A procissão da paixão

Não era Lassance, mas outra pequena cidade do interior. Rodeado pelas nuvens, assim como o andarilho, fui poupado de águas e trovões.

Pela manhã havia iniciado bem animado, mas o caminhar das horas trataram de apresentar a dura realidade. Combinar a chegada com o horário de ônibus era mais uma questão de tempo e da capacidade das pernas.

Entre as joias perseguidas por grupos de orientais, os terrenos rurais me afastavam cada vez mais dos tratos urbanistas, suas leis e decretos. Ainda que minha mochila estivesse vazia, poderia haver um embornal por aí, onde as raridades estariam todas dentro.

Não estava nas terras de Riobaldo, mas seus parágrafos perpetuavam continuamente os trechos de terra e asfalto. Nem o lento cair das águas em minha janela, nem as conversas provindas do quarto vizinho, eram capazes de apagar a poeira do dia.

Nos ecos da história de Riobaldo comparei imagens de vinte anos atrás com visões atuais, tão preciosas quanto às pedras buscadas pelos povos orientais.

Cruzando as crônicas e histórias, nos encontramos num ensaio da Paixão de Cristo na praça central, debaixo da mesma paineira florida. A mesma tradição, locais diferentes e os caminhos a seguir, opostos criados a partir de um ponto de ônibus.

Mesmo os fatos não se consumindo retirei meu chapéu e abaixei a cabeça em sinal de respeito, numa devoção de fé que atravessou os tempos e os limites territoriais. Por rotas e encruzilhadas, nossos pensamentos se cruzaram em sentimentos tão compreensíveis como a visão de uma varanda de hotel.

Em algum momento, mesmo em pensamento, nossas perspectivas se transformaram em atores da procissão pelas ruas do sertão interior...

Referência:

Susumu Yamaguchi. Paixão em Minas. Revista Eletrônica Bragantina On Line, nº 42, abr/2015.