O vazio da velha estrada preenchia o tempo e o espaço de dias turbulentos, na vastidão dos degraus de terra sertanistas. Pingos de suor embaçavam as lentes de grau, protegidos dos raios de sol pela aba de um chapéu de pano.
Olhava no entorno e não enxergava mais do que árvores e matos queimados, além de impactantes atividades humanas. Deve ter havido um tempo que esta estrada era sombreada por densas matas, refrescando a caminhada e o dom da visão dos percalços inóspitos.
Nenhuma placa indicando os bairros próximos, nenhuma porteira de sítio e nenhuma gente nativa, apenas a paisagem interminável de terras planas, quase que uma loucura desconexa gerada pela mente.
Das miragens que aparecem pelo caminho, uma cruz de madeira é a mais real de todas, posicionada lateralmente ao leito do caminho, entre fileiras de cana. Olhando fixamente para àquele sinal dos tempos viajei por trechos de dias anteriores, onde fui recebido numa pequena capela rural pelo toque de seu sino.
No interior daquela capela pude enxergar além das limitações impostas pela vida cotidiana, explorando belas histórias e imagens que se integram à natureza. Apesar de ter passado muitas vezes por aquela capela, toda vez é um sentimento novo, um novo detalhe e a possibilidade de reflexão.
Assim, voltando aos pés da velha cruz, pude sentir sua conexão com tantos locais, com tanta gente, lembranças e fatos passados. É estranho, mas ali senti certa intimidade com os muitos caminhos dos últimos tempos, verdades de um sertão e suas muitas vertentes...