experiência espiritual, todo o século XX foi iluminado por dois faróis, cujas vidas se concluíram na sua abertura: Teresa do Menino Jesus, a santa da "pequena via" da caridade, capaz de transformar a mediocridade da existência em um extraordinário caminho de amor, e Charles de Foucauld, o jovem de boa família que, depois de uma temporada dissipada e dissoluta, influenciada pelo encontro com o Islã, conhecido no Marrocos por meio da fé humilde e adoradora de muitas pessoas simples, se apaixonou por Jesus e pelo Evangelho, e decidiu imitar seus passos com o compromisso total da vida.

          Nesse esforço apaixonado para seguir o Mestre, Irmão Carlos foi à Terra Santa, onde descobriu, em particular, o mistério de Nazaré como lugar e tempo precioso da "humanização de Deus". Os anos percorridos pelo Filho de Deus feito homem no pequeno vilarejo da Galileia se parecem, ao apaixonado buscador do Absoluto, não tanto com o prefácio da vida pública de Jesus, mas sim com a forma mais eloquente da Sua kénosis, a escolha do escondimento e da humilhação que o Verbo fez para ser um de nós, habitar no abismo da nossa pobreza e preenchê-lo com a riqueza do Seu amor salvífico.

          A mensagem de Nazaré se coloca, assim, no centro da boa nova: a vida do Filho eterno na nossa carne não é a experiência de um Deus a passeio entre os homens – quase uma "paródia da humanidade" (Jacques Maritain) –, mas sim a revelação de uma lógica divina, que subverte a das grandezas deste mundo. Deus toma o nosso lugar, fazendo Seu o que pode haver de mais pobre e insignificante entre os homens, para que todo abismo de miséria humana se sinta alcançado, resgatado e transfigurado pela Sua caridade.

          É essa a leitura original que Irmão Carlos faz da teoria da "substituição vicária", que, nos anos vividos no deserto do Saara como eremita e testemunha do amor de Jesus entre os irmãos muçulmanos, ele interpretará sempre mais como “badaliya”, termo de origem árabe que significa justamente substituição e solidariedade. Ele lê sua própria vocação como seguimento apaixonado do Deus conosco por essa estrada: "De tal forma Jesus tomou o último lugar que ninguém lhe poderá tirar". Por isso, afirma sobre si mesmo: "Quero passar sobre a terra de maneira obscura como um viajante à noite". E ainda: "Viver na pobreza, na abjeção, no sofrimento, na solidão, no abandono para estar na vida com o meu Mestre, o meu Irmão, o meu Esposo, o meu Deus, que viveu assim toda a sua vida e me dá esse exemplo desde o nascimento". É a escolha dos últimos, dos mais abandonados, dos distantes. Por isso, deixará a Terra Santa e irá para o deserto do Saara, onde a pobreza é total, porque falta até a presença corroborante do Corpo eucarístico de Jesus: torná-lo presente, adorá-lo incessantemente em uma proximidade de amor simples e verdadeira aos irmãos do Islã, será agora a tarefa da sua vida, vivida fielmente até a morte cruel, que se ilumina com as cores do martírio.

          Mais tarde, René Voillaume assumirá essa mensagem e a dilatará a todas as situações de miséria e de abandono da terra, onde chamará os Irmãozinhos por ele fundados a viver como Foucauld o escondimento de Nazaré: Au Coeur des masse, a obra que Voillaume publica imediatamente após a guerra e que o tornará conhecido em todo o mundo, traduzido em italiano com o título significativo: Come loro, fará com que muitos descubram a via de Jesus como espoliação, solidariedade e substituição vicária em favor dos últimos.

          Na escola de Foucauld e de Voillaume, o amor – ou, como Curuchich Tuyuc gosta de chamá-lo, "o princípio agápico", revelado na humilhação do Filho de Deus – dá um sentido novo à vida, um sentido até revolucionário, se confrontado com a lógica do sucesso que domina as ambições do mundo.

