A NOVA EVANGELIZAÇÃO E C. F.

A NOVA EVANGELIZAÇÃO E CARLOS DE FOUCAULD


“A evangelização que sou chamado a viver não é através da palavra, mas através da presença do Santíssimo Sacramento, a oferta do sacrifício da Missa é através da oração e da penitência e da prática das virtudes evangélicas - amor, fraterno e universal amor, a partilha, mesmo meu último bocado de pão com cada pessoa pobre, com cada visitante, cada estranho, e acolhendo cada pessoa como um irmão ou irmã amada”. Beato Charles de Foucauld Monge, Padre e Missionário.

Todo o católico inserido numa comunidade paroquial, certamente acompanhou a realização do Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização, iniciado em 7 de outubro passado

Por ocasião da Celebração Eucarística inaugurando o Sínodo dos Bispos, o Papa Bento XVI disse que “a igreja existe para evangelizar”.

Com esta solene concelebração inauguramos a XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem como tema: “A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã”. Esta temática responde a uma orientação programática para a vida da Igreja, de todos os seus membros, das famílias, comunidades, e das suas instituições. Tal perspectiva se reforça pela providência com o início do Ano da Fé e do 50º aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II. Dentro desse contexto os 20 anos da elaboração do Catecismo.


Disse o Papa: “Queria agora refletir, brevemente, sobre a Nova Evangelização, relacionando-a com a evangelização ordinária e com a missão ad gentes”. A Igreja existe para evangelizar. Fiéis ao mandamento do Senhor Jesus Cristo, seus discípulos partiram pelo mundo inteiro para anunciar a Boa Nova, fundando, por toda a parte, comunidades cristãs. Com o passar do tempo, essas comunidades tornaram-se Igrejas bem organizadas, com numerosos fiéis. Em determinados períodos da história, a Divina Providência suscitou um renovado dinamismo na ação evangelizadora na Igreja. “Basta pensar na evangelização dos povos anglo-saxões e eslavos, ou na transmissão do Evangelho no continente americano, e, em seguida, nos distintos períodos missionários junto dos povos da África, Ásia e Oceania...”.


Na Celebração Eucarística de 7 de outubro, durante a Homília o Papa Bento XVI disse: “Também nos nossos tempos, o Espírito Santo suscitou na Igreja um novo impulso para proclamar a Boa Nova, um dinamismo espiritual e pastoral que encontrou a sua expressão mais universal e o seu impulso mais autorizado no Concílio Ecumênico Vaticano II. Este renovado dinamismo de evangelização produz uma influência benéfica sobre os dois “ramos” concretos que desenvolvem a partir dela, ou seja, por um lado, a missio ad gentes, isto é, a proclamação do Evangelho para aqueles que ainda não conhecem a Jesus Cristo e a Sua mensagem de salvação; e, por outro lado, a Nova Evangelização, destinada principalmente às pessoas que, embora batizadas, se distanciaram da Igreja e vivem sem levar em conta prática cristã.

A assembléia sinodal que se abre hoje é dedicada a essa nova evangelização, para ajudar essas pessoas a terem um novo encontro com o Senhor, o único que dá sentido profundo e paz para a nossa existência; para favorecer a redescoberta da fé, a fonte de graça que traz alegria e esperança na vida pessoal, familiar e social. Obviamente, esta orientação particular não deve diminuir nem o impulso missionário, em sentido próprio, nem as atividades ordinárias de evangelização nas nossas comunidades cristãs. Na verdade, os três aspectos da única realidade de evangelização e completam e se fecundam mutuamente”.


Podemos afirmar que o Beato Charles de Foucauld foi um grande motivador e missionário da Nova Evangelização, como propõe o Santo Padre Bento XVI na Homília de conclusão do Sínodo: “A nova Evangelização diz respeito a toda a vida da Igreja”. Ele foi fiel a Igreja na missão desafiadora aonde muito não chegaria e hoje pode chegar. Ele disse: “Our hearts, like that of the Church, like that of Jesus, must embrace all humanity" =.Nossos corações, como a da Igreja, como a de Jesus, deve abraçar toda a humanidade”.


Diz Bento XVI, “Nós precisamos não apenas do pão material, precisamos de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com dificuldades e nos problemas cotidianos. A fé nos dá exatamente isto: é um confiante confiar em um “Tu”, que é Deus, o qual me dá uma certeza diferente, mas não menos sólida daquela que me vem do cálculo exato ou da ciência. A fé não é um simples consentimento intelectual do homem e da verdade particular sobre Deus; é um ato com o qual confio livremente em um Deus que é Pai e me ama; é adesão a um “Tu” que me dá esperança e confiança”. (Audiência Geral em 24/10/2012).


Os grandes líderes, os santos, os mestres abissais e os heróis são uma conexão histórica de grandes homens e grandes idéias que ocorrem no momento certo da divina providência. O beato Charles de Foucauld foi este homem que revelou para nós uma fé profunda na confiança em Deus. Livre na busca do Absoluto, ele mostra-nos o caminho real do sentido da vida. Vida em Deus, vida no irmão, vida eterna.


É extremamente indicativo o fator excitativo, exótico, místico e misterioso na vida do beato Charles. Sua jornada religiosa como monge, padre, missionário e eremita no deserto, revela uma busca ardente, um encontro impactante e um ideal supremo. Tudo isso para “gritar o Evangelho com a vida”. Em Charles o amor ao próximo é a entrega total ao Bom Deus em prol do último lugar.


A vida do beato Charles é uma profunda obra missionária que sempre se renova na família foucauldiana e na descoberta da sua espiritualidade. Vamos praticar o seu pensamento: “Ser tudo para todos, com um único desejo no coração: o de dar Jesus às almas”.


