Ao longe, nas montanhas de Minas, o sol acordava lentamente no horizonte, enquanto seus braços aravam a terra, preparando novos canteiros de verdura. Subiu o olhar e alcançou o Morro do Lopo, abriu um sorriso e prosseguiu seu trabalho.
Passou a pequena e improvisada ponte sobre o córrego, irrigando a plantação e amenizando a seca. Conhecia perfeitamente os ciclos da natureza, chuva e sol, calor e frio, lua boa e ruim.
Transformava pequenas mudas e sementes em alimento para seu próximo, um dom herdado de seus antepassados e aperfeiçoado com o trabalho diário. Diz um velho ditado que o caráter de um homem é medido pela quantidade de colheitas de sua vida, perdemos a conta de seus números.
Seu corpo e espírito eram movidos pelas ordens da alma, que transmitia as palavras do tempo e repercutiam chiados de sua sina.
Assobiava belas canções junto dos pássaros, residentes nos muitos pés de fruta da chácara. Logo após o almoço, assumia seu lugar na varanda, acompanhado do violão ou da sanfona, dividindo cantorias com seus companheiros.
Numa tarde, cochilou no sofá e teve um sonho, um anjo prometeu que, em determinado tempo, sua alma seria levada pelo vento junto do perfume das flores. Acordou com o apito do relógio, sorriu com a lembrança sonhada, suspirou e tentou imaginar quando seria este tempo. Olhou para o céu, confirmou que não iria chover e retornou ao trabalho na roça, finalizando a sua rotina.
Passados alguns anos, o anjo cumpriu sua promessa. O velho finalmente pode descansar, sua alma ao vento seguiu para a morada prometida, no alto das montanhas mineiras. Lá ele continua a assistir o espetáculo do despertar do sol no horizonte, mas na primeira fileira do teatro celestial, tão próximo quanto nos seus sonhos... Que assim seja!