Reza a lenda que há vinte mil anos a Serra da Mantiqueira foi palco de uma disputa entre duas estrelas pelo coração de uma princesa. As estrelas eram Altair e Polaris, eternos rivais. A princesa era Terumi, uma gueixa caipira.
No sertão coberto de cerrados, vazio de todo tipo de gente, Altair e Polaris assumiram a forma de homens robustos, travando lutas acirradas em meio à natureza. Terumi, a mais desejada, ao amanhecer do dia seguia para os campos de arroz, cultivados por suas delicadas mãos. Do céu, as estrelas a observavam e, durante a noite, a terra era palco da luta pela princesa sertaneja.
Toda noite, Terumi espalhava seus prantos, um triste choro que alagava os vales. Com sua fina voz, ecoava gritos por todo canto: “Parem com essa batalha inútil, Altair e Polaris!”.
Esforço e empenho em vãos, as estrelas continuavam sua guerra, mentes ríspidas como o clima daquele local, muito frio e seco. Os elementos do sertão e as plantas dos campos eram testemunhas do conflito, além de cúmplices da tristeza que se tornaram os dias de Terumi, definhando rapidamente.
E sua tristeza tinha motivo, numa noite seu velho pai sofreu um mal súbito e se transformou na lua, que iluminava os cerrados, matas e a batalha daquelas estrelas.
Mas a estrela mais cobiçada perdia seu brilho com o passar dos dias, ofuscada pelo sangue da ignorância. Numa madrugada, tendo perdido sentido em sua vida, Terumi terminou a história da primeira guerra deste mundo. Abraçada a um jacarandá emitiu um brilho intenso nunca antes visto, tornando-se o sol nascente.
A luta acabou, Altair e Polaris voltaram a ser simples estrelas. Terumi e seu pai iluminaram para sempre àquelas terras, ela durante o dia, ele durante a noite!