Bem-aventurados Charles de Foucauld (1858-1916), padre, eremita e missionário no deserto africano. Apóstolo do Saara.

Carta a Joseph Hours, 03 de maio de 1912.

Começou a enviá-los

Ser apóstolo, mas por que meios? Por aqueles que o Senhor põe à disposição de cada um: os padres têm os respectivos superiores, que lhes dizem o que devem fazer. Os leigos devem ser apóstolos para com todos aqueles a quem podem chegar: parentes e amigos, mas não só eles; a caridade não é estreita, alcança todos àqueles que o Coração de Jesus abraça.

Por que meios? Pelos melhores, tendo em conta aqueles a quem se dirigem: com todos aqueles com quem se relacionam, sem excepção, pela bondade, a ternura, o afeto fraterno, o exemplo de virtude, a humildade e a doçura, sempre atraentes e tão cristãs. Com alguns, sem lhes dizer nunca uma palavra sobre Deus ou sobre religião, tendo paciência como Deus tem paciência, sendo bom como Deus é bom, sendo um irmão terno e rezando. Com outros, falando-lhes de Deus na medida em que conseguem atingir; a partir do momento em que chegam à ideia de procurar a verdade pelo estudo da religião, pondo-os em contato com um sacerdote bem escolhido e capaz de lhes fazer bem. Sobretudo, vendo em cada homem um irmão.

Disse Charles de Foucauld: “Minha missão deve ser o apostolado da bondade. A meu ver, deverão dizer 'Já que este homem é tão bom, também sua religião deve ser boa'. Se alguém me perguntar por que eu sou manso e bom, deverei responder: 'Porque eu sou servidor de um outro que é muito melhor do que eu. Se soubesse como é bom o meu Mestre Jesus!'. Quero ser tão bom que possam dizer de mim: 'Se o servidor é assim, como não será o Mestre!”.

À PROCURA DA OVELHA PERDIDA

Charles de Foucauld (Retiro em Nazaré, Novembro de 1897)

À procura da ovelha perdida

Ia-me afastando mais e mais de Vós, meu Senhor e minha vida, e a minha vida começava a ser uma morte, ou antes, era já uma morte a vossos olhos. E neste estado de morte me conserváveis ainda. […] A fé tinha desaparecido por completo, mas o respeito e a estima haviam permanecido intactos. Concedíeis-me outras graças, meu Deus, mantínheis em mim o gosto pelo estudo, pelas leituras sérias, pelas coisas belas, a repugnância pelo vício e pela fealdade. Fazia o mal, mas não o aprovava nem o amava. […] Dáveis-me essa vaga inquietação de uma má consciência que, por adormecida que esteja, nem por isso está morta.

Nunca senti esta tristeza, este mal-estar, esta inquietação, senão nessa altura. Era, pois, um dom vosso, meu Deus; que longe estava eu de suspeitar de que assim fosse! Que bom sois! E, ao mesmo tempo em que impedíeis a minha alma, por essa invenção do vosso amor, de se afundar irremediavelmente, preserváveis o meu corpo: pois se tivesse morrido nessa altura, teria ido para o inferno. […] Os perigos da viagem, tão grandes e tão numerosos, de que me fizestes sair como que por milagre! A saúde inalterável nos lugares mais malsãos, apesar de tão grandes fadigas! Ó meu Deus, como tínheis a vossa mão sobre mim, e quão pouco eu a sentia! Como me protegestes! Como me abrigastes sob as vossas asas, quando eu nem sequer acreditava na vossa existência! E, enquanto assim me protegíeis, e o tempo ia passando, parecia-Vos que tinha chegado o momento de me reconduzir ao cercado.

Desfizestes, apesar de mim, todos os laços maus que me teriam mantido afastado de Vós; desfizestes mesmo todos os laços bons que me teriam impedido de ser, um dia, todo vosso. […] Foi a vossa mão, e só ela, que fez disto o começo, o meio e o fim. Que bom sois! Era necessário fazê-lo, para preparar a minha alma para a verdade; o demónio é excessivamente senhor de uma alma que não é casta, para nela deixar entrar a verdade; não podíeis entrar, meu Deus, numa alma onde o demónio das paixões imundas reinava como senhor. Queríeis entrar na minha, ó Bom Pastor, e fostes Vós que dela expulsastes o vosso inimigo.

Disse Charles de Foucauld: “Ser tudo para todos, com um único desejo no coração: o de dar Jesus às almas”.

CONCLUSÃO

O grande marco na vida de Charles de Foucauld foi ir ao encontro do outro, seja perto ou longe, conhecido ou desconhecido, religioso ou não, pobre ou rico, livres ou escravos, amigos ou inimigos, no entanto, o mais importante é ser testemunha de Cristo como “Irmão Universal”. O Evangelho proclamado com a vida revelando ardentemente a busca do Absoluto. Ir ao encontro do outro é viver numa dimensão do amor que uni, que promove a paz, que a justiça é para todos, que a fraternidade conecta com todo bem comum e que a graça e a fé cristã são recebidas pela misericórdia do Pai Eterno. Charles de Foucauld viveu a cultura do encontro, se junta com o outro em prol da comunhão, trabalhando a caridade com todos e sendo irmãos e amigos de todos. Sua missão era de compaixão pelos mais desfavorecidos, os últimos. Em Charles de Foucauld aprendemos a arte de ser e fazer amigos. Sua vida evangélica é uma Boa Nova de construir amizade comunitária e para vida eterna.


Inácio José do Vale

Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas

Irmãozinho da Visitação da Charles de Foucauld