RETIRO D. LUÍS 2022

RETIRO ANUAL DA FRATERNIDADE

4 a 11 janeiro de 2022

FAZENDO MEMÓRIA

Casa de Retiro Recanto Coqueiro D’agua

Santa Luzia – Belo Horizonte – MG, de 4 a 11/01/2022

Orientador: D. Luiz Fernando Lisboa, cp

Bispo de Cachoeiro de Itapemirim

Dia 04/01/2022

Chegada / Acolhida

Às 18h, iniciamos o retiro com a Celebração da Eucaristia, presidida por Dom Eugênio Rixen. Ao final, Pe. Carlos dos Santos, responsável nacional, acolheu a todos, lembrando também dos irmãos que não puderam estar presentes, em função do número reduzido de participantes, exigência e cuidados que precisamos ter, neste tempo de pandemia. Mesmo de longe, estarão unidos conosco em oração.

Às 19h, foi servido o jantar e, em seguida, iniciaram-se os trabalhos. Pe. Carlos apresentou os informes gerais. Irmã Eliamar, responsável pela casa, deu-nos as informações necessárias para o uso interno e de seu entorno. O Diac. José Gomes apresentou-nos orientações sobre as doenças respiratórias, realçando os cuidados e prevenções que este momento de pandemia nos exige. Em seguida, cada participante se apresentou. Dom Luiz, o pregador, também se apresentou, fazendo uma introdução ao retiro.

Dom Luiz veio de Moçambique, tendo morado por 20 anos na África. Isto motivou-o a mudar seu modo de ver o mundo. É um apaixonado pela Missão. Conviveu com pessoas muito simples, com o qual teve uma profunda e forte experiência acompanhando o sofrimento do povo brutalmente violentado, covardemente assassinado.

Rezamos a Oração do Abandono e, em seguida, foram formados os grupos das fraternidades de partilha da vida. Encerramos o dia com um chá e descanso.

05/01/2022

Às 7h30 – Na Capela, oração do Ofício Divino das Comunidades.

Às 8h – Café da manhã

Às 8h30 – Após o café, cada grupo de fraternidade foi exercer os serviços manuais, já estabelecidos na programação do retiro.

Às 9h30 – No anfiteatro, inicia-se a primeira Meditação. Dom Luiz apresenta a ideia central de sua reflexão com frases de Charles de Foucauld, do Papa Francisco e textos bíblicos para meditar e orar.

Apresentação pessoal:

Dom Luiz fala de sua trajetória vocacional; do tempo vivido como missionário na África; de sua nova Diocese; sobre o retiro missionário (não curso); alguns ensinamentos dos tempos atuais, iluminados pelo grande apóstolo e profeta Charles de Foucauld, pelo Vaticano II, pelo Papa Francisco, pela caminhada da Igreja no Brasil, pela Assembleia Eclesial, pelo caminho rumo ao Sínodo sobre a Sinodalidade, para viver a missão, hoje, onde Deus o colocou... (folha); algumas palavras-chave para rezarmos.

Primeira Meditação: ESCUTA – DIÁLOGO – PALAVRA

Texto bíblico: “Ah! Se meu povo me escutasse, se Israel andasse em meus caminhos” (Sl 81, 14)

Charles de Foucauld: “Se não vivemos do Evangelho, Jesus não vive em nós”.

Papa Francisco: “A oração é, antes de tudo, escuta e encontro com Deus! Assim, os problemas da vida quotidiana não se tornam obstáculos, mas apelos do próprio Deus a ouvir e encontrar quantos estão à nossa frente. As provações da vida transformam-se em ocasiões para crescer na fé e na caridade”.

Textos para a oração: Lc 10, 38-42 – Só uma coisa é necessária

Lc 5,1-11 – Uma Palavra que vem de Jesus

Tempos de Escuta nas correrias da vida. Propor o uso do Método Lectio Divina: Leitura/ Meditação/ Oração/ Contemplação.

Uma só coisa é necessária. Jesus prossegue seu caminho a Jerusalém com seus discípulos e discípulas.

Segundo José Antonio Pagola, Lucas escreve para uma comunidade de pessoas que, em sua grande maioria, não eram judeus. Possivelmente estas pessoas achavam muito difícil o cumprimento de todas as interpretações da Torá e era quase impossível levar adiante todas essas normas. Desta forma Lucas procura, no seu evangelho, apresentar Jesus e sua mensagem de uma forma simples, que seja possível para todos os que desejam segui-lo e ser seus discípulos e discípulas.

Neste momento Jesus entra num povoado e há duas mulheres, Marta e Maria, que o recebem na sua casa. Nelas visualiza duas atitudes diferentes, mas complementares. Durante muito tempo na Igreja simplificou o texto explicando-o como dois estilos de vida: a vida contemplativa e a vida ativa. Marta representava a vida ativa e Maria a contemplativa, ou a ação e a oração respectivamente.

Marta preocupa-se em acolher da melhor forma possível a pessoa que escolheu sua casa para levar adiante a lei da hospitalidade, mas Maria “ficou escutando a sua palavra”. A hospitalidade é, sem dúvida, uma característica muito desenvolvida na cultura oriental. O livro do Gênesis, por exemplo, nos relata a hospitalidade generosa que oferecem Abraão e Sara aos três peregrinos perto do carvalho de Mambré (18,1-10). Hospitalidade que é recompensada com o cumprimento da promessa de um filho na velhice.

Pode-se observar o carinho que Jesus tem por Marta e Maria. Ele sente-se à vontade em companhia delas. Não há diferença para Jesus entre Marta e Maria, as duas são suas amigas, suas discípulas. O que é diferente é a atitude que as irmãs têm em referência a Jesus. Marta acolhe a Jesus e como mulher de sua época se ocupa das coisas da casa, da comida, deixando o hóspede. Óbvio que o que faz é para ele, mas não está com ele. Enquanto Maria, transgredindo os prejuízos culturais, em lugar de estar atarefada nos ofícios domésticos, assume uma atitude própria do discípulo desse tempo ao colocar-se aos pés do Mestre para escutar sua Palavra. Marta reconhece em seu hóspede o Senhor, e assim o chama.

Jesus conhece o bom coração de Marta e seu sincero desejo de servi-lo, mas também vê que ela está preocupada demais nas suas ocupações, correndo de um lado para outro da casa, nem sempre com alegria. Por isso é que a chama: “Marta, Marta...”. Não é um detalhe Lucas colocar o nome de Marta na boca de Jesus. Dessa maneira, ele está fazendo alusão ao estilo que no Antigo Testamento era usado para narrar o chamado de Deus. Por exemplo, quando Deus aparece em sonhos a Samuel, o faz repetindo seu nome: “Samuel, Samuel...” (1Sm 3, 4). Ou seja, longe de “xingar” Marta, o que Jesus faz é convidá-la a segui-lo, a crescer como discípula dele.

E para isso é necessário que ela tenha a coragem de abandonar sua posição atual de mulher servente e passar a ser uma mulher livre de prejuízos e preconceitos, assumindo, assim, também ela sua dignidade de discípula de Jesus. Cabe aqui uma pergunta: de onde Maria tira forças para protagonizar esta mudança cultural e religiosa, e assim, sem mais, se colocar aos pés de Jesus?

Jesus disse a Marta: “Maria escolheu a melhor parte”. Ela escolheu estar com ele, colocar Jesus no centro de sua vida. Mas para poder fazer isso, antes esta mulher conheceu profundamente o amor de Jesus por ela.

Esse amor lhe deu forças para deixar de lado tudo aquilo que não a ajudava a crescer na amizade com Jesus. Por isso vemo-la aos pés do Mestre, acolhendo ternamente seu olhar, seguindo com seus olhos os gestos de Jesus, escutando e guardando cada uma de suas palavras.

Aí está o segredo do/a discípulo/a de Jesus, cativados/as por Ele. Buscamos acolhê-lo para conhecê-lo e viver como ele viveu! Qual é nossa resposta, ou atitude diante da presença e convite de Jesus? Neste retiro, assim como em cada dia, temos a oportunidade de crescer como discípulo/a, acolhendo plenamente a palavra de Jesus e assim colocá-la em prática.

Para refletir e rezar: (Sl 81,14) ;(Lc 5,1-11) Jesus à margem do lago. A multidão quer ouvi-Lo.

Segunda Meditação: CRUZ – MIGRAÇÃO – PANDEMIA - CRISE

Texto bíblico: “Dizia Ele a todos: ‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me’” (Lc 9,23)

Charles de Foucauld: “Quanto mais abraçamos a Cruz, mais nos aproximamos de Jesus que está cravado nela”.

Papa Francisco: “A cruz era instrumento de morte, e, contudo, dela veio a vida. Por isso, o santo povo de Deus a venera. Aos olhos do mundo, a cruz é um fracasso. Quantas vezes aspiramos a um cristianismo de vencedores, a um cristianismo triunfalista, que tenha relevância e importância, receba glória e honra. Mas um cristianismo sem cruz é mundano, e torna-se estéril”.

Textos para a oração: Lc 7,11-17 – Não chores!

Lc 11, 1-13 – Pedir, buscar e bater

CRUZ – CRISTO CRUCIFICADO

“Os primeiros cristãos sabiam. Sua fé num Deus crucificado só podia ser vista como um escândalo e uma loucura. Quem teve a ideia de dizer algo tão absurdo e horrendo de Deus? Nunca religião alguma se atreveu a confessar algo semelhante.

Sem dúvida, a primeira coisa que todos nós descobrimos no Crucificado do Gólgota, torturado injustamente até à morte pelas autoridades religiosas e pelo poder político, é a força destruidora do mal, da crueldade do ódio e o fanatismo da justiça. Mas, precisamente ali, nessa vítima inocente, nós, seguidores de Jesus, vemos Deus identificado com todas as vítimas de todos os tempos.” (Pagola – O caminho aberto por Jesus – Lucas, nº 42).

“Este Deus crucificado se revela hoje em todas as vítimas inocentes. Está na Cruz do Calvário e está em todas as cruzes onde sofrem e morrem os mais inocentes: as crianças famintas e as mulheres maltratadas, os torturados pelos verdugos do poder, os explorados por nosso bem-estar, os esquecidos por nossa religião.

Nós cristãos continuamos celebrando o Deus crucificado, para não esquecer nunca o ‘amor louco’ de Deus pela humanidade e manter viva a lembrança de todos os crucificados. É um escândalo e uma loucura. No entanto, para nós que seguimos a Jesus e cremos no mistério redentor que se encerra em sua morte, é a força que sustenta nossa esperança e nossa luta por um mundo mais humano”. (Idem)

“O ‘Deus crucificado’ não é um ser onipotente e majestoso, imutável e feliz, alheio ao sofrimento dos seres humanos, mas um Deus impotente e humilhado, que sofre conosco a dor, a angústia e até a própria morte. Com a cruz, ou termina nossa fé em Deus ou nos abrimos a uma compreensão nova e surpreendente de um Deus que, encarnado em nosso sofrimento, nos ama de maneira incrível”. (Idem)

O Crucificado desmascara como ninguém nossas mentiras e covardias. A partir do silêncio da Cruz, Ele é o juiz firme e manso do aburguesamento de nossa fé, de nossa acomodação ao bem-estar e de nossa indiferença diante dos que sofrem. Para adorar o mistério de um Deus crucificado não basta celebrar a Semana Santa; é necessário, além disso, aproximar-nos mais dos crucificados, semana após semana”. (Idem)

Não se trata apenas de migrantes: trata-se também dos nossos medos. As maldades e torpezas do nosso tempo fazem aumentar «o nosso receio em relação aos “outros”, aos desconhecidos, aos marginalizados, aos forasteiros (…). E isto nota-se particularmente hoje, perante a chegada de migrantes e refugiados que batem à nossa porta em busca de proteção, segurança e um futuro melhor. É verdade que o receio é legítimo, inclusive porque falta a preparação para este encontro» (Homilia, Sacrofano, 15 de fevereiro de 2019). O problema não está no fato de ter dúvidas e receios. O problema surge quando estes condicionam de tal forma o nosso modo de pensar e agir, que nos tornam intolerantes, fechados, talvez até – sem disso nos apercebermos – racistas. E assim o medo priva-nos do desejo e da capacidade de encontrar o outro, a pessoa diferente de mim; priva-me duma ocasião de encontro com o Senhor (cf. Homilia na Missa do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 14 de janeiro de 2018).

O Papa Francisco liga para Dom Luiz. Está preocupado com a situação de Cabo Delgado, Pemba – Moçambique. Papa Francisco é um pastor que se preocupa com as pessoas do mundo inteiro. Ele conhece as dificuldades da África e se faz vizinho do povo sofredor. Ele apoia e dá força aos que trabalham com os desfavorecidos.

Um testemunho de amor.

Dom Luiz fala da reportagem postada por Frei Beto em que Eny Raimundo Moreira, advogada, defensora dos direitos humanos, morre em 04.01.2022. Frei Betto dá testemunho da riqueza humana desta mulher. Jovem, de pequena estatura, mas gigante na coragem. Destacava-se pela garra, pelo destemor diante do aparato necrófilo da polícia. É advogada dos presos políticos na ditadura. Na noite do natal de 24 de dezembro de 1972, Eny passa o Natal com os detentos na prisão, a pedido dos próprios presos para que ela não passasse sozinha em um quarto de hotel.

O Capelão que celebrou a missa era mais próximo dos carcereiros que dos “condenados”. Ao final da celebração, o diretor, num gesto demagógico, pede uma salva de palmas para Eny, dando-lhe a palavra. Ela, surpresa, falava com profundo amor, que suas palavras penetraram o coração de cada presidiário e disse que queria dar um beijo a cada um deles. Não se limitou à palavra. Largou o microfone, abraçou e beijou, sem pressa, todos os 400 detentos uniformizados, provocando uma comoção geral. Muitos choravam convulsivamente, dizendo não se lembrarem de quando teriam recebido um gesto de carinho.

· A Pandemia trouxe a palavra Crise: ela é da pandemia, é também social, econômica, psicológica, mas também pessoal; precisamos ativar as ferramentas espirituais, com um olhar espiritual;

· O Papa Francisco nos ajuda porque tem desenvolvido uma espiritualidade da crise, sobretudo na Fratelli Tutti: o respeito com os diferentes, a convivência, a fraternidade e a amizade social;

· Espiritualidade não é voar, sair da realidade, tirar os pés do chão;

· A vida, na espiritualidade, nunca é uma intrusa!

