DOMINGO APROFUNDADO

QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA-ANO B

28/04/2024

LINKS AUXILIARES:

 

Primeira Leitura: Atos 9,26-31

Salmo Responsorial: 21(22)-R- Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembleia.  

Segunda Leitura: 1 João 3,18-24 

Evangelho: João 15,1-8

“Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda. 3         Vós já estais limpos por causa da palavra que vos falei. 4          Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. 5 Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer. 6       Quem não permanecer em mim será lançado fora, como um ramo, e secará. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. 7         Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado. 8        Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP

Jo 15,1-8

Você já viu uma videira? Sabe distinguir onde começa a videira e onde os ramos? Assim como a videira é uma só, tronco e ramos, assim também a nossa união com Cristo. Formamos com Ele um só. Não é uma unidade de justaposição. É uma unidade orgânica: o todo está nas partes e as partes estão no todo. 

São Paulo falará dessa unidade de Cristo conosco usando uma outra imagem: a imagem da cabeça e dos membros. Assim é a nossa relação com Cristo. Essa unidade orgânica é o que permite os frutos da salvação. 

Voltemos à imagem da videira: a uva é fruto da videira ou dos ramos? É da videira e do ramo! O ramo não pode produzir nada separado da videira. O fruto é produzido pelo ramo, na medida em que faz parte da videira. O fruto revela a vitalidade do ramo. Se o ramo se separa da videira, ele seca e não dá fruto.

Assim somos nós cristãos: só temos a vida cristã na medida em que estamos em comunhão com Cristo. A fonte de nossa vida é Jesus. Sem ele a vida não está em nós e por isso não poderemos realizar ações cristãs. 

Procurar outra fonte de vida, que não seja Cristo, é se separar da videira e, por isso, perder a vida. Nós não podemos procurar a vida em outras fontes a não ser Cristo. É evidente que ninguém deve ser cristão contra a própria vontade, mas o procurar uma fonte de vida fora de Cristo significa fazer a opção de se separar pouco a pouco da videira.

Por isso devemos evitar a superstição, o horóscopo, as adivinhações, a comunicação com os mortos, a magia, as amarrações ou desamarrações. Todas essas práticas são formas de pecado contra a fé, que nos separam da videira que é Cristo.

O Espírito Santo nos une a Cristo de tal maneira que formamos com Ele a única videira. Essa é a obra maravilhosa do Espírito Santo recebido na Confirmação: somos um só com Cristo. Sem perder a própria identidade, sem ser absorvido, eu me torno, em união com Cristo e com os irmãos, um só. Assim as obras que faço, são minhas, mas também as de Cristo. As obras de Cristo, são dele, mas são feitas minhas. 

O Espírito forma em mim a imagem de Cristo: seus sentimentos são os meus; suas palavras são as minhas; seus pensamentos são os meus; seu amor ao Pai, é meu; seu amor por Maria, é meu!

Adroaldo Palaoro - “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15,4)


5°DomPascoa - Jo 15,1-8 – ano B – 02-05-2021


Essência do seguimento: permanecer no Jesus “podado”



No Evangelho de João encontramos expressões com as quais estamos acostumados e que, infelizmente, escutamos ou lemos de modo superficial. Na verdade, quando as lemos ou escutamos como palavras do Ressuscitado vivo, do Senhor no meio de sua comunidade, é que nos sentimos capacitados a acolhê-las como palavras de verdade e de vida. Estamos vivendo o tempo pascal e o tema “vida” perpassa todo esse tempo litúrgico.

O relato deste domingo é tirado dos chamados “discursos de despedida” (cf. Jo 13, 31-16,33), palavras que o Ressuscitado glorioso e vivo dirige à sua Igreja. Jesus afirma: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor”. Para um judeu piedoso, a videira era uma planta familiar, que, junto com o trigo e a oliveira, marcava a terra de Israel; é a planta da qual se extrai “o vinho que alegra o coração humano” (Sl 104, 15); é a planta cultivada desde sempre na terra da Palestina, símbolo de uma vida fecunda que brota de um chão árido e pedregoso, símbolo da vida abundante e alegre.

A imagem da videira também já tinha sido assumida pelos profetas como imagem do povo de Israel, da comunidade do Senhor: videira escolhida, arrancada do Egito e transplantada na terra prometida pelo próprio Deus, cultivada com cuidado e amor pelo Senhor, que dela esperava frutos. Deus é o vinhateiro que ama a sua vinha, mas fica frustrado com ela; Ele é o vinhateiro que chora pela sua vinha, outrora exuberante, mas agora queimada e desolada; Deus é o vinhateiro invocado em socorro da sua vinha devastada e cortada.

Mas o que é radicalmente novidade com relação ao AT é que Jesus se apresenta a si mesmo como a “Videira verdadeira”. Ele é a Vinha que recapitula em si toda a história do povo de Deus, assumindo seus fracassos, suas quedas e seus sofrimentos. Ele é, ao mesmo tempo, a testemunha do amor fiel de Deus que, na sua misericórdia inesgotável, renova a aliança com o seu povo.

Já não se trata somente de um povo a quem Deus consola e assiste. Deus mesmo, em Jesus, é a “seiva” que corre por esta comunidade-videira. Cada um, nesta comunidade, é como o sarmento, ramo nascente, destinado a dar fruto; mas a planta da videira é sempre uma, e uma só seiva a faz viver!

Toda a videira é um ser vivo: raiz, cepa e ramos estão atravessados pela mesma vida; mas, para manter a vida e produzir frutos, é preciso dos três elementos. O agricultor experiente sabe que, se os ramos não são podados, eles podem bloquear a transmissão da seiva e não dar fruto. Por isso, é necessário que sejam regularmente podados. Sem poda não há criatividade, nem fruto e nem futuro.

Quando é podada, a videira é despojada de todos os ramos; só fica um tronco áspero e escuro, sem uma única folha verde. Quem não sabe de podas dirá que a videira está absolutamente morta, em pleno inverno. Só ficam presos ao tronco uns centímetros de alguns ramos que deram fruto em outro tempo e que agora parecem “cotocos” sem futuro.

