A cada veículo que passava pela estrada uma nuvem de poeira se tornava minha companheira, turvando os olhos e dificultando a respiração. Caminhos tão antigos quanto alguns isolados bairros rurais da redondeza.
Um mapa em preto e branco indicava o Bairro da Água Santa após alguns quilômetros de plantações. Carregava a convicção que os bairros rurais da região são quase uma miragem em meio ao deserto verde dos canaviais, um alento ao vazio e isolamento que afrontam os olhos.
Mesmo assim seguia o trajeto, com a promessa de renovação na santidade das águas do lugar. Passei a primeira valeta na entrada da vila em direção de algumas poucas casas, muitas com placas de “Aluga-se”.
Subi alguns degraus sentido à igreja, com uma velha cruz na frente e uma pequena praça no entorno. Tive a sorte de chegar no horário da missa, onde assumi meu lugar num dos bancos de madeira do fundo da igreja.
Em pleno dia das mães, apenas mulheres (e poucas) acompanhavam a celebração... Contei doze mulheres e o padre, tentando imaginar o motivo para o fato, pensamentos em vão. No arco construtivo sobre o altar da capela uma menção ao ano de 1918 e a mensagem “Salve Maria”.
Já os grandes vitrôs permitiam a entrada dos raios de sol, aquecendo uma típica manhã de outono, fria como as águas que não havia encontrado pelo caminho. Enquanto o padre relembrava histórias de sua infância relacionadas à sua mãe, casais de andorinhas rodopiavam alvoroçados no espaço de grandes tijolos.
Após a missa, o padre benzeu uma garrafa d’água, gesto simples fazendo jus ao nome do bairro. Tomei um gole de água e voltei ao caminho, deixando para trás a capela do Imaculado Coração de Maria e a vila da Água Santa.
Sem resposta para as perguntas, a poeira levantada por um ônibus fez questão de manter tais conjecturas perdidas no santo sertão, de poucas e fortes mulheres de fé!
Por Diego de Toledo Lima da Silva
Data: 28 de Novembro de 2015