· No discurso à Cúria Romana, em finais de 2020, o Papa sintetizou a crise: “ela se tornou uma realidade de todos... envolve a ideologia, a política, a economia... tudo... sentimento de desequilíbrio...”;

· A crise é o crivo que limpa o trigo depois da seiva...; afeta a nós sacerdotes, como afeta aos outros; toca a todos!

· Cristo é o curador de nossas vidas;

· A crise é um trauma; trauma é uma agressão inesperada; ganhou uma dimensão de sofrimento, de fragilidade, de revolta; precisamos alargar o olhar, pediu o Santo Padre;

· Crise – crisol – crivo: ela é a peneira, o coador, o filtro na debulha incessante da vida;

· Crise é sofrimento, mas também maturação;

· Atualmente temos muitas técnicas, dominamos novas mídias, somos experts em tantas coisas, no entanto, nunca nos sentimos tão despreparados! Não bastam a ciência e os saberes; é preciso buscar a Sabedoria;

· A crise é sempre medicalizada, psicologizada, mas ela precisa ser, também, teologizada e espiritualizada;

· Mistagogia: iniciação ao Mistério de Deus!

· As crises, às vezes acontecem, para evitar o pior; muitas vezes, olhamos, mas não vemos, ouvimos, mas não escutamos; tocam-se flautas, mas não dançamos (Lc 7,32);

· A crise alarga o nosso olhar, nos permite ver dimensões da nossa vida que ainda não havíamos prestado atenção;

· A crise é o momento certo para buscar a lucidez do Espírito Santo!

· É preciso começar a preparar a próxima estação; esta preparação começa dentro de nós; é uma espécie de parto; não é apenas um crepúsculo, mas deve ser um recomeço;

· Nenhum de nós sabíamos ser padres em meio a pandemia! Tivemos que nos reinventar no sacerdócio, e enfrentar muitas situações adversas, para tentar “ser padre” na pandemia.

· A vida é recheada de inflexões, demoras, viragens, oportunidades para reflorescer;

· Perceber como Deus pode se manifestar; a crise, a pandemia não são castigos de Deus, mas Deus está nos ajudando a ler a crise e a identificar oportunidades para novos passos;

· “A vida é uma sucessão de começos” (...)

· Apocalipse é revelação, nova visão mais real, mais conforme a realidade;

· Com a pandemia, o véu foi retirado; segundo o Papa Francisco, ficam a descoberto três coisas:

a) daqui para a frente, o mundo vai ter mais pandemias porque não há respeito pela Casa Comum – Laudato Si; há um antropocentrismo despótico! Toda a criação se desarmoniza; a palavra CONEXÃO – aprender o significado dessa palavra; todos estamos no mesmo barco: os seres humanos e a criação inteira! O interesse pela Casa Comum tem que estar no centro; o grito dos pobres é também o grito martirizado do planeta; temos que rezar a terra, o clima, o planeta; “Toda a criação geme como em dores de parto” (São Paulo);

b) construímos sociedades movidas pelo dogma do utilitarismo, com dramático desinvestimento no humano, com uma economia que mata, economia da indiferença, economia do descarte; será que eu também me tornei indiferente ao sofrimento dos outros? Precisamos de uma nova sabedoria, novos modelos, novos paradigmas; é momento de olhar os lírios dos campos, de sonhar uma humanidade fraternizada – Fratelli Tutti; “O bacilo da peste pode entrar e sair sem transformar o coração humano” (Albert Camus);

c) é momento de humanização; precisamos aprender a nos colocar nos sapatos dos outros! Não pode ser a incerteza que conduzirá a história; não podemos nos isolar; é tempo de agir, para relançar a aliança com a vida; precisamos apostas de confiança, olhar a vida como um presente de Deus;

· Tomas Alik – “Igrejas vazias como sinal e desafio”; essa imagem nos desafia, nos tira do conformismo, da inação; “Onde é a Galileia de hoje?”; Onde é que a Igreja está? Mas... onde que ela ainda não está?

· Estão diminuindo dois indicadores: os muito praticantes e os ateus; está aumentando o grupo dos buscadores; não querem apenas um cristianismo de contexto sociológico, mas experiência de Deus!

· Será que não é tempo de ousarmos na evangelização além daquilo que fazíamos? A Igreja está em metamorfose, está em caminho!

· O virtual está e vai ajudar, mas não é para substituir; o presencial pode acolher dinamismos missionários;

· Temos que nos tornar sensíveis; que Deus nos liberte de tantos outros vírus: auto referencialidade, insensibilidade, indiferença, clericalismo;

· Novas procuras que estão latentes – Jo 1,26 – “No meio de vós está o que não conheceis!”

· É possível a pedra estar dentro da água, mas por dentro, estar seca;

· Deus é sempre novo, inédito, precisamos acolhê-Lo com verdade; “abrir o ouvido do coração” (São Bento); deixar Deus tomar a direção, sem querer orientar;

· Escolher um lugar e levar pouco, só a Bíblia... e repetir no seu coração: “Senhor, estou aqui, a espera de nada!” – ser ouvintes! Deus é capaz de nos dirigir para onde Ele quiser! Pode ser que nos sintamos um nada, um traste; Deus é capaz de fazer algo novo com o traste que sou;

· Às vezes, as ideias são um impedimento para eu perceber o vaso que eu sou; Ele é capaz de pegar um vaso e fazer algo novo; Ele é o oleiro!

· Somos máquinas feitas para funcionar; o retiro, às vezes, é incômodo porque custa desligar; o abandono nos protege, o abandono nos religa a Deus; somos padres não porque temos uma função, mas porque somos alguém, temos uma história, fomos escolhidos, chamados; nos nutrimos do nosso ministério que não é só um fazer, mas um ser;

Seremos mais úteis se dermos um passo atrás para nos religarmos a Deus e aos irmãos.

Para refletir e rezar: (Lc 9, 23); (Lc 7,11-17); (Lc 11,1-13)

Partilha em Fraternidades.

Às 18h – Eucaristia - Homilia: Coragem. Não tenham medo. Sou Eu. Devemos superar o medo.

Papa Francisco convida-nos a ter coragem, mesmo que haja incompreensão. Devemos ter medo é de fechar-nos nas estruturas que tornam as pessoas juízes implacáveis. Coragem. Deus caminha conosco.

Coragem não significa agressividade. A coragem deve ser cheia de ternura.

Às 19h – Jantar

Às 20 horas, assistimos ao filme: Don’t look up - “Não olhe para cima”. Quem detém o poder não quer que as pessoas tenham consciência dos fatos para não colocarem em risco seu “poder”, muitas vezes injusto e autoritário.

Chá e descanso

06/01/2022

Pe. Godoy faz comentários sobre o filme. Para onde querem que não olhemos? Para os pobres, os desabrigados e para todos os desafios da nossa sociedade. O filme é uma ficção. Os cientistas estudam e sabem para onde estamos caminhando. Os negacionistas são contra a ciência. Não querem acreditar. Uns por ignorância, outros por ideologia e outros por questões religiosas, mas todos ignoram a necessidade de mudar de atitude. Tudo isto, em nome do poder e do dinheiro. No final do filme, resta um “imbecil” sozinho que nada pode ou consegue fazer. Impossível viver.

Terceira Meditação: MISERICÓRDIA – PERDÃO - COMPAIXÃO

Texto bíblico: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem”. (Lc 23, 34)

Charles de Foucauld: “Só vejo um único desejo em mim: é a vontade constante de fazer o que mais agrada ao bom Deus, sempre e em tudo... Mas, na prática, quantos fracassos!”

Papa Francisco: “Em primeiro lugar, a oração, expressão de abertura e de confiança no Senhor: é o encontro pessoal com Ele, que abrevia as distâncias criadas pelo pecado. Rezar significa dizer: “Não sou autossuficiente, tenho necessidade de ti, Tu és a minha vida e a minha salvação”. Em segundo lugar, a caridade, para superar a estranhamento em relação aos outros. Com efeito, o verdadeiro amor não é um gesto exterior, não é oferecer algo de modo paternalista para sossegar a consciência, mas acolher quantos têm necessidade do nosso tempo, da nossa amizade e da nossa ajuda. É viver o serviço, vencendo a tentação de nos satisfazermos. Em terceiro lugar, o jejum, a penitência, para nos libertarmos das dependências daquilo que passa e para procurarmos ser mais sensíveis e misericordiosos. Trata-se de um convite à simplicidade e à partilha: tirar algo da nossa mesa e dos nossos bens, para voltar a encontrar o verdadeiro bem da liberdade”.

Textos para a oração: Lc 6, 27-38 – o perdão cristão; Ef 2, 1-10 – Deus, rico em misericórdia; Jo 8,1-11 – A mulher perdoada – mísera e misericórdia

“Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso”: O tema de reflexão de hoje nos propõe o tema do amor aos inimigos, de vencer o mal com o bem, do perdão e, enfim, o grande tema da misericórdia. Estes temas são de fundamental importância, é o coração do Evangelho e, ao mesmo tempo é algo muito desafiante para toda pessoa.

Carta Apostólica Misericordia et Misera

“Misericórdia e miséria (misericordia et misera) são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: “Ficaram apenas os dois: a miséria e a misericórdia”.[1] Quanta piedade e justiça divina nesta narração! O seu ensinamento, ao mesmo tempo que ilumina a conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, indica o caminho que somos chamados a percorrer no futuro...

Esta página do Evangelho pode, com justa razão, ser considerada como ícone de tudo o que celebramos no Ano Santo, um tempo rico em misericórdia, a qual pede para continuar a ser celebrada e vivida nas nossas comunidades. Com efeito, a misericórdia não pode ser reduzida a um parêntese na vida da Igreja, mas constitui a sua própria existência, que torna visível e palpável a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai.

Encontraram-se uma mulher e Jesus: ela, adúltera e – segundo a Lei – julgada passível de apedrejamento; Ele que, com a sua pregação e o dom total de Si mesmo, que O levará até à cruz, reconduziu a lei mosaica ao seu intento originário genuíno. No centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus, que sabe ler o coração de cada pessoa, incluindo o seu desejo mais oculto e que deve ter a primazia sobre tudo. Entretanto, nesta narração evangélica, não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador.

Jesus fixou nos olhos naquela mulher e leu no seu coração: lá ele encontrou o desejo, que ela tinha, de ser compreendida, perdoada e libertada. A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor. Da parte de Jesus, nenhum juízo que não estivesse repassado de piedade e compaixão pela condição da pecadora.

A quem pretendia julgá-la e condená-la à morte, Jesus responde com um longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas dos seus acusadores. Estes deixam cair as pedras das mãos e vão-se embora, um a um (cf. Jo 8, 9). E, depois daquele silêncio, Jesus diz: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? (...) Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar” (8, 10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se quiser, poderá “proceder no amor” (Ef 5, 2). Depois que se revestiu da misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal condição é dominada pelo amor que consente em olhar mais além e viver de maneira diferente.

Em primeiro lugar, somos chamados a celebrar a misericórdia. Quanta riqueza está presente na oração da Igreja, quando invoca a Deus como Pai misericordioso! Na liturgia, não só se evoca repetidamente a misericórdia, mas ela é realmente recebida e vivida. Desde o início até ao fim da Celebração Eucarística, a misericórdia reaparece várias vezes no diálogo entre a assembleia orante e o coração do Pai, que rejubila quando pode derramar o seu amor misericordioso.

Logo na altura do pedido inicial de perdão com a invocação “Senhor, tende piedade de nós”, somos tranquilizados: “Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna”. É com esta confiança que a comunidade se reúne na presença do Senhor, especialmente no dia semanal que recorda a ressurreição. Muitas orações ditas “coletas” procuram recordar-nos o grande dom da misericórdia.

No tempo da Quaresma, por exemplo, rezamos com estas palavras: “Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade, que nos fizestes encontrar no jejum, na oração e no amor fraterno os remédios do pecado, olhai benigno para a confissão da nossa humildade, de modo que, abatidos pela consciência da culpa, sejamos confortados pela vossa misericórdia”.[4]

Mais adiante, somos introduzidos na Oração Eucarística pelo Prefácio que proclama: “Na vossa infinita misericórdia, de tal modo amastes o mundo que nos enviastes Jesus Cristo, nosso Salvador, em tudo semelhante ao homem, menos no pecado”.[5] Aliás, a própria Oração Eucarística IV é um hino à misericórdia de Deus: “Na vossa misericórdia, a todos socorrestes, para que todos aqueles que Vos procuram Vos encontrem”. E “tende misericórdia de nós, Senhor”[6] é a súplica premente que o sacerdote faz na Oração Eucarística para implorar a participação na vida eterna.

Depois do Pai-Nosso, o sacerdote prolonga a oração invocando a paz e a libertação do pecado, “ajudados pela vossa misericórdia” e, antes da saudação da paz que os participantes trocam entre si como expressão de fraternidade e amor mútuo à luz do perdão recebido, o celebrante reza de novo: “Não olheis aos nossos pecados, mas à fé da vossa Igreja”.[7] Através destas palavras, pedimos com humilde confiança o dom da unidade e da paz para a Santa Mãe Igreja. Assim a celebração da misericórdia divina culmina no Sacrifício Eucarístico, memorial do mistério pascal de Cristo, do qual brota a salvação para todo o ser humano, a história e o mundo inteiro. Em suma, cada momento da Celebração Eucarística faz referência à misericórdia de Deus.

Mas, em toda a vida sacramental, é-nos dada, com abundância, a misericórdia. Realmente é significativo que a Igreja tenha querido fazer explicitamente apelo à misericórdia na fórmula dos dois sacramentos chamados “de cura”: a Reconciliação e a Unção dos Enfermos. Assim reza a fórmula da absolvição: “Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e infundiu o Espírito para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz»;[8] e ao ungir a pessoa doente: “Por esta santa Unção e pela sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo”.[9] Deste modo, a referência à misericórdia na oração da Igreja... é altamente realizadora, ou seja, enquanto a invocamos com fé, é-nos concedida; enquanto a confessamos viva e real, efetivamente transforma-nos. Este é um conteúdo fundamental da nossa fé, que devemos conservar em toda a sua originalidade: ainda antes e acima da revelação do pecado, temos a revelação do amor com que Deus criou o mundo e os seres humanos. O amor é o primeiro ato com que Deus Se deu a conhecer e vem ao nosso encontro. Por isso mantenhamos o coração aberto à confiança de ser amados por Deus. O seu amor sempre nos precede, acompanha e permanece conosco, não obstante o nosso pecado”.