Na videira, não só são podados os ramos que foram férteis; também são cortados aqueles que não dão fruto, aqueles que crescem muito, chamam a atenção porque são brilhantes e ostentosos, exibem protagonismo, ocupam espaço ao sol, absorvem a seira que sobe pelo tronco, mas são estéreis.

Jesus nos diz na parábola que o Pai é o agricultor, que realiza a poda para que a videira tenha mais vida; só Ele pode transformar a destruição de uma poda em uma nova videira que dará melhores frutos. Ele pode orientar para a vida um golpe dirigido para a morte. Ele é o agricultor que ama sua vinha e que sempre trabalha no fundo do húmus da realidade com criatividade infinita.

A parábola de Jesus é completamente atual. A poda sempre será necessária em nossa vida. Todo o “novo” que assumimos, com o tempo esvazia-se, porque os “ramos existenciais” trazem dentro de si uma dose de ambiguidade e, aos poucos, vão acumulando “excessos” que exigem um consumo muito grande de seiva; na realidade, em vez de produzir frutos, se revelam infecundos e estéreis. Então, faz-se necessária uma poda para eliminar os “pesos”.

De fato, levamos “cargas pesadas” em nosso interior, e são justamente elas que dificultam nossa caminhada pela vida; é preciso desfazer-nos de cargas incômodas para andar com maior desenvoltura e alegria pela vida.

O medo de perder “algo” no futuro atrapalha viver intensamente o presente. Quantos “pesos mortos” arrastamos em nossa vida, com recordações, lembranças, apegos, afetos desordenados...!

O apego às coisas, bens, lugares, títulos, pessoas... impede-nos de mover com facilidade. Perdemos o “fluxo” da vida, o impulso do movimento, a suavidade do “deslizar pela existência”.

A fidelidade ao Deus da Vida fica interditada e o seguimento de Cristo fica fragilizado.

Quando o agricultor faz uma poda na videira, continuam saindo pelos cortes pequenas gotas de seiva como se ela chorasse a perda, buscando desorientada o mesmo caminho de sempre que já não existe mais.

O importante é acolher a poda, viver o luto, despedir-se do que foi perdido, e não se trancar numa queixa obsessiva que gira sobre si mesmo, paralisando o futuro. Quando não se faz o luto e não se assume a perda, as feridas se prolongam no tempo e deixam uma esteira de dor que nunca cicatriza.

Durante semanas, na vinha podada não acontece nada por fora, mas por dentro, célula por célula, vai sendo gestada a primavera com processos diminutos e invisíveis. A vida nova se revela no escondimento da interioridade. O ritmo é lento e não responde às impaciências do agricultor nem à hostilidade do clima que a cerca. Todo o trabalho é interior e silencioso. São as ressonâncias bíblicas do “pequeno resto de Israel”, que em tantas ocasiões foi o começo de movimentos radicalmente novos como surpresas de Deus.

Quando chega a primavera, a casca ressequida e endurecida da videira começa a abrir-se a partir de dentro pela fortaleza da vida que cresceu em seu interior. O rigor do frio vai se afastando de seu entorno. Aparecem os brotos, os ramos, as folhas e os cachos de uvas. É tempo de surpresa, um despertar da consciência de uma vitalidade assombrosa em sua pequenez e vulnerabilidade, que já é impossível de esconder e deter debaixo da casca.

Uma palavra se repete várias vezes na parábola tão breve deste domingo: “permanecer”. É como uma obsessão que tece todo o texto, a chave que tudo explica. Nas podas, o importante é “permanecer” conectado ao tronco de onde nos chega a vida, embora tudo parece morto.

Este relato evangélico nos revela uma relação muito poderosa, sem a qual, continuamos desconectados, secos, como mortos. É uma vinculação profunda com Jesus, fonte de vida e de ação. “Sem mim nada podeis fazer”. Nossas atitudes e especialmente a fecundidade das ações mais simples dependem desta vinculação profunda com Jesus. Do contrário, aquilo que fazemos “separados” ou por nossa conta, será caduco, nos faltará profundidade e sentido. O “nada” do ramo cortado e destinado ao fogo se opõe ao “muito fruto” duradouro daquele que permanece no amor criador; a seiva nunca deixará de chegar, vindo do próprio Jesus, ao lado das mesmas cicatrizes da poda.

Somos fecundos na humildade de Deus quando temos nossas raízes bem plantadas na realidade onde Ele está oculto e de onde tudo refaz; seu amor ao mundo e sua imaginação criativa abrem na história possibilidades sempre novas, atualizadas em cada circunstância. Nosso futuro só é possível se estiver enraizado na humildade de Deus, que é o mais profundo de seus mistérios. A humildade fecunda de Deus se oculta na longa história que vai desde a dor da poda, até o sabor do vinho da nova colheita que compartilhamos.

Para meditar na oração:

"Eu canto por ser ramo, unido à Videira.

Sou ramo que se alarga, ampliando a minha vida. Eu deixo vida feita folha verde e cachos de uvas.

Sou ramo e jorro minha vida feito vinho saboroso. Sou ramo desde a origem. Sou ramo ligado à Videira. Sou ramo alimentado pelo vigor incontido da seiva. Alguém vive em mim no silêncio. Alguém que conhece o bem, a verdade, a liberdade.

Sua Vida é minha vida. Seu viver é meu viver. Para mim, a vida é sua Vida. Sou ramo.

Sou ramo e quero gritar bem alto. Sou ramo e vivo. Amo minha vida e não quero abafá-la. Amo minha vida e não quero morrer sufocado, desconectado da Videira. Grito a ti Videira, Fonte de minha vida!”


Contato Vital - José Antonio Pagola


De acordo com o relato evangélico de João, na véspera da morte de Jesus, ele revela aos discípulos seu desejo mais profundo: "Permanecei em mim". Ele conhece a covardia e a mediocridade deles. Muitas vezes, estes foram repreendidos por sua falta de fé. Se não permanecerem vitalmente unidos a ele, não poderão sobreviver.

As palavras de Jesus não poderiam ser mais claras e expressivas: "Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim". Se não permanecerem firmes no que aprenderam e viveram com ele, suas vidas serão estéreis. Se não viverem do seu Espírito, o que foi iniciado por ele se extinguirá.

