Quase uma lenda, por muitas vezes havia escutado histórias do caminho de Pedrinhas, uma trilha que atravessa um duro trecho da Serra da Mantiqueira, atingindo terras rurais da cidade de Guaratinguetá.
Estava próximo de 2 mil metros de altitude, tendo vencido a subida do Parque Estadual de Campos do Jordão e as terras da APA Serra da Mantiqueira, em divisa com a Fazenda Lavrinhas.
Da visão total da paisagem adentrei numa densa serração, onde a única coisa que enxergava eram alguns metros à frente, numa introspecção forçada pelo tempo.
Um bambu como cajado e passos cuidadosos pelo barro, banhado por gotas de orvalho da mata que beira a estrada. Realmente, o trecho é aquilo e um pouco mais do que as histórias contadas pelos muitos andarilhos, peregrinos e romeiros que haviam se arriscado a enfrentá-la.
Nas estradas da vida, muitas vezes as circunstâncias forçam uma reflexão interna, quando os olhos perdem sua importância e são aguçados outros dotes sensoriais. São nestes momentos que ficamos mais próximos do espírito, numa viagem memorial pela nossa própria história.
Após horas descendo, finalmente alcanço o bairro do Gomeral, olho para trás e vejo apenas pedaços de um enorme morro envolto de nuvens... Respiro fundo e sinto arrepios repentinos no corpo cansado.
Decido não olhar mais para o que ficou para trás, apenas para que o que virá... Sempre em frente, em frente será! Ando mais alguns quilômetros e logo vejo o Vale do Paraíba ao longe... Quem diria que chegaria aqui?!
Mas não olho mais para trás, pois sei que meus passos ficaram marcados no barro da descida de Pedrinhas, até que a próxima enxurrada destrua qualquer vestígio de gente naquela terra...