No Evangelho de Lc 6, 27-38 (perdoar o inimigo), Jesus nos ensina como se pode viver desde já o Reino de Deus. Uma proposta exigente, mas fonte de alegria, paz e felicidade duradoura. Amai os vossos inimigos, tratai bem os que vos odeiam V.27. O amor ao próximo, em especial aos inimigos, ocupa boa parte do discurso programático de Jesus. É a expressão mais reluzente da mensagem cristã. Amar os inimigos desafia a todos. Por isso precisamos destacar a importância revolucionária que encerra este mandamento.

O que Jesus pede não é só de ter um sentimento de benevolência, mas pede ações concretas, que expressem amor, perdão, tolerância, paciência, aceitação. O amor precisa ser expresso não só por palavras, mas com atitudes e ações: Tratai bem os que vos odeiam. A boa convivência se manifesta com gestos bem concretos e no dia a dia. Uma expressão forte do amor é o perdão. O perdão brota da experiência religiosa. Perdoamos porque tomamos consciência que fomos perdoados por Deus. Quem fez a experiência de ser perdoado tem a força de perdoar.

Paulo nos diz: Perdoai-vos mutuamente como Deus vos perdoou em Cristo (Ef 4,32). Como quereis que os outros vos façam, fazei-lhes do mesmo modo (Ef 4,31). Esta é a regra de ouro. Não há orientação melhor para vivermos o mandamento do amor. É só colocar-nos no lugar da outra pessoa, que logo descobrimos o que necessitamos fazer para manifestar o amor. Toda a pessoa gosta de ser amada, de ser compreendida, de receber atenção, de ser perdoada quando agiu de forma errada..., de receber ajuda num momento de necessidade, ser bem cuidada na doença e, poderíamos continuar o elenco.

Ano da Misericórdia 2016

Os missionários da misericórdia "São sacerdotes que recebem o encargo do papa de serem testemunhas privilegiadas nas suas Igrejas individuais do caráter extraordinário do evento jubilar. É só o papa quem nomeia esses missionários, não os bispos, e a eles confia o mandato de anunciar a beleza da misericórdia de Deus e ser confessores humildes e sábios, capazes de grande perdão por aqueles que se aproximam da Confissão."

Charles de Foucauld revela que seu único desejo é fazer a vontade de Deus em sua vida. Jesus nos ensina a ser misericordiosos. A mulher pecadora encontra a misericórdia. Não foi um encontro entre a pecadora e o juiz, mas entre a miséria humana e a misericórdia de Deus. A misericórdia não pode ser reduzida à aparência na Igreja, mas deve estar em tudo que celebramos e vivemos.

Amar nossos inimigos é um desafio. A boa convivência se revela em gestos concretos. Para viver o amor, basta nos colocarmos no lugar da outra pessoa.

· Devemos acolher o amor misericordioso em nossa vida. A caridade nos ajuda a vencer os nossos estranhamentos em relação aos outros.

· Agradecer a Deus pelos atos de misericórdia, pedir perdão pelo coração endurecido. - Devemos desenvolver a prática de retribuir o mal com o bem, não julgar, ter compaixão, fazer ao outro aquilo que gostaríamos que nos fizessem.

· Beneficiarmos do Amor Misericordioso de Deus, através dos Sacramentos e da penitência.

Conclusão: O tema da misericórdia, do perdão, da compaixão nos motiva para que durante este momento de oração nos exercitemos para: 1. Acolher o amor misericordioso de Deus em nossa vida, pois Ele é fonte do amor e do perdão; 2. Tomar consciência e agradecer a Deus pelos atos de misericórdia que conseguimos realizar com a força de Deus e também pedir perdão pelo fechamento do nosso coração, pelas vezes que temos o coração endurecido, que resiste a dar e receber o perdão; 3. Exercitar-nos a devolver o mal com o bem; a não julgar as pessoas; a fazer para os outros o que gostaríamos que nos fizessem. Só podemos vivenciar isto com a força do Espírito Santo, pois Ele é o Amor do Pai e do Filho derramado em nossos corações.

Foi partilhada a experiencia de acolhida de deslocados pelas famílias pobres de Pemba e Cabo Delgado.

Para refletir e rezar: Lc 23, 34; Lc 6,27-38; Ef 2, 1-10; Lc 18, 35-43

Quarta Meditação: COMUNHÃO - FRATERNIDADE - AMOR - PAZ

Texto bíblico: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações”. (At 2, 42)

Charles de Foucauld: “O amor é inseparável da imitação: quem ama quer imitar: é o segredo de minha vida. Me apaixonei por este Jesus de Nazaré crucificado, e passo a vida tentando imitá-Lo”.

Papa Francisco: “Neste espaço de reflexão sobre a fraternidade universal, senti-me motivado especialmente por São Francisco de Assis e também por outros irmãos que não são católicos: Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Mohandas Gandhi e muitos outros. Mas quero terminar lembrando uma outra pessoa de profunda fé, que, a partir da sua intensa experiência de Deus, realizou um caminho de transformação até se sentir irmão de todos. Refiro-me ao Beato Carlos de Foucauld. O seu ideal duma entrega total a Deus encaminhou-o para uma identificação com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano. Naquele contexto, afloravam os seus desejos de sentir todo o ser humano como um irmão, e pedia a um amigo: “Peça a Deus que eu seja realmente o irmão de todos». Enfim queria ser «o irmão universal”. Mas somente identificando-se com os últimos é que chegou a ser irmão de todos. Que Deus inspire este ideal a cada um de nós. Amém”. (FT 286 -287)

Textos para a oração: Lc 10, 25-37 – Amor compassivo

2Pd 1, 5-11 – Amor fraterno e caridade

Comunhão e participação – foram os eixos centrais de Puebla

Em Puebla, os bispos afirmam optar por uma “Igreja-sacramento de comunhão”, que “oferece energias incomparáveis para promover a reconciliação e a unidade solidária dos nossos povos”; uma “Igreja servidora”, “que prolonga no decorrer dos tempos o Cristo-Servo de Javé através dos diversos ministérios e carismas”; uma “Igreja missionária”, “que anuncia alegremente ao homem de hoje que ele é filho de Deus em Cristo”.

Fraternidade universal e amizade social: a Encíclica deixa claro o sonho de Francisco por uma humanidade mais fraterna. Ele tem promovido e participado de encontros que visam recuperar esta fraternidade que o mundo parece ter esquecido. A Encíclica inicia com estas palavras:

FRATELLI TUTTI: escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com sabor do Evangelho. Destes conselhos, quero destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, «o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si». Com poucas e simples palavras, explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita.

Capítulo I – As sombras de um mundo fechado: aponta que muitos sonhos estão sendo desfeitos em pedaços, como de uma Europa unida, por exemplo; aponta para uma perda do sentido da história, para o esvaziamento de sentido de palavras como democracia, liberdade, justiça, unidade, alerta para o empobrecimento da sociedade reduzida à prepotência do mais forte; fala do descarte não apenas de alimentos ou de bens supérfluos, mas muitas vezes dos próprios seres humanos, o desencontro e o desrespeito das culturas, o silêncio internacional diante da fome de milhões de crianças reduzidas a esqueletos humanos, as pandemias e esta da COVID 19; os migrantes que são considerados menos valiosos, menos importantes, menos humanos; a ilusão e escravidão da comunicação que tem proporcionado uma perda progressiva do contato com a realidade concreta e dificulta o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas, entre outros.

O número 7 diz assim: Além disso, quando estava a redigir esta carta, irrompeu de forma inesperada a pandemia do Covid-19 que deixou a descoberto as nossas falsas seguranças. Por cima das várias respostas que deram os diferentes países, ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estarmos superconectados, verificou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que nos afetam a todos. Se alguém pensa que se tratava apenas de fazer funcionar melhor o que já fazíamos, ou que a única lição a tirar é que devemos melhorar os sistemas e regras já existentes, está a negar a realidade.

Enquanto vai apresentando essa dura realidade, o Papa ousa sonhar: como seria bom se, enquanto descobrimos novos planetas longínquos, também descobríssemos as necessidades do irmão e da irmã que orbitam ao nosso redor (31), lembra que estamos no mesmo barco e que só é possível salvarmo-nos juntos (32); podemos buscar juntos a verdade do diálogo, na conversa tranquila ou na discussão apaixonada, é um caminho perseverante, feito também de silêncios e sofrimentos, capaz de recolher pacientemente a vasta experiência das pessoas e dos povos (50); um caminho de fraternidade, local e universal, só pode ser percorrido por espíritos livres e dispostos a encontros reais (50); Deus continua a espalhar sementes de bem na humanidade (54); recorda-nos que “ninguém se salva sozinho” (54) e convida: “Caminhemos na esperança!” (55).

Capítulo II – Um estranho no caminho: Um estranho no caminho – conta-nos a bela parábola do Bom Samaritano, por todos, bem conhecida. Ele a aplica aos dias de hoje e exemplifica: assaltam uma pessoa na rua e muitos fogem como se não tivessem visto nada; sucede muitas vezes que pessoas atropelam a alguém com o seu carro e fogem... são sintomas de uma sociedade enferma, pois procura construir-se de costas para o sofrimento (65). Lembra que dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viandantes indiferentes que passam ao largo (69). O Papa pergunta: Debruçar-nos-emos para tocar e cuidar das feridas dos outros? Abaixar-nos-emos para levar às costas o outro? Este é o desafio atual de que não devemos ter medo (70). Jesus confia na parte melhor do espírito humano e, com a parábola, anima-o a aderir ao amor, reintegrar o ferido e construir uma sociedade digna de tal nome (71).

Capítulo III – Pensar e gerar um mundo aberto

Capítulo IV – Um coração aberto ao mundo inteiro

Capítulo V – A Política melhor

Capítulo VI – Diálogo e amizade social

Capítulo VII – Percursos de um novo encontro

Capítulo VIII – As religiões ao serviço da fraternidade no mundo.

A Fratelli Tutti aponta caminhos de conversão, estilos de vida, com relações humanas mais próximas e mais reais e não apenas virtuais, e também aponta a necessidade de repensar um futuro comum. Convida os cristãos a assumirem a dimensão pública e social da nossa fé. É fundamental hoje ter uma maior exigência ética com a verdade e uma exigência profética com o perdão. O caminho é este, aponta Francisco: de “uma única humanidade” na qual cada um traga o que tem para partilhar.

Dom Luiz falou sobre a visita do Papa ao Grande Imã Ahmad Al-Tayeb, da Mesquita Al-Azhar, do Cairo: máxima autoridade do Islã Sunita;

E a visita do Papa ao grão-aiatolá Ali al Sistani, líder da comunidade xiita do Iraque, majoritária neste país árabe, na cidade sagrada de Najaf.

Encontro Inter-religioso, no dia 6 de março de 2021, em UR dos Caldeus.

Voltemos à Parábola do Bom Samaritano: Segundo José Antonio Pagola, ela brotou do coração de Jesus porque andava pela Galileia, muito atento aos mendigos e doentes que via nas valetas dos caminhos. Queria ensinar a todos a andar pela vida com “compaixão”, mas pensava sobretudo nos dirigentes religiosos.

Na valeta de um caminho perigoso um homem assaltado e roubado foi abandonado “quase morto”. Felizmente chega pelo caminho um sacerdote e depois um levita. Ambos pertencem ao mundo oficial do templo. São pessoas religiosas. Sem dúvida terão piedade dele. Mas isto não acontece. Ao ver o ferido, os dois fecham os olhos e o coração. Para eles é como se aquele homem não existisse: “dão uma volta e passam ao largo”, sem deter-se. Ocupados em sua piedade e em seu culto a Deus, seguem seu caminho. Sua preocupação não são os que sofrem.

No horizonte aparece um terceiro viajante. Não é sacerdote nem levita. Não vem do templo e nem sequer pertence ao povo escolhido. É um desprezível “samaritano”. Dele pode-se esperar o pior. No entanto, ao ver o ferido, suas entranhas se comovem. Não passa ao largo. Aproxima-se dele e faz tudo o que pode: desinfeta-lhe as feridas, cuida delas e as enfaixa com cuidado. Depois o leva em sua montaria para uma hospedaria. Ali cuida dele pessoalmente e toma providências para que continuem a atendê-lo.

É difícil imaginar um apelo mais provocante de Jesus a seus seguidores, e de maneira direta aos dirigentes religiosos. Não basta que haja na Igreja instituições, organismos ou pessoas que estejam junto aos que sofrem. É toda a Igreja que deve aparecer publicamente como a instituição mais sensível e comprometida com os que sofrem física e moralmente.

Se, diante dos feridos que jazem nas sarjetas, a Igreja não se sente comovida deste suas entranhas, tudo o que ela fizer e disser será bastante irrelevante. Só a compaixão pode tornar a Igreja de Jesus mais humana e digna de crédito.

Jesus desafiou o letrado: Vá e faze tu o mesmo!

Dom Luiz comentou o Encontro de Oração pela paz no Coliseu de Roma (Out 2021); Francisco fez um discurso incisivo: “Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência. A sociedade globalizada, afirmou, faz espetáculo do sofrimento, mas sem o sentir; por isso, é preciso ‘construir compaixão’".

O evento encerrou o Encontro Religiões e Cultura em diálogo "Povos irmãos, terra futura", promovido pela Comunidade de Santo Egídio. O Papa fez reflexões muito profundas, entre as quais:

Não se pode brincar com a vida dos povos e das crianças. Na presença de outros líderes religiosos e autoridades políticas, entre os quais o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, o Pontífice fez um longo discurso para reiterar a importância das religiões na promoção da paz: “A oração é aquela força humilde que dá paz e desarma os corações do ódio”.

Tendo como pano de fundo o Coliseu, outrora palco de espetáculos fratricidas, Francisco constatou que ainda hoje se assiste à violência e à guerra, ao irmão que mata o irmão.

“O sofrimento dos outros não nos faz apressar o passo; nem sequer o dos mortos, dos migrantes, das crianças reféns das guerras, privadas duma infância despreocupada a brincar. Mas não se pode brincar com a vida dos povos e das crianças. Não se pode ficar indiferente. Pelo contrário, é preciso criar empatia e reconhecer a humanidade comum a que pertencemos.”

A verdadeira coragem: a da compaixão. A análise do Pontífice é perspicaz: a sociedade globalizada faz espetáculo do sofrimento, mas sem o sentir, por isso é preciso "construir compaixão": sentir o outro, assumir os seus sofrimentos, reconhecer o seu rosto.

“Esta é a verdadeira coragem, a coragem da compaixão.”

“A vida dos povos não é uma brincadeira”, disse contundente o Papa. “É a guerra que brinca com a vida humana”.

