Poder militar dos EUA

Mine eyes have seen the glory of the coming of the Lord

Um quadro da capacidade militar dos Estados Unidos da América do Norte na atualidade, suas características, capacidade e estratégias.

Introdução

No documentário de 1940, O Mundo em Chamas (The World in Flames*) que termina em tom quase religioso, incluindo um sonoro “Amém”, apresenta-se um alerta que o povo estadunidense teria decidido se prevenir contra agressões das nações fascistas e, mais ou menos nestas palavras: “…para cada homem que armarem, armaremos dez. Para cada blindado que fabricarem, fabricaremos dez. Para cada couraçado que construírem, contruiremos dois.

Veremos ao longo deste artigo que os EUA, nesta ameaça, há muito tornou mais econômicos alguns pontos, mais avançados outros, excedentes alguns e acrescentou ítens a esta lista não pensados nem pensáveis ao início da década de 40.

Em discurso após os eventos de 11 de setembro de 2001, o então presidente George W. Bush afirmou: “Somos um povo pacífico, porém não indefeso.” Também trataremos de mostrar neste artigo que esta frase é composta de uma meia verdade e uma verdade plena.

Orçamento e economia

O orçamento da defesa dos EUA foi estimado para o ano de 2009 como sendo de US$ 786 bilhões, aqui inclui-se gastos militares propriamente ditos, defesa antiterrorismo, administração e pessoal e informações. Os gastos com as forças armadas foram estimados em US$ 583 bilhões.[1]

Para o ano fiscal de 2010 , o orçamento base do Departamento de Defesa chegou ao presidente ao valor de US$ 533,8 bilhões. Adicionando-se e operações de “contingência além mar”, atingindo a soma de US$ 663,8 bilhões.[62][63] Quando o orçamento foi transformado em lei em 28 de outubro de 2009, o tamanho final do orçamento do Departamento de Defesa atingia US$ 680 bilhões, US$ 16 bilhões a mais que o presidente Obama tinha tratado.[64] Uma suplementação de US$ 37 bilhões foi colocada para apoio às guerras no Iraque e Afeganistão teve de esperar a aprovção na primavera de 2010, mas tem sido retida pela câmara dos deputados após passar pelo senado.[65][66] Verbas relacionadas à defesa externas ao Departamento de Defesa constitutem entre US$ 216 e 361 bilhões em despesas adicionais, elevando o total das despesas com defesa para entre US$ 880 bilhões e US$ 1,03 trilhões no ano fiscal de 2010.[67]

Logicamente, um gasto militar destes coloca os EUA em primeiro lugar entre os orçamentos militares dentre as nações do mundo. Já em 2003, gastos diretos de 400 bilhões de dólares dos EUA já eram equivalentes à soma dos orçamentos de defesa de todos os demais 192 países então existentes.[2] Os gastos militares dos EUA em 2006, de mais de 528 bilhões, eram 46% dos gastos militares globais e maiores que os 14 maiores gastos militares combinados.[2] Paradoxalmente, em relação a outras nações, o orçamento militar americano é relativamente pequeno em proporção a sua economia, que com um PIB de 14,3 trilhões de dólares[3], corresponde a aproximadamente 4% deste, colocando-o em 28° entre 173 nações em estimativas de 2005.[4]

Gastos do Departamento de Defesa dos EUA (www.armscontrolcenter.org)

Tal volume de gastos levou a conceituação, lançada pelo ex-presidente Dwight Eisenhower em 1961, no seu discurso de despedida após 8 anos na presidência, de Military-Industrial Complex (complexo industrial-militar), dissecado à exaustão por Fred J. Cook no seu livro “The Warfare State” (“O Estado Militarista”).[5]

Nas esferas da governação, devemos proteger-nos contra a aquisição de uma influência indesejada, procurada ou não, por parte do complexo militar-industrial. Existe, e permanecerá, o potencial para um surto desastroso de poder mal concentrado. Não devemos nunca permitir que o peso desta conjugação ameace as nossas liberdades ou o processo democrático. Não devemos partir do pressuposto de que tudo esteja garantido.

