Custo Gerador – Conceituação

O custo fundamental na operação de empresas

Um ensaio sobre uma metodologia simples de estabelecer-se a situação real e simplificada de uma empresa em dificuldades ou no caso de uma empresa sã, de estabelecer-se um parâmetro geral de seu desempenho.

Introdução

Neste artigo trataremos de uma conceituação em custo útil ao tratamento de empresas em dificuldades, no dia a dia para avaliações do desempenho ou ainda para estabelecer-se avaliações de potencial de faturamento e valores para aquisições de empresas de contabilidade não muito formal.

Fatores geradores

Definiremos fatores geradores (não confundir com fato gerador, conceito de natureza tributária) aos custos de uma empresa que sejam fundamentais, nevrálgicos, à geração de caixa e consequentemente a geração de contribuição, visando o pagamento de despesas fixas ,custos fixos ou definidos no tempo, como mensais, ou qualquer descrição de custos relacionados no tempo que sejam consumidores (“drenantes” da contribuição gerada) do caixa e não geradores deste (e correlatamente, também não geradores de contribuição).

Exemplificação:

    • Uma fruteira, totalmente comercial tem no total de compras de suas frutas a comercializar o fator de geração de caixa, logo, de contribuição.

    • Numa simples padaria, as matérias primas como a farinha, os ovos, o açúcar, assim como as utilidades principais, que podem ser a água, a luz, o gás e a lenha (se forno a lenha) podem ser considerados fatores geradores, pois do seu processamento (das matérias primas) e utilização (das utilidades) será produzido o pão e outros que gerarão faturamento.

    • Numa metalúrgica, os metais e ligas igualmente serão considerados fatores geradores pelos mesmos motivos, similarmente podem ser acrescidas as utilidades e parcelamentos ou depreciação de máquinas e equipamentos (na mesma variação de tempo, digamos, para padronizarmos nossa análise, mensal).

    • Uma empresa de mineração e processamento de minério ou petróleo e seu refino tem seu faturamento possível em função da quantidade de minério que extrai, e portanto seu custo, assim como petróleo extraído ou comprado de fonte externa.

    • Num hotel, uma empresa de serviço, pode-se estabelecer o fator gerador sobre o consumo de água e energia elétrica, relacionados diretamente ao número de hóspedes no período, além do valor do imóvel e ativos em sua depreciação ou parcelamento.

    • Numa empresa de construção ou manutenção fortemente sustentada no faturamento pelo número de funcionários operacionais (de execução, as atividades geradoras de caixa) e consequentemente de sua folha de pagamento (custo de mão de obra).

    • Mesmo uma empresa de prestação de serviço complexa como uma empresa aérea tem no consumo de combustível, acrescido de seus aviões e reposição de peças adequadamente custeados no tempo, íntimo relacionamento com o volume de passagens que venderá.

Assim, percebemos que toda a empresa possui um conjunto de fatores geradores, que invariavelmente, ainda que de extremamente variada maneira, permitirá calcular sua geração de caixa (e mesmo avaliar nisto sua eficiência e estabilidade, caso que veremos adiante), independentemente de ser uma empresa comercial simples, industrial ou mesmo de prestação de serviço.

Evidentemente o caso mais simples é de uma empresa comercial, onde há a entrada de mercadorias a um determinado valor total num período e há a geração de caixa proveniente das vendas. As empresas industriais acrescentam um índice da produção/processamento, que poderá ser reduzido à um índice similar ao comercial. Igualmente procederemos quanto às empresas de prestação de serviço, com suas devidas adaptações e cuidados quanto a critérios de classificação de quais são os verdadeiros fatores geradores.

Custo gerador

Em outras palavras, e agora acrescentando um conceito, definamos, portanto, como custo gerador aquele custo fundamental para a operação de uma empresa, seja ela comercial, o caso mais simples, industrial, o caso mais complexo mas reduzível a um caso comercial, ou de serviços, caso que por analogias e modelagem simplificada, é transformável matematicamente no caso modelar de uma empresa comercial, e tal custo gerador será o total dos custos dos fatores geradores.