Jesus utiliza uma linguagem enfática: "Eu sou a videira e vós os ramos". Nos discípulos deve fluir a seiva que vem de Jesus. Nunca devem esquecer disso. "Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer". Separados de Jesus, seus discípulos não podem fazer nada.

Jesus não apenas pede que permaneçam nele. Ele também diz que suas palavras permaneçam neles. Que não as esqueçam. Que vivam do seu evangelho. Essa é a fonte da qual devem beber. Ele já havia dito isso em outra ocasião: "As palavras que vos tenho dito são espírito e vida".

O Espírito do Ressuscitado permanece hoje vivo e atuante em sua Igreja de várias formas, mas sua presença invisível e silenciosa adquire traços visíveis e voz concreta graças à memória guardada nos relatos evangélicos por aqueles que o conheceram de perto e o seguiram. Nos evangelhos, entramos em contato com sua mensagem, seu estilo de vida e seu projeto do reino de Deus.

Por isso, nos evangelhos está contida a força mais poderosa que as comunidades cristãs possuem para regenerar sua vida. A energia de que necessitamos para recuperar nossa identidade como seguidores de Jesus. O evangelho de Jesus é o instrumento pastoral mais importante para renovar hoje a Igreja.

Muitos bons cristãos de nossas comunidades conhecem apenas os evangelhos de segunda mão. Tudo o que sabem de Jesus e de sua mensagem provém do que puderam reconstruir a partir das palavras dos pregadores e catequistas. Vivem sua fé sem ter um contato pessoal com "as palavras de Jesus".

É difícil imaginar uma nova evangelização sem proporcionar às pessoas um contato mais direto e imediato com os evangelhos. Nada tem mais força evangelizadora do que a experiência de ouvir juntos o evangelho de Jesus a partir das perguntas, problemas, sofrimentos e esperanças de nossos tempos.


Meditação do evangelho: Eu sou a videira, vocês são os ramos - Carlos Mesters, Mercedes Lopes, Francisco Orofino.


Em seu discurso, Jesus usa a comparação da videira, a planta que dá uva. Para um ramo ou um galho poder dar fruto é necessário que ele fique unido ao tronco e que, de vez em quando, passe por uma boa poda. A comunidade é como uma videira. Por vezes, ela passa por momentos difíceis. É o momento da poda, necessário para que ela produza mais frutos.

Para entender bem todo o alcance desta parábola, é importante estudar bem as palavras que Jesus usou. Igualmente importante é você observar de perto uma videira ou uma planta qualquer para ver como ela cresce e como acontece a ligação entre o tronco e os ramos, e como o fruto nasce do tronco e dos ramos.

João 15,1-2: Jesus apresenta a comparação da videira

No Antigo Testamento, a imagem da videira indicava o povo de Israel (Is 5,1-2). O povo era como uma videira que Deus plantou com muito carinho nas encostas das montanhas da Palestina (Sl 80,9-12). Mas a videira não correspondeu ao que Deus esperava. Em vez de uvas boas deu um fruto azedo que não prestava para nada (Is 5,3-4). Jesus é a nova videira, a verdadeira. Numa única frase ele nos entrega toda a comparação.

Ele diz: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo em mim que não produz fruto, ele o corta. E todo ramo que produz fruto, ele o poda!”.

A poda é dolorosa, mas é necessária. Ela purifica a videira, para que cresça e produza mais frutos.

João 15,3-6: Jesus explica e aplica a parábola

Os discípulos já são puros. Já foram podados pela palavra que ouviram de Jesus. Até hoje, Deus faz a poda em nós através da sua Palavra que nos chega pela Bíblia e por tantos outros meios. Jesus alarga a parábola e diz: “Eu sou a videira e vocês são os ramos!” Não se trata de duas coisas distintas: de um lado a videira, do outro, os ramos. Não! Videira sem ramos não existe. Nós somos parte de Jesus. Jesus é o todo. Para que um ramo possa produzir fruto, deve estar unido à videira. Só assim consegue receber a seiva. “Sem mim vocês não podem fazer nada!” Ramo que não produz fruto é cortado. Ele seca e é recolhido para ser queimado. Não serve para mais nada, nem para lenha!

João 15,7-8: Permanecer no amor

Nosso modelo é aquilo que Jesus mesmo viveu no seu relacionamento com o Pai. Ele diz: “Assim como o Pai me amou, também eu amei vocês. Permaneçam no meu amor!” Ele insiste em dizer que devemos permanecer nele e que as palavras dele devem permanecer em nós. E chega a dizer: “Se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, aí podem pedir qualquer coisa e vocês o terão!” Pois o que o Pai mais quer é que nos tornemos discípulos e discípulas de Jesus e, assim, produzamos muito fruto.

Texto extraído do Livro Raio-X da Vida- Círculos Bíblicos do Evangelho de João, Coleção A Palavra na Vida 147/148. 


O agricultor ama sua videira - Ana Maria Casarotti


O trecho do Evangelho de hoje está intercalado entre um discurso de despedida que começa no capítulo 13 e será retomado no capítulo 16. Inicia-se com a apresentação de Jesus, onde afirma ser a verdadeira videira do Pai: “Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor”.

Jesus usa esta metáfora da videira, dos ramos e dos frutos. No Antigo Testamento, em várias oportunidades, sugere-se que a imagem da videira seja no sentido próprio ou no sentido figurado. Por exemplo: os homens enviados por Moisés “Chegando ao vale do Cacho, cortaram um ramo de videira com um cacho de uvas, e o penduraram numa vara transportada por dois homens” para reconhecer a terra de Canaã.

No Cântico dos Cânticos a videira pode representar a esposa (Ct 6,11). É preciso lembrar que a videira é uma árvore muito comum na terra de Palestina, assim como a figueira ou a oliveira. Geralmente a palavra videira ou vinha é usada para significar o Povo de Israel e sua relação com Deus.