…o desenvolvimento desse amplo conjunto de forças representa um grande perigo para os próprios americanos.”

E completava: “Mas devemos nos prevenir contra a posse de um poderio demasiado grande“.

Dwight Eisenhower

O economista Robert DeGrasse Jr. comenta: “Sem que muita gente se desse conta, criou-se nos Estados Unidos o que chamo de ‘classe guerreira’, formada por milhões de famílias economicamente dependentes dos gastos do governo com armas.[6]

Efetivo

O contingente das forças armadas estadunidenses (pessoal ativo) soma 1,454 milhão de homens e mulheres (não nos esqueçamos que nos EUA existem mulheres combatentes, embora não aos moldes de Israel, mas em atividades de logística e apoio, pilotos e operadores dos mais variados tipos) o que coloca estas forças armadas em 2° lugar entre as maiores do planeta.[7] As forças em reserva totalizam 848 mil homens e mulheres.[8] Os militares reformados e os reservistas, passíveis de convocação, somam a este número chegando a um total, digamos ‘armável imediatamente’ de 10 milhões de pessoas, em números do ano de 2003.[2] Somente a administração das forças armadas emprega quase 700 mil civis.[9]**

O governo estadunidense ainda conta com uma estimativa de recrutamento (como se tal tivesse sentido em nossos dias e tecnologia militar, e adiante veremos o quanto tal afirmação é sólida) de 72 milhões de homens disponíveis para o serviço militar e 59 milhões de homens aptos em idade de 18 a 49 anos.

Presença global

A presença das forças armadas estadunidenses em todos os continentes com bases excetuando-se a Antártica levou a definição de G. John Ikenberry de um “Império de Bases”[6], conceito também apresentado em The Sorrows of Empire de Chalmers Johnson[10], já que as forças americanas encontram-se em 39 países e em 820 bases.[11][12]

Apresentado este quadro econômico, de pessoal e geopólítico, apresentaremos uma descrição das forças armadas americanas, em seu quadro de força em homens e sendo o mais sucinto possível, de equipamentos e o poder que representam.

Poder Terrestre

As forças do exército norte americano hoje somam aproximadamente 1,08 milhão de homens, aos quais se deve somar 200 mil dos fuzileiros navais (USMC – United States Marine Corps), mas não desprezando que esta é uma força mista, sendo formada de forças anfíbias e de apoio aéreo, mas dada a escala das forças estadunidenses e seus recursos, este detalhe pode ser desprezado.

O “carro de batalha” principal das forças terrestres estadunidenses é o tanque M1 Abrams, blindado pela revolucionária Chobham, blindagem compósita de cerâmica e armadura de metal, resistente a praticamente toda a munição disponível pelas demais forças armadas do planeta. O desempenho deste tanque foi plenamente reconhecido nas esmagadoras ações tanto na Guerra do Golfo quanto na Guerra do Iraque, e somente suas façanhas renderiam um outro artigo.

Tanque M1 Abrams

As forças terrestres estadunidenses contam com 1174 destes tanques em sua versão M1A2 e 4393 de sua versão M1A1 no exército e mais 403 M1A1 nos fuzileiros, totalizando 5970 tanques.[13]

A este veículo, soma-se o poder de uma artilharia de vasto equipamento (incluindo como peça principal canhões autopropulsados, como o M109A6 Paladin com alcance de até 30 km[14], do qual possui 950 unidades). Somente em canhões de 105 mm, a artilharia do exército estadunidense possui em torno de 1900 unidades, que somam-se às peças de 155 mm e sistemas de lançamentos de mísseis de alcance de mais de 400 km, como o M270 Multiple Launch Rocket System.[15]

M109A6 Paladin (www.defencetalk.com).

M270 Multiple Launch Rocket System (www.freewebs.com).

A artilharia morte americana possui um histórico que já incluía a admiração do exército alemão na Segunda Guerra Mundial e ações magistrais, como na batalha de Khe Sahn (Guerra do Vietnã)[16].