Citando o documento assinado com o Grão-Imame de Al-Azhar sobre a fraternidade humana, o Papa reiterou que os representantes das religiões são chamados a não ceder às seduções do poder mundano, mas a fazer-se voz de quem não têm voz. E renova o apelo que fez em Abu Dhabi pela desmilitarização do coração do homem.

“É nossa responsabilidade, queridos irmãos e irmãs, ajudar a erradicar dos corações o ódio e condenar toda a forma de violência.”

Menos hipocrisia e mais transparência. Mais uma vez, Francisco pediu para depor as armas, reduzir as despesas militares para prover às carências humanitárias e converter os instrumentos de morte em instrumentos de vida.

“Que não sejam palavras vazias, mas pedidos insistentes que elevamos pelo bem dos nossos irmãos, contra a guerra e a morte, em nome d’Aquele que é paz e vida. Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência, mais vacinas distribuídas equitativamente e menos armas vendidas imprudentemente.”

O Papa fez algumas considerações sobre a paz: não se trata de um acordo a negociar nem um valor de que falar, mas uma atitude do coração. Nasce da justiça, cresce na fraternidade, vive de gratuidade. “Nós acreditamos na importância de caminhar juntos pela paz: uns com os outros, nunca mais uns contra os outros.”

Em nome da paz, Francisco fez um apelo para “desativar” a tentação fundamentalista em cada tradição religiosa. “Enquanto muitos se ocupam com antagonismos, fações e jogos partidários, nós façamos ressoar aquele dito do Imã Ali: “As pessoas são de dois tipos: ou teus irmãos na fé ou teus semelhantes em humanidade.”

Despoluir o coração. Por fim, a necessidade de conjugar o sonho da paz com o sonho da “terra futura”: é o compromisso de cuidar da criação.

Não podemos continuar sãos num mundo doente, disse o Papa. “Nos últimos tempos, muitos adoeceram de esquecimento, esquecimento de Deus e dos irmãos. (...) Assim, derramamos sobre a criação a poluição do nosso coração. Mas oração e a ação podem endireitar o curso da história. Coragem!”

Em seguida Dom Luiz relembra o que disse Papa Francisco, que sejamos uma Igreja mais samaritana, acolhedora, compassiva, humana, humanizadora, próxima.

E continua o Papa: abater muros de separação e construir pontes de comunhão (observar no material entregue)

Também partilha o testemunho da Laura, missionária leiga, italiana, em Moçambique, há 25 anos. (belíssima história)

Dá-nos, Senhor, a paz inquieta que denuncia a paz dos cemitérios. Dom Pedro Casaldáliga.

O Amor deve ultrapassar nossas barreiras geográficas e culturais. A pandemia deixou a descoberto a nossa incapacidade de resolver problemas. Seria tão bom se descobríssemos a necessidade do nosso irmão que está ao nosso lado. Fratelli Tutti.

Ninguém se salva sozinho. Caminhemos na esperança. Precisamos reintegrar os feridos. Repensar o futuro comum, caminho de unidade.

Parábola do Bom Samaritano. Papa Francisco acolhe os feridos, tem compaixão, ajuda-os a saciarem a fome e, ao mesmo tempo, procura despertar valores, promovendo as pessoas em sua dignidade.

É necessário banir a hipocrisia do nosso meio e agir com transparência. Muitas pessoas adoecem pelo “esquecimento”. A igreja deve ser mais acolhedora, samaritana, humanizadora.

Para refletir e rezar: (At 2, 42); (Lc 10, 25-37); (2Pd 1, 5-11)


Análise de conjuntura - Padre Manoel Godoy

Vivemos uma crise civilizatória. Desta crise, surgirão homens e mulheres diferentes.

Estamos convivendo com uma geração que supera a nossa, com a qual temos pouquíssima condição de comunicação, não interagimos. Há muita dificuldade de comunicação entre as gerações, pois são diferentes os códigos do mundo atual.

Dessa crise civilizacional deve surgir gente diferente.

Um algoritmo poderá definir e resolver questões hoje impensáveis. A velocidade com que a ciência gera novos dados é assustadora.

São raras as referências que temos hoje. O Papa Francisco é uma referência, amado e odiado, mas é referência.

Não nos convencemos de que a Terra está em crise e que precisamos tomar atitude neste sentido.

Todas as crises no Brasil têm “farda”.

Estrutura e conjuntura se complementam.

07/01/2022

Quinta Meditação: ECOLOGIA INTEGRAL - CUIDADO

Texto bíblico: “Pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente. E não somente ela, mas também nós.” (Rm 8, 22-23)

Charles de Foucauld: “É preciso ir não onde a terra é a mais santa, mas onde as almas têm maior necessidade”.

Papa Francisco: “Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos de nos constituirmos como um “nós” que habita a casa comum. Um tal cuidado não interessa aos poderes econômicos que necessitam de um ganho rápido. Frequentemente as vozes que se levantam em defesa do ambiente são silenciadas ou ridicularizadas, disfarçando de racionalidade o que não passa de interesses particulares. Nesta cultura que estamos desenvolvendo, vazia, fixada no imediato e sem um projeto comum, “é previsível que, perante o esgotamento de alguns recursos, se vá criando um cenário favorável para novas guerras, disfarçadas sob nobres reivindicações”. (LS 17)

Textos para a oração: Is 43,1-7 – Não temas: tú és meu!

Gn 1 – A obra dos seis dias

Filme: “A História das coisas” – Mostra o sistema de consumo de uma sociedade fundada no lucro, no descarte e no lixo. A ecologia integral, liga o homem e o ambiente. Nenhum projeto pode ser eficaz se não embasado em uma formação integral: social, política, religiosa e humana. Tudo está interligado. O Papa Francisco faz um convite a buscar uma economia diferente, humana e que respeite a casa comum. Precisamos reverter a cultura do descarte e buscar um novo estilo de vida. Economizar água é respeitar os que vivem na seca. Negar água é negar a vida.

Laudato Si’ (Louvado sejas): O itinerário da Encíclica é traçado no 15º parágrafo e se desenvolve em seis capítulos. Passa-se de uma análise da situação, a partir das melhores aquisições científicas hoje disponíveis (capítulo 1), ao confronto com a Bíblia e a tradição judaico-cristã (capítulo 2), identificando a raiz dos problemas (capítulo 3) na tecnocracia e num excessivo fechamento autorreferencial do ser humano.

A proposta da Encíclica (capítulo 4) é a de uma “ecologia integral, que inclua claramente as dimensões humanas e sociais” (nº 137), indissoluvelmente ligadas com a questão ambiental. Nesta perspectiva, o Papa Francisco propõe (capítulo 5) empreender em todos os níveis da vida social, econômica e política, um diálogo honesto, que estruture processos de decisão transparentes, e recorda (capítulo 6) que nenhum projeto pode ser eficaz, se não for animado por uma consciência formada e responsável, sugerindo ideias para crescer nesta direção em nível educativo, espiritual, eclesial, político e teológico.

O texto se conclui com duas orações, uma oferecida à partilha com todos os que acreditam num “Deus Criador Onipotente” (246), e outra proposta aos que professam a fé em Jesus Cristo, ritmada pelo refrão «Laudato si’», com o qual a Encíclica se abre e se conclui.

O texto é atravessado por alguns eixos temáticos, analisados por uma variedade de perspectivas diferentes, que lhe conferem uma forte unidade: “a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta dum novo estilo de vida” (16).

Capítulo I – O que está acontecendo em nossa casa

A questão da água: O Pontífice afirma claramente que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”. Privar os pobres do acesso à água significa “negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável” (30).

Capítulo II – O Evangelho da criação

Capítulo III – A raiz humana da crise ecológica

Capítulo IV – Uma ecologia integral

Capítulo V – Algumas linhas de orientação

O Capítulo V do Documento aborda a pergunta sobre o que podemos e devemos fazer. As análises podem não ser suficientes: são necessárias propostas “de diálogo e de ação que envolvam seja cada um de nós, seja a política internacional” e “que nos ajudem a sair da espiral de autodestruição na qual estamos afundando”. Para o Papa Francisco é imprescindível que a construção de caminhos concretos não seja enfrentada de modo ideológico, superficial ou reducionista. Por isso, é indispensável o diálogo, termo presente no título de cada seção deste capítulo: “Há discussões sobre questões relativas ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. [...] a Igreja não pretende definir as questões científicas, nem substituir-se à política, mas [eu] convido a um debate honesto e transparente para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum”.

Com esta base o Papa Francisco não tem medo de fazer um julgamento severo sobre as dinâmicas internacionais recentes: “nos últimos anos, os pontos mais altos mundiais sobre o meio ambiente não corresponderam às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes”. E se pergunta: “Para que se quer preservar hoje um poder que será recordado pela sua incapacidade de intervir quando era urgente e necessário fazê-lo?”. Servem, em vez disso, como os Pontífices repetiram várias vezes, a partir da Pacem in Terris, formas e instrumentos eficazes de governança global: “precisamos de um acordo sobre os regimes de governança para toda a gama dos chamados bens comuns globais”, já que “a proteção ambiental não pode ser assegurada apenas com base no cálculo financeiro de custos e benefícios. O ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente”, que retoma as palavras do Compêndio da Doutrina Social da Igreja).

Sempre neste capítulo, o Papa Francisco insiste sobre o desenvolvimento de processos de decisão honestos e transparentes, para poder “discernir” quais políticas e iniciativas empresariais poderão levar “a um desenvolvimento verdadeiramente integral”. Em particular, o estudo do impacto ambiental de um novo projeto “requer processos políticos transparentes e sujeitos a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum projeto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem ao dever de informar e a um debate profundo”.

Particularmente significativo é o apelo dirigido àqueles que detêm cargos políticos, para que se distanciem da lógica “eficientista e imediatista” hoje dominante: “se ele tiver a coragem de o fazer, poderá novamente reconhecer a dignidade que Deus lhe deu como pessoa e deixará, depois da sua passagem por esta história, um testemunho de generosa responsabilidade”.

Capítulo VI – Educação e espiritualidade ecológicas

O último capítulo vai ao cerne da conversão ecológica à qual a Encíclica convida. As raízes da crise cultural agem em profundidade e não é fácil reformular hábitos e comportamentos. A educação e a formação continuam sendo desafios centrais: “toda mudança tem necessidade de motivações e dum caminho educativo”; estão envolvidos todos os ambientes educacionais, em primeiro lugar “a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese”.

Após a Laudato si, o exame de consciência, o instrumento que a Igreja sempre recomendou para orientar a própria vida à luz da relação com o Senhor, deverá incluir uma nova dimensão, considerando não apenas como se vive a comunhão com Deus, com os outros, consigo mesmo, mas também com todas as criaturas e a natureza.

Lembrando o Sínodo da Amazônia: no caso do Sínodo da Amazônia, o seu nome oficial é Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica. São cerca de 30 milhões de habitantes de 9 países, com uma biodiversidade riquíssima, ecossistemas importantíssimos para o equilíbrio de todo o planeta. O que tudo isso tem que ver com a missão da Igreja?

A Exortação Apostólica Pós-Sinodal QUERIDA AMAZÔNIA: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico, um sonho eclesial.

E a importante Criação da CEAMA

Cada uma das assembleias especiais se debruçou sobre a atuação da Igreja Católica em uma região. Isso inclui, necessariamente, tocar em temas da sua conjuntura sociopolítica. Na verdade, é impossível pensar a missão cristã em determinado lugar sem que ela repercuta politicamente, ao menos de alguma forma. Essa ideia se reflete em uma frase conhecida de Santo Oscar Romero (1917-1980): “Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente”. Ou, nas palavras do Papa Francisco, na encíclica Laudato si’, “o amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político”.

Na exortação: Uma esperança nova para o Líbano (1997), resultado do sínodo de 1995, João Paulo II escreveu: “Que o fim da guerra armada seja também o fim da guerra entre diversos particularismos, o fim de conflitos de interesses pessoais (...). Que todos se lembrem de que com a guerra não se pode obter nada. Todos saem feridos, porque a ferida de um irmão é sempre a ferida de todos os concidadãos”. Ele afirmou ainda: “Os refugiados são em qualquer circunstância seres humanos, com a sua dignidade e seus direitos inalienáveis”.

Já Bento XVI, na exortação Africae munus (2011), publicada após o sínodo de 2009, escreveu sobre o processo de reconciliação necessário em diversos países africanos, pedindo às autoridades governamentais e aos chefes tradicionais “a busca dos responsáveis destes conflitos, daqueles que financiaram os crimes e se dedicam a todo o tipo de tráficos, e a determinação das suas responsabilidades. As vítimas têm direito à verdade e à justiça. É importante no presente e para o futuro purificar a memória, a fim de construir uma sociedade melhor, onde nunca mais se repitam semelhantes tragédias”. Em todos os casos, não se trata de ingerência na política local: trata-se de fidelidade ao que se concebe como a missão da Igreja, que não se restringe ao âmbito litúrgico e catequético. Nesse sentido, o próprio tema do sínodo deixa clara a amplitude de seu propósito: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

Criação do Ciclo de Estudos em “Ecologia e Ambiente, Cuidado da Casa Comum e Proteção da Criação, na Universidade Lateranense: É um compromisso, enfatiza o Papa, que envolve a todos, fiéis e não fiéis, para garantir um futuro sustentável aos jovens, mas também “fornecer os instrumentos para salvaguardar os diversos ecossistemas e seus componentes, sabendo que não nos é dado dispor deles sem medida”. É um compromisso urgente:

A exigir isso, são as graves repercussões que a falta de consciência ecológica provoca não só no meio ambiente, mas também nas relações humanas e na vida social, alimentando uma cultura de descarte que significa principalmente exclusão, pobreza, desigualdade, deslocamento forçado de populações e incapacidade de atender às necessidades básicas.

Devemos viver em comunhão com Deus, conosco mesmos, com os outros e com a natureza.

O Sínodo da Amazônia, com 30 milhões de habitantes em 9 países, não tratou apenas de interesses religiosos, mas pretendeu cuidar do sonho social cultural, ecológico e eclesial das comunidades. Em um país de injustiça, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente”, disse Dom Oscar Romero.

Amazônia – novos caminhos para uma ecologia integral.

Multinacionais que em muitos países, como em Moçambique e Brasil, depredam, praticam uma exploração predatória com o silêncio de seus Governos/passagem das boiadas/queimadas criminosas/falta de cuidado com o ser humano, com os povos originários...

