O espírito movente dominava a pauta da confraria dos andantes, mesmo não querendo acreditar em homens e mulheres banhados em ribeirões.
Nas paralelas do caminho buscou resquícios da ceia de natal, mesmo ainda atolado no barro do caminho para a Serra do Lopo. Esta era apenas a memória de um amigo de olhos puxados, mas naquele momento representou muito mais que os muitos fatos importantes exibidos na retrospectiva de final de ano.
O holofote que iluminava o gramado se apagou repentinamente, restando a solidão de um bosque escuro e um céu de estrelas viajantes. Eram estrelas oportunistas, tomando seu espaço após uma tempestade de verão.
É viajante leva eu, leva eu pra viajar... E a vida ditou as regras desta viagem, num pequeno papel em branco escrevemos apenas o essencial para um tempo moderno e cheio de aflições.
A menina ao lado redigiu as palavras com facilidade, seu coração puro não estava preso pelas amarras e assombrações cotidianas.
Enquanto ele, assumindo certa irresponsabilidade de seus atos, olhou fixamente o horizonte a 16 quilômetros de distância e imaginou como seria a vista lá do alto. Contei detalhes da paisagem, ainda incrédulo de seu ponto de vista.
Ora! Homem, vamos lá!
Saiu e percorreu os poucos metros daquele jardim caipira, uma mescla de plantas nativas e exóticas, folhas e flores. Buscou e encontrou uma folha de papel em branco, olhou para os lados e se certificou de que estava sozinho. Rabiscou meia dúzia de palavras e prometeu que dali em diante seria tudo diferente.
Na verdade, ele descobriu que há um caminho e é preciso ir, sem despedidas melancólicas, apenas seguir em frente. Gritou pela sua amada Manuela, deu-lhe um forte abraço e silenciou seus olhos incrédulos.
Sorri com a cena e acenei com um desejo de felicidades, numa noite tão irreal quanto os fatos.
Ao simples piscar dos olhos frente a um brilho ofuscante, entendeu que a luz provinha das palavras ditas pelo coração ou somente das quentes lágrimas vindas de suas retinas.
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Susumu Yamaguchi. “Uma brincadeira de papel”. Revista Eletrônica Bragantina On Line, Edição nº 50, dez/2015.