Devem-se somar a tal conjunto de equipamentos de “destruição próxima” e “destruição à distância”, veículos com significativo poder de fogo como o Bradley M2/M3.[17] Durante a Guerra do Golfo, destruiram mais veículos blindados iraquianos que o próprio tanque M1 Abrams, e atualmente seu número chega a mais de 6000 nas forças de terra dos EUA.[18]

Veículo blindado de apoio e reconhecimento Bradley

(img442.imageshack.us).

Não devemos esquecer que este volume de forças terrestres é fortemente apoiado por aviões de combate antitanques/contra o solo como o A-10 Thunderbolt II e helicópteros de ataque, que veremos adiante.

Somente a arma principal do A-10, em sua versão mais recente, o canhão GAU-8 Avenger, é equivalente em capacidade a muitas das mais poderosas peças de artilharia antitanque hoje em atividade, e com uma cadência de tiro imensamente maior (3900 disparos por minuto)[19].

Canhão automático Gatling 30 mm GAU-8 Avenger.

Poder Marítimo

A espinha dorsal das forças navais estadunidenses, desde a Segunda Guerra Mundial, é sua frota de porta-aviões os quais são de três classes, sendo uma obsolescente, uma principal e uma em construção. Respectivamente, um navio pertence a classe Enterprise, dez em operação e um em construção da classe Nimitz e mais dois planejados da classe Gerald R. Ford, todos eles de propulsão nuclear.[20]

Cada um destes navios aeródromos possui em torno de 90 aeronaves, entre aviões de diversos tipos (principalmente caças) e helicópteros. É de se observar que este número de aeronaves é maior que a maioria das forças aéreas do mundo. É de se destacar que apenas a marinha estadunidense dispõe de porta-aviões desta capacidade, independentemente de sua quantidade. Esta força de porta-aviões permite ao poder naval estadunidense não apenas situar-se em qualquer ponto dos oceanos e mares, mas também, com o raio de ação de seus aviões somado ao serviço de seus aviões de reabastecimento, atacar praticamente qualquer ponto em terra.

USS Nimitz (www.naval-technology.com).

Estes navios principais são acompanhados por uma força que totaliza 22 cruzadores da classe Ticonderoga, 52 destroyer da classe Arleigh Burke e 30 fragatas da classe Oliver Hazard Perry.[20]

As forças navais estadunidenses contam ainda com navios de ataque anfíbio, que parecem pequenos porta-aviões, que são as naves de guerra principais dos fuzileiros navais. Estes navios são 2 da classe Tarawa e 7 da classe Wasp, e que transportam seu próprio conjunto de aviões, na atualidade o Harrier.[20]

Um transportador da classe Wasp (Wikipedia).

A marinha estadunidense tem ainda uma força de ataque de submarinos com 45 unidades da classe Los Angeles, três da classe Seawolf e cinco da classe Virgínia, número suficiente para enfrentar com um submarino para cada navio de guerra praticamente todas as forças navais do planeta (só como exemplo comparativo, a Marinha Real Britânica, uma das maiores do mundo, possui um total de 89 navios[21]).

Um submarino da classe Seawolf (www.washingtonpost.com).

Os submarinos nucleares portadores de mísseis estratégicos da classe Ohio serão tratados adiante, em Poder Nuclear.

Poder Aéreo

Também desde a Segunda Guerra Mundial, as forças aéreas estadunidenses, incluindo aqui a força aérea propriamente dita, as forças navais, as forças de apoio e ataque dos fuzileiros e até as forças de aeronaves do exército doutrinam-se pelo conceito de poder aéreo absoluto, em outras palavras, a capacidade de derrotarem qualquer inimigo no ar e a partir desta derrota, apoiar as forças de solo e coordenar ataques aéreos até a destruição ou derrota do inimigo.

Um segundo conceito, desenvolvido pela Guerra Fria, é o de poder aéreo global, que é a capacidade de atacar qualquer inimigo em qualquer ponto do globo, mesmo partindo de bases do território estadunidense.