Para refletir e rezar: (Rm 8, 22- 23); (Is 43, 1- 7)

Sexta Meditação: PARTICIPAÇÃO – POVO DE DEUS - SINODALIDADE

Texto bíblico: “Vós que outrora não éreis povo, mas agora sois o Povo de Deus”. (1Pd 2,10)

Charles de Foucauld: “O Islamismo produziu em mim uma profunda reviravolta... Ver essa fé, essas almas vivendo na contínua presença de Deus fez-me entrever algo maior e mais verdadeiro do que as ocupações mundanas. Comecei a estudar o Islamismo e, depois, a Bíblia”.

Papa Francisco: “No único Povo de Deus, portanto, caminhemos juntos, a fim de experimentar uma Igreja que recebe e vive este dom da unidade e está aberta à voz do Espírito”.

Textos para a oração: 1Pd 2, 9-10 – Povo de Deus

Rm 12,3-13 – Humildade e caridade

Povo de Deus

Para Comblin, “o Povo de Deus é diferente dos outros povos, até na sua condição temporal, na sua visibilidade, na sua realidade humana. Pois diz o Concílio: ‘Tem por condição a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, em cujos corações habita o Espírito Santo como em templo. Sua lei é o mandamento novo de amar como o próprio Cristo nos amou (cf. Jo 13,34). Sua meta é o Reino de Deus’”. (LG 9b)

Continua Comblin: “Se essa é a definição de Povo de Deus, está claro que o Povo de Deus ainda não coincide com a realidade concreta, institucional, da Igreja Católica. Se se observa o que acontece na prática, é difícil concluir que na Igreja católica de hoje a condição é a liberdade, que a lei é o amor e que a meta é o Reino de Deus. Tudo isso seria a meta, o objetivo, a aspiração. Assim mesmo não se pode dizer que para a maioria existe essa consciência de que isso seja o retrato ideal da Igreja católica. Para a maioria, a condição é a obediência, a lei são os mandamentos e a meta é o triunfo da Igreja ou a salvação das almas. Assim se afirma e assim está no subconsciente da maioria dos católicos”.

E ainda: “Na realidade essa condição é vivida por modesta minoria dentro da Igreja, e de modo variável. Pode-se dizer que o povo de Deus subsiste na Igreja, mas não é idêntico à Igreja, se tomamos a Igreja no sentido da instituição visível da qual somos membros. E a partir dessa definição podemos ver que o povo de Deus encontra membros também fora dos limites da Igreja católica e das Igrejas cristãs em geral”.

Escreve Monica Maria Muggler, missionária leiga na Diocese de Barra , em artigo publicado por Adital, 27-03-2014: “Sim, José Comblin sonhava e buscava construir dentro do seu âmbito a Igreja com a qual sonhava: a Igreja Povo de Deus, uma igreja mais humana, mais presente, mais próxima. Uma Igreja mais evangélica. Quem sabe, mais do que construir, tratava-se de restaurar a Igreja dos primeiros cristãos, fundada nos exemplos e nas exortações do mestre Jesus.

Uma igreja que sai, que vai ao encontro, que busca os afastados. Uma igreja missionária. Essa foi sempre a sua insistência e nesse sentido organizou diversas formações missionárias.

Uma igreja presente: nas viagens terrestres através das vastas extensões nordestinas, Comblin observava tudo: o campo, os assentamentos de terra que surgiam aqui e acolá, as periferias se estendendo sempre mais. E sempre voltava a perguntar: será que a igreja católica já chegou aqui? Os crentes não perdem tempo, nós católicos precisamos ser mais ágeis.

Sonhava com uma Igreja mais dedicada ao povo do que ao culto. Dedicada ao cuidado das pessoas, conselheira dos aflitos, animadora das comunidades, capaz de atrair a juventude ao Evangelho de Jesus. O culto vem depois, é resultado e consequência de uma presença viva e atuante. Ele constatava que se dedica mais tempo ao culto e tudo que o envolve (preparação, organização, utensílios, vestes) do que ao cuidado do povo de Deus: atendimento pessoal, visitas, formação de pessoas.

Uma Igreja humana, compassiva, pautada pela misericórdia. Sempre afirmava que o Amor é a única realidade da pessoa humana que nunca desaparece. Assim ele vivia: seu amor imenso a cada pessoa - amigos, alunos, companheiros, vizinhos - se expressava pelo tempo que sempre encontrava para atender um e outro, para animar, aconselhar, ouvir, servir, abraçar, olhar simplesmente...

Inculturação

Nas últimas décadas a enculturação tornou-se uma das prioridades, às vezes a prioridade absoluta nas Igrejas do terceiro mundo, mas não era assim. Até os últimos anos, a enculturaçao não foi um processo assumido conscientemente na história da Igreja. Faltava a consciência da historicidade da própria Igreja, o que o conjunto do clero somente aceitou – em princípio – depois do Vaticano II. Evangelii Nuntiandi (em 1976) foi o primeiro documento que introduziu oficialmente o tema nos debates eclesiásticos.

Sinodalidade

A palavra “Sínodo” pode ser traduzida como “caminho feito com” ou “caminho feito conjuntamente”. Sendo remetida também à pessoa de Jesus que se apresenta a nós como “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6) e aos seus discípulos missionários que, no livro dos Atos dos Apóstolos, são designados como “discípulos do caminho” (At 9,2).

Da experiência vivenciada nos Sínodos surge a palavra “Sinodalidade” que indica a natureza própria da Igreja e a sua dimensão constitutiva como Povo de Deus assinalado e unido pela mesma dignidade e vocação batismal. A Sinodalidade em seus aspectos de Comunhão e Participação é um espaço que propõe, a cada batizado (a), uma oportunidade fecunda para o comprometimento com a vida e a Missão da Igreja.

O caminho da sinodalidade, este “caminhar juntos” pode ser entendido de acordo com duas perspectivas diferentes, porém, fortemente interligadas. A primeira diz respeito ao âmbito eclesial, chegando até aos irmãos e irmãs de diferentes confissões cristãs e a segunda, por sua vez, realiza-se no diálogo da Igreja com toda a realidade da família humana.

Liberdade e dignidade do povo de Deus, Sinodalidade – O povo de Deus subsiste na Igreja, mas não se sente efetivamente “Povo de Deus”.

Testemunho de Patrícia: Para entrar naquele lugar, tem que tirar as sandálias. Tirando os sapatos e, descalça, sentiu na base do seu calcanhar uma energia que foi até o coração.

O povo de Deus sonha com uma Igreja mais humana, Igreja que vai ao encontro do povo, buscando os esquecidos. Igreja mais dedicada ao povo que ao culto. Jesus forma comunidade do povo. Jesus não forma Bispos, Padres, Vigário geral. Jesus reúne Leigos.

Inculturação, tirar as sandálias.

Sínodo – caminho feito conjuntamente. Discípulos do Caminho, comprometimento com a vida e missão da Igreja. Caminho da sinodalidade.

Eclesialidade, caminhar juntos.

Unidade com toda a família humana, não somente com os católicos. Comunhão e participação nas Comunidades de base. Fortalecer as CEBs, buscando a sinodalidade para erradicar o clericalismo. Somos povo de Deus.

Dom Luiz cita a participação: Puebla, CEBs: força e experiência das CEBs no Brasil e especialmente no Espírito Santo

Clericalismo: sobre este tema, a Assembleia Eclesial se debruçou fortemente e nas 12 prioridades foi ressaltado em duas delas: no n. 5 – Incrementar a formação na Sinodalidade para erradicar o Clericalismo; e no n. 9 – Renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, nosso conceito e experiência de Igreja Povo de Deus, em comunhão com a riqueza de sua ministerialidade, que evite o clericalismo e favoreça a conversão pastoral.

Cita também o testemunho do João Gabriel e sua esposa Delfina apóstolos da comunhão na e com a Igreja. apesar da pouca escolaridade, eles têm uma grande capacidade de formar comunidades, dando-lhes condição de caminharem. (Diocese de Pemba, Moçambique).

Para refletir e rezar: (1Pd 2,10); (1Pd 2,9-10); (Rm 12, 3 -13)

Às 20h, no momento de partilha de vida, ouvimos o testemunho das Irmãzinhas Dulcita e Edejanira falam de suas experiências de vida, e Pe. Mauricio Jardim sobre experiencias missionarias. Na sequência, Pe. Carlos, junto com Dom Eugênio e Pe. Gunther, apresentaram o projeto de Fraternidade na Diocese de Goiás. Ver na página 70.

Iniciamos a Vigília todos juntos, das 22 às 23 horas. Dom Luiz fez a motivação para o dia de deserto, que seria no dia seguinte.

O Deserto na Bíblia.

Lugar sem água, lugar da provação e do pecado, mas lugar também da manifestação de Deus. Deus revela Sua presença protetora.

Há muita aridez no deserto, mas importante é a perseverança. Deus é um poço e cada um busca de acordo com sua necessidade. Pode ser com uma canequinha, um balde, um pote. É preciso passar pelo deserto para nos esvaziarmos de nós mesmos e nos enchermos de Deus.

Deserto, tempo de graça. Momento do encontro pessoal com nós mesmos e com Deus que nos fala. Precisamos ouvir atentamente para perceber o que Ele nos fala.

Na sequência, de hora em hora, uma fraternidade de partilha permaneceu em vigília até a manhã do dia 8 de janeiro, quando, das 7h às 8 horas, todas e todos fizemos o encerramento da vigília.

Às 8h00 – Café, mantendo o silêncio e preparação do lanche para o dia de deserto.

Choveu o dia todo. Pouquíssimo foi o tempo para sair ao ar livre sem chuva. Aqui, há muito espaço onde cada um pode escolher para vivenciar o seu deserto interior, com suas sombras e luzes, com suas dificuldades e esperanças, mas sobretudo buscando o amor de Deus.

Às 18h – Eucaristia – Dom Walmor esteve presente e presidiu a celebração da Eucaristia conosco, uma oportunidade única que muito nos alegrou, pois pudemos partilhar nossas preocupações e alegrias. Ele também nos falou das alegrias e preocupações da Igreja, e do muito que temos de caminhar para que a Igreja saiba construir uma sociedade de irmãos. Falou-nos também do cuidado que devemos ter com a natureza, tão desrespeitada, causando morte e mortes em todos os âmbitos.

Dom Walmor recorda que em sua lembrança de ordenação presbiteral, em setembro de 1977, escolheu a oração do abandono, do Beato Charles de Foucauld, que foi impressa na lembrancinha de sua ordenação.

09/01/2022

Sétima Meditação: MISSÃO – SAÍDA – SERVIÇO

Texto bíblico: “Jesus viu uma grande multidão e sentiu compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. E pôs-se a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34)

Charles de Foucauld: “Minha missão deve ser o apostolado da bondade. A meu ver, deverão dizer ‘já que este homem é tão bom, também sua religião deve ser boa’. Se alguém me perguntar por que eu sou manso e bom, deverei responder: ‘Porque eu sou servidor de um outro que é muito melhor do que eu. Se soubesse como é bom o meu Mestre Jesus!’. Quero ser tão bom que possam dizer de mim: ‘Se o servidor é assim, como não será o Mestre!’”

Papa Francisco: “Não existe outra razão senão Cristo Ressuscitado para decidir partir, deixar os afetos mais caros, o próprio país, os próprios amigos, a própria cultura.”

Textos para a oração: Lc 4, 14-21 – Enviou-me para evangelizar

Mc 6, 7-13 – Enviados a evangelizar

1. A gênese missionária da Igreja, a partir dos Atos dos Apóstolos

· Estudando os Atos dos Apóstolos descobrimos que a Igreja nasce de verdade no momento em que eles compreendem e aceitam a missão até os confins da terra.

· No começo dos Atos, a comunidade dos discípulos vê a si mesma como o verdadeiro Israel, como um tipo de espiritualidade, um movimento religioso ou seita dentro do judaísmo, sobre o qual incumbe a manifestação do Reino de Deus.

· Com o desenrolar do livro, vemos que a comunidade começa a tomar consciência lentamente, e também dolorosamente, que está acontecendo alguma coisa de diferente, ao passo que o Espírito a “empurra” ou a “conduz” a incluir:

- Meio-judeus (samaritanos)

- Prosélitos ou “tementes a Deus” (o funcionário etíope)

- Pagãos merecedores (Cornélio e sua família)

- Pagãos em massa (em Antioquia).

· Torna-se sempre mais claro que o futuro deste novo caminho não conduz ao judaísmo, mas ao mundo inteiro.

· Os discípulos não se reconhecem plenamente como Igreja, como realidade separada do judaísmo, até não reconhecer de ser chamados para uma missão sem fronteiras, a todos os povos.

· Nesse sentido, a missão não é somente a “mãe da teologia”, como disse Martin Kähler ainda no começo do século XX, mas é também a “mãe da Igreja”. A Missão é a mãe da Teologia e Mãe da Igreja!

· É a grande tarefa que une os discípulos, os alimenta, focaliza suas energias, cura seus pecados e oferece a eles um desafio e uma visão.

· É um nascimento que acontece em seis passos. Cada um deles representa um movimento na compreensão de si mesma como Igreja.

· O que emerge claramente é que a Igreja é “missionária por natureza” desde as origens. Em outros termos, a missão é anterior à Igreja e constitutiva de sua própria existência.

· Esta natureza missionária da Igreja emerge no momento no qual a comunidade, orientada pelo Espírito, entra em contato com os outros.

· Antes de Pentecostes: primeiro passo

· No começo dos Atos dos Apóstolos encontramos os Onze que escutam Jesus ressuscitado, que fala a eles sobre o Reino de Deus e lhes diz de esperar em Jerusalém a vinda do Espírito Santo.

· Então os discípulos perguntam se isso significa que o Reino será inaugurado “neste” tempo (At 1,6), ou seja, com a vinda do Espírito.

· Tempo marcado pela espera

· Jesus responde que não cabe a eles conhecer o tempo certo, mas que receberão a força quando virá o Espírito, e que serão suas testemunhas “em Jerusalém, em toda a Judéia e a Samaria e até os extremos da terra” (At 1,8).

· Este é o projeto do livro dos Atos. Lucas assim descreve como o Espírito conduzirá a comunidade a descobrir a própria identidade.

· A importância da eleição de Matias

· A ideia da restauração de Israel era uma parte importantíssima da espera apocalíptica, escatológica e messiânica.

· Jesus tinha dito que os doze teriam se sentado no trono para julgar as doze tribos de Israel (cf. Lc 22,30; Mt 19,28).

· A ação de eleger Matias servia para garantir que todos os tronos fossem ocupados. Estamos dentro de uma perspectiva de restauração nacionalista de Israel.

