A simetria de terras com tantas histórias permitiu a visualização de perfis típicos de discussões efêmeras sobre secas e cheias. Mesmo que a chuva viesse naquele final de tarde, o debate persistiria sobre a gestão de águas tão raras, apesar das mudanças de paisagem ser sempre deixadas de lado.
Já ele, um espírito nativo, atravessou a cerca de arame farpado e encostou-se a um tronco cortado pelas forças da motosserra, uma árvore – uma história – a menos. Olhou para o lado e viu novos indivíduos vegetais interpretando o tom da música da natureza, onde a vida prevalece sobre a morte.
Por isso, a curva de nível do volume morto foi demarcada por uma cruz de madeira, não só pelos tempos atuais, mas pelas almas passadas enraizadas no vale do rio Jacareí.
Pelo lento conduzir de suas águas, num filete estampado pelas marcas de uma seca, subimos o leito do rio até a mais alta de suas nascentes, e lá entristecemos pela visão proporcionada.
O espírito e eu atravessamos o divisor de águas e, no mais alto dos pontos territoriais, não enxergamos solução para os perfis esculpidos pelo homem. Suas bombas sugavam as águas pertencentes a esta terra, mas não devolviam a dignidade e história dos desabrigados.
Voltamos e sentamos no tronco daquela árvore, sepultada pelas mãos de algum homem, onde enxergamos águas cada vez mais distantes, ruínas de moradores antigos e uma velha estrada, eternizadas na memória dos viventes.
Lá do alto, as nuvens encaminham mensagens de novos tempos de adaptação, perfis das almas de nativos expulsos por águas interiores.
Referência:
Susumu Yamaguchi. Perfis. Revista Eletrônica Bragantina On Line, nº 38, dez/2014.