Para consolidar na prática estas duas conceituações, a força aérea estadunidense conta com 5778 aeronaves em serviço, sendo que 2402 são caças, e destes, 1245 apenas de variações do modelo F-16 Fighting Falcon.[22]

F-16 Fighting Falcon (citizenx.org).

Enumerar os equipamentos e suas quantidades da força aérea estadunidense seria por demais extenso, detalhista e até enfadonho, portanto apenas destacaremos alguns pontos e analisaremos algumas de suas características.

A força aérea estadunidense, dentre todos os aviões restantes excluídos os citados caças, possui aeronaves de combate ao solo como o já citado A-10, aeronaves de transporte de variados tamanhos, reabastecedores que permitem suas forças operarem globalmente e por tempo inimaginável à maior parte das demais forças aéreas, equipamentos de radar e comando e apoio tático-estragégico, etc.

A-10 Thunderbolt II (www.fas.org).

Destacaríamos aviões praticamente exclusivos desta força aérea, como os terríveis aviões AC-130[23], de combate ao solo, que portam canhões de até 105 mm e metralhadoras Gatling.

AC-130 Gunship

Os bombardeiros da força aérea estadunidense incluem 76 B-52[24] (aeronave ativa desde 1955 e praticamente sem substituinte ou concorrente a vista), 66 B-1 supersônicos[25] e 20 B-2 ”invisíveis”.[26]

A estes bombardeiros se somarão na atividade de bombardeio furtivo de precisão os novos caças F22 Raptor, em substituição aos F117, desativados, que embora denominado de caça, era um bombardeiro de ataque furtivo de pequeno porte, incapaz de se defender, mas de alta precisão e dotado da primeira geração da tecnologia stealth.

F 22 Raptor.

Analisando apenas os B-52, estes são capazes de transportar a praticamente qualquer ponto da Terra 32 toneladas de bombas, independentemente de seu reabastecimento. Tal capacidade nos leva por cálculos simples a considerar que estas aeronaves seriam capazes de lançar um ataque de destruição idêntica a do ataque nuclear de Hiroshima (13 mil toneladas de TNT[27]) a cada 6 dias. Prover este rítmo de bombardeio não seria problema para a indústria química estadunidense, o que aliás, já foi realizado na Guerra do Vietnã. Notemos que também a atual quantidade de B-52 da força aérea estadunidense é uma fração da que já foi a quantidade de bombardeios do Comando Aéreo Estratégico (Strategic Air Command), que chegou a ter 1500 aeronaves.[28]

Um B52 (www.military.cz).

Esta variedades de bombardeiros, aviões de ataque ao solo e caças bombardeiros transportam uma variedade de bombas dos mais variados tipos e para os mais variados fins, de amplo espectro de poder de destruição, desde centenas de quilogramas até algumas toneladas de explosivos, mas destacam-se uma bomba “cluster” usada no Iraque que eliminou formações de tropas do porte de uma divisão, a CBU-97 Sensor Fuzed Weapon (uma tradução adequada seria bomba de sensor difuso).[29]

Vídeo do YouTube

A estes aviões somam-se os helicópteros de ataque como o AH-64 Apache (durante as 100 horas de combate no solo da Guerra do Golfo, tomaram parte 277 helicópteros AH-64, destruindo mais de 500 tanques iraquianos[30]), em número de 698. A estes somam-se os helicópteros de ataque AH-1 SuperCobra, utilizados pelos fuzileiros, em número de 167 unidades.

AH-64 Apache (www.minihelicopter.net)

AH-1 SuperCobra (www.flug-revue.rotor.com).

Deve-se observar que as forças aéreas dos EUA não dependem mais da atividade humana direta para o bombardeio, especialmente inicial, de instalações de radar, comando e anti-aéreas, pois dispõe de mísseis de cruzeiro como o Tomahawk (mais especificamente BGM-109 Tomahawk), que mesmo a um custo de proximadamente 600 mil dólares (US$) por unidade, tornam-se extremamente viáveis pela diminuição do risco de vidas humanas e de custo relativamente insignificante frente ao orçamento das forças estadunidenses. Estes mísseis podem ser lançados de navios ou submarinos.

