Sentia o passar das horas e o chegar do cansaço, resistindo às tentações de parar em cada curva do caminho. Não olhava pra trás, vai que tivesse deixado alguma coisa lá além dos passos.
Estava mergulhado em vales iluminados por raios de sol tão rebeldes quanto à alma e o espírito, onde novas estradas se abriam e reluziam no tempo.
No infinito do céu vislumbrava o silêncio do voo de um pássaro, que irradiava um brilho azul- prateado, em que a gratidão do visual foi retribuída com um piscar de olhos e uma gota de suor, no simples arrancar do velho chapéu...
Com o avançar do dia foi deixando o fardo da vida pelo caminho, tornando-se pó da estrada e poeira do tempo. Não tinha mais identidade, uns chamavam de andante, outros de peregrino... Não se importava, apenas seguia em frente!
Resistia aos contrários e às indolências da vida, atravessando histórias de tanta gente e tanto lugar. Olhou para o lado e viu que não estava sozinho, um espírito feminino abençoava seus passos.
Imperceptível no início, sua luz havia se intensificado e sustentado seu caminhar até aquele momento. Cabia a ele alcançar o destino – se é que ele existe – e cumprir sua sina, pois já não importava mais a roda do tempo, a areia da ampulheta ou a insanidade do gesto, apenas sua alegria...
A transformação pelo ato de caminhar havia se concretizado, não faltava nada naquele dia. No próximo, quem sabe novos limites serão criados, buscando a liberdade na mais clara luz?
Olhos e memórias serão a prova disso, mesmo que muitos não queiram acreditar...
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Susumu Yamaguchi – Arcos de Equinócio – 2005.