· Pentecostes: segundo passo

· A vinda do Espírito

· A comunidade dos discípulos experimenta a plenitude escatológica, mas é completamente diferente daquela que estavam esperando.

· Não teve uma segunda vinda de Jesus, mas a descida do Espírito.

· Contudo, entrava ainda na órbita do pensamento judaico. Pedro, no seu discurso (2, 14ss) cita Joel: uma efusão do Espírito sobre todas as pessoas. Sinal claro do fim dos tempos...

· A Igreja aqui ainda não nasce, mas move um pequeno passo rumo ao seu verdadeiro surgimento.

· Ainda reina a ideia da restauração de Israel. Quem ouve as palavras de Pedro são todos judeus ou prosélitos. A preocupação principal dos apóstolos era dirigir-se a todo Israel disperso pelo mundo inteiro.

· A vida comunitária intensa e feliz que se sucede ao anúncio de Pentecostes, é com certeza um sinal claro do final dos tempos.

· Ficar em Jerusalém e esperar o fim.

· Parecia oportuno contentar-se de ficar em Jerusalém e esperar o cumprimento das promessas.

· A ideia que seguir Jesus implicasse uma ruptura radical com as tradições judaicas era ainda muito distante da mente dos discípulos.

· Mas estes tempos idílicos teriam acabado bem cedo, quando os discípulos começam a tratar com membros da comunidade que tinham ideias bem diferentes sobre o judaísmo e seu futuro.

· Estêvão (6, 8ss): terceiro passo

· Diversidade cultural

· Logo se forma na comunidade de Jerusalém um quadro de diversidade linguística e cultural que começa a dar problema.

· Aparentemente, é só uma questão de assistência social às viúvas dos fiéis de origem grega. Mas logo esse problema desaparece para dar lugar à liderança e a pregação de Estevão.

· O discurso de Estevão é o primeiro aceno de Lucas que o futuro da comunidade não está no judaísmo, mas na fé em Jesus, que implica alguma coisa a mais.

· O Discurso de Estêvão (Atos 7)

· Fio condutor de todo discurso, em que Estevão revisita quatro períodos cruciais da história de Israel (Abrão, José, Moisés, Davi/Salomão), é que em nenhum desses casos a presença de Deus limitava-se a algum lugar determinado.

· Pelo contrário, o Deus de Israel era um Deus que caminhava e que chamava seu povo a desbravar novas trilhas, indicando metas mais além.

· Mas todas as vezes que o povo era chamado a avançar, Israel escolheu a estrada mais fácil.

· Fim do ciclo de Jerusalém

· Estevão conclui com um ato de acusação: “Vocês sempre resistiram ao Espírito Santo!” (At 7,51). Mas é a confissão da fé em Jesus que o condena a morte (cf. At 7,55-56).

· A mensagem é clara: Jesus é a manifestação da glória de Deus, que Israel definitivamente não quis contemplar e seguir.

· Não há mais apelo para a conversão. A ruptura está instaurada. O ciclo de Jerusalém nos livros dos Atos dos Apóstolos está terminado.

· Samaria e o Eunuco etíope: quarto passo

· A perseguição contra a Igreja

· Começa uma perseguição contra a comunidade de Jerusalém: “Todos, fora os apóstolos, se espalharam pelas regiões da Judéia e da Samaria” (At 8,1). Porque “fora os apóstolos”? Porque a perseguição queria atingir os gregos e não os judeus.

· Um jovem chamado Saulo parece ter tido um papel importante no complô contra Estêvão. Saulo estava de acordo com a execução! (8,1)

· Da perseguição nasce a missão. Mas essa missão começa por obra não dos apóstolos, mas dos convertidos de origem grega.

· Felipe na Samaria (8, 4-7)

· Felipe prega o Evangelho aos samaritanos. É difícil hoje entender essa ousadia: para os judeus, os samaritanos eram os impuros por excelência.

· Uma vez que os apóstolos souberam disso, Pedro e João foram enviados aos samaritanos para investigar e, sucessivamente, completar essa missão.

· O dom do Espírito é dado pela imposição das mãos dos apóstolos, depois dos samaritanos terem sido batizados. Mas a missão é legítima.

· Felipe e o Eunuco etíope (8, 26ss)

· Mais uma vez Felipe vai além. Por iniciativa do Espírito, ele sai e se aproxima de um eunuco etíope que está lendo a Bíblia.

· Felipe toma iniciativa, lhe explica as escrituras, anuncia Jesus e o batiza. Em seguida o Espírito o arrebata daí, e o eunuco continua sua viagem cheio de alegria.

· A comunidade missionária alcança pela primeira vez os “tementes a Deus”, mas, impossibilitados de fazer parte do povo de Deus (no caso do eunuco: Dt 23,2).

· Cumprimento das profecias

· Pelo fato também de ser estrangeiro dos “confins da terra”, pelo conhecimento geográfico da época, o etíope podia esquecer definitivamente de tornar-se parte dessa eleição.

· A história do eunuco remete talvez à maravilhosa profecia de Isaías: “O estrangeiro que aderiu a Javé não diga: ‘com certeza Javé vai me excluir do seu povo’; nem o eunuco diga: ‘não passo de uma árvore seca’” (At 56,3).

· Pedro e Cornélio (10, 1ss): quinto passo

· O episódio da conversão do centurião Cornélio e sua família é central nos Atos.

· Esse acontecimento mostra como a Igreja chegou a cumprir o passo mais decisivo rumo a uma profunda reinterpretação.

· Depois do interlúdio da conversão de Saulo e da obra de Pedro na Judéia (este se aproxima sempre mais às margens do mundo judaico até ficar hospedado na casa de um impuro), a história de Cornélio recebe um tratamento épico à qual Lucas dedica quase dois capítulos.

· O Espírito toma iniciativa

· Numa tarde, enquanto rezava, Cornélio tem uma visão de um mensageiro de Deus que lhe diz de procurar a Pedro (cf. At 10,3-8).

· Por sua vez Pedro tem uma outra visão de uma grande toalha cheia de animais impuros e uma voz que lhe dizia de comer (cf. At 10,15).

· A narração prossegue com o encontro de Pedro com Cornélio, o reconhecimento da ação de Deus (cf. At, 10,34) e a descida do Espírito sobre todos que ouviam a Palavra (cf. At 10,44-48).

· Também aos pagãos

· Depois dos samaritanos e dos “tementes a Deus”, finalmente é a vez dos pagãos.

· As “novidades” são expressas pelo próprio Pedro: “Deus concedeu a eles o mesmo dom que deu a nós por termos acreditado no Senhor Jesus Cristo. Quem seria eu para me opor à ação de Deus?” (At 11,17).

· O episódio da conversão de Cornélio e de toda sua casa é determinante para a redefinição do caminho dos seguidores de Jesus.

· Antioquia: sexto passo

· Nasce a Igreja

· A narração de Lucas empurra a consciência da comunidade ainda mais adiante,

· Alguns de iniciativa própria começam a pregar o Evangelho aos gregos usando pela primeira vez em termos de “Kyrios”, “Senhor”.

· A comunidade de Jerusalém envia Barnabé para indagar a situação mas sem completar a missão.

· Pela primeira vez, os membros da comunidade recebem o nome de “cristãos” (11, 25-26). Eis o nascimento da Igreja como organização distinta da sinagoga.

· Missão Ad Gentes

· Os 17 capítulos restantes dos Atos pintam a imagem de uma missão em contínua expansão.

· Ainda falta uma confirmação de maior autoridade. A aceitação dos pagãos dentro da comunidade cristã não é nada pacífica.

· O Concílio de Jerusalém serve, se não para dar um fim ao debate, sem dúvida para uma decisiva postura da Igreja em relação aos pagãos (cf. At 15,19).

· O Evangelho em direção aos confins

· O que está em jogo é muito mais: os judeus, no seu conjunto, rechaçam o Evangelho, enquanto os pagãos o acolhem.

· O futuro da evangelização está nas mãos dos gentios. Surge a convicção que Israel se converterá por último: “até que chegue a plenitude das nações” (Rm 11,25).

· A Igreja nasceu “em saída”: a origem da Igreja intimamente ligada à consciência missionária.

· Ser Igreja é ser em missão, ser em missão é ser sensível às exigências do Evangelho em diferentes contextos, reinventar-se continuamente toda vez que nos confrontamos com novas situações, novos povos, novas culturas e novas questões.

· O que é visto como essencial para a Igreja não é uma rígida ortodoxia, mas o reconhecimento de uma identidade na diferença, uma unidade na diversidade.

· Ser em missão é ir além-fronteiras

· A existência do cristianismo parece estar ligada à sua expansão além de si mesmo, além das fronteiras das gerações e das culturas.

· A urgência da missão está ligada à urgência da mudança, da adaptação e da tradução: em outros termos, à contextualização.

· A Igreja procurará sempre garantir a continuidade, mas estará disponível também aos saltos históricos.

Outro testemunho que conhecemos: do Carlitos, fundador de comunidades, exemplo de Paulo no meio dos pobres (Diocese de Pemba)

Documento de Aparecida: Discípulos Missionários/as de Jesus Cristo

Sínodo sobre Sinodalidade: “Por uma Igreja sinodal: Comunhão, Participação e Missão”.

Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe: todos somos discípulos/as missionários em saída, e apresentou 41 desafios e 12 prioridades da Assembleia, sendo elas:

1. Reconhecer e valorizar o protagonismo dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação.

2. Acompanhar as vítimas de injustiças sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparação.

3. Impulsionar a participação ativa das mulheres nos ministérios, instâncias de governo, de discernimento e tomada de decisões eclesiais.

4. Promover e defender a dignidade da vida e da pessoa humana desde a sua concepção até o seu fim natural.

5. Incrementar a formação na sinodalidade para erradicar o clericalismo.

6. Promover a participação dos leigos em espaços de transformação cultural, política, social e eclesial.

7. Escutar o grito dos pobres, excluídos e descartados.

8. Reformar os itinerários formativos dos seminários, incluindo temas como ecologia integral, povos originários, inculturação e interculturalidade e pensamento social da Igreja.

9. Renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, nosso conceito e experiência de Igreja do Povo de Deus, em comunhão com a riqueza de sua ministerialidade, que evite o clericalismo e favoreça a conversão pastoral.

10. Reafirmar e dar prioridade a uma ecologia integral em nossas comunidades a partir dos quatro sonhos da Querida Amazônia.

11. Promover o encontro pessoal com Jesus Cristo encarnado na realidade do continente.

12. Acompanhar aos povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas.

Charles de Foucauld afirma que sua Missão deve ser o apostolado da bondade.

Papa Francisco recomenda retomar à Conferência de “Aparecida e Atos dos Apóstolos”. O Espírito motiva a comunidade a entender a missão. A missão é a mãe da Teologia, mãe da Igreja. Em Atos, a Igreja é missionária por natureza. Esta natureza se clarifica como missionária no encontro com as demais pessoas.

Antes de Pentecostes é tempo marcado pela espera. O Espírito conduzirá a comunidade. Eleger Matias para completar o grupo dos 12 é levar em frente as 12 tribos de Israel. A Igreja não nasce em Pentecostes, mas começa a nascer. Dá os primeiros passos. A vida comunitária os faz felizes e lhes dá mais confiança na missão. Discurso de Estêvão, At.7. Da pregação é que nasce a missão. Missão que não vem dos apóstolos, mas dos convertidos de origem grega. Os Apóstolos vão entendendo, a duras penas, a importância da missão.

Aqui, nasce a Igreja: At 11,25-26

Os “vientes” em Moçambique é expressão usada para quem vem de fora, não “bem-vindo”. Os judeus rechaçam o Evangelho, enquanto os pagãos o aceitam.

A Igreja nasce em saída. A origem da Igreja está intimamente ligada à ação Missionária. Se cuidarmos da Missiologia nos Seminários, teremos menos rendas e mais Missão. Uma Igreja só é madura, quando é missionária. Ser missionária é ter capacidade de se reinventar diante de culturas e situações diferentes. Ser em Missão é ir além das fronteiras, das culturas, das gerações. A missão, muitas vezes, é fruto de ousadia. Um exemplo desta ousadia é Carlito, fundador de 17 comunidades em Aldeias, onde Dom Luiz trabalha.

Comunhão – Participação – Missão.

Igreja deve estar em missão, em saída. Todo batizado é missionário.

Pedro Casaldáliga sugere, mesmo que seja em pensamento, que visitemos a pia batismal, mergulhemos nossa cabeça para sentir a Missão.

Para refletir e rezar: (Mc 6, 34) (Lc 4,14- 21); (Mc 6, 7-13)

Oitava Meditação: PROFECIA – POBRES – POBREZA

Texto bíblico: “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus”. (Lc 6,20)

Charles de Foucauld: “Não deixemos nunca de ser em tudo pobres, irmãos dos pobres, companheiros dos pobres, sejamos os mais pobres dos pobres como Jesus, e como Ele amemos os pobres e rodeemo-nos deles”.

Papa Francisco: “A Igreja tem necessidade dos profetas. E diria mais: tem necessidade de que todos nós sejamos profetas. Não críticos, isto é outra coisa. O profeta é aquele que reza, olha para Deus, olha para seu povo, sente dor quando o povo erra, chora – é capaz de chorar pelo povo – mas é também capaz de arriscar a própria pele para dizer a verdade”.

Textos para a oração: Lc 16,19-31 – Um mendigo chamado Lázaro

Lc 3,1-18 – Pregação de João Batista

Mensagem para o dia mundial da Paz 2022 (Papa Francisco)

O primeiro caminho é o diálogo entre gerações, e estamos a ver que esta luta contra a pandemia veio pôr em relevo um problema muito sério: continuamos a ter uma geração mais idosa que morre mais, que é mais vítima da pandemia, que está mais isolada, e por outro lado temos uma geração mais nova que nesta altura também está a ser bastante contaminada, mas porque não sente os efeitos que sentem os mais velhos, não toma tão a sério o combate à pandemia, e notamos que muitos estão a tentar fazer a vida que faziam há três anos atrás, o que faz aumentar o número de novos contaminados e vai prejudicar por ricochete as gerações mais velhas. Mas, o Papa na mensagem diz outra coisa importante, que com esta pandemia a economia ficou tão desestruturada que os mais jovens não veem caminhos de futuro, e isso também desestabiliza.

O segundo caminho é o da educação, e o Papa acaba por remeter para o famoso 'Pacto Global', apresentado em 2020, que põe a família ao centro, quer uma nova ordem económica - ou seja, uma nova forma de organizar a economia e a sociedade – e onde as questões ecológicas estão muito presentes.