Um míssil Tomahawk em vôo. (www.sitecenter.dk)

A esta nova estratégia de ataque somam-se aviões de controle remoto ou mesmo autosuficientes em grande parte de seu vôo, como o RQ-4 Global Hawk e o MQ-9 Reaper (originalmente chamado de Predator B), habilitados ao reconhecimento ou bombardeio.

RQ-4 Global Hawk

Estes aviões são o embrião de toda uma nova geração de aviões comandados à distância ou robotizados, que tornarão as ações de ataque e reconhecimento aéreos independentes da presença humana direta.

MQ-9 Reaper (www.skycontrol.net)

Acrescente-se a todo este aparato de plataformas e meios o crescente uso por parte da Força Aérea, da aviação naval, da aviação do fuzileiros navais de “bombas inteligentes”, por diversos tipos de orientação (incluindo a extrema precisão do sistema GPS exclusivo das forças armadas estadunidenses), cuja capacidade pode ser vista, entre outros tipos de bombardeio, neste vídeo:

US Air Force – Bomb and Missile Demonstrations

Poder Nuclear

O poderoso braço da nação.

Primeiramente, devemos destacar a evolução das armas nucleares, pois tal será fundamental para entender a escala do que apresentaremos.

As primeiras bombas nucleares, eram de dois desenhos básicos, com peculiaridades de produção e funcionamento que destacaremos. A bomba testada no chamado teste Trinity[31]era uma bomba de plutônio, assim como a terceira, detonada sobre Nagasaki (Fat Man)[32].As bombas de plutônio são de obtenção de material relativamente simples, pois o plutônio é subproduto do funcionamento de reatores nucleares de urânio sem significativo enriquecimento e pode ser separado e purificado por um processo químico, porém, a construção deste tipo de bomba exigiu grande parte do esforço do Projeto Manhattan, exatamente pela sua complexidade.

A bomba detonada sobre Hiroshima é do tipo “canhão” (Little Boy)[33], e é de construção bastante simples, mas obtenção de material, no caso o urânio altamente enriquecido com o seu isótopo 235, extremamente custosa e demorada. Os gastos com energia elétrica para sua produção são estimados em valores que vão de 10% a um sexto do total de energia elétrica consumida nos EUA ao tempo do Projeto Manhattan.[34] Seu funcionamento é tão seguro que nem precisou ser testada.

Réplicas de Fat Man e de Little Boy.

Por motivos evidentes, após o desenvolvimento da construção de bombas de plutônio, estas tornaram-se dominantes no arsenal dos EUA.

A bomba de Hiroshima, chamada de design Mark 1 tinha potência de 13 mil toneladas de TNT (kt)[33]. Já a bomba Trinity tinha potência de 19 kt[31], e a bomba Mark 3, de Nagasaki, já apresentava capacidade destrutiva de 21 kt[32].

Com o desenvolvimento posterior das bombas H, que não funcionam em sua capacidade de destruição máxima por fissão nuclear, e sim apenas usam a fissão inicial para produzir a fusão nuclear, a capacidade das bombas nucleares cresceu para 10 milhões de toneladas de TNT, ou megatons (Mt), como no primeiro teste de fusão nuclear estadunidense, chamado Ivy Mike[35] e posteriormente para 15 Mt no chamado teste Castle Bravo, o mais poderoso artefato nuclear detonado pelos EUA[36].

As bombas H tem uma capacidade praticamente ilimitada de poder, só não o sendo feitas mais poderosas por motivo de seu necessário proporcional tamanho e eficiência. Os soviéticos chegaram a testar uma bomba de 50 Mt, chamada Tsar.[37]

O teste Tsar.

Devido a que o aumento da capacidade das bombas não produz proporcional destruição de superfície, os testes estadunidenses e soviéticos vieram a limitar as capacidades operacionais das bombas nucleares de fusão em torno de 500 kt (0,5 Mt), com tamanho prático para o transporte por mísseis e aviões e a possibilidade de se colocar diversas ogivas num mesmo míssil, como o fizeram os americanos com seu míssil mais avançado, o MX Peacekeeper (mais precisamente [38] LGM-118 Peacekeeper).

