Vestígios arqueológicos e um velho tanque de lavar roupa foram atores da recepção na vila rural, onde a mescla de casas antigas e novas construções enfeitam as margens da estrada.
Estrada de trechos por vezes tão movimentados, outros tantas vezes vazios de tudo, palco de tradições ainda preservadas por sua gente. Na curva da vida, a poeira do tempo é capaz de transformar os olhos em meros viajantes do pensamento, presentes na rotina de procissões e destinos que são parte da alma de cada morador local.
Sentado no banco em frente à capela observava o cuidado dispensado com aquela construção: Antonio pra cá, Antonio pra lá, retoca aqui Antonio... E com uma paciência de santo, ele prosseguia no trabalho de fé, herança recebida de seus antecessores, muitos Antonios, Josés, Joãos...
Assim como muitos brasileiros, sua vida deve ser sofrida. A luta é diária, mas ele carrega um coração leve, em paz consigo mesmo. O sorriso no rosto e a prosa típica de homem do interior: “Entra aqui, a casa é sua...”.
Entrei e fui além de meu próprio tempo, cercado por fotografias e lembranças do bairro, das romarias para Pirapora do Bom Jesus, das festas na capela e de pescarias intermináveis nos ribeirões. Sua maior recompensa pelo trabalho é um simples obrigado, um breve elogio ou apenas um olhar agradecido.
Apertamos as mãos selando o encontro de gerações, o grande achado do caminho: o cavaleiro do luar e o andarilho do trovão num sertão em que terra e asfalto se encontram, ali mesmo onde o coração abre as porteiras.
“Adeus andarilho”.
“Adeus não Seu Antonio, até logo meu amigo. Por aí, um dia, quem sabe?!”.