Assim, por tal definição e exemplificações, definimos que independentemente da atividade, pode-se definir um valor de custo gerador específico, e toda a atividade empresarial, que na verdade é uma atividade de geração de caixa, tornar-se-á vinculada ao abastecimento deste custo, para manter, metaforicamente falando, a “oxigenação” deste custo, sem o que, também metaforicamente, a empresa tenderá inexoravelmente à “asfixia” de sua capacidade de geração de caixa.

Voltando a nossos exemplos, sem o sustento do custo gerador, não se dispõe na fruteira de frutas, na padaria de farinha, na metalúrgica de metais, na refinaria de óleo bruto, na empresa de manutenção de mão de obra, no hotel de água, na companhia aérea de combustível para os aviões decolarem, e a falência será certa, pois o tempo é inexorável e virão as despesas correntes, e se não honradas pela própria falta de sua contribuição correspondente sobre os custos geradores (e vimos que somente destes advém, pela própria definição) haverá o endividamento crescente no tempo até o total colapso, independentemente de os custos geradores já terem sido causa de endividamento a ser futuramente coberto.

Uma observação de destaque, pelo evidente e claro, é que custos geradores são sempre intimamente ligados à geração de caixa, mesmo para recursos similares à primeira vista: veiculos de vendedores poderão ser considerados custo geradores, mais ainda numa empresa de representações, mas veículos da gerência/diretoria, não.

Margem

Assim, sobre este custo gerador, que definiremos a partir de agora por G, multiplicar-se-á por por um coeficiente específico para a empresa em questão, que poderá ser uma “marcação global” para o caso de uma empresa comercial, um índice de “marcação de produção e comercialização” para uma empresa industrial* ou ainda um índice de “marcação sobre custos operacionais principais” sobre custos operacionais principais, que definiremos por M.**

Notas:

*Exemplificando, por experiência pessoal, citando um caso específico, um determinado ramo industrial possui um índice da produção a partir de uma matéria prima de 1,47 (com baixo custo de máquinas e equipamentos, e mão de obra não intensiva) para ter-se determinado produto disponível no estoque para a comercialização, e a partir daí, mais um índice de 2,14 para o preço final, de onde tem-se um índice global nesta empresa de 3,15 , arredondado.

**Deste modo definido, a metodologia que apresentamos trata-se portanto de umametodologia de custeio por taxas ou índices estruturais de custos, apenas não considerando uma conceituação específica de custos variáveis/fixos ou diretos/indiretos, como tratado em diversos métodos, seja pela quantidade produzida, seja sobre matéria prima, seja pela mão de obra direta, seja pela taxa sobre o total de custos diretos de produção ou custos primários, seja pelo custo hora-homem.[1] Estas metodologias são amparadas em extensa bibliografia, mas nossa metodologia é uma metodologia paralela a esta, não formadora de preços, mas de metas de custos a serem obtidos e um global de preços e margens a serem alcançados.[2][3][4][5][6]

Faturamento

Assim, G multiplicado por M levará ao volume de caixa possível de ser realizado (e sempre partindo do necessário ao sustento da empresa, como veremos), ou realizável possível, que grosseiramente chamaremos de “faturamento“, que definiremos por F.

F = M . G [1]

O “faturamento” é igual ao índice de marcação (inclusive permitido pelo mercado na formação de preços numa atividade comercial, por exemplo) multiplicado pelo custo gerador, ou resumidamente, gerador.

Esta será a “equação fundamental de geração de caixa” de uma empresa qualquer.