Para se ter idéia do que representa uma capacidade destas, uma única bomba H desta magnitude possui o mesmo poder de aproximadamente 40 bombas de Hiroshima, ou em outros termos, mais triviais, uma bomba como a detonada em Hiroshima possui o mesmo poder de detonação de um navio cargueiro médio carregado de “bananas” de dinamite, enquanto uma bomba H deste poder possui o mesmo poder de detonação que o maior navio petroleiro do mundo carregado de nitroglicerina. Para efeitos de área destruída, uma bomba de fissão possui o mesmo efeito que tinha desde a Segunda Guerra Mundial, destruindo significativamente uma cidade de porte médio, já uma bomba de fusão possui capacidade para destruir uma cidade de grande porte.

Efeitos de uma explosão nuclear de aproximadamente 500 kt sobre Minneapolis.[39]

(www.ucsusa.org)

Assim, as bombas nucleares passaram a se dividir, para sua aplicação, em armas táticas, geralmente as bombas de fissão, para uso contra forças militares convencionais e instalações industriais e militares localizadas e limitadas, de capacidade de 0.5 a 20 kt, e as armas estratégicas, somente bombas de fusão, com capacidades variadas, usualmente de 100 a 500 kt, com uso restrito à completa destruição do inimigo, de toda sua capacidade militar, industrial, produção de alimentos e até de população.

O teste Baker, primeiro teste nuclear subaquático, de bomba tática (20 kt),

mostrando a escala de uma explosão nuclear em relação a navios de guerra

de grande porte. (img.dailymail.co.uk)

Tal capacidade aliou-se durante a Guerra Fria a uma estratégia fundamental das forças armadas estadunidenses quanto ao arsenal nuclear, chamada de “destruição mutuamente assegurada”, com a irônica sigla MAD (louco, em inglês, de Mutually Assured Destruction).[40][41] A filosofia desta estratégia era elevar a quantidade e disponibilidade imediata das armas nucleares estadunidenses a tal nível, e em graduação com vantagem sobre as possíveis forças antagônicas que o agressor teria a certeza de que ao realizar um ataque, seria inexoravelmente destruído. Isto levou a quantidade de armas nucleares estadunidenses, no auge da Guerra Fria, ao absurdo número capaz de destruir a superfície do planeta várias vezes, sendo citado inclusive o número de 40[42].

O arsenal nuclear estadunidense distribui-se por três áreas: mísseis balísticos intercontinentais (ICBM – intercontinental ballistic missil)[43] capazes de atingir do território estadunidense grande parte do território da Terra; mísseis balísticos lançados de submarinos (SLBM – de submarine-launched ballistic missil)[44] e as diversas bombas e ogivas nucleares disponíveis para a força aérea, de grande variedade de poder destrutivo.

A limitação de alcance dos ICBM estadunidenses (10 mil km)[45][46] é completada com o alcance dos SLBM. Em adição a tal sistema, os bombardeiros de longo alcance com seu sistema de reabastecimento permitem o conjunto alcançar qualquer ponto da Terra. Embora o sistema de bombardeiros estratégicos amparado sobre a platataforma B-52 tenha sido desmobilizado de seu nível da Guerra Fria, existe a possibilidade de voltar-se, sob ameaça de agressão em grande escala aos EUA, a colocar permanentemente um lote destas aeronaves a circundar, ao alcance de minutos, o território de um inimigo.

Um submarino da classe Ohio. (www.defenseindustrydaily.com)

Em 2004 o arsenal estadunidense de armas nucleares incluia 5886 ogivas estratégicas e 1120 táticas.[47][48][49] Estas armas estratégicas dividiam-se em 1490 ogivas de ICBM, 2734 ogivas de SLBM, 1660 bombas e ogivas de mísseis diversos para lançamentos por bombardeiros (especialmente bombas B61 e B83 e mísseis de cruzeiro do tipo ALCM e AGM-129). As armas táticas consistem de 800 bombas táticas B61 e 320 ogivas para os mísseis Tomahawk.