          "Nazaré não é mais só um lugar geográfico, mas sim um estilo de vida e, essa certeza, traz consigo a convicção da necessidade, para a Igreja de hoje, de 'recomeçar de Nazaré', ou seja, de um retorno ao essencial da fé". Uma apologia ao silêncio e à escuta, alternativa à barbárie do barulho e das palavras gritadas, uma afirmação decisiva do primado do último lugar, contra a corrida de querer ser ou de fingir que se é o primeiro, um convite à verdade daquilo que somos diante do Eterno, ao invés de correr atrás das máscaras da aparência e do consenso obtido a todo custo: essa é a mensagem dessa pesquisa rigorosa e convincente. Justamente isso, uma mensagem que vale a pena meditar nos nossos dias, para nos abrir a escolhas de vida contracorrente, as únicas capazes de dar liberdade e paz ao nosso coração inquieto, para além de qualquer medida de cansaço e de aparente inutilidade, alternativas a toda lógica de sucesso a qualquer preço, até a da opressão dos outros por uma vã e estéril afirmação de si mesmo: justamente isso, um desafio e uma promessa para todos.

 

Tradução de Moisés Sbardelotto.

5. CARTA DO CONSELHO INTERNACIONAL

París, 30 de abril de 2011

 

Irmãos, 

 

“A paz esteja convosco” Lucas 24, 36

 

Reunimos-nos, em Paris, durante a Oitava da Páscoa de 25 a 30 de abril, para o nosso encontro anual. Jacques Midy acolheu-nos no Secretariado, onde os arquivos da Fraternidade têm sido cuidadosamente organizados por Pierre Sourisseou. 

 

Depois do almoço fomos à Casa Mãe das Irmãs da Assunção, onde aconteceu o nosso encontro internacional, com a participação de vinte irmãs, da congregação, em período de formação, vindas da África, Ásia, e América Latina. Durante a semana pudemos participar de suas orações e cantos em diferentes línguas. Essa presença internacional estimulou a nossa experiência universal de Fraternidade. 

 

Como fazemos cada ano, partilhamos a vida das nossas fraternidades. No Brasil, a Fraternidade segue crescendo graças ao retiro anual, ao Mês de Nazaré, realizado a cada dois anos, e o retiro anual que a fraternidade oferece para seminaristas. As Fraternidades dos Estados Unidos preparam a sua Assembleia Nacional para o próximo mês de agosto. Nas Filipinas se realizará o Mês de Nazaré e em continuação acontecerá a Assembleia de vários países daquele continente. Abraão partilhou conosco o entusiasmo do clero jovem que encontrou na sua visita a Madagascar, Ruanda e a República Democrática do Congo. Jacques Midy testemunhou a coragem dos irmãos, durante a sua visita a Camarões, República Centro-Africana e o Chad.  Na Europa a fraternidade prepara a Assembleia Européia, em Berlin, para o próximo mês de agosto, na qual o novo responsável pela Europa será eleito em substituição a Laurente Dognin, eleito bispo auxiliar de Bordeaux. Recentemente, na Argentina, Miguel Antyel D’Annibale e, nos Estados Unidos, Donald Hanchon, irmãos da nossa fraternidade sacerdotal, também foram eleitos bispos auxiliares. Estes dias partilhamos sobre o nosso ministério e a situação global da Igreja. A crise ligada aos abusos sexuais e ao sofrimento das vítimas que nos afetam e desafia profundamente à Igreja.

 

Dedicamos a maior parte do tempo preparando a próxima Assembleia Internacional, que se realizará de 6 a 21 de novembro de 2012. Jacques Midy nos acompanhou na visita, na Casa de Retiros “La Part-Dieu”, em Poissy, um povoado da grande Paris. Esta Casa de Retiros oferece várias vantagens: uma ampla área arborizada, três capelas acolhedoras, suficientes salões para reuniões e quartos individuais. A Comunidade da Casa nos acolherá e as fraternidades francesas oferecerão seus serviços, antes e durante a Assembleia.

 

Durante a Assembleia revisaremos a vida das nossas fraternidades e as diferentes experiências do Mês de Nazaré, dos últimos seis anos. Um “Guia para as Fraternidades” se proporá à Assembleia, como complemento ao Diretório de Montifiolio, de 1976. Esperamos que as conferências possam abrir novas pistas para a Igreja. Em um fim de semana visitaremos algumas paróquias e outro fim de semana a Igreja de Santo Agostinho, lugar de conversão do Irmão Carlos e a Basílica de Montmartre, onde ele passou noites de adoração. Oremos para que esta Assembléia seja um “kairos”, tanto para os participantes como para a Fraternidade.

