Toda rua estava tomada pelo nevoeiro, era mais uma típica manhã de domingo na Serra da Mantiqueira. Na cozinha da residência no fundo do bar, Eduardo, mulher e filhos tomavam um café da manhã reforçado, preparando-se para um longo dia.
Com muita animação, a comunidade do bairro cruzava toda a extensão da Rua Bernardino de Carvalho Pinto, em direção ao campo de futebol localizado nas várzeas do córrego das Águas Claras, onde o bar improvisado era montado. Garotos, torcedores e jogadores ocupavam seu espaço nos barrancos e laterais do campo, outros encostados na cerca de arame farpado.
A disputa do dia era um clássico joanopolense: Olaria Futebol Clube X São João Futebol Clube. Famílias inteiras estavam representadas por jogadores que iniciavam o aquecimento, nomes como Lico, Novo, Benê, Rogério, Zé Elias, Marcelo, Nhonho e outros, sob o comando do técnico Pedrinho, preparavam-se para a grande partida.
O objetivo da disputa não era dinheiro, apenas um troféu, honrando a amizade e o espírito esportivo daqueles homens, histórias que se cruzavam nas quatro linhas. O apito do juiz inaugurava a partida, logo os gritos da torcida anunciavam o primeiro gol do Olaria, num erro do time adversário.
Time de tradição e raça, o São João empatou e virou a disputa, com uma jogada individual e um belo gol de cabeça. Na bola parada, o Olaria reagiu e empatou, sob os aplausos da garotada. Àqueles homens eram verdadeiros ídolos cotidianos, enaltecidos nos vistosos uniformes das equipes.
Já nos acréscimos, numa pancada de fora da área, Lico definiu o jogo para a equipe do Olaria. Após o apito final do árbitro, toda a torcida invadiu o campo, aos gritos e saltos, conduzidos pelo sorriso do eterno Eduardo. O troféu foi entregue pelo folclórico Tião Sabino, seguido do tradicional grito de campeão e da volta olímpica.
Voltando à realidade, pena este ser apenas um conto, pois o time do Olaria não existe mais; o campo, o bar e a várzea também não, perderam espaço para serrarias; Eduardo do Bar e Tião Sabino não estão mais entre nós; e a garotada do bairro não se reúne mais para disputas futebolísticas. Resta a lembrança e saudade de domingos memoráveis, de momentos marcantes e de jogadores que, na verdade, eram simplesmente homens. Velhos camaradas, unidos por uma paixão!
Por Diego de Toledo Lima da Silva
Data: 08 de Outubro de 2015