Rabiscos de suas pinturas permanecem expostos em quadros na parede, enquanto suas letras ecoam continuamente numa alma sofrida e suburbana, ouvindo discos e conversando com pessoas.
Tudo muda meu amigo, até o rumo do dia de domingo, pois foi neste dia que você resolveu partir, seguir para eternidade do paraíso.
Quantas vezes cantou a própria morte? E seu sumiço, marcado por um silêncio que explodia a lembrança de versos tão fortes e vivos no cotidiano?
Grande poeta, como queria ouvir tudo outra vez... Imaginava seu retorno triunfal carregado nos braços do povo que te ama, mas o destino virou a mesa, escreveu palavras eternas pelos muros do país.
Filosofia, política, amor, saudade e um velho ipê, muitas vezes na solidão eram estes versos que me acompanhavam e que me ajudaram a não ficar louco num mundo cada vez mais insano.
Abro a janela logo ao amanhecer e vejo um céu misterioso, quase que um sinal de luto pela sua alma. A única certeza neste novo dia é que ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, nestes mais de quinhentos anos de quê?
Um coração selvagem de som e fúria e de América do Sul. Será que alguém se arrisca a ir comigo além do shopping center?
Setenta anos de história, de trechos que marcaram tanta gente, na divina comédia humana perdida dentro de outro escritório.
Nos gritos da ralé da minha rua, amigos que bebem pra esquecer que a gente é fraco, é pobre, é vil... Na alegria e na tristeza contra o lixo nuclear.
Meu velho camarada, Belchior, que a saudade descrita em seus versos permaneça viva neste coração, que possa manter minha alma de menino esperançoso no dia de amanhã.
Descanse em paz, mestre Bel!