Para o tempo não existe madrugada, nem amanhecer, apenas estações de horas e minutos inexatos da imensidão. Enquanto o escuro do caminho iluminava os olhos do andarilho, presente em mais uma romaria de tantas histórias de vida.
Vida livre pela imensidão de trechos percorridos por corpos onipresentes e almas ausentes do centro do universo, circulando por um céu de estrelas, nuvens e luas.
Luas que conduzem ciclos de águas, chuvas e plantações, tradições tão antigas quanto à história desta gente. Não seria um pouso capaz de revelar seus segredos, nem as luzes provenientes das moradas vizinhas.
Talvez, o tempo seja o fiel da balança, o juiz que decidirá as discussões, o mediador de conflitos ou não mais que um ator da romaria envolvido no ato de caminhar, sem poder de decisão quanto à própria ação. Resta apenas seguir em frente...
Seguir por mato dentro, de cruzamentos impostos por versões de canções caipiras muitas vezes compostas nestas terras. Seguindo em versões escritas no livro da vida, onde relatamos paisagens cotidianas e sinais de respeito aos símbolos religiosos do caminho.
Tantas vezes os símbolos são os próprios peregrinos, pérolas da antiguidade que a modernidade não apagou, mas que saudou sua vinda a um novo tempo. Tempo que apela atenção aos viventes, aos ausentes e onipresentes.
Verdades que só são percebidas ao final do caminho, da vida ou do trecho, paradas sinuosas desta vida. Sorrisos que alcançam o destino aliviado pela vitória, pelas bênçãos e pela nova chance de agradecer mais um ano.
Ano, mais uma medida do tempo carnal, que conduz a vida diária, diferente da história espiritual e de almas perambulantes do estradão... Tempos, os mesmos tempos meu camarada!