Tomahawk sendo lançado (www.military.cz).

Após o tratado sobre reduções de estratégia ofensiva (SORT – Treaty on Strategic Offensive Reductions[50]) de maio de 2002 os EUA planeja reduzir seu estoque de ogivas para 2200 unidades até 2012. O futuro arsenal nuclear sob o tratado SORT será:

    • 450 mísseis ICBM Minuteman III com 500 ogivas. Sendo 400 com ogivas únicas por míssil e 50 com ogivas duplas. Serão 200 ogivas W78 e 300 ogivas W87.

    • 12 submarinos classe Ohio com outros 2 em reserva. Cada um destes com 24 mísseis Trident II com ogivas quádruplas de ogivas W76 e W88, que somarão um total de 1152 ogivas. Serão 384 ogivas W88 e 768 ogivas W76 para submarinos.

    • 94 bombardeiros estratégicos B-52 e 20 B-2 com 540 ogivas do míssil AGM-86 e bombas B61 e B83. Serão 528 mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares AGM-86B com 300 ogivas ativas e 228 na reserva. As 528 ogivas ALCM serão distribuídas em bombas: 120 B61-7, 20 B61-11 e 100 B83 para a esquadrilha de bombardeiros.

Um míssil Minuteman em seu silo (www.aerospaceweb.org)

Quanto as potências, originais, mas futuramente limitadas pelo tratado SORT:

    • A ogiva W78 tem uma potência publicada na literatura de 335 a 350 kilotons.[51]

    • A ogiva W87 foi lançada com uma potência de 300 kt, mas otimizada para 475 kt.[52]

    • A ogiva W76 tem uma potência de 100 kt.[53]

    • A ogiva W88 tem uma potência estimada de 475 kt.[54]

    • A bomba B61 tem uma potência altamente variável, desde aplicações táticas até estratégicas, compotências descritas de 0.3, 1.5, 5, 10, 60, 80, ou 170 para os Modelos 3, 4 e 10 (táticos) e a versão estratégica (modelo 7) de um máximo de 340 kt.[55]

    • A bomba B83 tem uma capacidade também ajustável até um máximo de 1,2 Mt.[56]

Uma bomba B61 (www.staffordspacecenter.com).

Para concluirmos o apresentado, mais uma vez façamos cálculos simples. Se todas as ogivas após o tratado SORT ser implantado forem ogivas táticas, e de limitada potência aos níveis da bomba Little Boy de Hiroshima, com seus 13 kt, teríamos ainda um total de 28,6 Mt, o que proporcionalmente ao número de vítimas de Hiroshima (e aqui não usaremos o infeliz termo “mortos”, pois uma guerra nuclear total não pretende um número de mortos em combate, e sim a aniquilação até populacional da outra parte envolvida), estimado por baixo em 140 mil, teríamos um total possível de vítimas de 308 milhões, número próximo da população dos EUA hoje.

Mas as ogivas não são de valor médio da potência de Little Boy e sim, pelo menos 10 vezes maior, de onde o número de vítimas subiria para metade da população mundial. As consequências para o planeta seriam devastadoras, mesmo de um ataque com tal arsenal limitado, especialmente pelas questões ambientais, e não seriam de forma alguma restritas ao país ou países que o sofreriam, e tem-se de entender que um ataque com armas desta potência não apenas destruiriam a infraestrutura de um país, e sim esterilizariam (quando não vitrificariam) seu solo por décadas.

Assim, é mais que conveniente ao mundo, que nem só com arsenal nuclear dos EUA tem de se preocupar, não ouça, mesmo em caso de guerras convencionais, o verso colocado como subtítulo deste artigo, primeiro do “hino de batalha da república” (The Battle Hymn of the Republic, de Julia Ward Howe ), sempre cantado quando os EUA vão à guerra.