Será enviado aos responsáveis regionais o convite para a Assembléia,  em setembro vindouro, para escolher os delegados de cada pais.

 

Feliz Páscoa de Ressurreição!

 

Abraham Apolinario          José Bizon                Eddy Lagae        Richard Reiser

 

6. NOTICIAS

 

Estimado amigo Pe. Bizon,

 

          Participei do nosso retiro regional, de 12 a 14 de julho, na Estância Forquilha, Distrito de N. S. da Guia, a 30 km de Cuiabá. Foi um retiro muito frutuoso! Com o tema: Irmão Carlos, exemplo de missionário. foi uma experiência rica de partilha e adoração. Sai fortalecido e com desejo de continuar aprofundando no espírito da nossa fraternidade. Estou me apoiando na fraternidade para o reavivamento e vitalidade presbiteral. O retiro foi, também, uma oportunidade para a revisão de vida em grupo. Sem dúvida, foi o momento mais importante do Retiro. Tenho consciência de que preciso crescer no exercício da fraternidade presbiteral, sobretudo, com os colegas de presbitério da minha arquidiocese. Pois, acho, sempre, que o melhor amigo do Padre é outro Padre. Somos tão poucos, diante da vasta e desafiadora missão evangelizadora. Por isso, devemos estar unidos no amor e na fraternidade! A comunhão presbiteral fortalece a missão e o isolamento empobrece enormemente nossa missão!

          Um grande abraço a todos os irmãos da fraternidade e a você Bizon. Continue realizando com solicitude, esta bela missão  através dos boletins. Missão que você, como ninguém, sabe conduzir!

O amigo de sempre

Pe. Deusdédit – Cuiabá.

 

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Caríssimo irmão na fé: Bizon, 

 

          Nós das Fraternidades do Maranhão e Pará estivemos reunidos em Belém nos dias 04 a 07 deste mês, para nosso encontro anual  com a participação dos padres Paulo Sergio e Franco, do Maranhão, e Jaime Pereira, Carlinhos e Santiago do Pará. Chegamos a Belém e fomos acolhidos no aeroporto pelo padre Jaime e ficamos hospedados na casa de repouso de idosos: saúde e  sabedoria, pelo padre Santiago. No dia seguinte fizemos nosso planejamento, rezamos juntos o Oficio Divino das Comunidades, fizemos revisão de vida e jogamos dominó. Visitamos a paróquia do padre Santiago e concelebramos com ele, à noite. Estudamos textos do livro Fermento na Massa, com o tema o mistério de Nazaré. Visitamos o padre Geraldo, no centro e fomos para a ordenação presbiteral de  10 novos padres para a Arquidiocese de Belém  e também foi o aniversário de Ordenação Episcopal do Arcebispo de Belém. O Encontro foi muito proveitoso e bem participado, embora poucos, mas fiéis  na missão. 

 

Pe. Paulo Sérgio

 

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Ordenação Presbiteral

          No dia 20 de agosto de 2011, na Igreja Matriz de Santa Cecília, Santa Cecília, SC será ordenado Presbítero o Diácono Almir José de Ramos, na Igreja Particular de Lages, SC. Ele tem participado dos retiros anuais da fraternidade. A você Almir, os nossos sinceros votos de felicidades e que você, a exemplo do Ir. Carlos, saiba escolher o último lugar em nome do Bem Amado N. S. Jesus Cristo.

 

 

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Olá Pe. Bizon 

Paz e bem!!

 

          Infelizmente nenhum de nós, seminaristas aqui de Santa Catarina, pode ir ao retiro de seminaristas em Goiás. Porém, realizamos um pequeno encontro de 3 dias aqui em nossa casa. Pe. Vilmar acompanhou nosso pequeno encontro, que seguiu esquema do retiro anual. 

          Foi muito bom, padre. E nosso grupo de cultivo está caminhando bem. Reunimos-nos todas as segundas segunda-feiras do mês, cada vez em uma casa de formação aqui em Floripa. Atualmente, seminaristas de quatro dioceses participam dos nossos encontros. 

Fraternal abraço.

