Custos semifixos e semivariáveis

Uma discussão para uma nomenclatura coerente

Trataremos aqui de discutir a nomenclatura e as definições contábeis do que são chamados custos semifixos e semivariáveis e apresentar uma nomenclatura com a qual tais custos possam ser tratados sem gerar incoerência ou confusão.

Introdução

Concordo com meu ex-professor José Walter Martinez, da Unicamp, quando ele tratava a conceituação de custos semivariáveis e semifixos como algo não dotado de pleno nexo (na verdade, as palavras dele eram outras, e um tanto mais críticas).

Se algo é dito semifixo, varia, logo é variável, e entra em conflito (ou melhor, concorda no conceito) em ser, obviamente, custo variável. Também, por algo ser dito semivariável, implica, pelo menos em período ou “estado”, em ser neste cenário, obviamente, mais uma vez, variável, logo, igualmente o dito “semifixo”. Até por esta identidade no sentido lógico dos termos, alguns autores tratam os termos como sinônimos[2], mas como veremos, até pelo seu gráfico quantidade produzida/operada vs valor, os conceitos não possuem identidade, gerando os termo habituais, apenas confusão.

Os ditos custos semifixos

Definidos os custos ditos por alguns autores serem semifixos, estes são aqueles que apresentam uma “flexão” a partir de uma determinada quantidade de bens produzidos (ou serviços prestados), apresentando o seguinte gráfico[1][2][3][5]:

São citados como exemplos típicos as utilidades, como água, energia elétrica e gás. A água usada numa determinada empresa industrial tem seu valor aproximadamente fixo até determinado volume de produção até pelo seu consumo na área administrativa e volume de limpezas necessárias, até o ponto em que a produção cresça e tenha de ser usada em determinada quantidade significativamente superior ao valor anterior. A energia elétrica, pode apresentar determinadas taxações regidas por contratos, com valores que a partir de determinado consumo, passem a gerar cobrança de valores proporcionais, adicionais a um mínimo (a fase constante no gráfico).

Poderíamos citar os efluentes, como os líquidos, e suas taxas municipais/estaduais, pois a partir de uma determinada escala, legislações específicas podem passar a carregar a empresa com determinada taxa, visando questões ambientais, ou exigir determinada estrutura de tratamento.

Outros autores classificam estes custos como sendo os semiviariáveis e apresentam como exemplos os salários dos vendedores de uma loja que sejam compostos de uma parte fixa e de uma comissão sobre as vendas, assim como os gastos com aluguel de uma loja cujo contrato de locação preveja um pagamento acrescido de uma porcentagem sobre as vendas.[4]

Assim, como queremos evidenciar, esta terminologia não só gera incoerências interna, nos próprios termos, como gera conflitos entre autores.

Aqui, o mais coerente, pela sua própria definição textual, tal como apresentado, seria chamá-los de custos flexíveis, aqueles que num determinado ponto de escala, flexionam-se, apresentam angulação em sua função com as quantidades produzidas/operadas, ou, noutros termos ganham coeficiente angular no gráfico quantidade vs valor, e deixam de ser constantes.

Os ditos custos semivariáveis

Definidos os custos ditos por alguns autores serem semivariáveis, estes são aqueles que apresentam um “escalonamento” em relação às quantidades de bens produzidos (ou serviços prestados), apresentando o seguinte gráfico[5]:

Caracteriza-se, assim como o dito semifixo, por ter um nível mínimo independente do nível de atividade (dentro do mesmo intervalo de dimensão) e uma variação em função do nível de atividade[7], mas aqui não contínua.

É citado como exemplo típico as cópias, as copiadoras e os processos reprográficos, os materiais ligados ao marketing, documentações das equipes de vendas, e de certa maneira, uma boa parte dos materiais relacionados com aquilo que define-se como despesas de vendas, com seus valores em lotes, que implicam, por exemplo numérico, de que uma produção de 5000 unidade implica em 1000 folhetos, assim como também a produção de 7500 unidades. Mas já na quantidade de 10 mil unidades, necessita-se um salto para 2000 folhetos, que por sua vez, podem ser o suficientes agora até uma quantidade de produção/vendas de 20 mil unidades.

Aqui, para exatamente diferenciarmos do caso anterior, poderíamos destacar uma loja num shopping que possui um valor de royalties a ser pago pelo seu contrato de 1000 até um valor de faturamento de 100 mil, posteriormente, com faturamento crescente, passa a pagar 2000 até 150 mil, depois paga 3000 até 200 mil, não tendo, pois, continuidade nem proporcionalidade “suave” (derivável) entre o valor a ser pago de royalties e seu faturamento.

Pela sua própria definição textual, vista acima, o mais coerente, seria chamá-los de custos escalonáveis, aqueles que em determinados “lances” de escala, variam formando “platôs”, mas ainda não ganhando coeficiente angular no gráfico quantidade vs valor, e mantendo-se constantes por intervalos de quantidades produzidas, não apresentando continuidade entre tais “platôs”.

Considerações finais

Na realidade, a questão é apenas da teoria e dos modelos matemático/contábeis que serão aplicados, pois a questão é sempre mais fluida no tempo, composta e estocástica, como podemos ver no gráfico abaixo.

Gráficos representativos dos custos variáveis, adaptado a partir de material da FGV, por MELO.[6]

Referências

  1. CREPALDI, Silvio Aparecido. Curso Básico de Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 2005.

  2. LEONE, George S. G. Curso de Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 1997.

  3. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

  4. SÁ, Carlos Alexandre; O Método de Custeio por Absorção e o Método de Custeio Variável – Disponível em: http://www.proppi.uff.br/turismo/sites/default/files/o-metodo-de-custeio-por-absorcao-e-o-metodo-de-custeio-variavel.pdf

  5. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens; GESTÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOS: Com Aplicações na Calculadora HP 12C e Excel; Ed. Atla, 2008; ISBN: 9788522451487

  6. MELO, Henrique; Contabilidade Gerencial; Apostila;Sociedade de Ensino Superior do Piauí/SESPI – Faculdade Piauiense – FAP – Coordenação do Curso de Administração – Disponível em: http://www.slideshare.net/zeramentocontabil/contabiliade-gerencial

  7. Jorge Caldeira; Custos fixos e custos variáveis - http://www.iapmei.pt/iapmei-art-03.php?id=580

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