Reflexos de sombra do longo e arborizado caminho abriram as portas do inverno, de ventos típicos do mês de junho de um céu sem nuvens. No limiar entre o urbano e o rural, o silêncio predominava ao som dos passos, interrompido apenas pelo alvoroço de pássaros alvinegros.
A proximidade com as matas trazia um ar úmido e refrescante, cruzando morros e trilhas tortas, por vezes desconexas. Na extensão de vales, depressões e colinas, grandes represas e muitas plantações dominavam a paisagem, com cidades rodeando o horizonte, local limite onde os olhos ainda enxergavam com certa nitidez.
Muitas vezes ligados, o urbano e o rural trafegam estradas diferentes, o primeiro asfalto e o segundo de terra batida. Às vezes, suas ligações são ciladas e armadilhas que o tempo prepara discretamente, em trechos emblemáticos e até certo ponto discretos.
Verdade que a vida revelava surpresas após cada morro vencido, com suas diferentes cores, cheiros e sons. Após a cota de 800 metros, exatamente no meio do nada, o Sítio São João e sua capela com duas torres trataram de relembrar um dos santos do mês de junho, bem como as canções tocadas no serviço de alto falante da igreja localizada no centro de um longínquo arraial da Serra da Mantiqueira.
Retirei meu chapei e saudei o proprietário do sítio, que retribuiu com mesmo gesto. Elo comum entre ambos, São João sempre falou de ternura e amor aos seus irmãos, aproximando tipos diferentes.
Já no caminho de volta, ao ver o sol tocar o solo numa imagem marcante, percebi que havia incorporado algo em meu interior, tratava-se das primeiras impressões de quem sabe um novo tempo. Aliviando o peso da bolsa, abandonei a opinião própria e suas águas turvas no simples ritual de lavar o rosto na mina, ou simplesmente no ato de lembrar tanta gente querida.
Definitivamente estava diferente do início do caminho, um pouco mais leve e cansado, com mais ternura no coração. É mês de junho, meu amigo... É o caminho e a saudade que sempre volta!