Fernando Maico Barauna

 

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Cândido dos Anjos

 

 

          Era o nome de nossa sentinela. Vigiou a casa dos padres em Moma por mais de quinze anos, mesmo em épocas sem moradores. Tinha viva a história das pessoas que por ali passaram. Em meio seus cadernos trazia fotos e lembranças daqueles e daquelas que acompanhara nesta casa. Matava saudades simplesmente vendo imagens. Às vezes com suspiros, lamentava do vai e vêm dos habitantes, brancos e estrangeiros, que tampouco acostumara e já era tempo de voltar ao seu país. Mas concluía: “é assim mesmo a vida de missionários, não param”. 

          A doença que o levou à morte me fez entrar no sistema de saúde mais desumano que já conheci. Em Moma, “há hospital”, onde os doentes estão em tendas de lonas ao lado de um lindo prédio que iniciou sua reforma em 2008. O ministério da saúde ainda não liberou a migração dos doentes das precárias tendas para as novas estruturas por falta de instalações adequadas de água. É comum que pacientes cheguem até a emergência e às consultas com doenças graves e recebam paracetamol ou medicamentos coloridos, sem diagnóstico preciso. A maioria dos casos são encaminhados para cidade de Nampula que fica a 210 Km. Mesmo as mulheres que necessitam de cesariana devem ser encaminhadas, pois em Moma não há sala de cirurgias. Há apenas um silencioso sofrimento com morte das mães com suas crianças. 

Em Nampula, onde existe um hospital referência para todo norte do país, chegam doentes de vários distritos e províncias em busca de atendimento. É mais uma estação dessa via sacra. Lá existem poucos médicos especialistas. Chegamos até uma médica de Cuba, urologista. A única para todo o norte com esta especialidade. Quando conseguimos consulta, logo encaminhou internação do Cândido num imenso dormitório superlotado. Havia doentes por todo lado, alguns sentados em cadeiras, porque as camas estavam lotadas e outros deitados em colchões espalhados pelos corredores. Ali naquele calvário de dores e mau cheiro tivemos que deixar nosso amigo sentinela. Não havia outra solução. Fomos buscar vida e sentimos cheiro de morte em todo canto. 

          Ficou hospitalizado um mês, esperando que lhe fizessem ecografia total. A única máquina era disputada por multidões e ficou parada por uma semana em manutenção. Lá, muitas vezes, acompanhamos a cruz pesada do Cândido, embora nele não houvesse revolta e desespero. Logo que saiu o diagnóstico de câncer de bexiga, foi imediatamente liberado para voltar a Moma. Já não havia nada o que fazer. Restara o consolo de voltar a terra onde foi gerado para assim despedir-se. Desde sua chegada em casa, no seu leito sempre havia vigias da família que em silêncio contemplavam sua dor. 

          Depois de sua morte, fui procurar no dicionário qual o significado de Cândido: “inocente, puro”. É assim mesmo. Ele, como tantos que conheci em Moçambique, é inocente e puro de coração, vive na periferia das lógicas ocidentais que aprisionam pessoas e as colocam correndo na mesma direção. 

 Nenhuma força conseguira acorrentar nosso sentinela. Em meio à dor, paradoxalmente não perdera a serenidade. Morreu pobre e livre. Foi um bem aventurado. Já em vida, dividira seus bens. Ultimamente repetia que viera ao mundo sem nada e voltaria para casa do pai sem nada. Lembrei destas palavras quando fomos ao túmulo no terceiro dia plantar a cruz e flores. Como de costume, entre os cristãos, na madrugada se reúnem na casa do falecido e com orações caminham até o cemitério na certeza da ressurreição e do grão de trigo que morre e produz frutos. Nesse dia ninguém mais chorou.  

          

Pe. Maurício da Silva Jardim

Missionário em Moçambique

7. UM LIVRO UM AMIGO

 

1. Livros da espiritualidade do Ir. Carlos:

 

CHATELARD, Antoine, Charles de Foucauld, O caminho rumo a Tamanrasset, Paulinas, São Paulo, 2009.

 

DAMIAN, Pe. Edson T, Uma espiritualidade para o nosso tempo, Carlos de Foucauld, Paulinas, São Paulo, 2007.

 

FRAÇOIS SIX, Jean, Charles de Foucauld, O Irmãozinho de Jesus, Paulinas, São Paulo, 2008.

 

LAFON, Michel, 15 Dias de oração com Charles de Foucauld, Paulinas, São Paulo, 2005.

 

SILVA, Celso Pedro da e BIZON, J. (Orgs.). Meios para uma espiritualidade presbiteral, Loyola, São Paulo, 2005.