O terceiro caminho para a paz tem a ver com o trabalho. O Papa diz que é preciso trabalho digno, estável, que as pessoas ganhem a sua vida com o suor do rosto, mas tenham condições, não sejam exploradas. Fala, ainda, do ataque que a pandemia fez à economia, sobretudo à economia informal, que afeta sobretudo os mais fracos, e particularmente o mundo migrante. O Papa diz que um terço da população mundial em idade laboral não tem um sistema de proteção social a funcionar.

Depois, o Papa denuncia ainda que os governos estão a desinvestir na educação, mas estão a investir cada vez mais em armamento, e diz 'temos de inverter isto' - é mais educação, menos armas, porque isso iria ajudar a combater uma violência que é cada vez mais estrutural nas nossas sociedades, o crime organizado que toma conta de muitas linhas laborais e mesmo governamentais.

Se formos capazes de apostar na abertura dessas três grandes estradas - diálogo entre gerações, educação e trabalho - o mundo será melhor, e eu proponho isto como um projeto de vida para 2022.

Profetas do Reino, na América Latina – Romaria dos Mártires da caminhada – Canto dos Mártires da Terra

Os 4 Encontros do Papa Francisco com os Movimentos Populares

“Se a luta contra o COVID-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas. Um exército sem outra arma senão a solidariedade, a esperança e o sentido da comunidade que reverdecem nos dias de hoje em que ninguém se salva sozinho. Vocês são para mim, como lhes disse em nossas reuniões, verdadeiros poetas sociais, que desde as periferias esquecidas criam soluções dignas para os problemas mais prementes dos excluídos.

Eu sei que muitas vezes vocês não são reconhecidos adequadamente porque, para este sistema, são verdadeiramente invisíveis. As soluções do mercado não chegam às periferias e a presença protetora do Estado é escassa. Nem vocês têm os recursos para realizar as funções próprias do Estado. Vocês são vistos com suspeita por superarem a mera filantropia por meio da organização comunitária ou por reivindicarem seus direitos, em vez de ficarem resignados à espera de ver se alguma migalha cai daqueles que detêm o poder econômico. Muitas vezes mastigam raiva e impotência quando veem as desigualdades que persistem mesmo quando terminam todas as desculpas para sustentar privilégios. No entanto, vocês não se encerram na denúncia: arregaçam as mangas e continuam a trabalhar para suas famílias, seus bairros, para o bem comum. Essa atitude de vocês me ajuda, questiona e ensina muito”. (Carta do Papa Francisco aos Movimentos Populares aos 12/04/2020).

Dia Mundial dos Pobres (extraído da Mensagem do Papa para o V Dia Mundial dos Pobres 2021)

“Com efeito, o rosto de Deus que Ele revela é o de um Pai para os pobres e próximo dos pobres. Toda a obra de Jesus afirma que a pobreza não é fruto duma fatalidade, mas sinal concreto da sua presença no nosso meio. Não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver. Não me canso de repetir que os pobres são verdadeiros evangelizadores, porque foram os primeiros a ser evangelizados e chamados a partilhar a bem-aventurança do Senhor e o seu Reino” (cf Mt 5, 3).

Os pobres de qualquer condição e latitude evangelizam-nos, porque permitem descobrir de modo sempre novo os traços mais genuínos do rosto do Pai. Eles «têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar efetivamente o seu bem» (Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 198-199).

Ações em favor dos pobres no próprio Vaticano (lavanderia, refeitório, lugar para banho – Esmolaria).

Pacto Educativo Global

O que é? O Pacto Educativo Global é um chamado do Papa Francisco para que todas as pessoas no mundo, instituições, igrejas e governos priorizem uma educação humanista e solidária como modo de transformar a sociedade. No dia 15 de outubro de 2020 o Pacto foi lançado no Vaticano e, desde então, todo o globo tem se mobilizado para discutir, mobilizar e tornar o pacto algo concreto em nossas políticas educacionais e institucionais.

Os sete compromissos do Pacto Educativo

1. Colocar a pessoa no centro de cada processo educativo

2. Ouvir as gerações mais novas.

3. Promover a mulher.

4. Responsabilizar a família.

5. Se abrir à acolhida.

6. Renovar a economia e a política.

7. Cuidar da casa comum

Os dez princípios da Economia de Francisco e Clara

Princípio 1 – Cremos na Ecologia Integral

(Palavra-Chave: Ecologia Integral)

Princípio 2 – Cremos no Desenvolvimento Integral

(Palavra-chave: o desenvolvimento integral)

Princípio 3 – Cremos em alternativas anticapitalistas

(Palavras-chaves: anticapitalismo e bem viver)

Princípio 4 – Cremos nos Bens Comuns

(Palavras-Chaves: Bens Comuns e papel do Estado)

Princípio 5 – Cremos que ‘Tudo está interligado’

(Palavra-chave: Crise Ecossocial)

Princípio 6 – Cremos na potência das periferias vivas

(Palavra-chave: as periferias como ponto de partida)

Princípio 7 – Cremos na economia a serviço da vida

(Palavra-chave: realmar a economia)

Princípio 8 – Cremos nas Comunidades como Saída

(Palavra-chave: Território e práxis)

Princípio 9 – Cremos na Educação Integral

(Palavra-chave: Pacto Educativo Global)

Princípio 10 – Cremos na solidariedade e no clamor dos povos

(Palavra-Chave: movimentos sociais)

Texto bíblico Lc 16,19-31 – Segundo Antônio Pagola, o contraste entre os dois protagonistas da parábola é trágico. O rico veste-se de púrpura e de linho. Toda a sua vida é luxo e ostentação. Só pensa em «banquetear esplendidamente cada dia». Este rico não tem nome pois não tem identidade. Não é ninguém. A sua vida vazia de compaixão é um fracasso. Não se pode viver só para banquetear.

Deitado no portal da sua mansão jaz um mendigo faminto, coberto de chagas. Ninguém o ajuda. Só uns cães se aproximam a lamber as suas feridas. Não possui nada, mas tem um nome portador de esperança. Chama-se “Lázaro” ou “Eliezer”, que significa “O meu Deus é ajuda”.

A sua sorte muda radicalmente no momento da morte. O rico é enterrado, seguramente com toda a solenidade, mas é levado ao “Hades”, o “reino dos mortos”. Também morre Lázaro. Nada se diz de rito funerário algum, mas “os anjos levam-no junto a Abraão”. Com imagens populares do seu tempo, Jesus recorda que Deus tem a última palavra sobre ricos e pobres.

O rico não é julgado como explorador. Não se diz que é um ímpio afastado da Aliança. Simplesmente, desfrutou da sua riqueza ignorando o pobre. Tinha-o ali mesmo, mas não o viu. Estava no portal da sua mansão, mas não se aproximou dele. Excluiu-o da sua vida. O seu pecado é a indiferença.

Segundo os observadores, está a crescer na nossa sociedade a apatia ou a falta de sensibilidade ante o sofrimento alheio. Evitamos de mil formas o contato direto com as pessoas que sofrem. Pouco a pouco, vamo-nos fazendo cada vez mais incapazes para perceber a sua aflição.

A presença de uma criança mendiga no nosso caminho incomoda-nos. O encontro com um amigo, doente terminal, perturba-nos. Não sabemos o que fazer nem o que dizer. É melhor tomar distância. Voltar quanto antes às nossas ocupações. Não nos deixarmos afetar.

Se o sofrimento se produz longe é mais fácil. Temos aprendido a reduzir a fome, a miséria ou a doença a dados, números e estatísticas que nos informam da realidade sem sequer tocar o nosso coração. Também sabemos contemplar sofrimentos horríveis na televisão, mas, através do monitor, o sofrimento sempre é mais irreal e menos terrível. Quando o sofrimento afeta alguém mais próximo de nós, esforçamo-nos de mil formas para anestesiar o nosso coração.

Quem segue Jesus vai-se fazendo mais sensível ao sofrimento de quem encontra no seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se está nas suas mãos, trata de aliviar a sua situação.

Para refletir e rezar: (Lc 6,20); (Lc 16,19-31); (Lc 16,19-31); (Lc 3, 1-18)

Nona Meditação: SANTIDADE – VOCAÇÃO


Texto bíblico: “Para conceder-nos que(...) nós O sirvamos com santidade e justiça, em Sua presença, todos os nossos dias”. (Lc 1,74-75)

Charles de Foucauld: “Logo que descobri que existe Deus, entendi que não podia mais fazer outra coisa a não ser viver por Ele: minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou a minha fé”.

Papa Francisco: “Desejo coroar estas reflexões com a figura de Maria, porque Ela viveu como ninguém as bem-aventuranças de Jesus. É Aquela que estremecia de júbilo na presença de Deus, Aquela que conservava tudo no seu coração e Se deixou atravessar pela espada. É a mais abençoada dos santos entre os santos, Aquela que nos mostra o caminho da santidade e nos acompanha. E, quando caímos, não aceita deixar-nos por terra e, às vezes, leva-nos nos seus braços sem nos julgar. Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para Lhe explicar o que se passa conosco. É suficiente sussurrar uma vez e outra: “Ave Maria...” (Gaudete et Exsultate 176)

Textos para a oração: Jr 1,4-10 – Vocação do Profeta

Mt 5,1-12 – As bem-aventuranças

Lc 1,67-80 – O cântico de Zacarias

· Quando termina é que começa; quando chegamos ao fim é que a estrada de Deus se abre para nós;

· Bem-aventuranças: são o nosso norte, o nosso programa de ação, são a nossa identidade porque quando lemos o relato do Evangelho de Mateus, vemos que ele quis estabelecer uma relação entre Jesus e Moisés; a montanha liga o AT ao NT; as bem-aventuranças não são apenas uma nova Lei, mas pedem para ser compreendidas como um marcador de identidade, porque são o melhor autorretrato de Jesus. Ao lê-las vemos a chave cristológica, naquele artesão da paz, naquele que sofre, que é perseguido por amor à justiça, ali apalpamos a vida de Jesus, Ele é que está por trás desse retrato; nesta semana, Jesus bateu à porta de cada um de nós; nós o vimos pobre em espírito, sedento de amor, faminto de justiça, com capacidade de acolher a todos, puro de coração, verdadeiro mestre da infância espiritual, abrindo nosso percurso a este olhar de pureza, ao contrário da autossuficiência; vímo-Lo compassivo ao encontro de nossas pobrezas, compassivo, dando a mão, procurando a ovelha perdida, na companhia dos doze sem se sobrepor;

· No Cântico do Servo de Isaías se diz: Ele não apagará a chama que ainda fumega, nem vai quebrar a cana fendida...; Jesus é testemunha credível do amor misericordioso de Deus: Ele dá força, dá a segurança que a nossa vida precisa; o segredo é entrar no mistério do amor divino; é ouvir a Sua voz, é permanecer na Sua presença; a visão da sociologia é importante, mas não basta; o padre, antes de tudo, é um homem de Deus; é na presença de Deus que o nosso ministério, vida e missão de presbítero se fortalece.

· Um padre não é um gestor de si mesmo; precisamos depender de Deus, situar-nos diante da divina presença; somos discípulos, na hospitalidade de Deus que nos vem através dos irmãos, da vida sacramental; assim poderemos iluminar o mundo apagado;

· Mt 5,1-12: Bem-aventurados os pobres, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos, sereis quando vos injuriarem e perseguirem e mentindo... alegrai-vos e regozijai-vos... assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós”; esse retrato deve ser do grupo, seja a matéria, o modo de ser que configura a nossa existência; somos chamados a moldar a nossa vida e ministério pela imagem e semelhança do destino de Jesus; 1Jo: o veremos tal como Ele é; quando somos o seu retrato, sua pegada, seu sacramento... aí nós tocamos o seu mistério; um padre tem que ser parecido com Jesus na sua vida concreta; quando nos vêm as pessoas devem dizer: “parece que eu já lhe vi...”; é porque viram Jesus!

· Que este retiro seja o encontro com o amor incondicional de Deus; Ele é o amor no qual nós podemos confiar; Deus esbanja o Seu amor; dá para lá da medida; é amor excedente, que sobra, assim como sobraram pães e peixes; Ele toma a iniciativa de nos amar; é preciso sentir-se lambido como o pastor lambe a ovelha; a nossa estrutura está baseada nisso: precisamos para poder ser, receber um amor incondicional; um filho tem de se saciar de amor, tem que ter a certeza de ser amado; se assim não for, vai ficar desequilibrado; “Tú és o meu Filho muito amado”; Jesus precisou ouvir isto no início de seu ministério; isto é que nos faz ir à frente; por isso, a espiritualidade é tão fundamental; a Igreja coloca tantos meios ao nosso serviço, mas às vezes esnobamos; percebamos que na simplicidade dos meios está a possibilidade de aceder ao amor; cuidar verdadeiramente do dom, desse amor incondicional que recebemos, pois só assim podemos passar isto; o povo não quer ver um padre comerciante, ou ver que o que ele fala, depois não vive;

· Dorothy (uma sindicalista norte americana) - no dia de seu sepultamento disseram na homilia: “Doroth viveu a verdade do Evangelho como se fosse verdade”; rezemos as bem-aventuranças vendo nelas o poder revigorador; um padre tem de ser pobre; um padre rico é como um corredor de maratona gordo; tem que ser desprendido, viver de um modo frugal; não é só pela aparência, mas para poder depender de Deus, dos outros; Jesus mandou em missão e pediu para não levar alforje, nem duas túnicas, e onde entrar, ficar aí...”; viver em comunidade é precisar uns dos outros; estamos juntos porque necessitamos de estar em comunidade, necessitamos da troca, da circulação, isto é o cimento da vida em comum;

· Amar o outro para caminhar ao lado do outro; amar é criar espaço para o outro se revelar; se não somos pobres a gente não vive com verdade como se fosse verdade a palavra do Evangelho; é importante que o padre seja manso, capaz da escuta, que ouve primeiro, tem que ser um mestre de humanidade; tão importante o acolhimento com um sorriso, ser um homem de proximidade (na frente, no meio e atrás); sem ânsia de resultados, aceitar suas mãos vazias, homem do acolhimento; todos, desde o idoso, que viveu um trauma, está ferido, aquela alma precisa ser tocada com amor; muitos sentiram que os tapetes lhes foram tirados; a crise pandêmica deixou uma ferida que precisa ser curada; curemo-nos para curar; as crianças e adolescentes não falam com palavras, mas com gestos, seu silêncio fala muito; os que mais sofreram com a pandemia foram os jovens pois é uma crise de confiança em relação ao mundo, ao futuro...; eles ouviram que era a melhor época da história e que não corresponde à verdade;

