A carta do embornal

Ainda lembro o tempo que ele abraçava a madrugada da metrópole, saindo para as mesmas ruas, vilas e vielas de todos os dias. Percursos tão conhecidos quanto os trechos desta romaria, também percorridos na madrugada de um céu de estrelas.

Quantas cartas, encomendas e telegramas ele já entregou? Provavelmente milhões... Confesso minha total incapacidade de acertar este cálculo, a única certeza é que seu coração é grande, igual seu caráter.

Seu uniforme é amarelo e azul, um herói trajado pelas vestimentas da rotina de luta pelo pão nosso de cada dia, longe das manchetes de jornal e dos destaques televisivos.

Todo o tempo do mundo seria pouco para suas histórias, lembranças e proezas. Que oportunidade seguir junto dele nesta caminhada, nesta estrada em que vidas se cruzam sob a luz da lua, passos pelo infinito caminho da vida, livre como tantas cartas que viajam pelo mundo.

Fico a imaginar um velho carteiro que não recebe cartas, que solidão...

Carregava algumas coisas no embornal e, num dos pousos, rascunhei algumas palavras vindas do coração num pequeno pedaço de papel e coloquei num envelope.

Próximo de nosso destino me apoiei em seus ombros, tirei a carta e o entreguei... Seus olhos brilharam intensamente na leitura de frases tão simples quanto seu modo de vida, um exemplo de homem e de profissional.

Na porta do santuário um abraço selou nossos laços de amizade para a eternidade, conduzidos pelo toque dos sinos de alguma canção postal. Eram poucas as palavras na carta, finalizando com um “muito obrigado”.

Obrigado carteiro... Obrigado meu pai... Obrigado meu velho camarada!

(Crônica classificada em terceiro lugar no II Prêmio Radiotelegrafista Amaro Pereira de Crônica - Ano de 2015, com o tema "Uma carta ao carteiro" - Link: http://radiotelegrafistaamaropereira.blogspot.com.br)

Por Diego de Toledo Lima da Silva

Data: 26 de Dezembro de 2015