Recentes acordos de desarmamento nuclear

O recente acordo assinado entre os presidentes estadunidense, Barack Obama, e russo, Dmitri Medvedev (08/04/2010), reduz o número de ogivas de ambas a potências para 1.550 cada, uma redução de 74% em relação ao limite do Tratado START (Strategic Arms Reduction Talks), firmado em 1991 e que expirou no final de 2009, quando os arsenais de ambas as forças somadas representavam mais de 95% das armas nucleares de todo o planeta.

Este acordo também limita o número de mísseis balísticos intercontinentais, que terá uma validade primária de 10 anos, podendo ser renovado por mais cinco. Uma cláusula prevê que as partes podem se retirar do tratado. Ete tratado foi assinado 2 dias após a apresentação de uma nova doutrina militar nuclear das forças dos EUA, pela qual se comprometem a apenas recorrerem às armas nucleares em “circunstâncias extremas”, para defender seus interesses considerados vitais e de seus aliados.

O acordo, que também limita o número de mísseis intercontinentais, terá uma duração de 10 anos e poderá ser renovado por mais cinco. Uma cláusula prevê que as partes podem se retirar do tratado. Barack Obama, Prêmio Nobel da Paz, assinou este tratado 48 horas depois de ter revelado uma nova doutrina nuclear, segundo a qual os Estados Unidos só recorrerão à arma atômica em “circunstâncias extremas”, para defender seus interesses vitais e de seus aliados.[57][58]

Capacidade de ataque global convencional

Simultaneamente as modificações em suas forças nucleares, os EUA anunciaram estar em fase avançada um novo tipo de míssil balístico intercontinental, conduzindo desta vez uma ogiva convencional (explosivos químicos) de alta potência. O objetivo de tal arma seria propiciar às forças armadas estadunidenses a possibilidade de retaliação não nuclear e imediata contra estados ou organizações agressores (Prompt Global Strike Weapons, dentro de um programa chamado Prompt Global Strike Program).

Enquanto que os Tomahawk, por exemplo, necessitariam de apenas alguns minutos a partir da costa da região a ser atingida, com uma limitação de milhar de quilômetros, a partir, evidentemente, de navios ou submarinos, ou por meio de aviões partindo de bases estadunidenses (o que pode tomar até 12 horas de tempo total de resposta), tal sistemas permitiriam o atingir de tais alvos em aproximadamente uma hora, partindo diretamente de solo estadunidense, ou mesmo ainda de suas bases e submarinos pelo mundo.

Um problema apontado em tal sistema seria o das demais potências nucleares confundirem um lançamento de tais armas, de destruição específica e limitada, com um início de um ataque massivo de armas nucleares estratégicas por parte dos EUA.

Como plataforma para tal sistema, estão propostas versões modificadas do míssil Peacekeeper III e do míssil lançado de submarinos Trident.[59][60][61]

Mísseis Peacekeeper III e Trident.

Notas

* Este documentário não encontra-se listado no IMDB, mas referências a ele podem ser vistas em movies.nytimes.com.

** A Wikipédia em inglês é uma fonte confiável e bem referenciada quando trata-se de armamentos e forças armadas, em especial dos EUA, devido ao número de militares que desta versão colaboram.

Referências

Obs: Ao ser realizada a transferência dos artigos do Google Knol para o Anottum, houve a perda parcial das referências deste artigo. Assim que possível, sua referenciação será recuperada e aprimorada. Contando com sua compreensão, grato.

  1. DEPARTMENT OF DEFENSE

  2. www.gpoaccess.gov

  3. A máquina de guerra - Veja On-Line

  4. veja.abril.com.br

  5. National Economic Accounts - BEA

  6. www.bea.gov

  7. Country Comparisons - Military expenditures - CIA

  8. www.cia.gov

  9. "The Warfare State," Macmillan, 1962.

  10. Robert DeGrasse; Military expansion, economic decline: the impact of military spending on U.S. economic performance; M.E. Sharpe; 1983 ISBN 0873322606, 9780873322607

  11. books.google.com.br

  12. ARMED FORCES STRENGTH FIGURES FOR FEBRUARY 28, 2009

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