· O que fazer de nosso povo? Vamos mandá-los todos ao psicólogo ou ao psiquiatra? Vamos ouvir, escutar; Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados; para receber consolação é preciso consolar, colocar os sapatos do povo para entender o que está se passando, chorar com os que choram, os que promovem a paz; a paz se promove artesanalmente, como diz o Papa Francisco na Fratelli Tutti (número 231); a paz não é problema só de chefe de estado ou das Nações Unidas; ela precisa ser construída todos os dias; é laboriosa, artesanal... como diz o Papa; a paz nos pede o compromisso com este artesanato; Ele nos chama a praticar a misericórdia; é uma das linhas fortes do Papa Francisco e ele pede a nós para colaborar percebendo o jeito de Deus pois Ele ama primeiro; é este amor que converte Zaqueu;

· Precisamos ser uma Igreja em saída; não uma Igreja clube, mas hospital de campanha; a Igreja não é claustro, nem clube, mas povo que vive nas encruzilhadas esperando convite para o banquete...; quando ainda há lugar, manda empurrar para dentro os que estão nas encruzilhadas; é como na vinha, com os trabalhadores da última hora; Deus não desiste: Ele pergunta “porque estais aí sem fazer nada? Porque ninguém nos contratou!”; muitos não foram convidados, ninguém os contactou; isto é uma tarefa mobilizadora; que a pandemia não nos acomode, mas sejamos protagonistas de uma Igreja missionária, em saída; é um erro e seria terrível se pensássemos que esta hora seja da manutenção, para voar baixo, para não ter grande iniciativas (“o povo não vai, o povo não quer...”); devemos ser responsáveis nas regras sanitárias, mas não nos bastam um cristianismo de manutenção; a Igreja não é um projeto adiado; a crise sempre foi para a Igreja a hora mais profunda, a hora da militância, a hora de reforçar a militância; não entrar em bolha de conforto; é momento para dizer sim, estou aqui; não é só a pandemia, não estamos numa época de mudança, mas numa mudança de época; estamos numa transição; o mundo precisa de gente que acredita, que tenha resiliência da fé, para traduzir em nova gramática o Evangelho da fé; primado da tecnologia, o virtual... vão reconfigurar tudo; é neste mundo em mudança que a gente entra; vamos entrar assustados? Não! Olhando as estrelas como Abraão, como profetas, olhando mais longe; nossa tarefa é enorme e precisamos estar à altura desse desafio, mas Deus vem ao nosso encontro; Maria no seu Magnificat, disse: “Me chamarão bem-aventurada todas as gerações...”; por isso é tão importante a nossa espiritualidade mariana; ela é a mestra do povo de Deus na história, seu cristianismo é encarnado, das entranhas, da vida concreta; a vida do padre deve ser assim: um cristianismo encarnado, concreto.

· (Dom Luiz falou sobre as anotações pessoais da Reflexão sobre as Bem-aventuranças feita pelo Cardeal Tolentino no retiro online pregado a padres e bispos em agosto de 2021. Ele meditava o texto da Anunciação, 3 etapas:

a) Surpresa: para nós também é um tempo de perturbação, esta pandemia...; nesta hora, o anjo diz a Maria e a nós: Não temas Maria, bispo, padre... o Senhor está contigo! Deus investe nesta cura;

b) Maria reza: somos oração, não fazemos; a oração é uma exposição de si. Mostrar a nossa verdade; por isso podemos chamar a Deus “paizinho”. É fazer nosso o que recebemos da tradição; é dizer com nosso jeito vernacular; os Salmos foram escritos por nós; o padre deve ter o odor dos Salmos; Maria se expõe: “Como será isso se não conheço homem?”; o nosso ministério acontece de joelhos, é preciso ruminar a Palavra, ser um homem de adoração, de Eucaristia;

c) Maria escuta: ela ouve: “o Espírito que virá sobre ti que lhe cobrirá com a sua sombra”; Ele é o Maranathá, Ele vem; que se faça em mim segundo a vossa Palavra; nossa espiritualidade tem de ser mariana; sempre que olhamos para Maria, nós voltamos a acreditar; que o estilo de Maria ajude a Igreja a voltar a acreditar e que saindo desse retiro e entrando na vida ordinária, possamos sentir renovada, reavivada as promessas da nossa ordenação e possamos ser uma Igreja hoje, uma Igreja que volte a acreditar.

Outro testemunho partilhado o de D. Teresa, de Mazeze (Diocese de Pemba, Moçambique) – em segredo, levava Eucaristia às comunidades no tempo da guerra

Para meditar e rezar: (Lc 1, 74-75); (Jr 1, 4-10); (Lc 1, 67-80)

Às 14h30 fizemos as reuniões por regiões, onde cada fraternidade fará a avaliação das atividades de 2021, e trará a proposta para o local do retiro anual em 2023, e nomes de pregadores para o retiro de 2024. A plenária deixou claro que cada região cumpriu, como pôde suas atividades com encontros online ou presenciais. Definimos também que o Retiro Anual de 2023 acontecerá em Recife, nos dias 10 a 17 de janeiro 2023 e o orientador já está confirmado, será Dom Beto Breis. Foram dadas também, as sugestões de nomes para pregar o retiro em 2024: Pe Julio Lanceloti, Dom Vicente Ferreira, Dom Esmeraldo, Pe Mauricio Jardim, Dom Silvio Guterres, Pe Fernando Tapias, Pe Ederson Queiroz e Dom Zanoni. Em seguida, definimos as datas dos encontros nos Regionais em 2022, que está apresentado na página 75 e escolhemos os dois delegados para participarem com o Responsável nacional na 3ª Assembleia Latino Americana e Caribenha da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas, que acontecerá em Córdoba, na Argentina, entre os dias 19 a 24 de setembro. Do Brasil, participarão o Carlos Roberto dos Santos, o Ivanildo Araújo Souza, da fraternidade de Janaúba - MG e o Willians Roque de Brito, da fraternidade de Marilia – SP.

Depois da missa, fizemos, no lugar do jantar, uma calorosa confraternização e convivência fraterna. Partilha de sabores e saberes. Música, arte e muita alegria.

No dia 11 de janeiro, último dia de nosso retiro, celebramos a Eucaristia as 7h30 e, na capela mesmo, Dom Luiz fez a décima meditação.

Décima Meditação: ALEGRIA – ENTUSIASMO

Texto bíblico: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!”. (Fl 4,4)

Charles de Foucauld: “Não há, creio eu, palavra do Evangelho que mais me tocou profundamente e transformou a minha vida do que esta: ‘Tudo aquilo que fazeis a um destes pequeninos, é a Mim que o fazeis’”

Papa Francisco: “Com Cristo não existem tédio, cansaço e tristeza, porque Ele é a novidade contínua do nosso viver. Ao missionário, é necessária a alegria do Evangelho: sem esta, não se faz missão, se anuncia um Evangelho que não atrai.”

Textos para a oração: Lc 10, 21 – A alegria do discípulo

Fl 4,1-9 – Últimos conselhos

At 2,42-47 – A primeira comunidade cristã

· O evangelista Lucas nos diz que, quando Maria dá à luz a Jesus, são precisamente os pastores que recebem, em primeiro lugar, o anúncio do seu nascimento. Um anjo vem até eles, uma grande luz os envolve e eles se assustam. Mas o mensageiro de Deus os tranquiliza: “Não tenhais medo: Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será de todo o povo; hoje, na cidade de Davi, nasceu um Salvador para vós, Cristo Senhor! Este para vós é o sinal: encontrareis uma criança envolta em panos, deitada em uma manjedoura “(Lc 2,10-12).

· Nós ministros: protagonistas e servidores da alegria: “Anuncio-vos uma grande alegria que será para todo o povo” – o ministério messiânico de Jesus é para todos e é central; sem a alegria, a vivência do Evangelho em nós, fica incompleta;

· Lc 10,21 – Jesus, estremecendo disse: “Te bendigo, Pai, porque escondestes.... e as revelastes aos pequeninos”; o estremecimento mostra a totalidade do ser, quando se abandona à alegria, dando graças ao Pai; como a haste de uma flor que se estremece ao vento; somos chamados a este estremecimento que brota das nossas entranhas como um dom de Deus; abdicando da alegria há uma parte da revelação que não entendemos; falar da espiritualidade sem falar da alegria, fica-se a meio caminho; alegria é um dever, um chamado; no espaço eclesial abordamos a alegria com demasiada parcimônia; quando falamos dos nossos deveres, não falamos da alegria. Dessa alegria que vem de Deus;

· Das passagens bíblicas que abordamos, as passagens da alegria não são buscadas com frequência; o cristianismo seria mais credível se fosse da alegria; nós nos realizamos no fazer e afastamos do horizonte o “homem festivo”, aquele que celebra; no início da criação Deus cria tudo em seis dias até chegar o momento do gozo, da alegria, do descanso; só a contemplação jubilosa nos proporciona o êxtase; somos criadores e somos testemunhas desse êxtase; se afastamos a alegria de nossa vida, a contemplação da beleza no nosso cotidiano, ficamos insuportáveis; um santo triste é um triste santo; o nosso coração precisa ser preenchido de coisas certas e boas e não de coisas tóxicas (lamentações, maledicências...); a liturgia tem de ser a de celebrar este homo festivo que somos; quem não entendeu o que é um brinquedo na mão de uma criança, não entendeu a Liturgia;

· Jo 15,11: “Eu quero que a alegria esteja em vós e vossa alegria seja completa”; precisamos aprender a deslocar o peso do nosso coração, para a leveza da alegria porque somos levados pela mão de uma promessa: a da alegria; a alegria faz-nos pensar, é uma experiência dialógica, que me chega através da hospitalidade; se não crio porosidade com as relações, se não sou hospedeiro, será difícil que a alegria me visite: quando Maria visitou Isabel, a criança saltou de alegria...; deixemo-nos visitar, deixemos que Deus venha ao nosso encontro; a cada dia devemos nos deixar tocar por alguém, por alguma coisa; não podemos ser impermeáveis; ela está ligada à hospitalidade, à simplicidade;

· Temos medo de parecer que somos pequeninos, que somos simples; aí cresce a lamentação, a maledicência e tantas outros sentimentos;

· Tirar um dia, uma hora de adoração para agradecer: dizer “obrigado” é gratuidade; Paulo é um mestre da alegria; é o teólogo da alegria; o vocabulário da alegria aparece mais de 300 vezes no NT;

· Paulo faz um cruzamento fundamental entre a alegria e o mistério de Cristo: “alegrai-vos sempre no Senhor!”; não é um sentimento abstrato, vago, vagabundo; não é vibração entusiástica repentina, nada fica de fora; ele nos ensina que alegria é um dom do Espírito Santo; “Caminhai no Espírito e por quê? Rm 14,17: o Reino de Deus não é comer e beber, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”; a alegria é a respiração do Espírito Santo em nós, é o borbulhar de Deus, de Seu sorriso; Paulo faz uma ligação muito clara entre alegria e comunidade eclesial; 1 Ts 2,20: “Vós sois nossa glória e alegria”; Fl 3,5: “todas as vezes que me lembro de vós, faço minha oração com alegria por causa da participação no meu ministério; 2Cor 24: “Somos colaboradores da alegria”; Fl 2,2: Paulo pede aos irmãos – “fazei que seja completa a minha alegria – um só pensamento...”; o padre é a alegria do povo, assim como o povo deve ser a alegria do padre; pensamos em todas as razões para ter alegria; a alegria do Senhor é a nossa força! “Onde vive/mora um padre, o povo é mais feliz!”

Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos (Fl 4,4)

Para Charles de Foucauld, uma Palavra do Evangelho que o tocou profundamente é: “Tudo aquilo que fazeis a um destes pequeninos é a Mim que o fazeis”.

O Irmão Carlos pôs em sua mente e em seu coração os ensinamentos de Jesus. Ele norteou sua vida, buscando, cada vez mais e melhor, a humildade e o serviço.

Papa Francisco nos anima a viver com alegria e entusiasmo, pois, Cristo é a novidade em nossa vida. Em Cristo não há tédio ou tristeza. Há preocupação sim, há luta, mas Sua presença nos encoraja e alegra. Conhecemos os problemas da humanidade e contra eles devemos lutar, mas não podemos perder a paz e a alegria.

Para meditar e rezar: (Fl 4,4)

Nesta manhã, após o café, Dom Joaquim Mol veio brindar-nos com sua visita, com suas palavras. Falou-nos dos grandes desafios que a Igreja enfrenta, neste mundo tão marcado pelo fundamentalismo, radicalismo, negacionismo e tanta desumanidade. Falou-nos sobre a necessidade de uma boa leitura. Há muita gente boa escrevendo coisas que nos animam e fortalece. Citou Adela Cortina, que escreveu o livro Aporofobia, que significa aversão ao pobre, como um desafio para a democracia. Ficou satisfeito ao perceber que esta obra se encontra entre as sugestões de leitura feita pelo grupo da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas.

A aporofobia é um mal, uma praga que está se espalhando de forma avassaladora. Isto acontece por parte de pessoas, individualmente, mas fortemente alimentada por interesses de grupos civis, políticos e religiosos que se “acham mais” que os outros, que se acham no direito de eliminar quem se encontra em situação de vulnerabilidade.

Dom Mol falou-nos que é necessário anunciar com alegria a Boa Nova, mesmo que, muitas vezes, as atitudes dos governantes e de seus seguidores nos provoquem “raiva”. Não podemos entrar no jogo deles. Não somos discípulos da raiva, mas do amor, do perdão e da justiça.

Falou-nos, também, das esperanças alimentadas por pessoas e grupos corajosos, que dão seu tempo e suor para devolver a dignidade daqueles e daquelas que estão à margem da sociedade. Há muita luta corajosa e animadora esperança.

Às 11h, o Pe. Willians apresentou o relatório financeiro da FSJC no ano de 2021. Seguimos para o almoço, e por fim, a despedida. Tivemos a sorte de uma estiada no dia de nossa partida de Santa Luzia, pois durante todo o retiro, o tempo estava muito chuvoso, e ficamos ilhados.

Colaboração: Dom Luis Fernando Lisboa, Conceição Calderano, Alvim Aran e Magda Melo

Arquivo da FSJC: Fotos do Retiro Nacional 2022 em Santa Luzia – MG

Arquivo da FSJC: Fotos do Retiro Nacional 2022 em Santa Luzia – MG