Normalmente a videira, quando foi podada nos momentos oportunos, produz frutos abundantes. O profeta Jeremias usa esta imagem quando, em nome de Deus, dirige-se ao povo dizendo: “Eu havia plantado você como lavoura especial, com mudas legítimas. E como é que você se transformou em ramos degenerados de vinha sem qualidade?” (Jr 2,21). Ele expressa os sentimentos de Deus e seu povo.

Em outros textos é apresentado como “a vinha”, que Deus plantou com cepas escolhidas, que Ele cuidou e da qual esperava frutos abundantes, mas só recebe frutos amargos. “Cantarei em nome do meu amigo um canto de amor para a sua vinha. O meu amigo possuía uma vinha em fértil colina. Capinou a terra, tirou as pedras e plantou nela videiras de uvas vermelhas. No meio, construiu uma guarita e fez um tanque de pisar uvas. Esperava que produzisse uvas boas, mas ela produziu uvas azedas.” A tristeza e desilusão de Deus é produzida pela infecundidade da videira porque não produz os frutos que esperava (Jer 2,21; Ez 17,5-10; 19,10-12; Os 10,1).

Jesus se apresenta como a verdadeira videira e isso faz alusão a uma falsa videira que se percebe nos textos dos profetas que ecoam os sentimentos de Deus sobre sua vinha. “A vinha de Javé é a casa de Israel, e sua plantação preferida são os homens de Judá. Eu esperava deles o direito e produziram injustiça, esperava justiça e aí estão os gritos de desespero” (Is 5,7).

Jesus é a videira verdadeira; ele é a 

Boa Notícia que nos apresenta o novo povo de Deus inaugurado por ele e todos e todas os que permanecem unidos a ele.

A comunidade cristã nasce da videira que gera vida: Jesus que foi morto e ressuscitou. Neste tempo Pasqual somos convidados a permanecer unidos a Ele, que oferece sua Vida em abundância como uma videira que continuamente nutre os ramos unidos a ela. Somente assim é possível dar frutos. Se vivemos separados dele não teremos vida e seremos cortados pelo Pai, como um agricultor, porque não permite aos outros ramos crescer com liberdade e nutrir-se de Vida. O Pai não separa os ramos, os que não permanecem em Jesus já estão separados. Os agricultores podam a videira para que dê mais fruto, e assim faz o Pai porque sua intenção é procurar que sua vida produza fruto. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que deem mais fruto ainda.

Há diferentes formas de rejeitar a Vida que Jesus nos oferece. Pessoas que preferem o individualismo, o fechamento nas suas ideias e projetos. Escolhem assim seu próprio bem-estar sem olhar para tantos seres humanos que ao seu lado clamam por uma ajuda, um conselho, uma palavra! É somente levantar os olhos e estender a mirada por encima de nós mesmos ou do nosso redor. Ao nosso lado estão tantos e tantas que são desprestigiados/as e desconsiderados/as pela sociedade e por isso devem morar ao borde de um caminho que conduz ao desprestigio e a desconsideração. Pessoas e sociedades que somente produzem frutos de morte.

O Pai, como bom agricultor que ama sua videira, se preocupa de limpar a vinha, de quitar as folhas que impedem que dê frutos. Continuamente está nos convidando a um caminho de conversão. As vezes é necessário uma virada no caminho ou uma renovação na atração da Videira para permanecer sempre unidos e unidas a ele, fonte de Vida.

Neste domingo somos atraídos para renovar nossa união com Jesus, alimentando-nos da mesma seiva que corre pelo tronco da videira e viver assim como Ele viveu.

Oração

Luz

Não nos chamas

a iluminar as sombras

com frágeis velas

protegidas dos ventos

com as palmas da mão,

nem a ser puros espelhos

que refletem luzes alheias,

cotizadas estrelas

dependentes de outros sois,

que como amos da noite

fazem brilhar as superfícies

com reflexos passageiros

ao seu bel prazer.

Tu nos ofereces

ser luz desde dentro, (Mt 5,14)

corpos acesos

com teu fogo inextinguível

na medula do osso (Jr 20,9)

sarças ardentes

nas solidões do deserto

que buscam o futuro (Ex 3,2)

rescaldo de lar

que congrega os amigos

compartilhando pão e peixes (Jo 21,9)

ou relâmpago profético

que risque a noite

tão dona da morte.

Tu nos ofereces

ser luz do povo (Is 42,6)

fogueiras de pentecostes

na persistente combustão

de nossos dias

acesos por teu espírito,

ser luz em ti,

que és a luz,

fundido inseparavelmente

nosso fogo com teu fogo.

Benjamín G. Buelta, sj


Reflexão da Leitura - At 9,26-31 – Ano B - Thomas McGrath


`1. O texto no seu contexto

Capitulo 9 do Livro dos Atos dos Apóstolos é dedicada a conversão e vocação de Paulo. O capitulo tem quatro partes:

A primeira parte - At 9,1-9 apresenta os acontecimentos no “caminho de Damasco” e o decisivo encontro de Paulo com Jesus ressuscitado; 

A segunda parte - At 9,10-19 descreve o encontro de Paulo com a comunidade cristã de Damasco; 

A terceira parte - At 9,19-25 fala da atividade apostólica de Paulo em Damasco; 

A quarta parte - At 9,26-30 mostra a forma como Paulo, depois de deixar Damasco, foi recebido pelos cristãos de Jerusalém.

Depois da sua conversão, Paulo ficou três anos em Damasco, colaborando com a comunidade cristã dessa cidade. Mas, a oposição dos judeus forçou Paulo a abandonar a cidade, e ele foi para Jerusalém. 

A 1ª leitura da “Leitura Orante” deste 5º Domingo da Pascoa fala do tempo que Paulo passou em Jerusalém, depois de ter abandonado Damasco, e termina (V.31) com um breve sumário da vida da Igreja

2. Comentário

São Lucas neste trabalho catequético dele no Livro dos Atos dos Apostolos mistura elementos históricos com outros reflexão. 

1. A comunidade cristã de Jerusalém é, naturalmente, muita desconfiada da pessoa de Paulo – no passado ele era um perseguidor violento dos Cristãos e agora é um dos mais fervorosos defensores da causa de Jesus. “Todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo”. Os Cristãos em Jerusalém eram Judeus, do grupo que Paulo perseguia até pouco tempo antes. 

