Lembro-me da eterna infância, vivida a partir dos oito anos numa pequena cidade da Serra da Mantiqueira. Prelúdio de passarinhos anunciavam o amanhecer na chácara urbana, com minas, rios, hortas, plantações e pés de frutas.
Logo cedo, encontrava-me com grandes amigos na parte baixa da Rua Bernardino de Carvalho Pinto, onde o futebol era o esporte predominante. Liquinho, Carçudo, Ditinho, Tadeu, Jefinho e outros eram os garotos que tomavam a rua em diferentes disputas. As brincadeiras eram próximas do Bar do Eduardo, local em que bebíamos deliciosas tubaínas e comíamos doces diversos.
No fundo do bar ainda existe um grande terreno, coberto de pasto com alguns cavalos e bois. Nele reinava o futebol, vôlei e tênis, disputas que marcaram nossa história. Num certo dia, o cuidador do gado colocou uma placa no local com os seguintes dizeres:
“É proibido jogar futebol neste terreno”.
No dia posterior instalamos um bambu do outro lado e puxamos uma corda, formando um gol. O homem ficou louco com a criançada!
Ao lado deste local residiam marcantes vizinhos, como o folclórico Tião Sabino, uma senhora que conhecíamos como Bruxa do 71 e a Dona Laudelina. Aliás, era no portão desta última que formávamos o gol do três dentro e três fora.
Tínhamos um sério problema, muitas vezes a bola caía no quintal da senhora conhecida como Bruxa do 71, e ela furava o objeto com uma faca de açougueiro. Assim, toda vez era uma operação de guerra para resgatar a bola.
Outra lembrança eram as partidas de futebol disputadas contra a garotada da Vila Sanches. Nossos rivais: Chiquinho, Bruno, Caio, Felipe (Marciano) e outros. Isso sem contar nas partidas disputadas no campo do antigo clube do Olaria e os banhos gelados de cachoeira. Na quadra principal da cidade ocorriam campeonatos do nascente esporte futsal. Sagrei-me bicampeão municipal infantil, ainda guardando as medalhas dos títulos.
Outra notável lembrança foi do ano que disputamos o campeonato infantil de futebol de campo de Joanópolis, representando o Olaria Futebol Clube no campo do Bela Vista. Foram seis jogos, quatro derrotas, um empate e uma vitória no último jogo. Sentíamo-nos como verdadeiros atletas, treinados pelo grande Pedrinho. O time: Liquinho (goleiro), Bruno, Felipe, Chiquinho, Caio, eu e outros.
Isso sem contar nas guerras com frutas da árvore magnólia-amarela e dos confrontos de estilingue, braços e pernas doloridas. Para refrescar o calor, banhos nos córregos e rios do bairro, além de comer frutas no pé, como manga, ameixa, abacate, jaca, morango e amora.
Dezenas de páginas não dariam conta de lembranças dos acontecimentos vividos. Reviver é lembrar os dias passados como se fossem atuais. Memória e lembrança de amigos eternos, uma vida boa de interior, sem perigos e medos, vividos intensamente.
Por Diego de Toledo Lima da Silva
Data: 17 de Setembro de 2015