Manhã de março com o céu tomado por carregadas nuvens, chuviscos eram sintomas de emoção e carinho. A velha estrada de chão refletia o passear das horas, filhas do tempo e seus muitos mistérios.
Passo a passo sentia a proximidade do paraíso, suas matas, águas e flores numa heresia celestial, como num toque de flauta combinado com violino. Destino comum dos caminhos, a Fazenda Paraíso era apenas mais um pedaço de terra em meio às plantações da região.
O soprar do vento trouxe lembranças íntimas, ainda vivas na memória e no coração. O cheiro de terra molhada e o verde mais vivo das plantas representaram tudo naquele instante, num universo próprio de uma louca invenção.
Caminhando sobre a terra vermelha da estrada estava a dois passos do paraíso, onde fui recepcionado por um gramado e o cantar dos pássaros. Na mente, àquela velha canção insistia em ecoar seus acordes musicais, enquanto os pingos de chuva caiam lentamente no meu chapéu. A cada pingo, as águas do lago vibravam num movimento circular, refletindo meu rosto e as árvores próximas.
Felizes com a chuva, as flores exalavam um doce perfume, certo ponto até exagerado, mas nada comparável à beleza de suas cores. Um verdadeiro show para um público solitário... A vida estava dizendo algo enquanto a natureza assobiava suas canções, a festa estava anunciada pelo tempo, tendo como lugar àquele paraíso.
Por alguns instantes senti que o céu estava próximo... Na verdade, ele só estava mandando recados em forma de pingos de chuva. Provavelmente dizia: Reflita sobre a vida e volte ao caminho rapaz...