Diagnóstico financeiro

Os passos iniciais de uma consultoria à empresas em crise e as correspondentes primeiras medidas a se tomar.

Neste artigo, apresentamos um esboço dos passos no tratamento da reengenharia financeira de uma empresa em crise que pode ser determinado por um conjunto inicial de perguntas e posteriormente, pelo conjunto de ações necessárias.

Introdução

Toda a empresa que encontra-se em dificuldades - e estas podem ser desde a dificuldade de implantação de suas atividades até um processo falimentar - deve ser tratada primordialmente por uma análise dos fatores envolvidos, especialmente aqui tratando-se de seus “fatos de caixa”, as variáveis de seu processo de geração de caixa, suas compras, vendas, recebimentos, gastos, custos, despesas, cessão e tomada de crédito, sistemas de financiamento, etc.

Desta análise surgirá um planejamento das medidas a serem tomadas, e ajustes nestes, pois a situação é permanentemente dinâmica, e as variáveis internas e o cenário econômico e de mercado mudam constantemente.

O questionamento inicial

O questionamento que desde a abertura deveria ser feito.

1. Existe a determinação dos custos fixos, variáveis, diretos e indiretos?

Após o levantamento destes custos, realizar o cruzamento entre as duas análises. Aqui, procede-se o estabelecimentos dos custos geradores.

2. Existe a determinação da contribuição necessária?

Noutras palavras: A empresa sabe quanto necessita gerar de capital pelas suas vendas e serviços num período de tempo para manter-se operando, mesmo sem gerar lucro?

Ainda noutras palavras: Quanto os serviços e mercadorias tem de contribuir com o caixa para cobrir os diversos custos da empresa em cada período de tempo tomado?

Consiste na obtenção de um ponto de equilíbrio estimado a ser permanentemente perseguido no volume de faturamento e na minimização dos custos.

3. Existe a determinação do Mark Up[Nota 1], a marcação, a margem sobre os produtos e custos dos serviços obtível pelas operações?

Observação: Especialmente, procura-se estabelecer o Mark Up global sobre os custos geradores, aqueles que são os geradores do caixa.

4. Existe a determinação técnica dos preços de venda e serviços e o faturamento necessário conforme os custos fixos?

5. Existe análise se todo o “mix” de produtos[Nota 2] e serviços agrega resultados?

6. Existe uma determinação de metas e objetivos?

7. Foi estabelecimento um plano de negócio?

8. Está estabelecimento um fluxo de caixa como respaldo para a tomada de decisões?

Subquestões:

A empresa tem um fluxo de caixa? Prevê seus dispêndios futuros? Há ‘planos de contas’ referentes a diversos períodos de tempo (diários, semanais, mensais, trimestrais, semestrais, anuais)?

9. São realizadas avaliações de desempenho e produtividade?

10. Existe o estabelecimento de uma meritocracia?

Noutras palavras: Quem coordena, comanda e decide em cada área, campo de atuação e setor da empresa?

11. Há a verificação (permanente) se existe retorno dos esforços e riscos assumidos e do capital investido?

12. Está estabelecimento um plano de ação?

Observe-se que um plano de negócio é distinto de um plano de ação. Um plano de ação pode ser idêntico a outro, em negócios completamente diferentes, pois as ações aqui referem-se a ações sobre o caixa e seus fenômenos.

13. Foi feita uma determinação da viabilidade do negócio em variados prazos?

Detalhando:

O negócio se mostra viável hoje?

Em não sendo, poderá se tornar viável em curto prazo?

Em não sendo ainda em curto prazo, existe mínima viabilidade e posteriormente lucratividade num plano para o médio prazo?

O negócio é sustentável no longo prazo? Não corre certos perigos? Está preparado para eles?

14. Está definida uma “equação básica” da empresa? Existe a determinação do conjunto dos fatores geradores de caixa?

Noutros termos e em cada caso específico:

Se comércio, a empresa compra por um valor total e vende por outro valor total e com isso paga seus custos no tempo?

Se indústria, com as matérias-primas, insumos e utilidades a empresa cobre seus custos de produção, incluindo a mão-de-obra direta, além da posterior questão comercial?

Se prestadora de serviços, o montante de gastos com a mão-de-obra e insumos é coberto pelo volume faturado nos tempos de operação?


Ações necessárias

O conjunto fundamental de operações a se realizar em consultoria à empresas em dificuldades.

1. Fazer a engenharia financeira - que normalmente nunca foi feita - e a renegociação sobre o endividamento - uma “reengenharia”, dado que a engenharia anteriormente feita, se feita, jamais foi realmente eficaz, com encaminhando nos casos específicos à assessorias jurídicas especializadas, dependendo do caso, dividida em áreas civil - o endividamento com fornecedores, trabalhista - o endividamento com demandas da mão-de-obra, tributária - o endividamento com o estado, e em alguns casos, criminal - no caso de estelionatos e apropriações indébitas.

2. Proteger o patrimônio, o capital e a operacionalidade do negócio. Em nossa teorização, especialmente o conjunto dos custos geradores, aqueles sem os quais a empresa não consegue gerar caixa. Se necessário, procede-se à ”blindagem dos fatores geradores” e a ”blindagem de patrimônio”, cujo objetivo maior e fundamental é a proteção do capital gerador.

3. Encaminhar descontos de títulos, sistemáticas de financiamento e lastreamentos para capital de giro dentro de uma equação proveitosa (que produza um círculo virtuoso de gastos e receitas).

4. Implantar auditoria contábil, fundamental para a transparência frente a todos os envolvidos.

5. Iniciar um projeto de evolução completa da empresa para uma gestão sã, baseada, acima de tudo numa coerência contábil, numa rigidez de seus gastos e receitas buscando os melhores resultados, inclusive, para seus credores.

Algumas observações

Todo aquele gasto que não gera caixa, é, em suma, prejudicial ao funcionamento e até a própria existência de uma empresa.

Ter gastos com mercadorias, matérias-primas, insumos ou qualquer outro ítem inferior ao volume faturado, mesmo em sua totalização, não significa, à plena análise, coisa alguma, financeiramente.

Volume de vendas não significa volume de resultado de caixa obtido.

Cessão de crédito é fundamental. Pode-se vender teoricamente ao infinito e não produzir um único centavo.

Geração de caixa alguma enfrenta custos fixos que sejam proibitivos.

A variável mais importante na operação de qualquer empresa é o tempo, que atua como denominador de todas as atividades.

Fluxo de caixa algum resiste a uma gestão imprudente e capital algum resiste no tempo a uma gestão no fundo temerária.

Conhecimento de mercado algum, por mais completo, detalhado e sofisticado que seja, relaciona-se diretamente com administração coerente das finanças.

Todo o dogma sobre conhecimento do mercado em que se trabalha deve ser quebrado. Todo raciocínio de um evento miraculoso que salve a situação deve ser abandonado.[Nota 3]

Notas

1. Para uma noção rápida e simples de Mark Up, recomendamos:

2. Para uma noção rápida e simples de Mix de Produtos, recomendamos:

3. Recomendamos a leitura de nosso artigo: