Vencido pela Serra do Lopo alguns anos atrás, resolvi desafiá-la novamente. Meu companheiro de caminhada desistiu antes do amanhecer, com um telefonema inconveniente ainda durante a madrugada.
Mais uma vez estava só por àqueles caminhos, solidão desafiada pelos sons da natureza e de meus próprios passos. Enquanto as vozes do interior clamavam pelo topo do morro, o movimento próprio do caminho ecoava ruídos pelas matas, campos e pinhais.
Genuínos representantes da flora de altitude, manacás refletiam as cores da estação de outono, com suas manhãs e ventos gelados. A fria água brotava da encosta por fendas e caminhos muitas vezes tortuosos, claras como o céu do mundo, tão próximo da aba de meu chapéu.
Os vários cenários rurais carregavam os olhos e a alma pela sua simplicidade, assim como a gente com moradia fixa nesta região. Gente decidida pelo isolamento e pelos ventos, na velocidade própria de um tempo antigo.
A vastidão do horizonte trouxe as boas novas de um despertar vivo e cheio de histórias, com o sol acordando em Minas, suas eternas serras e morros gerais.
No intervalo de algumas horas havia vencido o morro e atingido seu topo, sentindo o vento soprar no rosto no alto dos pensamentos e dos campos de altitude. Ao longe enxergava cidades, rodovias e o volume morto, este último um contraponto à vida que brotava nas terras altas da Mantiqueira.
Segurando o chapéu e enfrentando a rota dos ventos, o visual sul ou norte era escolha incerta, dispersa em cada curva da velha estrada. Percorrendo suas linhas, palavras soltas e frases mal formadas discordavam dos pensamentos rotineiros.
Após o retorno e com o passar das horas da tarde, já num sítio urbano na terra de São João, avistei o velho Gigante Adormecido, ralas nuvens e um por do sol alaranjado, finalmente compreendendo que o sol acorda em Minas, mas dorme em São Paulo...