A natureza de sua alma revelou a face oculta da noite, acompanhada de uma leve chuva intermitente.
Seus olhos brilhavam observando o escuro do horizonte, talvez revivendo suas lembranças mais íntimas, seus sonhos de saudade sem fim.
Enquanto os pingos d’água corriam pelo vidro da janela, lá fora o vento balançava as flores para um lado e outro, num passo de dança quase perfeito e sincronizado pelo tempo.
O mesmo tempo que nos transportou até aqui, apesar dos tombos da vida podemos dizer que chegamos...
Enquanto tiros e bombas afetam tanta gente, aqui nesta terra apenas o som da chuva é possível de ouvir e sentir, que sorte... É uma pena que o mundo real é ainda pior que um futuro obscuro e um passado vazio, num viés de loucura e solidão.
No meio deste manicômio somos a resistência, buscando sermos fortes como os botões daquelas flores, que mesmo com o vento permanecem abertos para o mundo, como um recado.
Após alguns minutos volto a te observar e sinto a paz de sua alma, com seu reflexo na vidraça, numa mensagem de apoio às flores: “Calma, vai passar...”
Essa lição serve aos nossos dias, acalmando um coração sacudido pelas páginas do jornal, saber que vai passar, vai passar!
Assim, sempre que fraquejo me lembro da eternidade daquela cena, enquanto o vento balança as flores do espírito nestes dias de luta, sei que a romaria de vidas que se cruzam continuarão em frente, por caminhos e mais caminhos...