2. Mesmo sabendo onde ele estava pisando Paulo faz grande esforço para integrar-se no grupo dos Apóstolos. Paulo bem sabia da importância da Comunidade e da sua necessidade de viver em comunidade, e compartilhar a fé dos irmãos. Ser Cristão não é apenas ter um encontro pessoal com Jesus Cristo; mas é também uma experiência de partilha de bens, de fé, e do amor com os irmãos. A fé exige partilha e convivência .

3. Outro elemento sublinhado por Lucas é o entusiasmo e coragem de Paulo na hora de testemunhar Jesus. Ele não tem medo de ir contra a opinião de alguns membros da comunidade. O importante é anunciar a verdade e não ter medo de ofender gente dentro ou fora da comunidade. Ele tem consciência que foi chamado por Jesus, com a missão de anunciar a salvação e a verdade sobre a vida. Medo de ofender autoridades nunca foi e não é papel do cristão. 

4. Portanto o anuncio da verdade, agir como Jesus agiu, se colocar do lado dos pobres suscita, naturalmente, conflito com os poderes de morte e de opressão, - aqueles que são interessados em perpetuar os mecanismos de escravidão. Fidelidade ao Evangelho provoca sempre  oposição aos poderes do mundo. O caminho do discípulo de Jesus é sempre um caminho marcado pela cruz, em busca da vida para os queridos de Deus.

Mas apesar de tudo isso “A Igreja estava em paz. Ela ficava cada vez mais forte, crescia em número de pessoas com a ajuda do Espírito Santo e mostrava grande respeito pelo Senhor Jesus”. A certeza da presença e da assistência do Espírito Santo deve fundamentar a nossa esperança.

3. Conclusão

• O cristão não é um crente isolado, mas membro de um corpo, a Comunidade. Por isso, a vivência da fé é sempre uma experiência comunitária. É no diálogo e na partilha que a nossa fé nasce, cresce e amadurece na comunidade. Uma comunidade, que é as vezes marcada por tensões, conflitos, e divergências; mas nada disso pode servir de pretexto para abandonar a comunidade e querer agir isoladamente.

• O encontro com Jesus ressuscitado que o Paulo teve no “caminho de Damasco” foi um momento decisivo na vida dele. A partir desse encontro, Paulo tornou-se um entusiasta sem par do projeto libertador de Jesus. A perseguição dos judeus; a oposição das autoridades; a indiferença e incompreensão de muitos membros das comunidades; os perigos dos caminhos; as dificuldades das viagens, jamais conseguiram desencorajá-lo ou desarmar o seu testemunho. Paulo nos ensina que ser cristão é dar testemunho de Jesus e projeto, independentemente do tempo ou lugar.  

• A Igreja é uma comunidade formada por homens e mulheres que marcham pela história assistidas/os, animadas/os e conduzidas/as pelo Espírito Santo. O campo de atuação hoje, no nosso país, é marcado pelo empobrecimento progressivo dos pequenos, o retorno da miséria, do desemprego, o não acesso à saúde ou educação. Quase 400 mil conterrâneos nossos já perderam as suas vidas com o vírus, e deixaram seis ou sete vezes mais gente chorando. É no meio deste povo que a comunidade do Movimento de Jesus é chamada a atuar. São eles que temos que servir e jamais os que causam essa morte lenta (ou rápida).

Para fazer essa reflexão utilizamos DEHONIANOS 05º Domingo de Páscoa



TEXTO de Dom Damian Nannini, Argentina

(Traduzido automaticamente pelo Google, sem nossa correção)


QUINTO DOMINGO DO CICLO DE PÁSCOA “B


Primeira leitura (Hb 9,26-31):

São Paulo, logo após a sua conversão, tem que fugir de Damasco para salvar a sua vida e, ao chegar a Jerusalém, procura integrar-se na nascente comunidade cristã. O texto de hoje constata a desconfiança inicial dele por parte dos discípulos daquela comunidade. Os bons ofícios de Barnabé são necessários para que ele seja aceito pelo grupo, a ponto de poder conviver com os discípulos e pregar Jesus Cristo em Jerusalém. Mas os judeus de língua grega (helenistas), que possivelmente o consideravam um traidor, procuram a sua morte. Por isso, Paulo é enviado a Tarso, sua cidade natal, para salvar sua vida e, ao mesmo tempo, pacificar as pessoas.

Alguns versículos antes, Lucas nos contou sobre a desconfiança de Ananias em relação a Paulo. E o Senhor lhe respondeu:""Vá procurá-lo, porque ele é um instrumento escolhido por mim para levar o meu Nome a todas as nações, aos reis e ao povo de Israel. Mostrarei a ele o quanto ele terá que sofrer pelo meu Nome""(Hb 9:14-15). Este último, sofrendo e sendo perseguido pelo nome de Jesus, começa a ser uma realidade na vida de Paulo. E praticamente assim permanecerá até o fim, até o seu martírio.

O texto termina com um breve resumo: “A Igreja, entretanto, gozava de paz em toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Foi construída, viveu no temor do Senhor e cresceu em número, assistida pelo Espírito Santo”(Hb 9:31). Pela primeira vez nos Atos dos Apóstolos, a Galiléia é citada como região onde a Igreja esteve presente. Deus lhes concede um tempo de paz em que a Igreja se consolida enquanto caminham no temor do Senhor, princípio da Sabedoria, e se multiplica com a consolação (παράκλησις) do Espírito Santo. Destaca-se, como noutros textos de Atos (cf. 6,1.7; 12,24), que Deus faz crescer e multiplicar a Igreja.

Segunda leitura (1Jo 3,18-24):

Nas epístolas de João a obra típica do cristão é a caridade, uma caridade que se verifica nas obras, não apenas nas palavras. É um amor vivido, não apenas recitado. De acordo com R. Fabris1, portanto, o autor da carta "propõe um critério para reconhecer a verdadeira e profunda identidade daquele que não só põe em prática a verdade – a palavra ouvida – mas que se deixa guiar pela verdade no seu modo de sentir e de viver. Trata-se de verificar e avaliar diante de Deus os próprios sentimentos, projetos e opções que têm as suas raízes no centro da personalidade, o “coração”.".