Note-se que por tais definições, G não é capital de giro e não precisa se manifestar como disponibilidade de caixa, seja em “sonante” (moeda), seja em saldos em contas bancárias, podendo ser uma linha disponível de crédito em fornecedores (as frutas sendo entregues por distribuidor a primeira hora da manhã, para posterior pagamento), ou mesmo prazo hábil para pagamento de mão de obra, como casos que apresentamos, mas igualmente, tal custo terá de ser honrado e “reposto”, permanentemente.

Sobre o caixa

Usaremos um neologismo, “caixeamento”, que deve ser introduzido a esta altura de nossa apresentação com o objetivo de diferenciar, até psicologicamente, o que seja o faturamento possível de ser obtido (o realizável) em contraste com o realmente obtido em valor do mercado na quitação de todos os títulos a receber emitidos. Assim, o faturar (relacionado ao termo faturamento) é por exemplo a emissão de faturas/duplicatas, mas não necessariamente a quitação destas, de onde podemos afirmar com segurança que o caixeamento a priori, será de valor menor que o faturamento pelas diversas formas de inadimplência, aos quais se somarão “fugas”, como golpes de estelionatários, desvios de mercadoria e desfalques, furtos e assaltos, perdas acidentais, etc.

As situações empresariais sempre são reais, jamais ideais.

As “diferenças de débito” lançadas e executadas (juros, moras, custos de cobrança diversos) devem ser somadas, creditadas, obviamente, ao caixeamento (aqui o a posteriori da questão), exatamente porque compõe este, e seu objetivo é poder tender ao “faturamento possível” ao valor do “caixeamento necessário”, cujo objetivo é a cobertura dos custos variáveis (ou indiretos) conforme o caso, necessários ao funcionamento da empresa, inclusive os “lucros pretendidos”*.

Nota:*O lucro pode incluir reservas para futuros investimentos, a cobertura de imprevístos e imprevisíveis, ou mesmo no caso da empresa problemática, a manutenção de um regime de quitação de débitos com certa marginalidade (no sentido de margens, inclusive de segurança para imprevistos), de outra maneira impossíveis de serem futuramente cobertos, ainda que todas estas definições, estritamente, não sejam propriamente lucro, no sentido da contabilidade.

Tal longa observação sobre esta questão é fundamental quando se tem em mente a seguinte máxima:

Caixa é fato, lucro é teoria.

Despesas no tempo

Definidos F, M e principalmente G, temos que o objetivo de F é sustentar uma estrutura empresarial qualquer que custe na variável tempo um total de custos fixos (e aqui podemos usar o conceito de custos indiretos de forma adaptada também) a serem honrados, pois igualmente são necessários (ou devidos como um passivo, originados após erros anteriores, inclusive distribuidos dentro de uma nova engenharia financeira).

Chamaremos a estes custos de D (de despesas, mas com uma definição mais estrita). Deste modo F cobre D, mas tem de suprir necessária e imprescindivelmente, como vimos, G, pois de G gera-se tudo, de onde

D = F – G .’. G = F – D [2]

Destas duas equações simples relacionadas tem-se o disponível do faturamento para a cobertura de despesas extra o fator gerador assim como o limite de despesas para a manutenção do gerador a ser recuperado para o próximo período a ser tratado, tanto estrategicamente, como para análise do statusda empresa.

Esta situação dá-se num limite perfeito e estrito, “sobre o fio da navalha” e não pode ser ultrapassada a menor, para o caso de G, com a pena de se perder a capacidade de geração de caixa, como a maiorpara D, sob pena de diminuir G (no futuro). Tal entendimento é de fundamental importância para os administradores financeiros da empresa, em especial, se não dispondo de margens de manobra para correções de trajetória por abalos de crédito, ou limitações nos fornecedores, o que por si, é uma limitação, mais uma vez, em G, logo, na geração de caixa.

