Ao norte, o perfil desafiador se exibia no horizonte, uma grande cadeia de montanhas que galgava o céu. Entre aquelas muitas serras, um pequeno vilarejo e uma dúzia de homens arredios e nada mais. Ali, próximo de uma cruz de madeira e no entorno da fogueira era celebrado São João, o santo junino.
Chegada a noite fria e tomada por estrelas, entre uma cumbuca e outra de aguardente, alguns daquela gente se aproximaram e começaram a contar sua história...
Parece que a permanência naquele lugar era interpretada como um castigo, longe de tudo e de qualquer sinal de civilização. Seriam gente fora-da-lei, fugitivos do Velho Mundo ou andantes de um mundo perdido?
Talvez sejam uma mescla de sangue de gente e bicho, entrelaçados por lendas e mistérios da lua cheia, pois o fogo que ardia em chamas se misturava à aguardente, tornando mulheres simples em contrárias do bom costume, ao som de gritos de bugios.
Nossa expedição deixou àquele enclave no dia seguinte, pensando nas histórias contadas pelos velhos homens... Fiquei a imaginar a noite de São João e como seria o romper dos anos no vilarejo de nome Bairro dos Cuñas, gente lançada à própria sorte, movidos pelo horizonte do imediatismo e do ato de sobreviver cotidiano, entre um gole e outro de aguardente.
Quem sabe um dia construam casas sólidas, ruas e estradas, e ali se torne uma vila?
De certo, sempre será um local no caminho pras Geraes, terra de João...
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Referência: Texto de autoria e título desconhecido, um provável relato de um naturalista que passou por Joanópolis (SP) no início do século 19, cedido pelo amigo e cronista joanopolense Susumu Yamaguchi, que recebeu de um amigo, que por sua vez recebeu de outro amigo...