Assim, quem ama “de fato e de verdade” pode ter o coração tranquilo (Cardi, um) Na frente de Deus. E se o nosso coração nos condena, ainda recorremos a Deus que é maior e tudo sabe. E se o coração não nos censura por nada, então podemos ter confiança (parresia,Parrsi, um) para ir ao Pai e pedir-lhe com a certeza de obter o que pedimos. A este respeito, J. Casabó2precisa que "na 1ª EpístolaParrsi, umÉ o acesso aberto a Deus, a confiança Nele, que se opõe ao medo (4:18) e à confusão (2:28). Na Epístola vemos uma progressão, ou melhor, uma precisão da causa que funda aparresia: em 2:28 é “permanecer em Cristo”; em 3:21 “guarda os seus mandamentos”; em 4:17 “o ágape"

Nos v. 22-24 o termo mandamento (na cadeia=mandato.) aparece 4 vezes, duas no plural e duas no singular. Há muito debate entre os estudiosos sobre o conteúdo deste termo em João. Em primeiro lugar, é claro que ele não se identifica com os dez mandamentos ou com a lei judaica, uma vez que João fala deles comonomos, lei. A resposta correta é dada por J. Casabó3:“Qual é o conteúdo dona cadeia? Acima de tudo, a caridade de Cristo comunicada, enraizada Nele e fruto da comunhão com Ele; convertida na norma do crente e no eixo central de suas ações. Mas também o ideal ético que Cristo realiza com todas as suas implicações, e do qual deixa aos seus seguidores um exemplo e preceitos fundadores, como expressões daquela caridade que tudo permeia.". Quer dizer,

É claro em João que Jesus fez com que os seus discípulos participassem do seu amor pelo Pai e da sua obediência aos seus mandamentos (Jo 10,18; 12,49-50). Portanto, ele os torna participantes de sua caridade e lhes dá o novo mandamento (na cadeia) amar-nos uns aos outros com este amor divino (cf. Jo 13,34; 15,10.17). Assim, a essência do mandamento (na cadeia) é o amor. Agora, sendo oágape princípio fundamental de funcionamento do cristão, inclui e vivifica o cumprimento de toda a vontade de Deus manifestada em Cristo.

Evangelho (Jo 15,1-8):

Neste evangelho Jesus escolhe uma comparação para expressar a relação que existe entre a videira-Jesus; o Pai-viticeiro e os discípulos-ramos (ramos). Lembremos que a videira, juntamente com a oliveira e a figueira, constituem a vegetação característica da Palestina e de Israel. Teniendo en  cuenta que en la actualidad más del 80 % de la población mundial vive en ciudades, no estaría de  más decir que una viña es una plantación de vides y que la vid es una planta trepadora de tronco  retorcido con ramas tiernas y largas que brotan do mesmo. Possui folhas alternadas e produz flores esverdeadas em cachos que se transformam em uvas que são fruto da videira. Em cada vinha é necessário que haja uma pessoa que cuide, limpe, regue e monitorize constantemente as plantas. Esta pessoa é o agricultor ou viticultor.

O tema da videira tem muitas aplicações na Bíblia, mas o conteúdo destes versículos de João nos inclina aassimilar a videira com a vinha, que no Antigo Testamento se refere a Israel, tanto negativamente (cf. Is 5,1-7; Jr 2,21;12,10; Ez 19,12-14) como positivamente (Is 27,2-5; Ez 19). ,10-11;

Esta videira, símbolo de Israel, é descrita em Jo 15:1 comoverdadeiro(ἡ ἄμπελος ἡ ἀληθινὴ). Este adjetivo também é usado por Juan para descrever a luz (1.9); aos adoradores (4,23); ao pão do céu (6:32) e ao próprio Deus (17:3). É então a videira autêntica, real, definitiva. Portanto, tomando estes dados da tradição do Antigo Testamento, João realiza um deslocamento ousado: já não é Israel, mas o próprio Jesus quem é a videira/videira do Pai. De acordo com L. Rivas4 

“A afirmação “Eu sou a videira verdadeira” equivale a “Eu sou o verdadeiro povo escolhido de Deus”.»”. G. Zevini é da mesma opinião, que afirma que “a videira é Jesus, não o povo messiânico. É ele quem realiza a esperança de Israel, pois o Cristo-videira não pode mais ser infiel. A videira-Israel em Jesus foi promovida à fidelidade total”5.

De acordo com J. Ratzinger6Esta expressão tem sobretudo significado cristológico porque embora o adjetivo “verdadeiro” seja importante, “O elemento essencial e mais importante nesta frase é “eu sou”; o próprio Filho se identifica com a videira, ele mesmo se tornou videira. Foi deixado para ser plantado no solo. Ele entrou na videira: o mistério da encarnação, de que fala João no Prólogo, é aqui retomado de uma forma surpreendentemente nova. A videira já não é uma criatura que Deus olha com amor, mas que Ele pode, no entanto, também arrancar e rejeitar. Ele mesmo tornou-se videira no Filho, identificou-se para sempre e ontologicamente com a videira. Esta videira nunca pode ser arrancada, não pode ser abandonada à pilhagem: pertence definitivamente a Deus, através do Filho, o próprio Deus vive nela.".

Por sua vez, o Pai aparece como olabrador o viñador (ὁ γεωργός). Isto é surpreendente porque na tradição sinótica Deus aparece mais como osenhor ou dono da vinha(cf. Mc 12,9; Mt 20,1; 21,40; Lucas 20,13). Contudo, nestes textos (e em outros) a ação de Deus na vinha de Israel é descrita como obra de um viticultor ou agricultor. Portanto, esta apresentação do Pai como um viticultor confirma o contexto do Antigo Testamento da videira como Israel.