 

2. Diversos:

 

OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de, e De MORI, G. (Orgs.). Religião e Educação para a cidadania. Soter e Paulinas, São Paulo, 2011.

 

KLINGER Elmar, Jesus e o Diálogo das religiões. O projeto do pluralismo. Editora Santuário, Aparecida, 2010.

 

8. AGENDA

 

Retiro Anual

03 a 10 de janeiro de 2012

Local: Hidrolândia, GO

Assessoras: Irmãzinhas de Jesus

Resp. Pe. Celso Pedro da Silva

 

Assembléia Internacional

06 a 21 de novembro de 2012

Local: Foyer de Charité, La Part-Dieu – Poissy,  França

Resp. Pe. Abraham Apolinário

 

Região Leste

24 a 26 de outubro de 2011

Local: Roças Novas, MG

30/11 a 01/12 de 2011

Piraí, RJ

Resp. Pe. Hideraldo Veríssimo Vieira

 

Região Nordeste

13 a 15 de setembro de 2011

Local: Alagoinhas, BA

Resp. Pe. Eliésio dos Santos

 

Região Sul

19 e 20 de setembro de 2011

Porto Alegre, RS

Resp. Pe. Silvio Guterres Dutra

 

Encontro da Equipe de Coordenação

18 a 21 de outubro de 2011

18/10 – início com o jantar

21/10 – término com o almoço

Local: São Paulo

Resp. Pe. Celso Pedro da Silva

 

 

9. MISSA EM HONRA DO BEATO IRMÃO CARLOS DE JESUS

 

ORAÇÃO

Oremos: Deus, nosso Pai, chamastes o Beato Irmão Carlos para viver do vosso amor na intimidade de vosso Filho, Jesus de Nazaré. Concedei-nos encontrar no Evangelho o fundamento de uma vida cristã sempre mais radiante, e na Eucaristia, a fonte da fraternidade universal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

 

LEITURA DO LIVRO DA SABEDORIA (Sb 11,23-12,2)

 

23Senhor, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. 24Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado. 

25Da mesma forma, como poderia alguma coisa existir, se não a tivesses querido? Ou como poderia ser mantida, se por ti não fosse chamada? 

26A todos, porém, tu tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida! 

12,1O teu espírito incorruptível está em todas as coisas! 2É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.

- Palavra do Senhor.

 

SALMO RESPONSORIAL (Sl 39)

 

R/. Eu disse: Eis que venho, Senhor,

com prazer faço a vossa vontade!

 

2Esperando, esperei no Senhor, *

e inclinando-se, ouviu meu clamor.

4Canto novo ele pôs em meus lábios, *

um poema em louvor ao Senhor. 

 

7Sacrifício e oblação não quisestes, *

mas abristes, Senhor, meus ouvidos;

não pedistes ofertas nem vítimas, *

holocaustos por nossos pecados.

 

8E então eu vos disse: “Eis que venho!” *

Sobre mim está escrito no livro:

9“Com prazer faço a vossa vontade, *

guardo em meu coração vossa lei!”

 

10Boas novas de vossa justiça +

anunciei numa grande assembléia; *

vós sabeis: não fechei os meus lábios!

 

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO (Jo 14,23)

 

R/. Aleluia, Aleluia, Aleluia.

V/. Quem me ama realmente guardará minha palavra, 

E meu Pai o amará, e a ele nós viremos. 

 

EVANGELHO (Jo 15,9-17)

 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

 

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “9Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. 12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. 4Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 15Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. 17Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

Palavra da Salvação.

 

ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS

 

Olhai, Senhor todo-poderoso, o sacrifício que vos oferecemos na festa do Beato Irmão Carlos, e concedei-nos testemunhar em nossa vida os mistérios da Paixão do Salvador, que celebramos nestes ritos sagrados. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

 

ANTIFONA DA COMUNHÃO (Jo 15,4a.5b)

 

Ficai em mim, e eu em vós hei de ficar, diz o Senhor;

quem em mim permanece, esse dá muito fruto. 

 

ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO

 

Oremos: Deus todo-poderoso, refizestes nossas forças nesta mesa sagrada. Concedei-nos imitar os exemplos do Beato Irmão Carlos, procurando vos servir com um coração sempre fiel, amando todos as pessoas com incansável caridade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

 

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