Flor do ipê

Entre os dedos viu escapar mais uma chance de recomeçar, galhos secos por um caminho duro que se revelava cada vez mais longo.

Olhava para o lado desconfiado de outros passos e de novas amizades... Talvez as decepções do passado tenham virado cicatrizes tão profundas, que mesmo depois de tanto tempo continuam abertas.

As voltas do mundo exigiam uma nova visão da vida, um novo modo de viver. Assim, abriu seu coração para sua amada, revelou suas aflições e respirou fundo...

Sentiu o corpo mais leve, sem o peso do que já passou. Olhou pela janela, viu a estrada de chão e, passo a passo, descobriu que não era tão longa assim. Em suas margens, antes de galhos secos, enxergou o florescer de ipês, lentamente carregado pelos ventos ao toque de beija-flores.

Sorriu para o céu e agradeceu o belo dia, subindo a encosta na busca do infinito e de seus velhos amigos, alguns que já se foram, outros que permanecem na distante lembrança do coração.

No alto do morro vislumbrou a beleza da paisagem de uma terra sem fim, estradas e rios que levam a tanto lugar. Naquele momento, uma lágrima correu pelos seus olhos...

Seu coração não era mais duro e solitário, as palavras de sua amada e as flores do ipê haviam transformado regras em sonhos, passado em histórias vivas, como canções perdidas no tempo.

Retirou o chapéu em reverência ao velho lá de cima, que tudo vê... E assim seguiu em frente para o fim de mais uma jornada, que na verdade não representa o fim – mas apenas o intervalo para um novo começo – outro dia quem sabe?