Em 15.2 é especificadoas ações do Pai, que são como as do vinhateiro que no inverno corta os ramos infrutíferos e na primavera os poda para que fiquem mais vigorosos e frutíferos. Para se referir à ação de podar ou limpar os galhos que dão frutos, utiliza-se o verbokakai,rwque na esfera religiosa significa “purificar”. De facto, o evangelista brinca com esta dupla valência de sentido porque no versículo seguinte (15,3) se refere ao adjetivo “purificou” os discípulos: "você está limpo, purificado(kakaro,j)". No mesmo contexto da última ceia em que se encontra o texto de hoje, Jesus já lhes havia dito: "Quem tomou banho não precisa lavar além dos pés, porque está completamente limpo.(kakaro,j). Você também está limpo (limpar), embora nem todos" (Jo 10,13). O que está especificado aqui é quea purificação foi realizada através da palavra(pela razão)o que Jesus lhes havia dito(15,3).

A seguir, Jesus explica claramente a condição para poder dar fruto e sem a qual é impossível fazê-lo: trata-se defique no. O verbo permanecer (eu) aparece 7 vezes em Jo 15,4-7; portanto é o tema dominante e descreve a atitude decisiva do discípulo. Mais ainda, este verbo aparece 40 vezes no evangelho de João e seu significado é variado, conforme refletido nas traduções:habitar, permanecer, habitar, ficar, ser. Em nosso texto seu significado é claro.permanecer, para serem unidos ou ligados de forma firme e estável, como os galhos estão com o tronco.

A chave da vida do discípulo é “permanecer” unido a Jesus. O valor e o alcance teológico deste “resto” são muito bem especificados por J. Casabó7:"«Ménein en» é muito próximo de «einai en» (estar em; estar em), mas ménein acrescenta uma nota de duração, prolongamento e permanência, que é importante para a ação humana [...] o uso joanino deeutem uma peculiaridade: nunca afirma de forma absoluta que o Pai e o Filho permanecem no homem, mas antes que esta permanência está sempre pendente de uma condição [...] o próprio uso deeuindica que parte de uma realidade inicial, de comunhão criada por Deus através da sua iniciativa, aceite pelo homem, e que deve ser mantida, desenvolvida, aprofundada. O relacionamento é progressivo".

Em 15:5, a segunda parte do texto começa com outra declaração reveladora de Jesus que agora envolve os discípulos: “Eu sou a videira, vocês são os ramos”. E desta comunhão viva entre Jesus e os seus discípulos deriva a possibilidade e a garantia de dar frutos; enquanto a separação é garantia de impotência, de esterilidade (15,5b-6). Em 15,7 voltamos ao tema da fecundidade dos discípulos como fruto da sua permanência em Jesus, mas neste caso concretizada na eficácia da oração de petição. Como observa L. Rivas: “Cuidado especial é tomado para evitar que o discípulo assuma o poder de fazer todas as coisas: ele deve “pedir”. Além disso, é necessária a condição de “permanecer”, isto é, a constância na fidelidade a Cristo e a continuidade da obra de Cristo no discípulo. No âmbito daquela relação recíproca expressa pelo verbo “permanecer”, o discípulo pede o que Cristo pede, e tudo o que ele pede lhe será concedido.".

No mesmo sentido, a observação feita por R. Brown é muito interessante.8: “Assim como Jesus é a fonte da água viva e do pão do céu que dá vida, ele é também a videira que comunica a vida. Até agora, as metáforas em que se expressava a ideia de receber de Jesus o dom da vida implicavam algumas ações externas: era preciso beber a água ou comer o pão da vida. As imagens que encontramos notochada videira são mais íntimos, pois correspondem ao tema geral da interiorização que domina o discurso final: para ter vida é preciso permanecer em união com Jesus, da mesma forma que os ramos estão unidos à videira. Beber água e comer pão eram símbolos de fé em Jesus; A explicação de 15:7-17 deixa claro que permanecer na videira simboliza o amor.” Em suma, através da união e da permanência no amor de Jesus recebemos o dom da Vida.

Outro tema dominante da seção são “frutos” (καρπός), já que o termo aparece 6 vezes na seção de 15:1-8. Somente o discípulo que permanece em Cristo pode dá-los; e quando os tem, o Pai os poda para que dê mais. O sinal de ser discípulo é dar frutos e assim glorificar o Pai (15:8). A que realidade se referem essas frutas? Alguns estudiosos recorrem à tradição sinótica e a compreendem num sentido ético:são as boas obras(cf. Mt 3,8.10; 7,17; 21,43). Outros, porém, acham que em San Juan eles têm suas próprias nuances:São frutos do apostolado, atração das pessoas a Cristo, comunicação da salvação a outros homens. Inspiram-se sobretudo em Jo 12,24: “Garanto-vos que se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas se morrer, dá muito fruto.“Outros, finalmente, pensam que o “fruto primário” éamor (ágape), sinal e conteúdo da vida nova recebida de Deus, e que move internamente o discípulo a realizar boas obras e a comunicar a vida de Deus aos outros homens. Os versículos seguintes (15,9-17) sugerem que optemos por esta última interpretação, que de certa forma inclui as duas anteriores.


Algumas reflexões:

A narrativa evangélica de hoje utiliza a comparação com uma planta, uma videira, para representar a interação entre três “atores”: Jesus, o Pai e os discípulos; cada um com sua identidade e sua missão. Ao meditar o texto temos que nos colocar no lugar dos discípulos, dos ramos, e compreenderemos como viver a nossa relação com o Pai, com Jesus e com os outros.

Primeiro, nosso relacionamento comJesus, que aparece como a videira e para nós como os ramos ou ramos. Portanto, Jesus é a fonte de vida e energia dos discípulos a tal ponto que a união com Ele é vital e é por isso que o nosso maior compromisso como cristãos épermaneça unido a Jesus. O testemunho de muitos santos, senão de todos, tanto ativos como contemplativos, é unânime neste sentido:Só quem permanece unido a Jesus pode dar verdadeiros frutos. Um exemplo é o que Santa Isabel da Trindade escreveu no seu encerramento.9: "É a Palavra de Deus quem nos ordena, quem nos expressa essa vontade. Permaneça em mim não apenas por alguns momentos, por algumas horas fugazes, mas permaneça de forma permanente e habitual. Permaneça em mim, ore em mim, adore em mim, ame em mim, sofra em mim, trabalhe em mim, trabalhe em mim". E o santo Cura Ars, do seu lugar de pároco, escreveu: "Ser amado por Deus, viver unido a Deus... Viver na presença de Deus, viver para Deus: oh, bela vida... e bela morte... Tudo sob o olhar de Deus, tudo com Deus, tudo para agradar a Deus... ah! Isso é muito bom." "Oh, linda vida! Linda união da alma com Nosso Senhor! A eternidade não será suficiente para compreender esta felicidade"10.