Se definirmos por C a contribuição necessária produzida pelo gerador G, observaremos tal conceituação mais claramente, e teremos igualmente, já que no equilíbrio C=D:

C = F – G [3]

E para a geração de lucro (L), minimamente possível, uma contribuição lucrativa (C’):

C’ > D e C’ = D + L [4]

Voltando a questão do ponto de equilíbrio (aqui tratado num quadro mais profundo e amplo que o habitual para empresas comerciais/industriais monoproduto ou mesmo, como trataremos noutro artigo, adaptado à empresas multiproduto), de [3], fazemos:

C = M.G – G .’. C= (M-1).G

G = C/ (M-1) e F = [M/(M-1)].C * [5]

Nota:*Embora não necessitemos desta última equação pois já temos F em função de M e G por [1].

De onde temos o quanto de fator gerador necessitamos para a empresa “contribuir” (gerar contribuição) para sustentar sua própria estrutura e dinâmica sem tocar no gerador, que passa a ser a rúbrica sagrada sem a qual toda e qualquer geração de caixa, seja para o sustento do dia a dia normal da empresa, seja para o extremo da proximidade do falimentar, torna-se insustentável no tempo, convergindo a atividade para o inoperacional ou simplesmente impossível de ser administrada.

Observações finais

Deve-se observar que o equacionamento F=M.G guarda similaridade com o conceito e equacionamento de quantidade de movimento da mecânica clássica newtoniana P=m.v (quantidade de movimento é igual a massa vezes a velocidade), de onde podemos perceber que como Mindepende do tamanho da empresa, assim como v independe da massa de um corpo, M é igualmente relacionado a velocidade e qualidade com que uma empresa transforma G (que pelo valor intrínsico à empresa relaciona-se com m intrínsico ao corpo) em F. Tal similaridade nos permitirá desenvolver correlações futuras para o tratamento matemático das questões envolvidas de G e F no tempo, necessário para o suprimento de custos financeiros e relacionamento com giros de estoque, por exemplo.

Finalmente, esta metodologia presta-se a um planejamento macro das operações de empresas, medidas de força (rígidas), quando da reengenharia sobre endividamentos, cortes de despesas supérfluas e um critério basico para a busca de resultados, assim como um bom indicador do valor de empresas pelo seu faturamento, quando de aquisições, mesmo sob crises, não para a formação detalhada de preços (embora balize este processo) nem para tratamentos contábeis e fiscais.

Referências

1. BACIC, M.J., CARPINTÉRO, J.N.C. & MARTINEZ, J.W. (1982) Introdução ao Custo e aos Sistemas de Custeio, mimeo, Unicamp

2. BACIC, M.J. & VASCONCELOS, L.A.T. (1997) Principais Questões Conceituais e Práticas da Gestão de Custos, mimeo, Unicamp

3. BACIC, M.J. (1998) Administración de Costos: Processo Competitivo y Estratégia Empresarial; tesis Doctor en Ciencias de la Administración, Universidade Nacional del Sur, Bahia Blanca, Argentina, caps. IV e V.

4. BERLINER, C. & BRIMSOM, J.A. (1992) Gerenciamento de Custos em Indústrias Avançadas, Base Conceitual CAM-I. T.A. Queiro Editora, São Paulo

5. BEULKE, Rolando, e BERTÓ, Dálvio José (2001) Estrutura e Análise de Custos, Editora Saraiva.

6. COPELAND, TOM et alli Avaliação de Empresas (2001) Makron Books

7. MAITAL, S. (1996) Economia para Executivos, Edit. Campus, cap. 1

8. MARTINS, E. (1982) Contabilidade de Custos, Ed. Atlas

9. NAKAGAWA, M. (1991) Gestão Estratégica de Custos, Ed. Atlas

10. OSTRENGA, M. et alli (1992) Gestão Total de Custos - Guia da Ernest Young, Ed. Record

11. JURAN e GRYNA (1988) Juran's Quality Control Handbook - Quality Costs, Section 4, McGraw Hill, New York

12. ROBLES, A. (1993) Custos da Qualidade, Ed. Atlas

13. WARREN, Carl S. et allii (2003) Contabilidade Gerencial, Pioneira

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