A luz da capela iluminava as últimas horas de uma madrugada fria, mas cheia de sentimentos. Ao longe, centros urbanos respondiam ao fogo de chão, com seus postes e prédios.
Sentados ao pé da cruz enxergávamos muito mais que um horizonte de morros e serras, muito menos que a alucinação de nossas mentes. Velhos, jovens e crianças subindo rumo ao ponto final de suas próprias certezas, sentimentos e passos.
Simples eloquências eternizadas na memória de cada caminhante, viva e quente como as brasas da fogueira. Pontos de uma curva que só a poeira do tempo é capaz de ocultar ou revelar em seu lento dissipar...
Lembro-me muito bem da primeira vez que cheguei aqui, quanta emoção. Vários estreantes devem estar sentindo o mesmo sentimento, a mesma emoção... Identidades e promessas, lugares e vilas, grandes e pequenas cidades, ali nada nos diferencia, somos todos iguais.
O batismo dos iniciantes é um sol nascente e misterioso entre nuvens, com luzes primitivas provenientes da criação original. Mais do que uma fábula, uma história real de milagres e gente devota.
A certeza de estar vivo, vendo o transpor de longos dias e manhãs tão próximas da madrugada. Dias de verão que transitam para o outono num piscar de olhos, ou ditados pelo giro do grande globo.
Simplesmente estar vivo, querer respirar, sentir o perfume das flores e da vida latino-americana, difícil e tortuosa.
No fundo dos nossos corações uma oração pela justiça, paz, tolerância e sabedoria, por rumos certos de uma nação tão sofrida e necessitada. Mas sabe, tenho que confessar que eu não sei rezar, assim trouxe apenas meu olhar, meu olhar...
Invisível aos olhos e marcante para o coração, momentos do pequeno perfil de um cidadão comum.