Então temos nosso relacionamento com elePai, o viticultor, a quem cabe cuidar da videira e podar-purificar os ramos. Todos recebem Dele sua ação ou atenção: aqueles que estão secos e não dão frutos são cortados e jogados fora; Aquelas que dão frutos são podadas para que dêem mais. "Purificação: a Igreja e o indivíduo precisam sempre purificar-se. Atos de purificação, por mais dolorosos que necessários, aparecem ao longo da história, ao longo da vida dos homens que se entregaram a Cristo [...] A auto-exaltação do homem e das instituições deve ser restringida; tudo o que se tornou demasiado grande deve voltar à simplicidade e à pobreza do próprio Senhor. Somente através de tais atos de mortificação a fecundidade permanece e se renova."11.

E finalmente nosso relacionamento como resto, que será desenvolvido nos versículos seguintes (Jo 15,9-17), mas aqui nos é revelada a fonte e a origem da caridade fraterna, do ágape. PorqueA união com Jesus é o grande segredo da vida cristã e a alma de todo apostolado. A este respeito, J. Lafrance diz12: "A verdadeira fecundidade apostólica é fruto desta transformação do nosso ser pelo amor de Deus. Preocupamo-nos muito com os falsos problemas da Igreja hoje e corremos o risco de esquecer o que é essencial. Em última análise, a santidade do corpo de Cristo depende da vitalidade e da união de cada um dos seus membros com a cabeça. Quanto mais vivermos o amor de Deus, mais infundiremos esta vida do Espírito no coração da Igreja e do mundo.".

A este respeito, o Papa Francisco disse emRainha do Céude 2 de maio de 2021: “Antes de tudo, precisamos dele. O Senhor quer nos dizer que antes da observância dos seus mandamentos, antes das bem-aventuranças, antes das obras de misericórdia, é necessário estar unidos a Ele, permanecer n’Ele. Cristãos se não permanecermos em Jesus. E, por outro lado, com Ele podemos tudo (cf. Fl 4,13). Com ele podemos fazer tudo.

Mas Jesus também, como a videira com os seus ramos, precisa de nós. Pode parecer ousado dizer isto, por isso devemos perguntar-nos: em que sentido Jesus precisa de nós? Ele precisa do nosso testemunho. O fruto que, como ramos, devemos dar é o testemunho da nossa vida cristã. Depois que Jesus ascendeu ao Pai, é tarefa dos discípulos, é tarefa nossa, continuar anunciando o Evangelho com palavras e ações. E os discípulos – nós, discípulos de Jesus – fazem-no testemunhando o seu amor: o fruto que deve produzir é o amor. Unidos a Cristo, recebemos os dons do Espírito Santo e assim podemos fazer o bem ao próximo, fazer o bem à sociedade, à Igreja. A árvore é reconhecida pelos seus frutos. Uma vida verdadeiramente cristã dá testemunho de Cristo.


E como podemos conseguir isso? Jesus nos diz: “Se vocês permanecerem em mim e as minhas palavras permanecerem em vocês, peçam o que quiserem e lhes será dado” (v. 7). Isto também é ousado: a garantia de que aquilo que pedimos nos será concedido. A fecundidade da nossa vida depende da oração. Podemos pedir-nos para pensar como Ele, agir como Ele, ver o mundo e as coisas com os olhos de Jesus. E assim, ame nossos irmãos e irmãs, começando pelos mais pobres e sofredores, como Ele fez, e ame-os com seu coração e dê ao mundo frutos de bem, frutos de caridade, frutos de paz”.

Para oração (ressonância do evangelho em uma pessoa que ora):

desejo ardente

Senhor Deus,

videira de fruta doce

Coloque em nós o desejo ardente

De clusters a moagem

Para preparar o vinho para o seu banquete

Torna-nos dóceis à vontade do Pai

E ajude-nos a permanecer sempre unidos a você,

Coloque em nós o desejo ardente

Para serem seus ramos

Para iluminar o caminho do nosso deserto

Videira Verdadeira

Dá-nos a tua abundância e purifica-nos pela tua Palavra

Coloque em nós o desejo ardente

De guardá-lo com ciúmes e torná-lo carne

Para saciar a fome do peregrino

nosso verbo

Interceda diante da vinha com as mãos cheias

Coloque em nós o desejo ardente

Desejar para nós mesmos apenas o que Ele quer

Para perguntar o que é apropriado

exigindo deus

Pídenos los frutos que salvan,  

Coloque em nós o desejo ardente

Se não forem estéreis e aceitarem poda

Deixe-nos ser seus discípulos para lhe dar Glória. Amém.




[1] Las tres cartas de Juan. Comentario exegético y espiritual (Ágape; Buenos Aires 2010) 113.

[2] La teología moral en San Juan (FAX; Madrid 1970) 457.

[3]La teología moral en San Juan (FAX; Madrid 1970) 351.

[4] El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 409.

[5] Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 317.

[6] Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración (Planeta; Buenos Aires 2007) 306.

[7] La teología moral en San Juan (FAX; Madrid 1970) 263-264.

[8] El evangelio según san Juan XIII-XXI (Cristiandad; Madrid, 2000) 1009.

[9] J. Ratzinger, Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración (Planeta; Buenos Aires 2007) 306-307.

[10] Retiro "El cielo en la tierra", segunda contemplación.

[11] Jean-Marie Baptiste Vianney. Curé d'Ars. Pensées (DDB; 1989) 80-81.

[12] J. Ratzinger, Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración (Planeta; Buenos Aires 2007) 308.

[13] J. Lafrance, Morar en Dios (San Pablo; Madrid 1996) 179.