Numa estradinha qualquer, perdida no interior de plantações, uma mulher percorre seus caminhos diariamente, protegida do sertão por um guarda-sol. Seus passos são lentos como o passear do joão-de-barro.
Ela não tem celular, smartphone, nem fone de ouvido. Escuta apenas o som dos pássaros e o balançar das plantas movidas por um leve e refrescante vento.
Uma senhora de cabelos negros, magra, óculos, sandálias e um guarda-sol azul: uma estrada e uma cabocla, com a gente andando a pé.
Representa a enigmática imagem do sertão, na vertigem do horizonte de uma tarde quente. Gonzagão já dizia: o cristão tem que andá a pé!
Seria ela um exemplo de manutenção dos velhos costumes locais?
Será que lá na baixada perto do bambuzal, no córrego da Água Suja, ela molha os pés na água fresca?
Viver nos dias atuais com antigas tradições é um desafio. Como uma pagadora de promessas, seus passos marcam a terra fértil do lugar, onde tudo planta e tudo dá.
Aproximava-me dela a silenciosos passos, para não a assustar... Ao seu lado, tirei o chapéu e um bom dia com voz alegre. Ela retribuiu.
“Tá calor demais né, senhora?”
“Tá mesmo rapaz!”
“Um bom domingo pra senhora.”
“Pro cê também, filho.”
Prosa curta e valiosa. A passos largos prossegui sem olhar para trás. Tinha a certeza que ela continuava sua caminhada.
Que bom, que bom que é...
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HUMBERTO MACHADO/LUIZ GONZAGA. Estrada de Canindé (Música).
Por Diego de Toledo Lima da Silva
Data: 28 de Agosto de 2015